A Herdeira escrita por Nany Nogueira


Capítulo 11
Beijo molhado




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Anita caiu com tudo, tossiu engasgada e Heitor se preocupou:

— Perdão, Anita! Eu estava brincando. Você consegue respirar?

A moça parou de tossir e deu uma bela gargalhada, passando a jogar água no rapaz:

— Te assustei, né?

— Palhaça.

— Você que começou! E não se deve chamar uma rainha de “palhaça”, é falta de respeito.

— Mas, eu sou o rei, então eu posso.

— Então eu também posso te chamar de Heitor cara de pastor.

— Que criancice! Depois não quer ser chamada de criança.

— Rimou, ué.

— Você me chamava assim quando tinha 10 anos.

— Ainda lhe cai bem.

— Você vai ver o que lhe cai bem, é água na cara – voando água nela, que corria e nadava rapidamente.

Ele passou a persegui-la, alcançou-a e a segurou forte contra o seu peito.

— Me larga, Heitor – pediu ela, se debatendo.

— Não, só se adivinhar a senha.

— Não temos mais 10 anos, como você acabou de falar.

— Será que não? – rindo.

— Ao menos é o que diz a minha certidão de nascimento – rindo também.

Os dois riam livres como as duas crianças que já foram. Olharam um para o outro. O brilho dos olhos felizes, os sorrisos largos. Anita parou de se debater. Heitor foi chegando mais perto e ela não recuou.

Anita sentiu a respiração quente dele muito próxima à sua boca e ela mesma tomou os lábios do rapaz. O beijo já começou intenso, com os dois como querendo se devorar. A paixão contida queimando em brasa.

As mãos de Heitor passeavam pelo corpo sensual da moça, que não fazia nada para impedir. As línguas se encontravam como dançando no mesmo ritmo frenético.

O beijo foi interrompido ao ouvirem:

— Vossas Majestades... Eu sinto muitíssimo – disse Baltazar ao perceber a cena, virando de costas.

Os dois se separaram envergonhados e arfantes.

Heitor tentou se recompor e perguntou ao mordomo:

— Aconteceu alguma coisa, Baltazar?

— Mil desculpas, altezas! Eu sei que fui indelicado chegando assim sem avisar, ainda estão em lua de mel e...

Anita interrompeu:

— Está tudo bem, Baltazar, apenas responda a pergunta de Heitor.

— Rei Augusto pede a presença de vossas majestades com a maior brevidade no gabinete real para tratar de assunto do interesse do reino.

— Vamos sair, tomar banho e logo estaremos lá – informou Heitor.

— Perfeito, majestade! Informarei ao Rei Augusto.

Heitor saiu do lago e ajudou Anita a sair.

Os dois, mudos, caminharam para o Palácio. A moça tomou banho na suíte real e o rapaz foi tomar banho no quarto ao lado para agilizar.

Pouco tempo depois, estavam ambos diante de Rei Augusto no gabinete real.

— Tenho más notícias... – começou Augusto.

— Mais uma? – perguntou Anita.

— Reinar é, como dizem no Brasil, “descascar pepinos” diários, Rainha Anita.

— E qual o pepino da vez? – perguntou ela, impaciente.

— Os reinos vizinhos se recusam a emprestar dinheiro para Seráfia e não esperaram nem até a segunda-feira para dar a resposta. Com exceção de um, que pediu uma garantia absurda...

— Qual? – quis saber Heitor.

— Acordo de casamento do filho primogênito do Rei da Baviera com a futura filha de vossas altezas. Eu sei que é impossível.

Anita e Heitor trocaram um olhar de espanto.

A moça perguntou:

— Por aqui vocês resolvem tudo na base do casamento?

— Infelizmente, nos reinos, você conquista espaço ou fazendo bons acordos de casamento ou travando guerras – respondeu Augusto.

— É triste que ainda seja assim.

— Essa é a política a que me acostumei. Mas, vocês são jovens e podem inovar.

— Não vamos ficar por muito tempo aqui, vovô, e o senhor sabe disso – observou Heitor.

A fala de Heitor causou tristeza em Anita. Então, aquele beijo no lago realmente havia sido coisa de momento. Heitor não pensava em tornar tudo aquilo real. Ela respirou fundo e se lembrou que estava no papel de Rainha agora:

— Eu tenho uma ideia. Podemos tentar esse empréstimo com o Brasil.

— Rainha Anita, ninguém dá um empréstimo de “mão beijada”, nem mesmo a pátria mãe de vocês. Vão querer algo em troca além de juros. É assim que funciona na política externa – informou Augusto.

— Meu pai é governador de Pernambuco...

— Felipe daria qualquer coisa a sua amada filha, mas o povo brasileiro não aceitaria. Alguma vantagem o Brasil há de perceber com o acordo.

— Eu posso pensar em algo.

— Pense rápido, Rainha Anita, nosso tempo está se esgotando.

— Nós vamos pensar, vovô. Tudo vai se ajeitar – disse Heitor, forçando o sorriso.

Anita foi para a biblioteca, sem olhar para Heitor, que resolveu ir para o quarto.

A jovem teve a ideia de ligar para mãe e Doralice teve uma ideia que lhe pareceu boa. Pediu nova audiência no gabinete real e informou a Augusto e Heitor:

— Minha mãe teve uma boa ideia para um acordo comercial rentável com o Brasil, que pode gerar lucro para ambos os lados, além do empréstimo, claro...

— Fale logo – pediu Heitor, empolgado.

— Exportamos nossa colheita, frutas e legumes que nascem e se criam no frio, ao passo que compramos os produtos tropicais do Brasil. Assim, conseguiremos ter um estoque de alimentos variáveis, novas sementes, maior colheita, mais comida para o povo.

Augusto falou:

— Já temos essa atividade comercial com o Brasil.

— Não me expressei bem. Faremos isso por meio de cooperativas familiares. Pequenos negócios trocando com outros pequenos negócios. Assim, estimulamos o crescimento das classes menos favorecidas aqui e lá.

Heitor falou:

— Genial! Era assim que eu trabalhava com as famílias humildes na fazenda da tia Antônia.

— Inclusive aquelas cooperativas do Sertão podem ser beneficiadas com essa troca.

— Acho que pode dar certo – concordou Augusto.

— Amanhã mesmo vou percorrer a área rural de Seráfia a procura de pequenos empreendedores interessados no negócio, os quais prosperando podem gerar mais empregos e renda.

— E eu vou com você – informou Heitor, contente.


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