Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 8
Promessa


Notas iniciais do capítulo

Eu já vou me desculpando pelo capítulo enooorme, mas eu não podia cortar ele, e ele terminou bem onde eu queria. Muita coisa vai ser revelada agora e eu espero que vcs gostem. O capítulo é mais diálogo, mas eu estou preparando terreno pra ação que vai rolar daqui uns dois ou três capítulos. Boa leitura vejo vcs nas notas finais



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—Ne Yoshiro-san veja isso - Sakura chamou o colega de bancada para se aproximar e ter uma boa visão de sua experiência.

 

Ela segurou o erlenmeyer bem a altura dos olhos e girou o pulso para misturar as substâncias dentro da vidraria. O líquido transparente parecia muito inofensivo, mesmo tendo Sakura instantes antes adicionado a poderosa toxina que vinha lhe dando tanto trabalho nos últimos dias.

 

—Humm… Eu não vejo nada Sakura-san - o homem disse distraidamente.

 

Um sorriso suave se desenhou em seus lábios quando ela lhe lançou um olhar zombeteiro. Os olhos dourados do homem ao seu lado pareciam tímidos e gentis - claro Yoshiro-san, eu ainda não terminei - e dito isso ele viu um brilho sutil e esverdeado fluir das mãos dela enquanto a Haruno infundiu seu chakra na substância. Quase como mágica, o líquido pareceu ganhar vida, agitando-se furiosamente no interior do utensílio triangular.

 

—Você está fazendo isso Sakura-chan? - ela podia perceber a surpresa dele ao ver a reação que também havia lhe surpreendido mais cedo.

 

—Eu apenas estou doando um pouco do meu chakra, nada além disso. - ela defendeu - Essa toxina parece ser muito reativa a chackra, por isso nossos testes de reatividade a tecidos não deram em nada- ela fez uma pausa olhando para os outros tubos completamente inofensivos em sua bancada - eu já vinha suspeitando disso mas agora tenho certeza - ela pousou o recipiente cujo líquido ainda se agitava violentamente dentro - Por isso demorou mais a atingir os civís e se espalhou mais rapidamente entre shinobis.

 

—Agora parece fazer sentido - o outro comentou sem realmente se concentrar na mulher a sua frente.

 

Ele tinha essa mania, Sakura já tinha observado. As vezes, principalmente quando eles estavam alí no laboratório, discutindo sobre as formas de neutralizar aquela intoxicação, ele parecia divagar e se perder entre os próprios pensamentos. Agora mesmo, com aquela expressão de que estava maquinando sobre algo, os olhos dourados perdidos, emoldurados por sobrancelhas brancas arqueadas e cenho franzido, os longos cabelos brancos farfalhando sobre seus ombros. 

 

Era injusto, Sakura pensou logo que viu Yoshiro Takari pela primeira vez, era injusto um homem ser tão bonito, que seus cabelos fossem mais bonitos que os de Ino, e que seus cílios fossem mais longos que os dela. Era mais injusto ainda que ele fosse tão gentil e doce com ela, que desde o recente abandono de Sasuke estava tão mal humorada e entristecida. As vezes queria ser como Ino, que antes de se amarrar em Sai tinha saído com muitos dos shinobis e simplesmente se desligava deles no momento do término, tendo sido ela ou não a terminar. Mas não, diferente de Ino, Sakura era como uma âncora que havia sido jogada no mar profundo que era Sasuke Uchiha, e que parecia incapaz de emergir. Se ela fosse como Ino, ela já teria flertado com o albino a sua frente, afinal, ela era solteira, não por escolha própria é claro, ela era maior de idade, e o homem em questão era um tremendo de um pedaço de mal caminho, e quando estava concentrado nela não deixava dúvidas sobre o seu interesse na kunoichi. Mas como ela ainda era Sakura, chorava todas as noites quando se deitava em sua cama, lembrando que até a algum tempo atrás suas noites nunca eram solitárias.

 

Talvez por isso, depois de quase um mês sofrendo como o inferno ela tenha aceitado aquela missão que a levou para tão longe de casa por tanto tempo. Ela não queria se iludir que esqueceria Sasuke, ela sabia que não era capaz. Mas pela primeira vez ela não tinha mais esperança.

 

Dessa vez havia sido diferente. Sasuke não tinha simplesmente deixado a vila, ele tinha deixado ela, sem nenhum adeus, sem nem olhar pra trás. E ela soube que ele a abandonara no momento que acordou e ele não estava lá, não que ele sempre a esperasse acordar, mas ela sentiu, na pele, no seu âmago. Ela olhou para sua  varanda cujas portas se encontravam abertas e soube inconscientemente que ele tinha ido embora. Por isso, não foi surpresa quando Naruto lhe disse isso durante o almoço que ele tão gentilmente pagou para ela no Ichiraku aquele dia, os olhos azuis zangados e decepcionados. As vezes, ela pensava que Naruto sabia sobre eles, mas também sabia que se ele soubesse estaria atrás de Sasuke agora. E para a surpresa do loiro, ela não chorou quando ouviu a notícia da saída de Sasuke da vila, e para sua própria surpresa, ela não chorou pelos próximos dias. 

 

Talvez tenha sido o torpor que lhe envolveu, anestesiando seus sentidos, talvez tenha sido os dois plantões seguidos de 36 horas que ela pegou no hospital e para seu horror e felicidade a grande quantidade de ninjas em estado grave para ela se concentrar em curar. Mas quando ela chegou em casa naquela noite, depois de literalmente ter sido chutada para fora do hospital por uma Tsunade muito raivosa, depois de abrir a geladeira movida pela fome e encontrar seu lindo suprimento de tomates vermelhos, depois de ter entrado em seu quarto e ter visto a cama bagunçada do mesmo jeito que ela havia deixado, intocada e ainda com o cheiro dele, depois disso ela não pode se conter. E ela chorou, chorou tanto que seus olhos doeram, chorou tanto que sua cabeça doeu, chorou tanto que sua garganta entalada com soluços doeu, chorou tanto na esperança de seu coração parar de doer, chorou tanto que ela tinha certeza que tinha quebrado um recorde de quantas lágrimas poderiam ser derramadas por uma única pessoa na mesma noite.

