Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 11
Primordial


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente quero agradecer a todos os que comentaram e favoritaram a história, sério, vcs me inspiram. Perdoem os erros de português, queria postar logo e fiz uma revisão bem cachorra. Escrever capítulos gigantes se tornou um vício.
Segundamente (sinceramente não sei se essa palavra existe) boa leitura!



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—Pronta ou não, ai vou eu! - Sakura ouviu sua voz ecoar por entre as árvores do bosque antes de se virar e ver o ambiente silencioso como se não houvesse ninguém alí, mesmo que ela soubesse que em algum lugar próximo uma pequena criaturinha se escondia.

 

Ela era boa em se esconder, na verdade se levasse em consideração o fato de ela ter apenas quatros anos de idade, Sarada era muito boa.  Quando brincavam de se esconder na floresta, uma de suas brincadeiras preferidas, a pequena levava muito a sério, como tudo na verdade. Ela seria uma excelente ninja quando crescesse, ela nunca repetia seus esconderijos, uma vez ela se escondeu literalmente debaixo de uma pedra, em uma toca de coelho, desnecessário dizer que depois de duas horas procurando a menina Sakura já estava arrancando os cabelos, na vez seguinte ela se escondeu em meio aos arbustos, literalmente entre as folhas, a rosada ainda se lembrava de todo o trabalho que teve em tirar a lama que ela usou para grudar as folhas no corpo para parecer um arbusto humano.

 

Sakura andou pela mata, sentidos aguçados a qualquer alteração no ambiente, ela já havia sido boba antes não levando a brincadeira com a filha a sério, não cometia mais esse erro. Andou silenciosamente por entre as árvores, o solo fértil do país dos campos de Arroz, onde estavam agora, garantia frondosas árvores de folhas verde esmeralda e grama macia como algodão, ela podia ouvir um riacho correndo perto com pedras cobertas de musgo e curvas sinuosas. Borboletas de todas as cores pousavam em flores silvestres que despontavam ocasionalmente, era lindo e o komorebi fazia tudo parecer um cenário fantasioso. 

 

Circulou por mais meia hora antes de começar a se irritar, por que Sarada tinha que ser tão boa em se esconder? Jung certamente se orgulhava, o fato de ela ser naturalmente boa em furtividade ajudava no “treinamento” disfarçado de brincadeira que ele fazia com ela, se esconder era também uma forma de preparar a moreninha para as eventualidades, Sarada sabia que ao primeiro sinal de perigo se estivesse sozinha ela deveria se esconder. Pelo menos Sakura sabia que isso ela faria muito bem.

 

Cansada de circular sem propósito Sakura parou no meio de uma clareira e se concentrou em reconhecer a fraca assinatura de chakra da filha, era trapaça ele sabia, ainda sim... Mesmo que pequena e muito imatura, seu chakra deveria ser perceptível se fosse o alvo de sua busca, foi assim que a encontrou das últimas  vezes, dessa vez não ia esperar tanto.

 

 A rosada xingou e rezou para que a filha não estivesse perto o suficiente para escutar, a moreninha estava suprimindo e ocultando sua assinatura de chakra. Ela vinha ensinando exercícios básicos de controle de chakra, e certamente Jung havia aproveitado isso para ensiná-la a esconder seu chakra e por suas reservas serem ainda tão pequenas era muito eficiente. Levaria o dia todo para encontrar a menina agora.

 

Não o dia todo mas duas horas mais tarde Sakura avistou o pequeno corpo da filha enrolada em um galho a pelo menos seis metros de altura. Ela estava completamente camuflada, a posição que adotou a fazia passar despercebida por entre os veios da árvore, o único problema era que a menina havia se escondido a quase três horas atrás, e a posição do sol havia mudado neste tempo, felizmente para Sakura, um único raio incidiu exatamente sobre a forma contorcida do pé da pequena na árvore, revelando sua posição. 

 

Com um sorriso satisfeito Sakura lançou uma kunai no galho próximo a Sarada - Achei você danadinha - a voz da rosada encheu o bosque e logo após os resmungos da mais nova.

 

—O que foi que me denunciou? - a moreninha perguntou ainda no alto da árvore mas agora sentada com as pernas balançando, um cobertor de folhas e lama sob a pele para a camuflagem, olhando o estrago que a criança havia feito em suas roupas Sakura quis esgana-la.

 

—A posição do sol mudou e eu consegui te encontre pelo ângulo do seu pé, no futuro você deve pensar em esconderijos que te favoreçam independente do tempo que você precise dele - ela observou a pequena assentir e embora soubesse que era bom corrigir suas falhas sabia que a menina absorveria a crítica e tornaria a próxima caçada um desafio impossível - mas você deve se orgulhar, ficou quase três horas parada e camuflada, nem seu chakra eu consegui rastrear - deu um sorriso orgulhoso para a menina travessa no alto da árvore.

 

—Que feio mamãe isso foi trapaça - não pode deixar de ficar vermelha diante da acusação da mais nova - O padrinho está me ensinando a me esconder completamente, e eu sabia que a senhora ia procurar meu chakra quando estivesse cansada de andar em círculos.

 

Bufou diante da atitude arrogante da filha, genética vadia - Eu quebrei as regras, vou compensá-la com um palito de dango - sorriu da expressão azeda da filha sentada no galho.

 

—Dango não mamãe, eu quero takoyaki com muito wasabi - 

 

—Fechado, dango pra mim takoyaki pra você.

 

—Eu sei que a senhora está me usando de desculpa pra comer dango.

 

—Claro que não - rebateu indignada - agora desça daí.

