Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 34
Famintos de amor


Notas iniciais do capítulo

E aqui terminamos nossa maratona, espero que tenham gostado ♥



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 Os olhos de seus amigos estavam sobre ela. Rose fazia anotações, Poe estava inquieto e até aparecia um pouco excitado e Finn tinha uma expressão incrédula no rosto.  

— Mas... — balbuciava Finn. — Você tem certeza, Rey? 

— Tenho — afirmou ela. — Infelizmente, eu sei que é verdade. Palpatine retornou.  

— Mas, ele não tinha morrido, sei lá — tentava argumenta Finn desesperadamente. — Como ele pode estar de volta, Rey?  

Ela entendia completamente o desespero do amigo. Ninguém mais do que ela desejava que aquilo fosse apenas uma ilusão, um pesadelo qualquer do qual logo despertaria.  

— Eu não sei... Eu também pensei que ele havia sido derrotado, mas... estava enganada. Palpatine é forte. Acho que todos subestimamos a capacidade dele... 

— Por que este cara tem sempre que voltar? — falava Finn, indignado. — Quem é o roteirista desta galáxia deve estar sem ideias! Como pode isso, Rey?  

Rose fez uma careta, enquanto lia algo em seu computador.  

— Isso faz sentido — falou ela, sem retirar os olhos da tela. — Nos últimos meses a Primeira Ordem, ou melhor, aquilo que restou da Primeira Ordem tem andado muito quieto. Quase achamos que eles tinham desaparecidos... Mas, eles deveriam estar tramando algo... Capturamos um dos integrantes dias atrás. Ele disse algo muito estranho no interrogatório, sobre como a Resistência não sabia de nada e que teria uma grande surpresa em breve. Nós investigamos, mas desde que todo mundo achou que era mais uma mentira, não levamos esse assunto adiante. Deveríamos ter ficado mais alerta. Nos últimos tempo temos andando despreocupados demais.  

— Temos que agir! — disse Poe, levantando-se de sua cadeira e circulando de modo impaciente pela sala de reuniões. — Se ficarmos esperando, a coisa só vai piorar.   

— Não vamos nos precipitar — interviu Finn. — Não podemos colocar as pessoas em pânico. Isso não vai ajudar em nada.  

— E você quer que as pessoas fiquem como? Elas precisam saber, estarem preparadas! — declarou Poe.  

— Mas, elas vão ficar em pânico! — afirmou Finn, exasperado. — E a gente nem sabe direito quais são os planos de Palpatine! Talvez, ele queira isso mesmo, o pânico das pessoas! Pessoas em pânico cometem muita bobagem.  

— Não é assim que as coisas funcionam — rebateu o outro. — Você quer a gente fique aqui sem fazer nada? Precisamos agir. 

— Como sempre você está sendo precipitado. 

— Eu não sou precipitado! 

Os dois estavam com os ânimos exaltados, prestes a começarem uma briga. Ninguém estava preparado para encarar aquela ameaça. Todos aqueles três anos de relativa paz na galáxia havia os deixado de guarda baixa. Palpatine deveria saber disso. Ele deveria estar espreitando em algum canto da galáxia aguardando o melhor momento para atacar.  

— Precisamos manter o foco — interferiu Rose, em um tom neutro, mas repleto de autoridade.  

Os dois generais olharam para a imponente Comandante, fechando prontamente suas bocas.  

— Poe está certo, precisamos agir. Mas, Finn também tem razão, não é o momento de deixar as pessoas em pânico. Devemos agir, mas com cautela. Rey, o que você acha? 

Rey se mantivera calada durante a discussão, quase alheia as coisas ao seu redor. Milhares de pensamentos invadiam sua mente. Ela precisava enfrentar um de seus piores pesadelos. A pele formigava desde o momento em que tivera que aceitar aquela verdade. Um buraco havia se instalando em seu estômago. A cabeça girava. Uma espécie de mal-estar a acompanhava desde a viagem a Takodana.  

