Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 9
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Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vão?
O capitulo passado foi mais tenso e burocrático, nesse eu foquei no flashback, notem as pequenas pistas que eu estou deixando sobre um dos segredos da nossa rosada, esse vai ser mais introdutório pra interação dos novos personagens com os nossos velhos conhecidos, e pra quem gosta de um Sasuke ciumento ele sofre um pouquinho aqui, demais não é legal. Mas sem mais, aproveitem a leitura e vejo vcs nas notas finais!



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Fazia frio. Não o tipo de frio que fazia em Konoha no inverno, aquele frio bom que te força a vestir um casaco e meias, também não era do tipo que ela se lembrava vagamente de ter sentido no país do Ferro debaixo de toda aquela neve que eles encontraram durante a reunião dos kage a uma vida atrás. 

 

Não, esse era um tipo diferente de frio. O frio que ela sentia agora era muito cruel, congelava seus ossos e fazia sua pele se arrepiar em uma intensidade muito incomum. Ela quase se arrependia de toda a viagem que teve que fazer até ali, o país da Cachoeira, lugar igualmente cruel. Sakura estava se mantendo o mais longe possível de Takigakure, a vila oculta do país, que ela sabia ser muito protegida, entradas por cavernas subaquáticas certamente colocavam as névoas de Kirigakure no chinelo, e ela não estava interessada em visitar qualquer vila shinobi no momento, ou talvez nunca mais se possível. Vilas ocultas mantinhas seus livros Bingo o mais atualizado possível, e ela havia entrado em alguns nos últimos anos, e sendo sua morte recente como era, ainda devia estar lá.

 

Mas o próprio país da cachoeira refletia a crueldade de seus ninjas. Os sinuosos vales e penhascos de tirar o fôlego, cobertos impossivelmente por uma vegetação muito densa, mesmo apesar da altitude, e é claro, as dezenas de cachoeiras que volta e meia apareciam na paisagem. Ela havia descoberto a alguns dias que o outono havia chegado, trazendo temperaturas miseravelmente congelantes, de doer no cérebro, um frio diferente e quase não natural. Talvez ela só não estivesse acostumada, afinal ela havia crescido na terra do Fogo, que não era nem de longe quente como o país do Vento, note a ironia, mas que mantinha uma relativa amenidade de temperaturas geralmente bem balanceadas e com quatro estações bem definidas, os verões, ela sabia, eram mais quentes se comparado ao inverno onde o frio vinha mas a neve era presença pouco usual. E talvez esse frio todo que ela sentisse também tivesse uma parcela dedicada a sua condição mais que fragilizada. 

 

Ela vinha tentando ser muito cuidadosa com sua saúde e consequentemente com a de seu bebê, viajando muito lentamente nos últimos meses, e depois de toda a confusão que foi sair daquela vila condenada, tomando tanto cuidado para não ser seguida ou mesmo percebida a ponto da paranóia se tornar sua amiga íntima. A Haruno andou lentamente por terras sem nome, sempre com uma capa e um capuz na cabeça nos primeiros dias, até passar por uma vila civil grande o bastante para encontrar tintura de cabelo. Ela viajou como civil, completamente esquecível com seus cabelos e olhos castanhos e forma franzina envolta em roupas simples. Agora, três meses depois, seu cabelo havia perdido completamente a tonalidade terrosa, e o rosa se fazia presente novamente, mais desbotado do que ela se lembrava, mas lá estava ele, os olhos, que ela havia tornado castanhos com um henge simples, estavam verdes novamente, ela não podia desperdiçar nenhum chakra sequer, mesmo que fosse para se disfarçar. Por isso ela estava alí, naquele país de florestas densas e geralmente inóspitas e desertas onde ela poderia achar um lugar tranquilo para se estabelecer até o parto e por algum tempo depois, no entanto ela já odiava esse país  profundamente por ser tão difícil de explorar, principalmente para uma gestante de seis meses sofrendo de exaustão dos chakras. 

