Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 17
Agridoce


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos como estão?
Voltei como prometido logo após minhas provas.
Provavelmente vão haver erros, mas eu estou ansiosa para postar, então amanhã eu faço uma revisão melhor.
O título desse capítulo é muito apropriado.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786068/chapter/17

— Qual o sentido prático disso?

 

Sakura olhou para a carinha emburrada de Sarada, um biquinho e bochechas infladas, ela riu, sua filha era tão diferente dela. Aos sete anos tudo o que queria era se esgueirar pelos bosques para brincar com Ino, colher flores e fazer coisas de menina, como pintar as unhas. Talvez tenha sido a cor escolhida, mas sinceramente ela não podia ter muitas opções na pequena conveniência em que encontrou o box de esmaltes, um rosinha claro era mais do que podia querer. Não era sua cor favorita de esmalte, tinha que admitir, preferia o verde menta que tinha guardado em uma gaveta no fundo de seu armário, em Konoha.

 

Nunca mais veria aquele esmalte.

 

— Nenhum pra falar a verdade - Sakura segurou o pequeno pé e pincelou mais uma vez sobre as unhas recém limpas e aparadas da menina - Mas nem tudo precisa ter sentido prático Sarada-chan, algumas coisas fazemos só por diversão mesmo.

 

— Então por que estamos fazendo isso? Porque eu não estou achando divertido.

 

— Eu sei - a rosada elevou os olhos para o rosto entediado da filha mais uma vez e sorriu - Mas eu estou me divertindo.

 

— Isso é cruel mamãe - a moreninha desdenhou.

 

— Ora Sarada não seja rabugenta, você não pode negar esse tipo de experiência para uma mãe - Elas se encararam novamente, a luz do luar entrava pelas janelas da pequena cabana, o vento vindo da floresta chegava perfumado das mais diferentes fragrâncias escondidas na flora. Elas estavam acomodadas no assoalho de madeira, vestindo pijamas, uma bacia de água e palitos, os fuutons dobrados e dois potes de ramen instantâneo aguardando o fim da sessão de beleza - aproveite nossa última noite aqui, provavelmente vamos ficar em alguma pousada no país da terra sem todo esse espaço, vamos apenas falar bobagens e pintar as unhas e aproveitar o clima sim?

 

O país da grama era na maioria coberto por campos de grama em diferentes tamanhos, pradarias com gramas rasteiras ou longas relvas com flores em formas de espigas da cor da neve, mas no norte do país próximo ao País da Cachoeira onde estavam, uma floresta agradável e colorida surgia, carvalhos e freixos, salgueiros e glicínias, e a pequena cabana que Jung as colocou dessa vez era incrustada no meio disso tudo. Sakura não estava muito feliz com sua partida iminente no dia seguinte, o país da terra e seus planaltos e cânions rochosos e avermelhados além do frio irritante é claro, mas era necessário. 

 

Estavam ali a quase dois meses e  alguns dos espiões de Jung haviam captado movimentação estranha nas redondezas, três dias atrás ela recebeu a carta do ruivo informando que deviam se preparar. Ao amanhecer o cabeça de amora estaria ali para levá-las para um lugar seguro, mais uma viagem, mais inconstância na vida de Sarada.

 

— Quando vamos pra um lugar legal tipo o País do Fogo ou o País do Vento? - a moreninha mexeu na franja que caía sobre os óculos.

 

— Você não ia gostar do País do Vento, um deserto muito quente, areia entrando em todos os cantos, ventanias e um sol de rachar, e a noite faz um frio terrível - ela mudou de um pé para o outro, as unhas pequenas ganhando uma tonalidade muito próxima do rosa dos seus cabelos.

 

— Você já esteve lá mamãe?

 

Sakura notou a pontada de curiosidade na voz da filha, geralmente quando Sarada perguntava sobre seu passado ela dava respostas vazias e genéricas do tipo:

 

“onde estão meus avós mãe?”

 

“Na casa deles”

 

ou 

 

“Quem ensinou isso pra você mamãe?”

 

“Meu professor”

 

Dizer que isso irritava a menina era um eufemismo, ela sabia o básico, que Sakura cresceu em Konoha e que frequentou a academia no mesmo ano que o Nanadaime, algumas informaçõe sem importância e nada mais. Mas como era noite das garotas e Sakura estava particularmente bem humorada em pintar as unhas de Sarada de rosa, ela resolveu ceder.

 

— Muitas vezes, foi lá que fiz meu exame chunnin.

 

— Sério? - Sarada saiu de sua posição entediada e se inclinou para mais perto da mãe - Como foi?

 

— Foi quente e problemático, eu era a única do meu time na vila naquela época então fiz o exame com outro time que também estava desfalcado, mas eram amigos. Na verdade minha melhor amiga estava comigo, nós éramos muito competitivas e brigávamos muito - ela riu da lembrança do seu primeiro exame chuunin quando ela e Ino foram ao chão.

 

— Realmente, eu dificilmente gostaria parece ser pior que praia - Sakura sorriu com a lembrança da viagem a praia que Sarada detestara completamente, a menina tinha suas raízes muito profundas nas montanhas - Mas e o País do Fogo?

 

Sakura respirou profundamente e limpou o cantinho da unha que manchou de rosa - Você provavelmente gostaria de lá Floquinho. - ela fitou o teto, as telhas avermelhadas lhe lembravam as cores de sua terra natal no outono. Uma mão se fechou em seu coração com as lembranças - Há montanhas e vales cheios de grandes árvores, planícies perto da costa e praias lindas. No outono Konoha parece estar em chamas com os Bordos e os Acer mudando para o vermelho e então uma chuva de fogo quando as folhas se desprendem dos galhos, nessa época os genin fazem muitas missões de limpeza particulares, eu odiava. O inverno é frio e a neve cobre o chão, não como no País da Cachoeira onde parece um inferno gelado, o tipo de neve que faz os sonhos de brincar no gelo e com bolas de neve, e há muitas pessoas no hospital resfriadas e com pequenas fraturas por cair no gelo - Ela voltou os olhos para a janela e a paisagem lá fora, alguns vagalumes pousavam em uma Faia bem próxima da casa - Na primavera tudo fica colorido, os pessegueiros, ameixeiras e cerejeiras florescem um atrás do outro e tudo é branco e rosa e o ar tem cheiro doce, há sempre muitos casais nas praças e o Hanami é lindo, com kimonos coloridos e doces de feira. No verão é quente e o vento é fresco, os dias são ensolarados e divertidos e as noites são agradáveis, e me lembram de bons tempos - tempos com seu time.

