A Origem da Energia - As Crianças do Caos escrita por OrigamiBR


Capítulo 3
Descoberta pessoal


Notas iniciais do capítulo

Esse foi um capítulo totalmente modificado do anterior. Na minha opinião ficou bem mais interessante do que ter aquela figura padrão de mentor de antes. Mas é só minha opinião. Fiquem com o capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785676/chapter/3

— Quer dizer que tu virou Sensitivo de novo, Cole... – comentou Kenneth, enquanto fazia uma levantada dramática de óculos com um dedo.

— Sabe como é, né? – respondeu Cole, fazendo a mesma levantada dramática. Os dois estavam sentados em duas carteiras diferentes, frente a frente.

— E ainda não sabemos o motivo. Só acho que o estopim foi aquela mulher que apareceu – disse Vergil, andando para os lados enquanto pensava – Ela me atacou, e aquele volume de Energia foi... – e calou-se, lembrando da situação.

— Eu só vejo uma coisa pra se fazer – disse Claire, determinada – Voltar a ser um Sensitivo.

— Como assim? Quer que eu faça aquele regime de treino de Ryokun? Mas não temos garantias que vai dar certo!

— Se não der certo, pelo menos você vai ficar bombado.

— Que consolo...

Mas Vergil viu que Claire tinha razão. Só com o treino que fazia de artes marciais não seria o suficiente. Se a mulher resolvesse lhe atacar de novo, era possível que não tivesse tanta sorte. E ainda estava com a pulga atrás da orelha por causa daquele escudo que aparecera no seu braço. Se pudesse controlar aquilo, então teria uma chance maior de sobreviver. Além de poder proteger seus amigos.

— Onde eu treinarei... – comentou o garoto mais para ele do que para os outros.

— Fica difícil sem as planícies gigantes de Ryokun – disse Cole, apoiando o queixo na mão – Talvez um campo de futebol?

— Acho que já sei – finalizou Vergil – Tem uma depressão perto de uma casa ali. Fica perto daqui e não tão longe da civilização. Não é tão usada como campo de futebol, mas no final de semana sempre tem gente. Que tal?

— Ora, o que estamos esperando? – disse Claire, empolgada.

— Terminar a escola, ué – rebateu Suzan com simplicidade.

— Engraçadinha – respondeu a garota. O grupo inteiro riu.

Mais tarde, no mesmo dia, o grupo todo caminhou para o local que Vergil mencionou. Como era perto da escola, eles todos saíram juntos, antes de irem para casa. Andaram alguns bons metros até chegar: era do lado de uma estrada, onde a encosta descia até o ponto mais baixo, com o início de um rio. O mato era rasteiro, com uma parte totalmente descampada, que era o campo de futebol usado nos fins de semana. Havia algumas pequenas árvores esparsas, com uma de considerável tamanho que servia de sombra para os dias mais quentes.

— Perfeito – começou Jane – Dá pra praticar aqui.

— Vamos começar? – disse Vergil – Primeiro, vamos tentar conseguir sentir o fluxo de Energia...

Todos do grupo se sentaram embaixo da árvore e relembraram do que fizeram em Ryokun para sentir a Energia. Nessa parte, Vergil, por ainda ser um Sensitivo, teve mais facilidade. Ao meditar, ele conseguia sentir algo circulando por seu corpo, sem ser seu sangue. Uma onda de poder, a sensação familiar que tinha ao usar a Energia. Era como uma respirada funda, só que ao invés do ar chegar nos pulmões e retornar, era como se o ar caminhasse por todas as fibras musculares e todos os vasos sanguíneos. Só que esse “ar” dava um aprimoramento em tudo por onde passava, aumentando a força, a resistência e a velocidade. E não ficava só restrito ao físico: os pensamentos ficavam mais acelerados e os sentidos mais aguçados, podendo até reagir mais rápido.

Mesmo sentindo tudo isso ao praticar as artes marciais, aqui o fluxo ficou mais forte. De repente, ele se sentiu de volta ao continente, assim que iniciou o treinamento em Chasfar, após os três meses iniciais em Osmos. Olhou para os lados, e viu como estavam seus amigos e o progresso que haviam tomado. Por ainda ser Sensitivo, podia sentir a presença na Energia de cada um deles. E pelo jeito só Cole havia conseguido atingir esse estado. Os outros tentavam, estavam bem concentrados, mas sua presença não era diferente de outras pessoas comuns. Resolveu continuar com seu trabalho mesmo assim. Mais pra frente eles podiam voltar a ter o uso da Energia. Afinal, qualquer um podia ser um Sensitivo: bastava apenas determinação.