 

Nunca agradeceu tanto por ser médica, caso o contrário ela tinha certeza que já teria morrido. Proteger sua criança, ainda dentro de seu ventre, do seu corpo e de todo mal que seu organismo poderia fazer a um feto no estado em que estava era uma tarefa exaustiva, e embora ela tivesse alguma reserva de chakra que ela pudesse usar, não queria usá-la a não ser que fosse estritamente necessário. Todo esse esforço, somado a toda a dor que sentia e a falta de um bom descanso não estavam contribuindo em nada para a sua saúde, ainda que ela se alimentasse regularmente seu corpo estava mais fraco do que ela achava correto para sustentar uma gravidez, mesmo ela já tendo passado do primeiro trimestre. Não importava, ao menos por hora, ela iria encontrar um lugar logo, talvez tivesse sorte e encontrasse uma cabana abandonada no meio da floresta, ou no mínimo uma clareira onde pudesse providenciar a construção de uma, clones das sombras podiam ser ótimos auxiliares em algumas ocasiões, mas ela gostaria de se estabelecer mais próximo de uma vila civil, por isso estava naquela rota, que havia sido informada levar a uma pequena e pacata vila às margens de um rio e cercada por um pequeno vale. 

 

Andando calmamente por entre as árvores frondosas, ela estava evitando as estradas principais, Sakura acariciava sua barriga ainda pouco crescida, vestindo a capa fechada ela nem parecia estar grávida de seis meses, ocasionalmente pensava como sua vida havia virado de cabeça para baixo. A um ano ela estava em Konoha, segura em sua rotina dividida entre os projetos do hospital infantil, o hospital geral da vila, algumas missões médicas ocasionais, passar algum tempo com seus amigos, pensar em Sasuke nos intervalos…. Certamente quem fosse o responsável por escrever sua história havia dado com a cara no teclado pra que as coisas tivessem saído tanto do eixo. Psicodelia a parte, ela nunca havia estado tão assustada,  tinha tanto medo por seu filho, seu futuro nunca parecera tão incerto. O medo às vezes era tão sufocante que ela chorava e ficava paralisada, havia tido muitos ataques de pânico durante as madrugadas em que acordava ofegante por um pesadelo no primeiro mês depois de sua fuga. 

 

Aquelas semanas que sucederam sua suposta morte foram tão sombrias pra ela que eventualmente não soube distinguir se estava mesmo viva ou se havia morrido de verdade e aquele era seu inferno particular. Lidar com toda aquela situação, grávida, sozinha, sem qualquer esperança de reforço ou ajuda - afinal, como se ajuda alguém que está morto? Duvidava que mesmo Naruto poderia realizar tal façanha - sem dinheiro, sem teto, sem perspectiva, e certamente os hormônios aflorados da sua condição gestante não ajudavam em seu estado emocional mais que perturbado, isso, é claro, sem mencionar toda a maldita dor que sentia. Depois de encontrar uma caverna segura o suficiente para passar a primeira noite Sakura não conseguiu nem se mexer pelos três dias seguintes. Primeiro ela havia pensado em ficar quieta até a dor passar, foi somente depois das primeiras trinta horas de agonia que ela percebeu que não ia passar, as próximas horas foram de histeria e desespero, se havia uma linha que separava o são do louco ela tinha certeza que deu uma voltinha pelo outro lado, e então ela se lembrou que não estava mais sozinha no mundo, que havia uma vida crescendo dentro dela e que ela devia a essa pequena criatura os cuidados de uma mãe, e então ela se concentrou em se habituar a dor, e depois do que pareceu uma eternidade em meio a escuridão da caverna, do chão pedregoso e do vento uivante, ela conseguiu se arrastar e recuperou o controle do corpo, ainda que tremendo, ela se forçou a andar. Naquelas primeiras semanas ela se concentrou em se acostumar a toda aquela porcaria de dor e em proteger o bebê.

 

Enquanto estava na floresta se alimentou de frutas e nozes, bebeu a água de rios e córregos, durante semanas planejou cuidadosamente seus próximos meses, tanto uma necessidade quanto uma forma de acalmar a si mesma. Quando tomou coragem de se esgueirar pela primeira vila civil ela realizou alguns pequenos furtos, não se orgulhava disso mas não teve escolha, não podia oferecer seus serviços médicos como moeda de troca ou para ganhar dinheiro, não quando ainda tinha cabelo rosa e olhos verdes, só depois, quando tingiu os cabelos e mudou a cor dos olhos que ela se apresentou como médica itinerante, oferecendo seus serviço pelas vilas onde passava, sem usar ninjutsu médico, mas sem encontrar nenhuma dificuldade em atender os ávidos habitantes, ela não era apenas uma ótima ninja médica, ela era uma ótima médica, e ganhou bastante dinheiro em sua rota perfeitamente planejada, passando por quantas vilas fosse possível em seu caminho ao isolado país da cachoeira e evitando as aldeias ocultas, tanto dinheiro que pensou seriamente que as vilas shinobi não pagavam bem seus médicos, e a curiosidade realmente se fixou em seu cérebro, afinal, se com simples atendimento civil ela estava fazendo uma boa poupança, quanto Konoha ganhava com missões médicas realizadas por ninjas como ela e Tsunade? 