 

— Por que deixou sua vila mamãe? - Sakura saiu de seu pequeno devaneio e olhou para a face curiosa da filha a sua frente, ela mordia levemente o lábio - A senhora obviamente sente falta mas nunca fala muito sobre seu tempo lá, parece evitar, não - ela balançou a cabeça - você evita falar, tanto quanto evita falar no meu pai. Foi por causa dele? Ele era alguém mau? - a última frase era nada além de um sussurro.

 

Devia ter ficado de boca fechada.

 

Ela respirou fundo mais uma vez se preparando para aquela conversa que tanto tentou evitar, pelo menos por enquanto, Sarada era tão jovem - O seu pai não era alguém mau, ele é um pouco confuso e fechado mas não uma má pessoa. 

 

— Então por que ele não ficou com a gente? - seus olhinhos brilharam curiosos e suplicantes.

 

— Ele não podia ficar - disse suavemente. Como iria explicar algo que nem mesmo ela entendia? Em um momento Sasuke lhe abraçava com carinho e no outro ele havia ido sem dizer adeus. Se ele lhe amava? Sim ela sentia isso, mas talvez não tenha sido o suficiente. Ela sentia muita raiva e mágoa dele no passado mas não mais, e certamente não queria que Sarada tivesse a imagem errada de Sasuke, ele não era má pessoa, apenas muito perdido  - Seu pai passou por muitas coisas durante a vida, e nem eu nem você temos culpa disso mas isso marcou ele. Ele não podia ficar comigo mas por que eu amava muito ele e ele também me amava, me deu o maior presente do mundo inteiro, você.

 

O lábio inferior de Sarada tremeu e logo uma lágrima rolou. Sakura gentilmente tirou os óculos da filha e limpou os olhinhos com os polegares - Então por que você deixou a vila se meu pai foi embora?

 

— Há muitos perigos em uma vila oculta, eu teria que estar sempre fora no hospital ou em missões e eu não queria ficar longe de você, então fui embora pra recomeçar, viver uma vida só nossa.

 

— Mas a Taverna não é tipo uma vila oculta também?

 

— Não mesmo, nós somos mais como um negócio de família.

 

— Mas você… aiiiiiiiiiiiiiiiiiii Mamãe! - Sakura sorriu com a reação da filha com o contato do algodão com removedor de esmalte e o pequeno machucado no canto da unha - isso é tortura!

 

— Não seja reclamona Sarada-chan, e preste bastante atenção você vai pintar as minhas quando as suas secarem.

 

— Isso é muito irritante!

 

— Kami-sama você é muito parecida com seu pai.

 

A reclamação morreu antes de Sarada soltá-la, ela riu no entanto - Graças a Kami então, mamãe às vezes você é tão infantil!

 

Sakura ficou boquiaberta, mais que pestinha - Infantil? Você é que é!

 

Sarada riu e as unhas ficaram todas borradas.



&

 

O nó dos dedos de Sakura se encontraram com a superfície lisa da madeira da porta do banheiro da sua casa - Sarada-chan me deixe entrar.

 

— Vai embora mamãe!

 

Ela segurou o riso o máximo que pode, levou a mão a boca para conter as gargalhadas, sabia que era errado sorrir da situação da filha, mas não podia evitar - Você não tem que ter vergonha se está com dor de barriga sabe? Sou sua mãe e médica também, é normal termos umas dores de barriga, principalmente quando criança.

 

— Mamãe! - ela gritou e Sakura engasgou com o riso - Boruto-baka! É tudo culpa dele!

 

— Você não precisava ter aceitado o desafio Sarada.

 

— O que?!! - ela gritou do outro lado da porta - Ele não pode se achar melhor do que eu, dizendo besteiras por ai!

 

Sakura rolou os olhos, perfeito. Se não bastasse ter passado anos vendo Naruto e Sasuke em pé de guerra competindo em uma coisa atrás da outra, agora tinha que aturar a nova geração de competidores idiotas. Claro, ela mesma era bem competitiva quando se tratava de Ino, mas isso não vinha ao caso.

 

Uma provocação e todos os bolos doces da loja próxima a academia depois, Sarada, e Boruto estavam a três dias com severas dores de barriga, embora segundo Naruto o menino já estivesse bem melhor. Estava realmente surpresa, Sarada detestava doces mas bastou isso se tornar uma competição pra ela comer todo o açúcar que recusou em todos os seus anos de vida em algumas horas. A falta de costume em comer doces certamente estava cobrando seu preço a Sarada, e mesmo que fosse algo realmente desconfortável, Sakura se sentia feliz pela filha ter amigos com quem aprontar esse tipo de brincadeira. 

 

Desde que havia acordado de seu coma a duas semanas, podia ver Sarada muito mais como uma criança do que ela jamais havia sido antes, e isso a deixava absolutamente feliz. Claro, havia recebido uma enorme bronca da filha depois de tudo, e por mais que não tenha revelado muito da real situação para ela - bem filha, eu estou morrendo - Sarada era esperta o suficiente para saber que não era algo simples, felizmente havia a academia para distraí-la desse tipo de coisa.

 

— Tudo bem então senhora marrenta - suspirou - eu vou para o hospital, nem pense em sair, Kito está fazendo sopa para você, não seja chata.

 

— Eu não estou certa se concordo com sua definição de chata mamãe, principalmente vindo de alguém que lê romances tão melosos.

 

O queixo da rosada caiu indignado com o comentário da filha. Sarada havia encontrado um baú repleto de livros bem vergonhosos - não do tipo que você está pensando - com romances no maior estilo clichê possível, escondido bem no fundo do seu armário enquanto ela estava no hospital, e havia usado aquilo contra ela a alguns dias. A moreninha parecia muito feliz em ver a mãe bem envergonhada.

 

— Você me paga por essa pequeno floco de neve - ela podia jurar que ouviu uma risada da menina antes de se virar e ir para a cozinha da casa.

