Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 7
Incerteza


Notas iniciais do capítulo

Um bonus pra esse fds!
Mais uma vez eu estou aki com um capítulo novo! Fiquei muito feliz com quem comentou no passado e ando bem inspirada.
Esse capítulo traz algumas revelações que podem chocar e uma cena bem forte que me cortou o coração escrever.
Espero muito que gostem e por favor comentem!
Boa leitura!



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Acordou ao sentir a brisa fresca da manhã lhe acariciar o rosto, um leve calor lhe cobria, era reconfortante, e ele não se lembrava a última vez que havia acordado com o sol já tão alto no céu. As lembranças da noite anterior escorregaram por sua mente e ele se sentiu estranho e temeroso em abrir os olhos, havia ficado a noite toda ali.

 

Estremeceu ao sentir a pontinha gelada do nariz de Sakura tocar seu tronco e em seguida soltar o ar aquecido. Sasuke abriu finalmente os olhos, e se viu deitado na cama dela, lençóis brancos se enrolavam entre as pernas entrelaçadas e lhe cobriam o quadril deles e também o tronco e os seios da rosada. Sakura dormia de lado e de frente para ele, os cabelos esparramados sobre o travesseiro, ela estava linda como uma flor no amanhecer da primavera. Sasuke sorriu secretamente e muito suavemente tirou uma mecha fujona de cabelo de seu rosto, olhou ao redor localizando suas roupas, o furisode dela, todas as camadas dele, estava jogado em diferentes distâncias da cama, e o moreno riu lembrando de arremessar o tecido longe em sua necessidade por ela.  

 

Olhou novamente para a figura dela dormindo a seu lado e pensou sobre o que havia acontecido, e como deveria agir dali em diante. Definitivamente se perder em desejo por Sakura não era um dos objetivos do moreno ao fazer aquela visita a Konoha, mas de forma alguma se arrependia, havia vivido na noite passada coisas que jamais imaginou serem possíveis, havia se sentido vivo e completo como nunca antes. Quando estiveram juntos tudo parecia certo, como se ele finalmente tivesse encontrado seu lugar no mundo.

 

E isso apenas dificultava sua tomada de decisões a partir daquele momento. Sabia que sua jornada por redenção ainda não havia chegado ao fim, não se sentia pronto ainda para retornar definitivamente a vila. E acima de tudo ele sentia medo. Medo de não ser bom o suficiente para ela, medo de magoá-la, medo de em sua impulsividade estragar tudo. 

 

Mas acima de tudo, agora ele tinha medo de perdê-la. Ficar longe depois de estar tão perto parecia o mais insuportável agora.

 

—Bom dia Sasuke-kun - ela sussurrou sonolenta enquanto piscava os olhos se acostumando a claridade, o moreno lhe lançou um olhar divertido e ela sorriu abertamente, um sorriso tão lindo que ofuscou o sol.

 

—Bom dia - ele se ouviu respondendo. Não importava, ele decidiu. Ficaria ali com ela o tempo que fosse possível.

 

&

 

Ela ainda sorria daquele jeito ofuscante. 

 

E ele certamente não esperava aquele sorriso, ao menos não direcionado a ele. Por que ela sorria? Porque não lhe olhava com ódio ou raiva? Qual o sentido daquele olhar? Sasuke tinha que admitir, estava surpreso com aquele sorriso, ele havia abandonado ela, de novo, e ainda assim ela sorria. De fato percebeu que até aquele momento não havia considerado a reação dela a ele, mas definitivamente não era o sorriso que ela lhe lançava agora. Contrariando sua forma normal de agir, ele se obrigou a respondê-la com palavras, não apenas um aceno.

 

—Olá Sakura - ele respondeu, o nome em sua boca sendo pronunciado com imensa intensidade. Ele podia jurar que viu a rosada engolir em seco.

 

—Mamãe, foi o Sasuke-san que me trouxe até Konoha e também foi ele que resgatou você - Sarada contou alegremente para a mãe que lhe olhava com tanta ternura.

 

—Nossa Sarada-chan desse jeito parece que eu não fiz nada, e fiquei apenas aqui sentado- comentou Naruto emburrado com os braços cruzados.

