A estrela mais brilhante escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 5
Capítulo 4. Quase uma eternidade


Notas iniciais do capítulo

Hello, darkness, my old friend!

Ok, esse capítulo contém um tiquinho só de drama. Aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785302/chapter/5

Assim que chegaram no hospital, Andrômeda os encarou com uma expressão grave, ainda com sua roupa de trabalho posta e os cabelos escuros, marca registrada da família, presos em um coque prático. Sirius a segurou pela mão, interrompendo o abraço que a prima ia lhe dar.

― Andie, onde está o meu filho? Onde está Rigel? ― O maroto perguntou em um tom baixo, que não cabia distrações, nem disfarces, mas aquele não era o primeiro pai desesperado com quem a curandeira lidava, ele só era mais... Próximo.

― Aqui não, Sirius. Vocês dois, venham ao meu escritório, lá eu explico melhor tudo o que eu sei. ― A mulher falou em seu melhor tom profissional, calmo e objetivo, mas o primo não estava pronto para seguir ordens. Não ainda.

― Andrômeda, eu sou um auror treinado e sei que a primeira regra ao lidar com uma família em um momento de crise é assegura-la de que tudo está bem com seu familiar, caso realmente esteja ou de que tudo irá ficar bem, caso essa seja a perspectiva. ― Ele repetiu o que havia aprendido no treinamento, porque sabia que essa parte era igual ao dos curandeiros: inicie qualquer conversa acalmando os civis. ― A regra número dois é não dizer nada e disfarçar quando as coisas não estão boas, nem fazer promessas que não pode cumprir quanto a melhora da situação. Então não me engane, diga logo o que tem que dizer!

― E a regra três é que você não pode interferir na situação, caso se trate de um ente querido. Eu não tenho notícias atuais do estado de Rigel, Sirius, mas posso te dizer tudo o que sei até agora. ― A mulher falou com paciência, mas em um tom firme. Soltou seu braço do aperto do primo, mas segurou a mão dele em retorno, tentando passar segurança. ― Vou te contar tudo que sei, mas não assim e não aqui, primo.

O homem engoliu em seco, porque seu lado pessimista estava gritando que tudo estava mal e que a qualquer minuto iriam lhe contar que o pior havia acontecido. Procurou Regulus com o olhar, em busca de apoio, fazendo a mulher também prestar atenção no rapaz mais novo. Andrômeda resolveu mudar de tática, porque precisava falar com Sirius a sós, para acalmá-lo.

― Regulus, vá falar com James e os demais, avise que Sirius chegou e eu estou conversando com ele. Se possível, peça a seu elfo para localizar Rita, porque ainda não conseguimos falar com ela. ― A mulher ignorou que já conhecia a criaturinha de longa data, porque sabia que o elfo doméstico dos Black era muito fiel a sua tia Walburga, então automaticamente a detestava como a boa traidora do sangue que era. Ele nunca aceitaria suas ordens diretas.

― Kreacher, ache Rita Skeeter. Traga ela aqui, esteja ela onde estiver, quer ela queira vir ou não, está bem? ― O sonserino ordenou com um tom sério, recebendo uma mesura profunda do elfo como resposta. ― Onde posso encontrar James e os outros?

― No primeiro andar, na ala dos ferimentos causados por criaturas mágicas. ― Andrômeda falou pacientemente, recebendo um aceno de entendimento de Regulus como resposta. Apertou um pouco mais a mão do primo, vendo o mais novo partir, antes de falar com o auror novamente. ― Venha comigo, Sirius.

A curandeira experiente entrou em um pequeno corredor, muito mais tranquilo que o caos organizado da entrada, este tendo apenas a presença de profissionais do hospital, que o usavam para circular através do prédio sem serem detidos por um ou outro bruxo mais esquentadinho e desesperado.

Entraram em uma saleta com uma placa na porta que dizia “Cr. Tonks". Sirius nunca soube como era a abreviatura de curandeiro e agora que sabia, não tinha nenhuma vontade de fazer qualquer comentário bobo a respeito. Tinha a impressão de que nunca mais olharia para nada na vida com leveza outra vez.

― Me conta o que aconteceu, Andrômeda, sem enrolação, por favor. ― Sirius se deixou cair na cadeira em frente a pequena mesa do escritório, que tinha uma foto de Dora fazendo caretas e mudando a cor do cabelo. A sonserina resolveu se apoiar na mesa, tão próxima de onde o rapaz estava sentado, que seus joelhos se tocavam.

― James chegou com ele nos braços há alguns minutos, mordida de fada mordente, pelo que eu pude ouvir, bezoar ministrado 2 minutos depois do incidente. Foi encaminhando direto para o setor de cuidados intensivos. ― Andrômeda falou sucinta, depois deu um sorriso triste para o primo, que parecia não ter entendido bem o que ela havia dito. ― James é um ótimo auror também, Sirius, só nos deu informações importantes, direto ao ponto.

― Fada mordente? Mas uma mordida dela não causa apenas irritação? ― O maroto perguntou sem entender o porquê de tanto alarde, havia lido algo sobre as criaturinhas mágicas, tanto em Hogwarts quanto nos treinamentos para auror, no livro de Scamander. Tinha certeza que elas não passavam do nível 3 de perigo!

― Causam mais do que isso, porém mordidas de doxy são tão comuns e o antídoto ministrado tão rapidamente, que os efeitos não passam disso na maioria dos casos registrados. ― Andrômeda esclareceu didaticamente, mas depois encarou o olhar ainda desfocado do primo. ― Sobre o nosso caso, James pediu para me chamarem imediatamente, disse que precisava voltar para ver como estava Lily, então me pediu para chamar você.

― Por que ele demorou tanto para trazê-lo aqui? ― O homem ignorou as últimas informações dadas, porque tinha suas próprias perguntas para fazer.

― Você está fazendo suposições basea-

― Deu tempo de encontrar um bezoar para dar a Rigel e para os sintomas piorarem antes disso, então significa dizer que levou tempo demais para ele ser trazido. Posso ser inexperiente, mas não sou estúpido, Andrômeda! ― O grifinório concluiu com irritação, não com a prima, mas com James, com toda as pragas mágicas que existiam e por que não? Consigo mesmo, por não ter previsto isso!

― Claro que não, você é ótimo em deduções, pelo visto. Sim, o atendimento demorou, aparentemente a lareira dos Weasley estava com algum problema e com tantas crianças pequenas para cuidar, não me admira que não tenha sido prioridade consertá-la.

O animago acrescentou os Weasley e sua incapacidade de manter sua casa funcionando à lista de coisas com as quais estava furioso, mas depois se arrependeu, porque o casal ruivo era boa gente e ele estava perdendo o foco do que realmente era importante.

― Quais as chances dele, Andrômeda? Pode não saber como ele está agora, mas ao menos sabe, dentro de sua experiência aqui, o que pode acontecer, não é? ― O auror perguntou esperançoso, então a mulher sopesou a resposta com cuidado.

― Nossa equipe é muito boa e nosso antídoto eficiente, então eu diria que são boas, mas, Sirius... ― Andrômeda se interrompeu, porque não sabia como dizer isso sem soar pessimista. ― Ele é muito pequeno...

Ele é muito pequeno e venenos não demoram muito a chegar em órgãos vitais quando não se tem um grande caminho a percorrer, era essa a informação completa que a prima queria dizer, ou seja, não era para ele criar muitas esperanças.

Agora que sabia a verdade, parecia que tinha sido anestesiado, porque com certeza seu cérebro não podia compreender completamente a enormidade da coisa: ia perder seu filho!

Em menos de dois anos, Sirius ia perder a única coisa boa e concreta que fez na vida, iria ser um... Como chamavam pais que perdiam seus filhos? Não achava que havia uma palavra para definir uma aberração da natureza como essa, porque isso não era suposto acontecer nunca!

Rigel ia fazer 2 anos, finalmente tinha tamanho suficiente para entrar na própria festa de aniversário montado em uma mini vassoura, ele queria entrar montado em uma mini vassoura, estava animado, era feliz...