 

Sakura olhou para onde Kito cortava toda a sorte de temperos, em sua mente confusa apenas alguns dias haviam se passado desde que quebrou a pedra que havia sido substituída do pequeno balcão, mas eram meses na verdade. Suspirou cansada, Shizuka estava bem acomodada no tatame da sala, rodeada por pergaminhos.

 

— Kito-nii pega leve na pimenta, Sarada ainda não tem estômago pra isso.

 

— Sim senpai! A pequena guerreira irá ter a melhor sopa, mesmo sem seu amado wasabi - ele sorriu vestido em seu avental e Sakura não pode deixar de devolver o sorriso.

 

— Obrigado grandão - Sakura caminhou até onde a anciã estava sentada e se serviu do chá que havia na pequena chaleira, não havia risco alí, nada além de chá de jasmim comprado na mercearia, bem longe do terrível chá verde que a mulher apreciava, para a felicidade da rosada - Shizuka-san não deixe aquela pestinha sair de casa por favor, volto logo.

 

— Claro meu bem, não tenha pressa - respondeu sem tirar os olhos do pergaminho.

 

Sakura lhe lançou um sorriso e andou para fora do apartamento. Tsunade não gostava que ela andasse sozinha, ou fizesse qualquer coisa na verdade, apenas depois de uma semana de insistência ela concordou em dar alta para a rosada desde que ela comparecesse religiosamente no hospital todos os dias, para monitoramento e também para estudarem juntas formas de tratamento. 

 

O ar refrescante do verão de Konoha beijou seu rosto trazendo fragrâncias carregadas de chá e terra, Sakura sorriu satisfeita, apesar da situação era absolutamente maravilhoso estar em Konoha outra vez. O centro da vila estava movimentado, era o meio da manhã e o comércio borbulhava, pessoas andando, conversas e gargalhadas e crianças correndo, vestida na camisa de mangas curtas estilo qipao e calças capri branca ela mesma parecia apenas pronta para fazer as compras do dia.

 

Fez seu caminho por entre as ruas até o hospital onde recebeu um doce sorriso da recepcionista já acostumada a sua presença. Sakura caminhou pelos corredores vendo médicos e enfermeiros no exercício da profissão que ela mesma tanto amava, e que tanto sentia falta. Entrou no escritório de sua mestra depois de duas batidas sem resposta apenas para encontrar a loira debruçada sobre a mesa, um jarro de saquê vazio meio caído a seu lado.

 

Sakura bufou para a cena e recolheu a prova do crime levando para a pequena copa próxima a porta, ela abriu as janelas inundando o espaço com a luz do sol. O quadro com as diversas anotações e hipóteses de tratamento estava fixado na parede atrás de pilhas de pergaminhos e livros em que estavam pesquisando.

 

— Bom dia shishou! - ela gritou

 

— Argh - Tsunade gemeu e levantou o rosto amassado de cima da mesa, Sakura sorriu ao ver a mancha de tinta da caneta impressa na testa da ex Hokage - já é de manhã?

 

— Tsunade-sama eu não acredito que passou a noite aqui? - ela andou até a cadeira que ocupou nos últimos dias.

 

— Já era muito tarde e como eu decidi beber fiquei por aqui mesmo - ela esfregou os olhos para afastar o sono.

 

— A senhora deve lembrar que apesar de parecer não é mais tão jovem shishou! Pare de beber até tarde sim?

 

— Você está me chamando de velha Sakura? - os olhos cor de mel se enfureceram e logo a rosada se lembrou que pior que o já arisco temperamento da loira, era o temperamento dela de ressaca.

 

— Claro que não shishou! - ela balançou as mãos e a cabeça em negação - apenas me preocupo que isso possa lhe deixar menos saudável.

 

Ela estreitou os olhos e por fim se levantou - Vou deixar essa passar mocinha, apenas me dê um minuto e estarei pronta.

 

— Sim senhora, não tenha pressa - a mais velha entrou pela porta de seu banheiro e Sakura completou - a idade realmente torna as pessoas mais rabugentas.

 

Um estalo de algo se quebrando vindo de dentro do banheiro fez a Haruno dar um pequeno pulo de sua cadeira. Ela esticou a mão para alcançar o pergaminho que Tsunade havia feito de travesseiro, o que era um sacrilégio pois era realmente antigo. O papel grosso e amarelado rachando nas extremidades, algumas manchas, inclusive uma recente de baba, percorriam toda a extensão do documento. Kanjis muito complexos e arcaicos haviam sido usados na escrita, o título  “Os caminhos do chakra” estava em vermelho a esquerda do documento.

 

— O que é isso shishou? - Sakura perguntou assim que a mais velha voltou a sala.

 

— Encontrei essa velharia no que sobrou da biblioteca particular do clã Senju a alguns dias, é uma cópia do primeiro pergaminho escrito sobre os canais de chakra. Foi realmente empolgante mas não encontrei nada de novo ai, era de se esperar afinal isso deve ter mais de cem anos.

 

— A senhora se importa de eu ler?

 

— Vá em frente, talvez você consiga ver algo que eu não pude - agitou as mãos e arrumou o cabelo - vou até a cantina, o que vai querer? 

 

Sakura sorriu ao notar que ela não havia perguntado se queria comer, apenas o que iria comer, ela não tinha muita escolha na verdade - Chá por favor.

 

Tsunade a encarou e suspirou - Vou trazer seu chá, e algo mais também.

 

Sakura apenas ouviu a porta bater e então mergulhou profundamente entre as palavras do pergaminho. Era algo completamente diferente do que estava acostumada, a escrita rebuscada e confusa dos kanji trazia um novo desafio na hora da leitura, um agradecimento ao curso de verão que havia feito sobre línguas antigas e todos os diários velhos de médicos que leu para praticar, nada como ser uma rata de biblioteca. Os ideogramas complexos formados pela união de diversos caracteres e com muitos traços eram difíceis de interpretar, as vezes o mesmo caractere repetido em diferentes quantidades podia ter significados completamente diferentes.

