Reino em Cinzas escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 24
Merida




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Todos levantaram bem antes do sol nascer – também tinham se deitado mais cedo do que de costume. Merida tentou impedir as mãos de tremer enquanto arrumava seus poucos pertences em uma bolsa. As meninas faziam o mesmo, logo parando para lavar os rostos, arrumar os cabelos e saírem para tomar o café da manhã.

O mundo ainda estava completamente escuro do lado de fora, mas foi até uma atividade interessante. Merida gostava de realizar coisas novas fora do comum, mesmo que fossem extremamente pequenas como despertar enquanto o restante das pessoas dormia. Não demorou para escutar de longe os cavalos dos berserkar e de Hilde, que logo entraram no salão para esperar por todos.

Suas mãos ainda tremiam de forma incontrolável. Como sabia que demorariam mais tempo para terminar a última reunião e tudo seu já estava pronto mesmo, Merida deu um salto da mesa assim que engoliu a última colherada do mingau e correu de volta para o quarto. Ali poderia treinar uns feitiços rápidos para se distrair – das pessoas e da ansiedade.

No dia anterior, contara a Seiliegh que iriam para Dunbroch e a feiticeira lhe passou mais exercícios do que de costume para que fosse praticando no caminho. Ao final da aula, a mulher sorrira e disse:

— Nos vemos lá, alteza. Oh, quero dizer, Mealla — A casualidade com a qual ela demonstrou saber muito bem quem Merida era tanto lhe deu calafrios quanto a divertiu. Claro que a mulher tinha conhecimento o suficiente para juntar as peças e saber que seu nome jamais fora Mealla, como lhe dissera quando se conheceram. Mas valorizava o fato de a instrutora não a chamar pelo nome verdadeiro de todo modo.

Os feitiços de ocultamento não eram perfeitos, porém era muito melhor neles do que no escudo. Por mais que tentasse, não conseguia manter a visualização por tempo o suficiente para repetir o que fez naquele dia, quando foi capaz de realmente ver sua energia mágica.

Também estava cada vez melhor em direcionar sua energia sobre um objeto ou uma pessoa, ao ponto de sentir a temperatura do alvo aumentando ou diminuindo quando se concentrava, mesmo que não conseguisse enxergar o que fazia com os dois olhos mundanos. De acordo com Seiliegh, era seguindo disso em diante que ela seria capaz de usar a magia para atacar alguém, não só se defender. Esses seriam seus ensinamentos básicos para enfim dialogar com os daoine sìth do círculo de pedras: defesa, ocultamento, revelação e ataque. Dois lados de duas moedas. Os próximos aprendizados dependeriam do que os sìth exigiriam como ressarcimento e de qual era a “ameaça sombria” que se esgueirava pelo reino.

A garganta de Merida se fechava sempre que lembrava dessa frase. Uma ameaça oculta. Qual ameaça teria passado despercebida por todos? No fundo, sabia que tinha a ver com seus pesadelos, com os monstros que via neles, os sons das asas draconianas, de cantos antigos em línguas perdidas no meio da escuridão. Seiliegh fora bem clara. Tudo que viviam agora eram apenas um grão de areia perto do que vinha aí, meras distrações que deveriam ser resolvidas o quanto antes para se focarem no que realmente deveriam.

Mas no que deveriam focar?!

Ela deu um pulo quando a porta abriu de repente. Não foi capaz de segurar um gritinho vergonhoso também. Mas era só Muire, numa mistura de susto e divertimento.

— Desculpa, não quis te assustar.

— Tudo bem — Merida riu. — Eu só me distraí.

— Treinando magia? — Ela perguntou com um brilho travesso nos olhos. Merida assentiu. — Eu acho isso tão legal. ‘Cê me ensinaria? Quer dizer, se puder, não é.

O calor aconchegante em seu peito ao ouvir aquilo foi o bastante para empurrar suas ansiedades para longe de novo. Bem, não se lembrava de Seiliegh ter dito em momento algum que não poderia compartilhar seus conhecimentos, então, por que não? Agora elas poderiam treinar juntas magia e lutas. Como amigas de verdade.

— Claro! Vem, sente aqui, vou te mostrar o básico.

Muire obedeceu com saltinhos quase infantis de empolgação. Merida lhe ensinou passo a passo, da mesma forma – ou o mais parecido possível – do que sua própria instrutora lhe mostrara. A moça ouvia com atenção e repetia os exercícios com dedicação notável.

Em momento algum pareceu ter dito dificuldade para entender coisas que a própria princesa achara confusas de início, o que era interessante. Quem sabe Muire se tornasse uma feiticeira ainda melhor do que uma guerreira. Seriam um grupo de amigas bem diverso nesse sentido – ainda mais considerando como Afraig e Bodicca se mostravam lutadoras com altíssimo potencial, apesar de não conseguir imaginá-las aprendendo feitiçaria; enquanto Deirdriu comentara diversas vezes sobre seus conhecimentos de socorros médicos e de costura.