 

Sakura riu do comentário do amigo, e se voltou novamente para a filha - Como você veio parar aqui? E onde está o Jung? 

 

—O padrinho não estava na taverna, ele demorou demais e eu não podia ficar lá esperando por mais tempo - ela se emburrou e cruzou os braços, depois desfez a expressão de irritação para bocejar. Ela estava cansada, havia treinado a tarde toda com Sasuke.

 

—Eu não acredito que você deixou outra pessoa além de mim ser o padrinho da sua filha Sakura-chan - Naruto fez cara de magoado.

 

—Desculpe Naruto - ela pediu docemente - em outras circunstâncias não haveria ninguém além de você.

 

—Sakura-chan eu morri de saudade de você - comentou o Nanadaime completamente feliz. Assim como ele Tsunade e Ino sorriam abertamente, era como se aquilo tudo não fosse uma loucura - Você tem que conhecer meus filhos, a Hina também está louca pra ver você.

 

—Desculpe Nanadaime-sama, mas aquele seu filho é muito irritante - a moreninha comentou - ele é tão escandaloso e hiperativo.

 

Sasuke quase engasgou com o comentário da filha, e sentiu tanto orgulho, concordava exatamente com a filha, o mini loiro era uma cópia piorada do Hokage. Sakura gargalhou alto junto as outras duas mulheres, o Uzumaki encarava indignado a miniatura do melhor amigo a sua frente.

 

—Sarada-chan! - choramingou o Nanadaime.

 

—Mamãe, a propósito - ela sussurrou para a rosada, não tendo sucesso em esconder suas palavras - O Nanadaime me parece bem inadequado, eu imaginei que um Kage seria mais sério, ou pelo menos menos bobo. - a carranca de Naruto apenas ficava mais cômica conforme era completamente insultado. 

 

—Sarada, você não deve falar assim do Nanadaime - repreendeu Sakura em tom de voz normal, depois sussurrando completou - Embora eu concorde.

—Até você Sakura-chan!

 

—De qualquer forma, eu nem acredito que você conhece tanta gente importante mamãe, e nem que você nunca tenha me contado - Sarada inocentemente tocou naquele assunto delicado e o ar no cômodo foi de divertido a tenso em um segundo.

 

—Desculpe - Sakura pediu a filha. Ela piscava com as pálpebras pesadas, se encostou na mãe que lhe mexia o cabelo carinhosamente. Naruto suspirou audivelmente e limpou a garganta, o momento de descontração havia passado muito rapidamente. Sasuke enrijeceu a postura, ainda recostado à porta, observou a reação de Sakura.

 

—Sakura-chan precisamos conversar - o loiro agora não era mais o amigo, era o Hokage, esclarecimentos deveriam ser feitos.

 

A Haruno olhou cautelosamente para o companheiro de time, seus olhos eram misteriosos, e ela sorriu minimamente assentindo em resposta. - Certamente, guarde um horário na sua agenda pra mim amanhã de manhã, eu irei até o seu escritório e nós conversaremos.

 

—Você ainda não recebeu alta Sakura - interveio a Godaime, ela lançou um olhar para Sakura que deixou claro para Sasuke que havia algo que a loira não estava revelando a eles. - Acho que isso pode esperar até eu liberar você do hospital.

 

—Não há necessidade shishou - retrucou serena - eu estou bem, precisava apenas descansar e pelo que fiquei sabendo eu dormi por dias.

 

—Sakura ouça a sua médica - o moreno falou pela primeira vez.

 

A rosada voltou seus olhos para ele novamente, aqueles olhos cansados e misteriosos que guardavam segredos demais. Sarada em seu colo lutava contra o sono que já lhe embalava.

 

—Não seja tola Sakura, você não é de ferro e passou por uma situação complicada recentemente - Ino se intrometeu. Sakura riu debochada como se soubesse de coisas que ninguém ali fazia ideia. E ela sabia.

 

—Sakura-chan não precisa pressa, você pode ir quando estiver melhor. - Naruto concordou com as médicas.

 

—Não - a voz dela foi firme - Eu estou bem, irei vê-lo amanhã, o quanto antes isso se resolver melhor - a expressão determinada em seu rosto era firme - Assim que possível eu e Sarada vamos partir. 