Foi feliz.

― Andrômeda, eu não posso... ― Sirius começou, mas a prima o interrompeu com um abraço apertado e desajeitado naquela pequena cadeira de seu escritório.

― Eu sei e não vai. Você não vai perdê-lo, Sirius. ― Como curandeira, Andrômeda não podia fazer promessas, mas como prima e amiga podia ter esperanças, então teria pelos dois, porque o jovem entre seus braços parecia que já tinha sido derrotado. ― Não vamos perdê-lo, eu prometo.

Queria ter mais do que promessas para reconfortá-lo, mas, por hora, elas teriam que ser suficientes.

***

Regulus caminhou pelos corredores do primeiro andar finalmente consciente das vestes estranhas que estava usando. Os olhares o acompanhavam pelo caminho e por mais que soubesse que era besteira se preocupar com esse tipo de coisa enquanto estava com o sobrinho sendo tratado por alguma coisa grave, em alguma sala daquele hospital, não pôde evitar querer se abraçar para se cobrir um pouco mais.

“A marca está coberta, ninguém está olhando para você com raiva, para com isso!”, o sonserino praticamente gritou para o seu cérebro ansioso e então suspirou aliviado ao ver um rosto inesperado, mas ao menos conhecido, sentado em um dos bancos de espera do andar.

― Snape, que surpresa vê-lo! Desculpe minha falta de maneiras hoje, mas, você por acaso viu os Potter passando por aqui? Estou procurando por eles com urgência, poderia me ajudar, por favor? ― Rude, rude, rude. Pensou o sonserino com suas lições de boas maneiras muito entranhada nas vísceras para serem ignoradas.

Regulus sabia que havia sido indelicado não cumprimentar o homem apropriadamente, perguntar sobre seu bem estar e sobre a saúde de quem quer que ele estivesse visitando no hospital e, pior ainda, fez perguntas sem nem lhe dar tempo para respondê-las devidamente.

Entretanto era realmente uma emergência, então Severus Snape teria que lhe perdoar.

― Os Potter acabaram de sair daqui, Black, os perdeu por segundos. ― Snape informou em seu tom sóbrio e distante, mas o olhar era avaliativo. Regulus fez menção de tentar alcançá-los, então só por isso o sonserino mais velho continuou. ― Potter foi procurar um lugar para Lily descansar um pouco, ela não estava se sentindo bem com toda a comoção. Não deve demorar a voltar, ele quer falar com seu irmão.

Oh, realmente, Lily Potter estava grávida e pelo que sabia, já em um estado avançado. Ter que trazer um bebê machucado às pressas para um hospital não deveria ter feito nenhum bem para a saúde da mulher ou a do bebê. O rapaz iria perguntar mais detalhes sobre a situação de Lily, mas se interrompeu ao perceber uma coisa importante.

― Você também está aqui por causa de Rigel? ― O sonserino mais jovem questionou surpreso, em uma pergunta que era quase uma afirmação.

― Ajudei Potter com a criança. Bem, o máximo que pude, ele não estava exatamente em condições de ingerir o bezoar que lhe dei e certamente não sei o quanto do antídoto universal ele conseguiu absorver. ― Snape explicou com razoabilidade, fazendo Regulus se sentar ao seu lado um pouco atônito.

― Foi envenenamento então? Como isso aconteceu? ― O rapaz perguntou aflito, afinal era de seu único sobrinho que estavam falando, mas não adiantava nada pressionar muito o outro sonserino. Severus Snape sabia ser hermético quando queria e quando se sentia pressionado, Regulus lembrava bem dos seus tempos de escola.

― Não me explicaram exatamente, só sei que a criança foi mordida por uma fada mordente e o transporte para o St. Mungus estava complicado. Lily não quis arriscar aparatar ou usar chave de portal com o menino, porque ambas as coisas poderiam ser fatais em um caso como esse e qualquer veículo mágico demoraria tempo demais para chegar até aqui de qualquer jeito.

― E quanto as lareiras? Não tinha nenhuma por perto? ― Regulus questionou enquanto tentava assimilar as informações. O que se lembrava sobre mordidas de fadas mordente? Não muita coisa, se não se recordava que estas poderiam ser graves.

―  A lareira dos Weasley estava recentemente entupida, creio que por conta de uma reforma de ampliação que estavam executando para comportar a família enorme que estão construindo. ― Snape falou sem emoção, mas havia um toque de julgamento no leve torcer de boca que fez.

Regulus não podia culpá-lo, seis meninos com menos de 10 anos parecia excessivo para qualquer família.

― Céus, como pudemos deixar Rigel ir a um lugar como esse? ― O sonserino mais novo apoiou os braços descobertos nas pernas, ainda vestidas com aquela calça de couro ridícula de seu irmão.

A verdade é que não tinha nenhum preconceito real contra os Weasley, mas Rigel era uma criança protegida: quando estava com seu irmão, sabia que, entre Sirius e os amigos, o menino nunca estava sozinho. Com a mãe e os avós maternos era a mesma coisa e em sua casa, Kreacher não deixava Rigel desassistido um único segundo do dia.

E na casa de todos eles as lareiras estavam em plena capacidade de uso, claro.

― Cuidado, Black, quem te ouve pode até pensar que você se acha melhor do que eles e isso, nos dias de hoje, é altamente perigoso. ― Snape comentou com algo como divertimento no tom de voz, mas depois mudou para um mais cauteloso. ― Embora o maior motivo para ser execrado em praça pública não esteja mais tão aparente em sua pele...

O jovem tirou as mãos da cabeça, olhando para o local que parecia ser alvo da atenção do colega de casa agora. Seu braço exposto, pintado com mapas estelares em uma tatuagem trouxa ainda chamava muita atenção, mas não de todo negativa e, lembrou-se com certo atraso, essa solução devia interessar ao também ex-comensal da morte ao seu lado.

― É só tinta trouxa, tem funcionado por hora. ― O garoto explicou em um tom cansado, porque estava mais preocupado com a saúde do sobrinho do que com a sua antiga marca negra, embora sempre tivesse uma vozinha na cabeça lhe sussurrando para que ele conferisse de novo e de novo e de novo se sua maior vergonha não estava exposta aos olhos de todos.

Ao que parecia, não importava o quanto cobrisse, a marca negra havia se infiltrado por sobre a pele, chegando até o seu coração sempre assustado.

― Mais uma ideia brilhante do seu irmão mais velho, suponho. ― Dessa vez o tom de desdém era perceptível na voz do pocionista em treinamento. Regulus o olhou avaliativo, antes de responder com cuidado.

― Sim, foi ideia de Sirius. ― O rapaz teria completado com um “Ele não é tão ruim quanto pensa", mas qual era o ponto? Snape tivera tempo de sobra para tirar suas próprias conclusões sobre seu irmão e, no fim das contas, nada daquilo importou no momento mais crucial de todos. ― A propósito, agradeço em nome dele, em meu nome e de toda nossa família pelo que fez por Rigel, Snape. Ficaremos eternamente em dívida com você.

Snape soltou um som de descaso com a boca, que Regulus sabia não ser verdadeiro, já que o outro desviou o olhar para o lado, provavelmente incomodado com o agradecimento inesperado.

― E o que eu supostamente deveria fazer com a gratidão eterna de vocês, Black? Potter falou o mesmo e o que lhe respondi é que não adiantará de nada minhas boas ações, se no fim do dia o menino sucumbir de qualquer jeito. ― Snape comentou em seu tom monocórdico, daquela maneira peculiar que uma serpente ataca quando se sente ameaçada.

Por sorte, Regulus também era uma serpente e não levou aquela aparente crueldade do outro para o coração, tinha coisas mais importantes com o que se preocupar.

― Suas boas ações adiantam muito, Snape. Adiantam principalmente porque ninguém as esperava. ― Regulus falou olhando fundo nos olhos do outro, que dessa vez não se deu ao trabalho de desviar o olhar. Severus não tinha como desviar de olhos sinceros como aqueles. ― Eu serei eternamente grato.

