A estrela mais brilhante escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 2
Capítulo 1. 1978


Notas iniciais do capítulo

Bem, agora que já dormi e já estou mais alerta, posso fazer uma nota mais especial para minha amiga secreta.

Gabi, eu espero que este presente te deixe animada e que você consiga perceber todo meu carinho por você. Para mim foi uma honra escrever algo pensado por e para você, então tentei fazer um trabalho bem feito, justamente por a senhorita ser tão especial para mim.

Enfim, eis aqui o primeiro capítulo de sua fic, que está grande, mas espero que seja tão leve, que você consiga ler como se fosse um meme (embora tenha sua dose de draminha familiar).



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Sirius abriu outra caixa sem prestar atenção nas marcações bem organizadas de Remus na lateral: mais uma caixa de livros! A flutuou desleixadamente para o outro lado da sala do pequeno apartamento que tinham alugado no centro da Londres trouxa.

― Sério, Moony, se sair um artigo no Profeta sobre exemplares roubados de algum lugar, eu vou mandar uma carta anônima te acusando pelo crime, porque não é possível tanto livro para uma pessoa só! ―  Provocou o rapaz de cabelos bem mais compridos que o padrão capilar estrito de sua futura carreira.

― Eu já te disse que o professor Dumbledore, em pessoa, me autorizou a ficar com os livros, Pads. Os porões do Ministério estão abarrotados de títulos repetidos doados para Hogwarts ou obras que são completamente inadequadas para uma escola. ― O maroto mais tímido se defendeu com diversão, porque sabia bem que o amigo só estava brincando.

― Doados ou tomados das velhas mansões dos discípulos do Lorde das Trevas? ― James questionou acomodado no recém posicionado sofá de dois lugares da sala de estar/jantar e escritório, tudo no mesmo cômodo apertado.

― A essa altura não faz mais diferença, não irão para Hogwarts, então podem muito bem serem doados para um estudante de DCAT que precisa, no caso, esse que vos fala. ― Remus completou sua defesa com um gesto pomposo, que fez os amigos o olharem com diversão e Lily reclamar de lá da cozinha.

― Eu também quero ganhar livros novos, Remus! Que absurdo ninguém me oferecer um manual de feitiços domésticos sequer! Estou literalmente aceitando qualquer coisa. ― A garota estava na cozinha ajudando Marlene a organizar os utensílios que ambas tinham certeza de que só Remus se daria ao trabalho de usar.

― Ela quer aprender feitiços domésticos para te mimar, Prongs! ― Sirius cochichou em um tom conspiratório. James apenas sorriu compartilhando do bom humor do amigo.

Eu ouvi isso! É melhor você não achar que vai se safar das tarefas domésticas, James Potter! Não fui criada para ficar servindo de elfo doméstico para ninguém! ― A moça reclamou, ainda da cozinha, em seu melhor tom definitivo, arrancando um suspiro exasperado do noivo.

― Eu nem disse nada! ― James resmungou para si mesmo, mas foi ouvido por um Peter, que acabara de voltar do único banheiro do apartamento.

― E nem precisa! Logo mais você será um homem casado e perderá toda e qualquer razão que já sonhou ter tido algum dia. ― O quarto e último maroto havia retornado da sua infame missão de arrumar os frascos de loção pós-barba, pomadas para o cabelo, perfume, hidratante corporal e um sem fim de coisas de beleza que Sirius comprava e depois abandonava na metade.

James riu pelo nariz, não levando completamente a sério a provocação do amigo. Peter deu de ombros, como quem diz que não tem mais nada a declarar. Se abaixou para ver o que mais tinha para guardar no banheiro, dentro das poucas caixas fechadas que haviam restado.

― Ainda acho que é muito cedo para você casar, Prongs, quero dizer, estava justificado com toda essa coisa da guerra e tudo mais, a gente podia morrer a qualquer minuto, mas agora que tá tudo resolvido... ― Sirius meneou a cabeça, com um leve toque de repreensão para seu amigo sentado confortavelmente em seu sofá. Sussurrou a parte final do seu velho discurso, que todo mundo já estava cansado de ouvir. ― Essa mulher aí não vai a lugar nenhum, cara! Deixa esse negócio de casamento pra depois!

― Eu também ouvi isso, senhor Black! ― Lily colocou só a cabeça ruiva para fora do umbral da porta da cozinha, para gesticular ameaçadoramente, antes de voltar ao trabalho. Como se seu tom de monitora chefe já não tivesse feito o serviço de intimidação.

Essa sua mulher tem a audição melhor do que a minha! ― Dessa vez Sirius tinha se dado ao trabalho de apenas formar a frase com os lábios, sem emitir som algum. Os três marotos riram discretamente do amigo, com medo de Lily voltar para colocar todos de castigo ou arrancar pontos de alguma ampulheta imaginária.

― De todo modo, você já sabe que a gente está casando cedo para que meus pais possam participar da cerimônia. ― James falou com seriedade, mas depois desanuviou a expressão com um sorriso bobo. ― E sabe também que eu sou mercadoria avariada para qualquer outra mulher, Pads. Casar com Lily é só uma questão de tempo e eu não vejo a hora!

Awn, que fofinho! ― Ouviram Marlene Mckinnon gracejar do outro cômodo, fazendo os rapazes revirarem os olhos ou sorrirem com condescendência.

Garotas...

Lily aproveitou a distração do grupinho para parar suas atividades de organização e dar um beijo no rosto de seu futuro marido. Aquele comentário descomprometido tinha sido mesmo muito fofo.

A ruiva aproveitou a viagem de ida para a sala, para apontar um dedo acusador para um Sirius transfigurando as caixas de papelão da mudança em chapas de papel bem menos espaçosas.

― Eu devo dizer, senhor Black, que, para o nosso padrinho, você está me saindo um belo de um agoureiro!

― Eeeeeu? ― O rapaz dissimulou, mas só fez com que Lily colocasse as mãos nos quadris com impaciência.

― Você sim! E o que é mais irônico de tudo: ontem mesmo você estava reclamando por ser tratado como criança pelos professores do quartel, mas agora tá aí, dizendo que somos todos muitos jovens! Incoerência, vemos por aqui! ― A grifinória era fantástica na argumentação, só não tinha caído na Corvinal por tecnicalidades, pensou Sirius ante aquela acusação da amiga.

― Veja bem, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa! ― O animago canino resmungou sem forças, porque precisava ganhar tempo para articular uma resposta mais elaborada.

― Temos um poeta, senhoras e senhores! ― Peter apontou com diversão do lugar em que havia se colocado há alguns minutos, quase no corredor, já que a sala era pequena demais e estava abarrotada de caixas, agora vazias.

Sirius manejou transformar a caixa que estava transfigurando em uma bola compacta, que foi atirada como uma goles na direção de Wormtail. Apesar do inesperado da ação, o rapaz gordinho conseguiu se desviar do projétil com facilidade, rindo.

Remus resolveu que deveria interferir antes que seu colega de apartamento transformasse o mutirão para a arrumação do lugar em uma guerra de bolas de papelão de proporções épicas. Limpou a garganta antes de falar.

― Lily tem um bom ponto, Pads. Como James pode ser jovem para casar e ser velho o suficiente para se considerar um auror completo? ― O rapaz de cabelos claros falou em seu melhor tom conciliador, apoiado por um menear de cabeça satisfeito de Lily, que voltou para seu posto de trabalho na cozinha em seguida.

― Ora, Moony! Casar implica em uma responsabilidade para a vida toda, enquanto que ser auror é apenas... ― Sirius havia começado seu discurso com ímpeto, mas, como sempre, havia percebido no meio do caminho que o final não iria soar tão bem quanto gostaria. Mudou a fala rapidamente. ― Ok, é uma grande responsabilidade também, ninguém tá negando, mas nós éramos bons o suficiente na guerra e agora somos tratados como meros aspirantes! Que incongruência é essa?

― Na guerra a gente estava se defendendo e colocando o nosso grãozinho de areia pela causa, Sirius, todo mundo tentou fazer a sua parte. Mas agora a gente precisa saber quem está mesmo disposto a continuar na carreira. ― Marlene finalmente havia saído da cozinha para dar sua opinião sobre um assunto que lhe concernia.

― Olha só, lá vem a mascote do quartel! ― Sirius acusou debochado e antes que a escocesa pudesse se defender, ou lhe atirar um feitiço na testa, James completou a provocação que ambos estavam fazendo desde o final da guerra e início do treinamento dos três no quartel dos aurores.

― Não consigo imaginar uma garota propaganda melhor para vender a causa dos aurores velhos, do que a senhorita Mckinnon! ― O rapaz de óculos redondos falou com uma nota de sarcasmo, fazendo sua colega de curso o olhar irritada.

― Mesmo que eu não concordasse com nossos professores antes, bastaria um olhar para essa dupla de erumpentes aqui para eu me convencer de que lutar na guerra não transforma meninos em homens, como dizem os poetas melancólicos! ― Marlene acusou com maldade, fazendo os aludidos a olharem ofendidos.

― Hey! Se a guerra não transforma meninos em homens, o que mais poderia transformar? ― Sirius questionou no alto de sua indignação, fazendo Marlene revirar os olhos, sem se dar ao trabalho de respondê-lo.

Se ele não conseguia ver a resposta bem na frente de seu nariz aristocrático Black, não seria ela quem perderia seu precioso tempo explicando.

― Ei, ei, ei! Sem ânimos inflamados na minha casa nova! ― Remus falou apaziguador, depois apontou para seu colega de apartamento. ― Você e Prongs obviamente ainda não têm maturidade para assumir missões de campo, Pads, tenha dó!

― Ah meu Merlin, que conversa mais sem pé nem cabeça! Marlene eu sei que fala essas besteiras só para me irritar, mas você, Moony? Logo você? Isso é coisa de Dumbledore, não é? Te convenceu que é melhor do que a gente, não foi? ― O animago falou com os olhos entrecerrados, observando a reação de impaciência do atual secretário da pasta de assuntos relacionados à educação juvenil bruxa do Ministério. ― Com certeza ele te convenceu que você é mais “maduro” do que o resto de nós, reles mortais.

Sirius fez as aspas da maneira mais infantil que pôde, Remus pensou indignado, mas se distraiu ao ouvir a campainha trouxa tocar. Deixou o amigo cabeça-dura e imaturo sem uma resposta, por hora, para atender a porta. Provavelmente eram um de seus vizinhos novos vindo lhe dar as boas-vindas ou pedindo para que parassem com a algazarra.

