Um amor de contrato escrita por Andye


Capítulo 15
Amigos, enfim


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal... mais um dia de reclusão social sendo vencido, com fé!!! Para ajudar, estou por aqui cumprindo minha parte, postando mais um capítulo da nossa história que já tem vida própria e não mais me obedece.
Agradeço a todos os comentários, hoje, finalmente, consegui responder, e agradeço por vocês estarem nesse barco comigo, é muito importante saber que não sigo só.
Beijos no coração de todos, uma semana incrível e, só pra lembrar, "lavem as mãos com água e sabão".



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Aquela era a terceira consulta com a drª Scott e Hermione percebeu certa tranquilidade da parte de seu acompanhante, finalmente. O ambiente parecia se tornar familiar para ele, agora, e ela ficava feliz que estivesse cumprindo a promessa de estar ao lado dela em relação a tudo o que envolvesse o bebê.

Suspirou ao se pegar pensando em como ele era gentil com ela em todos os momentos. Parecia estranho que a imagem criada por Gina sobre o ruivo fosse tão diferente daquilo que ele era de verdade. Gostaria de tê-lo conhecido antes ou, quem sabe, em outras circunstâncias. 

Ela tinha consciência que, para Ronald Weasley, ela era uma mãe solteira, uma mulher desesperada por dinheiro ao ponto de vender seu corpo para gerar uma criança. Sentia-se estúpida quando pensava daquela forma e culpada por colocar seu bebê naquela situação. 

Pensava se não teria conseguido dar um jeito na situação na qual estava, afinal, muitas outras vezes ela conseguiu resolver os seus problemas sem precisar afetar os outros, sem precisar chegar ao extremo.

O extremo, para ela, era aquilo. Ter perdido um pouco da sua sanidade e, talvez, de quem era, por medo de fazer sua filha sofrer. Para que isso não acontecesse, gerou uma criança que, talvez, encontrasse o destino que ela tentou livrar a mais velha.

“Você é o único inocente nessa história toda, meu amor”, pensou enquanto acariciava a barriga, “e eu vou cuidar de você com todo amor do mundo. Nunca vou deixar que você se sinta mal…”

Mas como ela poderia fazer aquilo? Chegaria o dia em que teria de voltar à sua realidade, mesmo que modificada devido ao valor que vinha recebendo mensalmente, ainda que achasse desnecessário por estar morando naquela casa e ter tudo o que precisa vindo de lá, mas teria de se desdobrar para criar duas crianças.

Mesmo que Rony fosse muito consistente ao dizer que estaria com ela para tudo, ela tinha consciência que não seria daquela forma. Não estariam juntos como estão agora. Não era possível que ele estivesse sempre presente como estava nesses últimos meses.

A única coisa que ela realmente desejava era que as coisas seguissem de forma agradável. Vinha pedindo aos céus que os sentimentos que se desenvolviam despropositadamente em seu coração parassem de evoluir.

Se concentrava para que as atitudes tomadas por Rony em relação ao bebê - porque ela precisava ser consciente que tudo era pelo bebê - não a iludissem ainda mais. Já tinha a vida muito bagunçada para escolher bagunçar ainda mais.

...

— Agora que quase não há enjoos, percebo que, finalmente, o seu peso já está estabilizado, Hermione — drª Scott falou assim que começaram a consulta — O bebê de vocês está com pouco mais de 370g e 28cm.

— Só isso? — Rony pareceu preocupado e Hermione sentiu-se encher de carinho. Repreendeu-se — 370g? O bebê está desnutrido ou algo do tipo?

— Não, papai — a drª continuou com aquele tom de intimidade que ele estranhava, mas não comentava porque já não se importava — O peso do bebê está ideal para o tempo gestacional, e o tamanho também. Estamos entrando no quinto mês e, a partir de agora, seu filho e sua esposa só tendem a crescer.

— Ah, não... Tinha esquecido dessa parte — Hermione falou desenganada — Espero não ficar uma bola como foi com a Rose.

— Basta manter a alimentação saudável, focar mais nas frutas e legumes e nas carnes magras e dispensar da dieta os salgados e doces que costumava ingerir... 

— Tudo bem. Farei isso — Hermione deu um sorriso amarelo e coçou a orelha, claramente constrangida pela repreensão.

— Tente fazer uma caminhada diária de trinta minutos também — a drª começou com todas aquelas constantes recomendações — O papai pode ir junto. Deem uma volta no quarteirão ou podem ir caminhar em uma praça. Isso é excelente para fortalecer os laços do casal e para tranquilizar a mamãe nessa fase.

