Maze of memories escrita por Ash Albiorix


Capítulo 5
[Parte 3] Capítulo 5- Dualidade


Notas iniciais do capítulo

Então, o plano era ter 3 partes apenas, mas como decidir mudar de parte sempre que a dinâmica entre chan e Felix mudasse, decidi que seria melhor dividir em quatro partes. Estamos chegando na reta final aaaa
Espero que gostem do cap ♥



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De todas as coisas que eu sabia sobre ele, a coisa que mais se destacava no momento era: Chris Bang era um cara confuso. Confuso o suficiente para bater a porta na minha cara e, algumas horas depois, me chamar para tomar um café. “Um café de desculpas”, como ele disse na mensagem.

“Eu quero que você vá a merda” foi o primeiro pensamento que tive, seguido de “Lee Felix, você é um trouxa mesmo”. Porque eu me conhecia o suficiente para saber que não era nem uma escolha digna da minha indecisão: eu iria, definitivamente, sair com Chan. Não exatamente sair, no sentido de encontro, mas, se ele queria me ver de novo, eu obviamente queria o ver de novo também. Além do mais, eu ainda estava, acima de tudo, muito curioso. Não tinha certeza se ele me daria as respostas que eu queria, e nem tinha que o fazer, já que eram sobre sua vida particular, mas, depois de algum tempo envolvido, eu me sentia meio parte da coisa.

Esse era o principal problema em ter criado essa conexão esquisita com Chan: agora que a imagem que eu criei dele estava se chocando com o que ele realmente era, tudo em mim ficava confuso.

Respirei fundo, e respondi a mensagem, como se não me importasse: “Pode ser”. Não esperei nem o suficiente para que ele pensasse que eu tinha feito alguma coisa antes, só respondi assim que vi. E falei para mim mesmo que iria continuar meu dia tranquilamente, sem checar o celular de cinco em cinco minutos.

Eu estava, obviamente, muito errado.

Me vi arrumando desculpas o dia inteiro, até mesmo durante o trabalho, para pegar o celular e abrir nas conversas, checar se Bang Chan já havia me respondido. “Eu só vou olhar a hora”, menti para mim mesmo.

De tarde, quando saí da faculdade, eu já estava começando a ficar com raiva. Como ele ousava me mandar mensagem falando que queria sair para pedir desculpas e aí depois sumir? Ou será que havia mudado de ideia?

Cheguei em casa jogando a mochila no chão e bufando de raiva. Felizmente, Jisung não estava em casa para ver a cena que eu estava fazendo. Estava quase jogando o telefone longe como um adolescente birrento e foi como se o universo ouvisse minha chateação. O celular se acendeu, o nome de Chan aparecendo na barra de mensagens. Abri o maior sorriso do dia ao ver que ele tinha me respondido.

“Você tá livre quando? A gente podia ir no café da esquina do campus”

Eu queria dizer: eu estou sempre livre. Vamos hoje. Vamos agora. Mas segurei minha ansiedade e respondi:

“Ah, eu trabalho durante a semana, mas tô livre domingo”

Domingo! pensei, faltavam três dias completos até domingo. Eu não iria conseguir aguentar minha ansiedade até lá. Peguei o celular, ele não havia visto a mensagem ainda. Eu não era muito impulsivo, mas eu certamente era um cara com muitos sentimentos. Foram esses sentimentos que me incentivaram a mandar a seguinte mensagem:

“Mas eu não tô fazendo nada agora”

Meu coração acelerou ao reparar que ele visualizou a mensagem assim que eu digitei. Eu não sabia se sorria ou se surtava. Tentei me lembrar que aquele era o cara que foi rude comigo. Que ele poderia chegar lá, falar “sinto muito” e ficar de cara feia até terminamos de tomar o café.

