A Origem da Energia - As Crianças do Caos escrita por OrigamiBR


Capítulo 10
Sem saída


Notas iniciais do capítulo

Por sorte, tive que mexer muito pouco nesse capítulo. Só umas descrições ali, outras acolá. Mas está bem completo



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Entraram de volta no castelo, só que dessa vez era feito de pedra escura esverdeada como no castelo de Alucard, e não tinha mais o calor que as escarpas emitiam. Eles se permitiram um momento para respirar e visualizar a área com mais calma: o chão era de porcelanato, com poucas e grandes placas. Pequenas chamas azuladas flutuavam por suas cabeças, como vagalumes cromáticos a iluminar todo o ambiente de uma suave luz. O ambiente era tranquilo, o que permitiu que formassem um acampamento. Enquanto descansavam, viram que na sala havia alguns quadros pintados com notável habilidade. Vergil os observava, vendo do que se tratavam.

Um dos quadros tinha um homem austero, com pele muito pálida e olhos azuis, frios e penetrantes, um rosto que conhecia bem. Ele estava sentado num trono dourado e ornamentado com pedras preciosas, numa pose de autoridade, mas aparentemente gentil. De seu lado esquerdo, um trono um pouco menor, com uma jovem mulher, de cabelos dourados e olhos de um roxo profundo, que transpareciam em sua expressão. Do lado oposto, tinha uma outra pessoa, de cabelos cacheados de cor alaranjada, mas não se via o rosto ou o resto do corpo, pois havia sido rasgado. Continuou sua visão até um outro quadro, em que estava a Geardyne mais velha, com um longo vestido preto cintilante. Estava de mãos dadas com o homem do trono maior, e parecia feliz. Mais um quadro à frente, e este parecia mais recente pelas cores mais vivas. Dessa vez, ela estava sentada junto de um homem que nunca tinha visto antes, com cabelos castanhos espetados, altamente musculoso e vestido de roupas coloniais verdes de expressão dura e determinada.

Foi aí que notou, mais à frente no corredor, um pequeno altar de pedra, cravado no chão. Depois que o grupo levantou para continuar caminho, ele se demorou um pouco mais para visualizar as gravações dele. Passou o dedo nos sulcos que as letras faziam, vendo a antiguidade que aquilo tinha.

— Nunca pensei que viveria o bastante para ver a tumba do primeiro Sensitivo – comentou Lillian, nostálgica.

— Foi ele quem atingiu o Segundo Nível, não foi? – perguntou Cole.

— Sim, e ele liderou a Viagem também, mas pereceu depois de alguns anos, ao libertar a região de Sulra dos monstros. – disse ela, e depois de um tempo, continuou, mirando Niéle – A Família Dorman realmente tem muita história em seus corredores.

— Uma coisa que sempre me incomodou é por que se fala tão pouco sobre os Níveis de Energia. Por que todo mundo esconde isso?

— Não é bem um segredo, mas não é todo mundo que possui a capacidade ou a motivação pra poder atingir os Níveis.

“O Primeiro Nível depende de o indivíduo sentir esse perigo mortal e ao mesmo tempo conseguir acessar a emoção mais forte e intensa que ele consegue relembrar. Há pessoas que mesmo com essa disciplina mental ainda falham em alcançar essa fonte de poder.”

— Hm, acho que entendi – comentou o garoto, mas ainda não satisfeito, continuou – E quanto ao Segundo e Terceiro? Sei que é bem difícil, mas não acha que a essa altura não teriam mais pessoas capazes? E se ninguém conhece muito do Terceiro, então por que é que é chamado de Terceiro?

A cavaleira parou por um tempo, mais parecendo tentar responder do que escolhendo o que falar. Era clara a confusão no rosto dela, e suas expressões iam  de “Será que é isso?” para “Ele vai entender?”. Subitamente, ela se sentiu de volta em Osmos, quando ensinava a teoria da Energia para os novos recrutas, e sempre apareciam perguntas desse tipo. Foi também quando conheceu Jim, que ensinava a prática da Energia, e ambos se tornaram ótimos companheiros. Tirou esses pensamentos da cabeça, e procurou falar da melhor maneira que conseguiu pensar.