— Certo — Rony concordou prontamente e Hermione o percebeu desnorteado com tanta informação — Faremos o que for possível.

— Adoro esse papai — a drª Scott novamente com aquele tom brincalhão — Hermione está muito saudável e a partir de agora, os enjoos tendem a acabar. Nossa mamãe começará a se sentir mais disposta e feliz. Em alguns momentos ela vai se sentir mais bonita e sexy e esse será o melhor momento para você, papai.

— Pra mim? — Hermione também ficou confusa quanto àquela colocação.

— Mas é claro... — drª Scott continuou como se a pergunta dele fosse um absurdo — Considerando o estado em que Hermione ficou nesse primeiro trimestre, acredito que a vida sexual de vocês deve ter afundado no profundo abissal.

Hermione queria enfiar a cabeça num buraco qualquer e sumir. Olhou para Rony, mas percebeu que ele evitou encará-la. Estava tão ou mais envergonhado que ela. Observou que o pescoço dele começou a adquirir um tom intenso de vermelho e ela se sentiu ficar cada vez menor, como se pudesse sumir a qualquer instante.

— Por favor, queridos — a médica continuou diante das expressões dos dois — Vocês são jovens e os hormônios estão a mil por hora. Sou médica, acostumada com esse tipo de coisa. Não precisam ficar envergonhados comigo, afinal, esse bebê chegou até aqui como? — ela sorria e Hermione queria morrer — As coisas irão melhorar pra você a partir de agora, papai. A circulação sanguínea da Hermione vai ficar mais intensa e ela vai desejar ter mais relações sexuais porque a região pélvica vai ficar mais...

— Tudo bem! — Rony se exasperou e tanto a drª Scott como Hermione o olharam surpresas — Nossa vida sexual está legal. Tudo tem corrido bem e eu respeito o tempo da Hermione. Obrigado pelas explicações, mas pode continuar com a consulta dos dois...

Em seu íntimo, Hermione agradeceu aos céus por aquela intervenção. Estava sem graça ao ponto de não conseguir formular nada que pudesse tirá-los daquela situação, mas Rony, tão ou mais constrangido que ela, foi mais rápido e eficaz.

Naquela noite, Hermione sentia seu coração doer. Ela estava se esforçando, mas os dias passados na presença do ruivo não contribuíam para que ela fosse feliz em suas vontades. 

Maldisse-se algumas vezes durante o resto daquele dia, após a consulta. Não queria que seus pensamentos tomassem rumos ainda mais complicados dos que já estavam tomando, mas não conseguia desviar a atenção deles quando Rony insistia em aparecer diante dela de forma tão provocativa comendo aquela maçã infeliz. 

Desejou que, da mesma forma que acontecia no maldito filme que ela estava vendo enquanto ele havia ido buscar Rose no judô, que ele entrasse em seu quarto, a tomasse em seus braços e a abrassasse com aquele carinho ficcional que parecia tão puro e verdadeiro. Desejou ainda que, quando ele chegou com Rose e a colocou para ir tomar banho, que ele tivesse sentado ao lado dela, na sala, e a beijado intensamente sobre o sofá.

Ficou curiosa e aquilo a estava consumindo. Em seus pensamentos culpou os malditos hormônios gestacionais e aquela fala sem sentido da drª. Scott. Desejou… Desejou que os hormônios parassem de fazer com que ela pensasse se todo o corpo dele era ruivo e sardento. “Idiota! Para de pensar essas coisas e vai colocar a Rose para dormir”

Na cabeça de Hermione, parecia errado que ela estivesse desenvolvendo aquele tipo de sentimento por alguém que nunca sentiria o mesmo por ela. Ela se sentia errada por admirar e, de alguma forma, desejar uma pessoa que não a desejava na mesma intensidade. Sentia-se estúpida por, depois de tantos anos, ter de sentir algo por uma pessoa que era inalcançável. 

Por isso, ela decidiu cortar o mal pela raiz, antes que a raiz se aprofundasse ainda mais, antes que a raiz se firmasse e trouxesse maiores danos ao ser arrancada, mas tudo parecia uma tentativa frustrada quando ela se deparava com aquele tipo de situação. O peito doía e a nuca arrepiava quando presenciava cenas como aquela que ela, agora, bisbilhotava.