 

A tensão no quarto aumentou exponencialmente, o ar quase podia ser cortado com uma lâmina. Por um momento o Uchiha pensou ter ouvido errado, mas quando olhou para o rosto dos demais presentes teve sua confirmação. 

 

—Isso está fora de cogitação - ele pronunciou olhando diretamente para Sakura.

 

A Haruno lhe dirigiu o olhar a Sarada que já cochilava no colo da mãe, de repente vencida pelo cansaço e o sono - Eu não pedi permissão. - começou, sua voz tão calma que quase irritava. Ela elevou os olhos até Naruto e continuou - Irei me reportar a você amanhã, e em seguida - ela voltou os olhos verdes cortantes para Sasuke - Irei partir com Sarada.

 

—Sakura-chan, porque… - Naruto tinha o semblante entristecido enquanto olhava para a amiga.

 

—Você não vai a lugar nenhum mocinha - Tsunade deu um passo na direção da antiga pupila.

 

—É claro que não vai testa - Ino quase gritou 

 

—Isso vai ser cansativo - ela disse suspirando - Acho melhor não falar sobre isso agora - ajeitou a moreninha em seu colo - Amanhã eu irei até seu escritório Naruto, e você irá entender. Agora Sarada está dormindo e eu não quero discutir. - finalizou

 

—Tudo bem Sakura-chan - o loiro assentiu - mas eu duvido que você vá me convencer a deixar você ir dattebayou!. - o loiro sorria desafiado, e então se foi pulando janela a fora em direção a seus compromissos como Hokage..

 

—Eu gostaria de conversar a sós com Sakura - declarou a Godaime - se puderem nos dar licença. - ela indicou a porta. Ino deu um beijo na testa de Sakura e se despediu dando boa noite.

 

O Uchiha observou a Yamanaka ir embora e Sakura arrumar a posição de Sarada em seu colo, de forma alguma ele permitiria que elas ficassem longe dele, não agora que sabia que Sakura estava viva e da existência de sua filha.

 

—Eu estou aqui agora - Sasuke declarou antes de sair, atraindo o olhar da rosada - e não vou deixar você ou minha filha irem embora. - enfatizou as últimas palavras, recebendo apenas um sorriso enigmático.

 

Saiu daquele quarto completamente frustrado. Não era de forma alguma como imaginou que seria sua primeira conversa, se é que podia chamar assim, com Sakura. Ela parecia diferente. Misteriosa pra dizer no mínimo, aqueles olhos que antes eram tão transparentes pareciam ter visto tantas coisas a ponto de torná-los mais turvos.

 

Por hora ele iria, se apartaria dela pois imaginava que Tsunade quisesse discutir com ela sobre sua saúde, e ele não podia negar estar muito curioso a respeito, o olhar da loira mais cedo havia sido enfático. Mas apenas por enquanto. Ele faria o que fosse preciso pra ter ela de volta, provaria que era merecedor de sua confiança, mesmo que não fosse merecedor dela ou de Sarada.

 

 Ele jamais a deixaria novamente e faria ela entender isso.



&

 

—Você não negou - Tsunade falou assim que Sasuke deixou o quarto.

 

Sakura voltou seus olhos para ela, ainda ali parada e a observando, sorriu ao dizer - Não há necessidade. Ainda que ele fosse cego saberia que Sarada é sua filha, seria necessário apenas ela abrir a boca - a diversão era evidente em seu olhar quando desceu sobre sua menina, agora ali aninhada ao seu lado. O peso do mundo parecia ter saído se suas costas quando a filha entrou pela porta.

 

Depois de despertar, já no fim daquela mesma tarde, permaneceu muito tempo apenas olhando fixamente para o teto, tentando de alguma forma pensar em como aquilo havia acontecido, e mais importante, onde estava Sarada e por que ela estava ali. Bem depois do sol dar lugar a lua uma enfermeira entrou no quarto e se assustou ao ver a rosada sentada na cama, olhos abertos, expressão intrigante.