O retorno de Palpatine era uma lembrança constante de algo que tentava esconder no canto mais obscuro de sua alma, o fato de ter aquele sangue asqueroso correndo em suas veias. Fora por causa daquele sangue que não tivera uma família. Fora devido a ele, que fora deixada em Jakku, abandonada a sua própria sorte.  

Os dias tristes e solitários em Jakku, em que sua existência era insignificante para todos, estavam marcados em sua memória. Trazia aquelas recordações cravadas em sua carne. Naqueles dias, tudo que ela mais desejara era ter uma família, alguém que acabasse com a dor, a solidão e a tristeza que habitavam seu ser. Ela estava faminta por amor. No entanto, não existia ninguém para lhe dar nem mesmo migalhas de amor.  

— Acho que... — Os amigos a olhavam em expectativa. — Rose tem razão. Devemos fazer como ela disse. — Ela tentou não deixar o nervosismo transparecer em sua voz.  

Os amigos começaram a falar. Finn e Poe haviam reiniciado a discussão. Rey assistia a cena como se estivesse no piloto automático, alheia a tudo ao seu redor. Não sentir, muitas vezes, era pior do que sentir.  

 

******************************************** 

Os passos de Rey eram incertos. Quando percebeu, lá estava ela na sub-base de Lis. Havia saído para tomar um ar fresco, passara o dia discutindo com Rose, Finn e Poe sobre as medidas que precisavam tomar. Sua mente estava fervilhando, saltando de pensamento em pensamento sem se deter em nenhum. Estava exausta. Parecia que seus pés sabiam exatamente aonde ela deveria estar.  

Fazia dois dias que ela havia retornado de Takodana. O retorno fora turbulento. Em algum momento, enquanto descansava no castelo, seu sono fora invadido por pesadelos terríveis e asfixiantes. Palpatine estava lá e também o chamado para o lado negro. Acordara tão agoniada que saíra correndo em direção a floresta, como se seu corpo estivesse em chamas e sua alma despedaçada de tal modo que nunca mais seria ela mesma. Só parara de correr quando encontrou os braços de Ben. Ele era o principal motivo de ainda manter a sua sanidade.  

 Ela não vira Ben depois daquela rápida viagem. A Resistência tomara todo seu tempo, assim como aqueles pensamentos e sentimentos. Mal havia conseguido dormir por mais de uma hora naqueles últimos dias. E era melhor assim. Tinha medo do que poderia encontrar se fechasse os olhos.  

Rey entrou na oficina. Morpheus já arrumava as coisas para sair. Ela o cumprimentou, enquanto percorria os olhos pelo local em busca de Ben. 

— Hoje, terminamos o trabalho mais cedo — dizia Morpheus. 

— Ah... Onde está o Yuri? — perguntou.  

— Deve estar por aí. Aquele cara hoje está trabalhando por uns dez nestes dias! — exclamou o mecânico chefe. — Nunca vi ninguém trabalhar tão duro!  

Rey agradeceu a Morpheus e dirigiu-se até o lugar onde ela sabia que o encontraria.  

Os últimos raios de sol caiam sobre a floresta. Aquela era uma tarde fria e um pouco acinzentada.  

Ela sentou-se no chão, encostando-se no tronco da árvore imensa. Não disse nada, apenas colocou a cabeça sobre o ombro dele, aliviando um pouco a dor que trazia consigo. Ben não se moveu nem pronunciou uma palavra sequer. Os dois ficaram em silêncio, vendo os últimos raios de sol morrerem.  