 

Sarada sorriu e pulou para o outro galho mais abaixo, acabou escorregando na lama que passou no próprio pé e mergulhou para uma queda épica, um grito agudo deixando sua garganta até ser aparada por uma Sakura ansiosa e ambas rolarem no chão. A menina abraçou e envolveu a mãe com bracinhos enlameados manchando toda a roupa da kunoichi rosada, e pararam a poucos metros do riacho, o grito da mais nova se transformando em altas gargalhadas.

 

—Sarada Haruno você ainda me mata do coração - a rosada permaneceu deitada ao lado da filha, a respiração curta e acelerada pela adrenalina, se virou para ela e começou a tirar os galhos e folhas presos ao cabelo escuro - eu gostaria de saber onde você sempres arruma essa lama grudenta.

 

—Kito-nii-chan me ensinou onde achar - ela ergueu as mãozinhas e tirou um galho preso a camisa da mãe.

 

—Vou perguntar se ele gostaria de lavar suas roupas quando você usa essa lama - suspirou sorrindo para sua pequena.

 

—Nas suas também - ela apontou para as manchas na roupa da mãe.

 

—Culpa sua mocinha - levantou de repente e trouxe a moreninha que gritou assustada pelo movimento repentino - hora de tomar banho.

 

—Mamãe o que.. - a menina não terminou a frase e sua mãe a lançou no riacho, Sakura observou entre as gargalhadas a água se tornar turva e escura onde Sarada afundou e em seguida emergir atordoada - Mamãe!

 

—Desculpe eu não pude resistir - colocou a mão na barriga se curvando pelas risadas e não percebeu a aproximação da mais nova, se dando conta apenas quando a pequena mão se enrolou em seu tornozelo e a puxou para cair de bunda e em seguida ser arrastada para a água - Sarada!!!

 

—Desculpe eu não pude resistir - a moreninha riu e começou uma guerra de água com a mãe.

 

&



Há momentos na vida que marcam você.

 

Às vezes uma decisão difícil de ser tomada, às vezes uma batalha difícil de ser vencida, uma conversa íntima e uma situação qualquer e trivial em que algo acontece e aquilo fica gravado em sua mente.

 

Sakura tinha algumas dessas.

 

Se lembrava de um capítulo específico de um livro de medicina que pegou da biblioteca ainda no início de seu treinamento médico que falava sobre a necessidade de uma dieta variada de carboidratos, proteínas, fibras e vitaminas e de se perguntar como Naruto se alimentando quase que exclusivamente a base de macarrão instantâneo conseguiu sobreviver. Havia uma memória particularmente constrangedora envolvendo Tsunade bêbada e a temível conversa sobre sexo e meninos, foi a primeira vez que ela bebeu saquê. Tinha uma memória interessante de Sasuke falando que gostava da cor de seu cabelo durante o sono. Ela se lembrava de rolar na grama do chão da floresta com uma Sarada coberta de lama, de tirar pequenos galhos do cabelo dela e pensar que era injusto que Sarada se parecesse completamente com Sasuke.

 

De alguma forma, Sakura sabia que o que estava vivendo agora seria um destes momentos que ficariam marcados em sua mente afinal, não é todo dia que Sasuke Uchiha cospe o chá na cara da filha após esta revelar calmamente saber que o este mesmo Sasuke é seu pai.

 

Primeiro ela ficou em choque,

 

Um silêncio sepulcral se instalou na casa de chá, todos pareciam ter visto Sasuke se engasgar e depois cuspir o chá em uma nuvem molhada no rosto da menina sentada à sua frente. Convenhamos, se tratando de Sasuke Uchiha qualquer um esperaria ver o inferno congelar antes de ver o moreno em tamanha surpresa. Depois do que pareceram horas mas na verdade foram apenas alguns poucos segundos todos voltaram a suas próprias vidas, Sarada alcançou um guardanapo e começou a se limpar e Sasuke, bem, ele estava vermelho como seus amados tomates.

 

 Então ela começou a rir,

 

Mas não apenas rir, era um daqueles momentos que você simplesmente é incapaz de parar de rir, onde sua respiração fica rápida e a barriga dói, ela se curvou e lágrimas rolaram pelos cantos dos olhos, ela não conseguia parar e os músculos da face já doíam enquanto ela tinha espasmos de riso por todo o corpo. Olhar para Sasuke não ajudava, se antes ele estava vermelho pela vergonha agora ela tinha certeza que o sentimento causador do rubor era a raiva, mas isso não a motivou a parar. Entre as conversas e murmúrios ao redor ela pode ouvir uma gargalhada sufocada imitando seu próprio ataque de risos.

 

—Sinceramente mamãe, isso é tão imaturo - Sarada terminava de secar o rosto e o suéter quando desdenhosamente comentou o ataque de riso da mãe.

 

—Eu (risos) Eu (risos) não consigo (risos) parar (gargalhada) - ela voltou a rir e surpreendentemente ela quase podia jurar que ouviu um murmúrio sorridente de Sasuke depois de um tempo, ele provavelmente estava agora mais divertido pelo ataque de riso dela do que irritado. - Eu daria (risos)  qualquer coisa (risos) pra ter (risos) Naruto aqui - e pronto, a carranca de Sasuke voltou.

 

A moça que lhes atendeu anteriormente voltou trazendo os pedidos, uma taça grande de anmitsu foi depositada em sua frente ao lado de seu chá e para a pequena sentada a seu lado um recipiente redondo e de madeira repleto de shumai e ao lado um pires com a gosminha amarela picante, azeda e fedorenta que Sarada pediu, karashi. Completamente distraída pelo riso, Sakura não notou quando Sarada enfiou uma colher de anmitsu em sua boca e ela se engasgou. Ela sentiu os leves tapinhas nas costas dados por sua filha rabugenta e só assim conseguiu parar de rir.

