Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 10
Chá


Notas iniciais do capítulo

Me perdoe se você não curte capítulos grandes, temos aqui um pequeno monstro, mas eu precisava parar onde parei. Sem mais enrolação boa leitura e perdoem os eventuais erros ortográficos!



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Esticou o braço para fora da cobertura da varanda para alcançar um pequeno floco de neve que flutuava lindamente na altura de seus olhos.

O inverno no país da Cachoeira era ainda mais cruel do que o seu outono anormalmente frio. O outono havia sido substituído pelo inverno a menos de duas semanas e tudo já estava coberto de neve. As baixas temperaturas haviam assustado Sakura nos primeiros dias e ela se viu tremendo mesmo sob três camadas de roupas grossas e um cobertor nos ombros. Era engraçado que somado a sua barriga gigantesca de gestante de quase 39 semanas completas às camadas sobrepostas de roupas ela parecia uma bolinha. Kito havia rido dela e sua forma diminuta e redonda e mesmo Shizuka-sama não lhe poupou dos comentários cômicos, Jung estava se realizando. Se por culpa dos hormônios ou de seu temperamento intempestivo, Sakura havia reagido muito hostilmente a seus comentários, e na noite passada quando Kito a chamou de pequena montanha ao vê-la sentada sob cinco camadas concêntricas de edredons, ela não pode evitar o ímpeto de jogar uma cadeira nele, esbravejando aos sete ventos que ele tinha muita sorte de ela estar "muito grávida", caso o contrário ele não viveria para contar a história.

Era interessante a forma como em tão pouco tempo com eles, menos de três meses, os moradores da “Taverna”, como Jung gostava de nomear o restaurante que servia de fachada para a sede de sua pequena organização ninja, haviam se tornado muito próximos da rosada. Ela se lembrava pouco de como havia chegado ali depois de curar Jung, ficou pouco mais de três dias desacordada, a exaustão física e emocional cobrando seu preço. Quando tentou se despedir e agradecer pela ajuda Sakura foi categoricamente proibida não apenas pelo ruivo mas por outros moradores do lugar de se lançar no mundo sozinha, grávida e sem destino definido, dizer que havia se surpreendido era eufemismo. Sua gravidez havia sido questionada apenas uma vez, assim como sua "morte"...

" Você está fugindo do pai da criança? Por isso fingiu sua morte?"

"Não, mas eu não quero falar sobre isso, nem sobre o meu filho, nem sobre minha morte"

"Tudo bem"

Ela sabia que Jung e Shizuka-sama com certeza sabiam sobre sua identidade. Shizuka-sama era pelo que ela já havia observado, uma espécie de chefe de espionagem e inteligência, com seu sorriso faceiro e o ar dócil da velhice quase era isenta de suspeita, ela também tinha algum conhecimento médico e grande inclinação para venenos. Ainda assim, eles não pareciam representar uma ameaça a seu segredo, se fosse de verdade um alvo ou uma mercadoria para eles já não a teriam vendido?

Negou a proposta de ficar até se sentir melhor sabendo que aquilo não iria acontecer, não tinha a intenção de ser um fardo para ninguém nunca mais e por mais que hoje soubesse que todos ali tinham bom coração, na época ela mal os conhecia. Percebendo seu orgulho e reservas como fonte da negação Jung apenas lhe ofereceu um lugar na organização como médica, alegando também que se lhe quisessem algum mal ela já não estaria mais viva. Talvez tenha sido impulsivo da parte dela mas depois de pensar um pouco se viu aceitando, não tinha para onde ir e sabia que no estado que se encontrava era melhor ter pessoas perto do que se isolar. Sabia que muito daquela compaixão se devia a gratidão do ruivo por ela ter salvo sua vida, e pensando bem ela percebeu que seria muito conveniente, poderia ganhar dinheiro para viver confortavelmente com seu filho e ainda se manter no anonimato.

 A organização ninja que Jung liderava era uma das muitas que ela sabia existir no mundo shinobi, atuando como vilas ocultas oferecendo serviços ninja a aqueles que não podiam pedir auxílio a uma aldeia ninja, se por se tratar de um criminoso ou por prezar pelo anonimato ou quaisquer que fossem os motivos, muitos eram os que recorriam a aquele tipo de prestador de serviços sigilosos. E segundo o homem de olhos violetas sua organização não tinha interesse em missões que pudessem lhes comprometer com a aliança shinobi, assassinatos, roubos, sequestros e quaisquer serviços escusos estavam fora de sua lista de possibilidades, portanto seu já muito eficiente serviço teria uma adição significativa com uma ninja médica do porte dela.

Porém, se ela havia aceitado muito rapidamente a proposta, suas condições certamente lhe tornara difícil. Ela não iria trabalhar com nukenin criminosos ou quaisquer ninjas ativos que atentassem contra a aliança ou Konoha direta ou indiretamente, afinal não teria tido tanto trabalho para preservar sua aldeia para ajudar a perturba-la depois. Sua identidade deveria ser completamente desconhecida por aqueles que contratassem seus serviços, quando fosse realizar o trabalho iria disfarçada e sob um nome falso. Se fosse possível, pelo menos no primeiro ano quando seu filho não poderia se deslocar e ela de forma alguma deixaria ele para trás, os contratantes deveriam vir a ela em um lugar específico para receberem o tratamento. Ela não poderia curar ninguém usando ninjutsu enquanto a gestação não chegasse ao fim. Esses e outros dos termos que ela arrogantemente enumerou para Jung e para sua surpresa ele aceitou sem discordar, preparou um quarto na grande casa que abrigava os demais ninjas que viviam na sede da organização e um consultório para ela em uma das salas da Taverna.

Agora, quase três meses depois ela estava aninhada em três camadas de roupa em um banquinho na varanda da sede, uma xícara de chá fumegante na mão. Ela não trabalharia hoje, Jung havia fechado seu consultório no momento que ela completou o oitavo mês. Ele sabia que ela estava muito mais frágil do que seria comum a uma mulher grávida mas não perguntava muito e ela ainda não havia pensado como as coisas iriam ser depois do parto. Shizuka-sama sempre olhava por sua saúde, lhe preparando chás e com a ajuda de Kito fazendo ela comer mais do que necessário. 

Uma nuvem branca se formou quando ela inspirou e expirou profundamente, o vento chicoteou seus cabelos e ela se encolheu. Apesar do frio, o ar puro que vinha da montanha era muito reconfortante, ela passou os braços protetoramente sobre o ventre inchado, acariciando a barriga. Era incrível a forma como ela amava aquela criatura que crescia lentamente dentro de seu corpo, nunca imaginou ser capaz  de amar alguém mais do que amava Sasuke mas ela estava absolutamente errada. No momento que soube que estava grávida seu coração bateu tão forte e retumbante, primeiro com a surpresa, depois com tanto amor que não lhe cabia no peito. Sakura jamais havia pensado em filhos em sua juventude e adolescência, seu instinto maternal aflorou mais fortemente quando passou a cuidar de suas crianças no hospital infantil, e pela primeira vez ela desejou que um dia fosse capaz de ser mãe. Certamente não eram as circunstâncias apropriadas mas ela estava completamente e irrevogavelmente feliz com o bebê que estava prestes a nascer, era por ele que ela levantava todas as manhãs, e por que comia toda a comida que Kito lhe oferecia, e por ele não se entregou a loucura naqueles primeiros dias de dor torturante, por seu bebê ela poderia suportar qualquer coisa.