 

 Poucos minutos depois Ino irrompeu por sua porta se jogando sobre a Haruno e chorando, Sakura também não pode evitar derramar uma ou duas lágrimas, inclusive de alívio e ao saber que sua filha estava bem e alí em Konoha. Tsunade chegou algum tempo depois, havia ansiedade em seu rosto, e como esperado a loira continuava jovial e bela, mas diferente de Ino não correu pra lhe abraçar, ela lhe sorriu e permaneceu a certa distância, carregando uma pasta nas mãos, sempre olhando para a rosada como que para ter certeza de sua presença ali. Sarada chegou logo após Naruto larga-la, o loiro abraçou a amiga com a força da saudade de oito anos. Ele havia mudado, ela percebeu, ainda era alegre e extrovertido mas a maturidade o tinha feito mais contido, imaginou que se fosse no passado ele já estaria fazendo um escândalo. Estava mais alto, mais forte e seu rosto havia perdido as feições infantis para dar lugar a face do homem que ele se tornou. Hokage. Chorou e se alegrou exclamando sempre como era bom ter a amiga de volta. Ela se emocionou com os amigos e com sua mestra, mas nada fez seu coração se apertar como quando viu sua filha entrando correndo pelo quarto e se jogando em seu colo. Queria poder nunca mais se separar de sua cria, amarrá-la a sua cintura e carregar a pequena pra todo lado com ela. A saudade era tanta que sufocava, simplesmente não se via vivendo longe da sua moreninha, sua filha querida, de temperamento forte e arrogante, língua afiada e sorriso raro e gentil, de coração puro e inocente. Estar com ela ali, agora dormindo a seu lado, era a melhor sensação. Por ela faria qualquer coisa, seria qualquer coisa, desde que sua Sarada estivesse bem e feliz. 

 

Não se surpreendeu ao ver Sasuke, a lembrança dele a carregando para fora de seu cativeiro ainda era fresca na memória, nem podia negar as borboletas no estômago, a taquicardia, e o nervosismo quando viu Sasuke parado a porta. E Kami-sama, ele continuava miseravelmente lindo. O cabelo mais comprido, o rosto mais maduro, os ombros largos… Ele havia finalmente colocado seu braço protético  assim como Naruto, e ela ficou feliz por ele. Era injusto que depois de tanto tempo e de tantas desilusões seu coração ainda fosse tão traiçoeiro.

 

—Sakura - Tsunade chamou sua atenção - precisamos conversar, e algo me diz que você já sabe sobre o que.

 

Sakura suspirou prevendo a discussão que seguiria - Shishou não precisa se preocupar comigo. 

 

A Senju olhou para ela brevemente, sorrindo ao ouvir sua discípula chamá-la - É claro que preciso. - ela engoliu em seco, finalmente cedendo a emoção - eu estou velha Sakura, apesar de não aparentar. Nunca tive filhos e você e Naruto são com certeza o mais próximo disso pra mim. - caminhou até a cama se sentando próximo a rosada que tinha os olhos lacrimejantes diante da declaração da mais velha - Você é mãe agora, e sabe como uma mãe reagiria a isso. - abriu a pasta, folheando as diversas folhas de papel. - Eu não quero acreditar que você apareceu viva, depois de oito anos, apenas para morrer em seguida.

 

Um sorriso pequeno e sem humor nasceu nos lábios de Sakura - eu não vou morrer - ela disse suavemente, colocando a mão sobre a de sua mestra - pelo menos não agora.

 

—Eu ainda sou médica - Tsunade se irritou - sei o que isso quer dizer - apontou para os exames - suas células, sangue, urina, está tudo alterado - encarou Sakura - os exames de imagem me mostraram órgãos comprometidos e deteriorados, sem falar nos seus canais de chakra que estão praticamente destruídos, eu não sei como você está respirando ou se movendo. - desabafou.

 

—Shishou - Sakura procurou os olhos da outra - Não se preocupe, eu tenho estado assim a muito tempo. Não vou morrer agora, ainda vai demorar um pouco. - suas palavras foram simples e serenas como se conversasse sobre trivialidades.

 

—Você sabe e não faz nada - exclamou a mais velha abalada pela calma da pupila ao falar sobre sua morte iminente - como isso é possível? Você quer morrer é isso? - indignada se levantou da cama.