 

E por fim ficou completamente horrorizada.

 

Como assim Sarada sabe sobre o pai?

 

—Sarada, como diabos você sabe que Sasuke é seu pai? - ela observou a expressão entediada da mais nova e em seguida quis chutar a própria bunda por xingar porque sabia que …

 

—Mamãe tenha modos - Sarada lhe repreendeu, pestinha rabugenta - e convenhamos, além do fator genético aparente - ela parou por um momento e apontou de si mesma e para um Sasuke que muito quieto observava.

 

—Genética vadia - Sakura resmungou incapaz de controlar a língua.

 

—Modos mamãe, modos - ela ajeitou os óculos e voltou ao assunto - eu andei observando e escutando. Você fez parte do time genin dele junto com o Nanadaime, eu ouvi Ino-oba-chan comentar que vocês eram apaixonadas pelo Sasuke-san na infância e que você permaneceu apaixonada mesmo depois - Sakura tinha certeza que estava vermelha, ouvir sua filha falar casualmente sobre sua vida amorosa era desconfortável e traumático - além do mais, Sasuke-san ficou meio sensível quando eu falei seu nome logo que cheguei e depois correu para salvar a senhora e ficava inutilmente tentando me sondar sobre assuntos sobre pai e tal, foi fácil pegar essas peças e juntar - ela uniu os dedos da mão entrelaçados dramaticamente - e pra falar a verdade eu só tinha oitenta por cento de certeza mas a senhora acabou de me confirmar.

 

Sakura pressionou a testa na mesa, sua filha às vezes lhe assustava. Enquanto manteve o rosto abaixado ela observou o silêncio que se seguiu, tinha quase certeza que eles estavam se encarando para ver quem cedia primeiro. Talvez sua presença já não fosse mais necessária.

 

Ela levantou a cabeça e como previsto, os dois morenos estavam estoicamente se encarando, ela pigarreou e agarrou sua taça de anmitsu e seu chá atraindo a atenção de ambos - Neste caso acho que vocês tem muito o que conversar - se levantou e recebeu um olhar perdido de Sasuke, lhe sorriu gentilmente e murmurou um boa sorte - Estarei na mesa ali atrás se precisarem de mim - Então ela se virou e caminhou por entre as mesas baixas até avistar o que procurava.

 

Duas mesas atrás da que ocupava anteriormente, um homem nada discreto tentava inutilmente se esconder atrás de um livro, seu cabelo cor de amora despontando por cima das folhas e da capa. Ela caminhou até ele e se sentou no assento perpendicular à sua esquerda, com uma ótima visão da mesa onde a conversa entre pai e filha se iniciava, sua vista só não era melhor que a do próprio Jung.

 

—Quem você acha que engana com esse livro aí? - ela alfinetou

 

Ele abaixou a brochura apenas a altura dos olhos e ela pode enxergar o sorriso que ele guardava - Eu não resisti.



&



—Desde quando você sabe? - um século parecia ter se passado desde que Sakura se levantou do assento na mesa deles e andou até onde o ruivo irritante achava que estava se escondendo, mas na verdade poucos minutos haviam escorrido. Ele não sabia de forma nenhuma como levar aquela conversa, nos poucos cenários em que chegou a imaginá-la nenhum havia lhe preparado para uma Sarada consciente de sua paternidade. 

 

Em sua frente brincando com o guardanapo ela evitava o olhar do moreno, mesmo tendo sido muito resoluta quando jogou a revelação para os pais, talvez ela agora se sentisse tímida na presença dele. Decepcionada talvez? O quanto ela sabia sobre o passado deles? 

 

—Desde o dia em que apostamos no tiro ao alvo - ela finalmente levantou os olhos para e ajeitou os óculos que haviam deslizado por seu pequeno nariz - não sei se suas habilidades interrogativas são ruins ou o fato de eu ser uma criança te fez achar que eu não poderia desconfiar das suas perguntas mas, sinceramente você não foi nada discreto.

 

Vergonha tingiu a face do moreno de vermelho, ele tinha cometido um erro ao subestimar Sarada por sua pouca idade e agora ela tinha uma imagem inadequada dele, Sasuke assentiu e um silêncio desconfortável caiu sobre eles. Havia tanto que ele queria dizer e perguntar mas não sabia por onde começar, ele era o adulto da situação mas se sentia perdido como uma criança.

 

—Você deve ter perguntas - decidiu ir pelo caminho menos arriscado ou o talvez o mais perigoso - pergunte o que quiser saber.

 

Sarada olhou para ele, apoiou o queixo na mão e cerrou os olhos para Sasuke, ele tinha que admitir ela sabia encarar - Você obviamente não sabia que eu era sua filha, pelo menos não até o dia em que soube quem era a minha mãe, quando exatamente você descobriu?

 

—Eu não tinha me questionado sobre sua paternidade, eu estava muito ocupado digerindo o fato de sua mãe estar viva, mas eventualmente eu deduzi - por nada nesse mundo Sasuke admitiria que fora Naruto a lhe trazer luz a situação - eu já sabia quando voltei da missão de resgate da sua mãe.

 

—Como eu imaginei - Sarada voltou a encará-lo - Como você se sentiu com esta descoberta?

 

Por essa ele não esperava.