 

Seus sentidos ninjas foram imediatamente alertados, tirando ela de seus devaneios quando ouviu um pequeno ruído. Parou onde estava, ainda cercada de árvores, arbustos, algumas rochas ocasionais, verde inundando sua visão por onde olhasse, lentamente ela expandiu seus sentidos tentando localizar a origem do barulho. Não havia uma alma viva naquela floresta, ela ocasionalmente encontrava um coelho, um cervo, um esquilo, mas não pessoas, logo, quando sua consciência expandida pelo treino em detectar chakra lhe apontou que havia sim alguém alí, não apenas uma pessoa, shinobi pelas reservas de chakra que ela detectou, não era uma sensor mas era muito boa quando o assunto era chakra. Mas ao que parecia, suas reservas estavam baixas, e pelo ruído que ela ouviu uma segunda vez, agora bem melhor, uma coisa entre um gemido e um xingamento, o ninja em questão estava provavelmente ferido.

 

Em uma ocasião diferente seu instinto a teria feito correr em direção ao shinobi sem nem pensar, ainda que fosse um desconhecido, ainda que fosse um inimigo em potencial, a médica enraizada nela sempre a fazia tomar esse tipo de atitude, mas agora, ao mesmo tempo que o instinto médico lhe mandava dar um passo à frente, o recém aflorado instinto maternal lhe mandava dar dois passos para trás. Outro ruído, dessa vez ainda mais audível, se pela agonia do ferido ou por ela estar atenta não sabia dizer, mas era novamente aquela coisa sofrida e zangada, e ela travou uma batalha interna.

 

—Droga - sussurrou, era como estar em cabo de guerra, e a corda era ela, e quem puxava de um lado e de outro também era ela. Mas Sakura sabia que não apenas suposto ferido era um perigo para ela e seu bebê, mas quem o ferira também, embora ela não tenha sentido nenhuma outra presença. Entretanto, se ignorasse a pessoa ela poderia muito bem lhe seguir, aquilo também poderia ser uma armadilha, e se ela não olhasse ficaria louca pela paranóia, e se ela fosse olhar também corria o risco de cair na armadilha. - Melhor se arrepender do que fez do que daquilo que deixou de fazer - xingou novamente e começou a andar em direção ao chakra cada vez mais fraco e a origem dos ruídos agonizantes.

 

Quase cinquenta passos depois ela se encontrou numa clareira que ela sabia não ser natural, provavelmente resultado de uma batalha recente, batalha essa que deixou pelo menos dez cadáveres espalhados, e quando digo espalhados eu digo membros espalhados, e seu ninja reclamão, às margens da confusão. Ele estava meio sentado, as costas escoradas em uma árvore tão larga quanto uma casa, sua pele era clara, não pálida como a dela, mas não bronzeada como a de Naruto, os cabelos dele eram de um tom de ruivo que Sakura nunca havia visto, profundamente vermelhos, um tom lindo de vinho que ela gostaria de ter em um kimono, os olhos dele estavam fechados mas ela tinha certeza que ele estava acordado, as sobrancelhas, da mesma cor do cabelo estavam franzidas, seu nariz aristocrático sangrando assim como os lábios cheios e provavelmente estava quebrado, o queixo arrogante, mesmo naquela condição Sakura tinha que admitir, o miserável era bonito. Ele era alto também, e certamente era um shinobi treinado, os músculos magros se desenhando através da pele dos braços expostos pelas mangas rasgadas da camisa que usava. Havia tanto sangue encharcando a camisa que a médica se surpreendeu de ele ainda respirar, fora o que escorria dos outros ferimentos que ela podia ver, e por mais que tenha procurado não encontrou nenhuma bandana indicando a vila de onde ele havia saído, nem mesmo uma bandana riscada, marca registrada dos nukenins.

 

Cuidadosamente ela se aproximou, seus sentidos alertas para qualquer movimento fora de seu campo de visão, o homem misterioso no centro de sua atenção. Quando chegou a cerca de um metro dele o shinobi abriu os olhos revelando furiosas íris de um azul violeta lindo, de perto ele era muito jovem, devia ser da idade da Haruno. Seus olhos se estreitaram e miraram a rosada com tanta fúria que ela se arrepiou.