 

—Não é assim shishou - Sakura parecia cansada - eu tentei, por muito tempo, todo tipo de tratamento mas nada funcionou - massageou as têmporas - pelos últimos oito anos eu venho tentando, me livrar disso mas tudo que eu consegui foi atenuar a dor e prolongar minha vida.

 

A loira andou de um lado para o outro - mas afinal o que é isso? Eu não consegui fechar um diagnóstico sequer, as alterações são diferentes de qualquer coisa que eu já tenha visto. 

 

—É porque não é uma doença como qualquer outra, isso é o que acontece quando você bisbilhota e encontra o que não deveria - ela riu, dessa vez mais divertida.

 

—Isso está relacionado ao fato de você ter forjado a própria morte e sumido no mapa?

 

—Do jeito que senhora fala parece até que eu estive de férias - comentou Sakura - está relacionado mas não foi o motivo exatamente.

 

—Você pode, por favor, me esclarecer o que está acontecendo de uma vez? - a Senju estava claramente irritada, mãos na cintura e expressão fechada.

 

—Eu estou doente, e sim, isso vai me matar. - soltou de uma vez - e não há nada que possamos fazer para mudar esse quadro - seus olhos estavam fixos nos cor de mel de sua mestra - eu sinto muito mas eu já me acostumei com a ideia. E apesar de saber que não tem jeito pra isso eu continuo tentando nem que seja pra poder viver só mais um pouco. - ela parou e voltou seus olhos para a criança dormindo tranquilamente alheia a conversa das duas - por Sarada eu me recusei a morrer, e a deixá-la. - observou a mais velha novamente, a irritação substituída pela angústia - mas eu sei que em algum momento eu simplesmente não vou mais conseguir - Não adiantava tentar esconder sua saúde deplorável de Tsunade, ela tinha exames e havia tido dias para examiná-la e encontrar as evidências e os estragos do mal que lhe roubava a vida.

 

O silêncio preencheu o quarto conforme Tsunade se aproximava novamente de Sakura, sentou ao pé da cama uma segunda vez e tomou as mãos de sua discípula. Por um momento apenas encarou os olhos esmeraldinos dela, eles lhe contaram uma história, lhes mostraram a dor que sua menina sentia, mesmo agora, e ela decidiu que não importava, ela faria qualquer coisa para livrá-la daquela dor, daquela angústia.

 

—Não importa o que você já tenha feito - falou suavemente, Sakura observou a godaime - nos vamos tentar novamente, e tudo o que pudermos, eu estou aqui agora, e você não precisa mais lutar contra isso sozinha - uma lágrima solitária escorreu pelos olhos da mais nova - Agora me conte, do começo, exatamente como tudo aconteceu.

 

Sakura limpou a lágrima que escapou teimosa. Ela não queria machucar sua mestra, ou tirar suas esperanças, ela sabia que para ela não havia mais esperança, cura era uma palavra que não tinha mais sentido. A anos ela apenas fazia o possível, buscando mais um dia, mais uma semana, mais um mês, ou o tempo que pudesse dar a Sarada. Ela convivia com aquela  dor agonizante todos os dias, sorria e dava para a filha o melhor de si, esperando e implorando pra poder ver mais um alvorecer, pra poder ver mais um sorriso. 

 

Sempre com saudade de sua casa, nunca podendo voltar. Era tentador estar ali, muito fácil. E não que ela não tenha sido feliz ou que não tivesse amigos que poderia chamar de família no lugar onde havia estado nos últimos anos, pelo contrário, ela tinha tido a sorte de encontrar pessoas maravilhosas, com sorrisos calorosos apesar de suas dores. Alguém pra chamar de avó, alguns para chamar de amigos. E havia Jung, que era para ela como uma rocha na tempestade, um farol na escuridão, seu amigo tão querido que lhe cuidou quando mais precisou. 

 

Ainda assim, olhando nos olhos cor de âmbar de sua mestra querida, sabendo estar no território de sua vila natal, seu coração vacilava. Ela queria ficar, embora soubesse que não devia. Queria ter esperança de novo, queria ver sua filha crescer. De qualquer forma, devia a Tsunade uma explicação, devia a ela por tudo o que lhe ensinara, por tudo que representava em sua vida.