 

Como ele havia se sentido mesmo? Não podia negar que logo no início foi um choque, em algum momento enquanto estava com Sakura ele pensou sobre filhos e família, queria que fosse ela a lhe dar aquilo, mas parecia um sonho tão distante que ver Sarada, sua filha foi algo completamente surreal, e então logo em seguida foi bom, foi como nunca poderia imaginar e tudo o que ele queria era conhecer sua filha - Foi surpreendente - a resposta curta diante de sua própria reflexão pareceu não ser satisfatória para a menina, seu olhar se cerrou ainda mais e diante da pressão dela ele não teve alternativa se não desenvolver sua resposta - Eu estava sozinho a muito tempo e sinceramente sem perspectiva de construir uma família, a muito tempo eu tinha reservado isso para algo que eu faria com sua mãe. Quando ela morreu a ideia pareceu ridícula de ser concebida com outra pessoa - ele olhou no fundo dos olhos da filha e viu a verdade de suas palavras sendo refletidas para si mesmo, admitir aquilo em voz alta era desconfortável mas ele não daria nada além da verdade a Sarada - quando eu de repente descobri que não apenas Sakura estava viva mas eu também tinha uma filha com ela, foi como realizar um sonho que eu já tinha desistido. Saber sobre você me deu esperança como a muito tempo eu não tinha.

 

A criança a sua frente ficou quieta por alguns momentos absorvendo as palavras, um pequeno repuxar no canto de seus lábios fez o coração do moreno se aquecer - E você, como foi para você saber que eu era seu pai?

 

—Foi estranho - ela corou de forma muito fofa e Sasuke quase sorriu bobo - mas foi legal, apesar de você ser um chato às vezes também é legal. Eu nunca pensei em encontrar meu pai, minha mãe sempre disse que seria algo realmente difícil de acontecer, e embora eu não sentisse falta de um, sempre tive curiosidade - ela voltou a mexer no guardanapo, de alguma forma aquilo lhe lembrava a como Sakura brincava com a barra da blusa quando mais novos - eu não pareço nada com minha mãe e ela sempre falou pouco sobre você.

 

—Você tem os olhos dela - ele se viu comentando, diante do olhar inquisidor dela Sasuke esclareceu - o formato dos olhos dela, grandes e expressivos. Você também faz um biquinho zangado igual o dela.

 

—Eu não faço biquinho quando estou irritada.

 

—Faz sim.

 

—Hum - ela virou o rosto contrariada e lá estava o biquinho, ele sorriu minimamente e ela se irritou mais ainda, comeu um de seus bolinhos e bebericou o chá, duas mesas distante deles Sakura e o ruivo conversavam, o rosto próximo como se trocassem confidências - Uma coisa eu não entendo - Sarada chamou sua atenção a ela novamente - Você obviamente não sabia da minha existência, o que significa que vocês romperam antes de ela descobrir que estava grávida, eu não entendo muito sobre concepção mas pelos pergaminhos de medicina da mamãe eu sei que precisa de um homem e uma mulher e que nove meses depois temos um novo ser humano, e pelo que eu observei das pacientes da mamãe há um intervalo de tempo até a gestação ser descoberta - Sasuke franziu o cenho, talvez pergaminhos médicos fosse menos recomendados do que os livros que Kakashi carregava para cima e para baixo - Acredito então que o rompimento do vocês foi neste intervalo de tempo. Ainda sim se, de acordo com o que você mesmo disse, minha mãe era tão importante para você, por que você não podia ficar com ela? - ela endireitou a postura - Por que você foi embora?

 

E ali estava a temível pergunta. 

 

Por que ele havia feito aquilo mesmo? Medo leva a atitudes idiotas, e ele tomou uma atitude mais do que idiota, mas proporcional a seu medo. Como explicar a sua filha a atitude idiota que tomou sem mencionar todo seu passado sangrento? Mesmo ciente de tudo ele próprio as vezes não entendia o por que daquela decisão infeliz. Sarada continuou lhe encarando em busca de respostas, e suspirando ele finalmente as concedeu - Eu e Sakura estávamos juntos sem que ninguém soubesse, eu não estava com residência fixa em Konoha naquela época mas estava na vila para o casamento de Naruto, e acabei estendendo minha estadia - ela estava novamente absorvida por suas palavras, insaciável por detalhes da vida de seus pais os quais nunca teve acesso - Uma noite eu voltei de uma missão e Sakura não estava em casa, na manhã seguinte uma das enfermeiras do hospital me disse que ela havia saído em missão a alguns dias, dois dias se passaram e sua equipe não retornou o Rokudaime estava prestes a enviar uma equipe para rastreá-los quando a equipe retornou na manhã seguinte, eles haviam sido atacados durante a missão, mesmo Sakura tendo curado os ferimentos mais severos dos outros e seus próprios todos ainda estavam péssimos, eu nem pude vê-la até o dia seguinte quando foi liberada. Foi aterrorizante - ele parou por um momento, a lembrança de horas sem notícias ao lado de Naruto na sala de espera - Alguns dias depois eu fui embora, no meio da noite, sem me despedir.

 

—Por que você fez isso? - a moreninha parecia indignada com a atitude do pai.

 

—Eu fui covarde - disse simplesmente, a expressão dela se suavizou perante as palavras dele - eu perdi toda minha família em uma noite, depois as coisas com meu irmão foram muito complicadas e no fim eu estava só, eu tentei me afastar do time sete indo embora da vila em parte por medo também, de novamente perder as pessoas que eram importantes pra mim - ela inclinou levemente a cabeça curiosa - Quando eu me dei conta de quão doloroso seria perder sua mãe eu tive medo, e fugi.

 

—Isso foi muito idiota - ela comentou ainda imersa em uma expressão pensativa - os adultos complicam tudo, qual a razão disso? Se você tinha medo de perder ela então ficasse e garantisse que isso não ia acontecer, isso é claro sem levar em conta o fato de que minha mãe não é nada indefesa, olha eu já achava ela forte antes de saber que ela era a discípula da Godaime, agora eu sei que ela é uma lenda.