 

—Você veio para terminar o serviço? - a voz rouca e profunda dele chegou baixa a seus ouvidos - eu posso parecer mal, mas posso facilmente arrancar sua cabeça.

 

—Eu não duvido - respondeu simplesmente, pela fúria com que ele a olhava temia que sua cabeça simplesmente rolasse espontaneamente a qualquer momento - mas eu não estou aqui para terminar nenhum serviço.

 

Ele estreitou ainda mais os olhos, o azul violeta quase sumindo quando pronunciou - Você não parece o tipo que Kitsune enviaria mesmo - ele observou - mas isso pode ser o que ele queria que eu pensasse - ele inclinou levemente a cabeça para o lado e observou melhor a mulher a sua frente, fazendo Sakura ter consciência de sua aparência nada velada no momento - na verdade você me lembra alguém…

 

—Certamente ninguém que mereça ser lembrado - ela cortou a fala dele, mesmo que não tivesse jamais visto aquele homem, ela sabia que sua aparência era conhecida, e havia os malditos livros Bingo - Eu não estou aqui para matá-lo, se é o que lhe preocupa, eu só estava passando - ela voltou a olhar ao redor para a destruição da clareira artificial - o que aconteceu aqui? - ela só se deu conta que disse as palavras em voz alta quando ele a respondeu.

 

—Malditos insatisfeitos com sua própria incompetência - ele zombou, o sorriso sangrento que deu expôs os dentes retos manchados de vermelho. Sakura inclinou a cabeça, uma pergunta muda em sua expressão e ele voltou a falar - eram sequestradores que falharam em sua missão, o motivo da falha? Este que vos fala - sorriu novamente, arrogante - parece que eles não ficaram satisfeitos com a surra que levaram antes e vieram se vingar. Mas vinte contra um é covardia, principalmente quando eu passei a noite na farra - ele voltou a sorrir.

 

Sakura estranhou e passou os olhos novamente pelo lugar, alí tinha no máximo dez corpos, ele estava delirando? Entendendo sua outra pergunta muda ele voltou a falar - eles me seguiram desde o bordel, tem uma trilha de corpos até aqui - o homem gemeu quando se mecheu e o fluxo de sangue em seu abdômen aumentou - por isso eu acho melhor você não me encher, tem essa dor de cabeça que está me irritando, e esse monte de arranhões, eu não vou ser bonzinho só porque você é mulher ou porque tem esses olhos  lindos.

 

Sakura não pode evitar de sorrir quando se agachou pra ficar na altura dele e se permitiu a uma arrogância que geralmente repudiava quando falou novamente - ainda que você estivesse em ótimas condições o fato de eu ser mulher não mudaria a surra que você levaria - em seguida se aproximou mais dele, e pode perceber a tensão crescer em seu corpo machucado, ela tinha quase certeza de que ele sabia quem ela era, e aquilo não era bom. Se fosse mais pragmática ela deixaria ele morrer, melhor, terminaria de matá-lo logo, pra proteger seu segredo, proteger sua morte. Mas ela não era pragmática, ela era passional - mas pra sua sorte, eu não vou te socar.

 

Alcançou sua bolsa na lateral do corpo, e se admirou com a velocidade com que a mão dele alcançou o braço dela. A rosada voltou seu olhar para ele novamente, percebendo o medo em seus olhos apesar de toda a arrogância - Eu não vou machucar você, vou tratá-lo, a não ser que queira morrer.

 

Ela viu a surpresa na face dele e em seguida viu a desconfiança que inundou sua voz quando ele voltou a falar - Por que?

 

—Porque eu posso - a resposta escorregou simplesmente por seus lábios - É como dizem “a ignorância é uma benção” se eu não soubesse como curar, poderia simplesmente virar as costas e deixá-lo morrer. Más eu sei, e portanto, não posso ignorar a sua dor - a expressão no rosto dele era enigmática e ele permaneceu em silêncio enquanto tirou a mão do braço dela e quando ela localizou e limpou suas feridas, arrancando a camisa dele, apesar do frio a sujeira nela poderia presenteá-lo com uma bela infecção. Tratou primeiro o corte profundo na barriga dele, felizmente o peritônio não havia sido rompido mas ela podia vê-lo, a pele havia sido arrancada dali, não daria simplesmente para costurar, faltava pelo menos três centímetros de pele e músculo. Ela respirou fundo se repreendendo, os xingamentos que escaparam de seus lábios pareciam ter assustado ou divertido seu paciente. Relutante ela reuniu um pouco do chakra em sua reserva e começou a executar o ninjutsu médico, estimulando o crescimento da carne rasgada, ela quase podia ver as células em mitose loucamente acelerada pela técnica, assistiu os tecidos se esticarem até se tocarem, e quando se uniram ela parou. Seu próprio coração retumbando, o suor descendo por sua testa, a náusea e a fraqueza lhe atingindo, a dor se multiplicando. Ela devia parar agora, devia sair correndo dali se esconder e torcer para ele ser grato e não tentar lhe matar, pois apesar de sua arrogância poucos minutos antes, ela sabia que não estava em condições de qualquer combate. Mas estranhamente ela não se sentia ameaçada perto dele, mesmo com a chacina as suas costas.