 

Chorou pela dor de seu sonho de infância ter sido tão brutalmente arrancado dela. Porque ela sabia agora, entendia suas próprias palavras quando muitos anos atrás ao responder a Kakashi sobre seus sonhos ela queria tão desesperadamente a atenção de Sasuke e seu amor infantil. Não apenas ter Sasuke, mas que ela queria ser amada de volta. Talvez fosse uma manifestação subconsciente da necessidade que ela tinha por aceitação, e por amor de outras pessoas além de seus pais. Seu sonho, ela sabia hoje, era ser amada na mesma proporção que amava.  E por mais que ela soubesse que era sim, profundamente amada por seus amigos, a ausência do amor de Sasuke, a quem ela dedicou o coração desde tão jovem, a ponto de ver esse amor não morrer com a juventude mas florescer e se tornar algo sólido e infinito, não ter esse amor correspondido era doloroso como o inferno.

 

E por mais que ela soubesse, que sim ele a amava de sua forma torta, aquilo doía como o inferno. Talvez fizesse doer mais. Pois mesmo a amando ele não conseguia ficar ao seu lado. 

 

Talvez ela só não fosse o suficiente.

 

—Sakura-san? - ela se assustou quando se viu tão próxima dos olhos dourados de Yoshiro, ele limpou o que pareceu ser uma lágrima solitária que havia caído de seus olhos enquanto ela se perdia no seu inferno particular. Kami-sama, ela não sabia como era possível ainda restarem lágrimas - você está chorando? - a voz doce e preocupada dele lhe despertou.

 

—Não - ela sussurrou - apenas os meus olhos irritados com alguma coisa. 

 

Ele assentiu sem realmente acreditar na desculpa dela, ela também não acreditaria - Já sabe o que fazer em relação a essa reação? 

 

Sakura suspirou longamente - Não exatamente, mas nós vamos conseguir - ela sorriu confiante para ele. Se tinha uma coisa no que ela se achava boa, era ser médica.

 

—Eu tenho certeza que sim florzinha - ele disse em uma voz que estranhamente causou arrepios em Sakura, e não dos tipos bons. Ela viu aquele olhar, aquele pequeno sorriso malicioso que ele dava quando chamava ela assim. Mas como sempre ela ignorou, confundindo seus instintos shinobi com paranoia.

 

Ela se arrependeu profundamente disso.

 

&

 

Assim como ela havia prometido, na manhã seguinte Sakura se esgueirou pelo caminho entre o hospital e a torre do Hokage acompanhada de sua mestra muito discretamente, afinal, como seu objetivo era partir o mais rápido possível, ela preferia permanecer sob o doce cobertor do anonimato que a falsa morte lhe dispunha. As enfermeiras e ninjas que ocasionalmente soubessem de sua condição, lê-se viva, poderiam depois ser persuadidos a não revelar o segredo.

 

A sannin havia sido contra sua auto imposta alta, e então decidiu que iria lhe escoltar pessoalmente até o escritório de Naruto. Quando chegaram ao prédio no entanto, a loira havia dito para que ela esperasse por uma pequena margem de tempo enquanto abria caminho para ela, a Godaime reconhecia que evitar encontros desnecessários era o ideal, então ela permaneceu oculta em sombras e outras coisas até que um tempo razoável tivesse se passado e ela voltou a caminhar rumo o escritório do Hokage.

 

Durante a caminhada sinuosa e tranquila, muito mais solitária do que ela achava seguro para um prédio daquela importância, mesmo com a “abertura” de caminho que sua mestra havia se proposto a fazer, o que ela havia feito para esvaziar os corredores seria uma coisa interessante de se saber, Sakura se lembrou da ultima vez que fez aquele mesmo caminho. Quase uma década havia se passado, o Hokage era outro e mesmo que a missão que lhe fora entregue fosse algo como nível A, nenhum os dois pensou que Sakura “morreria” no cumprimento do dever. É óbvio que ela não havia morrido, mas fora por muito pouco, ou talvez não, ela estava morrendo afinal. Ela estremeceu com um calafrio que não tinha nada relacionado a temperatura amena que fazia nesta época do ano em Konoha, e sim com a falta de saúde que afetava seu corpo, e por mais que ela tivesse dormido por muitos dias seguidos, passar a noite em claro não ajudava.

 

A kunoichi não havia dormido depois da visita de Sasuke, seu coração ainda frágil pela conversa tão dolorosa que tiveram. Era frustrante, depois de anos separados, depois de ser mais uma vez abandonada, ainda amava o Uchiha com todas as fibras do coração. Mas ela não era mais uma tola apaixonada, e ela tinha outras prioridades agora, sendo a mais importante manter sua filha segura e feliz, pelo tempo que lhe restava. 

 

Ainda não sabia muito bem o que ia fazer com a relação entre Sasuke e Sarada, o que sabia era que não deveria mantê-los separados, ela não era assim tão cruel. Talvez, pensou melancolicamente, fosse até bom que eles tivessem se encontrado. Anteriormente seu plano era deixar Sarada muito bem aos cuidados de Jung e da família que ela havia construído na Taverna, todos, com exceção de Sarada, sabiam que a vida da rosada estava se esvaindo rapidamente e felizmente, Sarada era muito amada por todos eles, então Sakura não tinha medo em relação a isso. Mas agora, a possibilidade dela também ter o apoio do pai para quando Sakura se fosse, era quase reconfortante. Ela tinha que tomar providências para isso no entanto, sua cabeça já maquinando os possíveis cenários que se seguiam.