Ao se aproximar do quarto de Rose, com o propósito de tirá-la de seus brinquedos e colocá-la para dormir, ouviu a voz de Rony, enfática, pela porta meio aberta do quarto. Espiando por essa fresta, ela o viu sentado à beira da cama. Tinha um livro grosso sobre as penas e lia uma história para a pequena naquela prática que já se tornara costumeira. Ela ainda conseguiu ouvir o final da narração.

— “A Lebre dormiu um sono pesado e sonhou que estava vencendo a competição. O tempo passou e o sol já estava se pondo quando a Lebre acordou. Ela pulou e olhou em volta para encontrar a Tartaruga, que estava a apenas alguns passos da linha de chegada.”.

— A Tartaruga ganhou, tio Rony? — Rose perguntou com espanto, participando da narrativa. Rony apenas acenou e continuou a leitura.

— “A Lebre correu para lá o mais rápido que pôde, mas a Tartaruga já tinha atravessado a linha de chegada. A Tartaruga ganhou a competição.”

— Nossa...

— E o que você entendeu dessa história, Rose? — ele perguntou, instigando a menina a responder enquanto fechava o livro de contos e o colocava sobre o criado-mudo.

— Eu acho... bem, a Lebre fez chacota com a Tartaruga só porque ela anda devagar... mas, aí... mesmo a Tartaruga andando devagar, ela não parou. A Lebre achou que era a mais rápida do mundo todo e foi dormir, ao invés de ir. A Tartaruga insistiu, por isso ela ganhou.

— Muito bem, pequena! — ele fez um cafuné na menina que sorriu satisfeita por acertar e Hermione se sentiu derreter — Isso ensina pra gente que nem sempre você tem que fazer tudo muito rápido pra vencer.

— Hmmm... a mamãe sempre fazia tudo muito rápido quando a gente morava na outra casa...

— É mesmo?

— Sim... Mas acho que era por minha causa...

— Por que você acha isso?

— Porque ela queria sempre que eu ficasse bem em tudo e com tudo, aí ela corria de um lado pro outro e nunca nem dormia.

— Sua mãe é muito forte e boa, ela não é como a Lebre. 

— Não mesmo! — a menina afirmou — Ela é igual a Tartaruga. Nunca desiste.

— Isso mesmo! Ela é  obstinada.

— "Obstinada" — ela repetiu a nova palavra aprendida — Nunca desiste!

— Isso mesmo, pequena. Agora feche os olhos. Está na hora de dormir.

Rose se aconchegou em seus lençóis e observou Rony ir guardar o livro na prateleira, junto aos demais, voltar para ela, cobrir seu pequeno corpo com os lençóis e se curvar para lhe dar um beijo na testa. A menina o abraçou com carinho, sorriu e, se aninhando, fechou os olhos. 

Ao virar em direção à porta, Hermione sentiu Rony retesar o corpo ao vê-la observá-los. Caminhou de encontro a ela, à porta, e apagou a luz, deixando apenas a luz do abajur acesa. Caminharam em silêncio até a sala e se sentaram, um de frente para o outro. Foi Hermione quem quebrou o silêncio instaurado.

— Obrigada por cuidar da minha filha.

— Não agradeça. A Rose é uma menina incrível e eu adoro estar com ela. Tudo o que faço é com bastante carinho.

— Sei que sim — respondeu com um sorriso e se sentiu idiota por não ter mais assuntos.

— Mione... — ele chamou e ela o olhou com curiosidade — Qual será o nome do bebê?

— Como assim? — ela estranhou.

— Já sabemos que é um menino... acho que não devemos ficar chamando ele de bebê até o dia em que ele nascer e a gente tenha que decidir na hora...

— Hmm... Por que eu tenho que decidir? — Hermione impressionou-se. Entendia que aquele era o bebê dele porque foi ele quem organizou toda aquela situação e que, por isso, ele também escolheria o nome.

— Porque você é a mãe dele — ela sentiu o soco profundo no estômago — E porque é você quem está gerando, passando por todas as dores, dificuldades... Tudo isso é muito. Não tenho o direito de escolher o nome dele porque é você quem faz tudo por ele.

— Ah... — o coração poderia explodir a qualquer minuto.

— Talvez você tenha achado que eu escolheria… Devido à nossa situação…

— Sim… na verdade, sim…

— Não seria o certo. Não pensei em escolher, muito menos só… Mesmo das vezes que discutimos sobre isso, meu interesse sempre foi que você tivesse a palavra final.