 

—Você está bem? - era delírio seu ou havia uma pontada de preocupação na voz dele? 

 

Ela apenas assentiu, e continuou, tratando de cada um dos pequenos cortes, limpando e fazendo curativos perfeitos com velocidade invejável, mesmo que suas mãos tremessem, não desperdiçou chakra com eles, não eram urgentes, e ela não tinha o suficiente.

 

—Como devo nomear você cabeça de amora? - ela perguntou enquanto tratava do último corte na testa dele, os olhos violáceos jamais deixando os dela, a curiosidade e a necessidade de se concentrar em algo para não desmaiar.

 

Ele riu primeiro, depois franziu o cenho, o que dificultou o trabalho da médica - Não me chame assim, ninguém me chama assim desde que eu era genin - ela não pôde deixar de rir - Meu nome é Jung.

 

—Está com medo de eu te rastrear pra cobrar pelos serviços ou simplesmente não tem sobrenome? - ela brincou tentando ignorar a dor e os pontos pretos na visão.

 

—Não tenho sobrenome - as palavras saíram serenas por seus lábios - É natural pra quem não tem família.

 

Ela arregalou os olhos, a vontade de se bater por um comentário tão idiota - desculpe, foi rude da minha parte.

 

—Você não tem que se desculpar - o silêncio caiu desconfortável até ele voltar a falar - Acho que não preciso perguntar o seu nome - os músculos de Sakura ficaram tensos apesar da ausência de ameaça na voz dele - Não se preocupe, geralmente eu não costumo perturbar pessoas mortas - ela olhou pra ele e havia um sorriso em seu rosto - Já que não é apropriado chamar o nome de um defunto, vou chamá-la de Nikuya quando for lhe agradecer.

 

Indignação percorreu a face da rosada o que fez apenas o sorriso no rosto dele aumentar - Como assim Nikuya? O único açougueiro aqui é você, deixando todos esses pedaços de corpos por aí - Ele riu mais alto, quase gargalhando, e ela quis se juntar a ele, pela primeira vez em meses ela queria gargalhar, apenas pela situação, apenas por ter um motivo, mesmo que fosse a suas custas. 

 

Mas antes que pudesse, os pontos pretos em sua visão aumentaram, e ela lembrou porque não gargalhava. A dor se tornou insuportável, o mundo girou ao seu redor e ela perdeu o equilíbrio, sentiu um par de braços lhe rodeando, ouviu uma voz alarmada. Ela só podia rezar para que ele não a machucasse, para que não machucasse seu bebê.

 

Ele chamou o nome dela, o nome de verdade com todas as letras: Sakura. A sensação era estranha, mas era boa também. 

 

Quando sentiu o chão faltar e um braço se instalar atrás de seus joelhos e outro em suas costas, e quando ouviu a voz preocupada dele ao dizer - Não se preocupe, eu vou cuidar de você - ela chorou. 

 

Ela não deveria confiar em um estranho, mas ela chorou de alívio, ela tinha alguém pra cuidar dela, pelo menos por agora. Talvez por isso ela se deixou levar facilmente pela inconsciência, ou talvez por estar tão cansada, não apenas por curar ele naquelas condições, mas cansada de tudo, cansada daquela fuga, cansada de sentir saudade de casa, cansada de sentir raiva de Sasuke, cansada se sentir raiva de si mesma por ainda amar ele, cansada de ter que ser forte, tão cansada…

 

Então ela dormiu, o sono mais tranquilo que teve em meses, e sonhou com Konoha e uma criança de olhos negros correndo pra ela.