 

Quando chegou ao corredor que dava para a porta do escritório de Naruto, Sakura foi abordada por um ANBU que ela soube imediatamente se tratar de Sai, mesmo com a máscara de porcelana ocultando sua face. O sorriso que se desenhou no rosto dela foi muito nostálgico.

 

—Como vai Sai? - ela perguntou entre a diversão e a nostalgia quase em um sussurro.

 

—Bem, e você feiosa? - ele questionou naquele tom ameno

 

—Morta - brincou.

 

 - Estranho que eu não tenha lido em livro nenhum sobre pessoas mortas aparecendo do nada e transitando pelos corredores desta torre. Isso seria de alguma forma um risco para a segurança do Hokage? - era impressão dela ou aquilo era quase sarcasmo vindo de Sai?

 

—Eu posso morrer e voltar mil vezes e jamais serei um risco para Naruto - ela quase cantarolou - você não precisa se preocupar, ele está me esperando.

 

Ele assentiu para ela e a Haruno seguiu rumo a porta do escritório, antes de entrar no escritório ela ainda parou a ouvir - Bem vinda de volta feiosa.

 

Ela não se virou para olhar para ele novamente, aquelas palavras faziam brotar uma pontinha de conforto muito perigosa, ela não estava alí para ficar, não estava de volta. 

 

Quando entrou no escritório se deparou com três dos Shinobi mais poderosos do mundo ninja discutindo. Naruto com uma cara entediada atrás de uma pilha de papéis e mirando um Sasuke de braços cruzados e com uma carranca para o loiro. Kakashi estava encostado em um canto acompanhado de um de seus exemplares infames. Era uma cena que ao mesmo tempo era incomum e familiar. Era familiar pelos tempos em que eram guenin, Naruto e Sasuke sempre brigando e rivalizando, Kakashi, na época seu sensei, sempre apático e próximo, e ela perdida no meio.

 

—Oh, eu não sabia que seria uma sessão de interrogatório público - comentou sarcasticamente a rosada.

 

Naruto olhou pra ela com vívidos olhos azuis, e por um instante era quase como se realmente fossem guenin outra vez. Ele havia realizado seu sonho, era o Hokage. E aquilo enchia seu peito de orgulho e felicidade por seu amigo. Ela não pode deixar de se emocionar na época em que ele fora nomeado, a três anos agora se suas contas estavam certas. Obviamente não pode comparecer, o que lhe entristeceu profundamente, mas tinha acompanhado todas as notícias pelas redes de informações e espionagens de Jung. Ela havia ouvido muitos murmúrios e comentários, em quase todos as nações ninjas sobre a ótima administração que ele estava fazendo com a vila. O que era no mínimo surpreendente. Não que ela duvidasse da inteligência de seu amigo loiro, ainda que durante a infância e adolescência ele tenha sido um péssimo aluno, mas sempre pareceu à Sakura que ele não tivesse muito tato administrativo. Naruto era o cara dos discursos encorajadores e redentores, disso não havia dúvida, ele era um bom político. Mas as questões administrativas e mais sombrias, e mesmo a papelada toda que envolvia o cargo sempre fizeram Sakura temer pelo amigo. Felizmente ele era um Hokage mais que amado pelo povo, era eficiente. 

 

Aquilo nunca havia lhe parecido tão real quanto era agora, saber não era realmente o mesmo que ver. Sasuke voltou seus olhos para ela também, mais serenos que os de Naruto mas ainda sim carregados. Ele parecia estranhamente calmo e indiferente, dado a conversa da madrugada.  

 

—Ohayo Sakura-chan! - cumprimentou o loiro docemente - Não era a intensão ter tanta gente aqui mas o Teme não vai arredar o pé - ele indicou Sasuke com um olhar acusatório - e o sensei simplesmente apareceu aqui hoje.

 

Sakura voltou seus olhos para o seu antigo sensei, que a menção de seu nome se desencostou da parede e guardou o livro familiar em um dos bolsos. Ele parecia um pouco mais velho, mas apenas sutilmente, o seu cabelo naturalmente prateado sempre parecia ser uma ferramenta para dificultar a estimativa de sua idade, se antes lhe envelhecia, agora tornava impossível para eles determinar se seu sensei realmente havia envelhecido. Ele se aproximou dela, o colete verde que ela viu ele usar durante toda sua adolescência havia sido trocado por um colete cinza com detalhes em preto nos ombros, o Hatake parou próximo e a encarou por um minuto inteiro antes de lhe sorrir e bagunçar o seu cabelo como fazia quando ela era nova.

 

—Sensei! 

 

—Desculpe Sakura, eu não pude resistir - o sorriso se desenhou por debaixo da máscara - se você não se importar eu gostaria de ouvir o relatório da sua missão, afinal, foi eu mesmo que mandei você pra lá. 

 

Sakura olhou para seu antigo sensei, e se sentiu muito mal por ter feito ele passar por isso novamente. Kakashi havia perdido tantas pessoas importantes ao longo de sua vida e ela havia novamente o obrigado a comparecer a um funeral. 

 

—É claro que o senhor pode ficar sensei - o sorriso fraco que se desenhou em seus lábios era muito nostálgico e um pedido mudo de desculpas. Ele encarou ela novamente e inclinou a cabeça docemente para o lado, como se dissesse que ouviria sua história primeiro e depois pensaria se iria lhe desculpar. Ele voltou a sua posição original e Naruto tomou a palavra após puxar um arquivo do topo da pilha que enfeitava sua mesa.