—Mamãe ama você - sussurrou para seu filho sob a pele da barriga. Era tão estranho que mesmo antes de ele nascer ela já sentia saudade, estava louca para conhecer seu filho, não via a hora de ver seus olhinhos e sentir a pele fina como papel, mesmo seu choro era algo que mal podia esperar para ouvir. Ela tremeu com o calafrio que subiu pela espinha, havia um frio estranho se acumulando nela.

—Ela sabe disso - a voz grave de Jung alcançou seus ouvidos pouco antes de ela sentir o peso do cobertor sobre seus ombros. Ele sempre estava falando para ela se aquecer e ficar dentro da casa. O homem vestia um mísero casaco e calças, um sorriso maroto brincava em seus lábios e ele se sentou a seu lado no banco da varanda.

—Você sempre fala “ela”, “dela”, “para ela” como se tivesse certeza de que será uma menina - o ruivo esticou o sorriso. Sakura suspeitava que seria um menino, ela só podia rezar para que se fosse realmente não tivesse puxado seus cabelos cor de rosa, seria traumático para ele, mas Jung sempre dizia que seria uma menina. Não que ela não gostasse da ideia, ter uma menininha para brincar de boneca seria encantador, mas o mundo não era particularmente gentil com as mulheres.

—É uma menina - ele falou simplesmente como se dissesse que a neve era branca- e ela terá seus olhos - Oh, ela certamente rezava para que sim, menino ou menina ela queria definitivamente que seu bebê não tivesse herdado a Kekkei Genkai do pai.

Rindo divertida com o comentário dele Sakura decidiu provocar - Será um menino, e eu espero que seja esperto como eu - se gabou aumentando o sorriso lateral que deu a ele.

—Será menina - ele reiterou lívido.

—Será menino - ela retrucou 

—Façamos assim - Sakura nem mesmo viu quando Shizuka-sama entrou na varanda, e logo localizou o sorriso mal intencionado que ela carregava nas feições envelhecidas - Vamos fazer uma aposta. Se for menino, Sakura-chan escolherá o nome e Jung terá que repassar todo o pagamento dos serviço por ela prestados, sem nenhum desconto - a expressão contrariada de Jung quase fez a rosada rir - Mas, se for menina, Jung escolherá o nome e diminuirá a porcentagem de desconto do repasse a Sakura-chan em honra a sua afilhada.

—O que eu ganho com isso?- o homem perguntou já se levantando do banco e encarando a figura diminuta da mulher. Sakura não pode deixar de rir, era interessante, não que ela estivesse reclamando sobre o valor que recebia da organização, certamente o desconto era muito menor do que o de Konoha, e quando ela pudesse viajar e voltar a usar ninjutsu médico os valores seriam ainda maiores, isso é claro se ela permanecesse com eles.

—Ora, além da oportunidade de nomear a criança e ter a honra de ser seu padrinho, você ganharia a aposta e provaria estar certo - O argumento pareceu não convencer o ruivo que bufou para a anciã.

—E que disse que eu vou querer que o amorinha nomeie minha filha? 

—Ah então você reconhece que eu estou certo - ele rapidamente se virou para ela com as mãos na cintura e pose arrogante.

—Claro que não, será menino, mas ainda existe uma chance em duas de ser menina - ela cruzou os braços e debochou.

—Eu aceito - ele se virou para Shizuka, completamente indignado, ele tinha pavio curto como um fósforo. A mulher riu e olhou para Sakura que pela expressão demonstrava que não tinha nenhuma intenção de aceitar a aposta.

—Você não está com medo de perder não é Haruno? - ela sentiu um comichão, ela odiava perder assim como sua mestra.

—Claro que não - se indignou.

—Então apenas aceite já que tem tanta certeza - era uma armadilha para ela, ele a estava provocando, e ela simplesmente não pode deixar de cair.

Estendeu a mão, determinação brilhando em seus olhos verdes - Aceito - ela vociferou, ele apertou a mão dela selando o acordo.

—Sabe o que é melhor? - Shizuka-sama disse rindo enquanto se aproximava - não vamos ter que esperar muito para descobrir -  apontou para Sakura que ainda estava sentada.

Assim como Jung, Sakura olhou para si e demorou um pouco a perceber a pequena mancha no banco que crescia ainda mais - Oh - então era por isso que sentia tanto frio alí em baixo.

Apenas alguns segundos depois a realidade daquilo lhe atingiu - Oh Kami-sama - exclamou levando a mão ao ventre.

No segundo seguinte o ruivo estava a seu lado passando o braço por suas costas - Oh pelo sábio! Shizuka o que faremos? - Ele olhou assustado para a mais velha que apenas sorria com a reação deles.

—Carregue ela para dentro enquanto eu chamo as meninas para me ajudar - ela viu ele se inclinar sobre Sakura e parar quase instantaneamente quando ela apertou o braço dele, um gemido escapou dos lábios de ambos, o olhar violáceo assustado para a rosada que franzia o rosto. - Oh ela já está tendo contrações! Não fique tão assustado menino, vá logo - disse e sumiu das vistas deles.

A dor que Sakura de repente sentiu era sufocante, mas diferente daquela com a qual já havia se acostumado a viver. Ela encarou o ruivo nos olhos e soltou o ar em meio a um sorriso feliz, seu bebê estava vindo. O homem pareceu retomar a confiança e lhe devolveu o sorriso, Sakura sentiu as mãos deles se encaixarem da parte de trás dos joelhos e em suas costas, ele a levantou com muito mais facilidade do que deveria ser carregar uma grávida de trinta e oito semanas. Outra contração veio lhe roubando a razão no corredor da casa, ela fechou os olhos e agarrou o ombro dele ouvindo o gemido de dor vindo do ruivo.

—Desculpe - se esforçou para dizer assim que a dor passou.

Ainda de olhos fechados devido a tontura, Sakura sentiu as costas repousarem na superfície macia de seu colchão, viu vagamente Jung acender a lareira de ferro no canto da parede, Karou-san entrou exasperada no quarto e foi logo lhe despindo das camadas extras de roupa parando no qipao que ela usava por baixo que era longo como os que ela usava na academia, sentiu as calças sumirem e logo em seguida um cobertor ser depositado sobre ela. O suor escorria por sua testa e algum tempo depois o quarto parecia cheio com três mulheres falando, Karou-san, Shizuka-sama e Yame-san, além de Jung que não havia saído de seu lado, ela quase podia ver Kito parado na porta.

—Jung, deixe-nos, ela precisa começar a colocar a criança pra fora - Shizuka-sama mantinha a voz firme e profissional de quem já havia feito aquilo tantas vezes, e ela não duvidava que já tivesse. 

—Eu vou ficar - o tom de sua voz não deixou espaço para questionamentos, ele pegou a mão de Sakura e olhou nos olhos dela - Quero ver sua cara quando descobrir que eu venci a aposta - o sorriso terno que ele lhe deu aqueceu seu coração. 

Sakura sentiu o suor escorrer de sua testa ela sufocou um grito quando a contratação veio forte e arrebatadora, o intervalo estava diminuindo entre elas e agora tudo o que ela sentia era dor e o instinto de forçar o bebê para fora. 

—Agora Sakura, respire fundo - a senhora colocou a cabeça entre as pernas dela - Você está quase lá - ela mal terminou de falar e Sakura grunhiu com a força da contração - Você tem dilatação suficiente, agora respire e empurre com força! - ordenou Shizuka-sama.