O caçula dos Black finalizou em um quase sussurro, mas foi alto o suficiente para aquecer o peito do ex-comensal da morte. Era estranho, sabia que o agradecimento entre lágrimas de Lily e o contrariado de Potter também haviam sido sinceros, mas de alguma forma sentiu como se aquele valesse mais.

Talvez fosse porque sabia que o agradecimento de um sonserino significava uma vida inteira de respeito. E aquilo sim tinha um valor inestimável para o bruxo.

***

Alguns minutos silenciosos depois, Sirius e Andrômeda apareceram no corredor em que Regulus e Severus aguardavam por notícias de Rigel. O maroto parou confuso em seu topor, depois subitamente em alerta e por fim irritado.

― Que merda esse cara está fazendo aqui? ― O grifinório rosnou para ninguém em particular, sendo contido por um Regulus que havia se levantado quase que automaticamente ante a visão do irmão.

― Sirius, calma, ele só...

― Eu não quero saber, Regulus! Esse é um assunto de família e você tem dois segundos para sumir da minha frente, Snape! Um... ― O auror começou a contagem absurda, porque sabia muito bem que não daria tempo para o rival fazer nada, a não ser servir como válvula de escape para sua frustração crescente, em dois segundos.

― Ele salvou a vida de seu filho! ― Andrômeda informou, antes que o primo tolo fizesse alguma besteira pela qual se arrependeria enormemente. Sirius parou de forçar sua passagem pelo irmão, desorientado. ― Snape ministrou o bezoar em Rigel, sem ele não teríamos nada pelo que ansiar agora, Sirius.

As palavras de Andrômeda pareciam não fazer o menor sentido, ainda mais que o próprio Severus Snape permanecia parado no mesmo lugar, com uma postura ereta, mas confortável, de quem estava ali a algum tempo. O sonserino apenas desviou o olhar de leve para encará-lo, ainda sem expressão.

― Se isso é verdade, por que não me disse nada, Andrômeda? ― Sirius perguntou incerto, ainda duvidando da validade daquela informação. Por que diabos alguém como Severus Snape faria qualquer coisa para ajudar a salvar a vida de seu filho?

― Porque não faz diferença alguma quem fez o que para salvar Rigel, Sirius! ― A prima falou com paciência, levemente alheia a relação entre os dois jovens, embora já tivesse percebido que havia uma grande animosidade ali. ― Snape fez o melhor que pôde e, independentemente de qualquer que seja a sua rusga com ele, só temos que ser gratos que ele estava por perto na hora do acidente.

― E por que ele estava por perto, para início de conversa? ― Sirius questionou com um pouco mais de calma, mas sem conseguir esconder a suspeita em sua voz. Snape não era confiável, não importa o quanto ele se fizesse de santo na frente da sua família igualmente sonserina.

― Não estava, mas estava livre para aparatar, diferente de seu filho, que precisava de atenção imediata e não podia ser movido. ― O sonserino tentou manter o tom o mais neutro possível. Em outras circunstâncias teria usado a vulnerabilidade de Black para provocá-lo ainda mais, porém, hoje, algo o dizia que atravessaria uma linha perigosa caso o provocasse.

E gostava de pensar que era um pouco menos tolo do que fora há alguns anos e um pouco menos impulsivo do que o próprio Black era atualmente. Um homem superior, em resumo.

― Por que não chamaram um medibruxo, então? ― Sirius perguntou sem forças, soando patético até mesmo para os próprios ouvidos.

― Você viu a confusão que é o nosso saguão, Sirius. Mesmo um auror teria dificuldade para encontrar e deslocar um medibruxo ou curandeiro de volta à casa dos Weasley. Novamente, seu amigo James pensou rápido. ― Andrômeda argumentou, ao mesmo tempo que forçava o primo a se sentar no banco pelos ombros. Regulus se sentou ao lado do irmão, entre ele e Snape.

Lily pensou rápido, porque Potter jamais cogitaria meu nome para qualquer coisa, menos ainda para pedir ajuda. ― Severus retrucou incomodado, porque agora o Black mais novo estava muito perto, colado a sua lateral do ombro até às coxas. Aquele banco não fora feito para comportar três homens adultos.

― Bem, a mim não importa quem fez o que, estou apenas grata que tudo tenha sido feito. ― Andrômeda falou simpaticamente para o jovem taciturno, que com certeza tinha um bom coração embaixo de toda aquela seriedade. Conviveu pouco com os calouros de sua casa, mas se lembrava do jovem tímido e solitário, que sempre estava com um livro de poções embaixo do braço. ― Estamos todos muito gratos pelas suas ações, Snape.

Oh, Merlin! Sirius pensou enjoado. Não podia estar outra coisa que grato, porque se tudo que havia sido dito nos últimos minutos era verdade, Severus Snape, o homem com quem brigou quase até às vias de fato incontáveis vezes, havia salvado mais do que sua vida hoje.

Havia o considerado desprezível desde a primeira vez que o vira embarcar no Expresso de Hogwarts, talvez tivesse um de pouco preconceito e perversidade dos Black ainda em si naquele momento, mas daquele dia em diante, Snape havia sido um inimigo formidável, rebatendo cada uma de suas pegadinhas e armações com crueldade igual ou superior.

E agora ele havia salvado a vida de seu único filho.

Talvez aquele tivesse sido o golpe mais certeiro que o sonserino pudesse lhe dar, porque doía como o inferno. A maior parte da dor se devia ao fato de que seu filho precisou de sua ajuda e ele não estava lá para dá-la, mas a pior com certeza era porque nunca, não importava o quanto vivesse, poderia retribuir aquele ato.

Snape havia simplesmente salvado a sua alma fora do corpo sem hesitar e não havia nenhum jeito de Sirius igualar o placar agora.

― Snape, eu... ― O grifinório começou a falar e, embora não tivesse a menor ideia do que iria dizer, se interrompeu ao ver uma curandeira caminhar com determinação na direção do seu pequeno grupo.

― Vocês são os familiares de Rigel Black? ― A mulher questionou seguindo o protocolo, embora o olhar de sua colega de trabalho fosse resposta o suficiente.

― Sim, ele é o pai. Qual a situação da criança, curandeira? ― Andrômeda tomou a liderança, embora Sirius tivesse se levantado muito ansioso para controlar as própria pernas e permanecer sentado. A mulher recém-chegada o olhou com simpatia.

― Ele está estável. Conseguimos estabilizar os principais sintomas e parar o espalhamento do veneno pelo sistema circulatório, então ele está fora de perigo. ― A curandeira informou com um sorriso pequeno, porque era sempre bom ser a portadora das notícias que traziam alívio para uma família aflita. ― Porém, ele ainda demanda cuidados e só poderemos dizer se há algum dano interno permanente depois de mais algumas horas. Temos que ver como o corpo dele reage as poções.

Sirius havia respirado de verdade pela primeira vez desde que Andie havia aparecido na lareira da Mansão Black, mas assim que a curandeira terminou a notícia, seu estômago voltou a se apertar em um nó e seus pulmões ameaçaram falhar por completo.

Como assim “dano interno permanente"?

Parecendo ler o olhar aterrorizado do pai, a curandeira achou por bem esclarecer o que tinha acabado de dizer. Andrômeda acompanhou a explicação com receio, porque podia apenas ser procedimentos de rotina, um zelo extra dado a gravidade da situação ou poderia haver indicativos desse tal dano, aguardando apenas por uma confirmação.

― O antídoto para mordida de doxy já é facilmente ministrado, mas quando se recebe um paciente em um estágio mais avançado do envenenamento, às vezes é difícil reverter os danos que já foram sofridos. ― A mulher começou a falar e quando viu que quase todos iriam lhe questionar algo, colocou as palmas da mão para cima, para tranquilizá-los. ― Mas no caso de Rigel, não há evidências de que haja algum dano, esperamos que continue assim quando formos checá-lo novamente mais tarde.

― Isso significa dizer que já posso vê-lo agora? ― Sirius perguntou esperançoso, afinal, a mulher disse que ele estava bem ou pelo menos tão bem quanto poderia estar.