 

— Bom então, vamos lá - o loiro abriu o arquivo se deparando com as folhas alí anexadas - A sua missão originalmente era classificada como rank B solo, do tipo específico a assistência médica ninja a uma vila com um posto avançado de Konoha que estava sofrendo com um surto desconhecido que levou cinco shinobis a morte em duas semanas. - a voz dele assumiu um tom profissional e sério que ela imaginou ser reservada para os assuntos de Hokage - Sua missão era descobrir a causa das mortes e impedir que o surto da doença desconhecida se espalhasse para as aldeias vizinhas. Uma semana após sua chegada a vila, você enviou o primeiro relatório da missão informando que havia isolado o agente causador da doença e que permaneceria mais uma semana para pesquisar mais e tratar os que já tinham sido intoxicados. Duas semana depois um novo relatório chegou informando que um novo surto de intoxicação havia se iniciado, matando mais oito ninjas e dois civis. No relatório você informa já estar trabalhando no isolamento e pede mais duas semanas para investigar se o surto estava sendo causado por um processo natural local ou se estava sendo implantado. Cerca de um mês depois de sua partida para a missão o relatório que chegou indicou que o segundo surto havia sido controlado e que um terceiro surto já estava em processo de pesquisa para a solução, neste relatório você indicou que as toxinas estavam se tornando mais complexos e que agora tinha certeza de se tratar de uma situação premeditada. - ele parou por um momento olhando atentamente algo na folha - Nesse ponto sua missão foi reclassificada para rank A. Nos relatórios seguintes você indicou que não havia encontrado nenhuma pista sobre quem estava por trás disso mas também negou qualquer equipe de reforço da vila, alegando que seria mais incômodo do que útil, este foi seu último contato com o escritório do Hokage. O arquivo indica que a vila perdeu contato com você cerca de três meses após o início da missão e que a equipe que foi enviada encontrou toda a vila em ruínas, ninguém foi encontrado com vida. Os investigadores enviados constataram que um grande incêndio pareceu varrer a pequena vila, apenas ossos foram recuperados, dentre os quais sua suposta arcada dentária e algumas vértebras, por onde foram feitos testes de DNA para a identificação do corpo - o loiro suspirou incomodado com aquela parte em do relatório - a missão foi arquivada sem conclusão ou informações extras sobre o que aconteceu de fato naquela vila, e você foi dada como morta.

 

Um pesado silêncio caiu sobre a sala, deixando-os desconfortáveis e ansiosos, então Naruto novamente falou findando o silêncio -Então Sakura-chan, seja detalhista no seu relatório da missão, você está quase uma década atrasada mesmo - ele sorriu minimamente encorajando a colega de time.

 

— Vamos começar do começo então - ela disse suspirando, nesse momento a porta se abriu e Tsunade se esgueirou para dentro de seu antigo escritório, e se postando ao lado de Kakashi no que parecia uma reunião de ex-Hokage - Quando cheguei na vila já havia uma equipe médica a postos trabalhando na doença, os relatórios que me passaram foram que a doença parecia afetar mais os shinobi do que os civis, o que facilitou em parte o trabalho de triagem, ainda que alguns civis também tenham sido afetados. De início imaginei que seria algum patógeno que se ligasse especificamente aos canais de chakra nos ninjas, daí a sensibilidade extra dos shinobi. - Sakura viu pelo canto do olho Tsunade balançar a cabeça como se aprovasse o raciocínio de sua aluna - depois de examinar os pacientes que estavam afetados descobri que havia uma toxina correndo em seus canais de chakra, isolamos a substância e eu criei uma antagonista para ela pra neutralizar sua ação, o primeiro surto foi surpreendentemente simples de diagnosticar e tratar. Eu deixei o resto com a equipe local e me concentrei em descobrir a origem da toxina. O médico ninja que esteve comigo durante toda a investigação se chamava Yoshiro Takari, era ele quem estava à frente da equipe que já estava prestando assistência aos doentes. Antes que pudéssemos detectar a origem do primeiro surto, mais shinobi começaram a cair doentes novamente, e estes não eram responsivos ao tratamento que já havíamos desenvolvido, quando os examinei, descobri que se tratava de uma versão melhorada da toxina que havíamos neutralizado antes, muito mais complexa quimicamente falando, e muito mais agressiva também, se ligando intimamente aos canais e redes de fluxo de chakra.

 

—Quais eram os sintomas? - Tsunade perguntou curiosa.

 

—Em shinobis se manifestava mais agressivamente, deixando o fluxo de chakra louco e completamente desregrado, parecia também que os níveis normais de chakra estavam aumentados e isso agrediu severamente o corpo dos pacientes, numa sobrecarga descontrolada de chakra sobre o corpo deles. Os pacientes apresentaram febre e dor intensa. Os que morreram tiveram seus órgãos nobres comprometidos pelo chakra. Em civis era mais sutil, mas depois descobri que a toxina estava forçando o desenvolvimento da rede de chakra dos civis e inundando seus sistemas, eles apresentavam o mesmo quadro porém mais leve. Nós conseguimos contornar a situação e isolar a toxina nos pacientes. Eu e Yoshiro usamos algo como engenharia reversa, dissecando os pontos fortes e fracos da toxina de acordo com as nossas experiências no laboratório e com a observação nos pacientes. Eu comecei a investigação da origem da toxina novamente e descobri que a única coisa em comum para todas aquelas pessoas era a fonte de água.

 

—Alguém estava envenenando a água? - Naruto perguntou.

 

—Infelizmente eu não consegui descobrir de novo, e também não parecia isso, eu bebi daquela água e muitos dos moradores que consumiam não foram afetados, eu nunca consegui determinar o veículo da substância, um terceiro surto encheu o hospital da vila novamente, dessa vez ainda mais agressivo, os sintomas eram mais terríveis para os shinobi e muito mais fortes em civis. Por semanas nós lutamos contra cada um dos surtos que se sobrepunham aos novos, depois do quarto eu estava convencida de que não apenas era algo manipulado como também quem quer que fosse o responsável estava bem ciente dos nossos passos, sempre melhorando onde eu atacava para neutralizar na rodada anterior. Pouco antes do quinto surto eu descobri que estava grávida e as coisa ficaram mais complicadas. - Sasuke de onde estava pareceu ficar mais tenso com a narrativa.