— Isso é tão estranho… 

— Por quê? — ele a olhou com interesse e curiosidade.

— A Gina… ela sempre me disse que você era um louco, que não se importava com os outros, só consigo próprio e com a sua empresa…

— Não deixa de ser verdade — ele concordou, relaxando o corpo sobre a poltrona diante dela — Mas as coisas mudaram pra mim nesses últimos meses… 

— Mudaram? — ela, curiosa.

— Mudaram… — ele parecia um pouco distante — Percebi que precisava mudar quando encontrei você e a Rose chorando, naquele prédio.

— Por quê? — ela não havia entendido e questionou quando ele parou sua fala.

— Você estava gerando meu filho e eu sabia que o que mais te afetaria na vida era ver a Rose sofrer… Aquilo mexeu comigo… As lágrimas de vocês, o amor de vocês, a preocupação que vocês têm uma com a outra. Todo aquele turbilhão de sensações em um único instante, na mesma hora, vieram como socos pra mim.

"Percebi, ali, que precisaria abrir mão de quem eu me tornei para tentar, de alguma forma, proteger vocês. Precisei parar de pensar em mim e focar apenas os meus problemas e focar nas pessoas que, a partir dali, seriam importantes para mim."

Hermione balançou a cabeça afirmativamente. O coração havia dado um pulo quando ela ouviu aquelas palavras, mas, imediatamente, se mantendo sã de que até mesmo aquela decisão havia sido tomada unicamente pelo bem do bebê, ela se forçou a se manter tranquila.

— Mas a imagem que a sua amiga tem de mim não é tão errada… — ele lhe ofereceu um sorriso de canto e ela sentiu que poderia desfalecer — Mas eu abri mão de ser quem ela conheceu, ao menos enquanto estiverem aqui, comigo… 

— Fico feliz que seja assim — ela respondeu sem muita convicção — Você até me enganou… Nunca te imaginaria como essa pessoa que me disseram que você é…

— Talvez porque, na realidade, você esteja conhecendo quem eu realmente sou… — ele parou de falar, a frase ficando suspensa no ar, e ela não o instigou a comentar. 

O olhar de Rony havia se tornando um pouco distante. Ela sabia que ele havia sofrido dores no passado que o corroíam ainda no presente. Sabia que deveria ser prudente e permanecer calada, mesmo que quisesse falar. Não iria fazê-lo sofrer ao se lembrar daquele momento. Harry já havia lhe dito o quanto ele se irritava quando o tema relacionado à sua ex era exposto.

Quanto uma pessoa pode ferir a outra? Até que ponto uma pessoa é capaz de manter mágoas? Será que, um dia, ele perceberia que deveria deixar aquilo para trás? Quanto uma dor seria capaz de mudar uma pessoa? 

— Então... — ela continuou, tentando mudar o rumo da conversa — Quando eu era criança, a minha mãe lia bastante pra mim a história d'O Corcunda de Notre Dame. Mesmo sendo uma história um pouco pesada, eu gostava, e esse livro me traz boas recordações com a minha mãe... Então eu pensei se não poderia ser Victor Hugo?

Rony olhou para ela novamente, dessa vez, de uma forma indecifrável. De repente, ele parecia pensar naquela proposta. Era estranho que fosse ela a pessoa a lançar algo quando todas as propostas vinham dele desde o dia em que foram apresentados. Ele assumiu uma expressão contrariada, mas parecia relaxado e até mesmo sorriu, novamente, de canto, antes de começar a falar.

— Na verdade, quando eu era criança, tinha um garoto na escola que eu não gostava muito... para ser sincero, ele meio que me perseguia por causa da cor do meu cabelo e das minhas sardas e me chamava de “ferrugem” — ela sorriu um pouco, empática, ele realmente era muito sardento, e ele a acompanhou no riso — e, bem, o problema é que o nome dele era Victor...

— Ah... Nossa! Sinto muito por te trazer essas lembranças — ela começou pensando em alguma alternativa — Podemos tentar outro nome, sem problemas, algo que te agrade e não te faça reviver nada de ruim — ele sorriu pela preocupação da moça, ela parecia levemente preocupada que realmente tivesse trazido más lembranças à tona.

— Eu gosto de Hugo, se não tiver problemas para você.

— É? — ele foi tão enfático que ela parou — Que bom! Não tem problema algum.

— É um nome bonito — ele falou pensativo — Você sabe o que significa?

— Sim — ela sorriu se sentindo idiota — Espírito pensador e inteligente.