Levantei, andando de um lado para o outro. Eu odiava esse efeito que ter um crush em alguém tinha em mim. Eu, que geralmente sou muito calmo, ficava agitado e ansioso, tanto de maneira boa, aquele friozinho na barriga de se gostar de alguém, quanto de maneira ruim, como se eu não controlasse minhas próprias emoções. Ele respondeu:

“Eu também não to fazendo nada. E o café ta aberto. Se você quiser...”

Porcaria de reticências. Custava ser mais claro?

Foi logo enquanto eu reclamava que a próxima mensagem chegou.

“Vamos?”

Respondi que sim imediatamente e marcamos de nos encontrar lá em meia hora. Demorou dois segundos para eu perceber o que tinha feito. Marcado um encontro – bom, não um encontro, uma saída de amigos— com Christopher Bang. O cara que bateu a porta na minha cara, e também o cara que eu tenho tido um crush meio esquisito no último mês.

O pânico de processar as informações foi o que me fez pegar o celular e ligar imediatamente para Jisung. Eu sabia que ele estava no trabalho e assumi que não ia atender, mas não consegui me conter, e ele era o amigo que eu ligava quando estava desesperado.

Dei um leve pulo quando ouvi o “Alô?”.

—Felix, eu tô no trabalho. Tá tudo bem? Você tem 15 segundos a não ser que seja uma emergência.

Não era um tom raivoso, só apressado e distante, como se ele estivesse prestado atenção em outras coisas. E estava mesmo, estava no meio do trabalho. Pelo horário, já estava no restaurante. O que eu estava pensando?

—Ai. Merda. Desculpa. Não é nada importante. Você tá no restaurante?

—Não. Tô no escritório. Daqui a 10 minutos eu vou pro restaurante e tenho o tempo livre do ônibus, aí você pode me ligar. Okay?

—Okay – concordei. Eu estava me sentindo mal o suficiente por ter atrapalhado. Jisung trabalhava como secretário no escritório de uma psicóloga à tarde, e, logo depois, saía correndo para pegar no turno da noite como garçom em um restaurante. Às vezes, eu queria poder fazer algo para ajudá-lo, mas, financeiramente falando, eu mal conseguia fazer nada sem a ajuda dos meus pais. A diferença é que eu tinha ajuda dos meus pais, ele não.

—Eu tenho que desligar, Lix. Tchau.

—Tchau. Te amo – falei, para amenizar minha culpa. Tínhamos o costume de falar que nos amávamos, o que era algo que eu, sendo carente como sou, curtia bastante.

—Também – respondeu. Eu ri, sabendo que ele não podia falar a frase toda por estar no trabalho.

Assim que Han desligou, eu voltei a me preocupar com o encontro – e resolvi me dar o luxo de chamar de encontro, só precisava ter cuidado para não mencionar isso para ele.

Eu não podia estragar as coisas. Merda, ele não pode estragar as coisas.

“Por favor, seja legal” pensei. Não sabia se era para ter esperanças ou se me preparava para voltar chorando.

Coloquei minha blusa favorita: uma regata rosa soltinha. Eu gostava dela porque, além de confortável, era da minha cor favorita. Infelizmente, tive que a cobrir com camadas de casaco, mas, pelo menos, eu estava confortável. Não estava lá muito bonito, o ruivo do meu cabelo já estava desbotando para um loiro alaranjado esquisito e o frio deixava minhas bochechas inchadas. Eu costumava me sentir esquisito na minha própria pele, sentia que não deveria fazer muitas coisas que eu gostaria de fazer, como usar roupas mais femininas ou colocar acessórios no cabelo. Lá na Australia, não sei se por ser uma criança quando morava lá, ou pelo local, eu me sentia um pouco mais livre para fazer esse tipo de coisa, mas, conforme fui crescendo e vendo que as pessoas aqui são mais fechadas, fui me fechando também. Apesar de ser mais ou menos assumido sobre gostar de homens (e, com isso quero dizer que fui tirado a força do armário pelo incidente com Changbin), as pessoas me respeitavam mais quanto mais “masculino” eu parecesse. E isso me deixava insatisfeito.