As duas tiveram talvez só uma hora para os treinos. Então, Deirdriu bateu à porta para chamá-las.

— ‘Tão todos prontos. Vamos. Tem que preparar os cavalo’.

Prontamente, se levantaram e seguiram para o pátio. Os ventos eram tão frios que fez Merida se encolher e cruzar os braços ao redor do corpo.

Isso a deixou em choque.

Estava ali há dois meses agora. Dois meses! Seu aniversário foi em agosto e, depois de três semanas, viera para o assentamento. Então agora deveriam estar próximos de novembro! Esses eram os ventos de inverno mais e mais próximos.

— Ei. — Era a voz de Astrid ao seu lado, trazendo-a de volta à realidade. Um garanhão alto de pelagem marrom a acompanhava, puxado pelas suas rédeas. Seus olhos brilhavam calmos, mesmo com tantas pessoas andando de lá para cá e dragões batendo as asas para se alongar. O que já teria visto ao longo da vida para se manter calmo? — Esse é o seu cavalo. Nós vamos por terra até chegar mais perto da fortaleza, depois voamos.

Merida alisou o focinho do animal que relinchou baixinho em resposta. A princesa sorriu. Sentia tanta falta de cavalgar, dos saltos do galope, dos ventos nos cabelos e do seu querido Aengus. Sabia que fez o certo ao deixá-lo em casa e escolher outra montaria quando saiu escondida, já que os seus sequestradores levaram o animal que estava com ela. Não conseguiria suportar se tivessem feito isso com Aengus.

Enfim, lembrou-se de assentir para Astrid.

— Obrigada. Vamos então — respondeu, mais uma vez tentando não deixar o nervosismo transparecer.

Montar foi tão fácil quanto deslizar por sobre o lombo do cavalo. Ele, em resposta, a obedeceu de pronto com um leve chacoalhar de cabeça. Merida sorriu e o acariciou mais uma vez. Ao seu redor, as amigas faziam o mesmo e se aproximavam dela. Do outro lado, Soluço e Astrid também já estavam prontos.

Os três se entreolharam, Soluço assentiu e bateu as rédeas do seu cavalo. A viagem começava.

Merida seguiu na frente, perto dos chefes e dos amigos deles, com as meninas à sua volta. Por um bom tempo, os únicos sons eram dos cascos dos cavalos e das outras pessoas conversando, apesar a princesa permanecer calada. Por enquanto, tentava ao máximo prestar atenção na sensação da cavalgada, no vento frio que rufava as folhas, no sol que nascia e nos pássaros que começavam a saudá-lo; qualquer coisa que tirasse de sua mente a ansiedade de imaginar o que aconteceria em Dunbroch.

Entre a dança das árvores à sua esquerda, Merida vislumbrou brilhos azulados correndo entre as plantas. Os sussurros etéreos e agudos sopravam com o vento para os seus ouvidos e, por um segundo, pensou ter visualizado a imagem de Seiliegh pela mata, mesmo que seus olhos normais não a vissem. Ela e os espíritos a acompanhavam. Este era o caminho certo a se seguir.

— Menina.

Merida levantou a cabeça. O Velho segurava as rédeas para desacelerar seu cavalo e ficar ao lado dela. Sua expressão era a mesma de sempre: aquela cara de avô, tranquilo, pensativo e intrigante.

— Venha, viaje comigo. Podemos conversar no caminho.

— Se eu entender tudo — Merida riu, assim como o homem.

— Ótima chance para aprender o que não sabe.

A princesa ergueu as sobrancelhas.

— Verdade.

O Velho enfiou a mão em uma bolsa de couro que carregava ao seu lado e retirou dali um vidrinho e um pequeno palito. Calmamente, ele abriu o recipiente e mergulhou o palito, que saiu pingando algum tipo de tintura. Merida tentou fingir não estar observando, mas ele chamou por sua atenção de todo jeito.

— Veja.

Ele virou o pulso esquerdo para cima e desceu o palito pela pele envelhecida. Traçou quatro linhas retas paralelas, duas verticais e duas horizontais no meio dessas. Nas pontas de cada uma, três pequenas curvas. No quadrado que se formou no meio, mais duas linhas que se cruzavam, formando um X. E, por fim, em cada pequeno espaço, mais quatro runas. *

Merida acompanhou bem os movimentos. Era surpreendente como mesmo idoso e sobre um cavalo, ele fez traços quase perfeitamente retos. Ao terminar, ele lhe entregou o palito e apontou para sua runa. Era a sua vez agora.

A princesa tentou o seu melhor para deixar a mão firme, mas devia admitir que era difícil. Mesmo assim, não desistiu e então, lá estava, o desenho com uma tinta azul sobre sua pele.

— Máladeilan — o Velho disse.

— Máladeilan — Merida repetiu, devagar.

O que ele disse depois, ela não entendeu e foi preciso chamar por Sean. Ele estava alguns metros atrás deles e precisou apressar o seu cavalo para alcançá-los. O Velho repetiu o que tinha falado e Sean traduziu:

— É uma runa para vencer em julgamentos.