― Pode, mas deixaremos o restante das visitas para quando ele estiver com menos poções sendo ministradas. Como eu disse, o caso de seu filho ainda inspira cuidados. ― A mulher falou com amabilidade, sorrindo para sua colega de trabalho, que a agradeceu pelas informações com uma mão no ombro. ― Vou deixá-los a sós por um momento. O quarto de seu filho é o 146, senhor Black.

Sirius assentiu com a cabeça, depois se deixou ser abraçado pelo irmão, sob o olhar cuidadoso da prima. Merlin, estava tudo bem! Assim que conseguisse fazer suas pernas voltarem a funcionar, iria pode ver o filho e acabar finalmente com esse pesadelo.

Andrômeda esfregou seus braços, tentando lhe passar energia, o que foi o suficiente para que ele ao menos conseguisse se afastar de um Regulus sorridente e aliviado. Sorriu para o seu irmão de volta.

― Está tudo bem, Six. Rigel está bem. ― O rapaz mais novo falou com convicção e Sirius não pôde deixar de notar que ele finalmente voltara a usar seu apelido de infância.

― Sim, Reg, está tudo bem. ― Falou com calma, quase como se a voz não pertencesse a ele e sim a um estranho. O alívio extremo podia provocar sensações estranhas, quase como se estivesse em um sonho muito iluminado e colorido. Sirius se sentia um pouco tonto e fora do eixo.

― Bem, fico contente de ouvir que o menino está bem. Vou me retirar agora, mas avisarei aos Potter sobre as boas notícias. ― Snape informou às suas costas, fazendo Sirius virar para encará-lo de frente.

Céus, ainda não sabia como exprimir tudo que estava sentindo, mas ao menos tinha que fazer alguma tentativa de agradecimento ao sonserino. O homem havia realmente salvado a vida de seu filho, não tinha como deixar esse ato passar em branco!

― Snape, eu só... Eu só espero que saiba que você salvou a melhor parte de mim hoje. ― O maroto falou no seu tom mais contrito e mesmo observando de perto, não viu nenhuma reação no rosto de seu rival de toda uma vida. ― E eu nunca me esquecerei disso.

― Espero que seja a melhor parte mesmo, Black. ― O homem respondeu esboçando um quase sorriso, que Sirius recebeu conformado. Claro que Severus Snape aceitaria seu agradecimento torto com uma provocação sarcástica.

De certa forma era um alívio que houvesse alguma normalidade no momento.

Sirius partiu para o quarto de seu filho com uma energia renovada, deixando os outros presentes para trás sem nem dar um segundo pensamento a eles. Andrômeda se despediu logo em seguida, feliz de poder voltar ao trabalho com notícias realmente boas.  A curandeira manteria um olho na situação de Rigel, agora que esta não era mais crítica e sigilosa.

Regulus e Severus continuaram parados no corredor, ambos encarando o local por onde os outros dois Blacks haviam saído, com pensamentos completamente dispersos. O mais novo se recuperou primeiro e se voltou para o homem ao seu lado com um sorriso travesso.

― Para um bom sonserino, tenho certeza que esse desfecho foi bastante satisfatório, não é? Uma forma definitiva de deixar claro quem é o melhor homem dos dois inimigos ou algo assim. ― O pouco óbvio rapaz no papel de lorde Black falou com tranquilidade, cruzando os braços e encarando Snape com diversão.

― Só uma criança pensaria em algo do tipo, Black, sonserino ou não. ― Severus respondeu com pouca emoção, embora o rapaz não estivesse de todo errado. Mas estava para nascer um dia em que daria razão a um Black, fosse ele quem fosse.

― Não se preocupe, Snape, seu segredinho sujo de herói está bem guardado comigo. ― O Black mais novo ainda teve o atrevimento de concluir o comentário com uma piscada de olho. Uma piscada de olho, por Salazar!

Snape conteve sua irritação com o rapaz, apenas lhe dando as costas e seguindo seu caminho, porque, sendo um Black, claro que mais dia ou menos dia o garoto se mostraria tão inconveniente quanto seu irmão mais velho.

Uma pena, porque, até que lorde Regulus Black era uma coisinha interessante de se olhar.

***

Sirius entrou no quarto do filho animado, porque na verdade esperava encontrar Rigel acordado ou... Na verdade não tinha pensado muito sobre como ele estaria, já que a curandeira havia dito que ele estava bem e, como em um passe de mágica, todas as imagens de seu bebê como qualquer coisa diferente de uma criança feliz desapareceram de sua mente.

Então foi como se tivesse recebido um feitiço glacius nas fuças, quando viu o seu pequeno rodeado de tubos com poções ligadas por intravenosas e uma espécie de gaita de fole soprando ar por um tubo até o rosto do seu bebê.

Parou na porta, perturbado, porque além da visão ser desconcertante, aquela criança não se parecia em nada com seu Cometinha. Deu um passo involuntário para trás, quase se batendo com a curandeira simpática que havia falado com ele há alguns minutos.

― É normal se assustar com a imagem, mas está tudo bem, senhor Black, posso garantir. ― A mulher falou com calma, porque pais, ainda mais tão jovens, costumavam não saber como agir em momentos de crise. Passou na frente do homem, se aproximando da criança inconsciente. ― A maioria dessas poções serão retiradas antes do amanhecer e o respirador é só um acessório para deixá-lo descansar com mais tranquilidade, ele está apenas dormindo, isso é tudo.

Sirius olhou para o pequeno corpo na cama. Não, não se parecia em nada com seu filho. Será que havia a possibilidade, por mais remota que fosse, de que aquela criança não fosse Rigel Halley Skeeter Black? Se aproximou um pouco mais, só para ter certeza.

Merlin, era Rigel! Era e não era, porque havia visto o garoto dormir desde que nasceu e nunca, em seus quase dezoito meses de vida, o menino havia dormido assim, tão parado. Rigel gostava de chutar ou de abraçar apertado qualquer coisa que colocasse as mãos e aquela criatura infeliz só estava ali deitada, quieta.

― Vou deixá-los a sós, se precisarem de qualquer coisa, só precisa executar o feitiço de emergência anotado na cabeceira do leito, que eu venho imediatamente. ― A mulher falou com empatia. Sabia que nunca era fácil ver um ente querido naquelas condições. Fechou a porta com cuidado atrás de si.

Sirius se aproximou um pouco mais do leito e pôde vislumbrar uns cachos loiros, revoltos e volumosos, mas sem movimento algum, o que era tão pouco característico de seu bebê. Sentou na poltrona ao lado da cama e fez menção de pegar a pequena mãozinha estendida próximo de sua perna, mas os dedinhos pareciam tão inchados, que achou melhor não tocá-los.

Abraçou de leve os próprios braços, estando sentado de novo naquela mesma posição de impotência absoluta em que esteve no dia do nascimento de Rigel. Novamente teria que esperar e novamente estava sozinho em seu sofrimento, preso dentro de sua própria mente.

Alguns minutos ou horas depois, a porta do quarto se abriu e mesmo que seu cérebro não estivesse muito disposto a cooperar com sugestões de cenário, o animago não estava preparado para a voz assustada que ouviu.

― Sirius, o que foi que aconteceu? ― Rita questionou mais como uma súplica do que algo fruto de sua curiosidade natural. Alguém já devia tê-la explicado alguma coisa, porque aqueles olhos verdes felinos queriam mais do que um esclarecimento, pareciam pedir por uma justificativa.

Sirius se levantou com os braços abertos e não tinha muito o que pudesse dizer ou argumentar, Rigel quase tinha morrido em seu turno, por sua culpa, porque ele não estava lá para protegê-lo, então disse a única coisa que veio em sua cabeça.

― Sinto muito, Rita. ― Sua voz não era nada mais do que um sussurro, mas a bruxa parecia ter ouvido. Ela assentiu com a cabeça e então continuou caminhando para o outro lado do leito no meio do quarto, sem o olhar nos olhos. ― Eu não sei como aconteceu, mas isso tudo foi minha culpa.