— Então, pra mim está ótimo! — ele sorriu abertamente e, novamente, Hermione sentiu tudo por dentro se revirar.

— Se quiser, podemos colocar o seu Billius também. Acho bem legal. É um nome forte.

— Você acha? — ele a questionou, a expressão indecifrável novamente.

— Sim.

— Você também pesquisou o que significa?

— Sim — ela sorriu novamente, era a pessoa dos significados dos nomes. Ele a olhava divertido, esperando o significado — Protetor, determinado e corajoso.

— Então nosso filho será inteligente e corajoso. Eu gosto disso!

— Eu também — “nosso filho”.

***

Já fazia algum tempo que Rony vinha remoendo algumas situações. Era impossível, àquela altura de sua vida, não comparar a sua ex com Hermione. O pouco tempo no qual conviviam juntos já havia sido suficiente para que ele percebesse o quanto as duas divergiam entre si e do quão incrível Hermione era.

Tinha receio de baixar a guarda. Havia sofrido tanto após o término com Lavender que decidiu não mais se permitir sentir aquelas coisas, mas, vinha refletindo que tipo de sentimento havia desenvolvido por ela enquanto estiveram juntos no passado, se realmente chegou a amar aquela mulher ou se, simplesmente, se deslumbrou com aquela beleza juvenil e com seus próprios sonhos de vida feliz.

Era estranho que, tantos anos após toda aquela situação, ainda se sentisse incomodado com aquilo, com o que vinha até ele sobre aquele tempo. Por que Lilá ainda rondava os seus pensamentos? Por que ele vinha comparando as duas com tanta frequência? Por que Hermione estava se tornando modelo do que deveria ser uma mulher?

— Rony, você está bem? — Hermione, aparentando curiosidade, apareceu diante dos seus olhos e o tirou dos seus pensamentos. Ele teve leve susto, por vê-la diante de seus olhos quando estava, justamente, pensando nela.

— Eu tô sim, tô bem — respondeu um pouco aparvalhado, tentando disfarçar o susto e a mentira — Não te ouvi entrar… Você está bem?

— Estou bem, sim — ela o olhava com curiosidade, a mesma expressão de Rose — Percebi que não me viu entrar, nem mesmo me ouviu chamar — sorriu para ele e ele sentiu o coração esquentar — e eu vou considerar a sua palavra ao invés da sua expressão e acreditar que você realmente está bem — ela variava entre a descrença e a diversão. Rose era a sua cópia, sem dúvidas — A Rose vai ver um filme mais tarde e eu vim perguntar se você quer nos fazer companhia…

— Claro! — ele se sentiu animar, mas se preocupou que ela o visse como um mentiroso. Ela sabia que ele não estava realmente bem — Qual será?

— Detona Ralf — Hermione revirou os olhos  de novo — Pelo menos não é Frozen.

— Por que essa cara? — ele perguntou entre risos.

— Tanto filme legal sendo lançado e a minha filha insiste em ver os mesmos de sempre, sempre… — ela sorriu também, revirando os olhos — Até nisso ela puxou à mãe.

— Ela é alguém constante… — ele brincou — Isso é bom...

— Depende do quanto dura essa constância. Vai chegar o dia em que você não vai mais aguentar ouvir “Let it go” — ele riu abertamente e ela o acompanhou — Quando ela terminar a tarefa da escola, peço pra ela vir te chamar.

— Tudo bem — ele afirmou, balançando a cabeça.

— Rony…  — ela pareceu escolher as palavras antes de continuar — Eu sei que nos conhecemos há pouco tempo, sei que estamos envolvidos em uma situação bem peculiar, mas… Se precisar conversar, você tem em mim uma amiga, certo?

— Sim… Eu agradeço — ele respondeu e observou a mulher seguir em direção à saída, se desconhecendo em seus atos seguintes — Hermione…?

— Hmm? — ela se virou como se já soubesse que ele falaria.

— Você teve outros relacionamentos após o pai da Rose? — se sentiu um idiota por perguntar aquilo, mas ela não pareceu se incomodar.

— Na verdade, não — ela respondeu e seguiu até a cadeira próxima a dele, sentando-se confortavelmente, como quem espera uma conversa mais longa — Depois dele, você é o primeiro homem que se aproxima de mim, além do meu pai e do Harry.

— Você não o superou? — continuou, curioso.