&



Quando ela pulou daquela janela completamente exasperada buscando os estrangeiros que faziam bagunça no portão, a última coisa que Sasuke pensou seria que ela pularia no homem a frente do grupo. Tudo bem que ela poderia até pular nele, pra bater, ferir, chutar, ou qualquer atitude agressiva que ela costumava ter quando insatisfeita, mas não que pulasse nos braços dele como uma donzela em perigo encontrando seu príncipe encantado.

 

Ele seguiu os passos dela quando ela sumiu como um raio do escritório do Hokage, sendo igualmente seguido pelo Hokage em questão e Kakashi, provavelmente assim como o próprio Sasuke eles tinham pensado se tratar de inimigos. Talvez o fato de Sakura ter corrido para eles e não corrido deles deveria ter sido um bom indicativo de que eram na verdade amigos. Quão surpreso o moreno não ficou quando ela não apenas correu alegremente para eles, ostentando um sorriso que ele não via a tanto tempo, como também se jogou no abraço do ruivo, rodopiando ridiculamente segurando sua Sakura e  tirando gargalhadas altas dela. 

 

Certamente ele preferia que tivessem sido inimigos a baterem em sua porta.

 

Ele podia ouvir Naruto segurando o riso atrás de si enquanto encarava o Uchiha e sua expressão no mínimo assassina direcionada ao miserável que havia acabado de pousar Sakura no chão. Todo seu autocontrole foi necessário para não ir lá e afastar ele dela, mas em seguida os outros dois estranhos se aproximaram, o gigante abraçou igualmente Sakura levantando-a do chão no processo,  e depois ela se curvou e abraçou a idosa que completava o trio incomum. De onde estava, as margens da comoção, Sasuke pode observar a forma relaxada com que ela se movia entre os ninjas, e também podia ver a forma como os olhos do ruivo nunca deixaram a figura da rosada, perscrutando seu corpo como se procurasse anormalidades em sua constituição, a forma protetora como ele se curvava sobre ela instintivamente, como o girassol seguindo o astro rei, como uma naturalidade e intimidade que não agradaram nada o moreno.

 

—Oe! - Naruto resolveu se pronunciar chamando a atenção do grupo de visitantes. Geralmente o Hokage não vinha pessoalmente receber possíveis invasores nos portões da aldeia, mas provavelmente o loiro havia agido no impulso de proteger sua amiga, no entanto apesar de não haver ameaça aparente nos ninjas a frente deles, ainda eram estrangeiros e já que estava alí, Naruto podia receber os estrangeiros, Sasuke só podia desejar que ele não fosse nada receptivo - Posso saber que bagunça é essa na minha porta? - infelizmente para o Uchiha ele podia ver o sorriso “vamos ser amigos” do Uzumaki despontando, onde estava a violência quando se precisava dela?

 

—Perdoe pela forma rude com a qual chegamos Hokage-sama - a idosa se pronunciou primeiro, a voz trêmula e frágil correspondente a idade parecia um pouco intensificada propositalmente na opinião de Sasuke, e ela tinha olhos ligeiros e observadores, reconhecendo Naruto, o que de fato não era lá muito estranho, apesar de serem uma vila oculta o loiro era conhecido em todo o mundo ninja - mas julgamos que seria melhor, em termos diplomáticos, chamar a atenção do lado de fora do que causar uma comoção dentro dos muros da aldeia.

 

Naruto ficou sem jeito com o discurso da anciã, coçando a nuca e sorrindo - com certeza baa-chan, mas eu gostaria que libertasse meus guardas - antes que qualquer um piscasse o gigante já havia cortado as cordas que mantinham a dupla de chunins cativa, em um ato de paz - obrigado. Seria legal também saber quem são vocês - continuou o nanadaime.

 

—Desculpe Naruto, foi rude da minha parte - Sakura tomou a frente - o grandão é Kito Kuniy, o cabeça de amora é Jung e está  é Shizuka Takumi - ela sorria enquanto nomeava os estranhos - eles são meus amigos, estive com eles nos últimos anos - ela passou o braço pela figura pequena da mais velha quando falou novamente - eles me acolheram quando eu não tinha mais para onde ir.

 

—Nesse caso - Kakashi que apenas observava a dinâmica entre os ninjas se pronunciou pela primeira vez - nós certamente devemos muito a vocês - a seriedade na voz do sensei evidenciava o quanto ele se sentia afetado por tudo o que havia acontecido com Sakura.

 

—Não há dívidas entre nós nobre guerreiro - o homem que eles haviam descoberto se chamar Kito respondeu - será sempre uma honra ter Sakura-senpai lutando ao meu lado - ele levou o punho direito ao peito e saudou jubiloso. 

