Solaris escrita por Satine


Capítulo 3
Capítulo 3 - O coordenador e a General




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A sensação é a de entrar em uma piscina gelada, porém estou seca quando chegamos do outro lado e um calor como se eu estivesse pisando descansa na grama sobe pelos meus pés.

Um enorme casarão branco com detalhes entalhados em bronze se estende à minha frente. O jardim é extenso e há uma fonte com uma escultura realista de um homem e uma mulher que parecem deuses. Fico deslumbrada até meus olhos recaírem nos jovens ao redor da fonte: eles estão feridos, suas roupas rasgadas e sujas. Vê-los me faz ficar receosa sobre o que há do lado de fora dos muros.

— Pessoas novas, legal! Vamos, Isabela, você precisa conhecer a Fortaleza Lawford.

— É Isadora — corrijo, mas ele já está se aproximando dos outros novatos. Pietro e eu vamos nos juntar aos novatos, enquanto vó Dora, Nathan e Lisa seguem a Princesa para o outro lado.

São seis novatos no total, a maioria deles tem uma aparência ameaçadora. O homem com o rosto repleto de piercings e a garota de olhos puxados e cabelos curtos rentes ao pescoço não parecem ser pessoas com quem se deva mexer.

— Bem-vindos à Fortaleza Lawford, novatos! Meu nome é Pietro Dmitri e eu vou ser seu guia. — Ele pisca para a ruiva de expressão insolente que cora e mexe no cabelo. 

Pietro nos guia pelo belo jardim até cruzarmos um arco de pedra e entrarmos na mansão, mas Pietro passa direto por ela.

— Não vamos subir aqui. A cozinha fica no primeiro andar e os outros são apenas os quartos. O outro prédio é mais divertido.

Passamos por um pátio de ladrilhos brancos e uma ponte. A nossa frente ergue-se outro prédio quase idêntico ao que tínhamos acabado de sair, apenas um pouco menor em altura.

— Aquele lá atrás era o Jardim de Fora. Este aqui é o Jardim de Pedra.

Pietro sobe no skate e dá impulso até o novo arco, nós precisamos correr para acompanhá-lo. Passamos por um novo arco e entramos em uma sala grande, porém, confortável, repleto de poltronas, sofás e mesinhas com cartas de baralho que Pietro chama de sala de descanso.

Passamos por todo este prédio, onde ficam as salas de treinamento, de ciências, biblioteca e enfermaria. Quando já vimos tudo, Pietro comenta sobre o que ficou faltando, como, por exemplo, a quadra, a lavanderia, os estábulos e a estufa atrás desse prédio; ele é bem dinâmico e nos prende a atenção.

— Ali fica o Quadro de Avisos — diz Pietro quando retornamos para a sala de descanso. Há vários pergaminhos colados nele. — onde ficam as regras, o bom é que dá para quebrar todas. Pelo menos, eu posso, já que sou filho da princesa Seely. — Ele se gaba, com um sorriso que apesar de metido, é travesso e charmoso.

— Já terminou Pietro? — Um homem magro sentado em uma das poltronas lendo abaixa o livro e nos encara com um sorriso largo. Ele é bem mais velho que Pietro, mas tem um ar jovial. — Olá, crianças, eu sou o coordenador Benedict Lamartine. Como estão?

Ele aperta a mão de cada um de nós e olha com curiosidade para mim. Isso me faz reparar pela primeira vez em como eu pareço deslocada, toda a decoração das mansões é medieval, as novatas usam vestido com calça e colete de couro e os garotos uma espécie de túnica e bota por cima da calça, enquanto eu ainda estou vestindo meu uniforme cinza e sem graça.

— Me acompanhem, por favor, vou levá-los a seus quartos, enquanto explico algumas coisas.

— Sobre a Aliança? — pergunta a novata de cabelos ruivos cacheados.

— Exatamente.

— O que é a Aliança? — pergunto hesitante enquanto seguimos o coordenador.

— A Aliança é um grupo de pessoas dispostas a ajudar o Garoto do Sonho... Seu irmão, a derrotar A Sombra.

— Quero participar — diz a ruiva.

— Bom, há alguns requisitos, querida, mas vamos adorar tê-la conosco. Ah, ali está ela! A General vai me ajudar a explicar como funciona.

O coordenado acenou para uma mulher loira com um coque alto e feições severas.

— Crianças, essa é a General Tereza Salazar, quem aplica os testes para a Aliança.

— Vocês precisam ter dezesseis anos ou mais e passar por testes. Quem tem interesse? — disse a General com as mãos para trás como se falasse com um pelotão. Apenas dois de nós não levantaram as mãos, um garoto com rosto angelical e um garoto ruivo, eles não deviam ter idade o suficiente. — Quais são seus dons?

— Controle do ar — diz a ruiva.