— Quando eu era uma criança, eu tinha dificuldade para dormir. Então, eu criava várias histórias em minha cabeça para chamar o sono. Eu imaginava que meus pais estavam chegando e iriam me levar para um lugar bonito, verde e com um enorme oceano. Eu via o jardim grande imenso que teríamos, sentia o perfume das flores. Imaginava a água fresca e cristalina do mar, aquela infinidade de água banhando meus pés — confessou ela, a voz baixinha, quase um sussurro. — Eu dizia para mim mesma que eles iriam voltar a qualquer momento. Era só eu esperar. Eu deveria ser uma boa garota. Eles teriam orgulho de mim. Eles me buscariam. Mas, eles nunca voltaram.  

Ele apertou sua mão na dele. A mão dele estava fria, ou talvez, fosse a dela que estava tão gelada que nem mesmo a calidez dele poderia aquecê-la.  

— Eu cresci sozinha, desejando desesperadamente por um lar. Achando que não fora boa o suficiente para meus pais... que eu era ruim o bastante para ninguém me querer. Por isso, me esforçava tanto para ser uma garota melhor. Meus pais voltariam se vissem como eu havia melhorado. Eles tinham ido embora porque eu não era boa. Mas, agora eu sei a verdade. Meus pais me deixaram em Jakku porque precisavam me proteger. 

A mão de Ben apertou ainda mais sua mão.  

— Mas... 

— Mas? — indagou ele, com uma voz gentil e acolhedora.  

— Será mesmo que é preciso abandonar as pessoas para protegê-las? Eu sei que eles me amavam... Mas, eles me deixaram sozinha em Jakku, me venderam para aquele asqueroso do Plutt. Eu precisei crescer achando que todos me odiavam, lutando para sobreviver a cada dia, pensando que não valia nada. — As palavras saiam de Rey. Era a primeira vez que ela confessava isso para alguém até mesmo para si mesma. — Eu não sei se... consigo perdoá-los pelo o que fizeram comigo... — disse, surpreendendo a si mesma. — Quer dizer, eles estavam certos, não deveria existir outra saída... Eu só... — Ela não conseguia expressar aquilo em palavras.  

— Queria que eles tivessem ficado com você — completou Ben. 

Ela assentiu. Notando, que aquele era o sentimento de Ben que ela não compreendera na época. Ben assustava as pessoas, com todo aquele poder e a semelhança assustadora com o avô, Darth Vader. Para protegê-lo, ele fora enviado para treinar com seu tio Luke. Ben sentia-se terrivelmente sozinho, pensando que sua família havia o abandonado. Ele só desejava que eles tivessem ficado com ele. 

Rey julgara que Ben estava sendo injusto. Afinal, os pais dele só queriam protegê-lo, como ele não conseguia compreender seus pais, ver o quanto eles estavam se sacrificando por ele? Mas, agora, ela podia entendê-lo completamente. Eles só estavam famintos de amor. Precisavam que alguém estivesse ao lado deles, que lhe dessem amor. Mesmo meras migalhas de amor serviriam.  

Uma lágrima escorreu pela face de Rey.  

Ben voltou-se para ela e a abraçou. Um abraço apertado, quase como se ele estivesse temendo que ela lhe escapasse de seus braços.  

— Você não está sozinha — assegurou ele.  

Rey afundou a cabeça no pescoço dele, aspirando seu cheiro familiar e reconfortante. 

— Nem você — declarou ela.  

— Rey... — começou ele, com a voz hesitante.  

— Sim? — incentivou, depois de ele se calar.  

— Rey... — Ben se afastou um pouco dela e pegou seu rosto entre as mãos. — Você é a pessoa mais importante para mim em toda a galáxia — falou ele em um tom sério, olhando em seus olhos. — Se algo acontecer com você... se eu... 

Havia algo naqueles olhos que a fitavam com intensidade. Era um sentimento primitivo... 

Ele abraçou-a, desta vez, com ainda mais intensidade, quase de modo sufocante, como se estivesse com... 

Medo. Era aquele sentimento que ela havia visto nos olhos dele.  

 

 

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Não se esqueçam de me seguir no instragam para mais atualizações
—hannamartins



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