 

Alguns minutos depois Tsunade voltou trazendo o chá e gyoza para ambas. Ela fez a avaliação diária de Sakura e colheu sangue, checou pulso e temperatura enquanto a rosada não tirava os olhos do pergaminho. Eventualmente Tsunade saiu do escritório para uma ronda no hospital  mas a Haruno tinha toda a atenção voltada para sua leitura. Haviam os relatos sobre as primeiras pesquisas feitas sobre manipulação de chakra, os caminhos pelos quais eles fluem e seu extrutura, as descobertas feitas pelos primeiros médicos capazes de usar a técnica da palma mística. 

 

O sistema de canais de chakra está para o chakra assim como veias e artérias está para o sangue. Era incrível que com tão pouco conhecimento na época eles foram capazes de esclarecer tantas questões, como as células completamente únicas que formavam os canais, geradas e mantidas pelo fluxo constante da energia, capazes de regular a interação do chakra com o corpo, de controlar seu fluxo, e no entanto eram irreparáveis mesmo com as mais avançadas técnicas de cura.

 

Os experimentos rudimentares feitos com ninjas que ainda durante era dos estados combatentes, antes da criação das aldeias ocultas, haviam perdido sua capacidade de moldar chakra e eram submetidos aos mais loucos procedimentos, e as autópsias invasivas para o estudo do sistema que permite a circulação do chakra no corpo. Muitos haviam sido mutilados e sofrido arduamente nas pesquisas, o tipo de pesquisa que não era mais possível de se fazer, felizmente. Sakura havia lido estudos mais recentes que tentaram o crescimento e estimulação de células fora do corpo, mas era igualmente ineficiente.

 

Uma frase particularmente confusa lhe prendeu por muito tempo na conclusão do texto, a união dos caracteres de “nascer” e “curar” pareciam erradas dentro da sentença cuja melhor leitura que ela havia conseguido foi “apenas nascer é possível para os caminhos do chakra, a cura não pode ser feita”. Alguma coisa parecia errada na frase, a forma como havia sido escrita ou talvez sua leitura, havia sempre a dualidade da origem da palavra que podia deturpar sua interpretação. Sakura copiou o trecho e fez uma nota mental para passar na biblioteca em busca de um livro sobre Kanjis complexos e antigos. 

 

Quando a última linha havia sido lida, o sol estava começando sua descida para o oeste tingindo o céu de laranja. Ela se levantou e a gravidade exerceu muita força sobre seu corpo frágil e precisou se segurar na mesa para recuperar o equilíbrio. Sakura respirou profundamente de olhos fechados, esperando sua cabeça parar de girar e depois de alguns minutos conseguiu se pôr de pé sozinha.

 

Já estava muito tarde, precisava voltar para casa e ver como Sarada estava e ainda passar na biblioteca. Sakura guardou o papel dobrado no bolso da calça e andou vagarosamente para fora da sala, na saída ela pediu que a recepcionista avisasse Tsunade que havia ido para casa e com um sorriso suave se despediu.

 

Caminhou por um trajeto que muitas vezes fez durante a infância e adolescência até a biblioteca da vila. Os longos corredores formados pelas estantes altas recheadas de livros e pergaminhos que por muito tempo foi seu lugar favorito no mundo, Sakura passou a mão por uma ferida na madeira do batente da porta onde uma vez ela viu uma kunai ser cravada por um genin imprudente e sorriu, felizmente o prédio não havia sido afetado pelo ataque de Pain a vila. O balconista era um chuunin jovem com cabelos e olhos castanhos, ela não o reconheceu e ele a olhou com o desinteresse típico da idade.

 

— Olá! Eu preciso de ajuda para encontrar um livro, pergaminho ou dicionário sobre kanjis por favor.

 

Ele suspirou profundamente entediado e lhe lançou um olhar preguiçoso - Preciso do seu cartão da biblioteca, número de identificação ou o nome do titular do registro.

 

— Claro - ela riu sem graça - Eu não faço ideia de onde está meu cartão, mas pode procurar pelo nome por favor. Haruno, Sakura pode procurar nos mais antigos ou arquivados.

 

O balconista se voltou para os registos completamente desgostoso de ter que procurar entre registros antigos e depois de alguns minutos ele pescou uma pasta com a letra H e buscou por sua ficha - Seu cadastro está inativo, aqui diz que a senhora está - ele parou e franziu o cenho, então olhou mais uma vez para Sakura. Os olhos quase saíram das órbitas  - morta 

 

—  Bom, me conte uma novidade - brincou

 

— Oh kami-sama, você é Sakura Haruno, do time sete! - ele apontou para ela incrédulo.

 

— Sim sim, eu mesma e não estou morta - ela sorriu impaciente - veja eu preciso de um livro mas aparentemente não posso pegar um já que ainda estou morta para esse lugar, o que pode fazer por mim?



&



Duas horas depois Sakura andou alegremente para fora da biblioteca com uma porção de folhas rabiscadas com as pesquisas que fez nos vários volumes de livros e pergaminhos que o chuunin buscou para ela. Tinha que admitir que foi bem engraçado vê-lo ser tão prestativo, talvez ele tivesse medo de fantasmas.

 

O sol era agora apenas um filete de luz no horizonte, o céu profundo era púrpura e anil com pequenos cristais cintilantes de estrelas costurados no tecido cósmico, era lindo. Lanternas e luzes eram acesas em toda a vila por onde fez seu caminho, as árvores balançavam com a brisa fresca do fim de tarde no verão. Sakura dobrou e guardou suas anotações no bolso, comprou um palito de dango e mordeu a massa doce alegremente, havia sido um dia calmo e agradável e ela estava pronta para espremer Sarada em um abraço.

 

Quando entrou em casa Kito e Shizuka estavam sentados no tatame, um quadro de Shogi os separava e era visível que o homem estava perdendo. 

 

— Tadaima - disse tirando as pequenas sapatilhas pretas dos pés.

 

— Okaeri Sakura-chan! - responderam em uma voz.

 

Ela caminhou para a cozinha onde lavou as mãos - Como passaram o dia?

 

— Oh de forma muito agradável devo dizer - comentou Shizuka-sama enquanto fazia um movimento no jogo.

 

— Pratiquei katas com Sarada-chan, bem básicos e simples - Kito coçou a cabeça tentando entender a estratégia de sua oponente.

 

Sakura passou os olhos pela sala e cozinha, ambas bem organizadas e sem nenhum indício que uma criança de sete anos estava alí  - E onde ela está agora? 