 

Sasuke olhou para a filha completamente desconsertado, as vezes o pensamento simplificado de uma criança era o mais genial dos estratagemas, a simplicidade com a qual ela via o mundo era invejável -Eu não posso mudar isso, o que está feito está feito.

 

—Bom, acontece nas melhores famílias - ela cruzou os braços e lhe lançou mais um de seus olhares pesados - então como vai ser agora? 

 

Surpreso com a pergunta ele não pôde deixar de questionar - Como assim?

 

—Bem nós não somos mais ignorantes, você sabe que tem filha e eu que tenho pai, como vai ser pra nos dois agora?

 

Essa era uma ótima pergunta, e se Sasuke tinha muitas dúvidas, ao menos uma certeza ele tinha.

 

—Independente do que acontecer daqui pra frente, eu não vou perder você de vista - os pequenos olhos se arregalaram - eu já perdi sete anos da sua vida Sarada, não vou perder mais nem um segundo - ele se inclinou para ela - se você quiser eu prometo tentar ser um bom pai pra você, eu só - as palavras entalaram na garganta, mas ele já tinha dito tanto, não poderia ser difícil admitir seu nervosismo - eu só peço que tenha paciência, eu não sei como é ser pai.

 

—Bom eu não tenho experiência em ter um pai também - ela corou e disse - nós podemos aprender juntos 

 

E pela segunda vez Sarada fez Sasuke sorrir um sorriso largo que daria orgulho a Naruto.

 

&

 

—Ele está falando sobre como saber sobre ela é a realização de um sonho - Jung bufou - Sério? Esse é o estoico e frio Sasuke Uchiha? Onde está Madara Uchiha quando precisamos de um verdadeiro representante da família e …. Ai! - o ruivo levou a mão ao já crescente galo que se formava em sua cabeça, ele tinha sorte que Sakura tinha lançado apenas a xícara de chá e não sua taça de anmitsu, se já tivesse terminado a sobremesa ele teria muito mais que aquilo pra reclamar - Nikuya não seja má.

 

—Não seja bisbilhoteiro e pare de ouvir a conversa deles - ela ralhou para ele enquanto acenava inocentemente para a mulher de kimono que havia visto o uso indevido da louça.

 

—Eu não estou bisbilhotando, eles é que estão falando alto - o homem ao seu lado cruzou os braços cheio de razão.

 

—Não, eles não estão, você é que está esticando o pescoço pra poder ouvir, se continuar assim vai deslocar uma vértebra, ou acabar com um osso quebrado, estou terminando meu anmitsu.

 

—Você é cruel.

 

—Apenas dê privacidade a eles, há sete anos de conversas acumuladas - ela olhou para a mesa onde Sasuke e Sarada estavam e sorriu ao ver os lábios de Sasuke mexerem com bastante frequência, pelo menos ele não estava sendo monossílabo.

 

 Ele parecia ansioso, até nervoso e ela simpatizou com ele, Sarada provavelmente o estava encarando, cerrando os olhos e dando seu olhar de “me leve a sério ou você vai se arrepender” sua filha era marrenta e arrogante, seria aquilo um traço genético também? As vezes Sarada era tão diferente dela que se não tivesse passado por todo o parto duvidaria que teve alguma participação em sua concepção. Mas então ela lhe olhava com aqueles olhos grandes e pidões e sorria abertamente quando feliz e se irritava com relativa facilidade. Por anos foi assustador acordar ao lado dela, ver aquele rostinho e pensar que tinha a criatura mais preciosa do mundo toda pra si, Sakura nunca foi tão dependente de alguém como era de Sarada, ela era seu mundo todo nos últimos sete anos. Tudo o que podia esperar era que Sasuke a amasse e protegesse com um terço do que ela sentia por sua filha, então saberia que podia partir em paz.

 

—Por que você está aqui afinal? - voltou sua atenção a Jung que observava a dupla a frente.

 

O olhar violeta dele caiu sobre ela e o sorriso que contornou seus lábios foi lindo - eu não podia deixar minhas meninas sozinhas em um momento como esse - ela lhe devolveu o sorriso cúmplice - E já que não posso ouvir a conversa deles me entretenha - ele se inclinou para ela e lhe deu um olhar baixo e perigoso, Jung faria muitas mulheres caírem aos seus pés com aquele olhar, felizmente Sakura não era uma dessas. A colher encontrou a testa do ruivo com um som abafado - Argh! Por que tão agressiva? Pelo que eu vejo, ou melhor sinto, o tratamento com a Godaime tem tido resultados - ele esfregava freneticamente o local já vermelho.

 

—Infelizmente minha aparente boa saúde se deve mais ao fato de eu estar em repouso e bem alimentada, a shishou tem me enfiado vitaminas goela abaixo sem falar que Kito e Shizuka-sama estão em algum projeto de me engordar, acredito que queiram me vender para algum clã canibal - a gargalhada suave de Jung encheu os ouvidos e ela não pode deixar de sorrir também.

 

Nos últimos dez dias Sakura havia visto Tsunade diariamente para consultas e sessões, e a cada dia a médica mais velha constatava aquilo que Sakura já havia lhe alertado, simplesmente não havia tratamento viável para sua condição. Apesar de tentar não demonstrar, a rosada via em sua mestra a tristeza a cada exame, e como forma de melhorar seu bem estar e sua condição física ela estava suplementando sua alimentação fortemente. 

 

A expressão leve e divertida de Jung deu lugar a uma cautela que fez Sakura se preparar para o que viria - Algum progresso no tratamento?

