60 dias de Tony e Belle escrita por Arii Vitória


Capítulo 1
"Se eu pudesse ser de alguém, seria dela."


Notas iniciais do capítulo

Eu tenho esse defeito horrível de sempre começar as coisas e raramente dar um fim à elas, mas eu nunca esqueço minhas histórias, os personagens vão e voltam na minha mente, e eu acho que esse é o melhor momento para que eu possa repostar essa fanfic porque tá tudo bem fresquinho na minha memória, e eu juro que farei o impossível pra não abandonar.
Boa leitura!



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Tony Belmonte

O dia começou tão comum. Quando você pensa no dia em que você vai se apaixonar intensamente pela primeira vez, provavelmente se imagina acordando ao som de fogos de artifícios ou com balões por toda parte, ou qualquer coisa, menos em um dia comum.

Eu estava louco pra saber o placar do importante jogo de basquete da noite passada, mas isso pareceu algo tão inútil depois que achei ela na multidão.

Olhando de fora, pode parecer bobo. O mundo continua girando, eu só encarei de longe uma garota bonita em um metrô. Mas na minha cabeça foi como se o universo estivesse gritando “ei, seu otário, taí sua chance, estou jogando ela pra você”, vê-la me fez pensar “oi sorte!”.

Não que tivesse sido amor a primeira vista, afinal, continuo acreditando que isso nem existe. Foi, sei lá, interesse a primeira vista. Garota bonita, que tem uma aura tão igualmente bonita que me encantou, na verdade, achei estranho que ninguém mais tivesse se encantado também. Eu nunca tinha acreditado nessas coisas místicas, mas aqui estou eu usando a desculpa que o campo energético dela era encantador, invés de admitir que fora sim uma espécie esquisita de amor a primeira vista.

Ela caminhava olhando para o chão, usando uma camiseta de um filme antigo e um All Star rabiscado nos pés. Eu andava rápido, boné pra trás, usava chinelo. Ela nunca me notaria, e muito menos imaginaria que eu estaria olhando pra ela, imaginando o que será que ela rabiscou naquele All Star.

Tentei desviar meus olhos dela uma ou duas vezes, mas era inevitável não olhar. Ela estava de fones de ouvidos, ás vezes fechava os olhos para apreciar alguma música. Fiquei apenas olhando, mesmo se eu pudesse me aproximar dela, seria algo como “oi, estava te observando de longe e acho que me apaixonei, o que acha de sair para tomar um chá?”, daí ela me olharia esquisito, negaria, mas agradeceria porque na minha cabeça, ela era o tipo de pessoa que agradeceria mesmo depois de uma proposta tão aleatória.

Eu imaginei a vida inteirinha dela na minha cabeça. Era uma mania estranha que eu costumava ter, imaginar a vida das pessoas, talvez porque eu não fosse lá muito fã da minha. Imaginei que ela era inteligente, acertei. Imaginei que seus pais eram separados e que ela era filha única, errei. Pensei que ela tivesse um namorado engraçado, e que os dois compartilhavam piadas internas via mensagens de textos. Fiquei com ciúmes, o que era estranho até pra mim. Como eu podia ter ciúmes de alguém que nem conheço, da qual acabei de idealizar um namorado falso? Pensei, naquele instante, que teria chegado no limite máximo da insanidade.

Ela saiu do metrô umas três paradas depois. Eu continuava observando ela ir embora, fazendo de conta que estava tudo bem, enquanto parecia que uma parte de mim tinha sido arrancada. Insanidade. Loucura. Psicopatia. Alguém poderia me internar ali, naquele momento.

No meio da consulta com o doutor Sebastian, enquanto ele me contava como estava progredindo a infeliz desgraça do qual a vida tinha me “abençoado”, pensei nela de novo. Pensei que se eu pudesse ser de alguém, seria dela facilmente.

Vi ela de novo no dia seguinte, isso porque fiz questão de me atrasar a exata meia hora do dia anterior. O bom de ter câncer é que seus chefes não ligam muito de você se atrasar, aliás já é um alívio se você aparecer.