— Sim. Acredito que sim — falou pensativa — Quando nós terminamos eu fui muito enfática em tudo e sobre tudo — sorriu lembrando-se da cena — Eu gritei tanto com ele que acho que todo o campus da universidade ouviu, e isso foi muito bom porque eu coloquei todas as minhas mágoas e frustrações pra fora e, mesmo depois, quando o encontrava pelos corredores, não me sentia mal, nem mesmo desejava estar com ele.

“Por mais que tivesse me deslumbrado por ele no início, em determinado momento, e depois de saber da Rose, eu entendi que ele realmente não era o que eu sonhava. De princípio me deslumbrei demais… Ele era doce e amável em tudo o que fazia. Parecia que eu era a única pessoa com quem ele queria estar. 

“Depois da nossa primeira noite juntos — sentiu as bochechas esquentarem, mas continuou — as coisas pareceram começar a mudar. A Gina já tinha me falado muito sobre isso, que ele era falso e 'só estava conversando meu juízo pra me pegar' — sorriu, sem muita graça, lembrando-se das palavras da amiga — Mas eu não acreditei, mesmo sabendo que ela estava certa. Com o tempo, depois de tudo ter passado, de eu ter vivido a mágoa e a traição, depois de decidir ser forte por minha filha, eu vi que a gente não combinava em nada e que os sonhos que ele parecia compartilhar comigo eram alimentados só por mim…”

— E como você chegou a essa conclusão? — se sentia cada vez mais à vontade.

— Ele me traiu e isso é muito mais do que suficiente para eu desencanar… 

— Você sofreu muito? Ainda ficou pensando nele, depois de tudo?

— Sofri. Chorei demais. Pensei em abandonar o curso, mas graças à Gina e ao Harry, não fiz isso… mesmo que não tenha tido muito retorno positivo depois de ter concluído… Quando soube que estava grávida, tudo mudou. Parei de me maltratar porque eu precisava estar bem pelo meu bebê e comecei a pensar nela como a única coisa capaz de me fazer viver.

“Claro que foi ainda mais complicado quando a minha mãe me colocou pra fora de casa… até hoje eu não entendo a posição dela, mas não rebato nem fico remoendo. Meus amigos estiveram comigo todo o tempo e eu consegui muita coisa com a ajuda dos dois, mesmo que não tenha sido nada como eu havia imaginado…”

— Como assim… Não foi o que você imaginava? Digo, sei que não foi fácil — Rony parecia tão à vontade que nem mesmo se reconhecia. Hermione falava com tanta firmeza sobre tudo o que viveu que chegou a lhe dar um pouco de inveja. Queria ter essa maturidade.

— É… Não foi. Eu tinha vinte e três anos e um monte de sonhos que havia alimentado por toda a minha vida. Sonhava em terminar a faculdade, conseguir um bom emprego em uma editora, provavelmente como revisora de livros, e ter uma família bonita e feliz.

“Nos meus sonhos, o Córmaco era o homem ideal para viver tudo aquilo. Eu o achava lindo e era uma boba, mesmo com a idade que tinha. Sonhava com um casamento cheio de amor, romântico, com nossas famílias reunidas celebrando nossa alegria e união. Depois de um ou dois anos, nossa vida estaria perfeita com a chegada do nosso primeiro filho… Eu queria três e queria que todos se parecessem com ele. Eu era uma idiota.”

— Não acho que você era uma idiota…

— Não? — ela o olhou com espanto — Então você é a primeira pessoa que eu conheço e pensa assim.

— Você tinha sonhos e se entregou a eles. Acreditou amar e ser amada na mesma intensidade, por isso não pensou em consequências. Você acreditava que tudo o que você desejava estava ali, diante de você, e você apenas quis viver cada momento com intensidade e sinceridade… Não vejo isso como idiotice.

— Nossa… — ela o olhou com interesse e admiração — Me senti como se eu mesma estivesse justificando as minhas escolhas… Realmente, foi assim que eu me senti.

— Então não se sinta idiota por ter amado — ele continuou, impressionado com o teor da conversa; impressionado com a intimidade presente entre os dois — Se você se sentir idiota, vou ter que acreditar que fui um idiota também — sorriu meio sem graça.

— Por quê? Você também se sentiu um idiota quando descobriu tudo sobre a sua ex?

— Ér… talvez…

— Não me diga que também alimentava sonhos de casamento? Isso não parece o tipo de coisa que Ronald Weasley deseja.