 

—Porque não enviou uma mensagem informando a situação? Porque negou os reforços? Eu teria tirado você de lá no mesmo instante Sakura - Kakashi pareceu levemente irritado, a incomum demonstração de emoção em seu tão apático sensei a fez sentir-se culpada. Quantas vezes ele não deveria ter se culpado por enviar sua aluna para a morte, mesmo que eles fossem shinobi e a morte fosse um fantasma constante a lhes assombrar.

 

—Desculpe sensei, mas como eu disse tudo se complicou. Eu comecei a suspeitar de cada um ao meu redor, eu tinha medo de mandar relatórios e mensagens e elas serem interceptadas, as pessoas estava morrendo as portas do hospital e eu de repente me descobri grávida também. Eu queria sair dali correndo mas não podia, não quando estava tão perto de encontrar o responsável - cerrou os punhos lembrando - além disso o miserável estava se comunicando.

 

—Como assim? - perguntou um Sasuke terrivelmente sereno.

 

—Depois do terceiro surto, ele começou a mandar charadas e insinuações muito pertinentes de que ele sabia de todos os meus passos - ela esclareceu.

 

—Você não relatou isso - Kakashi observou 

 

—Não havia como, na época eu tinha profundas suspeitas de que eles tinham acesso aos meus relatórios e então não tinha como relatar sem me expor. Eu tive receio de mandar uma invocação da Katsuyu-sama tão longe, o uso excessivo do chakra poderia ser prejudicial devido o período delicado da gestação. Eu estava ilhada. Eu decidi encerrar a missão após a resolução da sexta intoxicação mas as coisas não correram como o planejado. - ela suspirou resignada - Eu descobri que o médico que estava me auxiliando, Yoshiro, era quem estava por trás das toxinas, na verdade eu fui ingênua em não suspeitar dele mais rápido, além de mim ele era o único a ter acesso a todas aquelas informações. Durante semanas ele esteve ao meu lado aprendendo e usando as dados que eu lhe dispunha para melhorar a toxina. As informações que eu reuni me mostraram que se tratava de um ensaio clínico para aperfeiçoamento de shinobi. A toxina tinha como propósito aumentar as reservas de chakra do indivíduo, abrindo os canais de chakra para o ambiente e forçando chakra natural para dentro do corpo. 

 

—Isso é loucura - exclamou Naruto, ele era um usuário do chakra natural e sabia as consequências do uso indevido. 

 

—De fato, o chakra natural resultante da ação das toxinas na abertura dos canais de chakra não vinha com o controle proveniente da meditação que os sábios fazem. Isso tornou o experimento muito frustrante para Yoshiro, ele não tinha conseguido estabilizar a fórmula antes e o ensaio estava sendo um fracasso. - ela fez uma pausa, escolhendo bem as palavras, todos tinham sua atenção voltada para ela - Até eu chegar e resolver os seus problemas, não apenas melhorando a toxina através dos estudos como também me tornando o bode expiatório perfeito.

 

—Você está dizendo… - Kakashi parou por um instante, encarando a aluna com o cenho franzido.

 

—Ele tinha as provas. Os ensaios, os relatórios de laboratório, tudo o que produzimos juntos, todo o trabalho indicava que eu havia conscientemente e intencionalmente trabalhado na manipulação da toxina. Como meu assistente, ele era o responsável pela elaboração dos relatórios clínicos, e ele foi muito eficiente em deixar minhas boas intenções ocultas - ela zombou - Ele produziu provas concretas de que não apenas eu ajudei na criação da toxina, o que não é mentira de certa forma, como também supervisionei o ensaio clínico e promovi os testes em civis e shinobis, uma população inteira estava servindo como ratos de laboratório, inúmeros morreram, e tudo indicava que eu sabia, o que automaticamente colocaria Konoha como mentora da pesquisa.

 

—Miserável! - Naruto bateu com o punho na mesa

 

—Quando ele previu que eu iria deixar a vila, quando percebeu que eu havia descoberto, ele me abordou com tudo isso. Ou eu ficava e lhe ajudava a concluir a pesquisa, ou ele iria enviar tudo aquilo para o escritório dos outros Kage, de uma forma nada amigável, deixando claro as intenções de Konoha ao financiar experimentos em massa para desenvolver novos e aprimorados soldados.

 

—E isso veio em boa hora não? - Kakashi comentou amargo.

 

—Como assim? - Sasuke indagou.

 

—Na época Sakura estava desenvolvendo um programa de assistência infantil para órfãos da guerra. Estava tendo bons resultados e ela queria levar o projeto para outras aldeias.

 

—É claro que aquele bode velho do Oonoki não ia ver isso com bons olhos - Tsunade acrescentou.

 

—Ele, assim como o Raikage insinuaram que Konoha estava tentando produzir um novo exército usando os órfãos, treinando e manipulando para se tornarem shinobis obedientes. - o Rokudaime não parecia nada feliz com aquela lembrança.

 

—O que? - Naruto parecia confuso - eles acharam que íamos fazer isso mesmo com a aliança permanecendo depois da guerra? 

 

—Velhos hábitos são difíceis de largar Naruto - Kakashi suspirou cansado - e a aliança era um acordo de uma guerra que era muito recente, ainda frágil, nada como o que temos hoje, com relações mais fortes e uma nova geração de Kage para nos  guiar em bons caminhos.

