1968

Sirius era jovem, muito jovem, talvez não tivesse mais do que oito anos de idade e, ao seu lado, sentado no chão de um dos muitos cômodos da Mansão Black, estava uma figura ainda mais diminuta. Regulus sorria com um par de dentes faltando bem na frente, o que dava um ar travesso ao rosto ingênuo, outrora sempre visto como doce.

“ Eu acho nomes muito importantes, Six, porque quando a gente conhece uma pessoa bastante mesmo, a gente a chama só por isso e aí ela se torna nossa amiga.”

Regulus explicou do seu jeitinho ainda infantil, então se levantou, tocando de leve na tapeçaria muito antiga a sua frente, cheia de retratos e nomes de pessoas que haviam vivido muito antes dele sequer sonhar em nascer. Sirius encarou o irmão caçula com impaciência, porque para ele tudo aquilo era uma grande bobagem.

“Você pode chamar os outros do que quiser, Reg, Walburga, por exemplo, me chama de uns nomes bem criativos.”

O garoto maior falou com diversão, porque sua mãe na verdade o xingava de nomes cada vez mais cruéis, mas de certa forma eram até que engraçados. De tudo que a mulher fazia, xingar era o que menos doía, na verdade.

O menor franziu o cenho chateado, porque seu irmão mais velho talvez tivesse mesmo razão, mas ele não gostava nada, nada do jeito que sua mamãe chamava Six às vezes. Gostava do nome Sirius e seus parentes antigos também deviam gostar, porque era a terceira vez que usavam o mesmo nome.

“ Eu gosto de nome de estrelas, papai me mostrou a carta celeste da família Black e você acredita que tem nomes que nunca foram usados lá?” O menor perguntou animado, ganhando um olhar pouco atento do irmão em retorno, o que não diminuiu em nada o seu ímpeto.

“Tem vários nomes de meninos e meninas lá, Six, dá para escolher um monte, papai até apontou um nome que ele gosta muito”

“Hum rum, bom pra ele.” O garoto de oito anos resmungou com pouco interesse, porque estava entediado, mas tinha que ficar ali naquela sala com o irmão até que os tios partissem da visita semanal que sempre faziam.

“ Eu disse ao papai que vou colocar esse nome no meu filho algum dia e ele disse que era muito bom, porque era um nome ime... imo... Imoculado!”

Sirius já não estava mais ouvindo o que o irmão estava dizendo, porque agora havia sussurros passando pelas dobradiças da porta, o que significa dizer que se tratava de gritos realmente muito altos lá fora.

“Esse é um nome perfeito, nunca foi usado antes e você vê? É a estrela mais brilhante de todas, até mesmo mais brilhante que Betelgeuse e ainda por cima é a maior estrela da constelação de Órion, Six!”

“Shhhhh, Regulus, fica quieto! Não vê que tá acontecendo uma coisa importante?” Sirius virou irritado para o irmão, depois voltou para a porta, encostando o ouvido na madeira densa, mas com frestas grandes o suficiente para deixá-lo entreouvir alguma coisa.

O pequeno Regulus Black olhou para a tapeçaria da família chateado, porque sabia muito bem quando devia ficar calado. Suspirou triste, pois o nome que tinha escolhido era na verdade muito legal mesmo, Six teria adorado, pena que ele não ligava para essas coisas.