Apostava mais na segunda opção.

― Boa tarde, em que posso... ― O rapaz de 18 anos interrompeu a sua fala ao ver quem estava tocando sua campainha no final de uma tarde agradável de domingo. ― Senhorita Skeeter?

A mulher de vestes tradicionais, embora bastante coloridas e chamativas, o avaliou de cima abaixo com aqueles olhos meio felinos e cachos dourados armados e bem moldados, que lhe eram tão característicos.

Remus já havia ouvido falar sobre Rita Skeeter, jornalista do Profeta Diário, Dumbledore até havia apontado a moça um dia desses no Ministério, para deixá-lo de sobreaviso - a mulher era figurinha carimbada naqueles corredores - mas daí ela estar em sua porta...

― E o senhor seria? Ah, não importa, não no momento, de todo modo, querido! ― Ela falou coquete, dando uma piscadinha de olho no final. ― Vim aqui para falar com Sirius Black, me deram a entender que poderia encontrá-lo aqui. Ele se encontra?

Remus piscou confuso, depois deu de ombros, metaforicamente. O que quer que aquela mulher quisesse com Sirius, o amigo podia resolver sem sua ajuda. O professor Dumbledore o havia alertado sobre o quão sensacionalista a senhorita Skeeter poderia ser e tudo o que o maroto não precisava era de uma jornalista descobrindo sobre o seu segredo peludo.

― Sirius, você tem visita! ― Remus chamou por cima do ombro, então deu um sorriso pouco sincero para a mulher, antes de ser substituído pelo amigo no umbral da porta.

― Visita? Que diabos... Ei! ― Sirius chegou à porta confuso, depois franziu o cenho, misturando com um sorriso charmoso. Sua expressão era um misto de curiosidade e flerte, uma combinação no mínimo interessante.  ― Ei... Como posso ajudá-la, madame?

O jovenzinho se encostou no marco da porta de braços cruzados, sem disfarçar seu flerte descarado com a mulher mais velha e atraente. Rita sorriu com malícia, antes de puxá-lo pela mão para fora do apartamento e fechar a porta atrás dele com um aceno rápido de varinha.

― Bem, docinho, acontece que nós já nos conhecemos, de uma maneira bem profunda, diga-se de passagem, e eu só vim aqui para te comunicar uma coisa: eu estou grávida e o filho é seu. ― A mulher falou com um sorriso nada sincero, quase se divertindo com a cara de confusão do rapaz.

Bem, era obviamente um imbecil, mas pelo menos era bonito e de uma família rica e tradicional...

― Espera, o que? ― Sirius perguntou sem entender nada, então soltou um riso nervoso, de quem não tinha entendido direito o roteiro da pegadinha que estavam lhe pregando. ― Moça, eu nem sequer te conheço, do que você está falando? Espera, foi um dos caras que te pediu para dizer isso? Meu Merlin, eu vou matar esses filhos da mãe!

O maroto falou com diversão, já se posicionando para voltar para dentro do apartamento para parabenizar quem quer que tenha planejado a peça, afinal, não era como se fosse impossível uma garota reivindicar uma coisa dessas. Sirius nem sempre se lembrava do que fazia em suas noites mais selvagens.

― Festa de comemoração do fim da guerra contra o lorde das trevas: você estava caindo de bêbado, eu não estava muito melhor, então aceitei o seu beijo, sem lhe dar o tapa na cara que você bem que merecia pelo atrevimento e então... ― A moça falou provocativa, porque não tinha motivo para se ofender com aquela descrença dele.

O que havia acontecido entre os dois era uma daquelas coisas loucas, de momento, difícil de explicar para quem não estava lá vivendo o fim de uma guerra terrível.

O jovem a encarou tentando tirar algum sentido das palavras que acabara de ouvir. Ele havia transado com uma mulher que não lembrava de ter visto nunca na vida, ela estava grávida e... O que? O que ela... O que aquilo significava?

― Está grávida e diz que o filho é meu? ― Ele perguntou só para confirmar, então a mulher loira com cara de boneca malvada deu de ombros, sem ligar muito para sua indagação. ― Perdão, como é mesmo o seu nome?

― Rita Skeeter, correspondente Júnior do Profeta Diário, escritora amadora de biografias, ao seu dispor. ― Ela se apresentou daquele jeito cheio de descontração, que já estava começando a dar nos nervos de Sirius.

― E você está...

― Grávida. Sim, estou. Mas como você bem sabe, a festa foi há um pouco mais de dois meses, o que significa dizer que esse é o exato tempo que eu tenho de gestação. ― Ela disse simplista, depois deu um suspiro pesado. ― Temos que ser gratos pelas pequenas conveniências, não?

― Olha só, moça, eu não estou entendendo nada, quero dizer... Não me leve a mal, você é definitivamente o meu tipo: mulher mais velha e confiante, beirando a loucura, eu diria. Mas eu não me lembro de ter saído com você e certamente você não parece uma mulher desesperada informando ao pai do seu bebê que ele tem que assumir suas responsabilidades, logo...

― Ora, talvez isso aconteça porque eu não sou nada disso, querido. ― Rita explicou em seu melhor tom profissional. ― Eu só estou te informando que estou grávida, o filho é seu, eu vou dar à luz e, bem, ainda não decidi o que vou fazer com a criança, mas ainda há tempo, certo?

― Errado! Quero dizer... O que? ― Sirius não estava acompanhando o raciocínio, ou talvez estivesse, mas como ela poderia estar tão calma, caso o que estava dizendo fosse verdade?

― Descobri a gravidez ontem, definitivamente você é o pai e eu nunca poderia me considerar uma repórter investigativa, se eu não conseguisse te encontrar imediatamente. Tendo feito isso, essa é a hora em que eu te passo um endereço para contato, digo para você me enviar uma carta, caso queira saber mais sobre toda essa história de gravidez e te convido a ter um excelente final de domingo. Passar bem.

Ela falou tudo isso tirando um pedaço de pergaminho com seu endereço anotado, passando para a mão de um grifinório ainda estupefato.

― Ei, espera! ― Sirius ainda tentou falar algo, mas a mulher tinha acabado de aparatar.

Aparatar?!?! Mulheres grávidas podiam fazer isso? O rapaz passou as mãos pelos cabelos compridos e naturalmente rebeldes, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir: ia ser pai!

Pai de uma criança de verdade e o que era pior, pai com uma mãe completamente insana!

― Meu Merlin, eu tô tão fodido... ― O maroto se abaixou na frente da porta, com medo de que se ficasse de pé, acabasse caindo de cara no chão.

Sim, de fato, estava fodido.

***

Sirius havia escolhido uma das salas particulares no primeiro andar do Cabeça de Javali para ter essa que prometia ser a conversa mais complicada de toda a sua existência. E olha que já tinha mandado toda a sua família, herança e legado Black para o inferno dois anos antes.

― Bem, Skeeter, fico feliz de que tenha podido vir me encontrar aqui hoje, eu sei que... ― Ele começou a falar civilizadamente, iria dizer tudo aquilo que havia discutido com um paciente, porém chocado com a notícia, Remus, só que diplomacia não era bem o seu estilo. O rapaz passou a mão pela cabeça com exasperação, antes de continuar. ― Ok, Rita. Posso te chamar de Rita? A gente tem um montão de coisas para esclarecer, não é?

― Bem, acho que sim. Você que me chamou, então... Pode falar, Sirius. ― Ela pronunciou o nome com certa satisfação, o que deixou o maroto ainda mais irritado com toda a situação.

― Ok, para começar: como é que você não está surtando com tudo isso? ― Ele questionou sem paciência, gesticulando de um jeito que fez Rita o encarar com o cenho franzido.

― Surtar? E no que isso iria me ajudar? Ter um filho não estava nos meus planos de vida e não pretendo mudar muita coisa nas metas que eu já estabeleci, então eu só vou fazer uns ajustes aqui e ali, nada com o que se preocupar. ― Ela falou realmente soando a epítome da despreocupação.

― Ah tá, então está esclarecido, você só é doida mesmo. ― Sirius constatou com um sopro de frustração, porque, de todas as mulheres que podia ter engravidado, ele tinha que ter escolhido a única que não tinha noção nenhuma do que ter um filho significava.

Não que ele tivesse muita noção também, as únicas coisas que ele conseguia pensar agora é que estava fodido, ficaria sem um puto no bolso e com sua jaqueta de couro favorita cheia de ranho e vômito de bebê.

Seu cérebro esteve entrando em parafuso nas últimas horas, fato.

― Não, querido, eu só sou prática. Enquanto a criança estiver dentro de mim, estamos bem. O problema mesmo começa quando ela vier ao mundo, mas eu estou segura de que em sete meses a gente consegue pensar em algo mais definitivo. ― Rita falou ainda sem perder o bom humor e sem parecer ofendida.

Céus, que universo bizarro era esse em que ele seria pai e ainda seria o mais responsável da dupla de pais, minha Morgana? Sirius estava desesperado e horrorizado em partes iguais.

― Certo, Rita, eu não vou... Reaja a situação da maneira que lhe for mais conveniente, mas eu preciso alertá-la que, embora Hogwarts não seja referência em falar desses assuntos e por isso mesmo eu não saiba quase nada, a gente tem que levar em consideração coisas que acontecem durante a gravidez, não só o que acontece depois dela. ― O grifinório falou tentando soar como um homem calmo e sensato. A jornalista o olhou curiosa.

― Como o que, por exemplo? ― Ela perguntou, colocando uma das mãos embaixo do queixo, parecendo mais ainda com uma boneca travessa. Morgana, aquilo seria difícil, Sirius pensou com preocupação.

― Hum... Por onde começar? ― Tentou lembrar das milhares de coisas que Lily, Marlene e Remus ficaram lhe bombardeando a noite inteira ontem, depois que havia lhes contado a grande notícia. ― Ok, tenho um bom começo: você não pode mais aparatar. Imagino que isso atrapalhe um pouco a sua rotina, não?

O rapaz perguntou com sarcasmo, porque sabia que, como uma correspondente de um jornal grande como o Profeta Diário, Rita Skeeter devia viver se deslocando de um lugar para o outro aparatando. A expressão irritada dela demonstrava que ela não havia pensado nisso.