 

—Exato - Sakura retomou a palavra - eu era a pessoa por trás do projeto com os órfãos, e tinha o total apoio do sensei, se apenas um rumor corresse de que eu também estava por trás de uma empreitada química de aprimoramento de shinobi usando uma vila inteira como cobaia, Konoha teria sérios problemas diplomáticos, a aliança shinobi estaria em risco de se desfazer, e no pior dos cenários…

 

—Estaríamos em guerra novamente - Sasuke completou seu raciocínio.

 

—Então, você forjou sua morte para evitar a tensão entre Konoha e as demais vilas? Para preservar a aliança? Sério Sakura-chan? Você não achou que tinha umas soluções melhores? - Naruto parecia indignado, olhando pra ela quase acusatório.

 

—Não era minha intenção forjar minha morte assim - ela se defendeu irritada - mas as coisas saíram do controle e de repente a vila inteira estava pegando fogo, e eu me deparei com a escolha, voltar a Konoha e perturbar a frágil, recente e maravilhosa relativa paz que estávamos tendo, ou simplesmente desaparecer, sem deixar rastros ou oportunidades de Yoshiro me usar e de manchar o nome de Konohagakure. Eu não sei se foi a escolha mais sensata, mas foi a que me pareceu menos prejudicial em termos matemáticos. Ainda que Kakashi-sensei conseguisse contornar a situação ainda haveria a desconfiança, o fantasma da guerra clamando. Então foi fácil pra mim sacrificar o peão menos importante.

 

Novamente um silêncio incômodo se instalou na sala, todos tentando pensar nas milhares de formas que Sakura poderia ter escolhido para lidar com a situação, todos percebendo sua lógica de ação, ainda que imperfeita, ainda que radical, eficaz.

 

A própria Sakura quebrou o silêncio quando voltou a falar. - As coisas aconteceram muito rápido, eu iniciei o incêndio no laboratório na esperança de destruir o máximo possível do material e dos arquivos. Yoshiro ficou possesso e tratou de espalhar o fogo pela vila, eu consegui fugir dele e forjar um cadáver sintético usando meu chakra, o meu sangue e cabelo para criar um convincente o suficiente para ser reconhecido como meu. Eu tentei salvar o máximo de pessoas que conseguisse mas os ninjas particulares de Yoshiro estavam impedindo que as pessoas deixassem a vila pra pedir socorro ou mesmo se salvarem das chamas. Era queima de arquivo, simples e eficaz. Eu consegui sair da vila levando uma dúzia de crianças principalmente, eu temi pelo bebê, e não voltei pra salvar mais ninguém - a culpa corroeu sua voz - e eu desapareci depois disso.

 

—O médico - questionou Sasuke, para os outros ele poderia parecer sereno e indiferente, mas ela podia ver a fúria irrompendo de dentro, os olhos ligeiramente mais expressivos, as mãos em punhos firmes - O que aconteceu com ele? Foi ele que levou você? 

 

—Um dos benefícios da minha morte foi sem dúvida despista-lo. Assim como o resto do mundo ele acreditava que eu estava morta até o ano passado, quando eu cometi um erro e acabei me expondo demais - Sakura tomou cuidado para não revelar nada mais, havia coisas que não eram necessárias ao conhecimento deles agora - pro meu azar, Yoshiro tem olhos em todo lugar, e ele descobriu que eu estava viva. Passei muitos meses escondida com Sarada, mas eventualmente eu tive que sair, Jung me fazia trocar de esconderijo sempre que possível enquanto ele caçava os ninjas de Yoshiro, em uma das trocas eu fui pega em uma emboscada, só consegui esconder Sarada antes de ser levada pelos gêmeos. - a simples lembrança lhe causava arrepios, naqueles momentos aterrorizantes em que tudo o que ela podia era pensar na segurança de Sarada, garantir que ela estaria bem. Deixá-la escondida na raiz daquela árvore, desacordada e ainda com lágrimas presas aos cílios fora uma das coisas mais difíceis que já havia feito.

 

—Eu compreendo, acho que você tomou uma decisão muito radical mas entendo que foi o melhor a se fazer na sua posição - Kakashi se aproximou dela novamente, colocou a mão em seu ombro - Deixar seu lar, completamente desamparada na situação que você estava, não deve ter sido nada fácil.

 

—Não foi - ela completou olhando ternamente para o seu sensei - e por isso Naruto, por mais que me doa, eu não posso ficar. - e doía, mais do que deveria. Ela já havia deixado Konoha, voltar nunca tinha sido uma possibilidade. Mas ali estava ela, e ver a oportunidade escorrer por seus dedos era doloroso, mas necessário - Eu já estou morta pro mundo, de qualquer forma. Se eu de repente aparecer viva, não tenho dúvida de que Yoshiro vai vir atrás de mim. Não quero ver o trabalho do sensei e o seu sendo abalado pelos meus erros de julgamento, pois tenho certeza que ele virá com todo seu arsenal de provas e evidências. Não vou forçá-lo a escolher entre o que é melhor pra vila e um amigo. - ela olhou melancolicamente para o amigo, recebendo um sorriso maroto de volta.

 

—Bobagem Sakura-chan! - ele se levantou em um segundo, contornou a mesa e se pôs de frente a antiga colega de time - até parece que eu vou deixar você ir por uma besteira dessas. Se esse cara vier atrás de você nós vamos socar a cara dele dattebayo! 

 

—Você não pode resolver tudo na base do soco Naruto.

 

—E não vou. Não se preocupe Sakura-chan, a aliança está mais forte do que nunca, tenho certeza que com algumas cartas e emails resolvo tudo isso. Vou informar com antecedência pros demais kage sobre a situação, e você vai me escrever um relatório completo da missão, se ele resolver mandar algum pacote incriminatório estaremos preparados para ele. Vamos pegar esse idiota e jogá-lo no fundo da prisão mais escura de Konoha, e ele vai se arrepender de ter mexido com minha amiga! 