Merida ergueu as sobrancelhas. O Velho sorriu e piscou para ela. Máladeilan. É, definitivamente precisaria desse feitiço hoje. Ela assoprou a tinta um pouco e puxou a manga do vestido para baixo. Assim, ninguém nem saberia que a runa existia. Só esperava que funcionasse de verdade.

— Vovô! — A voz de Soluço veio como um corte exaltado.

O Velho não ligou, até riu enquanto seu neto se aproximava do trio. O jovem chefe disse algo com a voz exasperada, mas o avô permaneceu com a mesma calma de sempre, respondendo com uma única frase. Foi o suficiente para que Soluço abrisse a boca, fechasse, sem dizer nada, franzisse o cenho e, enfim, desse de ombros com um “ah!” longo.

Sean riu observando a cena e se inclinou por sobre o ombro da princesa.

— O chefe disse que não quer depender de magia para resolver os próprios problemas. O Velho respondeu que, na situação em que estão, não podem se dar ao luxo de negar qualquer tipo de influência, física, de inteligência ou mágica. Soluço não teve o que dizer.

Merida riu.

— Porque o Velho está certo.

Sean gargalhou com eles. Soluço, pelo que Merida viu de canto de olho, ainda parecia contrariado em admitir que o avô estava certo.

— E você? Deu de aprender as galdrastafir agora?

— Talvez — Merida ergueu uma sobrancelha. — Se você repetir o nome e me explicar o que é.

Galdrastafir. Os bastões mágicos. Runas mágicas. Galdra significa magia, feitiço. Stafi são os bastões, as linhas.

— Oh! Sim, acho que estou aprendendo.

— E as bindrunes — o Velho completou. — Logo vou te ensinar.

Bindrunes?

— Uma junção das runas mais simples, que usam para escrever também, para um objetivo específico. — Sean explicou. — Minha mãe fazia algumas nos seus instrumentos de trabalho ou de casa, nas portas também para proteção.

— E acha que eu vou aprender tudo isso nessa viagem? — Merida perguntou com um quê de ousadia e brincadeira na voz. Essa frase, Sean precisou traduzir ao Velho. Quando ouviu a pergunta, ele riu.

— Não tudo. Um pouco. O suficiente para hoje. A viagem é longa. Temos tempo.

Mais uma vez, não tinha como discordar.

— Não me surpreenderia — Sean declarou. — A princesa que usou magia, que depois resolveu tudo sozinha e ajudou a livrar Dunbroch de um antigo príncipe amaldiçoado. Se tem alguém com quem magia rúnica combina, é com você.

Quase tudo, ela quis corrigir, mas conteve a língua. Por agora, apenas sorriu em resposta ao elogio.

De fato, a viagem duraria horas e Merida não deixou de se surpreender com o quanto falar com o Velho ajudou-a a não perceber o tempo passando. Também não esperava aprender tanto de uma vez, contudo, lá estava, com mais três runas desenhadas nos braços abaixo das mangas e com um vocabulário ainda mais aprofundado.

Por várias vezes repetidas, o Velho fez Merida cantar as runas com ele – mesmo que ela tivesse insistido que sua voz seria horrível para isso, quando aquele velho queria algo, ele conseguia – até que os nomes entrassem em sua mente. Fé, Úr, Thurs, Áss, Reið, Gebo, Wunjo, Hagall, Nauðr, Ís, Ár, Eihwaz, Perthro, Elhaz, Sól, Týr, Bjarkan, Ehwaz, Maðr, Lögr, Ing, Dagr, Othal. Ainda não sabia como inscrevê-las, mas agora não tinha mais como esquecer os nomes.

E, pelo visto, ela não fora a única que usou a conversa para se distrair. Em um momento, Afraig a cutucou e apontou para sua esquerda, mais à frente. Muire conduzia sua égua distraída, olhando para baixo um pouco envergonhada, mas claramente atenta em tudo que Melequento falava ao seu lado. Os dois paravam em vários pontos da conversa para gesticular, tentando se entender sozinhos.

Afraig riu baixinho e Merida balançou a cabeça. Então realmente tinha alguma coisa acontecendo. Bom, ou só estavam conversando mesmo, quem saberia? Entretanto, de hora em hora, quando fazia uma pausa das aulas com o Velho para olhar ao seu redor, ainda via os dois ali, com a conversa firme e fluindo. O que conseguiu mesmo notar foi como Muire fazia de conta que não sabia que as amigas a observavam de longe, mas suas bochechas mais vermelhas que o fogo e os olhos rápidos dando miradas para trás não deixavam enganar.

O sol estava alto quando Merida reconheceu as colinas que subiam. Seu coração bateu tão forte que parecia que ia explodir, o ar subitamente sumiu de seus pulmões. Foi ali que fizeram uma pausa para que os cavaleiros de dragão montassem e seguissem viagem pelo ar, com os outros seguindo por terra à frente deles. Lembrar que precisavam demonstrar seu poderio para que seu pai não resolvesse atacar só serviu para deixá-la ainda mais ansiosa.