― Eu aparatei bastante nesses dois meses e continuaria aparatando por ainda mais tempo se eu não tivesse descoberto sobre a gravidez quando descobri, o que significa dizer que isso não passa de um monte de bobagens de curandeiros! ― Ela se justificou dando um gole pequeno no seu café, apenas para demonstrar todo o seu descaso com o assunto.

― Você é uma mulher inteligente, eu tenho certeza de que consegue ver a lógica por trás do raciocínio, agora que se deteve sobre ele. ― Sirius se congratulou pela paciência e diplomacia na resposta. Depois apontou divertido para a bebida da mulher. ― E é melhor evitar o café também.

― Por quê? Bebês não gostam de bebidas trouxas? ― Ela o olhou por sobre a xícara, com um olhar de deboche calculado.

― Lily mencionou que isso pode causar aborto ou parto prematuro, então disse que era bom diminuir ou parar de tomar. ― Ele a olhou desconfiado e ela correspondeu o olhar sem entender o questionamento não dito. ― O quanto de café você toma?

Rita olhou para a xícara, depois para o rosto do futuro auror a sua frente. Fez uma careta divertida e deu de ombros.

― Eu diria que pouco, mas sabe-se lá qual é o padrão dessa tal de Lily... A propósito, quantos filhos ela tem mesmo? ― A jornalista perguntou com uma curiosidade não de todo sincera.

― Nenhum ainda, mas tenho certeza de que, quando tiver, os filhos dela terão mais chances de sobreviver do que o nosso! ― Sirius constatou exasperado, porque era ridículo que ele, justo ele, que nem sequer tinha uma pessoa especial na vida, fosse ser pai e Lily e James continuassem seus planos perfeitinhos de casar e só depois ter filhos, como Merlin manda.

Muito injusto mesmo.

― Pelos porcos de Circe, quanto drama! Sabe o que eu estive pensando, Sirius? Que eu devia ter passado toda a gravidez sem te contar nada e caso o bebê sobrevivesse, mesmo que sem os conselhos da sábia Laura-

― Lily. ― Sirius a interrompeu, irritado.

― Que seja! Se o bebê tivesse sobrevivido, eu então iria até sua porta para contar sobre sua inesperada paternidade. O que te parece? Ainda posso apagar a sua memória, se quiser! ― Ela ofereceu, não completamente de brincadeira, porque Sirius Black parecia um daqueles homens melindrosos, de quem não gostava nada. ― Vou ter que segurar sua mãozinha na hora do parto também?

― Deixa eu adivinhar... A sua casa em Hogwarts foi a Sonserina, não foi? ― Ele falou com um sorriso falso, correspondido pela moça do outro lado da mesa. Era toda a confirmação de que precisava.  ― Foi o que eu pensei.

― E a sua casa é a Grifinória, mas eu não precisei adivinhar, porque fiz minha pesquisa sobre você. ― Ela falou com uma piscada travessa no fim da frase, antes de puxar um pergaminho na bolsa que levava à tiracolo. Tirou também uns oclinhos absurdos e os encarapitou na ponta do nariz. ― Senão vejamos... Sirius Orion Black, boas notas, péssimo comportamento... Hum, tsc, tsc, coisa feia, mocinho!

― Sério que você tem um arquivo sobre mim? Como pode? Você descobriu que íamos ser pais no final de semana e hoje é só segunda-feira! ― Ele falou alarmado, a mulher apenas deu de ombros.

― O jornalismo investigativo nunca dorme. ― Rita esclareceu com um sorriso ladino.

― É, mas as pessoas dormem! E curtem o final de semana. Só me pergunto o que diabos você fez para conseguir isso... ― O maroto disse, enquanto meneava a cabeça com descrença.

― Pouco importa o que eu fiz e sim o que eu descobri. ― A mulher tirou os óculos, mordendo de leve uma das perninhas do objeto delicado, quase infantil. ― O seu irmão mais novo assumiu o título de Lorde Black?

― Ao que parece... ― Sirius falou com toda a indiferença que sentia pelo assunto.

― Por quê? ― Agora Rita parecia verdadeiramente indignada, o rapaz a encarou intrigado.

― Como “por quê"? Porque eu fugi de casa e fui deserdado, oras! ― Ele falou com diversão e só um toque de ressentimento. ― Acredite em mim, a mui nobre família Black afastada é um ganho para essa criança a qualquer tempo!

― Pois eu discordo! ― A mulher falou com um olhar determinado, afinal, ser um Black era uma das vantagens que esse moleque ainda tinha. ― O seu pai está morto e pelo que eu soube, a sua mãe não vai demorar a seguir seus passos, que a Trindade poderosa a aguarde e guarde, mas de qualquer forma, o que nos sobra é seu adorável irmãozinho e ele tem o que? 15 anos?

― 16 anos, quase 17. ― Sirius respondeu de má vontade, porém interrompeu o início do que deveria ser mais uma parte do festival de besteiras que aquela mulher estava dizendo. ― Independentemente da idade de Regulus, ele é o lorde e eu pretendo que as coisas continuem assim por um bom tempo, até que ele morra, para ser mais exato.

― Está bem, que seja! Não assuma o título, mas ao menos faça as pazes com o menino. Isso você não pode se negar! ― A mulher apontou cheia de razão e Sirius só revirou os olhos para a ideia.

― Claro que posso! Regulus é um puristinha de merda, só não foi arrastado para Azkaban com Bellatrix e sua turma, por mera pena de Winzegamot! ― Respondeu com desdém, então completou com um sorriso sarcástico. ― Pena e algum senso de lealdade com a família Black completamente fora de lugar, tenha certeza!

― Exato! ― Rita apontou, satisfeita. ― Esse tipo de influência não cairia nada mal para seu filhinho, hum? Isso sem falar nos galeões de herança que vem de brinde com o perdão do titio... Vamos, Sirius, não é como se o salário de aprendiz de auror fosse grandes coisas!

― Só de ter que pedir perdão por erros que eu não cometi já te diz o quanto você vai conseguir insistindo nesse assunto, Rita, pode esquecer. ― Sirius teve que conter a vontade de chamá-la pelo sobrenome e impor alguma distância, porque ela era uma grande intrometida!

Mas infelizmente também era mãe do seu filho ou filha, que Lilith arrebatasse sua alma!

― Bem, é uma pena... A pobre Medea vai ficar muito tristinha com a teimosia do papai. ― Rita falou fazendo biquinho, colocando os óculos de volta na ponta do nariz. Ignorou o choque no rosto do grifinório a sua frente.

― É uma menina? ― Sirius perguntou com o estômago torcido em uma bola provavelmente feita de gelo e bile.

― Eu não sei, mas eu adoraria que fosse! ― A jornalista falou distraída, relendo superficialmente os dados que havia conseguido sobre o seu amante. ― Já imaginou? Uma menininha com os meus cachinhos loiros e o seu sorriso charmoso... Como alguém poderia dizer não para uma combinação dessas?

A pergunta era retórica, o que era ótimo, porque Sirius não achava que teria forças para responder, sua língua parecia anestesiada.

― Eu preciso de uma bebida mais forte que essa. ― Falou mais para si mesmo do que para a mulher, depois de beber toda a sua cerveja amanteigada, antes intocada, de uma vez. ― Espera, do que a chamou?

― Medea! Não é um nome lindo? É de uma bruxa grega muito poderosa, se casou com o heroico Jasão. ― Rita falou feliz, satisfeita por ter chegado ao final do relatório sem encontrar nada realmente alarmante sobre o homem a sua frente.

― E depois matou a amante e os filhos dele, se bem me lembro. ― Sirius falou com ironia, fazendo a sonserina dar de ombros.

― Bem, você sabe como são os gregos, nada nunca tem final feliz com eles, mas o que importa é que a bruxa em si era poderosa, como eu disse. ― Ela apontou vitoriosa, porque os detalhes do conto não eram assim tão importantes.

― É um nome horrível, essa criança vai nos odiar, é melhor que nasça homem. ― Falou emburrado, então Rita guardou seu pergaminho e óculos de volta na bolsa.

― Se for menino, até deixo você escolher o nome.  A propósito, qual seria? ― Ela falou curiosa, colocando o dorso de ambas as mãos embaixo do queixo, apoiando os cotovelos em uma pose charmosa.

― Eu sei lá, até ontem, nesse mesmo horário, jurava que nunca teria um filho! Como vou saber o nome que vou ter que pôr agora? ― Ele falou frustrado, porque não tinha como se conformar em menos de 24 horas com um destino tão cruel.

― Bem, teremos tempo para pensar sobre isso, mas agora preciso ir, tenho que...

― Não, espera! ― Sirius falou ansioso, a fazendo parar antes que pudesse levantar da cadeira propriamente. ― Estive me perguntando se talvez nós não pudéssemos...

― Repetir o delicioso erro que nos trouxe aqui? ― Ela falou maliciosa, arrancando uma expressão descrente do maroto. ― Sim, porque eu me lembro muito bem da nossa noite, ao contrário de você.

― O que? Não! Não era isso que eu iria sugerir, Rita! Pelo amor de Merlin! ― Sirius passou as mãos pelo cabelo, o deixando ainda mais com aparência de rebelde. ― Não, na verdade o que eu tinha em mente era nós irmos ver a minha prima Andie, ela é curandeira no St. Mungus, poderia nos dar umas dicas e...

― Agora? ― Rita perguntou com uma careta.

― Se você não se importar... Pedi um dia de folga lá no quartel e enviei uma carta para Andie ontem, achei que você ao menos teria deixado a manhã livre para a gente esclarecer as coisas. ― Ele supôs incerto, coçando a orelha de leve, por ter decidido algo dessa importância sem checar se podia.

Maldita impulsividade!

― Bem, não havia deixado, mas imagino que quanto mais adiar, mas você vai me infernizar a vida. ― A mulher o olhou do alto do seu pequeno nariz arrebitado, com seus olhos felinos. ― Vamos lá, ver mais uma mulher cheia de dizeres sobre a vida de nossa criança, querido.

***

Andie não havia suprimido sua surpresa ao receber a carta de Sirius na manhã daquele dia. Ted, seu marido, havia concordado que o rapaz era a última criatura da Terra pronta para ser pai, mas o lufa-lufa também apontou que era, de certa forma, função de Andrômeda ajudar o primo a lidar com a situação da melhor maneira possível.

Afinal, os Black renegados deviam se apoiar, sem restrições.