 

—Primeiro, não podemos chamar de tratamento se não estamos tratando nada - o ruivo revirou os olhos diante de sua correção - e segundo, não Jung, nenhum progresso desde a última vez que perguntou, que por acaso foi ontem. - ele franziu o cenho diante de seu tom petulante e se preparou para protestar, mas antes de conseguir falar Sakura continuou - Jung, passei os últimos sete anos estudando meu problema, foi a própria Godaime que me ensinou e eu posso dizer que fui uma boa aluna, não vai ser em dez dias que as coisas vão se resolver. Progresso? Não temos nenhum, provavelmente não teremos também, o máximo que pode acontecer é a shishou me comprar um pouco mais de tempo, e se for assim eu fico grata também, a anos eu estou roubando tempo.

 

—Você não deveria ser tão pessimista, eu sei que você é uma médica incrível mas duas cabeças pensam melhor que uma. 

 

—Não estou sendo pessimista, apenas realista - ela se inclinou mais para ele, diminuindo o tom da voz - sinceramente eu me considero otimista já que eu até faço planos para os dias seguintes quando é mais provável que eu único compromisso para o dia seguinte seja meu velório.

 

—Eu amo a forma como você faz piada com sua própria morte - ele comentou acidamente sarcástico.

 

—Bem eu estou de bom humor.

 

—Eu posso saber a origem deste bom humor? 

 

—Nada em especial - mentira - Apenas o fato de não estar em fuga constante é ótimo para o humor, além disso este anmitsu está divino - Na verdade ela estava mesmo feliz por isso mas ver Sasuke e Sarada juntos coroava seu bom humor.

 

—Você não existe.

 

—Em breve não existirei mais mesmo.

 

—Para com isso - ele revirou os olhos e ela riu divertida enquanto passava o dedo na borda da taça.



&



Ela riu e ele revirou os olhos, algum tipo de piada interna? Não dava pra saber, Sasuke foi atraído pelo riso dela e apenas pode contemplar a evidente intimidade que Sakura e o ruivo compartilhavam. 

 

—Não precisa se preocupar - a voz de Sarada lhe roubou a atenção e ele pousou os olhos na figura da filha a raspar o pires que antes continha a pasta picante e forte que ela pediu junto aos bolinhos, ela havia se distraído com eles alguns minutos atrás e ele se pôs a observar os dois sentados na mesa próxima.

 

—Com o que? 

 

—Mamãe e Jung - ela esclareceu e voltou a olhá-lo.

 

Contrariado por ser pego no flagra Sasuke corou - não estou preocupado - Uchiha sempre sendo Uchiha.

 

A menina revirou os olhos - Está fazendo a mesma expressão que o padrinho faz quando observa mamãe cuidar de pacientes homens que lhe dão muita atenção ou que parecem bobos perto dela. Karou-chan me disse que isso é ciúme - ela ajeitou o óculos - não precisa ter ciúmes da mamãe. Ainda que o padrinho olhe bobo pra ela, Kaoru-chan disse que isso é paixão, mamãe trata ele como se fosse um irmão, ela obviamente ama ele, mas não é paixão ou amor do tipo - ela parou por um tempo, coçou a cabeça e continuou - não do tipo amor de casal. Até eu sei disso.

 

Apesar das milhares de questões que ele quis levantar sobre a relação de Sakura com o ruivo, no momento Sasuke queria mais saber sobre Sarada e a vida que ela levou nos últimos anos - Quem é Karou?

 

—Uma das meninas que trabalham com Shizuka-sama na Taverna, ela costumava a me ensinar a jogar hanafuda, ela é muito boa.

 

—O que é essa Taverna? - a curiosidade sobre o lugar crescia, Sarada já havia mencionado o lugar antes mas agora parecia para ele algo além do óbvio sugerido pelo nome.

 

—O lugar onde nós moramos, lá o padrinho recebe as  missões e é onde Shizuka-sama consegue as suas canções, é assim que ela chama os segredos que as meninas ganham dos fregueses durante o jogo ou coisas do tipo. - Como Sasuke havia deduzido a “Taverna” era algo como uma uma organização ninja, e aparentemente Sarada foi criada envolta disso.

 

—O que mais eles te ensinaram? - curioso, Sasuke questionou a filha.

 

—Hummm, muitas coisas - um sorriso rapidamente se desenhou em seus pequenos lábios - Karou-chan me ensinou Hanafuda e Karuta, ela boa com baralhos, tem mãos leves e ágeis. Yame-chan é boa de conversa, você pode dar crédito a ela por seu interrogatório nada discreto ter sido descoberto - Sasuke bufou - Kito-nii-san e mamãe me ensinam katas e treinam comigo taijutsu, Kito-nii é muito forte . O padrinho tem me ensinado furtividade e a me esconder desde que eu aprendi a andar, antes era com brincar de esconder na floresta, mamãe brincava também mas depois de um tempo ela não conseguia mais me achar e agora só o padrinho brinca comigo, ele é um caçador muito habilidoso, eu ganhei meu primeiro conjunto de kunai e shuriken no meu quinto aniversário e ele me ensinou, mamãe disse que eu tenho talento natural para lâminas - Sasuke sorriu presunçoso - Shizuka-sama gosta de jogar shogi comigo, eu achava chato mas depois passei a gostar.

 

—E Sakura, o que ela ensina a você?

 

—Mamãe me ensina principalmente exercícios de controle de chakra, ela também diz que eu tenho talento natural para isso, ela diz que quando for a hora vai me ensinar ninjutsu médico. Ela gosta de comprar livros pra mim e jogos de memorização, eu gosto dos livros mas acho os jogos chatos - Sarada endireitou a postura, ela era bem tagarela agora que a mãe estava acordada - O que eu mais gosto é como mamãe parece saber tudo e sobre tudo.