Uma semana se passou, mas nada mudou muito. A circulação de poder de Vergil e Cole ficavam mais fortes a cada dia, apesar de num ritmo bem mais lento que em Ryokun. Mas Suzan, Claire, Kenneth e Jane não tinham tido nenhuma mudança. Mesmo com eles treinando e fazendo exercícios em casa não conseguiam sentir o fluxo. Ponderou essas questões no intervalo da escola, quando alguém lhe sussurrou algo.

— Circule sua Energia com eles...

— O que? – disse assustado, olhando para os lados, mas com a quantidade de estudantes por lá, poderia ser qualquer um. Mesmo assim, escutou claramente como se tivesse falado do seu lado. Não pensou muito, pois Niéle foi lhe abordar novamente para conversar, e ela estava especialmente empolgada hoje.

Mais tarde quando se encontraram, tomou a decisão de usar a ideia sussurrada. Poderia dar certo. Chamou todos os seus amigos para discuti-la.

— Eu acho que sei como a gente faz pra poder sentir melhor o fluxo de Energia – começou, empolgado.

— O que tá esperando? Diga-nos! – disse Suzan, mais empolgada ainda.

— Como eu e Cole somos os únicos Sensitivos entre nós, revezaremos em circular nossa Energia com vocês. Daí, sentindo isso, acho que vocês vão ter uma pista.

Separaram-se em duplas, tocando as palmas das mãos. Imediatamente, concentrou-se em sentir sua própria Energia, e a fazê-la revolver em si. Com esse passo concluído, forçou ela a circular para fora, quase da mesma forma que fazia ao usar Alteração. O resultado foi ele sentindo a Energia passar por fora do corpo e atravessar as mãos de Kenneth, voltando pela outra mão. O garoto estava com os cabelos esvoaçando pelo poder, e arregalou os olhos em empolgação.

— Ufa, achei que tinha esquecido da sensação. Valeu Vergil, acho que agora eu consigo.

Satisfeito com o olhar de determinação que se formou depois no rosto do loiro, ele prosseguiu a ajudar as meninas. Cole também fez a mesma coisa, começando com Claire. Depois de tudo isso, enquanto praticavam, a Energia dos outros começou a aumentar. Mas era num ritmo bem menor do que esperavam.

— Arg, quase. Eu acho que consigo se praticar mais um pouco! – reclamou Suzan, querendo voltar para a prática, mas devido a hora não seria possível.

— Vamos, mulher! – disse Jane, puxando a garota pelo braço – Temos que ir pra casa!

Suzan soltou um “Hmpf!”, mas cedeu ao puxão. Os outros também foram indo para suas respectivas casas, mas mais empolgados por conseguir chegar mais perto do objetivo. Ainda assim, Vergil ficou pensativo: quem havia sido a pessoa que lhe dera a dica? Não conhecia nenhum Sensitivo fora eles, e não sabia de mais ninguém que conhecia tanto sobre Ryokun. Desconfiava que mais alguém de Ryokun tivesse voltado com eles sem saberem. E todo esse burburinho dos Sensitivos pelo mundo não ajudava em descobrir.

Cerca de um mês se passou. Agora, Niéle quase sempre participava das conversas do grupo na escola, empolgada em conhecer os outros e em suas experiências. Mas continuava um mistério, pois quase não falava sobre sua vida e passado.

— Olha, tenho que admitir – disse Jane – Ela é uma boa pessoa.

— Tu tinha dúvida ainda, Jane? – disse Cole, se sentindo ofendido – Não é só porque ela tem... “Atributos” que ela é do mal.

— Não foi isso que falei, tapado. Quis dizer que ela é divertida, boa de conversar...

— E tá caidinha por Vergil – comentou Suzan, adotando um ar malicioso.

— Deixa de coisa, Suzan. Ela só deve ter me achado mais fácil de conversar – deu de ombros o garoto, apesar de envergonhado – De toda forma, nós temos que nos concentrar a praticar as disciplinas de Energia.