Mesmo ciente disso, de seu papel como prima mais velha e experiente nos assuntos de paternidade, Andrômeda não pôde deixar de chamar a atenção do rapaz inconsequente, de 18 anos, assim que o avistou no corredor do seu trabalho.

― Sério, Sirius? Você engravidou uma garota com quem dormiu apenas uma vez e nem sequer sabia o nome dela? ― A mulher cochichou irritada, antes que a tal garota - ou melhor, mulher, pelo que podia ver - pudesse ouvir os dois.

― Em minha defesa, eu estava completamente bêbado e fora de mim! ― O maroto se defendeu no mesmo tom sussurrado, fazendo a prima o olhar com irritação.

― E como isso supostamente te isenta de culpa? É ainda pior! ― Andrômeda constatou, depois respirou fundo, porque aquela linha de atuação não iria levá-los a lugar nenhum no momento. ― Bem, agora não vem mais ao caso, vamos trabalhar com o que temos, não é mesmo?

― Bem, sim e no momento nós temos uma pessoa grávida, que, você vai ficar surpresa em saber, é ainda menos preparada para esse negócio de crianças do que eu! ― Sirius confessou exasperado, ainda em um tom baixo, depois sorriu para a moça loira, com um terninho roxo berinjela, antes de dirigir a palavra a ela. ― Rita, por favor, venha conhecer minha prima Andrômeda Tonks. Andie, essa é Rita Skeeter, err… A mãe do meu filho.

Rita, que observara e ouvira tudo à distância, fingindo que estava distraída com o movimento dos corredores do St. Mungus, se aproximou da dupla com um sorriso simpático.

― É um prazer conhecê-la, curandeira Tonks. Sirius deu a entender que você poderia ser a nossa doutora de confiança no processo da gravidez, isso é certo? ― A jornalista foi direto ao ponto, porque já havia percebido uma certa animosidade vinda da outra mulher.

― Bem, o ideal é que vocês passem para um especialista no assunto depois, mas, por hora, posso atendê-los e começar com algumas orientações. ― Andie disfarçou o quanto pôde sua irritação com todo o inesperado da situação, sorrindo enquanto apontava para a porta de seu consultório. ― Me acompanhem, por favor.

O casal seguiu a mulher lado a lado, mas sem demonstrar nenhum tipo de expressão. Ambos estavam presos em seus próprios pensamentos, tentando entender como deveriam se comportar dali em diante.

A curandeira continuou seu discurso tranquilizador, questionando que testes haviam sido feitos para detectar a gravidez - poções de boticário, três, para ser exata - e de quanto tempo Skeeter pensava estar grávida.

Recolheu algumas amostras de sangue, fez alguns exames para testar alterações na magia da grávida- sinais mais do claros de que uma nova vida mágica estava crescendo ali - mas com a confirmação do tempo de gestação, Andrômeda fez a pergunta que finalmente tirou o casal do prumo.

― Vocês querem ouvir o coração do bebê? ― Era o tipo de pergunta usual, mas que nunca falhava em arrancar um sorriso da curandeira. Os pais, principalmente os de primeira viagem, sempre pareciam atônitos com a possibilidade de já poder ouvir os batimentos.

― Mas já… O bebê já tem… Achei que levaria um pouco mais de tempo para ver alguma prova mais concreta. ― Rita concluiu nervosa, porque não havia se preparado psicologicamente para lidar com aquela evidência clara de que tinha uma pessoa crescendo dentro de si.

― O coração já está formado e, a essa altura, o bebê está ganhando seus dedinhos das mãos e dos pés, com unha e tudo! ― A curandeira informou com carinho, porque era de um futuro primo ou prima que estava falando.

Era uma gravidez acidental, mas ainda assim traria muitas alegrias para sua família, estava certa.

― Meu Merlin, já tem unhas? ― Rita olhou para a barriga ainda bem pouco diferente do usual - nunca havia sido verdadeiramente plana - como se estivesse encarando o receptáculo de um monstro maligno em crescimento.

Sirius finalmente olhou para a prima, com um sorriso incerto.

― Deixa a gente ouvir os batimentos, Andie, por favor. ― O maroto estava nervoso e não sabia muito bem o que aconteceria agora, mas esperava que ouvir os batimentos do seu filho ou filha lhe desse algum tipo de epifania.

Talvez agora viesse, tal qual um feitiço bem executado, todos os conhecimentos da paternidade, simples assim.

Andrômeda executou o feitiço de ausculta, então o pequeno consultório foi invadido por um som rítmico e ligeiro, tão ligeiro que deixou Sirius preocupado, em um primeiro momento.

― É normal ser tão rápido? ― Sussurrou para a prima, que o encarou com um sorriso caloroso nos lábios.

― Completamente normal. Vamos executar alguns exames de sangue adicionais para verificar se o nível de magia e de nutrientes estão ok tanto na mãe, quanto no bebê, mas ao que parece, estamos lidando com uma gravidez bastante saudável.

Sirius respirou fundo, soando aliviado até mesmo para os seus próprios ouvidos, entretanto, os batimentos cardíacos do bebê não lhe trouxeram nenhum tipo de certeza, muito pelo contrário…

Por Merlin, o que iria fazer da sua vida agora?

***

Depois da visita a prima, Sirius havia aceitado o convite de Rita para discutir as questões pertinentes a gravidez com maior cuidado. Por exemplo, ele havia garantido a mulher que tinha algumas economias guardadas - preferiu deixar de fora a parte da herança do tio, por hora - o que seria o suficiente para manter o bebê durante o seu período como aprendiz de auror, então isso já a tranquilizou logo de cara.

Nas semanas seguintes, o maroto continuou visitando a jornalista, cada encontro os dois se forçando a discutir um tópico importante da lista interminável feita por Lily, Andie e até mesmo por Remus, que sempre que podia o olhava com condescendência e um toque de diversão, adicionando mais um item ao famigerado pergaminho que já contava com 45 centímetros de pura sandice!

Maldito seja, Moony estava se divertindo com seu sofrimento!

Então, quase dois meses depois da notícia de que seria pai, Sirius estava na abarrotada, e agora familiar, sala de visitas de Rita, discutindo os méritos das instalações para funcionários do Ministério da Magia.

― Lá na creche do Ministério pelo menos a criança vai fazer amigos, o que até você tem que admitir que é importante, porque amigos são contatos e tudo mais... Isso é importante, não é? ― O grifinório agora estava usando o próprio argumento da mulher para ganhar a causa, porque uma das principais exigências para a educação do bebê, que Rita sempre insistia em colocar no topo de suas prioridades, era a rede de relacionamentos que eles teriam que construir para o futuro do seu filho.

Uma bobagem sem tamanho, se perguntassem a Sirius, mas como ele não podia, nem queria, irritar a mulher grávida, ele acatou sem muita discussão.

― É importante sim, mas todo mundo parece trabalhar no Ministério esses dias e parecem estar procriando feito coelhos, então nossa filha vai se perder nesse mar de gente sem importância! ― A mulher falou soando chateada com a mera possibilidade. Sirius a encarou com irritação.

― Eu me recuso a ter que educar você enquanto educo o bebê, Rita, então já vou logo avisando que essa história de “gente sem importância” vai ter que acabar! ― Ele falou sério, mas a sonserina apenas o olhou por cima de seus oclinhos esquisitos, com deboche. ― Acabamos de sair de uma guerra exatamente sobre isso, criatura! Você até está cobrindo alguns julgamentos de comensais da morte, não aprendeu absolutamente nada com a queda do lorde das trevas?

― Ora, e o que diabos eu tinha para aprender? Eu não acredito que haja superioridade de sangue ou de magia pura, mas creio que todos sabemos que o poder, na verdade, vem de lugares muito mais interessantes. ― A mulher falou com um sorrisinho matreiro, enquanto tirava um dos livros que havia colocado debaixo de seu abajur com pés de flamingo.

― Tipo onde?

― Até onde eu sei, nada te dá mais poder do que informação e conhecimento, o que me lembra: você sabia que há evidências de que o Ministério serve carne de elfo doméstico no refeitório? ― Rita falou com seriedade e Sirius a olhou incrédulo.

― Como é que é? De onde você tirou essa idiotice? ― O maroto questionou indignado, porque ele e os amigos costumavam comer lá de vez em quando, principalmente quando Remus tinha algum intervalo livre espremido em um dia cheio de reuniões e pilhas de trabalho acumulado pós lua cheia.

― Você já viu o corpo de algum elfo doméstico depois de morto? Algum tipo de funeral ou qualquer serviço fúnebre que seja? Não, mas você sabe que os elfos morrem e que a carne servida para os pobres funcionários de baixo escalão do Ministério é detestável, então não é muito difícil deduzir os fatos. Isso se chama jornalismo investigativo, meu caro.

― Não, isso se chama fofoca! E nem sequer é uma das boas, se quer saber. ― Sirius retrucou exasperado, observando o livro que a mulher folheava para não lhe dar a devida atenção. ― Acho que com esse péssimo argumento contra a creche do meu trabalho, podemos declarar que esse é um assunto que podemos deixar para decidir mais para frente.

A jornalista o olhou com ceticismo, porque tudo com o garoto era sobre deixar o assunto para ser decidido no futuro. Ela iria dar à luz a criança e iria ter que agir como se não tivesse estado grávida por nove meses, porque o pai do bebê era uma criatura que não conseguia decidir nada!

― Deixaremos a creche para quando precisarmos de creche, mas creio que é bom estabelecer os arranjos para o bebê até lá. Você sabe, temos que decidir quem vai ficar com ele nas primeiras semanas e como será toda essa logística parental... ― A sonserina gesticulou sem atenção, quase acertando a perninha dobrada do seu flamingo decorativo.

― Como assim quem vai ficar com ele? Nos primeiros meses o bebê tem que ficar com você, por conta do leite materno e essas coisas! ― Sirius apontou involuntariamente para os peitos da mulher a sua frente, depois fez um gesto mais amplo, para simbolizar as tais “outras coisas".

― Que fofinho, muito inocente da sua parte achar que vai deixar tudo nas costas da mamãe aqui! ― Rita falou com sarcasmo, depois ajeitou os oclinhos melhor no nariz. ― Não, meu caro, você vai ficar com a criança metade do tempo! Aqui, veja: toda bruxa moderna que se preze sabe tirar e armazenar seu leite, para que seu rebento possa ganhar o mundo sem a sua presença!

― Mas antes dos seis meses? ― O rapaz sussurrou com desespero, vendo o artigo de revista que a mulher havia puxado sabe Morgana de onde!