Ela não concordou ou ofereceu consolo, apenas observou os traços do filho completamente mudados debaixo de todas aquelas parafernalhas médicas. Ficaram assim por alguns minutos, Rita observando Rigel, imóvel e Sirius observando a jornalista, que a qualquer minuto iria se exaltar e fazê-lo pagar pelo mal que havia feito ao seu bebê.

Mas depois de uma eternidade, ela apenas descalçou os sapatos com as pontas dos pés e de algum jeito, que Sirius só podia pensar que havia envolvido magia, conseguiu se encaixar no pequeno espaço da cama do menino. Ela também parecia muito pequena vista de cima.

O grifinório voltou para o mesmo lugar de antes, fingindo que não escutava o choro baixo e os murmúrios carinhosos que a mulher dizia apenas para os ouvidos do filho. Apoiou os cotovelos no joelho e a cabeça nas mãos e dessa vez não pôde evitar, chorou por sua vida quase perdida.

***

Em algum momento da noite pareceu que pegou no sono, ou pelo menos entrou em algum estado catatônico só modificado quando uma curandeira diferente veio checar a situação de Rigel. A mulher observou os sinais vitais e, para seu eterno alívio, desconectou duas das quatro intravenosas que se cruzavam em um único acesso no braço da criança.

Assim que ela saiu, Rita, que também observara toda a ação, finalmente se pronunciou.

― Precisamos de um contato de emergência. ― Ela falou sem emoção, embora ainda estivesse deitada ao lado de Rigel, acariciando os cabelos macios do bebê. ― Meus pais são muito velhos e Andrômeda tem horários tão ruins quanto os nossos. Precisamos de um padrinho ou madrinha acessível.

Sirius engoliu em seco, porque Rita nunca havia se preocupado com sua indecisão sobre os padrinhos, não era algo obrigatório sob nenhuma circunstância, então muitos pais nem sequer davam um segundo pensamento a isso.

Mas o maroto sempre quisera um padrinho para o filho, por razões que nada tinham a ver com horários ou emergências, queria apenas garantir que Rigel tivesse uma família segura, não importava o que acontecesse. Mas Rita tinha razão, seus horários eram mesmo muito complicados.

Como auror, Sirius trabalhava em turnos definidos por uma escala semanal e sendo um auror novo, nem sempre pegava os melhores horários. Já Rita era uma jornalista e, embora a maior parte de seu trabalho fosse atrás de uma mesa de escritório, ela muitas vezes fazia viagens misteriosas atrás de furos jornalísticos e informações para os seus trabalhos biográficos, então nem sempre era fácil encontrá-la. Na maioria das vezes o pessoal do Profeta Diário sabia ainda menos onde ela se encontrava do que o animago.

A questão é que suas opções eram bem poucas, se fosse analisar com cuidado. Moony, o favorito de seus amigos para Rita, com quem a mulher trocava algumas farpas, por causa de Dumbledore, mas ainda assim era amigável na maior parte do tempo, tinha o empecilho de estar indisponível pelo menos em um período muito específico do mês.

E no restante do tempo Remus se dividia entre o seu trabalho no Ministério e as aulas no curso de DCAT, sempre tendo que compensar sua ausência em um ou outro e em algumas semanas particularmente difíceis, tendo que compensar o trabalho acumulado nos dois lugares durante o tempo livre.

Wormtail, por outro lado, tinha bastante tempo livre, mas em compensação vivia em uma situação incômoda, ainda morando na casa dos pais provisoriamente e sem muita paciência para crianças e menos sangue frio ainda para lidar com situações de crise, por mais boa vontade que tivesse.

E Rigel era só um pouquinho mais obediente a ele do que era a um estranho qualquer na rua.

A voz de Rita cortou novamente seu momento de reflexão em um tom de aço, que o grifinório nunca tinha ouvido ela usar antes.

― Potter não.

Ela havia falado simplesmente, de um jeito que não cabia contestação e talvez essa única frase tenha sido tudo que ela tinha querido dizer com a introdução dessa conversa. E o que ele poderia dizer contra isso? A sonserina nunca tinha gostado realmente do casal Potter, que Sirius tinha como modelo de uma vida estabilizada, mas depois de hoje...

Respirou fundo, se sentindo um traidor em cada fibra do seu ser.

― Tinha cogitado Regulus, o que acha? ― Falou com a voz sem emoção, mas por dentro estava com o coração feito em pedaços. Amava Regulus e ele realmente era uma de suas primeiras opções, mas não defender Prongs nesse momento parecia ter quebrado algo muito importante dentro de si.

― Gosto de Regulus, o elfo dele parece ser confiável. ― Rita falou em um tom conclusivo, que não trouxe nenhum alívio para Sirius.

Esperava que quando finalmente decidisse o nome do padrinho de Rigel fizesse isso com alegria e uma grande dose de alívio, porque finalmente teria terminado uma de suas mais longas batalhas internas, mas tudo que sentia agora era um vazio enorme.

Tinha medo de que sua decisão o levasse a perder algo essencial em sua vida.

***

Após a curandeira retornar mais uma vez ao quarto, dessa vez para desconectar o maldito objeto sanfonado, que soava como um apito quebrado, sem fôlego, Rigel finalmente se mexeu um pouco, procurando pelo calor da mãe.

Rita sorriu e abraçou o bebê com mais confiança, então Sirius aproveitou a deixa para ir buscar alguma coisa para comerem, já que a noite havia sido longa e nenhum dos dois iria sair dali tão cedo, ao que parecia.

Saiu do quarto em silêncio, apenas para ser engolfado em um abraço anormalmente quente. Nem precisava se afastar para saber quem era, se o calor não informasse, certamente o cheiro gostoso de chá e livros antigos davam conta de denunciar o seu atacante.

― Eu sinto muito, Pads. ― A voz de Moony soou abafada em seu ombro, mas a sensação de tê-lo por perto era quase como um bálsamo. Suspirou cansado, se permitindo ser consolado pela primeira vez em horas. ― Queria ter vindo antes, mas já tínhamos chegado no local do show e você disse que a gente se encontrava lá, então achei que você e Regulus só haviam se perdido na multidão, eu... Sinto muito.

― Está tudo bem, Moony. Rigel está bem, eu estou bem e... ― Se afastou para ver o rosto familiar do amigo, que o olhava apreensivo, com seus grandes olhos de um castanho quase dourado. ― Está todo mundo bem, eu acho.

― Certo, certo, isso é bom. ― O maroto mais tímido se afastou, tentando retomar um pouco da compostura. Sirius sorriu para o desconforto do amigo com familiaridade. Ao menos Moony nunca falhava em fazê-lo sorrir. ― E então, Rigel já pode receber visitas?

― Não tenho certeza, tenho que perguntar às curandeiras, mas ele já está bem melhor do que estava no início da noite, sem sombra de dúvidas, então... ― O animago deu de ombros, para demonstrar que aquelas eram sim excelentes notícias, então deviam se conformar. ― Estou indo agora pegar alguma coisa para eu e Rita comermos. Você já tomou café da manhã?

― Comi qualquer coisa em casa, antes de voltar para cá. ― Remus explicou distraidamente, depois mordeu o lábio inferior com nervosismo. Sirius o observou com uma sobrancelha levantada. ― E então... Já falou com Prongs, Pads?

O auror se manteve calado por alguns segundos, tentando pensar em uma boa resposta para a pergunta. Depois se deu um chute mental, porque a única resposta possível era...

― Não, ainda não falei com Prongs. A gente se desencontrou ontem à noite. ― Explicou com pouca emoção, então coçou os olhos cansados, porque tinha muito o que pensar antes de falar com James. ― A propósito, como está Lily? Soube que ela passou mal ontem... Devia ter sido a minha primeira pergunta, como ela está, Moony? E o bebê?