— Na verdade, houve um tempo onde Ronald Weasley era um romântico incorrigível que sonhava em ter uma vida parecido com a que você sonhou… mas tudo pareceu um bobagem depois de algum tempo — suspirou pesadamente — E me dei conta que sonhos não se tornam reais…

— Depende — ela rebateu — Sonhos só não se tornam reais se não forem sonhados juntos — ela completou com seu ar de sabe-tudo.

— Pode ser… — ele concordou, recostando as costas na cadeira.

— Quer falar sobre a sua ex?

— Não sei — ele ficou surpreso por ela ter sido tão direta.

— Não vou te recriminar nem te menosprezar. Também não irei rir de você. Talvez você ainda esteja remoendo o passado e, por isso, tem sentido o seu presente e, talvez, o seu futuro, como um caminho sem rumo.

— Você assusta, às vezes…

— Por quê? — ela sorriu, estranhando.

— Fala de um jeito… não parece ter a idade que tem.

— Levei muitas patadas da vida e aprendi a ver as coisas com outra perspectiva.

— Será que pode me ajudar a ver meu passado por outra perspectiva? — o olhou intensamente. Ela tinha olhos brilhantes e convidativos. 

— Talvez… Por que não tenta? — ela o provocou.

— Tenho pensado nela faz uns dias — ele detestava falar sobre ela ou qualquer coisa relacionado a ela, mas estranhamente sentiu-se seguro com Hermione — E estou pensando em algumas coisas desde então…

— Tem pensado em quê, especificamente? — ela o induziu a se abrir. Sua expressão era indecifrável.

— Tenho pensado sobre o quê eu senti por ela, naquela época — ele começou. Não diria que vinha comparando as duas há algum tempo, muito menos que Hermione saía à frente da outra sem nem pestanejar.

— Se a amava de verdade ou se só se iludia com um sentimento que parecia ser amor? — ela perguntou, concluindo o pensamento dele.

— Sim… Por muitos anos eu fiquei remoendo esse caso. Sempre me vi como a parte injustiçada da situação. A odiei com todas as minhas forças, desejei o seu mal, sua infelicidade, e me fechei dentro do meu próprio mundo… 

— Ainda pensa e deseja essas coisas? — ela o questionou com interesse.

— Na verdade, faz um tempo que não penso mais assim — desde que nos aproximamos, para ser franco.

— Fico feliz por isso. Não é bom que você siga alimentando mágoas. Elas fazem mal apenas a você mesmo. 

— Eu sei… Agora eu sei disso… Mas têm algumas coisas me incomodando, pra ser sincero.

— O quê? — ela perguntou com uma sobrancelha erguida — Não me diga que está procurando outra situação para detestar…

— Não… Claro que não — ele sorriu — Quando eu descobri que ela me traiu — respirou profundamente — Ela me disse umas coisas que eu ainda fico remoendo às vezes, sabe…? — ela afirmou com a cabeça e permaneceu em silêncio, esperando que ele continuasse — Ela me disse que eu vivia em uma bolha, que não ouvia o que ela dizia e que não me importava com os sentimentos dela… Ela disse que fazia muito tempo que o nosso relacionamento ia mal e que só eu que não via…

— E isso é verdade? — ela o olhou fixamente — Pensando sobre isso, acha que ela tinha razão?

— Não sei…

— Será que realmente não sabe?

— Talvez...

— Rony, eu não sei o que você sente ou sentiu por ela, nem ela em relação a você, mas, às vezes, nós nos perdemos muito em nossos próprios sonhos. Às vezes, mesmo que sem querer, idealizamos um mundo que só existe em nossa cabeça e nos esquecemos que precisamos do outro para que esses sonhos se realizem. Veja bem o meu exemplo — ela sorriu sem graça.

“Não a defendo, afinal, ela te traiu e isso, para mim, não tem defesa, mas eu te digo que, talvez, ela tenha te dado sinais de que as coisas realmente não iam bem e você pode não ter percebido, assim como eu não quis perceber o que acontecia com o meu relacionamento, porque nós acabamos nos deslumbrando demais e esquecemos de ver além dos nossos próprios sonhos.”

— Talvez eu tenha a minha parcela de culpa em tudo isso… — admitiu.

— Muito provavelmente, sim — ela pareceu incrivelmente sábia — Mas nada justifica o que ela fez, certo? — ele afirmou com a cabeça — Quer um conselho de amiga?

— Sim… — era estranho ver aquela mulher como alguém próxima a ele. Tão próxima assim.