As mãos de Muire e Afraig cobriram seus ombros. Ao seu lado estavam Bodicca e Deirdriu com sorrisos amigáveis.

— Calma. Vai dar tudo certo.

— Não sei... — murmurou.

— ‘Tamo co’ cê — Bodicca disse. As outras sorriram e assentiram.

Merida sentiu os olhos ardendo, mas não queria chorar. Não ainda. Mas agora tinha a força renovada para continuar cavalgando.

Subiram e desceram mais colinas, até uma subida íngreme entre as matas que sabia ser a última antes do castelo. Ela arfou. Era agora. Bateu as rédeas e forçou o cavalo a continuar subindo, subindo, subindo, para enfim ver os campados verdes e abertos do topo da falésia de Dunbroch.

Lá estava. Igual antes. Igual sempre. Os muros de pedras cinzenta, o musgo subindo pelas paredes, as torres altas e arredondas.

E...

Todo o exército do rei à sua frente.

Bom, isso não era surpresa. O rei Fergus precisava mostrar o seu poderio, assim como os nórdicos estavam fazendo. Pelo visto, era assim que muitas reuniões diplomáticas eram feitas no mundo real. Ela continuou avançando, passo a passo, e então o viu.

O coração dela parou de bater e acelerou ao mesmo tempo. Merida quase não pôde enxergar o pai entre as lágrimas que inundaram seus olhos; ainda assim, o que conseguiu ver foi como se vislumbrar em um espelho. Lá estava ele. Aqueles ombros largos, as mãos enormes segurando as rédeas de sua montaria, o rosto já tão vermelho quanto os cabelos ao vê-la. Juntos, sorriram um ao outro e assentiram.

Fergus virou seu cavalo e gritou:

— Vamos, abram espaço!

Os homens obedeceram de pronto e assim a procissão seguiu para dentro das muralhas, agora com o rei à frente. A voz dele soou estranha. Era a mesma de sempre, mas era como se seus ouvidos precisassem se acostumar novamente ao som.

Por onde passavam, rostos curiosos e apavorados os acompanhavam. Merida os fitou de canto de olho. Diferente do que esperou, as pessoas pareciam sorrir quando a viam, levando as mãos ao peito ou erguendo-as aos céus. Então não passaram a odiá-la de verdade depois do seu aniversário?

Dessa vez, não conseguiu segurar uma lágrima rebelde ou o riso. Merida os encarou diretamente agora e acenou. As pessoas a queriam de volta, as mesmas que a viram crescer ali e correr pelos prados, que a viram transformar a mãe em urso, quase começar uma guerra e então enfrentar a todos para salvar a rainha. Ela riu. Mais uma vez, sua mãe estava certa desde o começo quando a aconselhou a só esperar um pouco.

Contudo, as reações não eram as mesmas para os seus acompanhantes e isso fazia seu peito doer.

As expressões, alegres ou feias, viraram gritos acompanhados pelo som das rufadas de ar sobre sua cabeça. Fergus olhou para cima assustado, e nem ele conseguiu segurar o queixo que pendeu aberto. No alto do céu, os dragões flutuavam, cruzando o campado com apenas duas batidas de asas e circulando as torres como aves marinhas gigantescas. As escamas azuis e amarelas pareciam um reflexo do mar com a luz do sol, e os chiados reptilianos ainda a faziam se arrepiar, quem dirá as pobres pessoas que os viam pela primeira vez.

— Pai! — Ela teve que gritar ao seu lado.

Fergus abaixou os olhos, estupefato, talvez mais ainda ao ver o quanto a filha parecia tranquila.

— Vamos! Temos que ir!

O rei engoliu em seco e olhou para cima mais uma vez. Foi preciso mais um minuto para se recompor e prosseguir a marcha, apesar de ela ter certeza que o homem ainda estava perturbadíssimo – e provavelmente continuaria assim por todo o tempo que ficassem lá.

Enfim, ultrapassaram a última linha de muralhas e chegaram ao grande campo diante da fortaleza. Ali, seu pai já tinha alcançado um palanque de madeira que fora montado para abrigar a família real – incluindo o primo que não via há mais de um ano –, os membros do conselho e... os chefes dos clãs?! Merida arfou. Não havia dúvida, eram eles, ali em Dunbroch: os lordes MacIntosh, Dingwall, o jovem MacGuffin e uma moça loira ao seu lado.

Quase ninguém a olhava – com exceção de seus pais, irmãos e dos jovens que intercalavam as atenções entre ela e os céus; os outros todos encaravam o alto com os queixos caídos. Cada rufar de asas dos dragões os fazia saltar. Merida quis rir, mas sabia que não estava em posição de julgá-los, não depois de...

Ela balançou a cabeça e, ao chegar a poucos metros do palanque, segurou o animal e apeou. Logo em seguida, todos pararam e os cavaleiros de dragão desceram em uma dança circular até pousarem.