 

— Sarada-chan está dormindo.

 

— A essa hora Shizuka-sama? - olhou o relógio e constatou que mal eram sete da noite.

 

— Ela ficou cansada depois da prática e foi para a cama logo depois de comer uma nova tigela de sopa. Não se preocupe senpai, ela estava melhor, e minha sopa vai fazê-la acordar pronta para brandir uma espada!

 

— Eu espero que não precise - Sakura andou até estar atrás dos ombros largos de Kito e espiou o jogo - Oh grandão, você já era.

 

Shizuka-sama riu cúmplice - Quando terminar aqui querida, por favor jogue comigo, tem sido entediante perder jogadas para prolongar o jogo.

 

Sakura gargalhou da expressão do homem que começou a discutir com a idosa - vou espiar Sarada.

 

Ela ainda ouvia a discussão quando entrou no quarto completamente escuro, Sarada estava deitada na cama vestindo uma camisa grande do armário da mãe. Sakura andou até a cama e a filha, ela respirava tranquilamente embalada em seu sono, a rosada afastou uma mecha de cabelo dos olhos e puxou seu braço da posição desconfortável em que havia adormecido. A menina resmungou em seu sono enquanto a mãe lhe cobria com uma colcha e depositou um beijo em sua testa.

 

Uma rajada de vento entrou pela porta encostada da varanda, Sakura caminhou silenciosamente até ela e alcançou a maçaneta metálica, um frio percorreu sua coluna, colocou a cabeça para fora e pode ver a noite estrelada que lançava sombras e luz para dentro de seu quarto. Ela fechou a porta e imediatamente sentiu um calafrio e os pelos da nuca se arrepiarem, Sakura paralisou, havia alguém no quarto.

 

No tempo de uma respiração a Haruno se virou para onde Sarada estava e por um momento seu coração parou quando ela viu a silhueta de um homem no escuro. E então como a onda de desespero, um mar de alívio se fez quando ela percebeu de quem se tratava, Sasuke se curvou para olhar para Sarada mais de perto e então lançou seu olhar de obsidiana para a mulher ainda assustada encostada a porta de vidro.

 

— Algum problema? - ele sussurrou

 

Sakura negou com um balançar de cabeça e andou para fora do quarto com o coração martelando em suas costelas. Sasuke lhe seguiu de perto e ainda no corredor segurou seu braço para que ela parasse de andar.

 

— Ela não melhorou?

 

— Kito-nii disse que sim, estive fora o dia inteiro no hospital - Ele apenas assentiu em resposta, e curiosa ela perguntou - Você entrou pela porta?

 

— Por onde mais?- educado para não perder o costume.

 

— Eu não ouvi - ela disse pensativa, não havia ouvido a porta ou qualquer cumprimento entre ele e os dois ocupantes da sala.

 

— Eu não seria um bom shinobi se tivesse me ouvido.

 

— É claro, o que mais se pode esperar de Sasuke Uchiha? 

 

Ele assentiu novamente não percebendo o sarcasmo da frase e encarou a rosada que franziu o cenho em confusão, ela encarou a mão que ainda segurava seu braço e depois olhou para ele novamente - Algum problema Sasuke?

 

O moreno engoliu em seco e bufou desconfortável - Naruto e Kakashi estão nos esperando no Ichiraku.

 

— Naruto fora do escritório? A essa hora? E Kakashi-sensei esperando? - ela inclinou a cabeça para trás e estreitou os olhos para o homem à sua frente - Sasuke tem certeza?

 

— Não seja irritante Sakura, eu estou aqui para buscá-la.

 

— Não seja rude, é apenas incomum tem que concordar comigo - ela cruzou os braços teimosamente e encarou a face serena dele - Você também não deveria estar fora da vila? 

 

Ele deveria na verdade, fazia dois dias que o moreno havia saído em uma missão qualquer e segundo Naruto não deveria voltar até a próxima semana. Ela não admitiria facilmente mas, tinha sentido a falta dele e não podia ser culpada por isso, Sasuke havia estado incomumente grudado nela desde que acordou, estava ficando mal acostumada.

 

Ele pigarreou e talvez tenha sido um delírio da parte dela pensar que enxergou um rubor em sua face - Voltei mais cedo.

 

— Ah, certo - ela mordeu o lábio e desviou o olhar dele - Então se estão nos esperando, deveríamos ir logo.

 

Ele assentiu em concordância e ambos seguiram para a sala onde a dupla de jogadores se encaravam silenciosamente. Sakura sorriu da cena - Sinto dizer Shizuka-sama que vai ter que jogar um pouco mais com Kito-nii.

 

A mais velha desviou o olhar do homem à sua frente para a dupla que lhes observava - Oh Sasuke-san, terá que me compensar por roubar minha parceira de jogo, da próxima vez deixe-me saber se é um bom jogador.

 

— De acordo - o moreno disse apenas e Sakura se surpreendeu com a facilidade com a qual ele cedeu.

 

Kito se virou para ela - Sakura-senpai não me desmoralize frente ao inimigo.

 

— Desculpe grandão, fico te devendo uma, trarei um bom saquê para nós - ela sorriu cúmplice diante da já reluzente face do homem.

 

— Será maravilhoso desfrutar do álcool com minha senpai.

 

— Ela não pode beber - Sasuke voltou a caminhar para a porta e lançou um olhar impaciente para Sakura - você vem?

 

Ela revirou os olhos diante da chatice dele e se despediu dos dois jogadores pedindo que vigiassem Sarada. Sasuke abriu a porta e esperou que ela saísse para fechá-la.

 

— Como assim eu não posso beber? - indagou enquanto andavam rumo ao restaurante de ramen.

 

— Não é bom para sua saúde.

 

— Bobagem, eu tenho estado doente a muito tempo e nunca deixei de beber saquê.

 

— Você continua doente não é? 

 

— Sim mas eu… ah! - ela se assustou quando o chão lhe faltou e de repente estava nos braços de Sasuke, um deles atrás de seus joelhos e o outro apoiando suas costas, seus rostos muito próximos - O que está fazendo Sasuke?