― Antes, depois, não importa! Você achou mesmo que eu fosse largar minha carreira por todo esse tempo para cuidar da sua filhinha? Achou errado, querido! Não mandei me escolher como mãe da sua herdeira, agora vai ter que arcar com as consequências! ― Ela falou tudo com deboche, depois voltou seu olhar para o livro em suas mãos, animada, deixando o inconveniente artigo nas mãos de Sirius. ― Ah, achei!

Rita ofereceu ao rapaz seu mais novo exemplar de “O futuro na Astronomia", de Hubble Webb, que tratava dos principais fenômenos estelares das próximas décadas, até a virada do milênio, que, segundo a publicação, iria mudar tudo no mundo bruxo! Sirius aceitou o livro, mas o colocou de lado, no braço de sua poltrona, em cima da revista sobre amamentação para bruxas modernas.

― Eu não te “escolhi” como mãe de ninguém e eu não estava achando nada, apenas não imaginei que você quisesse que eu me envolvesse nessa dinâmica mãe-bebê-leite, porque isso tudo é muito esquisito! ― O grifinório concluiu com uma careta engraçada, porque ainda era difícil imaginar fluídos corporais alimentando bebês indefesos em seu futuro próximo.

― Pois se acostume com a ideia dessa “dinâmica”, porque eu pretendo dividir todas as tarefas meio a meio com você! Para começar, acho que nos dois primeiros meses o bebê pode ficar o tempo todo aqui e aí você vem todos os dias para ajudar com os feitiços de limpeza e essas coisas que eu vou estar impossibilitada de fazer sozinha. ― Ela falou com displicência, calculando como pegar o livro de volta para discutir o tópico que queria realmente.

― Por que vai estar impossibilitada? ― Sirius questionou com desconfiança.

― Porque eu vou expelir do meu corpo uma criatura do tamanho de uma abóbora, por uma abertura que não deveria passar nada mais largo do que um pepino! ― A mulher explicou graficamente, com irritação e dessa vez ficou feliz de ver a careta de pânico na cara do rapaz estúpido a sua frente. ― Pois é, esse é meu exato sentimento.

― Mas leva dois meses para você se recuperar? ― O maroto ainda tentou argumentar, só um pouco enjoado com a perspectiva.

― Até onde eu sei, pode levar uma vida inteira! ― Rita respondeu exasperada, apenas metade do gestual exagerado sendo para colocar Sirius em seu devido lugar. ― Mas voltando aos planos, a partir daí, acho que podemos estabelecer uma rotina onde o bebê fica de dia comigo e a noite com você, o que acha?

― A partir de onde?

― Você está sendo propositalmente obtuso só para me irritar, não está? É por isso que não nos imagino dividindo uma casa por mais de dois meses, nem pelo bem estar dessa criança! ― Rita argumentou com diversão e Sirius apenas revirou os olhos, embora concordasse com tudo que ela disse.

― Tá, que seja! Mas por que eu fico com o turno da noite? Não tem aquela história de que bebês não dormem bem por um tempão? E como fica o meu sono? ― O grifinório perguntou intrigado e Rita pensou que realmente tinha que ter muita coragem ali, para abrir a boca para falar um troço desses!

― Como fica o seu... Black! Eu preciso... Não, espera, eu vou mostrar! ― A sonserina se levantou do sofá pink onde estava, se desviou do criado-mudo e da cristaleira que abarrotavam o espaço, até chegar ao pequeno corredor que ia para a cozinha. Do cômodo distante Sirius pôde ouvir o barulho da mulher se movimentando pelo espaço, com sua audição de animago. ― Aqui, achei!

Quando a jornalista voltou, trazia consigo uma abóbora de pelo menos 4 quilos nas mãos. Sirius se largou no encosto do sofá, deixando escapar um gemido de exasperação com a linha de argumentação da mulher.

― Ah, meu Merlin, Rita!

― Ah seu Merlin mesmo! Porque você tem a cara de pau de me perguntar sobre o seu soninho da beleza, enquanto que eu vou ter que lidar com isso passando entre minhas pernas! ― Ao terminar de falar, a mulher arremessou a dita prova de todo o seu sofrimento no peito de um maroto desavisado. Sirius perdeu todo o ar que tinha nos pulmões e pelo menos um décimo da alma no processo!

Dessa vez o rapaz nem se dignou a dizer nada, ainda estava muito ocupado recuperando o fôlego perdido. Rita o observava com satisfação, mãos nos quadris, o que fazia a protuberância, que sinalizava a presença de seu bebê, mais evidente no único vestido que a mulher tinha que era razoavelmente agradável aos olhos.

― Bem, agora que estabelecemos o ponto, por que não dá uma olhada na página do livro que te entreguei, hum? ― Ela apontou o exemplar com a ponta do nariz, voltando a se sentar, com uma mão apoiada inconscientemente no ventre levemente arredondado.

Sirius não pôde deixar de pensar, não pela primeira vez, em como conseguiria ter intimidade o suficiente com Rita para que ela lhe deixasse sentir o bebê mexer em sua barriga. Se a abóbora que havia colocado cuidadosamente no chão era algum indicativo, não iria ter essa oportunidade tão cedo!

Pegou o livro, que surpreendentemente ainda se mantinha intacto no braço da poltrona, mesmo com todo o episódio com a abóbora e a quase morte por esmagamento de um maroto, para ler o trecho que Rita havia selecionado com tanto zelo.

― “A incrível trajetória do cometa Halley”? ― Sirius questionou curioso, terminando de ler o título do capítulo marcado. ― O que eu deveria entender com isso?

― Sua família gosta de dar nome com coisas de estrelas, não é? Bem, dando o nome de um cometa que orbita o Sol, você não estaria mantendo exatamente a tradição, mas, de certa forma, ainda estaria mantendo a tradição, percebe? ― Ela respondeu animada, ainda com a mão apoiada na barriga. ― E o melhor de tudo: o nome serve para menina e menino!

― Sério? ― Sirius ponderou descrente, porque o nome não parecia lá muito unissex, mas ao mesmo tempo tocado com o gesto.

Rita era extremamente irritante com toda essa história de incluir a família Black na vida do bebê, mas tinha sido sensível o suficiente para se dar ao trabalho de adaptar a tradição que, na opinião do maroto, era a mais inofensiva de todas.

― Sério! No caso, a nossa filha pode se chamar Medea Halley, então, embora você não tenha escolhido o nome diretamente, ainda vai ter alguma participação nisso. O que acha? ― Ela explicou com um sorriso sincero, o que aumentou ainda mais o sentimento de gratidão pela gentileza.

― Bem, na verdade é uma ideia bem legal, Rita... Mas se for menino, talvez a gente pudesse chamar o bebê de Harley, como a minha moto, no lugar, o que acha? Próximo o suficiente, não? ― Ele tentou, divertido, recebendo um cenho franzido de insatisfação como resposta.

― Nunca daria o nome de uma moto trouxa para o meu bebê! ― Rita retrucou indignada, o olhando por cima dos óculos. ― Eu aqui, toda esforçada, tentando dar um nome para a nossa criança caso seja um pobre menino e você aí pensando em motos!

― Foi só uma ideia, mas quer saber? Vamos colocar Halley na coluna das possibilidades, junto com Medea e Harl-

― Harley não! ― A jornalista interrompeu o discurso apaziguador do maroto.

― Okay, Harley não. De qualquer sorte, o que acha de chamar o bebê de Cometinha, enquanto não decidimos o nome dele ou dela, hum? ― Sirius sugeriu com cuidado, porque não fazia ideia de como Rita receberia a sugestão de um apelido para a criança. Ele adorava criar apelidos, mas a mulher não parecia do tipo que gostava desse tipo de coisa.

― Está bem.

― Está bem? ― Ele confirmou surpreso. ― Não se importa mesmo? Quero dizer, pensei em Cometinha porque foi uma coisa totalmente inesperada em nossas órbitas, mas inteiramente bem-vinda, agora que sabemos da existência.

― Todo mundo sabe da existência de cometas antes deles serem visíveis, Sirius! ― Rita apontou espertamente, porque tanto os astrônomos trouxas, quanto os bruxos estudavam por anos a fio a movimentação dos astros pelo cosmos para prever tais eventos.

― Então vai ser um apelido irônico, que tal? ― Tentou uma última vez, recebendo um sorriso travesso da mulher como resposta.

― Se quer saber, eu gosto muito de ironias.

***

As ruas abarrotadas do Beco Diagonal pareciam um mundo novo agora, Sirius não deixava de notar a medida que via todas as pequenas vassouras nas lojas de Quadribol, pelúcias, livros de história e pequenos chapéus pontudos para bruxinhos que queriam brincar de ir à Hogwarts.

Remus sorriu para a expressão levemente atônita do amigo.

― Ajuda se você disser o que estamos procurando hoje. ― O maroto mais novo sinalizou, principalmente porque era seu turno de ajudar Pads com as compras e não queria voltar de mãos vazias, como Wormtail fizera na semana passada.

Bem, apesar de um ou outro tropeço, Sirius havia aceitado bem o sistema de revezamento de compras organizado por Lily, onde cada amigo tirava um dia para ir com o futuro papai ao Beco, na tentativa de finalizar o enxoval do bebê.

Rita estava comprando os itens principais com a mãe, uma senhora tão objetiva e severa quanto um general, então só sobrava para Sirius comprar o que a jornalista descreveu como “itens essenciais para a criança se sentir amada e única”.

Em resumo, todas aquelas bugigangas em miniatura que as crianças usavam por algumas horas e depois descartavam em um canto qualquer.

― Estamos procurando uma jaqueta de couro, coturnos e um bastão em miniatura. ― Sirius contou nos dedos, fazendo o amigo o encarar com diversão.

― Ok... São itens bastante específicos. ― Remus constatou com bom humor. ― Já foi confirmado que será um menino?

― Não, Rita quer surpresa, então estamos comprando coisas unissex, sabe? Quero que meu filho ou filha tenha um pouco de estilo. ― Sirius finalizou o discurso com um sorriso maroto, fazendo Remus o encarar com um quase sorriso irônico.

― Então talvez a gente tenha que olhar em lojas trouxas, eles sempre são mais criativos nessas coisas que ninguém com juízo pensa. ― O lobisomem sugeriu, mas Sirius descartou a hipótese.