Obedecendo a ordem da mais velha a Haruno inspirou e expirou e quando a dor da contração veio ela empurrou com força. O rosnado que ela deu era uma mistura de dor e agonia e esforço, ela sentiu o corpo tremer mas continuou. Shizuka-sama continuou a incentivar e cada vez que ela forçava parecia que ia se partir, não tinha mais energia, tudo doía, ela se sentia tão fraca e cansada, mas ela queria ver seu bebê. Então ela forçou mais, além do que podia, o tempo parecia se arrastar e ela sentia como se já estivesse ali a horas, forçou mais e viu tudo girar, sentindo a dor de ser rasgada ao meio.

—Só mais uma vez querida - Karou-san olhou do espaço entre suas pernas para ela, um sorriso doce em sua face.

Ela sentiu a mão de Jung lhe afagar o ombro, em algum momento ele passou o braço atrás dos ombros dela lhe apoiando enquanto forçava a criança para fora, sua mão ainda estava entrelaçada na dela. Sakura poderia rir se não estivesse na situação em trabalho de parto, ele alinhou sua respiração á dela e cada vez que ela fazia força e rosnava ele a imitava gentilmente.

—Shanarooo! - ela rosnou enquanto colocava cada impulso e toda a força que lhe restava em empurrar seu bebê para a vida, por um momento tudo foi silêncio e ela quase podia ouvir sua dor, um zumbido agudo em seus ouvidos "eu vou morrer agora". E então ela ouviu algo acima disso. O choro que explodiu da garganta poderosa do bebê que chegava ao mundo lhe trazendo de volta, e ela se agarrou a aquele som estridente e vital como sua tábua de salvação. Sakura enxergou por entre as lágrimas o pequeno ser humano que Shizuka-sama tinha berrando em suas mãos, a pele avermelhada com o sangue, ela pode notar tufos pretos de cabelo na cabecinha, as lágrimas caiam violentas por seu rosto, não mais pela dor, ela nem lembrava da dor, seu bebê estava ali com ela, respirando o mesmo ar com seus pulmões poderosos. 

—Parabéns mamãe - ouviu Jung sussurrar em seu ombro.

—É uma linda menina Sakura-chan - a anciã anunciou com a voz envolta em risos, embrulhou o pequeno ser e caminhou até mais próximo de Sakura colocando a menininha em seus braços frágeis. 

—Oh Kami-sama, você é linda - ela mal conseguia entender as próprias palavras entre as lágrimas e os sorrisos. Sua filha era a criatura mais perfeita que ela já tinha visto, o narizinho pequeno e arrebitado, os pequenos lábios chorosos, os olhinhos negros como a noite - Eu te amo tanto meu bebê - a criança pareceu finalmente se acalmar e diminuir seu choro ao ouvir a voz da mãe, os olhos ligeiros encontraram os orbes verdes e ela parou de chorar. Sakura mal podia se conter em si mesma, seu peito parecia explodir, ela já amava sua filha incondicionalmente antes mesmo de seu nascimento, mas agora com ela em seus braços a palavra amor parecia ganhar um novo significado. Ela queria abraçar e trazer aquele pequeno embrulho o mais próximo de si, queria protegê-la e fazê-la feliz, queria tanto que ela fosse feliz…

—Eu ganhei então... - lágrimas mal contidas embalavam a voz do ruivo a suas costas quando ele falou, sua mão se esticou para o bebê e ele tocou o narizinho dela, ganhando uma careta da pequena - Bem vinda Sarada.



 

&


 

A noite em Konoha era de fato bonita, as lanternas de papel apareciam ocasionalmente nos postes, as flores silvestres e as plantadas nos jardins e canteiros floresciam com primavera em seu início cálido, despejando os mais suaves aromas pelas ruas da vila oculta da folha. As ruas repletas de jovens desenfreados correndo ao encontro de aventuras ou de romance, com adultos que lentamente se preparavam para fechar seus comércios.

A vila havia sido lindamente reconstruída depois do ataque de Pain e da guerra, e agora florescia no coração do país do fogo, jorrando vida e esperança. Os prédios charmosos e antigos que haviam sobrevivido às calamidades eram pontos de encontro vintage, e os novos e modernos prédios de apartamentos abrigavam diferentes gerações de ninjas e suas famílias. De sua sacada, Sakura podia ver o centro fervilhante da vila e da janela de sua cozinha a vista era para o grandioso monumento dos Kage. Era estranho estar ali outra vez, por anos sentiu falta de seu pequeno apartamento, quente e aconchegante, mas nunca imaginou voltar alí, na verdade não imaginava que ele havia sido conservado tão perfeitamente. Tudo permanecia no lugar, nem uma ligeira camada de poeira cobria seus livros e pertences mais intocados, o lugar não parecia abandonado, mesmo suas flores na varanda de seu quarto continuavam vivas, agora enormes e caindo em cascata por entre as grades como uma chuva colorida.

Quando escolheu aquele apartamento em particular, bem localizado e charmoso, Sakura havia se encantado pelo terraço onde queria cultivar uma lindo jardim e herbário, isso e o leve ar boêmio que o lugar tinha em geral haviam lhe convencido a abrir mão de sua gorda poupança para comprar um lugar para chamar de seu, um lugar novo onde poderia cultivar lembranças e começar uma nova história como a mulher adulta e independente que ela havia se tornado. Os dois quartos lhe davam a liberdade de receber visita assim como a sala espaçosa ligada a cozinha pequena. Ela tinha mobiliado tudo ao estilo tradicional, almofadas e esteiras em cima de um tablado a cerca de trinta centímetros do chão ao invés de sofá e uma mesa baixa rodeada de almofadas para as refeições. Nas paredes, estantes com livros e pergaminhos medicinais, caligrafias e pinturas em aquarela de gueixas e coretos decoravam o local, um lindo leque quase tão grande quanto o de Temari estava disposto sozinho em uma de suas paredes, o vermelho e dourado saltando lindamente aos olhos. Sua cozinha havia recebido um tratamento mais moderno sem abandonar o estilo tradicional que ela tanto apreciava, a madeira crua envernizada dos armários e a pedra de seu balcão sendo o ponto principal de seu charme. Ela andou por seu quarto avaliando o cômodo quase intocado. Ela havia dispensado o fuuton e comprado uma cama para seu merecido descanso, uma poltrona que ela costumava usar para leituras leves e o armário eram outros móveis presentes. Abriu o móvel onde guardava suas roupas encontrando todas devidamente dobradas e surpreendentemente cheirando a sabão como se tivessem sido lavadas recentemente. 

Passou os dedos sobre os tecidos, a textura pinicando em sua pele, distraidamente ela separou um conjunto de shorts e camisa buscando alguma roupa íntima e não mais surpresa encontrando todas igualmente limpas. Ouviu a movimentação na cozinha e resolveu tomar um banho antes de Sasuke chegar com Sarada, ele havia se oferecido para buscar ela na casa de Naruto onde ela havia passado o dia. 

Quando saiu do hospital naquela manhã Tsunade havia pedido que uma das enfermeiras levasse Sarada para a casa de Naruto quando a moreninha acordasse, muito a contra gosto ela havia passado o dia presa no escritório do Hokage respondendo perguntas e junto a seus companheiros relatando sobre seu rapto para que Naruto e Shikamaru pudessem formular a melhor estratégia de ação, estava se corroendo de saudade de sua menina e depois do loiro liberá-la já junto ao crepúsculo ela simplesmente não tinha para onde ir já que não tinha intenção de voltar ao hospital, e agora estava alí em seu apartamento com Jung, Kito e Shizuka-sama. 