Lembrei de duas blusas que eu tinha comprado na sessão feminina, sem experimentar e dizendo para a vendedora que era um presente para minha namorada. Uma era uma blusa cor de rosa, listrada, gola V e colada no meu corpo, um pouco curta, mas não muito. Ficava bonita se eu colocasse alguma outra camiseta por baixo para tampar a gola, mas, mesmo assim, ainda era bastante feminina. A outra era um cropped amarelo, de manga, e com a estampa de um gato. Nunca usei nenhuma das duas em público, nem mesmo Jisung me viu as usando, embora eu sei que ele as viu no meu guarda roupa, embora nunca tendo perguntado nada sobre. Pensei sobre a blusa rosa. Estava frio, então eu provavelmente não precisaria tirar os dois casacos que coloquei, e eu me sentiria muito bem sabendo que estou usando ela por baixo.

Me sentiria mais eu.

Então coloquei. Me observei por uns segundos e me permiti sorrir. Aquilo, de alguma forma, me tranquilizou sobre ir encontrar Chan, simplesmente por eu estar me sentindo bem. Calmo.

Jisung me ligou, mas decidi que era melhor contar tudo pessoalmente mais tarde, e inventei alguma desculpa boba sobre a cortina do quarto ter saído e como eu colocava de volta. Ele riu, me instruiu pacientemente sobre como consertar a cortina, e então desligamos.

“Tá vindo? ” Chan perguntou. Olhei a hora, eu estava quase atrasado. Coloquei o casaco, a luva e saí. Fui andando, era menos de um quarteirão de distância.

Quando cheguei no café, tudo que eu conseguia pensar era que aquele era, obviamente, um lugar de casais. E que aquilo ia ser, no mínimo, esquisito.

Eu não estava errado.

Chan estava me esperando sentado numa mesa, e acenou para que eu fosse até ele quando me viu. Seu cabelo estava mais claro e eu não via as raízes pretas mais, sinal que foi pintado recentemente. Ele usava uma blusa preta e uma jaqueta de couro, preta também, aberta. Completamente desproporcional ao frio que estava fazendo. Não sorriu ao me ver, e eu não faço ideia do porquê estava esperando um sorriso. Nunca nem tinha visto esse babaca sorrir.

Os sentimentos que eu tinha por ele eram uma mistura de raiva e paixão desproporcional. Segui andando até a mesa e abri um sorriso constrangido.

—Oi – falei, sem pensar em nada mais para falar.

—Oi.

Ele abaixou o menu e me olhou. Levantou as sobrancelhas, como se estivesse super desconfortável e eu quis muito me levantar e ir embora. Ele voltou seu olhar para o menu e nenhum dos dois falou nada pelos próximos dois minutos. O que tanto tinha para ler naquela merda de menu?

—Então... – falei, tentando puxar assunto. – Você já veio aqui?

Ele se assustou, olhando para mim novamente por meio segundo.

—Ah, não. Nunca.

Sua fala era seca. Reparei que ele mordia o lábio e evitava meu olhar. Estava nervoso, constrangido ou só sendo um babaca?

Assumi os três. Olhei para Chan novamente, vendo seus ombros tensos e a mão segurando o menu com uma força desproporcional. Parecia querer fugir dali. Eu também queria.

Ele apoiou o menu na mesa e arrastou até meu lado, o qual eu peguei com cuidado.

Olhei para os cafés sofisticados.

—Meu Deus, isso é tão caro – falei, baixo. Mas, aparentemente, ele ouviu, porque respondeu:

—Ah. Pede o que você quiser, eu pago. Te disse que é meu pedido de desculpas.

O olhei, mas ele ainda não estava olhando para mim. Agora, brincava com um cordão de cruz que carregava.