 

—O dobe está certo, a aliança já não é mais frágil como era antes. E esse desgraçado não vai tocar em você. - a voz do Uchiha não deixava espaço para questionamento.

 

Sakura fechou os olhos massageando as têmporas e suspirando cansada - Seria maravilhoso se fosse assim tão fácil - ela abriu os olhos e mirou o loiro ainda a frente dela - O único problema Naruto, é que Yoshiro Takari, é o jovem daimyo do país do Chá.

 

O cenho do loiro se franziu imediatamente e ela pode sentir a surpresa dos demais. Apesar de serem os líderes oficiais das nações, os daimyos raramente se envolviam diretamente com os shinobi, geralmente seu papel era mais significativo na administração do país e menos envolvidos nas vilas ocultas, apesar de seu poder de voto e indicação na escolha do Kage, e era ainda mais incomum ter um daimyo com treinamento ninja. Mas Yoshiro adorava subverter as regras. 

 

—Isso não faz sentido algum - Sasuke ralhou

 

—Não, não faz, mas não deixa de ser verdade. Na época em que trabalhei com ele, Yoshiro era apenas o quinto filho do daimyo do Chá, que segundo ele mesmo, era uma criança errante e mimada que havia aprendido ninjutsu médico para contrariar seu pai. É claro que ele não parou por aí, e se tornou o mais próximo que os civis poderiam gerar de um Orochimaru. - de braços cruzados e carranca aborrecida, a Haruno continuou - Mesmo supostamente morta, eu mantive uma boa rede de informações sobre os passos dele, e não fiquei surpresa quando um a um seus irmãos mais velhos foram morrendo de acidentes inexplicáveis e doenças repentinas. Quatro anos atrás seu pai finalmente morreu, de um ataque fulminante do coração, e como filho mais velho vivo, ele assumiu a posição apesar da pouca idade.

 

—Isso certamente dificulta as coisas - comentou Kakashi.

 

—Mesmo que os outros Kage acreditem em tudo, no momento em que eu for reintegrada a Konoha, Yoshiro vai dar um jeito de vir atrás de mim.

 

—Por que ele vai vir? Por que ele continua vindo atrás de você? - Sasuke se mexeu e pareceu impaciente e ameaçador de onde estava, a ira destilada em suas palavras.

 

—Porque eu aperfeiçoei a fórmula - Sakura revelou - eu estabilizei e tornei ela funcional, e destrui tudo antes de incendiar o laboratório. Ele quer fazer seu próprio exército de ninjas aprimorados sem limites de chakra, e eu sei como. Então ele vai vir - a certeza em sua voz não apenas mostrava a certeza do que dizia, mas a menção de que havia mais - porque ele matou a família inteira pra ter o poder que sempre quis, então ele não vai medir esforços. 

 

A exposição da crueldade do homem que arruinou a vida de Sakura pareceu causar um impacto nos ninjas presentes na sala, infelizmente Sakura não estava preparada para a pergunta que Naruto fez a seguir - O que aconteceu enquanto ele tinha você sequestrada Sakura-chan? - a voz apreensiva.

 

Incomodada com a pergunta que ela não queria responder Sakura agarrou a barra da camisa que vestia, algo genérico que Tsunade havia trazido para ela pela manhã - Quando eu não quis cooperar ele usou a força - respondeu o mais vagamente possível. Ela jurou ouvir um rosnado de onde Sasuke se encontrava.

 

Naruto assentiu e caminhou novamente dando a volta na mesa e se colocando de frente para a janela, braços cruzados e pensativo. Um tempo enorme pareceu se passar quando ele voltou a falar - Talvez você tenha esquecido Sakura-chan, mas eu não esqueci. Eu disse quando éramos jovens e vou dizer agora de novo - ele se virou para ela, olhos azuis determinados - se não posso proteger meus amigos então eu não mereço ser Hokage. Você é uma kunoichi de Konoha, e uma amiga. Quando me tornei o Nanadaime prometi cuidar e proteger cada um dos habitantes de Konohagakure com a minha vida. Como Hokage é meu dever proteger você, como amigo é meu dever proteger você! E eu nunca volto atrás com minha palavra, esse é o meu caminho ninja dattebayo!

 

Seus olhos se encheram de lágrimas com a declaração de Naruto, é claro que ele seria teimoso. Naruto passou muito tempo de sua vida sobrevivendo apenas pela teimosia e força de vontade. Ele havia sofrido com a solidão e por isso valorizava seus amigos. Ele nunca deixaria Sakura no anonimato apenas por que era o caminho mais fácil, ele faria o possível pela amiga. E era isso que ela temia.

 

—Naruto não seja irresponsável…

 

—Sakura! - Tsunade se fez ouvir depois de um longo tempo, ela quase se esquecera que a Godaime estava alí, mas nada naquela história a surpreendia, na verdade ela sabia muito mais do que eles - Pare de ser tão teimosa e nos deixe ajudá-la! Você fez um sacrifício enorme pela paz da sua vila, e todos somos gratos a você. - ela se aproximou mais - Então agora nos deixe cuidar de você. Não subestime as capacidades políticas de Naruto. 

 

—É hora de parar de sair de dentro dessa bolha que você foi obrigada a criar para se proteger Sakura. Você já fez muito, descanse um pouco agora - Kakashi lhe sorriu como quando eram guenin, bagunçando seu cabelo e lhe passando a segurança que ela precisava.

 

—Você está segura agora, está em casa - Sasuke completou.

