3 meses depois

— Pai estou indo pra escola ok ? – Chloe disse enquanto pegava seu lanche em cima da mesa da cozinha.

— Ok , divirta-se – disse David enquanto tomava um gole de café. Ele estava tão entretido no seu jornal, que mal parou para prestar atenção na filha que se despedia.

“Divirta –se ? É o melhor que ele pode dizer? “ Ela pensou enquanto revirava os olhos saindo da cozinha.

David era um bom pai, no quesito de se preocupar em colocar comida na mesa, comprar roupa e pagar os estudos. Mas tirando isso, o máximo que ele fazia era responder algo a filha, nunca diretamente, claro.

Ele nunca foi um pai carinhoso que conversava, dava carinho, atenção, e tudo só ficou ainda pior depois que ele se separou da mulher. A mãe de Chloe também não era muito amigável, vivia se preocupando só com sigo mesma. E na melhor oportunidade foi embora, deixando a própria filha para trás.

Chloe achava isso injusto antigamente, mas depois ela se conformou com a falta de carinho dos pais. Durante anos essa falta foi suprida pelo carinho da avó paterna, Meredite, até uns meses atrás. Depois ela teve que voltar a ser solitária, quando a Avó faleceu. Com a separação dois pais e a mudança para Derry, ela consegui pelo menos ficar ocupada, para não sentir tanta dor.

Saindo de casa, Chloe começou a caminhar em passos lentos em direção à escola, ela ainda não havia conseguido pedir ao pai que levasse a sua bicicleta no concerto, já que o mesmo sempre estava ocupado. Ela já estava pensando em levar, ela mesma uma dia desses. Talvez pediria para que Eddie fosse junto com ela, já que ele morava na cidade a mais tempo, saberia em qual lugar o concerto era mais barato e rápido.

Falando em Eddie, os dois haviam começado uma bela amizade depois daquele dia com o incidente da bolinha. Ela nunca pensou que encontraria um amigo tão legal quanto ele.

Sempre que podiam eles ficavam na rua conversando ou iam em uma sorveteria. Ás vezes ele até ia na casa dela assistir um filme.

Finalmente ela não se sentia mais sozinha, sentia que havia encontrado um amigo de verdade. O pai dela não se importava com a presença de Eddie, pelo contrario, achava maravilhoso não ter que se preocupar com a filha, já que tinha alguém para fazer isso por ele.

A única coisa de que ele não gostava era da mãe de Eddie , já que a mesma vivia dando em cima dele. Dela até Chloe não gostava muito, já que a mulher era chata, fofoqueira e inconveniente, na maior parte do tempo. Eddie que a desculpasse, mas que mulher insuportável ! Em sua opinião, Eddie merecia uma mãe melhor.

Tirando esse fato ruim, Eddie apresentou a Chloe para seus amigos. Ela conheceu Bill, um garoto tímido e gago, muito legal e divertido; Stan, um garoto judeu, também tímido, mas muito simpático; e por final Richie, o garoto alto de óculos, com a boca suja de antes. Richie era legal, quando não inventava de falar besteiras, pra falar a verdade ele sempre falava besteiras, principalmente sobre a amizade de Eddie com ela. Ela tinha que admitir que isso a deixava um pouco incomodada e até irritada, mas como foi dito. Ele era legal, do jeito dele.

Ela ainda estava se acostumando com a ideia de fazer amigos, então sempre que Eddie convidava ela para fazer algo com todos eles, ela ficava meio acanhada. Ainda bem que não demorou muito para Eddie perceber isso, sem que ela falasse pra ele. Isso era o que ela mais gostava nele, do jeito que ele a entendia sem ao menos ela dizer uma palavra. Ele não forçava a barra com ela e entendia que ela precisava de espaço, até que ela se acostumasse de verdade com os outros meninos.

Por isso na maioria das vezes ela ia pra escola sozinha e quando os encontrava, ficava um pouco com eles, mas depois saia para outro lugar.

Ela esperava que se acostumasse rápido com os outros, às vezes tinha raiva de si mesma por ser tão idiota, mas como sua avó costumava dizer, era sempre melhor esperar do que apressar as coisas. Tudo há seu tempo.

Chegando na escola, Chloe viu os meninos guardando suas bicicletas e acenou para eles, todos responderam de volta e continuaram conversando, ela decidiu entrar e pegar suas coisas para a primeira aula.

Passando pelos corredores, infelizmente ela encontrou com Greta e suas amigas, as “famosinhas” da escola, conversando e rindo em uma rodinha. Chloe passou de cabeça baixa, torcendo para que não a vissem, mas neste dia o destino não estava ao ser favor.