― Vamos dar uma chance ao Beco Diagonal primeiro, depois a gente vai naquele bar trouxa que eu comentei com você, porque talvez a gente nem precise comprar o bastão, vou ter que avaliar se a criança tem ombros de batedor, sabe?

― Se for uma menina, o que, vamos ser sinceros, há 50% de chance de acontecer, vai ser difícil treiná-la para ser batedora.  ― Remus falou só por falar, afinal era um grande fã das batedoras das Harpias, único time profissional que só trabalhava com mulheres no elenco. ― Vai querer a sua garotinha tendo o nariz quebrado por um bando de marmanjos?

― Vou ensiná-la a quebrar narizes, isso sim! ― O maroto falou com convicção, depois deixou cair os ombros, com desânimo. ― Ela vai se deparar com um monte de caras idiotas que nem eu, não vai?

― Talvez não, quem sabe? De qualquer forma, uma jaqueta e coturnos? Acho que a sua garotinha vai ser durona, Pads! Hogwarts não está preparada para uma nova geração dos marotos... Mal se recuperou da primeira! ― Remus disse rindo, recebendo um sorriso feliz como resposta. Sirius gostava de pensar na criança que estava por vir nesses termos.

― Sabe o que é mais estranho de tudo? ― O animago perguntou, ao mesmo tempo que se desviava de um casal brigando na calçada em frente a sorveteria de Florean Fortescue. ― Mesmo tendo ouvido os batimentos, visto a barriga de Rita crescer e o parto estando marcado para, sei lá, daqui a alguns poucos meses, essa coisa de paternidade não parece...

O grifinório deixou a reflexão morrer antes mesmo de Remus lhe dar toda sua atenção – o rapaz estava se certificando de que a esposa briguenta não fosse tentar matar o marido ali, em plena vista de todos – porque havia avistado alguém que não queria ver nem em um milhão de anos.

― O que? O que foi? ― O maroto mais tranquilo perguntou daquele jeito distraído, que tinha feito toda a Grifinória aceitar muito bem o seu apelido de quem vivia no mundo da lua. Seguiu o olhar surpreso e então irritado de Sirius, até finalmente entender o que tinha acontecido. ― Bem, não o olhe desse jeito, ele tem tanto direito de estar aqui quanto você!

― Eu não estou tão certo disso... – Sirius resmungou enquanto encarava o seu único irmão conversando despreocupadamente com duas garotas de sua idade, provavelmente colegas de Hogwarts, na porta de uma loja de livros qualquer.

O maroto sabia que o ano letivo da escola bruxa havia sido atípico após a guerra – muitas famílias arrasadas pelo luto tentando se recompor – mas não fazia ideia de que Walburga estava tão permissiva ao ponto de deixar seu único filho e herdeiro saracoteando pelo Beco Diagonal em pleno primeiro mês de aula!

Aquilo era absurdo, se bem conhecia o diretor Dumbledore, dificilmente Regulus poderia ingressar na escola quando bem entendesse. Que desculpa daria? Não tinha perdido ninguém importante na guerra, porque seu pai, Órion, havia morrido de “causas misteriosas” no início do ano, então, entre Bellatrix sendo jogada em Azkaban e o marido de Cissa se safando da prisão, alegando estar sob domínio da maldição Imperius, o garoto de 17 anos não tinha absolutamente nada para guardar luto agora!

― Você não acredita realmente que ele deveria estar em Azkaban por causa da marca negra, não é? Ele é só um garoto! ― Remus perguntou incerto, porque Sirius podia ser bem irracional às vezes.

O animago se encolheu de leve ante a observação, porque, embora achasse que todos os comensais da morte merecessem apodrecer em Azkaban, esse não tinha sido o primeiro raciocínio aplicado para seu irmão caçula purista, nem por ele, muito menos por Moony.

Aparentemente a corte de Wizengamot não era a única que passava a mão pela cabeça de Regulus Black, como se ele fosse uma criancinha inocente.

Alheio ao conflito interno do amigo, para Remus estava mais do que claro que Regulus Black havia sido cooptado para o lado das trevas como vários de seus colegas sonserinos de família puro-sangue, porque eles não tinham muita opção, a não ser seguir os ditames de suas famílias tradicionais.

O problema é que sonserinos e famílias puro-sangue, para Sirius, só podiam resultar em uma coisa: bruxos das trevas.

― Eu não acho nada, Moony, achar implicaria que eu gasto qualquer tempo, por mínimo que seja, pensando nos Black. ―  Sirius respondeu com bem menos energia do que estava usando antes ou que teria usado para falar sobre o irmão caçula em termos ruins em outros tempos. ―  Vamos embora daqui. Você tem razão, os trouxas devem ter algo melhor para minha filha do que qualquer coisa que acharemos nessas ruas.

O maroto aparatou assim que deu as costas para onde o irmão estava. Remus ainda encarou o local onde o amigo estivera há segundos com um olhar de quem queria conversar mais sobre o assunto, só que para isso precisaria de um outro interlocutor. Deu uma última olhada para o adolescente sonserino, antes de seguir o animago até a viela em que sempre aparatavam para acessar a Londres trouxa.

Porém, dessa vez, o lobisomem não encontrou um garoto com uma aura descontraída, muito pelo contrário, o rapaz parecia tê-lo avistado e agora o encarava com o cenho franzido, que não era desafiador, nem sequer confuso, era...

Uma expressão que lembrava muito a que Sirius usava constantemente perto dos marotos: era uma indagação muda, com só um toque de vulnerabilidade, tentando entender sentimentos que pareciam simples para todos os outros, menos para ele.

A semelhança entre os dois irmãos era entristecedora e Remus talvez fosse uma das poucas pessoas que conseguia ver o quanto os dois se pareciam, não só fisicamente. Por conta disso, era também um dos poucos, se não o único, que ainda tinha esperanças de que algum dia aqueles dois ainda fossem se entender.

Deu um sorriso tímido para o garoto e um simples aceno de cabeça, antes de aparatar atrás do mais velho dos Black. Bem, não poderia obrigar os dois irmãos a tentar se entenderem agora, mas poderia ao menos ser o primeiro a demonstrar certa maturidade e cortesia.

Talvez tudo se resolvesse com pequenos passos, passos de bebê até, quem sabe, mas alguém tinha que começar essa caminhada, certo?

***

A cerimônia de casamento simples, mas acolhedora de James e Lily, havia dado uma pausa mais do que merecida no turbilhão de incertezas que a vida de Sirius havia se tornado. Os meses estavam passando mais rápido do que gostaria, Rita estava começando a ficar cada dia mais ansiosa e irritada com a gravidez, então assistir a união de dois de seus melhores amigos não tinha como não colocar um sorriso sincero em seu rosto.

Lily observou o gesto de longe, então se despediu de alguns familiares trouxas para se dirigir ao maroto em um canto mais afastado, distante do grupinho de amigos que cochichavam divertidamente alguma coisa com seu marido, perto da mesa do bolo.

―  Posso saber por que você não está lá com os outros marotos se divertindo, Sirius? ­­―  Lily se apoiou no espaldar da cadeira do rapaz, o olhando de cima com uma expressão calma e gentil, que não conseguia disfarçar o brilho de felicidade com a sua tão sonhada união matrimonial.

―  Estou só dando um tempo antes de me despedir do pessoal, vou ter que acompanhar uma equipe em uma missão de reconhecimento agora à noite. Prongs te avisou que eu iria precisar sair mais cedo, não avisou? A verdade é que estou tentando cumprir o máximo de horas possíveis do estágio, você sabe, antes do bebê nascer e tudo mais. ―  Ele falou em um tom que deveria ter parecido normal, mas soou algo melancólico.

Lily resolveu que não era necessária em nenhum lugar agora, então puxou a cadeira ao lado da do amigo e o olhou por alguns segundos mais longos do que o usual, antes de responder à pergunta feita.

―  Sim, James me avisou que você talvez não conseguisse ver a nossa partida para a Lua de mel, mas não é uma grande perda, eu acho... ― Lily olhou incerta e divertida para onde o marido parecia estar tramando algo com os amigos, agora que tinha parado para observar direito. Continuou a falar com menos convicção. ―  Eu espero que não aconteça nada de muito mirabolante na nossa partida, então você participou do principal. Estou muito grata de ter você aqui, Sirius, de verdade.

―  Onde mais eu poderia estar, Lils? Embora eu tenha brincado até o último minuto dizendo que vocês poderiam esperar mais para selar essa união, não acredito que alguém tenha torcido para tudo dar certo hoje mais do que eu. ― Poderia soar arrogante, tendo em vista que os noivos e os pais dos noivos provavelmente deveriam estar mais animados com o casamento em questão do que ele, mas Sirius não retirou o que disse, porque o sentimento era sincero. ―  Não teria trocado esse momento por nada nesse mundo!

―  E eu aprecio de verdade o seu esforço, Sirius, eu sei que essas últimas semanas não tem sido fáceis, com você correndo para montar o enxoval do bebê, acelerando o treinamento no quartel e ainda ajudando James com as coisas do casamento... Estou muito orgulhosa de você, de verdade! ―  A grifinória, que na verdade era até mais nova do que o próprio maroto, sorriu como uma mãe satisfeita com o progresso de um filho querido. Sirius riu da ideia, embora maternal fosse o exato termo que definisse algumas das atitudes de Lily.

―  Bem, fico feliz que alguém aprecie, porque Rita tem estado constantemente me lembrando de tudo que eu ainda não decidi sobre o futuro do bebê, a começar pelo nome, caso seja menino, terminando com a escolha do padrinho... ―  O maroto suspirou cansado, ainda com um resquício do riso anterior no rosto. ―  Para ser sincero, o maior problema está sendo isso, a escolha do padrinho. Eu sei que Prongs parece a opção óbvia, por ser como um irmão para mim, mas aí eu penso que tem Moony também, que tem estado ao meu lado nessa loucura toda e aí eu lembro de Wormtail, que sempre é colocado em terceiro lugar e talvez merecesse a honra, quero dizer...

―  Você tem pensado muito nisso, hum? ―  Lily replicou com solidariedade, embora não soubesse muito como o amigo estava se sentindo. James já havia decidido que Sirius seria o padrinho de seu primogênito e para o segundo bebê, ele tinha certeza de que conseguiria pensar em alguém logo.