Ela não havia ainda tido tempo de pensar em onde iria ficar com Sarada no tempo que precisasse ficar ali em Konoha, até esta manhã ela nem considerava permanecer na vila mas agora tudo era tão confuso. Não podia negar que estava ansiosa e excitada com a possibilidade de se livrar da sombra de Yoshiro, mas não podia se iludir de que as coisas seriam tão simples, por enquanto iria apenas ficar ali. Tinha sido Sasuke a sugerir o apartamento dela como se o lugar estivesse apenas esperando por ela, e a Haruno se surpreendeu por ele ainda estar vago e guardando as coisas dela, mesmo que o imóvel fosse dela imaginou que já havia sido incorporado pela vila ou mesmo entregue a sua mãe, suspirou lembrando dela, a quatro anos havia recebido a notícia por um dos espiões de Shizuka que sua mãe havia falecido, vítima de uma pneumonia, foram dias sombrios aqueles. Mas quando chegou ali e viu a ordem e limpeza em que se encontrava só pode presumir que alguém o havia preparado para ela e felizmente apesar de pequeno, o lugar era suficiente para abrigar os visitantes surpresa.

Era reconfortante ouvir o riso estridente de Kito e as palavras mansas de Shizuka-sama, e ainda mais a familiaridade de Jung. Tudo era tão bom que ela tinha medo de acordar a qualquer momento e descobrir que era um sonho depois do pesadelo que havia passado nas últimas semanas, mas ela não queria pensar nisso e afastou esses pensamentos para o fundo de sua mente. Entrou no banheiro de seu quarto e quando sentiu a água cair em sua cabeça suspirou aliviada, nem se lembrava do último banho que havia tomado entre sua estadia forçada com Yoshiro e seu tempo internada no hospital. Deixou os músculos relaxarem e sentiu as dores torturantes com que já convivia a oito anos serem captadas pelo seu cérebro devido o relaxamento e gemeu, ela não queria pensar agora. Já limpa e mais relaxada ela vestiu as roupas que havia separado, o shorts preto mesmo que não fosse colado estava mais folgado do que deveria assim como a camisa vermelha. Ela havia perdido peso é claro, mas estava melhor do que já esteve certa vez em que ela era quase pele e osso logo após o nascimento de Sarada. Sentou na beira da cama e passou a mão por seu curto cabelo, tão curto que as pontas roçavam o lóbulo de sua orelha, a água escorria por seus dedos, ela estava cansada, e sentia dor, só queria dormir, mas queria Sarada, colocar ela em seus braços e dormir abraçada a sua filha.

—Você sente dor - as palavras de Jung não eram de forma alguma uma pergunta, ela olhou na direção em que sua voz vinha, ele estava encostado no batente de sua porta, braços cruzados, cenho franzido - deveria ir descansar.

—Assim que Sarada chegar - ela respondeu apenas e fechou os olhos.

—Precisa comer alguma coisa, não vi você tocar em nada o dia todo - ela ouviu os passos dele e sentiu a cama afundar a seu lado, ele tocou sua testa medindo sua temperatura e depois tirou as mãos dela dos cabelos úmidos e envolveu os pequenos dedos em suas grandes mãos, ela nem havia percebido o frio que sentia até ele lhe dar seu calor - não descuide de sua saúde - a voz dele era tomada de uma preocupação suplicante.

Tomada pelo cansaço e querendo apenas sentir o calor aconchegante dele, Sakura deitou a cabeça no ombro do ruivo, sentiu ele passar a mão por suas costas e trazê-la para mais perto, a quentura aconchegante dele a fazia querer dormir ali mesmo - eu não vou - sussurrou fracamente - só preciso descansar. 

Por alguns momentos eles ficaram apenas ali quietos apenas ouvindo a movimentação dos outros dois na cozinha, Kito havia assumido a responsabilidade de cozinhar com as compras que ele fez no caminho para o apartamento - os vendedores das barraquinhas do centro da vila ficaram realmente satisfeitos ao ver o grande homem levar grande parte de suas mercadorias pouco antes de fecharem as vendas do dia - quem visse o grande homem jamais poderia imaginar seu coração bondoso e o quanto ele era uma dona de casa dedicada, era muito divertido vê-lo cozinhando sob o escrutínio de Shizuka, os dois eram como gato e rato e eram inseparáveis - Você decidiu ficar mesmo? - as palavras brandas de Jung tiraram Sakura de seus pensamentos.

Ainda com a cabeça apoiada no ombro ela respondeu - Não sei - a voz saiu em um tom tão baixo que se o ruivo não estivesse perto não teria escutado - Vou ficar até Naruto conseguir resolver minha situação. Vai ser bom não ter que me esconder tanto e vai ser bom para Sarada.

—Talvez você devesse ficar - a voz dele era serena e distante.

Sakura sorriu e comentou divertida -Você não vê a hora de se livrar de mim né? 

Ela sentiu as mãos dele em seus ombros lhe afastando e colocando-a de frente para ele, um vinco marcava o meio de suas sobrancelhas - Não diga isso, você sabe que tudo o que eu queria era ter vocês duas sempre comigo.

—Eu sei Jung, foi um comentário bobo - a Haruno tombou a cabeça para o lado e sorriu amarelo.

—É só que… - ele parou no meio da frase, suspirando e parecendo derrotado - Se ficar, talvez você possa se tratar, o hospital e a Godaime estarão lá para você.

—Ah, é isso - Sakura se remexeu e trouxe as pernas para cima da cama, abraçando os joelhos e pousando o queixo no topo deles - A shishou já sabe, e ela me fez prometer que ia tentar - o ruivo continuou olhando direto nos olhos verdes e cansados, seu semblante se enchendo de esperança, e isso doía no peito da kunoichi - Não se iluda, você sabe que só um milagre pode me salvar.

—Não seja cruel e deixe eu me iludir - o sorriso inundou a face do homem.

—Eu não decidi ainda, não se anime tanto - revirou os olhos.

—Você deveria ficar. Konoha irá proteger você melhor do que eu jamais poderia - as palavras eram concisas e fatídicas.

—Não seja tolo - ela se levantou da cama mais rápido do que podia reunir forças e foi amparada de cair pelas mãos rápidas de Jung em seu cotovelo - Você e todos na taverna foram pra mim muito mais do que eu poderia ter pedido, se não fosse por vocês eu nem sei o que teria sido de mim e Sarada.

—Você é forte, não se subestime - ele ajudou ela a dar alguns passos até a força retornar a suas pernas.

—A força só vai até um ponto, você não se lembra de como eu estava quando me encontrou e me levou pra Taverna? - ela zombou.

—Você está sendo tola agora Nikuya - a rosada ia retrucar mas ouviu a porta da casa ser aberta e pode ouvir quando Sarada correu pela sala gritando “Kito-nii-chan” o sorriso se desenhou automaticamente nos lábios de Sakura e ela viu o mesmo sorriso brotar no ruivo.

—Venha, Sasuke e Sarada chegaram - a menção do moreno o sorriso se desfez dos lábios do amigo e antes que ela pudesse correr para a sala ele a segurou onde estava.

—Eu não gosto dele, e acho que não é bom deixar ele tão perto de Sarada - o semblante geralmente relaxado dele estava tenso.

Sakura suspirou e levou a mão ao topo do nariz - Ele é o pai dela sabe? 