O tempo parou e o silêncio era tanto que a ensurdeceu.

Foi preciso só um segundo de hesitação e então, Merida, seus pais e seus irmãozinhos correram uns aos outros. O choque da colisão reverberou pelo seu corpo, mas logo foi amortecido pelos braços enormes e quentes do rei Fergus. Ela sentiu também as mãozinhas dos meninos puxando seu vestido e os cabelos soltos de Elinor roçando pelo seu rosto. Todos choravam tanto que soluçavam e continuaram ali, se abraçando, até quase parecer que se fundiriam em um ser só.

— Bem-vinda de volta, minha menininha valente — sua mãe disse em seu ouvido com a voz trêmula.

Era de seu pai que vinham os soluços mais emocionados.

— Pai?

Ele hesitou por um tempo, segurando o rosto dela entre suas mãos. Enfim, respirou fundo e soltou, de uma vez só junto com o ar:

— Me desculpe... Me desculpe por ter... me afastado de você. Eu estava...

— Eu sei — ela falou, retribuindo o gesto, limpando as lágrimas do rosto dele. — Eu sei. Tudo bem, eu estou aqui agora.

Fergus assentiu e a abraçou de novo.

— Agora eu preciso me recompor e atender logo essa gente, ou ninguém mais vai me respeitar aqui — ele brincou enquanto limpava o rosto.

— Como se algum dia o senhor tivesse se importado com o que acham de você — Merida disparou. O rei gargalhou em resposta.

A risada foi imediatamente engolida quando Fergus se recompôs e analisou melhor os cavaleiros e chefes à sua frente. Passando os olhos de um em um, Merida viu o rosto do pai se fechando e enrubescendo; não de qualquer tipo de vergonha, não, mas sim o fogo da sua fúria.

O que deu errado? O que ela não sabia?

Merida só percebeu que Sean também estava ali na frente quando viu sua sombra se aproximando ao seu lado e se preparando para a longa sessão de tradução pela qual passaria. Ela virou a cabeça e viu os berkianos, os berserkar e Hilde se aproximando. Voltou sua atenção aos pais e aos lordes.

— Pai, mãe... Lordes. — Merida começou, passando o olhar sobre cada um enquanto falava. Ao se voltar aos nórdicos, ergueu uma das mãos para mostrar a quem se referiria. — Estes são o chefe Hikken Steinusson, de Berk, sua esposa Astrid Hoffesdóttir, seu tio Jorgenn** e seu primo Snytulf Jorgensson, seu avô... É... Karl, e seus amig... conselheiros, os gêmeos Röffa e Töffe, e Fiskebein. Foram eles quem me abrigaram e me protegeram durante esses meses. Além deles, aqui está Dagur Osvaldsson, chefe dos berserkar, e Hilde, uma grande guerreira e chefe do seu próprio exército. E este é Sean, ele é daqui de Dunbroch, fala a nossa língua e a nórdica, e está aqui para nos ajudar a nos entender melhor.

Silêncio.

Merida notou que os lordes encaravam Soluço de cima a baixo com expressões altivas. É, ela também tinha se surpreendido com o quão jovem ele era, mas sabia muito bem que aqueles homens estavam vendo mais do que isso, e com desdém. Um rapazote magrelo sem uma perna – que, de alguma forma, consegue montar um dragão e carrega um título de chefe. Mas Soluço parecia não se importar, se é que tivesse reparado nisso. Talvez já estivesse acostumado. Contudo, Merida entendia de forma pessoal como era receber olhares julgadores.

Fergus permaneceu como uma estátua encarando Soluço.

— Você foi atacada, filha?

— Não. Quer dizer, sim, mas só me derrubaram do cavalo e me amarraram, e me machuquei um pouco porque resisti em ser levada, mas foi só isso. — Ela engoliu em seco. — Comigo, pelo menos, mas prefiro não expor ninguém com nomes. Só que foram ataques feitos por outros homens, de outra tribo. Os berkianos nos salvaram assim que nos viram e entenderam a situação. Arriscaram uma luta ali mesmo para conseguirem. Tudo o que fizeram foi nos abrigar, alimentar, ofereceram passagem livre para quem quisesse ir embora e hospitalidade para quem escolhesse ficar.

— E foi o que você escolheu?

Respirou fundo.

— Sim.

— Por quê?

— Porque quando me explicaram o motivo de estarem aqui, achei uma causa justa ficar para garantir que não fossem atacados e mortos. E para garantir a segurança das meninas que não tinham para onde ir.

Justa?! — A voz de Fergus era tão afiada quanto uma espada, e ácida. Sua fúria não seria mais contida. — Acha justo pedirem por uma trégua enquanto se aproveitam para saquear Pirn?! Quase na porta de nossa casa! E, sim, eu sei que foram esses três que se chamam de chefes aqui! Negam isso?!

Merida ergueu as mãos, como se pudesse conter a fúria do grande rei, inimigo de ursos, com os braços. Bom, ao menos sabia que ele não passaria por cima dela para continuar uma ideia estúpida. Não de novo, pelo menos.