— Viva a sua vida sem medo de ser feliz. Não deixe que erros do passado te privem de acertar no futuro, porque, se você pensar bem, se acabou é porque não era pra ser, e se não era pra ser com ela, é porque tem alguém por aí que vai te completar em tudo, da melhor forma, te amando por completo, com seus defeitos e qualidades. 

“A vida já é tão complicada pra gente ficar complicando ainda mais, remoendo coisas que passaram, se privando de prosseguir… Pense no término de vocês como uma possibilidade de crescimento como pessoa, porque eu sei que você não cometerá os mesmos erros do passado. 

"Não se feche para a vida, muito menos para o amor, só porque teve uma experiência ruim no passado. A vida é feita de altos e baixos e nós, seguimos nela como idiotas sentados em uma montanha-russa, sem saber qual será o nível do giro seguinte. Não deixei de viver por um erro do passado nem fique baseando a sua vida por este erro. Se permita viver e ser feliz. Perdoe a sua ex por completo, traga o seu romântico incorrigível de volta e viva sem medo.”

— Você tomou esse conselho para si?

— Sim… Mesmo que a vida ainda não tenha me dado a oportunidade de encontrar um cara legal, não me privei. Também não fico procurando… Quando esse cara chegar, eu vou saber, pelo menos, eu espero saber — sorriu de maneira divertida e Rony quis saber o que ela pensou quando o sorriso se desfez com leveza.

— A Rose tem mesmo razão… — ele falou pensativo e ela o olhou confusa.

— A Rose? O que tem a Rose?

— Ela me disse que você é a mãe mais inteligente de todo o mundo…

— Ah, meu Deus! A minha filha é impossível...

— E esperta! — ele completou — Além de estar completamente certa sobre a mãe dela.

— Mãe… — a menina adentrou a sala, um caderno e um livro nas mãos, o semblante fechado — Eu terminei, mas essas contas são muito chatas de contar… 

— Por quê? — foi Rony que perguntou.

— Pra quê eu preciso saber quantas maçãs o Pedrinho tem se ele deu um monte aos amigos dele? Pedrinho é um menino legal, ele deu as maçãs porque todo mundo estava com fome…

— Rose, minha filha… Você precisa aprender a somar e a subtrair. Já te disse isso…

— Mas contar é muito chato, mamãe… 

— Por que acha que contar é chato, Rose? — Rony entrou na conversa.

— Porque números são mais confusos que letras. Quando a gente pensa que contou certo, vem a tia da escola e diz que a gente contou errado. É “fustante” — suspirou pesadamente, cansada.

— Vem, eu vou te ajudar — Rony chamou a menina que seguiu até ele com animação — E a forma correta de falar é “frustrante”.

— Isso. A matemática é isso — a menina respondeu indo até ele.

Hermione, recostada na cadeira, revirou os olhos refletindo sobre o gênio da filha e de onde ela o herdara. Em seguida, os observou enquanto ele afastava alguns documentos de cima da mesa e colocou a pequena sobre a perna, olhando as atividades do caderno e, em seguida, a ensinando a subtrair.

De tempos em tempos, quando Rose começava a contar, Rony encontrava os olhos de Hermione. Aquele brilho era tão intenso e misterioso que o incomodava. Gostaria de dizer para ela que, por sua causa, por sua presença, e por ser quem ela era, ele havia se livrado dos sentimentos mesquinhos que alimentava desde que fora traído.

Queria dizer para ela que a sua presença despertava sentimentos que ele nunca havia sentido, nem mesmo quando imaginava amar sobre todas as coisas, no passado. Queria dizer que o que sentia por ela era tão bonito que o deixava feliz pelo simples fato de saber que ela estava ali, ao seu lado. Mas ele não diria.

Ele não diria porque não se sentia digno de ter Hermione com ele. Para ele, aquela mulher era a pessoa que mais merecia a felicidade no mundo e ele havia trazido, de alguma forma, ainda mais problemas sobre a sua vida, lhe impondo um contrato mesquinho, fazendo com que o seu desespero em manter o bem estar de sua filha o ajudasse em seus próprios planos. 

Em seus pensamentos, ele nunca seria capaz de propiciar a tal felicidade que acreditava que ela merecia, aquela que ela mesma esperava. Ronald Weasley acreditava ser a pior pessoa do mundo por ter colocado aquela mulher naquela situação bizarra e louca. Ele acreditava que, entre os homens, ele era o que menos merecia ter uma mulher como Hermione com ele.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Espero que sim!!! Nos encontramos por aqui, em breve!



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