 

—São os jogos de memorização - Sasuke comentou - ela costumava fazer palácios mentais e memorizava pergaminhos médicos inteiros. 

 

—Sim, mas ela parece que faz isso pra tudo. Quando viajamos ela costumava apontar para os lugares e me contava as histórias sobre as cidades, se eu perguntasse o nome de uma planta ela sabia e me dizia para que serve.

 

—Quando nós éramos jovens sua mãe era tachada como ninja de papel, um shinobi que tem como única habilidade sua aptidão pelos estudos, ela não tinha uma kekkei genkai ou grandes reservas de chakra, Sakura usou o que tinha a sua disposição, seu cérebro brilhante e seu controle absoluto dos chakras e se tornou uma das melhores kunoichis de sua geração - ele levantou os olhos para a rosada um pouco distante, ele tinha muito orgulho de quem ela havia se tornado.

 

—Sim, mamãe é incrível.

 

Sarada também tinha orgulho da mãe, ela tinha que ter, Sakura havia criado a filha diante de todas as dificuldades desde a gestação, e Sasuke já tinha visto como ela era uma mãe amorosa e dedicada. Ele queria ser um bom pai também.

 

—Todos ensinaram algo a você - o olhar de obsidiana dela se concentrou nele - eu posso ter algumas coisas a ensinar também, se você quiser.

 

Sarada corou e sorriu lindamente, um sorriso nem dele nem de Sakura, um sorriso Sarada - Eu vou gostar de aprender - ela mordeu os lábios - pai.

 

Sasuke não se lembrava da ultima vez que se sentiu daquela maneira, era algo que transcendia a felicidade - obrigado.

 

&



Algo estava errado.

 

Quando acordou aquela manhã seu coração estava apertado, a sensação de uma mão envolvendo e fincando as garras em seu pescoço como um fantasma a espreita. Sakura não estava confortável na própria pele, se sentia observada, ela quase podia sentir um sussurro cruel ao pé do ouvido.

 

A sensação havia durado a manhã toda, como um espectro agarrado a ela, mas agora como uma lâmina afiada ela lhe rasgou e de repente ficou muito pior.

 

—Qual o problema? Você está pálida - Jung se aproximou dela, a sensação devia estar lhe afetando mais do que previu, felizmente Sarada não estava ali para vê-la.

 

—Eu não sei - sussurrou sincera - uma sensação ruim.

 

Ele alcançou seu braço e lhe apoiou e ajudou a caminhar do balcão de sua cozinha ao quarto, sentou na cama sob os olhos atentos do homem ao seu lado - Está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame a Godaime?

 

—Não, não é isso - apoiou a cabeça na mão - é mais como um pressentimento, onde está Sarada, Sasuke passou para buscá-la? - não tinha visto a filha desde o café da manhã, e nos últimos dias isso significava que Sasuke estava com ela, ele costumava passar as manhãs com ela desde o dia em que conversaram sobre sua paternidade, a mais de uma semana. Ela pouco tinha visto ele, sinceramente o estava evitando, um Sasuke bom pai era pedir demais para seu auto controle. Naquela manhã ela havia saído com Shizuka-sama para o centro da vila, as pessoas que a reconheciam ainda se assustavam ao vê-la andando pela vila como um fantasma saído direto do túmulo, andar ao lado de uma idosa que como Ino zombou tinha uma aparência fantasmagórica não ajudava, por isso também ela pouco saia de casa. Quando chegou e o aperto não diminuiu ela se viu cansada demais e resolveu dormir, agora quase meio dia nem Sarada nem Shizuka-sama nem Kito estavam a vista.

 

Na última semana o último dos kage da aliança shinobi enviou seu apoio a Naruto e segundo o próprio loiro em mais alguns dias Sakura seria oficialmente reintegrada à vila e então com o apoio dos demais kage da aliança a caçada real a Yoshiro começaria.

 

—Ele enviou um falcão logo após você sair dizendo que só poderia buscar Sarada a tarde, alguma coisa inútil no escritório do Hokage. Kito então assumiu o papel e levou ela para algum lugar, Shizuka-sama saiu a procura deles assim que vocês chegaram, a velhinha tem mais energia que nós todos juntos.

 

Em meio a um sorriso Sakura assentiu. Tentou respirar fundo e relaxar mas não conseguia, era como estar naquela floresta de novo, Sarada no colo e fugindo de Yoshiro.

 

“Você está em Konoha, você está segura”

 

Repetir isso como um mantra também não funcionava, ao seu lado Jung continuava agitado, o aperto no peito parecia maior.

 

Sarada.

 

Ela estava tendo uma crise de ansiedade? Um ataque de pânico? Por quê?

 

Sarada.

 

Por dias ela andou pela vila e reencontrou amigos de sua classe de guenin, viu Naruto com frequência e sua Shihou diariamente, os muros da vila vistos de sua varanda ao longe no entanto não lhe traziam mais o conforto que deveriam.

 

 Ela estava hiperventilando.

 

—Nikuya? - 

 

Sarada.

 

Ela se levantou, o que estava acontecendo? Quase caiu mas foi amparada por Jung, suas pernas estavam moles, havia uma necessidade primordial, e ela se sentia perdida.

 

Sarada.

 

Sarada.

 

Sarada.

 

—Jung, onde está Sarada? 

 

—Com Kito Sakura, eu acabei de dizer. Tem alguma coisa errada, você está me assustando -  a voz dele falhou - Você está chorando?

 

Sakura levou a mão aos olhos e sentiu a umidade - Droga - sussurrou.

 

Sentiu o braço de Jung lhe apoiar e em seguida as mãos ásperas limparem suas lágrimas - O que há de errado?