— Pai, ouça primeiro! Eu sei que eles saquearam. Falaram comigo antes.

— E você ficou bem com isso?!

— Não! — Agora era ela quem gritava. Fergus piscou longamente, surpreso com a reação, mas ainda furioso. — E nem eles! Será que podemos tirar um minuto que for para ouvirem o que eu ouvi quando fiz o mesmo questionamento?!

O rei engoliu em seco. Não estava nada menos do que contrariado, e podia perceber a mesma agitação nos outros lordes. Porém, ele enfim assentiu, levando uma das mãos à testa e bufando.

— Falem de uma vez — disse, gesticulando. Fergus se sentou em uma grande cadeira de madeira encravada, a mesma na qual ele se sentara durante os jogos de seu quase-noivado. — Estou ouvindo.

Foi a vez de Sean agir, transmitindo tudo que tinha acontecido aos nórdicos. Soluço deu alguns passos à frente e começou a falar, auxiliado pelo intérprete. Merida escutou quase as mesmas palavras de antes, explicando um pouco sobre quem eram, sobre Berk e as outras ilhas do arquipélago, sua cultura de aliança com os dragões e como precisaram dizer adeus aos companheiros e ao seu lar ancestral, e de como foram chantageados em um momento de fraqueza para virem a Dunbroch.

Durante o discurso, foi nos rostos de sua mãe, do padre Áed, do jovem MacGuffin e da moça ao seu lado que Merida vislumbrou traços de reflexão, quase uma... compreensão. Os outros ainda se mantinham ou duros como pedra ou sem se dar ao trabalho de disfarçar o nojo.

— Estavam cercados, sem uma saída clara à vista — Sean finalizava. — Não tinham como arriscar outra guerra ou se portar como pedintes, correndo risco de expor aliados ou serem desdenhados.

Fergus respirou fundo.

— E não é isso que estão fazendo agora? Se apresentando como pedintes.

Pela primeira vez, Merida viu o rosto de Soluço enrubescer e endurecer. Os outros ao seu lado estavam de olhos arregalados, os cenhos franzidos. Claramente ofendidos.

— Não teria sido melhor ter pedido por ajuda antes de se deixar ser chantageado e agora aparecer aqui, depois de me saquear, pedindo por aliança e ainda mais suprimentos e ouro?

— O senhor teria pedido? — Soluço respondeu, a voz mais profunda do que o normal, encarando o rei diretamente nos olhos. Sua face estava enrijecida, mas o olhar queimava. Merida não precisou da tradução para entender aquilo, mas viu a expressão de choque em seu pai.

Ele o pegou, pensou.

— Teria aceitado? Ajudar um nórdico que nunca viu?

Seu pai continuou calado. Merida viu que a mãe a fitava e tentava esconder um sorriso. Pensava a mesma coisa que ela. Por fim, o rei deu de ombros, pensativo.

A rainha aproveitou o momento para se erguer e vir à frente com toda a sua majestade típica.

— Creio que os ânimos continuarão aflorados entre nós enquanto ninguém se propor a conhecer o outro antes de falar de negociações. Se aprendi algo neste ano, é a confiar mais na palavra de minha filha e, se ela me diz que achou a causa justa, por mim é o suficiente para, pelo menos, dar ouvidos.

Merida sorriu e concordou. Também viu os berkianos, Hilde e mais dos lordes de Dunbroch concordando. Estava dando certo! Merida queria rir. Ainda queria entender como sua mãe tinha esse poder, mas deixaria isso para outra hora.

— Além disso, agradeço pessoalmente a todos vocês, Hikken, Astrid e os demais, por terem salvo e protegido minha filha — ela continuou. Os berkianos assentiram em resposta. — Seja como for que tudo se desenrole, serei eternamente grata e em dívida por isso.

A princesa percebeu uma leve ênfase no “em dívida”. Fergus também, mesmo que tentasse disfarçar. Elinor, como sempre, dizia o que queria de forma sutil, porém clara.

— Do mesmo modo, gostaria de conhecer mais os chefes Dagur e Hilde, e suas motivações. Com certeza podemos fazer isso de forma civilizada. E mal posso esperar para conhecer as meninas que mencionou que conviveram com você durante esse período. Desse modo, convido-os todos a se hospedarem em nossa fortaleza enquanto acertamos tudo. Os chefes, seus conselheiros de escolha e seus familiares serão bem-vindos; seus seguidores, porém, creio que precisarão levantar acampamento do lado das muralhas. Os... — Engoliu em seco. — Os seus dragões podem ficar... perto dos estábulos talvez. Lá poderão ter espaço adequado.

Fergus nem teve chance de falar nada contra. Elinor rapidamente ergueu as mãos e gesticulou para todos.

— Vamos para dentro, então. Lá poderemos nos ajeitar, comer e conversar melhor. Já vamos providenciar os aposentos para quando sentirem que precisam descansar melhor.