 

—De fato, Sakura é uma companhia mais do que agradável - a voz doce da senhora era preenchida por um sorriso maroto direcionado a Haruno.

 

—Hokage-sama peço perdão pelo incômodo, mas viemos apenas para buscar Sakura e Sarada, não pretendemos tomar muito do seu tempo - o ruivo antes quieto se fez ouvir, palavras que fizeram o sangue de Sasuke ferver em fúria, o único indício de seu estado tempestuoso eram seus olhos estreitados, felizmente antes que ele pudesse fuzilar o homem Naruto voltou a falar.

 

—  Nah! Sakura-chan não vai a lugar nenhum, nós já conversamos, e ela vai muito em breve ser reintegrada à Konoha - o loiro falou feliz - e por falar nisso, eu acho bom que eu volte para o escritório, tenho uma longa sequência de emails e papelada para garantir isso - Sasuke observou a troca de olhares entre Sakura e Jung descaradamente, havia ali uma intimidade e cumplicidade que fazia o estômago do Uchiha revirar. 

 

—Neste caso, gostaria de pedir a permissão do Hokage para permanecer na vila enquanto o processo se desenrola. - o os olhos violáceos de Jung jamais deixaram os de Sakura.

 

—Não é sensato permitir a estadia de shinobi estrangeiros dos quais nada sabemos Naruto, principalmente sem que eles possuam qualquer filiação aparente com as outras nações da aliança - Não aguentando a troca de olhares Sasuke finalmente se pronunciou.

 

—Oh de fato, vocês não carregam nenhuma bandana à vista. - observou o loiro - Pertencem a alguma vila shinobi?

 

O homem de cabelos bordô mudou completamente sua postura, a coluna enrijeceu e os punhos foram cerrados, os olhos foram banhados em fúria. Sasuke viu frustrado a mão de Sakura agarrar o antebraço dele, como se pedisse calma, como se as palavras de Naruto o tivessem ofendido profundamente. Depois de alguns segundos sua postura relaxou e ele respondeu a pergunta do Uzumaki - Eu não pertenço a ninguém se não a mim mesmo Hokage-sama -  as palavras mais afiadas do que ele parecia poder controlar - Eu e meus companheiros não integramos nenhuma vila oculta, entretanto não podemos ser considerados nukenins uma vez que deixamos nossas vilas de origem pacificamente. Nossos rostos não estão presentes em nenhum livro bingo entre as nações Shinobi. Podemos apenas dizer que somos autônomos.

 

—Apenas vou citar vocês nos meus emails as outras vilas da aliança, é só um protocolo que eu preciso respeitar, pela regras que regem o tratado, nenhum de nós pode abrigar qualquer nukenin de outra vila da aliança - o Hokage esclareceu - mas se vocês me dizem que não são nukenin então podem ficar em Konoha antes de eu receber as respostas - ele sorria, sua postura relaxada - apenas não se incomodem com os AMBUs que eu vou precisar que vigiem vocês.

 

—Isso não é sensato Naruto - Sasuke encarou sério o Hokage, não que ele estivesse com ciúme, mas enfim, incômodos  à parte, Sasuke jamais havia ouvido falar ou visto os ninjas a sua frente, e para ele que desde que se estabeleceu em Konoha após a morte de Sakura havia se encarregado ainda quando Kakashi usava o manto do Hokage das mais diversas operações de espionagem e monitoramento de ameaças não reconhecer aqueles ninjas, porque eles eram shinobi certamente, era mais estranho do que se tivesse uma pasta arquivada sobre suas atividades. Ninjas como eles mesmo haviam se intitulado “autônomos” eram alguns dos principais alvos de monitoramento da aliança, e sua aparente habilidade em se esconder dos radares de seus espiões por todas as nações shinobi incomodava profundamente Sasuke, não lhe surpreendia agora que Sakura havia ficado tanto tempo escondida sob o véu da morte, se não por suas próprias habilidades e inteligência, certamente pela ajuda daqueles à sua frente.

 

Naruto é claro, ignorou o comentário do Uchiha, andou alguns passos a frente e se aproximou de Sakura. Quando estava a sua frente, levou sua mão ao ombro da rosada e lhe sorriu - Não importa quanto tempo tenha passado, você sempre será a Sakura-chan - ela sorriu afetuosa em resposta - E se você confia neles, eu também confio, afinal você não teria todo o trabalho de forjar a própria morte para manter Konoha segura apenas pra voltar e fazer bagunça, não a Sakura-chan - o loiro olhou ao redor, passando pelos rostos dos visitantes e então voltou a mirar sua amiga - Não importa se você vai ficar em Konoha ou se vai voltar com eles Sakura-chan, eu vou limpar essa bagunça e dar a você a liberdade que merece, mas eu certamente ficaria mais feliz com você por perto dattebayo!