—Eu vou pedir o mais caro só pra compensar por você ter batido a porta na minha cara – falei, sem pensar.

Do outro lado da mesa, ouvi uma risada baixa. Me assustei, e levantei os olhos. Chan estava sorrindo, as covinhas marcadas. Sorri também, reparando o quanto ele era bonito quando sorria, e o quanto parecia uma mistura esquisita de extremamente amigável e incrivelmente arisco.

—Faz isso, eu mereço – ele respondeu, brincando. Seus ombros abaixaram um pouco e ele me olhou por meio segundo, apenas para desviar o olhar logo em seguida.

Ao perceber que ele estava disposto a rir das minhas piadas, comecei a parecer um pouco mais o Felix de sempre – o Felix que dispara a falar quando está nervoso.

—Mas, sério – continuei – eu não aceito nada menos do que isso ser feito de ouro.

Chan riu novamente,

—Então nada de voltar aqui? – ele perguntou, baixo. Não entendi se estava falando sobre eu voltar aqui ou sobre nós dois voltarmos aqui, mas provavelmente não era a segunda opção.

—Ah, não me entenda mal, eu com certeza vou voltar aqui quando tiver dinheiro pra isso. Tipo daqui há um uns dois meses juntando.

Olhei para as covinhas adoráveis de Chan, e não sabia o que era mais esquisito, saber que eu estava no modo 100% irritante e falante ou o fato de ele parecer estar gostando. Não estava falando muito, mas, aos poucos, foi me olhando mais e rindo das minhas piadas como se elas realmente tivessem graça. Como se estivesse se divertindo. Eu não teria adivinhado de forma alguma que Chris Bang era do tipo sorridente, mas foi uma informação boa de se descobrir. Fizemos nossos pedidos e, aos poucos, aquilo foi se tornando menos e menos desconfortável. Chan foi aumentando de duas frases por minuto para me responder confortavelmente e me olhar nos olhos.

—Cara, tá calor aqui – ele comentou. Estava mesmo. O aquecedor estava funcionando perfeitamente bem, fazendo com que meu casaco ficasse mais desconfortável a cada minuto. Chan tirou a jaqueta, revelando braços atléticos e um pescoço marcado. Ele era tão bonito que quase doía o tanto que eu o crushava mais a cada minuto.

—Você não tá com calor? – perguntou.

Eu estava, obviamente. Estava usando dois casacos. Maldita a hora que eu desconsiderei aquecedores e coloquei a blusa rosa por baixo do casaco. Tirei o primeiro casaco, devagar, com cuidado para nada levantar e mostrar algum detalhe da minha camiseta feminina. Nosso pedido chegou, criando uma distração na hora certa. Depois que sucedi a missão, me acalmei um pouco e voltamos a nossa conversa.

Ele perguntou minha idade, e então descobrimos que eu era alguns anos mais novo. Chan me pediu para falar confortavelmente, mas depois disse:

—Sabe o que seria engraçado? – ele perguntou, me olhando de relance como se fosse falar algo ousado. – Se você me chamasse de hyung. Você totalmente deveria me chamar de hyung.

Eu ri, não sabendo de onde vinha aquela intimidade que estava sendo criada entre nós. Nossa conversa era uma mistura esquisita de inglês australiano com coreano, e ele automaticamente mudou para coreano para falar aquilo. Como estávamos nos comunicando em inglês a maior parte do tempo, achei que seria muito esquisito e soltei, em inglês:

—De jeito nenhum.

Ele riu, não parecia mais nada desconfortável.

—Primeiramente – começou – meu Deus, seu sotaque é muito mais forte que o meu. Segundamente, eu mantenho o que disse.

Achei um absurdo de primeira, mas, conforme a conversa fluía, Channie hyung escapou da minha boca diversas vezes. Era fácil chama—lo só de Chris, mas Chan agora havia se tornado Channie hyung.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, então ele disse, o tom mais cauteloso:

—Bela blusa.