— Eram Alteração, Fundação e Percepção, certo? – falou Kenneth – Mas pra que praticar agora? Tirando você e Cole, mais ninguém consegue usar Energia ainda.

— Pra caso ocorra mais um ataque – respondeu Vergil, preocupado – Sei que não tivemos mais problemas em dois meses, mas nada garante que continue assim. Não quero arriscar algum acidente perigoso, com nenhum de vocês...

Seguiu-se um momento de silêncio, mas aí Cole deu uma batidinha no ombro dele.

— Sempre o mesmo Vergil. Nem se preocupe, compadre, a gente não vai deitar assim tão fácil. Mas não tiro o mérito da sua fala.

— Certamente não – determinou Claire – Posso não poder praticar junto ainda, mas posso lhe dar umas dicas de Percepção.

— E eu sobre Fundação – disse Suzan, se prontificando.

— Alteração a gente se vira, não é? – confirmou Cole.

— Combinado. Depois da aula a gente vai pra lá pra começar – finalizou Vergil.

Pouco tempo depois das aulas, Claire se sentou perto dos dois, enquanto os outros iam procurando fazer a meditação.

— Bem, o que me lembro era que antes de tudo, tinha que conseguir circular a Energia em movimento. Como a gente só fez parado, tentem aí.

Vergil e Cole se levantaram e começaram a se concentrar para sentir o fluxo. No meio tempo, Claire pegou umas pedras pequenas no chão e começou a atirar em direção a eles. Assustado, Cole deu um rasante e se empoeirou todo. Vergil deu um passo para o lado, mas tropeçou e caiu sentado no chão.

— Que foi isso, sua doente?! – gritou Cole, enquanto se limpava.

— Ora, nada melhor que a prática pra ajudar – disse Claire, mas tinha um sorriso sádico, enquanto se carregava de mais pedras.

— Eu mereço mesmo...

Claire não teve misericórdia, e continuou com a rajada de pedras. Passados alguns minutos, tanto ela como eles estava cansados, mas tinham conseguido.

— Rah! – exclamou Cole, apontado para ela – Conseguimos, sua doida!

— Muito bem. Agora prestem atenção...

“Para a forma mais simples de Percepção, vocês vão concentrar a Energia nos olhos e ouvidos. Ao fazer isso, vocês vão escutar as linhas de Energia se movimentando nas pessoas, e nos olhos vai dar pra ver a Energia no ar. ”

Vergil fechou os olhos: achava mais fácil de concentrar-se assim. Encontrou o centro de Energia no corpo. De lá conduziu a corrente até suas órbitas e tímpanos, sentindo-as preenchidas de poder. Era uma sensação estranha, como se tivesse lavado seu olho sem arder e limpado os ouvidos sem tocar. Imediatamente, começou a escutar as coisas com mais clareza. Escutou um rimbombar bem de leve e abriu os olhos para ver do que se tratava. Além de poder ver com mais detalhes e precisão, ele começou a conseguir ver finas linhas amarelas pelo ambiente. Eram muito finas, quase imperceptíveis, mas estavam por todo o lado. Olhou para os seus amigos, e viu essas linhas se concentrando, fazendo com que seus corpos brilhassem levemente. Apenas Cole estava diferente, com os olhos brilhando mais fortemente e seu corpo também, como se tivesse mais presença na Energia que os outros.

— Que é isso no teu olho? – disse Cole, se aproximando. Ao olhar diretamente nos olhos de Vergil, ele percebeu que não estavam mais castanhos, e sim com a íris totalmente vermelha e de textura metálica, faiscando um pouco.

— Ah, deve ser uma reação à passagem de Energia – tranquilizou Claire – Acontecia muito lá em Curt.

— Então tudo bem – respirou Vergil, aliviado – Agora é só praticar mais... Vamos pra casa.