Os braços do ruivo se cruzaram na defensiva e ele parecia ainda mais contrariado - Ele abandonou vocês, não tem direito algum de estar perto - a rosada abriu a boca para falar mas antes de falar qualquer palavra o amigo levantou o dedo e continuou - E não me venha com “ele não sabia” isso não me convence. Se ele faz a Sarada se apegar e de repente some ela vai ficar arrasada. Eu vi o jeito que você ficou e você já era adulta, é traumático para uma criança ser abandonada. 

—Foi traumático pra mim também - ela comentou enquanto calçava os chinelos - mas pelo que eu sei, ele tem estado em Konoha nos últimos anos - ela se aproximou dele e falou com o tom baixo na voz - E eu não posso negar isso a ele, nem a ela. Sarada tem o direito de saber sobre o pai. Eu vou conversar com ele, não se preocupe corujinha.

Ela não esperou por protestos do ruivo e saiu do quarto e encontrou sua sala parcialmente cheia, Sarada sentada no balcão onde Shizuka-sama e Kito lhe mimavam sob o olhar enigmático e fascinado de Sasuke. Ver o moreno ali em seu apartamento era muito nostálgico, estava ligeiramente mais alto e o tempo era para ele como um aliado, ele ficava mais bonito a cada ano, o colete cinza caia tão bem no seu corpo magro e seus cabelos maiores e menos rebeldes agora, sinceramente até se Sasuke fosse completamente desfigurado Sakura ainda o acharia o homem mais lindo do mundo, principalmente quando ele olhava nos seus olhos como estava fazendo naquele momento. Aqueles olhos da meia noite que lhe tragavam até a alma, como um imã. Inferno, ela estava irritada, oito anos longe, oito anos recitando como um mantra que nunca daria certo e um simples olhar dele e ela era uma adolescente de novo.

— Mamãe! - Sarada chamou e ela se sentiu feliz por poder desviar sua atenção do Uchiha, apenas para olhar pra outro par de olhos negros, ah… Isso era tão injusto, afinal fora ela que carregou a menina por nove meses e sofreu como uma condenada para traze-la ao mundo, apenas pra sua filha ser uma cópia do pai, a genética era uma vadia - Kito-nii-san está fazendo peixe teriyaki e oden.

—Não esqueça de colocar wasabi para mim e para Sarada - Jung falou quando saiu do quarto depois de Sakura.

—Padrinho! - Sakura viu Sarada pular do balcão e correr para Jung que já estava abaixado e de braços abertos para a moreninha se lançar neles.

—Ah minha pequena pestinha! - ele exclamou abraçando a menina forte, depois de alguns segundos ele a afastou e bagunçou a franja dela sobre os óculos - Eu estou muito feliz que você esteja bem Sarada, mas por favor, nunca mais faça isso. Eu quase infartei quando você desapareceu - Sakura viu a filha se encolher consciente de sua atitude. Se qualquer outro a tivesse repreendido ela não teria se sentido tão envergonhada, mas era Jung que sempre acobertava suas brincadeiras e zombava quando Sakura repreendia Sarada por tentar algo perigoso, e receber uma bronca dele era impactante para a menina - Mas - ele levantou a mão e parou a palma aberta no ar - Bom trabalho. - a menina riu e bateu a própria mão na dele.

Sakura ouviu resignada um resmungo de Sasuke, e, infelizmente ela não foi a única.

—Algum problema Uchiha? - o ruivo tinha os olhos lilases brilhando quando se levantou para ficar na altura do moreno, Sarada correu para a cozinha quando Kito lhe chamou para beliscar o jantar.

—Você não deveria encorajá-la a esse tipo de atitude - os olhos estreitos de Sasuke quase queimavam o ruivo vivo - ela poderia ter encontrado todo tipo de perigo e até… - ele se interrompeu no meio da frase.

Um sorriso presunçoso se esticou na face do ruivo quando ele falou - Sim, mas nada aconteceu, e Sarada não é nada indefesa, eu cuidei pessoalmente disso.

 - Já chega - A postura de Sasuke se enrijeceu na direção do outro homem mas antes que mais farpas fossem trocadas Sakura se fez ouvir resoluta - Jung, não seja condescendente foi muito perigoso, mas não seja hipócrita Sasuke, você e eu sabemos de quem ela herdou esse tipo de atitude - ela ouviu o moreno resmungar mais uma vez mas antes que pudesse repreende-lo Shizuka-sama a chamou para ajudar a colocar a mesa.

—Sasuke-san, junte-se a nós nesta valorosa refeição que humildemente preparei para compartilhar com meus companheiros - o sorriso de orelha a orelha do grande homem vestindo avental era algo extremamente cômico.

—Agradeço o convite, mas não poderei ficar - o moreno agradeceu tão prontamente e até gentil que Sakura estranhou, então ele voltou seus olhos para ela novamente - Sakura, vamos conversar - e lá estava o Sasuke de sempre andando casualmente até o quarto de onde Sakura havia acabado de sair. Ela revirou os olhos quando ele sumiu pela porta e jogou a responsabilidade de aprontar a mesa para um ruivo muito irritado.

Quando entrou no quarto ele a esperava na varanda, e quando ela se dirigiu para onde ele estava, Sasuke levantou a mão sinalizando para ela parar, coisa que instintivamente fez. Os olhos do moreno percorreram sua figura ainda parada no lugar quase contemplativo - Apenas me deixe ver você aqui - ele esclareceu quando ela fez uma expressão de pura confusão.

—Ah - ah…. Sasuke estava sendo nostálgico… Talvez lembrando de todas as vezes em que esteve naquele quarto com ela, de tudo o que compartilharam alí, as noites em que ela chegava muito cansada depois de dois plantões seguidos e o abraçava enquanto ele traçava caminhos sinuosos por suas costas no total silêncio até os músculos dela relaxarem, das noites de conversas quase que unidirecionais onde Sakura tagarelava e ele apenas tecia comentários ocasionais e lhe lançava um ou outro sorriso íntimo, do tipo que ela gostava de pensar ser a única a conhecer, dos dias ensolarados em que milagrosamente ela não estava transitando os corredores do hospital ou ele estava em uma de suas missões secretas de Kakashi e eles acordavam um pouco mais tarde e ficavam horas aninhados na cama, tantas lembranças, tanto entre eles. E ainda sim, ele a deixou. Ela tinha que se lembrar disso, pois sabia que se esquecesse por um momento sequer… 

Não, tinha que lembrar das palavras que ela mesma disse a ele apenas naquela madrugada, ela não tinha tempo, e mesmo que fosse permanecer em Konoha ela não confiava mais no Uchiha sobre si mesma. Não duvidava que ele fosse ser um pai dedicado a Sarada, ela era a única com o sangue Uchiha além dele no mundo inteiro, sua única família biológica agora, e ele sempre valorizou seu sangue e clã acima de todo o resto, ela sabia que ele não a abandonaria como fez com ela. Talvez ela estivesse sendo mesquinha, e talvez fosse apenas a mágoa falando, mas ela não conseguia mais confiar nele, não assim, não com toda a incerteza.

—Se você não se importa Sasuke, eu estou cansada - suspirou e voltou a andar rumo a varanda - sobre o que você quer conversar? - a pergunta era apenas para ter uma confirmação, ela sabia exatamente sobre o que era.

—Sarada - objetivo como sempre - quando você vai contar a ela?

Sakura se encostou na grade no corrimão de ferro da varanda, cruzou os braços e mirou a noite agitada da vila - Eu gostaria que você me desse alguns dias pra pensar nesse assunto.

—O que há pra pensar? 

—Há muito a se pensar Sasuke - ela o encarou olhando em seus olhos - é sobre minha filha que estamos falando, não vou abordar ela e jogar essa notícia no colo dela como se fosse algo trivial.