 

—Tem alguma coisa errada mas não é comigo. Jung - ela soluçou, estava chorando como uma criança e mal sabia o porquê - Eu quero minha filha, traz ela pra mim.

 

—Sakura - ele envolveu o rosto dela com ambas as mãos e fez encará-lo - Olha pra mim. Ela está bem, você é que não está. Vem, vou te levar pra Godaime agora.

 

—Não - ela gritou e se afastou dele, ainda sem força se viu no chão no momento seguinte, caiu sentada, olhou para as mãos trêmulas.

 

—Sakura! - o ruivo se lançou ao chão para ajudar a rosada - Você não está bem, temos que ver Tsunade agora, eu nunca vi você assim. - os olhos suplicantes dele partiram seu coração.

 

Jung achava que era ela quem não estava bem, ele não entendia. Alguma coisa, aquele laço que por mais longe que fosse esticado nunca seria quebrado, a conexão entre mãe e filha, algo estava errado sim, mas não com ela, com Sarada.

 

E o que lhe assustava mais naquele momento era que ela estava fraca como se tivessem lhe tirado o chão, como se lhe tivesse tirado seu mundo.

 

E Sarada era seu mundo.

 

Contra todos os seus protestos Jung a levantou e começou a caminhar até a porta, tudo parecia um borrão e sua cabeça parecia prestes a explodir, tudo o que ela queria era ver sua filha. Antes de eles alcançarem a porta no entanto ela foi escancarada por uma figura pequena vestida em um kimono azul turquesa, o cabelo sempre arrumado no coque estava bagunçado e um fino fio vermelho escorria de sua testa, a respiração ofegante - Jung, rápido... Kito… Sarada-chan...

 

—O que? - a voz incrédula do ruivo reverberou os pensamentos em branco da própria Sakura. Ele a deixou em choque apoiada ao balcão e foi ao socorro da anciã que sucumbia ao peso da idade. Jung a acomodou no tablado e só então voltou a lhe falar, a voz aparentemente firme escondia uma nota de apreensão - Shizuka-sama, respire devagar e fale.

 

Obedecendo ao homem que ainda segurava sua mão Shizuka-sama respirou fundo três vezes antes de falar - Eram muitos, nos cercaram no campo onde Kito e Sarada-chan treinavam - respirou mais uma vez. Tudo desde aquela manhã havia lhe indicado que algo estava errado - Eu não vi como começou, uma pancada na cabeça - respirou de novo. Por favor não - Mas eu vi como terminou, Kito …. havia muito sangue e Sarada - Sakura fechou os olhos agarrou a pedra do balcão até os ossos doerem.

 

—Onde ela está - somente porque Jung e Shizuka a encararam Sakura soube que fora ela a fazer a pergunta, ela não reconheceu a própria voz - Onde está minha filha - uma profunda angústia ameaçava lhe afogar.

 

Os olhos astutos da idosa se banharam em lágrimas quando ela falou - Eles a levaram.

 

Uma katana atravessada em seu peito teria doído menos do que aquelas palavras.

 

—Quem? - era a voz de Jung que ela não reconhecia agora, ela ouviu o som de algo quebrar.

 

Eles a levaram

 

Eles a levaram

 

Sakura não conseguia respirar.

 

—Yoshiro - as lágrimas rolaram - foram os enviados dele.

 

Um frio sepulcral lhe arrepiou a espinha, ela ouviu Jung xingar, ela ouviu Shizuka-sama chorar. O mundo desapareceu sob seus pés, o desespero encheu seus pulmões no lugar do oxigênio.

 

Sarada foi levada.

 

Seu maior pesadelo se tornou realidade. A mão invisível em seu pescoço estava a ponto de lhe estrangular, seu peito estava mais apertado do que nunca. 

 

Sarada foi levada.

 

Sakura não conseguia respirar.

 

Yoshiro a levou.

 

Ela sentiu cada célula de seu corpo entrar em choque. Sakura se lembrou do dia em que teve que deixar Sarada pra trás quando fora ela a ser levada, na época achou que não havia dor maior, ela estava tão enganada. As garras em seu pescoço lhe arranhavam a garganta, ela estava tremendo. 

 

Yoshiro levou Sarada.



Ela sentiu uma umidade pegajosa em seus pés, por um momento sua visão tomou foco novamente e ela olhou para os pés onde um conjunto de gotas vermelhas pintava o chão, ao lado uma pequena pilha de poeira pedrinhas, ela olhou para o balcão e viu seu tampo rachado e quebrado, sua mão vermelha pela força exercida e pelo sangue do corte longo na palma. A dor havia lhe trazido de volta a realidade.

 

A dor nunca foi tão boa.

 

Ela não podia fraquejar agora, Sarada foi levada, e Sarada iria precisar dela, se sua filha era seu mundo ela era o mundo dela também, seu porto seguro para onde corria quando com medo, era em quem se enrolava de noite para roubar calor, era por quem chamava quando se machucava.

 

Raiva pura encheu seu pulmão expulsando o desespero.

 

Jung tinha se levantado e encarava a mão ensanguentada de Sakura, ela olhou para ele e o ruivo leu em seu olhar o que fazer, ele sumiu no instante seguinte. Sakura se endireitou, a força havia retornado a suas pernas, a adrenalina correu por suas veias, Sarada precisava dela, e sua filha ficaria bem até que ela chegasse até ela, ela tinha que ficar.

 

Eles haviam levado sua filha.

 

Eles lhe tiraram seu mundo.

 

Eles iriam pagar por isso.


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Notas finais do capítulo

A história vai mudar um pouco a partir de agora. Comentem por favor, amo saber suas opiniões!



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