— Vejam só meninas, parece que a novata chegou – Disse uma das garotas, fazendo as outras rirem

— Ah, e não é que o cavalinho esta de rédeas presas hoje, não é atoa que abaixou a cabeça – disse Greta, arrancando mais risadas das outras meninas

— É cavalinho ! Deixa a gente desfrouxar as suas rédeas kkk

— E trocar a sua ferradura! kkkk

— Cortar a sua crina !! kkkkk

— Ajustar a sua mordaça !!!! kkkkkk

Chloe permaneceu de cabeça baixa ate chegar no seu armário. Ela já estava cansada de ouvir esses apelidos ofensivos, mas não podia fazer mais nada além de simplesmente escutar.

Se falasse para seu pai, ele provavelmente não escutaria, e se escutasse , diria para não ligar porque são só apelidos bobos. A escola também não faria nada, pois vários professores já viram ela ser xingada com esses apelidos e também não fizeram nada.

Tinham muitas coisas que os adultos de Derry , viam ou escutavam, e não faziam nada a respeito. Isso já era um costume que Chloe havia percebido desde que chegou ali.

Ela pegou seu material, e saiu em direção a sala de aula, infelizmente, topando com Henry Bowers  e sua gang , no meio do caminho. Definitivamente o destino estava conspirando contra ela. Pensou revirando os olhos em seguida.

— Ei preciosa onde vai, tão apreçada? – perguntou um dos meninos

— É a aula ainda não começou – disse outro, dessa vez parando na frente dela

— Da licença !! – disse Chloe , mais serio do que conseguia pronunciar

— Calminha, preciosa, não é bem assim- Disse Henry, se juntando aos amigos , também parando na frete dela

— Henry, eu preciso passar, a aula vai começar!! – ela disse, serio, mais uma vez

— Isso mesmo , ela vai começar, então a gente pode conversar mais um pouco não é ?- disse ele com um sorriso malicioso, estampado no rosto.

— Nós não temos nada pra conversar, agora me da licença! – Chloe disse, quase gritando dessa vez

— Calminha, preciosa, será que nosso cavalinho precisa de uma nova mordaça ? Essa esta te machucando? – Henry disse levando uma de suas mãos ate o rosto de Chloe, segurando o mesmo com uma certa força.

— Me-Me solta – Chloe tentou dizer, mas a mão de Henry apertava o seu rosto a impedindo de falar claramente

— O que você disse, cavalinho ? Que quer que eu aperte mais o seu rostinho? – Disse Henry ironizando , enquanto os outros riam.

O sinal tocou e todos começaram a ir para as suas salas, e quando Chole achou que seu aparelho sairia de sua boca, pela força que Henry apertava seu rosto, uma alma bondosa resolveu ajudar

— Solta ela Bowers !! – Uma voz feminina se pronunciava atrás dele

— Ah é você Bev, Se eu não soltar, você vai fazer o que? – Disse ele olhando para trás ainda segurando o rosto de Chloe

— Para com essa merda e solta a menina garoto !! – Beverly disse enquanto o empurrava, fazendo com que o mesmo soltasse Chloe.

— Ei você me paga Marsh !! Quem pensa que é pra me empurrar assim ? – disse ele ,zangado pela atitude repentina da ruiva

— Vê se me erra idiota !! – disse a ruiva retrucando, puxando Chloe pelo braço.

— Nossa nem sei como te agradecer – Disse Chloe pra ruiva que estava parada na sua frente. Elas estavam perto de uma das salas, agora, longe da Gang Bowers.

— Não tem de que, sempre que precisar é só chamar ! – Disse Bev sorridente.

Era um sorriso lindo, tão lindo quanto à própria dona dele, pensou Chloe. A mesma não entendia, o porquê de sempre ouvir uns boatos maldosos sobre a ruiva. Beverly era tão simpática, inteligente, tinha uma beleza de dar inveja em qualquer um, e tinha o sorriso mais encantador que uma pessoa poderia ter.

Chloe  mal sabia o porquê de Bev, gastar o seu tempo do lado de uma zé ninguém igual a ela, sendo que Bev poderia estar ao lado de pessoas mais interessantes do que ela.

Com um tempo ela percebeu que mesmo sendo uma garota incrível, Bev assim como ela mesma, era bastante solitária. Ela nunca entenderia o porquê de chamarem Bev de puta, vadia, etc. Só entendia que não acreditaria nesse boatos absurdos e que faria de tudo para não perder essa amiga incrível que arranjou, por acaso no meio do banheiro feminino, no seus primeiros dias de aula. Afinal, Bev , a partir daqueles dias, tinha se tornado a primeira e única amiga que Chloe tinha feito em anos.

Continua ...