 

—Vou contar para a senhora, mas por favor - ela suplicou a Tsunade - não conte a mais ninguém. Ninguém deve saber que eu estou doente, principalmente Sarada.

 

—Não se preocupe.

 

E ela contou.



 

Dormir parecia impossível naquela noite.

 

Não que tivesse tendo ótimas noites de sono recentemente, andava ansioso para que Sakura acordasse, mas ter que esperar para vê-la novamente parecia uma tortura, queria poder tocá-la, sentir seu cheiro, atestar com cada um dos seus sentidos que ela estava ali, viva e a seu alcance.

 

Encarou o teto de seu apartamento, andou da sala a cozinha, fez flexões e até mesmo treinou o controle de chakra através da meditação, com total fracasso como resultado. Era impossível para ele se concentrar em qualquer coisa que não fosse as duas pessoas que dividiam o quarto do hospital de Konoha.

 

E foi pensando nisso que ele pulou de telhado em telhado, tendo apenas a lua alta no céu indicando o quão tarde era, como companhia rumo ao hospital de Konoha. Ele queria apenas ver suas garotas, poder estar no mesmo espaço que elas. Não importava se ele parecia desesperado, ele estava mesmo, desesperado por elas. 

 

Desde o dia em que pisou em Konoha e soube que Sakura estava morta, o moreno apenas vinha sobrevivendo, levando um dia após o outro, tentando ser alguém melhor para honrar a memória de Sakura. Claro que aquilo não havia acontecido da noite para o dia, lembrava dos primeiros meses deprimentes, mas com o passar dos anos ele se acostumou a mais aquela dor, e se empenhou em servir e proteger a vila pela qual seu irmão e sua amada deram a vida para proteger.

 

Seus pés tocaram o parapeito da janela sem emitir nenhum ruído, seu chakra estava oculto, ele tocou o vidro e o arrastou até poder se esgueirar para dentro do cômodo. Fechou a janela novamente silencioso como a morte. 

 

—Nunca perdeu esse costume Sasuke? - ele não pode negar o susto que tomou ao ouvir a voz e ser pego no flagra, apesar disso não demonstrou reação alguma.

 

—Deveria estar descansando - respondeu o moreno. Seus olhos foram capturados por ela assim que lhe encontraram. Ela estava sentada no sofá destinado aos acompanhantes, uma camisola verde bebê lhe cobria o corpo até acima dos joelhos, o cabelo muito curto emoldurando o rosto pálido, um sorriso amarelo em seus lábios. Sarada dormia na cama despreocupada. 

 

—Eu já dormi demais - ela respondeu ainda sentada, o sorriso havia abandonado seu rosto, ela parecia cansada, um vinco presente entre suas sobrancelhas como se sentisse dor, ele havia notado isso mais cedo também, mas parecia mais expressivo agora.

 

Sasuke se aproximou dela, parando no meio do caminho próximo a cama. Não tinha sido sua intenção encontrar com Sakura acordada, ele queria apenas olhar para ela dormindo, como costumava fazer quando estavam juntos, mas ali estava ela, e ali estava ele. Quase uma década havia se passado desde a última vez que trocaram palavras de verdade, ele tinha tantas perguntas, ele queria ouvir a voz dela, e ver seu sorriso, e queria saber…

 

—Porque você escondeu ela de mim? - Sasuke perguntou de repente, o objeto de sua pergunta ressonando suavemente - Você me odeia tanto assim? - Sua voz era baixa, desconsolada, triste.

 

—Eu não odeio você Sasuke - Sakura falou quase em um sussurro, a cabeça pendendo para o lado - eu não a escondi de você, apenas aconteceu assim.

 

—Eu abandonei você - seus olhos perscrutaram os dela, em busca do ódio que ele sempre temeu vindo dela - não vou culpá-la por me odiar.

 

—Eu não odeio você Sasuke - ela disse de novo, o sorriso voltou a brincar em seus lábios - Como eu poderia? Se não fosse você, eu não teria Sarada - seu olhar era sincero, e um mundo pareceu sair dos ombros do moreno - e sobre você ter me abandonado - por um momento Sasuke pensou ter visto a mágoa em seus olhos - você nunca me prometeu nada. E eu não vou dizer que não doeu, porque doeu muito, demais até. - sorriu sem humor - mas eu superei - um frio percorreu a espinha de Sasuke, ela havia superado o amor deles? O chão poderia muito bem ter sido arrancado de seus pés.

