A chuva, caia molhando a grama verde, mal cortada, no quintal dos Sanders.

David Sanders havia voltado para sua cidade natal depois de se separar da esposa. Ela havia o trocado pelo rico empresário, Gaspar Briant.

Derry ainda parecia à mesma cidade pacata e cinza de antes. Nela nada mudava e ele, mesmo não sabendo o porquê, gostava disso.

David tem uma filha , Chloe Sanders, uma menina bonita e bem tímida. Ela sempre teve problemas em arrumar amizades e por isso sempre se encontrava em seus livros.

Em seu escritório, David observava a chuva cair, esperando que também “caísse do céu” um novo mercador que apostasse em seu novo cavalo.

David gerenciava apostas de corridas de cavalo, desde sempre. Ele amava o ramo e principalmente os lucros que ele recebia.

Por ter mudado de cidade, o medo de não conseguir um bom apostador antes da próxima corrida, era o que mais o atormentava.

O grande relógio em seu escritório marcava 15:30hs, suas mãos formigavam, ansiosas para poder atender o telefone. Mas alguns minutos se passaram, até que finalmente, alguém resolveu ligar. 

— Boa tarde, gostaria de falar com o senhor Sanders – uma voz masculina perguntou

— Sou eu mesmo – David pronunciou, tentando esconder a empolgação.

— Eu sou Owen Gottem , mercador renomado do Maine. Gostaria de apostar em um dos seus cavalos

— Ah sim, muito obrigado pela preferencia Sr. Gottem, nós temos vários cavalos novos no mercado, poderíamos agendar um dia para que eu possa ir a seu escritório e mostrar o catalogo dos melhores. O que o senhor acha?

— Eu acho uma ótima ideia Sr. Sanders, poderia ser amanha as 14:00hs ?

— Claro, me passe seu endereço.

****

“E a meia noite, o relógio tocava 12 badaladas, fazendo com que o coração de Pércia batesse no mesmo ritmo...”

TRACK !!!!

— Mas o que aconteceu ? -  Chloe perguntou em voz alta, sendo tirada de sua leitura

— Mas que porra Eddie, eu disse pra você segurar a maldita bola !!! – uma voz masculina gritou, vindo da rua.

— Eu falei que eu ainda não estava preparado, a culpa é sua !! – outra voz masculina gritava , também vindo da rua , parecia que ambas estavam brigando.

 Chloe levantou da sua cama pegando uma bolinha de tênis que estava no chão. A mesma havia atravessado a sua janela e quebrado seu copo de vidro que estava na sua cômoda. Por sorte a janela estava aberta e não tinha quebrado também.

Chloe se aproximou lentamente da janela, temendo ser vista pelos supostos donos da bolinha de tênis. Ela os observou entre as cortinas roxas, tomando cuidado para que eles não a vissem.

Um dos garotos era magro e alto, de cabelos escuros. Usava um par de óculos grandes e tinha a boca mais suja desse mundo !! Ele gritava com o outro garoto o insultando e xingando com um monte de palavrões.

O outro, por sua vez, era magro e baixo, tinha o cabelo castanho e penteado para o lado. Suas roupas, diferentes das do mais alto, eram menos largas e mais engomadas.  Ele parecia que ia explodir de tanta raiva que tinha do mais alto. Seu rosto estava vermelho e suas mãos em um punho fechado.

— E a gora como a gente vai pegar a bola imbecil? – o mais alto continuava seus xingamentos

— Eu não faço ideia Tozier !!! E quer saber? Eu não me importo!!!! – disse o mais baixo virando de costas para o outro e seguindo em direção a uma casa.

— Ah então é assim ? Por culpa sua eu perco a minha bola e você não vai pegar de volta? – continuou o mais alto

— Eu já disse, eu não me importo Tozier !! Se você quiser pegar a sua bola, fique a vontade. Eu não vou mover um dedo! – Continuou o mais baixo

— Você é um frangote !!! Medroso !! Fique sabendo que se você não pegar a minha bola de volta vai ter troco !!

— Eu não ligo, não tenho medo de você !! – disse o menor entrando na casa e batendo a porta na cara do outro

— Eddie !!! Você me paga seu filho da puta !!! Você vai ver !!!!! – disse o mais alto bufando e indo embora.

Aparentemente, o garoto mais baixo era seu vizinho da frente e por algum motivo, agradeceu mentalmente por isso. Agradeceu também pela discussão ter terminado. Chloe não era muito fã de brigas, ela gostava de resolver as coisas com calma e ela definitivamente não saberia o que fazer se os dois começassem se socar na sua frente. 