―  Tenho pensado muito em muitas coisas, o problema real é que tudo parece ser tão definitivo e nada é sobre mim realmente, quero dizer... E se o bebê odiar tudo que eu escolhi para ele? Certas coisas não têm como trocar e é tão injusto ter terceiros decidindo seu futuro antes mesmo de você nascer, então eu estou tentando tomar as melhores decisões que eu posso! ―  O maroto confessou em voz baixa, porque simplesmente não achava que cabia erros nesse negócio de ser pai, já que isso significaria ferrar com a vida de uma pobre criança inocente.

― Sirius, você não é o seu pai. ―  Lily assegurou com firmeza e o maroto apenas a encarou com o cenho franzido, porque não tinha ideia de onde Lily havia tirado isso. Ela continuou, agora com mais calma.  ―  O seu bebê terá escolhas e será amado, ele já está com um futuro muito bacana, na minha humilde opinião.

―  Eu sei que essas coisas são uma vantagem e tanto, Lils, mas tem tanto a ser decidido e cada pequena escolha pode ser... ―  Sirius parou de falar bruscamente, soltando o ar com um semblante cansado. ―  Eu não consigo imaginar Órion gastando cinco minutos do dia dele para escolher o meu nome, quanto mais se preocupando com quem seria meu contato de emergência, caso ele não estivesse mais presente, então eu não tenho referência nenhuma para decidir essas coisas.

―  Talvez ele tenha se preocupado com tudo isso em algum momento, mas você vê? Essas decisões parecem tão pequenas quando vistas hoje. O seu pai lhe faltou em momentos que eu não acho que você vai repetir, então, para todos os outros, você só precisa escolher pensando no que é o melhor para a nossa Cometinha e tudo vai ficar bem, você vai ver! ―  Lily assegurou com um sorriso simpático, tocando de leve na mão do maroto em cima da mesa.

Ele não encontrou o olhar da mulher à sua frente, mas sorriu mesmo assim, porque sempre que falava com um dos amigos sobre o assunto, se sentia um pouco mais leve, como se não tivesse que passar por tudo sozinho.

―  Você também acha que vai ser uma menina, não é? ―  Resmungou divertido e assim que ouviu um risinho de leve da grifinória, a encarou com carinho, porque tinha certeza de que aquela mulher era perfeita para seu irmão James. ―  Bem, obrigada pela conversa, Lils, ajudou bastante.

―  Eu sempre ajudo. ―  Ela sorriu com todos os dentes, parecendo tão convencida quanto Prongs em seus piores dias.

―  Ok, mas agora está na hora de eu cair fora, para ficar entediado em mais uma tocaia com os meus futuros colegas de trabalho e de você... ―  O maroto deixou a frase no ar, com uma expressão travessa que fez Lily revirar os olhos. ―  Lily Prongs, você precisa que eu tenha a conversa sobre abelhas e pássaros com você, mocinha?

―  Ora, Sirius! E eu achando que você era um cara maduro agora, ledo engano! ―  Ela resmungou se fingindo de severa, mas sorriu com leveza após dar um empurrão no ombro do amigo. ―  Agora cai fora daqui, antes que James encontre alguma bagunça para vocês fazerem e acabe te atrasando para o trabalho.

―  Você que manda, senhora Prongs! ―  Sirius se levantou com mais animação do que estava há dez minutos. Puxou a recém-casada para um abraço apertado, de pé e então sussurrou na orelha ainda coberta com alguns lírios da coroa de noiva que Lily havia usado na cerimônia. ―  Cuida dele para mim, Lils.

―  Pode deixar, Sirius.

O maroto aparatou sem se despedir dos outros, não queria chatear James, nem deixar um clima chato para trás. Sabia que embora o amigo estivesse dando um grande passo na vida com o casamento, os passos que ele mesmo estava dando agora eram igualmente importantes e talvez um pouco mais assustadores.

Sabia que, de agora em diante, havia algumas coisas que teria que encarar sozinho.

***

Estava passando a limpo pelo que deveria ser a milésima vez o relatório sobre as missões infrutíferas que havia feito com seus superiores, atrás de uma suposta célula de ex-comensais da morte em busca de um novo líder que desse continuidade a causa do purismo.

De todos os trabalhos, lidar com comensais era o que Sirius mais detestava, porque eles eram escorregadios e, embora a guerra já houvesse terminado a quase um ano, seus ideais ainda faziam sentido para alguns civis, que acabavam ajudando e os acobertando ao longo da caçada.

Queria voltar ao tempo que nunca havia vivido, onde cada grupo de auror tinha que se concentrar apenas em um bruxo das trevas por vez e não em esporos de um Lorde das trevas tão poderoso, que parecia se recusar a ficar morto!

O animago suspirou cansado para a pilha de papeis na mesa a sua frente, porque não imaginava que teria tanto trabalho burocrático quando se alistara para o serviço de auror. Mas a verdade é que o maroto ainda tinha esperanças de que as coisas fossem tão chatas apenas porque era um estagiário, que recebia ordens de todo mundo do quartel, até dos elfos domésticos do serviço de limpeza!

Merlin, era pedir demais que tivesse um pouquinho de ação naquela sexta de plantão?

Tudo bem que havia tido alguma diversão na semana passada, celebrando seu aniversário de 19 anos em uma das poucas saídas que podia se dar ao luxo de ter. Sair com os amigos havia sido divertido, só que o problema é que já se sentia como um velho de 300 anos e olha que sua filha nem sequer tinha nascido!

Era tudo muito deprimente.

Deuses, parecia que era estagiário a mais de uma década e que Rita estava grávida a pelo menos duas, porque o tanto de trabalho e reclamação que havia aguentado nos últimos meses eram os verdadeiros culpados do maroto se sentir tão...

―  Black, acorda! Temos uma emergência para você! ―  Auror Baldwyn chamou da porta da saleta com apenas metade do corpo para dentro e, embora a voz de barítono continuasse a mesma, havia um toque de diversão nos olhos do homem, que o deixou enjoado de nervosismo.

Todos os estagiários sabiam o quanto o velho auror era um sádico, só esperando a oportunidade para sapatear em seus túmulos assim que morressem de exaustão ou histeria, o que acontecesse primeiro.

―  Quais os detalhes da missão, senhor? ―  Sirius se levantou com rapidez, porque havia acabado de pedir por ação e se tinha um trabalho a fazer, significava dizer que alguém poderia estar em perigo, então não tinham tempo a perder.

―  Maternidade Beatrix Bloxam para bebês mágicos e outras criaturas. Aparentemente uma criança está querendo vir ao mundo, mas está aguardando o pai chegar para fazer sua aparição. ―  O auror mais velho sorriu – SORRIU, pelo amor de Merlin! Sirius não achou que o homem fosse capaz de tal coisa – então o maroto ainda piscou confuso por alguns segundos, antes de entender sobre o que o bruxo estava falando. ―  Se você desmaiar, Black, não vou deixar você esquecer disso nunca, pelo tempo em que eu viver e até mesmo depois!

Dessa vez Sirius foi capaz de esboçar o que poderia ser um sorriso como resposta, embora a possibilidade de desmaiar não parecesse tão absurda assim. As coisas pareciam um pouco mais pálidas do que o de costume e suas mãos estavam começando a suar contra sua vontade.

Por Morgana, ia ser pai! Como o tempo tinha passado tão rápido?

Falou qualquer coisa para o chefe como despedida, que por sua vida não lembraria o que foi, e então correu para a lareira conectada ao sistema de flú mais próximo de sua sala de tortura no quartel dos aurores.

Devia ter pronunciado o nome da maternidade bruxa certo, porque se viu, em poucos segundos, na atribulada área de entrada do único hospital para nascimentos mágicos de toda a Grã-Bretanha. Se encaminhou para o balcão de informações e agradeceu por ainda estar usando o uniforme roxo dos aurores, o que o fez receber a direção que precisava mais rápido do que os demais bruxos inquietos.

―  Quarto 301, à direita, 301, à direita, 301, à direita... ―   Resmungou para si mesmo repetidas vezes, porque tinha medo de esquecer para onde estava indo. Quando o elevador informou a ala de partos naturais, o maroto hesitou em descer por um nano segundo, depois se recriminou pela covardia, era um grifinório da cabeça aos pés, afinal de contas!

Encontrou o quarto mais rápido do que gostaria, ou não, estava bastante confuso, mas ao chegar lá, não soube o que fazer. Ele e Rita haviam discutido o que fariam no dia do nascimento de Cometinha? Tinha a sensação de que não tinham discutido absolutamente nada de importante, porque todas as informações haviam escorrido de seu pobre cérebro nesse exato momento.

―  Sirius, respira! Você está mais pálido do que uma folha de pergaminho, só respira, ok? ―  Andrômeda havia segurado o primo pelos dois braços assim que ele havia entrado no quarto com uma cara de quem havia visto o próprio lorde das trevas dançando de ceroulas. Continuou o reassegurando. ―  O trabalho de parto está bem no começo, está tudo bem, confie em mim.

O maroto respirou fundo, dando um sorriso frágil, logo substituído por uma expressão de preocupação real. Rita estava deitada no leito de hospital com um dos braços sobre os olhos e a outra mão nas mãos de sua mãe general, se parecendo muito pouco com sua persona sempre confiante e até mesmo irritante.

Ela parecia estar em um estado miserável.

O senhor Skeeter o olhou com algo como pena no olhar, o que era o primeiro sentimento não de todo negativo vindo da família de Rita, que o devia ver como uma espécie de sedutor barato de quinta categoria. A verdade é que não havia falado muito com os pais da mulher, embora eles, de uma forma ou de outra, sempre estivessem por perto, principalmente nesses últimos meses.

O homem deu lugar para o auror em treinamento se aproximar da cama de hospital, resmungando algo como fumar um charuto, mas Sirius não entendeu muito bem o que foi dito. Se sentou na poltrona, incerto se deveria fazer sua presença ser notada ou se deveria continuar quieto, tentando se fundir a mobília do quarto.

A história de que homens costumavam ficar fora das salas de trabalho de parto antigamente, contada por Remus, parecia bastante tentadora agora. Talvez ele pudesse trazer a moda de volta, quem sabe?

―  Não se atreva a ficar com essa cara de pufoso que caiu da mudança, Black. Eu estou bem e o bebê também, ok? ―  Rita comunicou, não esperando uma resposta realmente, porque podia sentir o nervosismo do rapaz à quilômetros.

Talvez, no fim das contas, tivesse que consolar mesmo o grifinório, como havia brincado no dia em que o contara sobre a gravidez.