 

Seus olhos se encontraram e com um arrepio ele pode sentir aquele laço, ela ainda podia ler seus olhos, ele ainda podia ver seus sentimentos flutuando sob o sua íris cor de jade. Entendendo a pergunta silenciosa Sakura se levantou do sofá diminuindo a distância entre eles e voltou a falar - Eu não deixei de amar você - parecia óbvio para ela da forma que falava - Eu jamais deixei de amar você Sasuke, não sei se sou capaz - o sorriso sem humor voltou a se desenhar em seus lábios.

 

O coração do Uchiha se apertou diante das palavras dela, ela ainda o amava, o alívio foi como se ele pudesse voltar a respirar. Ele se aproximou mais dela, vendo a necessidade de pôr em palavras ser frustrada pelo sua dificuldade em se expressar. Mas ele devia, ele falaria o que ela quisesse ouvir, se ela pudesse voltar para ele, não importava.

 

—Eu fui um tolo ao deixar você - ela abaixou a cabeça diante da declaração dele, fugindo dos olhos audazes do Uchiha.

 

—Então por que deixou? - a voz dela era um sussurro. 

 

Como Sasuke poderia explicar? Ele mesmo não sabia que força havia arrancado ele dos braços dela. Como explicar que não a deixou por falta de amor mas por amar demais, pelo temor do futuro e do desconhecido - Eu tive medo - ele confessou. Ela voltou a encarar os olhos negros, se perdendo na imensidão escura de sua alma, compreendendo o medo que levou Sasuke a deixá-la, medo de ter o coração partido de novo. 

 

Suavemente ela levou a mão a face dele, em um carinho singelo, Sasuke não lutou contra a vontade de tombar a cabeça em direção a mão dela e fechar os olhos para sentia a pele quente sob a sua. Era inacreditável. As vezes ele mal podia se conter, a felicidade de tê-la ali era sufocante, inebriante. 

 

—Eu não culpo ou guardo mágoa de você Sasuke - sua voz doce acalentou os ouvidos do moreno - A vida nunca foi bondosa com você, e embora eu não tenha culpa disso, entendo sua reação - ela se afastou, e pareceu levar o calor do Uchiha junto. Ela se voltou para a filha, mergulhando em um silêncio cheio de significado, era notável o amor que preenchia os olhos de Sakura sempre que olhava para a menina, sua filha era abençoada com uma mãe amorosa - Infelizmente as circunstâncias acabaram separando vocês. Eu não vou esconder sua identidade dela, e não se preocupe, vamos dar um jeito de vocês se verem, mesmo depois que partirmos.

 

Ela havia novamente falado em ir embora? Como, se a pouco havia novamente declarado seu amor por ele novamente? Por que essa ideia fixa de partir como se ficar na vila fosse insuportável 

 

— Partir?

 

—Sim - ela disse se virando para ele novamente - Assim que possível nós vamos partir. 

 

—Por que? - ele perguntou totalmente confuso com a decisão dela.

 

—As coisas são mais complicadas do que parecem Sasuke, eu não posso ficar em Konoha - suspirou infeliz ao terminar de falar.

 

Completamente desesperado com a possibilidade de perdê-la de vista outra vez e de ficar longe de sua filha, que mesmo com pouco tempo de convivência já era a pessoa mais importante de sua vida junto a aquela em sua frente, Sasuke venceu a distância entre eles e agarrou Sakura pelos ombros assustando a rosada - Não! Não pode ir. - apesar da urgência, sua voz era baixa, rouca pelo desespero - Fique aqui, comigo. - não importava se ele estava implorando, não importava o seu maldito orgulho, não importava. Era mais forte que qualquer inibição era instinto de sobrevivência, por que ele sabia que não podia sobreviver sem elas, não mais.

 

A surpresa estampada nos olhos de Sakura era o indício de que ela jamais esperou aquilo dele. Ele estava pedindo para ela ficar mesmo ela tendo tantas vezes feito o mesmo pedido, ele sabia agora, ironicamente, como era a sensação, a iminência da possibilidade de ser deixado por aqueles que se ama. Como ela havia suportado ser deixada tantas vezes seguidas? 