 

— Assim vamos mais rápido - havia um sorriso escondido no canto dos lábios dele quando o moreno começou sua marcha. Sem muita opção Sakura agarrou o colete dele e sentiu quando ele estreitou a distância ainda mais de forma que ela estava pressionada contra seu torso, o calor cálido dele chegando em ondas serenas a ela.

 

Sakura viu a paisagem passar ao seu redor com mais velocidade, mas não tanta assim, Sasuke não estava correndo, então sua pressa não era tamanha, ele estava se aproveitando. Seu coração retumbava contra as costelas e Sakura se viu como uma adolescente outra vez. Ela o havia abraçado depois da intensa conversa com ele, depois de ouvi-lo dizer coisas com as quais jamais sonhara nem em seus sonhos mais fantasiosos, e apesar de toda a sinceridade das palavras dele, sua aproximação estava sendo muito vagarosa.

 

Ele estava sendo cauteloso, e Sakura não podia ser mais grata por isso. Sasuke a amava, ela o amava, mas seu coração ainda estava muito machucado para que dessem passos muito grandes, e de forma adorável Sasuke vinha sendo apenas atencioso e cuidadoso com ela nas últimas duas semanas. Era como um flerte, como se eles fossem dois conhecidos com o desejo de algo mais, às vezes ele pagava a mão dela e se demorava em soltar, as vezes afastava uma mecha de cabelo de seus olhos fazendo questão de roçar a ponta dos dedos em sua bochecha, e às vezes ele lançava para ela aquele sorriso de canto, como um segredo entre eles quando ninguém estava olhando.

 

— Nós chegamos - sua voz era serena e rouca quando parou e a desceu de seu colo. 

 

Sakura quase protestou, desejou que o Ichiraku fosse mais longe, em Suna talvez. Ela firmou os pés no chão mas continuou agarrada ao colete de Sasuke até alcançar o equilíbrio - Obrigado.

 

A alguns metros deles a barraca de ramen mais famosa de Konoha se erguia. Sakura sorriu ao ver as costas do Hokage em seu característico traje laranja e do Hokage antes dele em seu colete jounin, ambos já sentados nas banquetas, as tiras de tecido onde as letras estavam pintadas em vermelho escondendo seus cabelos arrepiados.  Ela andou calmamente o pedaço de chão que faltava até eles com Sasuke a seu lado. Ele levantou o tecido para que ela sentasse ao lado do loiro e se sentou em seguida a sua esquerda.

 

— Sakura-chaaaaan!!! - o Hokage mais barulhento da história de Konoha lhe cumprimentou com um abraço lateral que ela não recusou como fazia quando eram mais jovens - Por que demoraram tanto? Esse teme idiota estava se aproveitando de você?

 

— Naruto! - ela gritou e lhe deu um cascudo.

 

— Itai Sakura-chan, tão cruel - ele esfregou o galo que crescia entre sua cabeleira loira.

 

— Olá Sakura-chan, como vai minha aluna preferida? - os olhos de Kakashi se esconderam no sorriso que ele lhe lançou por detrás da máscara.

 

— Sou sua única aluna sensei - ela disse devolvendo o sorriso.

 

— Isso não a faz menos querida.

 

— Sakura-chan! Que prazer em vê-la! - Teuchi se aproximou do outro lado do balcão, os cabelos quase completamente brancos e um sorriso doce no rosto enquanto entregava uma tigela de rámen para Naruto - Ayame-chan e eu ficamos muito felizes quando Naruto nos contou que você estava em Konoha, peça o que quiser e será por conta da casa, como um presente de boas vindas - a mulher atrás dele acenou.

 

— É muito gentil Teuchi-san, Ayame-chan, obrigado.

 

— Você é um esfomeado mesmo dobe, não esperou chegarmos para pedir - comentou Sasuke após pedir seu ramen com porção extra de tomate.

 

— A culpa é sua por demorar tanto, eu ia morrer de fome!

 

— Bom vamos meninos não briguem, não vamos querer que Sakura-chan se canse batendo em vocês.

 

— Obrigado Kakashi-sensei. Aliás posso saber qual a ocasião especial que não apenas tirou o Nanadaime hokage de seu escritório como fez o Rokudaime chegar cedo?

 

— Skra-chaaa! - reclamou Naruto com a boca cheia de macarrão.

 

— Ora Sakura-chan assim você me magoa, quem ouvir pode pensar que eu tenho o costume de me atrasar.

 

— Uma injustiça certamente - comentou Sasuke discretamente e Sakura não pode deixar de rir.

 

— Como seria preciso uma ocasião especial para ter um jantar com meus geninzinhos fofos - Teuchi chegou trazendo o pedido do grisalho que agradeceu prontamente - tirando o fato que nenhum de vocês é mais um genin, mas você continua fofa Sakura-chan.

 

Naruto e Sasuke resmungaram juntos, o primeiro ofendido por não ser mais considerado fofo e o outro por já ter sido considerado fofo - Então vamos aproveitar.

 

Os pedidos de Sasuke e Sakura chegaram juntos e ela se concentrou em desfrutar do seu rámen de frutos do mar, pescou um grande camarão e se deliciou com o sabor e a textura. Ela havia andado por muitos lugares em todos os anos que trabalhou como a médica da Taverna, desde que Sarada completou dois anos de idade ela perambulou por muitos países curando todo o tipo de cliente que recorria a organização, havia comido das mais diversas iguarias e todo o tipo de coisa que as diferentes culturas ofereciam, mas nada se comparava a aquela refeição.

 

Não era a mais saborosa e deliciosa, apesar de ser realmente muito boa, mas havia um tempero diferente que nenhum outro lugar tinha, sabor de casa. Muitos anos antes ela compartilhou daquela refeição com seus companheiros de equipe, mais com Naruto tinha que admitir, Sasuke se foi muito cedo e Kakashi-sensei costumava se perder no caminho. Havia um calor alí, um que não vinha da água fervendo em que o macarrão cozinhava, um calor humano, família.

 

Como de costume a conversa ficou muito mais concentrada em Sakura e Naruto com comentários ocasionais dos outros dois. Ela contou sobre os lugares que conheceu e o loiro sobre coisas de Hokage. Sasuke comentou uma coisa ou outra sobre os lugares que ela conheceu em que ele também havia estado, Kakashi opinou sobre a rotina de Naruto e quase sempre eles acabaram rindo das peripécias do loiro.