Todos concordaram e começaram a se movimentar de um lado para o outro repassando as informações antes de entrar pelo portão do castelo. Merida correu para o lado da mãe e a abraçou de novo, dessa vez tão longamente quanto da primeira.

— Você é genial, mãe — precisou dizer entre risos.

 

A pedido de Merida, os aposentos oferecidos aos nórdicos eram próximos ao dela. Ela não teve problemas em argumentar que os queria por perto para garantir sua segurança contra possíveis ataques surpresa de madrugada.

As meninas, suas amigas, dividiriam seu próprio quarto com ela. Afinal, mesmo a cama era grande o suficiente para abrigar todas e sobrar espaço.

O restante da tarde e da noite, para sua surpresa, correu mais do que muito bem. Quando a rainha Elinor disse que deixariam as negociações para depois, parece que todos levaram o recado ao pé da letra, pois ninguém mais tocou no assunto durante todo o período de tempo.

Inclusive, o que Merida pôde aprender naquela noite foi o quanto os berkianos adoravam comer, beber e conversar quando o banquete era abundante o suficiente. Quem os visse jamais pensaria que há pouco temiam total ruína.

— Crescemos sendo atacados por dragões e vikings, se nos acostumamos a alguma coisa, foi a festejar no meio do caos — Astrid lhe disse entre risos quando percebeu a estranheza da princesa; claro, com uma pequena ajuda de Sean para entender tudo.

De fato, o jantar virou mais uma festa do que qualquer outra coisa. E depois de três doses de cerveja, todos falavam a mesma língua ou sequer se importavam com a bagunça dos gêmeos, gritando, participando de quebras de braço, até ameaçando subir na mesa em um ponto – até Soluço puxar Töffe com força para o chão, o que roubou gargalhadas de nativos e estrangeiros.

— Seus novos amigos são bem animados, não? — Elinor riu com sarcasmo. Merida também riu.

— É. Mas eu não os tinha visto assim ainda. Não tivemos nenhuma festa nesse tempo. Sem suprimentos nem clima.

— Pois é, filha, eu queria te perguntar. O que tem feito nesses dois meses?

Merida deu um gole no vinho antes de responder. Fergus se inclinou mais na sua direção para escutar o que ela teria a dizer.

— Ah, eu... Basicamente, ajudei em tarefas do dia a dia...

Você ajudando nas tarefas domésticas?! — Fergus exclamou, rindo. — Isso eu queria ter visto.

— Para, pai! — Ela gritou, mesmo também rindo. — Eu ajudava em algumas refeições e a limpar um pouco, pelo menos no quarto onde dormimos.

— Ninguém virou urso dessa vez, certo? — Elinor indagou.

O queixo de Merida e Fergus caíram. Foi a vez da rainha rir tanto que lacrimejou os olhos. Ninguém estava preparado para esse tipo de piada vindo da austera Elinor.

— Meu mingau é mais do que muito bom, obrigada! — Merida afirmou com ênfase, ainda chocada. Ela precisou erguer a voz de novo para continuar. — Além disso, também aprendi um pouco da língua nórdica e ensinei as outras meninas sobre autodefesa. Logo vão começar a aprender como manusear armas básicas.

— Isso eu consigo te imaginar fazendo! — disse Fergus. — Devem estar aprendendo muito bem tendo você de mentora.

A princesa sorriu e corou, assim como ele. Ter seu pai de sempre de volta preencheu seu peito com um calor familiar reconfortante.

— Estão mesmo! Principalmente a Afraig e a Bodicca.

— Oh, Bodicca, como a rainha — Elinor comentou.

Merida franziu o cenho, confusa.

— A rainha?

— Ora, não se lembra? Achei que gostaria bastante dela. Bom, enfim, continue.

A princesa tomou uma nota mental para aprender mais sobre isso depois, caso o vinho lhe permitisse lembrar. Mas, enfim, balançou a cabeça e continuou o que dizia.

— Astrid também está me ajudando a ensinar. — O cenho de Fergus se fechou levemente com o comentário, mas logo em seguida se suavizou. Merida prosseguiu como se não tivesse visto. — Ela luta muito bem também!

— Ela está te ajudando a ensinar as meninas como lutar?

— Sim. Também me ofereceu um arco e uma aljava para continuar treinando no assentamento quando pedi. Não temos problema nenhum com isso.

— Hm... Então... realmente confiam em vocês?

Ela assentiu.

— E nós neles.

O rei refletiu sobre isso em silêncio, porém, eventualmente, mostrou um sorriso acolhedor para a filha.

Depois disso, o silêncio caiu entre eles e Merida focou sua atenção na coxa de frango no seu prato. Droga, parece que sua mãe estava certa quando lhe dizia para prestar mais atenção nas aulas de história. Agora ficaria curiosa quanto a tal rainha. Com certeza, Eithne se lembraria disso, estudiosa como era.

Eithne!