No dia seguinte, Vergil resolveu ir andando com a Percepção ativa quando foi andando para a escola, observando os aspectos do mundo. Tomava cuidado para não olhar diretamente para ninguém, afinal, se vissem um garoto com os olhos vermelhos faiscantes certamente o iriam acusar de ser um dos Bruxos (como chamavam os Sensitivos pelo jornal). Ficou maravilhado com o que via, observando os canos de água e esgoto sob seus pés com uma infinidade de linhas, parecendo bem mais repletos de Energia que as pessoas que andavam ao seu lado. Viu também os fios de energia elétrica dos postes bem amarelados, percorrendo todo o bairro. Teorizou que como Universo não tinha esses poderes, a Energia teria que ir para algum lugar. Afinal, ela nunca é menor ou maior, apenas é transformada em outro tipo.

Apesar da curiosidade, passou a olhar mais cauteloso para os lados, atento para caso aquela mulher viesse lhe abordar, mas a cidade estava tranquila. Seguiu para as aulas normalmente, mas sentiu uma presença muito forte de Energia na classe, como se fosse um Sensitivo além dele e Cole, porém não conseguiu identificar. Só quando chegou no intervalo que pôde prestar mais atenção, e era nada menos que Niéle.

Com a pulga atrás da orelha, o lutador estava distraído no treinamento do dia, só saindo quando Claire lhe deu um tapa nas costas.

— Ei cabeludo, foco.

— Foi mal, tu dizia...?

— Cole me disse que as falas em latim ainda servem pra ativar a Energia. Não lembro direito, mas tinham umas falas mais gerais que dava pra usar.

— Também lembro... Antes, se usava “Potentia” para ensinar a liberar a Energia de cada um – disse Cole, explicando – Depois, partia para outras, já que era ineficiente na conversão. Era mais pra aprender mesmo, pra sentir.

— Foi a mesma coisa comigo – disse Vergil, pensativo – Lembro que eles prezavam bastante a criatividade, aí sempre me davam muita coisa pra estudar. Com palavras elaboradas especificamente para você, que tomando como suas, a eficiência da Energia aumentava muito.

— Pois é. Lembro que pra mim era “Mentis” – comentou Claire com um sorriso – Acho que pra tu era “Fulgur”, não?

— Isso. Mas eu não consigo usar Raio mais, aí perdeu o sentido.

— Bom, vamos começar com umas palavras mais gerais, pra se acostumar. Sei que conseguem já usar a Percepção nos olhos e ouvidos, mas acaba demorando muito. No meio de um combate, quem consegue falar primeiro geralmente ganha.

— A gente foi prova do contrário – sussurrou Cole, levantando a sobrancelha. Vergil deu um sorriso.

— Tentem usar “Astral”. Era uma das mais gerais pra Percepção que usávamos lá.

Vergil e Cole pararam um pouco para pensar. Tinham que visualizar bem o que queria. Energia era uma ferramenta maravilhosa, mas se fosse mal usada poderia acabar com eles. Para o lutador, ficou mais fácil do que pensou.

— Astral Visum!— pronunciou com firmeza, e sua visão ficou da mesma forma de ontem, só que imediatamente. Sentiu um cansaço, mas era esperado. Felizmente sua testa só esquentara levemente, então o uso de Energia não havia sido tanto.

Astral Vigilate!— disse Cole, e Vergil sentiu a Energia dar um surto perto de si. Por isso, o garoto concluiu que ele havia conseguido.

— Excelente. Agora é com vocês. Eu vou voltar pra minha prática porque cês já são grandinhos.

Os dois garotos se olharam e deram uma confirmação com a cabeça. Usando a palavra, eles treinaram formas diferentes de projetar a Energia por seus sentidos, os incrementando para detectar ameaças e outras coisas, até melhorar no consumo que tinha. Poucos minutos depois, eles estavam ofegando no chão, procurando ar e com a testa bem quente. Dado um tempo para descansar, eles foram para casa.

No dia seguinte, para dar uma mudança de ritmo, resolveram treinar a Alteração. Como os outros ainda tentavam sentir a Energia, eles fariam mais progresso treinando sozinho. Fora que eram especializados nisso.

— Alteração era a maneira de projetar a Energia, como a gente costumava fazer... – começou Vergil.

— Isso. É bom a gente visualizar o que a gente quer fazer ao projetar a Energia... – concluiu Cole.

Olhou para um tronco cortado, perto da descida para o rio. Ele servia de assento para os outros, então desistiu de transformá-lo em alvo. Procurou um monte de arbustos para apontar sua Energia. Lembrou-se que o comando geral que usava era “Caelesti”. Demorado de falar, mas daria conta do recado, pelo menos até sentir que alguma palavra lhe seria útil.

