Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 33
Destino


Notas iniciais do capítulo

E vamos de mais emoção!



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A pequena mulher o olhava com aqueles olhos silenciosos e portadores de sabedoria, uma sabedoria que só se adquire com o tempo. Ele desviou os olhos. Tinha medo que ela lesse mais do que deveria. Não poderia jamais permitir que alguém chegasse àqueles segredos que guardava no mais profundo do seu ser. Tentou sorrir de modo casual. Conseguiu esboçar um simulacro de sorriso.  

— Vocês parecem bastante cansados — disse Maz. — Por que não descansam um pouco antes de voltarem?  

Rey olhou para ele. Os olhos dela estavam escuros e sem brilho, perdidos em algum lugar que ele não sabia se poderia alcançar naquele momento.  

— Acho que deveríamos descansar um pouco — falou ele, olhando para ela. — O que acha, Rey? 

— É, acho uma boa ideia — concordou ela, massageando as têmporas com um gesto lânguido.  

Maz os conduziu até um quarto pequeno e simples, em que se encontrava apenas uma cama de casal, uma escrivaninha, uma cadeira e um armário. Apesar da modéstia, o recinto era aconchegante. Uma luz tênue entrava pelas amplas janelas, envolvendo o quarto em uma calidez suave. Na escrivaninha havia flores frescas em um vaso, uma jarra com água, copos e um prato com biscoitos fumegantes.  

A anciã mostrou rapidamente o quarto e os deixou. Rey sentou-se na cama. Os ombros dela estavam tensos e o olhar perdido.  

— O que foi? — perguntou ele, sentando-se ao lado dela. — Você está bem? — Colocou a mão no ombro dela e a puxou delicadamente para si.  

— Eu... não estou bem, mas... sei que precisava fazer isso. Sei que precisava enfrentar os meus medos. — Rey encostou a cabeça no ombro dele. —  Eu estava fugindo da verdade. Sabe, eu já fiz isso tantas vezes, fugir... E sempre que fiz isso só causei dor e mágoa ao meu redor. Feri tanto... E mais uma vez, lá estava eu, fingindo que as coisas estavam bem, quando não estavam. 

Ele acariciou suavemente o ombro dela, fazendo pequenos círculos com o polegar. A dor de Rey era tangível. Vê-la sofrendo era mais doloroso do que sentir em sua pele aquela dor, porque quando ela sofria parecia que a dor se alastrava até ele e atingia o âmago do seu ser.  

— Eu estou aqui. Não vou te deixar sozinha. Vamos enfrentar isso juntos. 

— Obrigada — agradeceu ela, colocando a mão sobre a dele. — Obrigada por enfrentar isso comigo. Eu realmente não sei como fazer isso se você não estiver ao meu lado.  

Apertou a pequena mão de Rey na sua, sentindo a frieza daqueles dedos.   

— Eu estou com medo — confessou ela, com a voz assustada e repleta de terror.  

— De quê? 

Rey ficou em silêncio por um longo segundo, os olhos fechados, a pequena mão na sua, inquieta.  

— Palpatine retornou — declarou ela, retirando a cabeça de seu ombro e o olhando.  

Os olhos dela estavam cheio de horror e desespero, como se até mencionar aquilo lhe exigisse um esforço extremo.  

Envolveu-a nos braços. E o pequeno corpo dela desabou em um grande soluço.  

— Ele voltou — repetiu ela, enterrando a cabeça em seu peito. — E está me chamando. 

Acariciou os cabelos dela, desejando com toda a sua alma retirar aquela dor do coração de Rey.  

— O chamado dele é muito forte — confessou ela, com um sussurro.  

— Você é mais forte do que ele — afirmou ele, segurando-a entre seus braços. 

— Mas... é como se ele gritasse que pertencer ao lado negro é meu destino. 

— Você sabe que não é. Esse não é seu destino. Nunca será — assegurou ele, limpando as lágrimas grossas que escorriam pela face dela. — Nós iremos fazer nosso próprio destino. Você e eu. — Segurou os ombros de Rey, olhando naqueles profundos olhos avelã. — Você e eu somos donos de nossos destinos e ninguém irá nos dizer o que fazer com nossas vidas. Ninguém, Rey. 

 

****************************** 

Ele despertou com aqueles gritos apavorantes que ecoavam em sua mente. A boca seca e amarga, a saliva espessa como cola e o corpo banhado de suor.  