— Água — diz um rapaz mais velho.

— Dois elementares, estamos com sorte — comemora o coordenador.

— Não sinto dor e me curo — diz o garoto dos piercings.

— Eletricidade.

— Ahm... não tenho um.

A General toca em meu ombro.

— Descartada. Os outros fiquem atentos ao quadro de avisos para saber a data dos testes.

— Obrigado, General. Vamos seguir para os quarto então — continua o coordenador.

Nós o seguimos e agora estou tão emburrada quanto o outro novato.

— Sou Augusto e você? — ele pergunta.

— Isadora.

— Os excluídos — ele diz e eu assinto. Estamos chegando ao corredor dos quartos, quando decido perguntar:

— Como faço para saber mais sobre Solaris?

— A biblioteca. Existem vários livros falando sobre a história de Solaris lá, posso indicar alguns, se quiser. — A resposta vem de um garoto que está saindo do primeiro quarto do corredor dos dormitórios masculinos.

A primeira coisa que penso ao vê-lo é que ele tem olhos de céu de verão que contrastam com as olheiras fundas e o rosto um pouco encovado, que lhe dão um aspecto misterioso.

— Eu quero sim, obrigada. Sou Isadora Alencastro. — Ergo o braço para cumprimentá-lo. Ele olha de minha mão para meu rosto e não retribui o cumprimento, me deixando com a mão pairando no ar.

— Sei quem você é. David Carpentier. — Ele nos dá as costas e desce as escadas às pressas. Abaixo a mão e sinto minhas bochechas em brasa.

Os outros novatos soltam risinhos e comentários sobre a cena vergonhosa.

— Aqui estão as chaves dos quartos de vocês. — O coordenador Benedict entrega chaves para cada um de nós e eu sou a última a receber a minha. — Venha, querida, eu gostaria de conversar com você um instante.

Destranco o quarto e nós dois entramos. O cômodo é pequeno e simples diferente do restante da Fortaleza. Contém apenas uma cama e um guarda-roupa de solteiro e uma janela.

— Não se chateie com a General, não vai demorar para seu dom externar e talvez você possa fazer os testes. Imagino que você tenha muitas dúvidas.

— Algumas. Nathan não teve muito tempo para me explicar, vó Dora sequer tentou. — Eu me sentei na cama e o coordenador se sentou ao meu lado.

— Entendo. Bom, resumidamente, Solaris é uma ilha que concede dons a quem vive nela. Acessamos o seu mundo através de uma pedra chamada Solís, que são raras, por isso seus irmãos não puderam visitá-la antes, a alternativa seria o meu dom, eu posso visitar o outro mundo e voltar, mas fazer isso com outras pessoas, pode ser perigoso.

— E quanto a essa Aliança?

— Certo. A Princesa Seely deveria ser Rainha e governar Solaris ao lado de seus cinco conselheiros que recebem a proteção e o nome de um de nossos deuses. Seu pai, Jude Alencastro, era um deles. Antes de ser coroada, porém, a Princesa sofreu um ataque de um homem que se denomina como A Sombra e seus seguidores.

— Quem é ele? Por que fez isso?

— O nome dele era Caron LeBlanc e ele era um dos conselheiros e marido da Princesa, eles tiveram um casamento arranjado.

— Casamento arranjado? Que coisa mais retrógrada — comento, mas então me lembro das decorações medievais em toda a mansão, as vestes, parece que em Solaris eles pararam no século XV, talvez por não terem muito contato com outros países e mundos e terem magia, assim não precisam tanto de tecnologia.

— Só que Caron não queria governar com ela, queria ter todo o poder sob Solaris, além disso, ele amava outra mulher... Sua mãe.

— O que? — minha voz sai muito fina e puxo o ar com força.

— Por isso sua avó quer tanto proteger você e seus irmãos. Além disso, aqui em Solaris temos vislumbres do futuro através dos sonhos. Os Carpentier tem sido abençoados com esses dons há anos. Um sonho de David revelou que somente Nathan pode derrotar A Sombra, por isso ele é o guerreiro da Princesa.

— Então vocês criaram a Aliança para ajudar e devolver a coroa à Princesa.

— Exato.

— Ele os matou, não foi? Os meus pais?

— Na noite em que Dora fugiu com vocês para o outro mundo. Eu sinto muito. — Ele aperta o meu ombro e respondo com um sorriso triste em agradecimento. Benedict se levanta. — Enquanto seu dom não se revela, existem alguns dons que você pode aprender. Se me permitir, posso te indicar um tutor.

— Claro, será ótimo, obrigada, coordenador.

— Tsc, me chame só de Ben. Qualquer coisa pode me procurar.

 


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Notas finais do capítulo

Na imagem: Benedict Lamartine
Espero que tenham gostado ♥
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