—Ela é minha filha também - Sasuke parecia muito contrariado em ter que lembrar aquilo a ela, como se ela pudesse esquecer - Eu já perdi muito tempo da vida dela, sete anos.

—Eu sei disso, apenas espere mais um pouco - o cansaço era evidente na voz de Sakura quando falou - se você se importa realmente com ela, apenas espere um pouco, ela é uma criança e eu gostaria que essa conversa fosse o mais natural possível. Além disso nós precisamos estabelecer alguns pontos.

Sob o olhar inquisidor da rosada Sasuke apenas ergueu uma de suas sobrancelhas e assentiu para que ela continuasse - Você vai respeitar o tempo dela, não exija que ela lhe chame de pai logo no começo.

—Claro - o tom brando a encorajou a continuar.

—Não a pressione para que ela te aceite muito rapidamente, Sarada é muito parecida com você nesse aspecto, quanto mais você força mais ela irá se afastar e achará a situação… - suspirou contrariada - Irritante.

Ela ignorou o sorriso presunçoso que nasceu em seus lábios - Se você não percebeu, ela já está bem à vontade comigo.

—Claro - revirou os olhos, genética vadia - Não espere que ela mude o sobrenome também.

—O que? - a confusão e irritação preencheram seu rosto e voz.

—Sasuke - ela iniciou calmamente acumulando toda a paciência que tinha, a pouca paciência, para falar com o homem à sua frente - ela passou a vida toda como Sarada Haruno, você não pode esperar que ela queira mudar de uma hora para outra ou que queira mudar de qualquer forma.

—Isso é um absurdo - ele cruzou os braços completamente contrariado - ela é minha filha, ela é Uchiha, é a nova geração e a nova chance do clã.

Ah, era isso. Ele via em Sarada a redenção de seu clã? alguém capaz de limpar toda a mancha que sua linhagem fez na história do mundo shinobi? Foi a vez de Sakura cruzar os braços e encarar o moreno seriamente - É isso então? Você só está interessado em Sarada pra que ela restabeleça seu clã? Pra que ela de alguma forma limpe a bagunça toda? - a fúria vazava de cada poro da mulher - Pois ouça bem o que eu vou lhe dizer. Sarada não vai tomar parte disso, ela não vai carregar essa culpa e esse fardo nos ombros pelos erros das gerações anteriores. Você não vai jogar essa responsabilidade pra cima da minha filha, e se for isso mesmo Sasuke, você pode esquecer que tem uma filha, porque eu nunca vou deixar que ela se aproxime de você assim. - a Haruno tremia quando terminou de falar. 

—Sakura! - surpreendentemente a voz do moreno carregava um tom de repreensão, seu cenho franzido e os punhos cerrados - não seja tola. Eu não sou um monstro tão terrível assim. Ela é minha filha também, e eu não quero que ela pague pelos meus pecados ou os dos que vieram antes de mim - ele pausou por um momento, recuando o passo que havia dado em direção a kunoichi, depois de respirar profundamente continuou - eu só acho que ela será uma shinobi incrível um dia, e mais que isso, ela será uma pessoa incrível. 

Os ombros tensos de Sakura relaxaram ao ouvir as palavras do moreno, Sasuke era muitas coisas mas não um mentiroso, e de alguma forma ela sabia que ele já amava Sarada e gostava de pensar que esse Sasuke que ela via agora apenas soubesse o quão valioso era o amor de um filho - Desculpe se eu me exaltei.

—Você tem todo o direito.

—Sasuke - ela deu um passo em sua direção e sorriu gentilmente, os olhos quase sumindo no processo - apenas seja paciente. As coisas vão se desenrolar normalmente. - ela viu ele assentir depois de um tempo e continuou - Me dê alguns dias, dê alguns dias a você e a ela, tudo aconteceu muito rápido. Deixe que Sarada se sinta mais segura e estável, ela de repente descobriu um monte de coisas sobre a mãe, jogar um pai assim no colo dela pode ser muito para uma criança de sete anos.

Ele olhou para ela com aqueles olhos escuros, os lábios pareciam guardar um sorriso secreto quando ele disse - Você é uma ótima mãe - Ela sentiu o sangue subir para as bochechas e sabia que estava corando, uma bobagem mas ainda sim algo no interior dela se revirou com aquela afirmação vinda dele, Sasuke era muito desagradável na maior parte do tempo sem nenhuma sutileza ou talento para lisonjear, ouvir aquelas palavras dele não deveria ter tanta importância quanto teve, mas novamente, era apenas ela reagindo a ele - Eu vou sair em uma missão por alguns dias, deve ser tempo suficiente.

—Não se preocupe - ela sorriu e tombou levemente a cabeça divertida - você terá tempo com ela, mesmo que ainda hoje eu ache que todo tempo do mundo não é suficiente.

—Sakura - ele se aproximou dela, perigosamente próximo, e sorriu um sorriso Sasuke, um leve curvar nos cantos dos lábios, uma suavidade em sua expressão sempre rígida - Obrigado.

Ele se foi no segundo seguinte e ela quase agradeceu por isso. Se apoiou na grade para não perder o equilíbrio, aquela palavra tão cheia de significado para eles, Sakura teve que se repreender por ser tão sensível a ele, se lembrando da conversa que tiveram naquela madrugada onde ela rejeitou firmemente a aproximação dele. 

Incerteza, incerteza, incerteza, Sasuke é apenas incerteza…

Talvez isso fosse seu novo mantra - Droga Sasuke, isso foi covardia.


 

&

Avistou os portões da vila e sua coluna pareceu dar um nó. 

Depois de dez dias viajando a reação normal seria completamente oposta, ele deveria se sentir mais calmo e relaxado, feliz por finalmente estar em casa, mas ele se sentia dolorosamente ansioso. Nos anos que se seguiram à morte de Sakura, Sasuke havia adotado Konoha como sua casa novamente na esperança de estar mais próximo de seu lar. Ele havia aprendido a duras penas que lar não era um espaço físico, que lar não era representado pelo símbolo de um grande clã ou de uma grande aldeia, não, o lar era o lugar onde seu coração repousava, encontrava seu lugar no mundo, o seu lar ele descobriu ser um lugar sustentado por três pilares.

Um deles, talvez o mais forte dos pilares, havia suportado o vento e a tempestade, a fúria e o ódio, seu melhor amigo, seu irmão, não de sangue mas de alma. Naruto havia sido por muito tempo o pilar mais teimoso em ceder às dificuldades de ser o lar do moreno, mas com a insistência e a compaixão ele suportou todas as adversidades e permaneceu até que o lar fosse reconhecido por Sasuke. O outro pilar era mais modesto, mas igualmente firme, um pilar onde o reconhecimento e empatia fizeram com que Sasuke se sentisse querido depois de muito tempo, mesmo que seu sensei fosse normalmente apático e introspectivo, fora ele que primeiro lhe estendeu a mão para lhe ajudar a cumprir seu objetivo de obter poder e lhe ensinou seu jutsu autoral, lhe fez herdeiro de sua própria técnica, lhe repreendeu e tentou limpar seus olhos quando ele estava cego pelo ódio e a inveja. E havia aquele terceiro pilar, teimosamente sustentado pelas fundações de um amor platônico de infância, um amor que cresceu com o tempo e se solidificou na dor e na distância, aquele amor que a manteve firme e teimosamente sustentando seu lar, e quando ele retornou estava de braços abertos para lhe confortar e preencher seu coração com aquele sentimento tão único.