―  Ok, me avise se precisar de alguma coisa. ―  Sirius queria acrescentar que estaria esperando lá fora, mas se forçou a permanecer onde estava, mesmo que aquilo fosse uma das coisas mais desconfortáveis que já tivesse feito.

O que estava fazendo ali? Ele e Rita haviam transado uma única vez e por mais que se esforçasse para lembrar do que tinha acontecido naquela noite há nove meses, tudo que conseguia lembrar era de alguns fragmentos de sussurros, talvez um dos cachos loiros dela enrolados em seu dedo e mais nada!

Por mais que tivessem conversado exaustivamente sobre tópicos importantes ou completamente absurdos, as duas coisas não se excluindo, o maroto não sentia que tinha intimidade o suficiente para estar participando daquele momento, embora fosse responsável por metade de tudo o que estava acontecendo.

Havia contado nos dedos de uma das mãos quantas vezes havia tocado na barriga de Rita para sentir sua Cometinha, geralmente os dois se deixavam levar pelo momento, conjecturando o que a bebê deveria estar fazendo para estar mexendo tanto, em um espaço tão apertado. Mas logo o animago se lembrava de que estava tocando na barriga de uma outra pessoa, afastando a mão com desconforto.

De todos os arrependimentos que levaria consigo para o túmulo, não ter criado um vínculo profundo com a mãe de sua criança talvez fosse o maior deles.

Fechou os olhos e ficou torcendo para as horas do trabalho de parto passarem rápido. Rita, ao contrário do que poderia esperar – havia tentado não pensar no parto em nenhum termo desde a metáfora da abóbora, para ser sincero – não estava sendo escandalosa e agressiva, muito pelo contrário, a mulher apenas deixava escapar alguns gemidos e resmungos, sussurrados para sua mãe do outro lado da cama.

Quando os sons ficaram cada vez mais desesperados, Sirius resolveu que não poderia ficar mais parado ali, se torturando apenas para sentir que havia participado de alguma forma do nascimento da criança, tinha que tentar fazer alguma coisa de verdade, ou acabaria ficando louco!

Procurou Andrômeda pelo aposento, sem olhar para o lugar onde sabia que Rita estava deitada e de onde detestaria que ele a visse em seu estado mais vulnerável. Quase havia recebido um livro na testa por ter ousado aparatar na sala da jornalista antes dela ter arrumado seus cachos loiros em ondas perfeitas há dois meses, imagina agora!

Sirius desconfiava que a mulher estava se contendo para não gritar por conta de sua presença no quarto, então se havia algo que pudesse fazer para acelerar todo o processo, ele iria fazer sem nem pestanejar.

Saiu pelos corredores da maternidade, olhando de um lado para o outro e assim que viu o vulto do cabelo comprido da prima preso em uma trança bem-feita, o futuro auror se pôs a correr, antes que ela virasse a esquina e desaparecesse pelas entranhas do hospital mais uma vez, sabe-se Merlin fazendo o quê.

―  Andie! ―  Ficou feliz de não ter soado como um grito desesperado, mas seu chamado tinha sido alto o suficiente para fazer a curandeira se virar com um semblante preocupado.

―  O que foi, Sirius? Alguma coisa com Rita? Com o bebê? ―  A mulher já havia mudado completamente de postura, se encaminhando para a direção de onde o rapaz havia chegado.

―  Eu... Eu acho que não, eu só... Será que não tem um jeito da gente, sei lá, adiantar o parto? Quero dizer... Faz quanto tempo que estamos aqui? ―  O rapaz perguntou exasperado, passando a mão pelo cabelo recém-cortado, já que havia perdido a batalha contra o chefe dos aurores. O homem havia lhe prometido que deixaria que ele voltasse a usar o cabelo comprido depois da formatura, no começo do ano, mas até lá, essa era mais uma das coisas familiares que tinha perdido recentemente.

―  Sirius, Rita não está nem a dez horas em trabalho de parto. É absolutamente normal que leve algum tempo quando se trata de um primeiro filho. ―  A mulher tentou tranquilizá-lo, mas percebeu que tinha conseguido exatamente o oposto. O maroto não pôde deixar de ficar assustado, já havia passado dez horas? E ainda tinha mais daquilo pela frente? ―  Se acalme, vou checar o progresso de Rita com a curandeira Norman, ok? Por que você não vai comer alguma coisa, quem sabe até chamar um dos seus amigos para ficar com você, hum?

Sirius acenou positivamente com a cabeça, mesmo sabendo que não faria nada do que havia sido sugerido. Como poderia comer qualquer coisa com o estômago apertado em um nó daquele jeito? E que bem faria ter os outros marotos ali, fazendo Rita ainda mais desconfortável em um momento que já era uma tortura em circunstâncias normais?

Não, se o que a prima havia dito era verdade e não havia nada que ele pudesse fazer realmente para acelerar o parto, iria se resignar a voltar para a posição em que estivera nas últimas horas, ainda que isso significasse que suas pernas voltariam a ficar dormentes, que a dor nas suas costas iria piorar e que sua cabeça não pararia de pensar em todas as possibilidades horripilantes que gemidos de angústia traziam para seu cérebro.

Era oficial: Sirius Black nunca mais engravidaria uma mulher na vida!

***

Passadas mais cinco horas, que pareciam intermináveis, a curandeira Norman voltou para o quarto com um sorriso otimista. Havia verificado os últimos exames de sangue e os níveis de magia da mãe e do bebê, então anunciou com alegria que a hora do nascimento finalmente chegara.

Sirius agradeceu mentalmente a todas as deidades que existiam, porque nos últimos minutos Rita havia passado de uma mulher estoica para uma harpia desvairada, gritando e o xingando, colocando a culpa nele por tê-la seduzido e enganado, coisa que, por mais que os pais dela odiassem admitir, todos sabiam que não era verdade.

Como ele poderia ter enganado uma criatura esperta e, dependendo do dia, até traiçoeira, como aquela, para início de conversa?

Mas ao menos as coisas foram bem rápidas a partir do momento em que a curandeira havia dado o aviso: Andie havia chegado no quarto com um sorriso radiante no rosto, pronta para auxiliar sua colega de profissão, acalmar o tanto quanto fosse possível o primo e assegurar que tudo estava correndo na mais perfeita normalidade, mesmo não trabalhando naquele hospital.

Alguns minutos de Rita fazendo força, empurrando o bebê e nem tendo como se sentir constrangida pelo estado em que se encontrava, foram suficientes para colocar o mais novo Black no mundo, às 10 horas e 37 minutos do dia 11 de novembro de 1978.

No último segundo, Sirius se perguntou se realmente queria ver a coisa toda acontecer e embora a cena fosse muito sangrenta, ficou feliz de ter escolhido ficar e ser um dos primeiros a dar as boas-vindas a sua criança.

O bebê, que havia sido amparado pelas mãos firmes da curandeira Norman, era extremamente minúsculo e, embora à primeira vista parecesse ter todos os dedinhos das mãos e dos pés, não tinha nem um só fio de cabelo na cabeça ainda suja dos fluídos do parto.

―  Minha filha é careca? ―  Sirius talvez ainda estivesse anestesiado com toda a comoção do parto, porque não queria acreditar que aquela tinha sido a primeira coisa que havia dito para sua Cometinha!

Deuses, seria um pai e tanto!

―  Na verdade, primo... É um menino. ―  Andrômeda informou divertida, fazendo o maroto desviar o olhar do rostinho enrugado do seu bebê, para outra área igualmente importante da anatomia da criança. ―  Quer ter a honra de cortar o cordão umbilical do seu filho? Vamos, pegue sua varinha, Sirius, vamos lá!

A mulher o incentivou, tendo pego a criança em seus braços, mas o maroto fez que não com a cabeça, porque o estado em que suas mãos estavam, tremendo tanto que mal conseguia sentir as pontas dos dedos, provavelmente ocasionaria a perda de uma parte importante do corpo do filho, caso tentasse lhe tirar fora o cordão umbilical.

Andrômeda lhe deu uma piscadela conhecedora, porque Ted também havia se recusado a cortar o cordão de Dora, mas nada disso era realmente importante, porque não diminuíra em nada o laço entre pai e filha.

A irmã Black do meio terminou de ajeitar o bebê, então entregou o mais novo primo a sua genitora, que parecia mais ansiosa do que cansada para ver finalmente o rosto do filho. Rita teve o cabelo levemente arrumado pela mãe, enquanto tentava assimilar cada detalhe do seu bebê recém-nascido.

―  Oi, Cometinha! Então decidiu que não quer se chamar Medea, não é? Bem, azar o seu, porque a ideia de um bom nome do seu pai é a marca de uma moto trouxa. ―  A mulher sussurrou para o bebê alto o suficiente para que Sirius ouvisse também e risse baixinho. ―  Por que não vem aqui dar uma olhada de perto no que você aprontou, Black?

O grifinório piscou nervoso, porque não imaginava Rita o convidando para o que só poderia ser descrito como um daqueles gestos que um casal normal fazia quando ganhavam neném. Se aproximou inseguro, então se abaixou até ficar da altura da mulher, que ainda não havia desviado os olhos da criança.

―  O que te parece? É seu ou não é? ―  Ela questionou em um tom brincalhão, mordendo os lábios emocionada. ―  Parece um filhote de amasso, mas é tão lindo!

Sirius riu novamente, dessa vez sendo acompanhado pela mulher, que não parecia ligar de estar sendo vista suada, vermelha e despenteada. Rita parecia ter apenas olhos para o seu bebê. O maroto tomou coragem para se aproximar mais da criança, envolvendo mãe e bebê em um abraço de lado.

―  Tem certeza de que foi comigo com quem você dormiu? ―  Comentou no mesmo tom da sonserina, a fazendo finalmente encará-lo com um olhar travesso.

―  Ele tem o seu nariz, Black! Não tenho culpa se você parece com um amasso também. ―  A jornalista resmungou se fingindo de irritada, depois deu um beijo de leve na testa da criança, que parecia alheia a tudo. ―  É perfeito...

Rita havia sussurrado de olhos fechados e Sirius não pôde deixar de concordar, respirando aliviado por tudo ter dado certo.

Sim, seu filho era perfeito.


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Notas finais do capítulo

Tá vendo porque ficou grande? Condensei 9 meses em um capítulo, palmas pra mim, que nem sou prolixa ou exagerada, rsrsrs

Bjuxxx



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