Caelesti Sera!— apontou a ponta do dedo para o arbusto, como se tivesse atirando com uma arma imaginária. Uma esfera vermelha e brilhante se formou na ponta e imediatamente foi disparada nos arbustos, arrancando algumas folhas e tirando um pouco de terra. Sentiu o mesmo cansaço que teve ao usar a Percepção, mas resolveu continuar praticando para aumentar a força. Estranhou porque era de Alteração antes da passagem pelo portal, e um ataque desses deveria ter mais potência.

Olhou para Cole, e ele teve a mesma ideia. Quando viu o estrago, foi bem maior que o seu. Inconformado, continuou pensando nos motivos, enquanto Cole empinava o nariz, satisfeito. A competição ficou até ficar quase escuro, quando Suzan deu um cascudo nos dois, pois estavam acabando com toda a vegetação de lá.

No caminho para casa, o garoto se deparou com uma pessoa familiar: aquela silhueta curvilínea, aquela altura considerável, aquele ar feminino e o rosto arredondado e inocente descreviam Niéle caminhando até ele. Os cabelos estavam agitados, pois a garota tinha uma expressão preocupada, olhando constantemente para trás.

— V-Vergil, e-eu... – começou ela.

— O que foi, Niéle? – perguntou o garoto, preocupado.

— Estou sendo seguida... F-Fica comigo, por favor? Pelo menos até minha rua – e agarrou-se no seu braço.

Atento, ativou a Percepção sem falar, e seus olhos faiscaram. Olhou atentamente pelos arredores, dando uma puxada de leve para começarem a andar. Sentia outras presenças quase tão fortes quando a sua, outros Sensitivos os procurando. Por que estariam atrás deles, e principalmente dela? Será que era porque era uma Sensitiva? Não tinha muito tempo para pensar, pois eles começavam a se aproximar e tinham que se mover. Entrou por algumas ruas diferentes e puxou a garota para se esconder nas sombras, abaixo de um escorrego de praça. Ficou olhando para os lados e pediu silêncio para ela com um gesto.

Passados dois minutos, ele sentiu as presenças irem embora. Quando finalmente relaxou, olhou para ela e perguntou:

— Sabe quem são, ou porque estão atrás de você?

— Não sei... Eu acho que é por causa disso... – e colocou as palmas das mãos nas suas. Vergil ficou surpreso, mas imediatamente, teve a sensação de algo estar passando por seu corpo. Algo que era bem familiar e que usou para mostrar aos seus amigos como era. Niéle estava mesmo usando Energia. Era uma Sensitiva como suspeitava. A garota tratou logo de tranquiliza-lo.

— Eu só falei porque confio em você, Vergil. Não sei mais a quem recorrer...

Sem pensar muito, ele a abraçou. Ela foi pega no susto, mas retribuiu a afeição. Tremia levemente.

— Deve tá seguro agora. Tome cuidado.

— Sim! – disse, sorrindo, já mais calma.

Caminhou até uma casa e lá entrou. Vergil tratou de correr para sua casa e explicar o porquê de voltar tão tarde. Mesmo tendo ouvido reclamações, ele não ficou chateado. Preocupado com a garota, resolveu discutir o assunto com seus amigos amanhã. Afinal, se ela soubesse se defender, talvez não fosse tão arriscado para ela ir sozinha.

Na reunião do grupo na depressão, ele falou da situação que ocorrera. Cole concordou quase imediatamente. Já Claire e Kenneth ficaram hesitantes. Suzan e Jane estavam indiferentes, mas a última tinha um brilho nos olhos.

— Antes de chama-la, vamos adiantar a parte de Fundação pra vocês – começou Suzan – Kenneth disse que tava querendo tentar logo, e é melhor ter logo a linha de frente, ainda mais depois desses malucos.

Enquanto a garota falava, Vergil via pelo canto de olho os outros se esforçando. Realmente queria saber o motivo de o treino não ter funcionado até agora com eles. Kenneth fazia uma careta enquanto se concentrava, Jane parecia que tinha cheirado algo ruim e Claire estava bem focada, ou dormindo, não sabia dizer.