— Do Segundo Nível eu não sei muito, Cole, desculpe-me. O que sei é que ele foi atingido pelo Primeiro Sensitivo, mas que ele nunca passou o segredo de como se atingia; daí, o que temos é apenas uma ideia de como é. Eu sei de tão pouca gente que atingiu que consigo contar numa mão, e um deles está ali, quase na minha frente – e apontou para Vergil, que estava sentado em meio à luz bruxuleante, com Niéle de pé ao lado, ambos observando os quadros e fazendo caretas – Sei pouco também sobre o Terceiro, que por mais se seja uma lenda, é possível ser alcançado... Há a especulação que as Ilhas Tufão foram feitas por uma Sensitiva que atingiu o Terceiro Nível, fazendo as massas de terra girarem constantemente até hoje.

Se dando por satisfeito, pelo menos por enquanto, Cole afirmou com a cabeça. Descansaram um pouco antes de continuarem. Atravessaram uma porta dupla de madeira branca no final do corredor, que subia numa escada pouco antes. Andando com cautela, eles sentiram um cheiro de grama e umidade, acoplados a um piso plano e terroso. O caminho era feito de pedra junta e cimentada, com areia em canteiros delineados. Era como se todo o local fosse um grande corredor de uma estufa de plantas, que dava em algum aposento. A Energia era densa lá, deixando a Percepção deles bem confusa. Depois do caminho, eles passaram por um arco que dava numa grande área circular. O céu estava pontilhado de estrelas, avisando que eles haviam saído das Escarpas. Lillian comentou que não conhecia nenhuma estrutura dessas pelas redondezas de Alucard Dorman, a cidade com o mesmo nome do tirano, e não havia nada quando estavam perto da entrada.

As paredes laterais eram feitas de tijolos esverdeados, com ocasionais aberturas de janelas. Mais acima e atrás, se via outra parede desses mesmos tijolos, num círculo maior. E continuava assim periodicamente até alcançar uma altura de torre de castelo, superando a mais alta árvore, como um alto coliseu. E quase no topo de uma dessas paredes estava sentada Geardyne, num trono dourado com pedras preciosas ornamentadas, e o homem musculoso da pintura estava logo ao lado.

— Tenho que admitir: vocês me deixaram preocupada... – falou num tom zombeteiro. – Mas sabia que apenas as ilusões na cidade de Grakk não seriam suficientes para acabar com vocês.

— E por que fez aquilo? Sacrificar um dos Sete Lendários apenas por sua diversão?! – exclamou Niéle, exaltada.

— Ele foi apenas uma ferramenta para trazê-los para cá, irmã – riu-se Geardyne, demorando na última palavra com acidez – Minha diversão começa agora!

Com sua finalização da frase, toda a arena teve suas tochas incendiadas, iluminando todo o campo da noite. Bramidos inumanos ecoaram pelas arquibancadas, com inúmeros monstros inteligentes sentados nelas. Orcs, que nunca mais tinham sido vistos estavam aos montes, diabretes, flutuando e contorcendo-se, jaguares do pântano, com seus pelos esverdeados, druggas do escuro, espíritos sensuais que vivem nas sombras, vampiros, de peles muito pálidas e presas sendo lambidas, elementais, manifestações dos elementos com consciência, dentre outros, todos preparados em ver o que se desenrolaria.

— Mesmo vocês tendo me privado de meu pai, lhes dou uma escolha: participar num pequeno torneio, para minha satisfação, ou perecer em meio aos meus... Convidados.

Vergil olhou para todos os lados à procura de uma brecha: com os bancos iluminados, viu que seria praticamente impossível conseguir derrotar todos, mesmo com a ajuda de seus amigos. Era no mínimo de 10 para 1, sendo todos monstros inteligentes que possuíam um jeito diferente de derrotar. Baixou a cabeça em desolação e fechou os olhos com força. Queria ter alguma forma para sair daquela situação.

— Tenho aqui comigo algumas pessoas que tem algo a resolver com vocês. Caso alguém resolva interferir, a arquibancada irá cumprir o que mandei a eles. Não me desapontem...