Mas aquele pilar ruiu, abalado pelo abandono e a dor. E quando ele se foi, abalou profundamente as estruturas de todo o lar do moreno, abalou todos os pilares, e quase destruiu sua sanidade recém recuperada, perder Sakura o levou a loucura. Foram tempos sombrios que ele não fazia questão de recordar até que os outros dois pudessem se recuperar e ajudar o Uchiha a se reerguer. Curiosamente, na época ninguém estranhou o depressão que se abateu sobre Sasuke, talvez todos apenas consideraram que ele havia ficado muito abalado por perder mais uma pessoa importante em sua vida, ninguém considerou a real natureza do relacionamento deles, agora Sarada estava ali como prova viva dos tempos passados juntos e muito mais do que juntos.

Agora, ele não apenas tinha seu terceiro pilar de volta, mesmo que ela passasse o resto da vida se afastando dele ainda seria seu lar, o simples fato de saber que ela estava viva fez com que o lar dele fosse completo novamente, e mais que completo agora, ele tinha um quarto pilar, Sarada, sua pequena pirralha. A conexão entre eles fora quase que instantânea e apenas cresceu nos dias em que ele cuidou dela enquanto Sakura ainda estava desacordada. Enquanto ele caminhava pelas ruas da aldeia, a ansiedade atingia seu apogeu, os dias haviam se passado e agora ele estava de volta para que pudesse finalmente chamar Sarada de filha.

A impaciência para contar apenas fora intensificada pela falta de sucesso da missão. Dez dias de pura perda de tempo em localizar qualquer rastro ou informação sobre os negócios escusos do homem por trás de toda a desgraça de Sakura. Naruto e Shikamaru estavam recolhendo informações sobre o daimyo do país do chá, mas o tipo de informação que mais interessava a eles agora eram aquelas que não se conseguia pelos meios convencionais e sim as que ele poderia conseguir revirando os caminhos tortuosos do submundo shinobi e no caso dele civil também. Mas ao que parece o miserável era muito competente em cobrir seus rastros e ocultar seus movimentos. Sasuke viajou por dias ao país do chá e observou e recolheu informações entre os nativos, ouvindo de todos como um só o quão maravilhoso era seu senhor feudal de forma plástica e quase ensaiada deixava o cenário muito suspeito. 

O país parecia pacífico porém pouco desenvolvido, a pobreza era de certa forma contraditória se fosse considerar que a nação, como o próprio nome indicava, tinha grandes negócios no ramo da produção e exportação de chá, bebida tão popular em todos os países do continente. Entre a população predominantemente rural, e os que viviam nas cidades haviam marcas da miséria, e ainda sim o líder era visto como benevolente e talentoso. Talvez isso estivesse atrelado ao fato de que contrastando de forma gritante a precariedade generalizada, o sistema de saúde estivesse se desenvolvendo relativamente bem desde a posse do novo daimyo, mas era no campo de ciências experimentais que o desenvolvimento se concentrava, dentro de grandes, fortemente protegidos e secretos laboratórios do governo, onde a população não tinha acesso e onde Sasuke apostava estar concentrado grande parte da receita do país. 

Em seu caminho de volta ele também havia visitado o lugar onde encontraram Sakura, e foi como se nunca tivesse sido habitado antes.

—Isso é problemático - Shikamaru suspirou diante do relatório do Uchiha sobre o pouco que descobriu.

—Os documentos e informações oficiais apontam ele como um jovem e promissor governante que tem priorizado a saúde de sua população investindo grandemente nesta área. - citou Naruto por trás de algumas pastas - poderia apostar um ano de ramen que as coisas escondidas nesses laboratórios são o que procuramos.

Sasuke assentiu diante da perspectiva de ter que retornar futuramente para fazer uma visita às instalações misteriosas nos arredores das vilas do País do Chá. Um sorriso estelar se desenhou no rosto do loiro ao olhar para a tela do pequeno notebook à sua frente, como ele ainda conseguia ter toda aquela animação no início da madrugada o Uchiha não sabia - Acabei de receber um email do Darui sobre o caso da Sakura-chan - ele pausou para terminar de ler antes de continuar a falar e o sorriso apenas cresceu em seu rosto  - ele diz que confia na conduta da ninja e apoia Konoha em sua reintegração e que se necessário irá apoiar a vila no que for preciso e blá blá blá dattebayo! Agora falta só a resposta da Kurotsuchi e poderemos oficialmente e pacificamente reintegrar a Sakura-chan e reverter seu status “morta”.

—Naruto, você deveria se referir aos outros Kages com mais respeito - Shizune falou de um canto onde organizava alguns papéis.

Sasuke ficou verdadeiramente feliz ao ouvir sobre o processo de reintegração e reavaliação do status da kunoichi, no entanto uma pontada mesquinha de preocupação rondava sua cabeça e o fazia querer que processo se arrastasse mais, ele ainda não tinha certeza da decisão dela sobre ficar na vila ou deixá-la. De certo que um ninja não era permitido deixar o serviço de sua vila para caminhar pelo mundo a toa, quando um ninja deixava sua vila sem o consentimento do Kage ele se tornava um nukenin como ele mesmo já havia sido, no entanto Sasuke duvidava muito que Naruto fizesse isso a Sakura, se ela realmente estivesse decidida a ir ele daria a permissão. Ele só podia torcer para que ela ficasse ou se fosse o caso, que permitisse que ele lhe fizesse companhia para onde quer que fosse.

Ele não permaneceu por muito tempo no escritório do Hokage, e como de costume rumou ao seu próprio apartamento parando no caminho e desviando seu curso para um prédio em particular no centro. Sem dificuldade Sasuke pousou na varanda florida e deu alguns passos até estar bem próximo a vidraça da porta, ele sentiu o pequeno sorriso se repuxar em seus lábios ao contemplar a imagem dentro do quarto. Sakura estava enrolada em torno de uma Sarada muito tranquila em sua cama, quase abraçadas ele podia ver a forma como a rosada se curvava protetoramente sobre a menina mesmo na inconsciência de seu sono. Ele suspirou afastando o desejo de estar ali abraçado entre elas, por elas, e se virou para rumar novamente a sua própria moradia.

Ao primeiro sinal dos raios de sol no horizonte Sasuke despertou de seu sono leve, comeu apenas uma pequena porção de arroz com tomates antes de convocar um falcão para entregar uma mensagem. Ele viu a ave voar pelo céu já iluminado da vila em direção ao prédio vermelho no centro carregando uma simples mensagem: “Estou de volta”

Ele teve que se concentrar em outras atividades pelo tempo que se seguiu na tentativa de afastar  a ansiedade. Ele primeiro se sentou ao pé da mesa baixa no centro de sua pequena sala e se forçou a escrever em um pergaminho algumas observações sobre a missão que poderiam lhe escapar futuramente quando tivesse que retornar para investigar sobre os laboratórios suspeitos do País do Chá. Menos de uma hora havia se passado quando o pássaro pousou no parapeito de sua janela, ele se levantou com a graça silenciosa e caminhou até a ave, retirando o pequeno pedaço de papel amarrado à perna e escrito com a caligrafia estranha de Sakura, ela costumava se irritar com ele quando o moreno pedia uma “tradução” para ela de seus escritos e isso sempre o divertia. Ela fora tão econômica em palavras quanto ele: “Casa de chá Kazoku, às 16 horas” 

Ele conhecia o lugar, era uma casa de chá a poucas quadras do apartamento de Sakura, ela provavelmente havia descoberto que ele ainda funcionava perfeitamente mesmo depois de quase um década. Ela costumava ir ao lugar sempre que tinha a oportunidade para comer uma grande tigela de anmitsu e tomar seu chá favorito, hojicha , ele havia acompanhado ela apenas uma vez ao lugar, mas se lembrava bem do sorriso e do gosto doce e fresco dos lábios dela naquela noite. 