—O quê? – perguntei.

Demorei alguns segundos para processar, mas, assim que pensei no que ele disse entrei em pânico. Olhei para baixo, para minha roupa. O casaco havia desabotoado.

—Ah, meu Deus – murmurei. – Eu não... eu... – gaguejei, sem saber o que falar. Abotoei o casaco rápido e fechei a cara. – Você não precisa me zoar – reclamei, olhando para o lado evergonhado.

—Hã... Felix? – ele chamou, rindo. Eu estava irritado, mais ainda agora com a risada. Queria me xingar por ter decido colocar aquela blusa. Olhei para ele, tentando não transparecer o quanto eu queria sumir. – Eu não tava te zoando – afirmou. – É uma blusa bonita. Fica bem em você.

Minha guarda abaixou mas, por algum motivo, eu ainda me sentia meio mal.

—Obrigado – murmurei. Respirei fundo e aproveitei que, aparentemente, estávamos nos assuntos delicados. – Posso te perguntar uma coisa?

Ele assentiu com a cabeça, despreocupado, bebendo o café gelado no canudo.

—Qual é o lance todo com o celular? – perguntei, sem saber como formular melhor aquilo.

Ele desviou o olhar, mordeu o lábio. Temi que estivéssemos de volta na estaca zero.

—Olha, não é nada. Me desculpa por ter sido um babaca aquele dia, se é isso que você quer ouvir. Eu estava num dia ruim – comentou. Estava falando depressa, evitando meu olhar novamente. – Mas não tem “lance do celular”. Eu perdi. Você achou. Obrigado. Eu já acabei de comer, você também. Vamos embora?

Ele estava se esquivando. Não só se esquivando, como encerrando o dia.

Eu estraguei tudo.

Estávamos nos dando muito bem, mas ainda tinham muitas coisas que provavelmente eu não teria a resposta. E não tinha porque ter, era a vida dele e eu não deveria ter perguntado. Ele pagou a conta sem falar uma palavra, e fomos caminhando em silêncio. Eu precisava passar até o campus para chegar em casa, então fomos andando juntos. Eu não sabia o que dizer para quebrar aquele clima, era um novo tipo de desconforto. Um de saber que estava tudo indo bem e alguns segundos no dia estragaram.

Quando chegamos no campus, ele parou, antes de seguir reto em direção aos dormitórios. Se posicionou na minha frente, como se quisesse falar algo.

—Você... hum... vai pra casa daqui, né?

—Aham.

—Seungmin tá lá em cima. Não quer... sei lá, subir e ficar uns minutos?

Quase me engasguei. Ele queria passar mais tempo comigo? Estava me chamando para dentro do quarto dele? Meu Deus, o que aquilo significava?

—Quero. Claro – respondi, de pronto.

Seungmin não estava lá como ele tinha dito. Chan se enrolou todo, ficou com vergonha e acabamos indo sentar na escada ao invés de entrarmos no quarto. Eram 19:45.

Eu não perguntei mais nada sobre o celular e a conversa foi fluindo novamente.

—Eu tava com saudade de ter alguém pra falar em inglês – ele comentou.

—Eu também!

—Seu sotaque me lembra.... – Chan parou para pensar, procurando as palavras – minha casa.

Não tenho certeza se ele tinha noção do quão doce aquilo soou, e do quanto meu coração ficou quentinho. Acho que não percebeu, porque pareceu confuso ao me ver ficar com vergonha.

Chris Bang parecia comigo. Não só por ser australiano-coreano e por também ter vindo de Sydney para cá. Não, ele gostava das mesmas músicas, mesmo filmes, tínhamos opiniões parecidas sobre quase tudo que conseguimos conversas. De certa forma, éramos muito opostos, claro. Ele certamente era mais fechado, mais calado, definitivamente mais teimoso e explosivo, enquanto eu sou calmo, delicado, um tanto sonhador. Mas tínhamos coisas em comum para conversarmos por horas, e foi o que fizemos. Seungmin chegou, nos deu oi, entrou para o quarto. Alunos chegaram e saíram. As luzes ao redor foram se apagando e nenhum dos dois notou.