 

Ela olhou para eles, encarando cada um. Era estranho e confuso. Por tanto tempo ela havia sentido saudade de casa, de Konoha, e  havia se obrigado a deixar qualquer esperança de voltar e agora, quando a oportunidade lhe era tão gentilmente oferecida ela se ressentia e temia estender a mão para tomá-la. Expectativa era um veneno quando inaulcançada. Ela poderia? Ficar em Konoha era o certo? Ela tinha construído uma vida inteira pra si longe dali, mas a vila oculta da Folha nunca deixou de ser seu lar. Ela podia lidar com as consequências? E Sarada? Iria sua filha querer ficar ou voltar a sua zona de conforto? E os companheiros que ela tinha na Taverna? Poderia abandoná-los? Havia muito a se considerar mas, por mais que tentasse se convencer do contrário, ela queria poder ficar. Queria a segurança dos muros altos de Konoha para si e sua filha. Queria não viver tão paranoicamente o tempo todo e dar a Sarada a liberdade com a qual ela foi criada. Ela queria ficar e com a ajuda de sua shishou quem sabe conseguir viver um pouco mais...

 

—Exato! - exclamou o loiro sentando novamente em sua cadeira, ele flexionou os dedos totalmente animado - Eu quero o relatório Sakura-chan, com detalhes pra que eu possa me preparar para uma reunião com os outros Kages da aliança, enquanto isso vou me reunir com Shikamaru e pensar em como lidar com o daimyo do Chá se ele for burro o suficiente pra tentar vir contra Konoha. - a kunoichi olhou para seu amigo com lágrimas nos olhos, esse era Naruto e sua mais poderosa arma, o carisma e a empatia - E não me olhe com essa cara! Eu preciso de alguém para assumir o hospital e coordenar as missões médicas, eu me sinto um explorador forçando uma idosa como a baa-chan a trabalhar.

 

—Naruto! - a Godaime gritou e Sakura não pode conter a gargalhada.

 

—Obrigado - ainda havia muito o que pensar, muito o que considerar, mas ela queria pelo menos tentar.

 

Sasuke se aproximou enquanto Kakashi e Tsunade pareciam entrar em uma discussão sobre emprego de idosos, antes que Sakura pudesse se afastar do moreno ele tocou sua testa com os dois dedos, naquele seu velho hábito - Você não vai fugir de mim - o sorriso arrogante que se desenhou em seus lábios foi o suficiente pra dizer a Haruno que suas palavras naquela mesma madrugada não tiveram o efeito desejado sobre ele, Sasuke parecia mais motivado do que nunca a se aproximar dela. 

 

O momento foi interrompido quando Sai, ainda em seu traje ANBU, se materializou na janela - Hokage-sama, há um grupo de ninjas estrangeiros criando uma comoção no portão norte.

 

—Mas que diabos! - Naruto se virou para Sai - e porque os guardas não colocaram eles pra correr?

 

—Os guardas foram neutralizados. - apesar da notícia o ANBU não demonstrava alarme, então eles apenas observaram - Entretanto eles não mostraram intenção de invasão ou de fazer mal a ninguém. O homem que parece ser o líder ou porta voz chama por uma “Nikuya”. Eu não entendo, por que gerar uma comoção por carne, parece algo como o Akimichi faria.

 

—Você disse Nikuya? - Sakura perguntou exasperada.

 

—Sim.

 

Ela não pode evitar de sorrir antes de passar por Sai e pular pela janela, correndo o mais rápido que conseguiu até o portão da vila, sentia os outros shinobi lhe seguindo mas não se importou, passando por casas e prédios avistando ao longe as três figuras que fizeram seu coração esquentar. 

 

Os dois chunin que guardavam o portão estavam sentados no chão e amarrados. A figura mais visível era sem dúvida Kito, o homem com seus mais dois metros de altura e sua constituição forte e musculosa, os cabelos negros curtos e olhos castanhos que sempre expressavam o sorriso de seus lábios. Não pode deixar de notar a pequena forma da idosa ao lado dele, o contraste de estatura da velha Shizuka destacando seus cabelos completamente brancos e seu pequeno corpo envolvido por um kimono azul cerúleo, ambos discutiam, e se não soubesse a força com que a idosa conseguia bater com aquela bengala ela acharia desrespeitoso da parte do mais alto. E então ela avistou Jung, e a essa altura, já estava próxima o suficiente para ouvir ele gritar naquela voz estridente e rouca sua alcunha - Nikuya - era como ele a chamava desde o começo, de ofensivo passou a ser carinhoso.

 

—Jung - ela gritou e se jogou nos braços dele assim que alcançou o ruivo, os cabelos curtos dele, da cor do vinho, lhe roçando a bochecha, ela teve que pular para lhe alcançar o pescoço, e ele a segurou quando ela ficou bons vinte centímetros do chão, ele era muito alto em seus mais de 1,80.

 

—Nikuya! - a voz dele saiu estrangulada, sôfrega em um alívio desesperado, e ela então estava chorando, mal se dando conta da saudade que sentia de seu querido amigo, enterrando o rosto na curva de seu pescoço enquanto ele lhe girava sorrindo de olhos fechados escondendo o violeta de suas iris.

 

—Eu senti sua falta - ela disse, e de repente não tinha mais certeza se poderia deixa-los.


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Notas finais do capítulo

Daimyo - É o verdadeiro lider da nação, enquanto o Kage é lider da vila oculta ninja. Tipo um senhor feudal.
Nikuya - em tradução livre do nihongo significa açougueira, bem carinhoso ne?
O chakra natural, é geralmente aquele que os sabios como Jiraya é o Naruto no modo sábio acumulam coletando do ambiente. Ele precisa ser cultivado com orientação e cuidado.

E aí o que acharam? Muitas revelações, muita treta vai rolar pela frente. Me contem sobre o que vcs acharam sobre os personagens novos, e qq coisa que vcs quiserem me falar, me façam feliz e eu trago um novo capítulo bem rápido. Bjs.



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