Rey dormia ao seu lado. Sentiu um pouco de alívio ao notar que o sono dela era profundo. Uma mecha de cabelo caia sobre a testa, um vinco se formava entre as sobrancelhas dela. Mesmo dormindo, ela tinha uma expressão triste e angustiada. Ajeitou a mecha de cabelo com delicadeza e massageou o ponto entre as sobrancelhas até o que vinco desaparecesse. Ela conseguira cair no sono depois de chorar por um tempo em seus braços. Ser uma descendente de Palpatine para ela era algo monstruoso, ele sabia.  

Rey tão cheia de sol e calor, tinha em suas veias o sangue de um Sith medonho. Ele não se importava com aquilo. Rey era Rey. Nada mudaria aquilo.  

O que o assustava era o fato de ela descobrir seu segredo. Ela sentiria repulsa por ele, certamente, porque até mesmo ele sentia-se enojado em pensar sobre Kylo Ren. Como ela poderia o aceitar?  

Ele era um monstro.  

Um monstro que a envolvera em seus braços, que a beijara, que a amava.  

Não, Kylo Ren era um monstro. Ele era Yuri Snow agora. Yuri Snow era apenas um cara comum.  

Imagens do passado de Kylo Ren vieram a sua mente. Eram imagens distorcidas, fragmentos de memória. Ele se encontrava em um pequeno vilarejo, um senhor estava em sua frente. Podia sentir o medo do homem. Ren pegou o sabre vermelho e matou o homem sem demonstrar qualquer tipo de sentimento.  

Ele levantou-se da cama e meteu-se debaixo do chuveiro, recebendo um jato de água gelada em suas costas. A água estava tão fria que lhe causava dor. Isso os desviava daquelas imagens malditas. Não podia perder o controle sobre si. Precisava manter sua sanidade.  

Era como se existisse outra pessoa dentro dele. Um monstro que lutava desesperadamente para sair. Não, ele era mais forte do que aquele monstro. Ele estava no controle. Não permitiria jamais que aquele monstro ganhasse.  

Saiu do banheiro. Rey ainda dormia profundamente. Não podia ficar ali. Temia que aquela agonia em que vivia também se alastrasse até ela. Rey já tinha seus próprios problemas para resolver. E aquele problema era dele, não dela.  

A floresta se estendia ao seu redor. Já estivera ali. Uma pequena lembrança fragmentada daquele lugar estava em meio àquelas memórias caóticas que tentava desesperadamente sufocar.  

Os tiros, a floresta, havia algo naquela floresta... algo que o chamava... 

— Você não pode se esconder para sempre — falou a pequena mulher, fazendo seu coração disparar, não havia notado a aproximação dela.  

— Quê? Eu... não... — balbuciou.  

— Quando se vive por muitos séculos como eu se vê muitos olhares como o seu. Não adianta. Você não pode fugir do seu destino — sentenciou a mulher de um modo enigmático. — Você já sabe a resposta.  

Maz desapareceu de seu campo visão, assim como apareceu, sem deixar nenhum vestígio.  

Porém, antes que ele pudesse processar o que acabara de acontecer, imagens vieram a sua mente. Foi envolvido pelo caos daqueles fragmentos de memória.  

A floresta... tiros... Uma dor dilacerante. Havia algo que ele precisava lembrar... algo realmente importante. Uma forma desfocada e familiar surgiu em sua frente. Ele precisava alcançar aquela sombra... estava tão perto. Estendeu a mão... Mas, antes que ele a tocasse, outra visão o atingiu, como se algo estivesse sendo empurrado para dentro de seu cérebro, sem que ele pudesse evitar. Aquilo lhe provocava uma dor aguda e dilacerante.  

Ele estava em frente a um jovem de vestes brancas. O jovem era exatamente como ele. Parecia até que estava vendo uma imagem duplicada de si. Porém, era mais jovem do que ele. E os olhos dele eram inocentes. 

O sabre cor de sangue atravessou o jovem.  

Snoke, o homem que fora o mestre de Kylo Ren, ria. Uma risada grotesca que ecoava pela sala de paredes rubras, sangrentas e sufocantes.    

— Meu jovem aprendiz, você tem certeza do que fez? — desafiou Snoke, estudando-o com aqueles olhos sem vida.  

— Tenho — afirmou Kylo, de joelhos perante seu mestre.  

— Mesmo? — Havia um tom cortante naquela voz.  

— Ben Solo não existe mais. Eu matei Ben Solo.  

O gosto de bile invadiu a boca. Yuri se curvou e vomitou no chão.  

 

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Até amanhã!



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