― Ninguém espera que você esteja com cabeça para fazer o que é mais sensível, Pads. Mas de qualquer forma, Lily já está bem, um pouco abalada, mas é mais emocional do que físico. ― Moony falou com calma, tentando fazer valer seu ponto sem irritar o amigo visivelmente exausto. ― Tenho certeza que ela vai ficar ainda melhor, assim que vocês todos esclarecerem as coisas.

― Que coisas, Moony? O que tem para esclarecer? Foi tudo um acidente, a gente já pode... Você sabe, deixar tudo para trás. ― O auror falou com impaciência, porque estava cansado de pensar sobre tantas questões, ainda mais sobre essas coisas sentimentais.

― Certo, vamos pegar alguma coisa para você comer, depois eu quero te levar para um lugar. ― Moony falou misterioso, mas depois deu um sorrisinho gentil para o amigo desconfiado. ― Não se preocupe, é aqui mesmo no hospital.

― Não estou preocupado, eu ainda sou capaz de dizer não e resistir a sua cara de pufoso que caiu da mudança, Moony. ― Sirius falou divertido, arrancando um riso de leve do outro maroto.

― Fico feliz que continue iludido como sempre, Pads, isso realmente me deixa aliviado. ― O lobisomem falou tudo enquanto apertava seu ombro de leve.

Sirius também se sentiu aliviado com isso.

***

Engoliu um muffin seco, junto à um café preto sem açúcar, só para calar seu estômago que estava mais vazio do que imaginara. Remus ainda insistiu que ele comece um pouco dos ovos mexidos e do bacon do balcão quente do buffet da cafeteria, mas a verdade é que Sirius não queria ficar tanto tempo assim longe de Rigel.

Pediu uma torta qualquer e um cappuccino para Rita, porque não fazia ideia do que ela gostava de comer no café da manhã agora. Quando ainda estava amamentando, ela evitava qualquer tipo de cafeína e leite, que pudessem deixar Rigel alerta ou com cólica durante a noite, mas agora a mulher já estava comendo o que lhe desse na cabeça novamente, então sua escolha era sempre um feitiço no escuro.

Remus tomou o pacote de comida da sua mão com um sorriso sonso e o maroto apenas o encarou com desconfiança.

― Por que eu não entrego isso a Rita e você não dá um pulo lá na sala de Andrômeda, hum? ― Moony perguntou, mas na verdade era uma ordem implícita. Antes de Sirius responder um “Porque eu não quero" malcriado, o lobisomem foi mais rápido. ― É importante, Pads.

Ok, era importante, Moony havia dito e ele tinha uma infeliz mania de acreditar em tudo o que o lobisomen dizia.

Respirou fundo, revirando os olhos, então se encaminhou para a pequena sala da prima lá no térreo do hospital. Acompanhou Moony até o primeiro andar, depois o elevador, sempre abarrotado de bruxos e bruxas de todos os tamanhos e idades, parou no térreo, onde era o destino de todos que ainda estavam ali ao seu lado.

Se encaminhou para a sala da prima resignado, porque sabia que o quer que a mulher queria falar com ele, poderia esperar até que ele descansasse mais um pouco e parecesse mais como um ser humano novamente.

Mas Moony havia insistido, então...

Abriu a porta sem bater e depois agradeceu por isso, porque, na saleta apertada de Andrômeda, estavam amontoados Wormtail, Prongs e Regulus, cada um parecendo mais miserável em seu sono do que o outro. Sirius sorriu para a cena adorável, mas pigarreou em voz alta, porque ele, ao contrário dos três homens adormecidos de qualquer jeito, não tinha um só osso fofo em todo o corpo.

Regulus foi o primeiro a acordar e levantar do canto em que havia se enfiado, entre um armário e a parede mais comprida e sem janelas da sala. Seu irmão parecia que havia sido atropelado por um trem pela careta que estava fazendo ao se levantar.

― Você é muito jovem para estar sentindo tanta dor, Reg. ― Sirius provocou divertido, o ajudando em sua tarefa de ficar de pé.

― Eu nunca dormi no chão em toda a minha vida, Sirius, dá um tempo! ― Regulus falou falsamente irritado, mas na verdade apenas estava checando o humor do irmão. Se já estava fazendo brincadeiras, era sinal de que Rigel definitivamente tinha melhorado.

Peter se levantou também, se espreguiçando depois de levantar da cadeira de visitas da sala. Antes tivesse dormido no chão como Regulus, apesar de que só tinha cochilado por menos de duas horas, afinal, tinha ido levar a namorada em casa.

Abençoado fosse Moony e seu poder de cupido!

― Você tem sorte de que nós vamos muito com a sua cara, senão você teria uma resposta ainda mais desaforada minha do que a do seu irmão. ― Peter cumprimentou o amigo, depois o puxou para um abraço apertado. ― Como vai nosso Cometinha, Pads?

― Dormindo... Brigando com a cama um pouco, quase o de sempre. ― Essa última parte falou com satisfação, porque o bebê realmente tinha se mexido mais nos últimos minutos, o que era um excelente sinal. ― Se tudo der certo, ele ganha alta ainda hoje.

― Cara, isso é tão bom de ouvir! Quando a gente soube do que tinha acontecido, eu sei lá, eu e Moony pensamos que seria... Enfim, já passou! Estou feliz de saber que nosso mascote volta para casa ainda hoje.

― Se tudo der certo. ― Sirius repetiu, porém havia ficado um pouco incomodado pela reação pouco característica do maroto de óculos ainda sentado de qualquer jeito na cadeira de Andrômeda, atrás da mesa de trabalho. Peter e Regulus trocaram olhares que o animago não viu. ― Pessoal, vocês poderiam...

― Deixar vocês dois a sós? Nem precisava pedir! ― Wormtail falou rapidamente, antes que Pads mudasse de ideia. Regulus sorriu um sorriso de boa sorte gentil, antes de sair atrás do homem mais velho.

Assim que a porta foi fechada, Sirius se sentou na ponta da mesa de Andrômeda, em um ponto alto o suficiente para ver James por inteiro na cadeira. Ele parecia amarrotado, mas definitivamente não estava com a mesma roupa do dia anterior, o que era bom. Talvez ele estivesse mais descansado do que parecia.

― Como Lily está, Prongs? ― Sirius preferiu começar pelo assunto teoricamente mais simples, porque o amigo adorava falar sobre sua Lily e era um tópico que também muito lhe interessava.

― Mais tranquila, ela vai adorar saber que Rigel já vai ter alta. ― O rapaz de óculos respondeu em uma voz baixa, ainda sem encarar o melhor amigo.

― Bem, claro que vai. Foi só um susto, já está tudo bem. ― Sirius falou com tranquilidade, embora na noite anterior não tivesse certeza de que seu mundo continuaria girando. Obviamente James não precisava saber de nada disso.

― Cara, eu estava lá, não foi só um susto. ― O homem de cabelo bagunçado falou, enquanto passava as mãos agressivamente nos olhos, por trás dos óculos. ― Eu quase perdi seu filho, Pads.

Aquilo era uma confissão que Sirius sabia que era verdadeira em cada palavra. Ele havia se sentindo assim, como se tivesse confiado a vida de Rigel à James e ele houvesse falhado, mas olhando para o rosto de seu melhor amigo agora, a única coisa que ele queria é que tudo voltasse a ser como antes.

― Foi um acidente, Prongs, tenho certeza que você fez tudo que estava ao seu alcance para protegê-lo. ― O auror com os cabelos voltando a crescer mais do que deveria deu um sorriso triste para o seu irmão por escolha. ― Eu sei que você teria trocado de lugar com Rigel, se pudesse.

― Sem hesitar, Pads, mas infelizmente esse tipo de oportunidade nunca nos é oferecida. ― James falou com uma voz frágil, que fez Sirius se sentir ainda pior. Não sabia o que fazer para melhorar as coisas para o amigo. ― Não sei o que eu faria se eu o tivesse perdido.

― A boa notícia é que a gente não precisa se fazer essa pergunta, vamos só...