Ela usava calças largas, cabelo preso de um jeito bagunçado, mas não parecia estar se importando muito com isso. Estava lendo um livro com uma rosa amarela na capa, e de repente, amarelo era minha cor preferida. Ela me encarou por uns dois segundos, provavelmente percebeu que meus olhos estavam nela a tanto tempo que olhar para outras coisas era como um pecado. Voltou para o livro, mas mesmo de cabeça baixa eu a vi soltando um sorriso meio curioso. Droga, por que ela tinha que ser tão linda?

Ela logo voltou a prestar a devida atenção no livro, e eu me dei conta de que mesmo que eu tivesse alguma chance com ela, seriam pouquíssimas. Ela era inteligente demais para mim. Devo ter lido um único livro na vida, e mesmo assim era uma revista em quadrinhos do Batman, então não deve contar.

Acho que no quinto dia ela já esperava por mim, ou ao menos já tinha percebido que eu era um psicopata que a encarava sem parar no metrô, o que significava que ela era observadora. Se alguém estivesse me encarando no metrô eu nunca teria me dado conta, principalmente porque eu estava ocupado olhando pra ela. A ironia é que ela me contou depois que já tinha me notado no primeiro dia.

No oitavo dia ela usou shorts, o que era estranho porque ela sempre estava de calça, mas fazia mais de trinta graus e parecia ser o dia mais quente do ano. Usava a mesma camiseta larga que havia usado no segundo dia, mas dessa vez não estava lendo, até porque eu estava observando quando ela chegou na última página do livro da rosa amarela no dia anterior. Ela estava com os olhos marejados, e fiquei confuso sobre o quanto eu queria abraçá-la para fazê-la se sentir melhor. Poderia fazer isso pra sempre. Mas neste dia ela estava de fone de ouvidos, e eu observei seus lábios sussurrarem a letra de outra música. Me aproximei, sem conseguir evitar, como um reflexo.

But you could’ve had the guts to face me. It would have meant so much. If you’d looked me in the eye. Why do I always fall for the ones who have no courage?

(Mas você poderia ter coragem de me enfrentar? Isso significaria muito, se você tivesse me olhado nos olhos. Por que eu sempre me apaixono por aqueles que não têm coragem?)

Pronto, já era minha música preferida. Então, talvez ela soubesse que eu estava escutando sua voz, talvez ela tivesse feito de propósito, talvez estivesse curiosa sobre mim, talvez a letra tivesse sido um desafio, “venha falar comigo”. Para quem não tinha nada há segundos atrás, aquilo significava grandes possibilidades. Quem diria.

Ela me olhou, dessa vez não desviou os olhos, ela sustentou o olhar em mim, e eu nela. Acho que eu não conseguiria não encará-la de volta nem se minha vida dependesse disso. Ficamos assim por um minuto completo. Daí ela fez um sinal com a cabeça, como se tivesse se despedindo de mim e saiu do metrô. Eu nem sequer tinha percebido que já tínhamos chegado na sua estação.

Eu sabia que não deveria aparecer no dia seguinte, nem nos próximos. Até então observá-la havia sido apenas como um passatempo, imaginar sua vida era um dos meus hobby´s favoritos, mas eu sabia que se eu aparecesse no metrô no nono dia ela falaria comigo, ou eu falaria com ela. E eu já gostava dela ao ponto de não permitir que ela fizesse parte da minha vida. Então, não compareci ao nono dia. Nem no décimo, nem no décimo primeiro. E assim foi se formando toda uma dolorosa semana sem vê-la. No que seria o vigésimo dia, eu finalmente voltei. Destinado a me sentar bem longe, não permitir que ela me visse, e olhá-la apenas por alguns segundos, discretamente. Seria uma despedida.

Daí ela não apareceu. Ou foi o que eu achei, até sentir uma mão me cutucar. Apenas um dedo indicador encostado em meu ombro, responsável por um trilhão de sentimentos explodindo dentro de mim.


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Notas finais do capítulo

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