E riu com vigor, uma gargalhada insana, cheia de prazer sádico pela situação de seus inimigos. Eles finalmente iriam pagar por tudo que fizeram a si, por tudo que foi obrigada a passar. Com um gesto de mão para baixo, uma das paredes da arena desceu se enterrando no chão. Em meio à poeira formada, uma silhueta do tamanho de um homem emergiu. Usava roupas folgadas e brancas de artes marciais, com um cabelo preto longo amarrado num rabo-de-cavalo alto, parecido com o dos antigos samurais. Tinha uma cicatriz de corte no nariz e olhos penetrantes de cor amarela. Empunhava uma espada reta de lâmina média na mão direita.

Lillian se espantou ao ver Jim depois de tanto tempo. O primeiro instrutor que Vergil, Cole e o resto de seus amigos haviam tido a 2 anos estava diante deles, mas de um jeito que mal o reconheceram. O homem estava com uma expressão neutra, e seus olhos se fixaram na instrutora deles de agora.

— Lillian... – falou com dificuldade – Há quanto... Tempo.

— J-Jim... Como? Por que? – respondeu Lillian, estendendo os braços em desespero.

Foi aí que viu, ao passar de uma brisa, na testa do homem, um olho fendido e roxo, com três espetos na parte de baixo. Sua expressão passou de pena para raiva em menos de um segundo, deformando seu rosto bonito numa máscara de fúria e irritação. Sacou sua espada-seta e gritou:

— GEARDYNE!!! – e saltou contra Jim, desgostosa pelo que deveria fazer.

Perflo Tenebro!!!— o salto cobriu a distância rapidamente, mas o homem saltou para trás, evitando o impacto explosivo que dispersou pedras para os lados. Tocou no ar com a ponta do dedo da mão livre, concentrando Energia e disparando logo em seguida. Lillian bloqueou com a parte plana da lâmina o feixe prateado, desviando o poder para todos os lados e destruindo o que atingia. Os garotos, alertados, estavam recuados, sabendo que o olhar que ela lhes dera antes de iniciar a batalha indicava que não deveriam interferir. Mesmo assim, Vergil, Cole e Niéle estavam apreensivos.

Um choque de lâminas ocorreu, reboando uma onda de ar. Ambas as espadas resistiram, revestidas com Energia amarela. Na disputa de forças, Lillian vencera, quebrando a guarda de seu oponente. Atacou num corte em diagonal para baixo, cortando com a ponta da espada do ombro direito ao lado esquerdo. Fora uma laceração leve, mas Jim teve os movimentos retardados. Sem perder tempo, ele tocou com a ponta de dois dedos no começo do ferimento, fazendo uma careta, e correu eles pela extensão. Uma fraca luz branca emergiu da fenda, começando a apagar à medida que iam fechando os machucados.

A guerreira não quis esperar o efeito curador, saltando com o corpo de lado e cortando na vertical, pegando o máximo alcance. O inimigo avançou, chegando a menos de dois dedos de distância. Segurou Lillian pela ombreira da armadura e atingiu seu pé, derrubando-a no chão. Acompanhando o movimento, ele caiu de costas por cima dela e sacou uma adaga da bota, pronto a atingir o pescoço. De repente, o chão explodira embaixo deles, dispersando poeira e desvencilhando os dois do aperto. A guerreira levantou e passou o antebraço nos lábios, limpando um pouco de sangue. Com a mão, puxou os cabelos para trás, encarando o homem que estava mais sujo de areia que ferido. Ele estalou o pescoço e reajustou a postura da espada, dispersando parte da poeira acumulada no corpo. Ela deu um sorriso leve e estalou a língua, como se estivesse se divertindo na peleja.

— Controlado ou não, você ainda é muito bom nisso, Jim – comentou Lillian, se preparando para algum ataque.

— Você também... – crocitou Jim, mantendo a expressão neutra, mas sorrindo com o canto da boca.

E novamente se engajaram, com Lillian passando um corte horizontal que foi bloqueado, mas a explosão no impacto desequilibrou o oponente mais uma vez. Porém, ele já tinha mandado um contra-ataque, arrancado fora uma das ombreiras da guerreira, e repousando uma linha de sangue na ponta da espada. Com um “Tch”, ela pegou a parte da armadura e avançou, usando aquilo como um escudo altamente improvisado. Bloqueou três ataques como pôde e atirou contra ele, onde Jim defletiu com sua espada.