― Eu falhei da pior maneira possível, Pads, na única coisa que eu sei que eu não poderia falhar com você! ― James havia se levantado para o outro lado do pequeno cômodo, então Sirius o acompanhou com o olhar, porque definitivamente não sabia o que fazer para melhorar essa situação de merda. ― Sempre soube que você confiaria sua vida nas minhas mãos e você confiou algo ainda mais importante e eu falhei com você, cara. Eu nunca...

― Você não falhou, porque Rigel está aqui, ok? ― Sirius falou com um sorriso triste, mas sincero, porque essa era a única coisa que importava agora. A saúde de Rigel e a consciência de James, essas eram as coisas que mais queria ter certeza de que ficariam bem hoje. ― Somos aurores, Prongs, a gente sabe que não dá para controlar tudo e, se formos ser sinceros de verdade, a gente vai chegar a conclusão de que não temos como controlar nada! Foi só um acidente doméstico.

― Eu ri tanto de todas às vezes que você não soube o que fazer com Rigel, tinha tanta certeza de que eu saberia lidar com tudo, que não teria um só problema nessa coisa de ser pai, ainda mais com Lily ao meu lado e eu... Como eu pude ser tão arrogante, Pads? ― O rapaz desabafou essa última pergunta como se pudesse existir uma resposta plausível para algo como isso. Sirius respondeu com um dar de ombros.

― Você sempre foi arrogante, não dava para te passar minha grande humildade por osmose. ― O maroto canino brincou, ganhando de volta o que realmente queria, um risinho estrangulado do outro. ― Se eu pude ser pai nas circunstâncias que eu fui, claro que você acharia que pode fazer um trabalho melhor, por que não? Você ao menos tem mais experiência com família do que eu.

― Era exatamente o que eu achava, mas como eu vou conseguir ser pai agora, Pads? Como eu vou cuidar da minha família por toda uma vida, se eu não fui capaz de cuidar da sua por um dia sequer? ― Dessa vez James falou bagunçando ainda mais o cabelo, que já apontava para todos os lados. Sirius se levantou e forçou o outro auror a se sentar de volta na cadeira, empurrando seus ombros para baixo.

― Prongs, eu vou te contar um segredo que pai nenhum jamais te disse. ― Sirius continuou segurando os ombros do amigo, o encarando no fundo de seus olhos castanhos por trás das lentes grossas dos óculos. ― A gente faz o possível e torce para o melhor, só isso. Ser pai é ter uma parte da alma fora do corpo e às vezes... É, às vezes é uma grandissíssima merda, mas eu não trocaria isso por nada nesse mundo!

James sorriu, mas ainda parecia como alguém que havia sido derrotado. Levaria tempo para ele recobrar um pouco de sua auto-estima acima da média, mas Sirius tinha esperança de que ele entendesse, em breve, que ele podia sim cometer um ou outro erro, e isso por si só era assustador, mas a verdade é que todos cometiam.

Ser pai era dar um salto de fé rumo ao desconhecido e torcer para que lá embaixo, no fim do abismo, não tenha um monte de merda de troll da montanha.

E o pior é que geralmente tinha.

Depois de alguns segundos de silêncio entre os dois, James resolveu que estava na hora de falar o que havia pensado nas últimas horas que esteve ali, sentado naquela sala como um condenado ao beijo de um dementador.

― Sirius, acho que você deveria escolher Regulus como seu padrinho. ― O rapaz de cabelos bagunçados falou com tranquilidade, então sorriu para a surpresa do amigo. ― Na verdade, tenho a impressão de que você já o havia escolhido, só não tinha tido coragem de nos dizer.

― Eu... ― Sirius estava disposto a explicar que tinha dúvidas sobre o padrinho de seu filho há muito tempo e que só há alguma horas havia tomado a decisão definitiva, mais por pressão de Rita do que qualquer outra coisa, mas o outro maroto interrompeu suas desculpas.

― Soube que seria ele desde que você escolheu o nome Rigel. ― James concluiu seu raciocínio com um levantar de sobrancelhas arrogante, que fez Sirius o olhar com impaciência.

― Não fui eu quem escolhi o nome, foi o livro de Hogwarts! ― O maroto canino se justificou, emburrado, fazendo seu amigo rir de sua falta de sensibilidade para assuntos sentimentais.

― Então tá bom, Pads. Você aceitou ordens de um livro só porque ele era grande e tinha capa de couro. ― Prongs falou com sarcasmo, o que fez o outro revirar os olhos. ― Eu acho que sempre esteve óbvio que você o escolheria e nada mais justo que o fizesse. Ele é seu irmão, Pads e vocês estiveram afastados por tempo demais. Rigel é um novo começo para a família de vocês.

― Você não se importa que não seja você? ― Sirius perguntou com uma timidez atípica para sua personalidade, mas a verdade é que ainda se sentia culpado por não ter defendido James para Rita, como deveria. Olha só o que ele estava fazendo agora!

― Não só não me importo, como gostaria de te convidar oficialmente para ser o padrinho de Harry James Potter. ― O homem de óculos consertou a armação redonda nas orelhas, parecendo a epítome da pomposidade ao falar o nome de seu filho ainda não nascido.

Sirius ficou tocado com o gesto, mas não pôde deixar de provocar o amigo.

― Sério que você colocou o seu nome na criança, Prongs? Sua afetação não tem limites? ― Falou rindo o seu riso latido, o que fez James o encarar só com metade da irritação que ele merecia.

― A ideia foi de Lily, que fique bem claro. Mas e então? Você aceita ser padrinho de meu filho? ― James refez a pergunta, dessa vez com mais sentimento. ― Não consigo pensar em ninguém melhor para guiar o meu filho nesse mundo do que você, Pads.

Bem aquilo era... Sirius não sabia o que dizer, mas de toda sorte, disse algo mesmo assim, porque silêncios reflexivos não faziam o seu estilo. Sorriu com sinceridade antes de responder.

― Olha... Vou aceitar, mas se Harry ficar tão teimoso quanto Cometinha... ― O maroto deu de ombros, se eximindo da culpa pelo futuro mal comportamento do afilhado. Resolveu falar sério só por um instante. ― Será uma honra, Prongs.

E uma honra seria, realmente, porque Sirius Black descobriu que era ótimo como pai de um garotinho, então não via a hora de ser padrinho de outro. Seria um bom dia esse, em que teria uma família verdadeiramente grande e completa.

***

Antes do que todos esperavam, os marotos se reuniram mais uma vez em torno de um evento pouco feliz: dessa vez, contrariando até mesmo as mais otimistas predições de Sirius, Walburga Black finalmente se juntou ao restante da família, onde quer que eles se reunissem no pós-vida.

Era muito raro, mas em eventos como estes, as relíquias viventes da família Black saíam de onde quer que se escondessessem no resto do ano, então Sirius não ficou surpreso ao ver sua tia Cassiopeia, solteirona convicta e única mulher a ainda a ostentar o sobrenome Black, agora que sua mãe havia falecido, sendo escoltada pelo seu fiel elfo de guarda pela mansão da família.

E havia também na mui nobre casa, seu avô por parte de mãe, Pollux Black e seu avô por parte de pai, Arcturus Black, que chegara acompanhado de sua irmã, Lucretia Prewett. Cygnus Black, pai de Andrômeda, Narcisa e Bellatrix, também compareceu ao serviço fúnebre da irmã, mas chegou sozinho e não cumprimentou o sobrinho mais velho, o que para o maroto foi uma verdadeira honra, afinal, nunca tinha gostado do tio.

Podia contar nos dedos de uma mão os Black de quem gostava de verdade.

Andrômeda também não cumprimentou o pai, mantendo Dora, sua saudável e animada filha metamorfomaga, bem longe do lado mais tradicionalista da família, que olhava para ela, o marido e para Sirius com miradas de desdém.

Bem, nem ele, muito menos Andie estavam ali pelos idosos Black e nem sequer por Walburga e sim por Regulus, então que fossem todos para o inferno, o animago pensou com desprezo, enquanto carregava um Rigel sonolento. Procurou o irmão pelo ambiente, porque, embora gostasse muito de afrontar diretamente a velha ala das estrelas Black, seu filho já estava começando a dar sinais de irritação.