Em um suspiro profundo, ela se encostou na parede gelada , e observou a bolinha em suas mãos. Será que ela devolvia? Afinal a bolinha não era sua, e ela não gostava de ficar com algo que não era seu, nem mesmo se ela achasse por um acaso.

Mas, se ela devolvesse, significaria que ela teria que falar com o seu vizinho e isso era extremamente aterrorizante.

Ela nunca foi muito boa em se socializar, sempre ficava no seu canto, lendo algo, em quanto às outras pessoas conversavam. Isso era por timidez e vergonha. Ela não conseguia conversar com alguém, pois tinha medo que não gostassem dela e que não quisessem estar perto dela. Afinal, ninguém gostava de estar perto de uma nerd de aparelho esquisito.

Chloe sofria de uma doença crônica na carne dentaria, isso fez com que ela passasse a maior parte do tempo com aquele aparelho em volta da cabeça.

Hoje em dia o “capacete de ferro” foi embora mais ainda ha o ferro na boca. Mesmo não sendo muito grande, ainda incomoda quando ela fala, e incomoda muito mais quem o vê.

O vizinho da frente, apesar de estar nervoso, aparentava ser mais amigável que o outro, parecia ser mais simpático. Chloe não sabia o porquê, mas sua mente estava criando coisas para afastar seus pensamentos do outro garoto. Por algum motivo ela associava a presença dele com algo ruim, não exatamente ruim, mas ... complexo.

Chloe não gostava de coisas complexas e muito menos pessoas complexas , enfim ela estava aliviada por ter que conversar com o seu vizinho. Se ela , realmente, criasse coragem de conversar com seu vizinho.

Balançando a cabeça de um lado para o outro, voltou para a realidade e decidiu limpar a bagunça que a bolinha fez no seu quarto.

Assim que terminou de varrer os cacos de vidro, ela foi ate o banheiro, se olhou no espelho e disse baixinho. “Você consegue, não é como se ele fosse um bicho de sete cabeças. Ele é só um garoto! “ Ela repetiu isso umas sete vezes ante de sair do banheiro.

Já do lado de fora da casa, suas pernas começaram a tremer, mas mesmo assim ela se manteve firme. Iria deixar a vergonha de lado e enfrentar o seu medo de se socializar.

Atravessou a rua, segurando a bolinha firmemente em uma das mãos. Parou em frete a porta de seu novo vizinho. Respirou fundo e quando ela levantou a mão para bater na porta ... desistiu .

Fechando os olhos, mordeu o lábio inferior, sentindo a palma das mãos suarem. “Você consegue Chloe!” repetiu mentalmente. Abrindo os olhos novamente, ela encarou a porta a sua frente. Sentiu um embrulho no estomago.

Parecia que horas haviam se passado, mas somente dois minutos se foram e ela ainda encarava a porta de madeira.

Quando finalmente sentiu coragem de bater na porta, ouviu um som de algo se abrindo e de repente o seu vizinho estava lá, frente a frente com ela.

— Oi será que eu posso te ajudar em alguma coisa? – o garoto perguntou meio desconfiado

Por um momento Chloe sentiu sua voz falhar, parecia que ela estava paralisada e que não conseguia mover um músculo.

O garoto continuou a observa-la e quando ele ia se pronunciar, ela rapidamente balançou a cabeça em sinal de positivo e estendeu a bolinha de tênis na frente dele.

— Ah!! A bolinha, obrigado. A gente quebrou algo na sua casa? Se sim pode falar que nós damos um jeito de concertar. Talvez com dinheiro? – o garoto perguntou, sorrindo meio sem graça, ao lembrar do ocorrido

— N- Não , esta tudo bem. Só quebrou um copo velho e feio, mas ninguém se importa – Chloe disse em meio a um sorriso tímido. Depois ela se tocou de que havia falado algo e se surpreendeu com sigo mesma.

— Ah que bom então ! Meu nome é Eddie, Eddie Kaspbrak . Você é nova por aqui não é ?

— Sim, meu nome é Chloe, Chloe Sanders. Eu me mudei faz pouco tempo.

— Bom , então bem vinda a Derry Chloe, espero que sejamos bons amigos – disse Eddie com um sorriso, estendendo a mão para cumprimenta- lá

— Obrigada Eddie, eu também espero isso – disse Ela também sorrindo e o cumprimentando de volta.

Continua ...