Meu celular tocou. Jisung.

—Felix, cadê você? Você tá bem? Lee Felix, me diz que você não se meteu em encrenca – ele falou, disparado, assim que atendi.

—Eu tô bem, Han. Por que você parece tão preocupado?

—Felix, são meia noite! Cadê você? Você nunca sai essa hora.

Olhei para o celular. Meia noite e doze.

—Meu deus – murmurei. – Eu tô chegando em casa – menti.

Desliguei o telefone.

—Channie hyung, eu preciso ir embora.

Ele olhou a hora e se espantou.

—Eu não vi o tempo passar, desculpa.

Abri um pequeno sorriso, percebendo todo o tempo que ficamos ali.

—Nem eu.

Tudo ao redor fazia silêncio e as luzes estavam quase todas apagadas, o frio da madrugada começando a invadir Seoul.

Levantei, me espreguiçando, e fui descendo as escadas devagar.

—Felix?

Virei, devagar, as mãos nos bolsos por causa do frio.

—Volta amanhã – pediu.

Assenti com a cabeça, sorrindo. Nos olhamos por um breve segundo, e eu fui embora, com a cabeça nas nuvens

Assim como ele pediu, eu voltei no outro dia. E arrumamos uma desculpa para eu voltar no outro. E no outro. E, em todo tempo livre que eu tinha, me pegava naquelas escadas com ele. Sempre tinha algum filme para conversar ou música para recomendar. Sempre tinha mais coisas para conversar.

A semana passou voando. As aulas acabaram e Seungmin foi para casa dos pais passar o fim de ano. O dormitório estava ficando cada vez mais vazio e Chan ficava esquisito toda vez que eu perguntava da sua família, então só parei de perguntar. Faltavam alguns dias para o Natal, mas parecíamos estar parados no tempo, como se tivéssemos criado um universo paralelo ali, naquelas escadas no meio do campus. Eu não sabia o que era aquilo: amizade, o começo de um relacionamento. Não sabia. Mas era bom.

—Chris? – chamei, o interrompendo enquanto ele falava da música nova que estava compondo. Eu nunca havia o ouvido cantar fora do vídeo, mas gostaria de ouvir algum dia. – Desculpa interromper. Mas o que você vai fazer no natal?

Ele não precisou pensar por mais de dois segundos.

—Ah, nada.

Minhas mãos tremiam um pouco e eu já estava me arrependendo, mas perguntei do mesmo jeito.

—Quer passar comigo?

Ele me olhou, as covinhas se acentuando apenas de um lado com a sombra de um sorriso. Seu olhar parecia diferente, novo, era um olhar que eu não conhecia. Eu não sabia ler aquela expressão, mas diria que ele parecia feliz. Confortável, quase grato.

Ele apenas assentiu com a cabeça, sorrindo e me encarou por uns segundos, sem desviar o olhar. Como se analisasse cada detalhe meu. Foi a primeira vez que pensei que ele poderia, realmente, me ver como mais do que um amigo. E agora iria passar o natal comigo.

Tinham tantas coisas mal resolvidas, como o porquê de ele ter sido duas pessoas diferentes – quando o conheci e depois do café—, e o porquê se encolhia e se esquivava e fechava a cara sempre que eu fazia perguntas pessoais. Eu queria saber mais do que ele mostrava e tinha um pressentimento esquisito sobre tudo isso, mas, mesmo assim, estar perto de Chan e ser seu amigo e imaginar escondido como seria beijá-lo era tão reconfortante que eu não queria pensar em mais nada.

Deixei as perguntas para depois, mesmo sem saber se o depois algum dia chegaria.


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