Sirius avistou James e Lily trocando algumas palavras com os irmãos Prewett, colegas de quartel dos marotos e primos distantes. Se encaminhou para o grupo para se despedir. Prongs abriu um sorriso sincero para o amigo e quando ele se aproximou o suficiente com Rigel, fez carinho na cabeça do menino.

― Cometinha já está quase dor- ― Sirius fez uma careta e um não enfático com a cabeça e James logo entendeu que a palavra dormir havia sido banida temporariamente do vocabulário do grupo. ― Bebendo sua garrafinha de água! Está boa a água, Rigel?

O garoto de 18 meses o olhou emburrado com a cabeça apoiada no ombro do pai, enquanto mantinha o bico de sua inseparável garrafinha de água na forma de uma canequinha de cerveja amanteigada na boca. Sirius resolveu explicar a situação para o amigo.

― Rigel não está mais querendo ir para os braços de Morfeu, acho que é alguma má impressão relacionada a sonolência causada pelas poções que ele teve que tomar. ― O maroto deu de ombros, fazendo referência ao deus grego dos sonhos. Olhando de esguelha para saber se o filho finalmente havia fechado os olhos. ― Todas as noite ele tem colocado bastante resistência para ir contar estrelas e chora ao ouvir o verbo que começa com a letra d.

― Oh, Sirius, eu sinto tanto! ― Lily falou se sentindo culpada, porque o menino já estava com o horário de sono bem ajustado e agora, como consequência de sua internação recente, estava dando trabalho para dormir novamente. ― Ele está dando muito trabalho à noite, não está?

― Não, ele ainda fica bem a noite quase toda, mas está brigando bastante com Morfeu antes de ir para a cama. ― O maroto explicou como se não fosse nada demais, mas ver o garotinho fechando os olhos lentamente, então os abrindo assustado, se balançando para não cair na tentação de dormir, partiu o coração da grifinória. ― Eu já vou levar ele para casa agora, porque ele já está ficando irritado e aqui eu não vou conseguir acalmar ele de jeito nenhum. Vocês viram Regulus por aí?

―  Não, não o vejo há algum tempo. A gente também já está indo, se o encontrar, nos avise, porque também queremos nos despedir. ― James falou apoiando uma das mãos nas costas de Lily, que havia se inclinado para abraçá-lo de lado.

Sirius apenas piscou seu assentimento, com um sorriso rápido. Tinha que achar Regulus antes que Rigel se irritasse de verdade com sua briga contra o sono ou que algumas das velharias Black resolvesse dar algum discurso para o qual o grifinório não teria paciência alguma.

Não podia chamar Kreacher para procurar o irmão, já que o elfo foi colocado para fazer tarefas simples do serviço de recepção – nem foi deixado sem nada para distrair a mente, nem com muita responsabilidade, dado a sua tristeza fruto da lealdade que tinha com sua antiga senhora, agora falecida – então foi para o lugar mais provável do sonserino estar.

Agora que sabia o local e que Regulus não o mantinha trancado, Sirius entrou com facilidade no escritório do irmão. O rapaz estava lá, apenas sentado, com uma taça de vinho sobre a mesa e assim que viu o irmão carregando o sobrinho, abriu um sorriso pequeno, mas sincero.

― Ele já... Perdão, ainda não, não é? Vai levá-lo para casa? ― Regulus havia começado a perguntar se Rigel já estava adormecido, mas pela expressão de Sirius, o menino ainda estava acordado, então nada de falar sobre dormir perto dele.

― Vou, mas antes queria ver se estava tudo bem com você. Quantas horas é suposto que toda essa gente fique aqui? ― O animago perguntou, enquanto se sentava e ajeitava melhor a cabeça de Rigel no ombro. O pequeno apoiou os pés em sua perna e começou a se sacudir, de olhos já fechados, em uma última tentativa de resistência contra o sono.

― Eu não sei, nunca tive que ser anfitrião de um velório, mas na verdade eu queria muito que eles fossem embora, eu só não sei como pedir com educação. ― Regulus falou passando a mão nas têmporas, o que fez o maroto o olhar com solidariedade.

― Apenas vá embora, Reg. Venha comigo ou caia no mundo, tanto faz, de qualquer forma, você não tem mais nada que te prenda aqui. ― O sonserino levantou a cabeça para encarar o irmão, que sorriu travesso para ele. ― Literalmente.

― Eu não sei, Six... Eu sou muito novo e meio ingênuo e tenho muito recurso, posso acabar sendo enganado por um charlatão por aí. Eu não faço ideia do que vou fazer da minha vida, agora que não tem nenhum tipo de orientação ou expectativa sobre as minhas costas. ― Ele falou inseguro, soando como o garotinho assustado que ele fora a não muito tempo atrás.

― Bem, a boa notícia é que você é jovem, rico e não tem ninguém esperando absolutamente nada de você! ― O maroto listou com bom humor todos os pontos negativos do irmão sob uma ótica positiva. Regulus riu do otimismo. ― Saia por aí, abra as asas e voe o mais alto e para o mais longe que puder, cara!

― Você está mesmo usando uma metáfora de pássaro com um sonserino? ― O mais novo perguntou com diversão, então Sirius só o olhou de soslaio, ainda com bom humor.

― E se eu estiver? O que importa é que eu estou certo: jogue algumas dessas suas vestes empoadas dentro de uma mala pequena, depois, vá no Gringotes e encha uma sacola de galeões e... ― Regulus o olhou desconfiado e Sirius sorriu malicioso. ― Dê. O. Fora. Daqui!

― Assim, sem mais?

― Assim, sem mais. ― O maroto garantiu e então sorriu com todos os dentes. ― Confia em mim para dar um jeito nos seus convidados?

Regulus olhou incerto, visivelmente tentado a ser rebelde pelo menos uma vez na sua vida. Sua mãe tinha acabado de morrer, estava órfão, sozinho naquela casa enorme, se tinha um momento em que podia agir como louco, o momento era esse.

― Eu vou conseguir voltar para a sociedade depois que você fizer o que quer que esteja planejando fazer? ― O sonserino perguntou mordendo os lábios, praticamente assinando o acordo com uma divindade pagã do caos. Sirius sorriu travesso, novamente. Ajeitou Rigel nos ombros, porque o menino finalmente tinha se rendido e dormido.

― Vai conseguir voltar para mim e para seu afilhado, isso não basta? ― O maroto perguntou falsamente sentido, então falou sério pela primeira vez nos últimos minutos. ― Você é um homem livre, Regulus, sua família agora não é mais uma prisão, mas é bom que saiba que você sempre terá um lugar seguro para o qual voltar, ok?

O rapaz levantou de sua cadeira, se aproximou de sua única família agora, deu um beijo de leve na testa de seu sobrinho e afilhado e então deu um abraço desajeitado no irmão mais velho, com um sorriso sincero, mas triste.

Um sorriso de despedida, ainda que temporária.

― Te vejo em algumas semanas, Six. Olhe para o céu estrelado, se sentir saudades e quiser me encontrar. ― O sonserino falou brincando com a metáfora de aves que o irmão havia usado anteriormente, a misturando com a da tradição familiar das estrelas Black.

Sirius sorriu assim que o rapaz passou por ele, indo ao último andar da casa para pegar suas coisas e então indo rumo à liberdade. Sim, o maroto olharia o céu todas as noites e agradeceria por ter conseguido reunir para si a melhor das constelações.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É um capítulo final que eu acho muito importante para mostrar a forma como todas as pessoas da vida de Sirius o afetam, sejam influenciando, manipulando, apoiando, trazendo a tona um lado mais maduro, invertendo posições de quem consola e é consolado...

Lily, James, Remus, Peter, Rita, Andrômeda e Regulus, cada um a sua maneira, afetam o modo como Sirius se relaciona com Rigel e isso é muito fofinho, na minha humilde opinião.

Enfim, chegamos ao fim. Que tal vermos agora o que rola naqueles quase 10 anos depois marotos, hum?

Bjuxxx



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A estrela mais brilhante" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.