Sakura havia sido muito sucinta em sua mensagem de forma que o moreno não sabia o que esperar do encontro, seria algo entre eles para conversar ou Sarada também estaria lá? não pela primeira vez ele sentiu falta de sua tagarelice. E o pior, ainda faltava muito tempo até o horário combinado.

Suspirando resignado ele se voltou novamente as anotações que fazia no pergaminho, demorando muito mais do que costumava já que a concentração lhe escapava repetidamente. Antes do meio da manhã ele se viu saindo de casa para visitar a mercearia mais próxima, sua geladeira estava vazia, geralmente sempre estava com a exceção de tomates e arroz para eventualidades, ele não costumava comer tanto em casa, se por estar missões ou ocupado no escritório do Hokage onde sempre acabava por comer alguma comida da cantina do lugar, mas como ele não pretendia sair de casa pelos próximos dias resolveu que seria bom ter mais alguma coisa para ocupar sua geladeira e armários, inferno, qualquer coisa que fizesse o tempo passar. Curiosamente, quando chegou em sua casa por volta da hora do almoço, havia mais coisas doces e picantes em suas sacolas do que ele pretendia.

Depois de almoçar um simples onigiri com peixe e tomates, Sasuke decidiu limpar algumas de suas armas para passar o tempo. Quando faltava apenas uma hora para o encontro, cada uma das lâminas ou qualquer armamento presente no apartamento dele estava polido e afiado, alinhado meticulosamente sob a mesa baixa da sala, o balcão da cozinha, a mesa da cozinha e por fim o chão da sala. Incapaz de esperar mais ele decidiu se aprontar para seu compromisso, primeiro recolhendo e guardando as armas espalhadas pela casa e em seguida tomando um banho. Faltando ainda meia hora, ele decidiu caminhar até o local marcado, aproveitando para passar o tempo, não era tão próximo de sua casa mas mas não longe o suficiente para lhe fazer se atrasar. Passando desinteressado por diversos quarteirões e ruas da vila Sasuke não pode deixar de suspirar frustrado ao entrar na casa de chá e perceber que ainda faltavam vinte minutos.

Escolheu deliberadamente um lugar onde teria uma visão satisfatória da porta e ainda manteria a discrição. Pouco tempo depois uma atendendente vestida em um kimono simples veio até ele para anotar o pedido, o moreno educadamente dispensou a moça dizendo que esperaria sua companhia chegar para fazer um pedido. Sasuke passou então a observar o lugar como forma de arrastar os últimos minutos antes do horário marcado, com a postura rígida e sentado em posição de seiza o Uchiha passou os olhos pelas demais mesas do local, todas baixas como manda a tradição, almofadas confortáveis para sentar, portas de shoji abertas para o jardim privado onde de longe ele podia ver um pequeno lago se estendia, dentro do lugar pequenas mesinhas ostentando bonsais e um galho ou outro de bambu tornando o ambiente leve e aconchegante, o cheiro das especiarias de chá pinicando o nariz do moreno, agradável e forte. Atendentes alinhadas em kimonos circulavam pelo ambiente parcialmente cheio, com seus passos diminutos e movimentos suaves, o lugar era muito agradável, e o som do kido sendo gentilmente dedilhado no tatame central enchia o lugar com  sons sutis ao lado de sussurros de casais e risadas doces de crianças saboreando dango.

—Eu espero que esse lugar não tenha apenas doces mamãe, não entendo porque tivemos que vir tão cedo - ele ouviu a voz de Sarada e lançou os olhos para a entrada do lugar onde a dupla parou.

Sakura riu e começou a procurar entre as mesas - conhecendo Sasuke eu imagino que ele já esteja aqui - o sorriso dela se alargou um pouco mais quando avistou o moreno, e Sasuke teve que conter o próprio sorriso quando ele viu Sarada sorrir pra ele também e em seguida puxar a mãe para onde estava.

—Sasuke-san você sumiu - ela disse logo após parar e se sentar no assento à frente do Uchiha, estava mais animada e menos rabugenta que ele se lembrava, mas também também tinha sua mãe sorrindo para ela a seu lado. Sarada estava alegre em seu suéter amarelo, saia xadrez e jaqueta vermelha, ao seu lado Sakura sorria tímida em sua camisa verde folha e calças capri branca, ambas casualmente divertidas.

—Eu estava em missão - ele respondeu a pergunta que ela não fez.

—Hum, interessante - a moreninha ajeitou os óculos estreitando os olhos curiosa.

—Esperou demais Sasuke? - a pergunta veio de uma Sakura de semblante relaxado.

—Acabei de chegar.

—Ah ótimo, Sarada-chan vamos pedir logo eu estou com fome - a mais nova assentiu e Sakura acenou para uma das atendentes que prontamente se aproximou da mesa deles. 

—Eu vou querer Moguicha, o que a senhora tem no cardápio pra acompanhar que não seja doce? - a atendente riu divertida para a criança a sua frente.

Sasuke captou a expressão de Sakura pelo canto do olho e voltou sua atenção a ela que apontou para Sarada e fez alguns gestos com as mãos que ele logo reconheceu como código morse.

“vamos falar agora”

Ele sentiu uma leve tensão e ansiedade, e respondeu a ela na mesma linguagem,

“hora e lugar certo?” o que diabos ele estava fazendo afinal? Não era aquilo que ele queria? Porque de repente se sentia tão inseguro?

Ela sorriu e então respondeu “tudo bem” 

Sarada finalmente escolheu algo do cardápio, ela pediu shuumai com karashi, muito karashi ela enfatizou, a moça riu, como esperado Sakura pediu seu anmitsu e Hojicha e o moreno apenas chá matcha. Logo estavam apenas os três na mesa e depois de um suspiro longo Sakura se voltou para Sarada.

—Sarada-chan, nós viemos aqui pra conversar sobre um assunto muito importante como eu já disse pra você antes.

—Sim sim, e o Sasuke-san faz parte disso certo? - ela olhou para ele e o moreno assentiu.

—Bem, Sarada-chan você passou bastante tempo com Sasuke não é mesmo? - ela não estava nervosa, mas parecia não encontrar as palavras certas e isso o deixou nervoso, como a menina reagiria? Ela iria se ressentir dele? Teria raiva? Iria ignorá-lo?

—Sim. - a resposta a pergunta de Sakura ecoou em seus  pensamentos.

Diante da resposta muito curta e direta da filha Sakura pareceu perder a deixa para continuar a conversa por onde queria, e por um momento ele pode ver a frustração no rosto dela como quando eram gennin e era ele quem a frustrava. Felizmente a atendente chegou trazendo seus chás e prometeu que logo os pedidos chegariam, Sakura agradeceu simpática e cada um bebericou seu chá.

Respirando fundo mais uma vez a rosada tomou coragem - Sarada-ch...

Sakura não teve tempo de terminar pois uma Sarada entediada tomou a palavra - Mãe, você não precisa ficar nervosa pra me dizer que o Sasuke-san é o meu pai.

Sasuke não pode evitar de cuspir o chá.


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Notas finais do capítulo

Eita!
Comente por favor pra que eu possa saber o que vcs estão achando!



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