A diferença era que a ombreira amassada se tornara uma bomba potente, explodindo numa grande área e destruindo um pouco da arquibancada da arena. Um vulto emergiu da fumaça, fumegando e sem algumas das roupas: Jim estava bem ferido pela explosão, mas havia evitado qualquer dano aos membros.

Argentum Accelero...— ao falar, seu corpo vibrou sutilmente, deixando um rastro visual que constatava sua velocidade adquirida. Com isso, circulou Lillian rapidamente, golpeando com cortes e perfurações localizadas, tudo para exaurir a guerreira. Evitando um corte fatal com uma esquiva de sorte, ela atirou a ponta de seta de sua arma para o outro lado do campo. A distância fora demais para fixar na parede da arena, mas não era esse o objetivo: apoiando a lâmina na braçadeira adaptada, ela encaixou a espada e usou a corrente num ataque circular em área, como um chicote. Jim bloqueou com a parte plana da lâmina, ainda apoiando o antebraço para suportar a pancada explosiva que ocorreu quando defendeu.

Quando voltou a si, não viu a guerreira, procurando por todos os lados por ela. Fechou os olhos por um segundo e expandiu seu Campo de Onisciência, um domo de Energia ao redor dele, para então revelar a pupila de cor cinza e vítrea, lembrando mercúrio. Uma esfera de raio de pelo menos duas vezes seu tamanho o circundava, brilhando fracamente com uma luz prateada. Sentiu Lillian a alguns metros acima de si, brandindo novamente a espada e brilhando com uma perigosa Energia laranja. Reforçou sua própria com sua Energia, que oscilava como água na lâmina.

Deus Perseco...— toda a área pulsou, e Jim ficou numa pose que poderia sacar a espada como um samurai, podendo cortar qualquer coisa que entrasse na área dela.

Eversio Scindo!— Lillian girou o corpo numa cambalhota no ar, liberando novamente a ponta com corrente e seta da arma, e girando toda a extensão dela para máximo efeito, a Energia laranja percorrendo-a toda.

Seguiu-se um flash resplandecente do impacto. A onda de choque veio logo depois, junto com o barulho de pedras destruídas e quebradas, revelando que a arena não aguentaria. Apesar disso, ela resistiu bem, mas muita fumaça e poeira estavam no caminho, não revelando nada do resultado do confronto. Novos sons de metal se chocando foram ouvidos, e a fumaça dispersou rapidamente, mostrando os dois disputando forças e atacando com cortes violentos.

Argentum Ictus!— recuando a espada, Jim avançou com a mão muito rápido e pegou Lillian pelo pescoço, derrubando-a no chão com força e abrindo mais uma cratera. Tentou fincar a espada nela, mas a armadura defletira o ataque: sua posição incômoda não permitiu que pegasse força o suficiente.

Fazendo um movimento complicado, ela reverteu a situação a seu favor, segurando a espada dele apontada para o pescoço e prendendo a outra mão nas costas do homem. Respirava fundo, ainda sem querer fazer o que deveria. Foi aí que jogou a arma de lado e o soltou, virando-se para Geardyne:

— Eu venci, agora liberte ele! – gritou a mulher, com os cabelos curtos soltos ao vento.

— Se eu fosse você, não viraria as costas...

Sabendo do que se tratava, uma explosão ocorreu bem atrás de Lillian, jogando o oponente para muitos metros acima. No alto, se via a espada que tinha jogado para longe perto dele. Ela saltou com a sua própria e aplicou um corte profundo e explosivo no abdômen dele, pousando calmamente enquanto caía o corpo de Jim. Seus olhos se encheram de lágrimas, se lembrando das palavras que ele falou sem som no ar.

“Obrigado e desculpe... Minha querida.”

Aquelas haviam sido as primeiras palavras que ele tinha falado para ela quando se conheceram. Sua tristeza era imensa. Nenhuma palavra de seus companheiros lhe confortava. Só havia o arrependimento por ser obrigada a matar não só o homem que amava, mas seu maior companheiro de todos os tempos.


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Notas finais do capítulo

E é isso. O próximo talvez demore mais por que o personagem que originalmente tinha na escrita não está nessa história, então vou ter que ser... "Criativo"



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