 

Inesperadamente, em dado momento Kakashi-sensei se tornou o centro da conversa.

 

Começou com um questionamento do loiro sobre como Sarada estava depois da competição.

 

— Eu estive o dia inteiro fora mas Kito-nii me garantiu que ela estava melhor quando foi dormir - respondeu Sakura.

 

— Dobe, mantenha sua cria longe da minha filha, desde que ela entrou na academia seu pequeno dobe tem tentado levar Sarada para o mal caminho.

 

— Mal caminho? Ora Sarada-chan é quem o provoca sempre! - retrucou o loiro.

 

— Ridículo, minha filha está muito acima disso - Sasuke agitou a mão com desdém.

 

— Naruto, tenho que concordar, Sarada-chan dificilmente é provocadora - Sasuke assentiu orgulhoso diante da réplica de Sakura, ela continuou no entando - embora eu tenha que admitir que ela herdou a arrogância e mania de superioridade do pai e isso facilmente pode ser interpretado como provocação.

 

Sasuke encarou Sakura indignado e como não podia ser diferente Naruto riu infinitamente

 

— Ora, realmente meus geninzinhos fofos cresceram, já estão falando sobre seus filhos - comentou Kakashi despretensiosamente, erro fatal.

 

— Falando nisso sensei - Sakura agarrou a deixa com unhas e dentes para saciar uma antiga curiosidade - Por que o senhor nunca se casou? Ou teve filhos? A essa altura eles já seriam mais velhos que os nossos.

 

Todos no recinto, incluindo Teuchi e Ayame, se voltaram para Hatake - Que virada de mesa não é mesmo?

 

— É verdade Kaka-sensei, por que nunca casou?

 

— Com certeza não foi por falta de pretendentes certo? - Sakura coçou o queixo e se deixou divagar - Mesmo com a máscara é óbvio que o senhor é bonito e charmoso, e se ignorar sua fachada de indiferença é bem atencioso também.

 

Ambos, Sasuke e Naruto fuzilaram Sakura, mas como de costume foi o loiro que tomou a palavra - Credo Sakura-chan, ele é nosso sensei.

 

A roseta arregalou os olhos e olhou para cada um dos homens do time sete, um intenso rubor lhe tingiu a face, orelhas e pescoço - Eu disse isso em voz alta? - perguntou em um fio de voz.

 

A risada suave do mais velho chamou a atenção dos três pupilos enquanto seu corpo tremia com os espasmos da diversão - Oh minha querida, disse sim e eu fico lisongeado. Se você tivesse nascido alguns anos mais cedo talvez eu não precisasse ser esse lobo solitário.

 

— Kakashi! - Naruto e Sasuke falaram ao mesmo tempo e o grisalho riu ainda mais.

 

Sakura passou de vermelha a roxa enquanto balançava a cabeça em negação.

 

— Kakashi-sensei isso foi errado! - Naruto colocou ambas as mãos nos ouvidos - Eu vou ter pesadelos, isso vai me traumatizar pro resto da vida!

 

— Nesse caso - o mascarado se levantou - Eu vou indo, ja ne! - e sumiu em uma nuvem de fumaça.

 

Ainda envergonhada Sakura se assustou com a saída repentina de seu sensei e esbarrou o cotovelo em uma kobati que rolou para o chão e se partiu em quatro pedaços - Oh! Teuchi-san eu sinto muito!

 

Ela pulou da banqueta e se ajoelhou para juntar os pedaços da porcelana - Deixe isso Sakura-chan, você vai se cortar. Eu apenas vou substituir a quebrada por uma nova.

 

Ela já tinha um dos pedaços na mão quando ouviu a frase de Teuchi e paralisou.

 

“Substituir o quebrado por um novo”

 

A frase ecoou em sua mente diversas vezes e Sakura se perguntou onde havia visto isso antes. Era quase como um deja-vu, uma sensação incômoda de tentar lembrar uma palavra que simplesmente não vem a mente, está na ponta da língua mas não sai.

 

— Sakura? - a voz de Sasuke soou em seu ouvido e ela o viu perto, agachado a seu lado com um dos pedaços na mão. A sua direita Naruto também segurava um, e o outro havia rolado para onde Kakashi havia sentado anteriormente.

 

Sakura riu - Parece que ganhamos um presente cada.

 

— Oh é verdade - Naruto esticou a mão para o caco que ainda estava no chão - quatro partes de um todo, vou dar esse ao Kakashi-sensei quando conseguir olhá-lo sem querer vomitar.

 

Mesmo Sasuke não conteve o sorriso diante da cena.

 

Eles se levantaram e Teuchi lhes garantiu que não havia problema, quando estavam prestes a sair e perceberam que muito sorrateiramente Kakashi havia saído sem responder o questionamento e sem pagar.

 

Sakura estava prestes a se desculpar quando Sasuke a puxou dizendo que seria uma cortesia do Hokage, Naruto gritou e eles logo estavam caminhando pra longe do restaurante.

 

Sakura gargalhou da ousadia de Sasuke que também estampava um sorriso no rosto. Dessa vez ele não a carregou no colo e vigiados pela lua alta no céu eles caminharam vagarosamente pelas ruas de Konoha, mãos dadas e braços muito próximos.

 

A mão que envolvia a sua era carinhosa enquanto ele roçava o polegar  pelos dedos dela. Sem perceber Sakura tombou a cabeça até encostar no ombro de Sasuke. Era como ela havia sonhado em sua adolescência apaixonada, onde ele iria buscá-la no fim do expediente do hospital e caminhariam pelas ruas da vila de mãos dadas como um verdadeiro casal, ou na velhice quando eles sairiam para longas caminhadas ao luar. Ela sorriu de seus próprio sonhos tolos e fechou os olhos confiando seu caminho a Sasuke.

 

Ela caminhou meio inconsciente, o cansaço lhe roubando forças. Em algum momento percebeu que estava novamente em seu colo, passou os braços pelo pescoço dele e embalada pelos momentos felizes com seu time e o calor reconfortante que emanava de Sasuke, Sakura se entregou a doce inconsciência muito satisfeita.