 

Seu olhar suavizou e quando ela falou, sua voz era consoladora - Eu sinto muito Sasuke, mas eu não posso - tombou levemente sua cabeça para o lado, uma mania que ela tinha as vezes - Não estou fazendo isso como vingança, eu simplesmente não posso - sua mão alcançou o rosto de Sasuke outra vez - E além do mais - sorriu sem humor, o moreno reparou que isso parecia um novo hábito para ela - Eu já aceitei a muito tempo que nós dois - parou por um momento, como que buscando forças para falar - não era pra ser.

 

Ouvir aquelas palavras da boca dela foi como se alguém arrancasse seu coração apenas com as mãos. Ela que nunca desistiu dele, que mesmo quando tentou matá-lo sua intenção era lhe dar alguma paz, que junto a Naruto e Kakashi lutou para dar a ele a família que ele não quis aceitar, novamente por medo - Eu não entendo - sussurrou, ela estava tão próxima dele, podia sentir seu calor - você disse que ainda me ama, e sabe que eu… - as palavras se entalaram em sua garganta - você sabe o que eu sinto. Por que não pode ficar comigo? - a voz mal saia, Sakura só ouvia devido a proximidade em que estavam.

 

Ela suspirou, fechou os olhos completamente despedaçada, encostou a testa na dele que já tinha sua cabeça levemente abaixada para poder lhe olhar nos olhos, Sasuke fechou os olhos também. Senti-la alí tão próxima, pele com pele, a mão dela ainda na lateral de seu rosto, a respiração lhe tocando a face, a ponta dos narizes se tocando levemente. O mundo podia cair ao seu redor e ele não saberia.

 

—Eu queria que o amor bastasse - ela falou depois de um tempo - mas eu sei hoje que o amor não é suficiente Sasuke - ela se afastou um pouco e por reflexo Sasuke a puxou para mais perto, enterrando seu rosto na curva do pescoço dela. Sakura soltou o ar arfando, e abraçou o moreno, um braço ao redor da cintura dele, o outro perdido nos cabelos negros e sedosos - Entre nós falta confiança, respeito. Você nunca foi um porto seguro pra mim - Sasuke se agarrou mais a ela, se negando a largá-la, sentindo a dor da veracidade das palavras dela - não fomos feitos pra ficar juntos - as lágrimas se faziam presentes pela sua voz embargada - e isso dói demais em mim, dói demais, porque eu amo você tanto, tanto que estar longe dói. - ouviu ela fungar - Mas ficar com você, é pura incerteza, e eu não tenho mais tempo pra incerteza - com muito esforço ela se afastou, mas antes de aumentar a distância entre eles, Sakura se pôs na ponta dos pés, se aproveitando do fato de ele ainda estar curvado para ela e lhe beijou a testa. Os olhos dele se fecharam ao sentir a textura dos lábios dela, um beijo de um segundo que transmitia uma infinidade de sentimentos entre eles.

 

Quando ela se afastou completamente e voltou a olhá-lo nos olhos, a dor que ele sentia ecoava nos olhos dela. Aquilo doía para ela tanto quanto para ele, talvez até mais, Sasuke estava sem chão, não sabia nem mesmo o que fazer a seguir, apenas a encarou enquanto ela arrancava o último pedaço de seu coração.

 

—Sinto muito Sasuke, mas não há futuro para nós dois, nunca houve - ela sussurrou a ultima parte.

 


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Notas finais do capítulo

E aí me contem, o que acharam? Eu sofri nessa conversa entre o Sasuke e a Sakura. Sinceramente nunca imaginei a Sakura dando piti, com raiva e bancando a difícil pra cima do Sasuke, mas depois do que eles viveram nessa história e na situação que ela se encontra, as coisas mudaram de perspetiva. Ela está mais madura e precisa pensar na filha e no pouco tempo que resta pra ela.
Próximo capítulo teremos alguns esclarecimentos e a aparição de um personagem que vai ser vem importante daqui pra frente.
Até o próximo e por favor comentem.



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