Merida olhou ao seu redor. Cathal estava do lado oposto da mesa, tão concentrado em sua comida quanto ela mesma. Não parecia o ambiente mais confortável para ele – ela se lembrava que em todos os bailes e banquetes, o rapaz se mantinha bastante reservado. Agora, lado a lado com as pessoas que saquearam sua cidade, devia realmente ser difícil de relaxar.

— Ei, Cathal! — O rapaz levantou o rosto ao ouvir seu nome e se inclinou para frente. — Onde está a Eithne? Eu não a vi.

— Eu a mandei de volta para o Forte dos Irmãos! — Ele respondeu com a voz alta. Os outros estavam mesmo se tornando barulhentos. Merida quase não o escutava e estava na sua frente.

— Por quê?

Cathal suspirou.

— Eu não acho aqui o lugar mais seguro para ela no momento! Fico mais calmo com ela em casa com a nossa mãe.

— Ah... Entendi.

Aquilo diminuiu um pouco sua animação. Sim, ela tinha uma birra pessoal com a prima, mas sabia que eram por motivos mais infantis do que maduros e, afinal, Eithne tinha ajudado sua mãe a encontrá-la no assentamento e manter contato. Gostaria de poder vê-la de novo e agradecer pessoalmente. Talvez, Eithne deixara de lado o modo como Merida a tratou nos últimos anos e nem se importaria com uma reaproximação.

Mas não queria focar nisso aquela noite. Então, aproveitou a deixa para apresentar melhor as amigas, incluindo Astrid, aos pais.

O jantar se tornou uma ceia e continuou até tarde da noite, quando as pessoas foram aos poucos se sentindo cansadas e se retirando para seus aposentos. Merida e as amigas foram umas das últimas a irem para cama, todas guiadas pela princesa.

Na subida das escadas e corredores, Merida fez questão de apresentar cada canto do castelo no caminho para as meninas. Muire se interessou particularmente pelas tapeçarias sobre as paredes, enquanto Bodicca adorou as lanças, escudos e espadas. Por que demorei tanto tempo para falar com ela? A princesa se perguntou.

Por fim, alcançaram o corredor do seu quarto e...

Um calafrio percorreu sua espinha.

Merida parou. Foi um piscar de olhos, mas pensou ter visto uma luz. Contudo, era diferente das luzes mágicas que a guiavam. Não sabia se foi uma ilusão pela luz das tochas e o céu noturno na janela ou...

Seus pelos se arrepiaram dos pés à cabeça. Sentia-se observada. No canto do corredor, como se um predador estivesse escondido, prestes a saltar das sombras.

Seu estômago se embrulhou. Rápido!

Ela disparou pelo corredor, tentando não demonstrar nada para as meninas e abriu a porta com força.

— Venham! Para dentro, venham, venham!

Felizmente, elas não perderam tempo. Merida bateu a porta atrás delas e virou a chave com força. As runas. Ela puxou a manga do braço esquerdo e analisou os desenhos, agora meio borrados. Um deles era simples, um traço vertical e uma ponta triangular para a direita. Thurs. “Para proteção” o Velho dissera.

Merida se concentrou, direcionando energia mágica para a ponta dos dedos, como aprendera com Seiliegh. Quando sentiu a pele queimar e formigar, traçou o desenho da runa sobre a porta, visualizando uma luz azulada brilhante selando o caminho. Deveria servir.

— Tá tudo bem? — Deirdriu indagou.

— Sim! Sim... — Ela correu para a cama com as outras e forçou um sorriso largo. — Não foi nada. Só um calafrio.

“Uma ameaça maior está vindo, contra a qual todos precisarão se unir” lhe disseram. Estaria em Dunbroch? Já? Tão cedo? Mal tinha aprendido a criar um escudo mágico e ainda tinha a questão da guerra.

Engoliu em seco. Ela tentou se deitar e só dormir, pensaria melhor nisso no dia seguinte de todo jeito.

Bem... tentou.


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Notas finais do capítulo

* A runa foi retirada de um manuscrito islandês bem posterior à Era Viking, tanto que na imagem podemos ver as letras do nome "Jesus". Ainda assim, achei que seria uma runa interessante de Merida aprender e, por isso, modifiquei a descrição do meio da imagem, dizendo que havia outras runas ali, e não as letras J E U S. Um leve anacronismo, mas com consciência e motivo.

** Nos filmes, sabemos que o pai de Melequento se chama Gosmento e Jorgenson é usado por eles como sobrenome. Porém, como disse nos avisos iniciais, alguns nomes seriam modificados para manter a consistência histórico-cultural. Os nórdicos antigos (e ainda os islandeses e faroeses de hoje) não utilizavam sobrenomes, e sim patronímicos - ou seja, o nome do pai + filho(a). Jorgenson seria uma construção que daria a entender "filho de Jorgenn". Por esse motivo, achei melhor mudar o nome do Gosmento para Jorgenn (e pela mesma razão apresentei o pai da Astrid como Hoffer, considerando que o nome dela nos filmes é Hofferson, aqui modificado para Hoffesdóttir).



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