“A disciplina pra poder bater de frente com o inimigo e fortalecer o corpo é a Fundação. Pra usar, pelo menos por lá, a gente distribuía a Energia por todo o corpo.”

— Todo ele? Mas aí cês tinham que ter o fôlego de um elefante – comentou Cole.

— Não necessariamente, até porque quando a Energia fica nos músculos e na pele, ela não é convertida pelo uso – respondeu Suzan, meio indiferente.

— Interessante... – comentou Vergil – Não pensava na Fundação desse jeito.

— Ah, meu filho. Com isso você pode lutar sem preocupação até certo ponto, porque caso você tome um cascudo ou comece a bater, você vai gastar Energia pra dissipar o ataque.

— Mas e se eu quiser aumentar algum impacto? Não vai bagunçar o controle sob o corpo?

— Não, porque ao invés de puxar Energia pra lá, você vai só reorganizar um pouco.

— Ah – entendeu Vergil. Antes, ao usar suas poucas técnicas de Fundação, ele apenas transferia Energia para a parte que iria atacar e pronto, acontecia a conversão da Energia em impacto ou o elemento.

Munido da informação, novamente procurou o centro de Energia do corpo. Sentindo as correntes de força, concentrou-se em fazê-las percorrer tudo que fazia parte de si. Aos poucos foi sentindo as forças aumentando, os músculos e ossos ficando mais e mais densos. Estranhamente não se sentia mais pesado, mas estava certo que poderia quebrar um tijolo com as mãos nuas e não se machucar. Pela mudança no ar de Cole, ele também conseguira.

Olhou para uma pedra um pouco distante de lá, que os habitantes tinham afastado para liberar o campo de futebol. Sem pensar duas vezes, correu até lá. Imediatamente, a sua pisada tinha ficado mais forte, espalhando bastante areia. Sentiu também o corpo mais leve, como se não fizesse força. Pulou e acabou subindo demais, passando direto pela pedra que queria atingir com um chute lateral. Caiu rolando barranco abaixo, mas ao se levantar, só estava sujo de areia e sem machucados. Viu Cole no começo da colina, num misto de preocupação e risada desenfreada. Vergil bateu a areia das roupas e riu junto dele, subindo com mais calma.

Eles testaram suas capacidades pouco depois, com Cole começando. Ele socou a pedra e viu pequenos fragmentos dela voarem. Seu punho não havia se machucado, apenas ficando um pouco vermelho pelo impacto. Deu uma sacudida e deu a vez para o garoto. Vergil preparou uma postura e girou o corpo num chute circular. A parte onde chutara voou em direção à encosta, enquanto ele continuava o giro. Não sentiu resistência alguma por parte da pedra e lutou um pouco para parar. Viu que seu pé estava normal, sem nenhum machucado. Sentiu a Energia dar uma diminuída, mas nada de demais. E nem havia tentado aumentar o impacto. Não lembrava de ser forte assim com Fundação.

— Vocês são bons mesmo, hein? Bem, como eles tinham falado antes, pra poder usar as habilidades com mais eficiência, é necessário que vocês usem palavras que estejam mais confortáveis. Mas pra iniciar, tentem usar “Terrenus”. Era uma bem comum por Cenos.

— Hmm... Como é que eu encaixo isso? – ponderou Cole.

— Tentem Terrenus Anima. Deve dar algo... – disse Suzan, respondendo.

Assim que ambos pronunciaram, todo o corpo ficou imediatamente envolvido de Energia. Só que para o mais baixo o consumo foi maior, pois ele deu uma cambaleada. Balançou a cabeça, mas depois retomou a postura. Continuaram a prática até dar a hora, quando se despediram e foram para suas casas.

Mesmo tendo treinado e relembrado todas as três disciplinas de Energia, Vergil estava apreensivo. Se aquelas pessoas resolvessem ataca-los agora porque estavam mais fortes como Sensitivos, não saberia como agir. Será que teria a mesma frieza que demonstrou em Ryokun, ao enfrentar os inimigos de lá? Ou simplesmente iria ficar parado, congelado pelo medo? Essas questões pairaram sua mente até adormecer, quando se lembrou de Niéle.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Um tumulto e só vai piorar... Preparem-se.
PS.: Eu não entendo pq o Nyah não gosta da formatação do Word.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Origem da Energia - As Crianças do Caos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.