 

Sakura sorriu para Naruto tão ternamente que o coração do Uchiha quase se derretia, a amizade entre eles era algo diferente da dele própria com o loiro, havia sido fortalecida sob confiança mútua e o objetivo comum de trazer Sasuke de volta, o companheirismo forjado apenas para aqueles que compartilharam da mesma dor, dor essa que ele proporcionou a eles. Às vezes Sasuke pensava em como deveria se espelhar mais em Naruto e seu altruísmo, naquele coração carismático que alcançava o mais cruel dos homens.

 

&



Konoha era provavelmente a mais poderosa entre as vilas ocultas do mundo shinobi, e como tal, sua fama entre os diversos países dentro e fora da aliança era grande. Depois da guerra e do herói Naruto Uzumaki emergir como o salvador do mundo ninja a fama de ser não apenas o lar de ninjas poderosos e lendários mas também de ser um local pacífico onde o ninja que havia junto a seus colegas selado a deusa coelho e trazido ao mundo ninja uma nova perspectiva de relações amigáveis entre as nações havia crescido, Konohagakure era agora também um local acolhedor e um farol de esperança.

 

Devido a isso, recebia diariamente diversos visitantes, desde amigos vindo em missões oficiais de outras aldeias como civis em viagens, e até mesmo como os companheiros de Sakura, ninjas estrangeiros sem identificação de outras vilas da aliança que passavam por uma burocracia completa de verificação antes de serem permitidos no território da vila. Dentre esses, naquele dia em específico, onde no principal portão da vila o próprio Hokage recepcionava um grupo de estrangeiros, por outro portão mais reservado cinco ninjas entraram sorrateiramente, fugindo de toda e qualquer verificação. 

 

Entretanto, diferente dos outros ninjas estes cinco não tinham boas intenções, e ao se esgueiraram por entre os corredores e vielas da aldeia a sede de sangue os mantinha em movimento tanto quanto o medo de seu senhor.

 

—Vamos em busca da vadia cor de rosa logo - uma das duas mulheres do grupo ofereceu, seu sorriso viperino e a linda aparência adornada por longos cabelos cor de areia e olhos cor de chuva apenas escondiam o veneno de sua alma.

 

—Não seja tola, acabamos de chegar, precisamos primeiro nos estabelecer - a outra moça se pronunciou, a voz calma e neutra como sua aparência de cabelos e olhos cor de ébano.

 

—Não me venha com sua cautela Yasu, vamos logo atrás da maldita e encerrar isso - a outra respondeu.

 

—Calma ter você deve irmã. Tolerar falhas não o mestre irá - o gêmeo de cabelos escuros aconselhou, andavam por entre os habitantes com naturalidade.

 

— Estamos em Konoha Emi, não podemos nos destacar, iremos achar Sakura-san mas com cautela, e então - o irmão de cabelos claros e olhos escuros sussurrou - nós poderemos nos deliciar com os gritos dela novamente.

 

A loira sorriu e a morena desaprovou balançando  a cabeça em negação, eram tão tolos seus irmãos.

 

—Apenas fiquem quietos e não se destaquem - o quinto ninja se fez ouvir, as palavras firmes porém baixas, exalando poder e autoridade do líder da equipe raptora, sua estatura baixa e cabelos e olhos castanhos o tornavam quase um camaleão entre a multidão - seguiremos o plano para atrair o alvo. Vamos observar por enquanto, e quando chegar a hora atacaremos sem margem de erro. Até lá, apenas não me encham a paciência.

 

Sasuke havia desejado inimigos a porta, mal sabia que eles haviam entrado pela janela.


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Notas finais do capítulo

Eita!
Pra quem não lembra, os livros Bingo ou Bingo book, são os livros que contem os principais nukenins e alguns também podem ter os mais poderosos ninjas do mundo shinobi mesmo que estes não sejam criminosos.
Então, o que acharam? Me contem nos comentários, eu fico ansiosa pra saber o que vcs estão achando da história, me façam feliz e eu trago o próximo cap. mais rápido, estamos chegando em momentos de tensão! Bjs e até a próxima!



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