 

Ela sentiu quando os braços fortes foram substituídos pela maciez de sua cama e o calor de Sarada a seu lado. Ela sentiu quando ele estendeu a colcha sobre si e sentiu a textura macia dos lábios dele quando pressionaram o centro de sua testa e lhe desejou boa noite. A escuridão lhe abraçou e Sakura dormiu profundamente.

 

Ela sonhou naquela noite. Ela viu por detrás de seus olhos os kanji do pergaminho antigo de Tsunade e a voz de Teuchi ecoando “substituir o quebrado por um novo” diversas vezes. As palavras dançavam a seu redor ao som da frase, e em algum momento tudo se resumiu a duas sentenças:

 

“substituir o quebrado por um novo”

 

 “apenas nascer é possível para os caminhos do chakra, a cura não pode ser feita

 

E então foi como descobrir um grande segredo, a simplória resposta a uma complexa pergunta, como algo que se esconde a vista de todos.

 

Sakura abriu os olhos. A primeira coisa que viu foi o rosto de Sarada virado para si, tomada pela urgência ela levantou muito rapidamente e tropeçou no processo. A Haruno engatinhou para sua escrivaninha, a dor de seu dedinho sendo completamente ignorada, ela alcançou papel e caneta, trêmula por medo de ser tudo coisa de sua imaginação e transcreveu as duas frases.

 

Em seguida ela alcançou ainda em seu bolso os rabiscos de suas pesquisas de mais cedo na biblioteca e afastou a vontade de correr para o banho quando percebeu que dormiu sem ele. 

 

Quando o sol nasceu Sakura encarava a folha a sua frente, a frase agora devidamente interpretada fazia seu coração palpitar.

 

“Caminhos de chakra não podem ser curados, apenas criados”

 

Todas as pesquisas e todos os pergaminhos que leu, sempre diziam a mesma coisa: não é possível curar ou reparar canais de chakra. Mas em nenhum jamais havia dito que não era possível criar novos. Teria sido um erro de interpretação desde o primeiro pergaminho escrito sobre o assunto? Ninguém jamais tentara criar canais de chakra? Novos vasos sanguíneos eram criados sempre que havia o estímulo, seja para uma área lesionada, um novo tecido ou para a irrigação de um tumor, mas era feito.

 

Com o estímulo certo talvez fosse possível.

 

Uma lágrima escorreu por seu rosto, havia esperança para ela? Sakura quase se engasgou com o ar diante da possibilidade? Estava sendo precipitada? Talvez sim, provavelmente sim. No entanto havia algo, alguma coisa que enchia seu peito, um pressentimento de que aquilo realmente poderia ser feito.

 

Mais do que isso, ela queria que fosse possível.

 

Ainda trêmula Sakura se levantou, queria correr para o Hospital, correr para contar para Tsunade para que elas começassem a pesquisar, começassem a fazer testes e planejar, ela estava eufórica. A rosada respirou fundo e tentou se acalmar, ela tentou caminhar devagar até o banheiro e tentou mais ainda se convencer de que tudo podia ser apenas uma interpretação forçada enquanto a água caia em sua cabeça. Mas quanto mais Sakura pensava sobre isso mais parecia certo, curar e reparar eram coisas completamente diferentes de criar algo novo.

 

Podia ser feito? Não sabia, não tinha a menor ideia, mas era um ponto de partida, muito mais do que ela tivera em todos esses anos.

 

Sakura saiu elétrica do banho e se vestiu muito rapidamente, depositou um beijo na bochecha da ainda adormecida Sarada e correu para fora lançando apenas um bom dia e tchau para uma confusa Shizuka no meio de seu chá.



&



Ela não estava errada, pelo menos não havia nada que provasse isso.

 

Quando chegou ao escritório, mais uma vez Tsunade se debruçava sobre a mesa, mas dessa vez Sakura a acordou aos berros. Conforme a rosada expunha sua ideia a loira foi despertando, a curiosidade abrindo seus olhos.

 

Primeiro ela foi cética.

 

“Isso não pode ter passado despercebido por todos esses anos”

 

Mas conforme elas reviraram cada um dos livros e pergaminhos, mais tudo parecia correto. Havia sempre a mesma sentença: “canais de chakra não podem ser curados” e nunca havia nada sobre a criação de novos.

 

Então quando se deram por satisfeitas começaram com suas hipóteses.

 

— Provavelmente os canais não irão responder a um estímulo externo, o que significa que terá que ser feito com seu próprio chakra - começou Tsunade.

 

— Pensei sobre isso também. Além disso vamos precisar destruir os que ainda estão aqui.

 

— Sim sim - a loira andava de um lado para o outro - Vamos precisar de um ponto de partida também.

 

— Os canais do meu útero estão completamente preservados, eles foram protegidos quando usei o chakra pra proteger Sarada ainda no ventre - Sakura estava esfuziante.

 

A loira parou com olhos arregalados e a boca entreaberta - Por Kami Sakura! Os canais de chakra uterinos são germinativos, isso realmente pode dar certo!

 

No fim da manhã o quadro da parede estava recheado de hipóteses e testes que precisariam fazer. Seria uma pesquisa enorme, com muitos passos, mas o rosto das duas médicas era pura determinação temperada com esperança.

 

Podia dar certo, ela poderia viver, poderia ver Sarada crescer, poderia andar de mãos dadas com Sasuke por muitos anos.

 

Havia esperança.

 

Mas havia também a realidade. 

 

A porta se abriu violentamente.

 

— Sakura! - a rosada se virou para ver quem invadiu a sala a sua procura. Era Sasuke, seu cenho estava franzido, havia algo contorcendo sua expressão, dor e desespero.

 

— O que houve? - seu coração se apertou e uma mão se fechou em seu coração, sua voz mal era um sussurro.

 

— É Sarada, ela não acorda…

 

E a realidade tende a ser cruel.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Devo dizer que toda essa questão da cura está saindo da minha cabeça já que há muito pouco sobre isso no anime e mangá. Tsunade comenta na primeira vez que Naruto usa o rasenshuriken que canais de chacra não podem ser curados e não há muito mais sobre isso. Então fiz minha própria versão, me digam o que acham sim?
Eu disse, agridoce. Me contem ai nos comentário, me façam felizes e eu juro que não demoro.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os segredos de Sakura" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.