Joyeux Noël escrita por kuriyamanyah


Capítulo 4
Capítulo III




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34º Distrito da Guarda, Eixo Norte - Planeta Y

16 dias para a véspera de Natal

 

— Me pergunto como chegamos à isso, sabe? Você apontando uma arma para mim enquanto eu estou nessa posição ridícula. — Jean estava pendurado em um dos dutos de ar do Distrito, uma posição humilhante. Seu colega de trabalho, H.E.Y, apontava um rifle de laser contra as costas do francês e lentamente ia pegar a pasta de Jean, que havia caído na tentativa dele de descer do duto de ar. 

— Você estava no lugar errado e na hora errada, mas eu estava no lugar certo e na hora certa.

 

Horas antes 

Ainda 16 dias para a véspera de Natal

 

— Muito obrigado! — Jean se despediu dos duendes. As três pequenas criaturas deslizaram com seu trenó para o correio, deixando um rastro no chão de neve e gelo no rosto sardento do francês. — Duendes… 

Jean observou a fachada do Distrito, era um pinheiro que teve a ponta cortada. As folhas brilhavam como safiras, ao chegar mais perto era possível ver uma placa de madeira com dois pombos entalhados e pintados de dourado, embaixo foi entalhado a seguinte escritura: "34º DISTRITO DA GUARDA, EIXO NORTE”.  Audrey lhe explicou brevemente que por ser um pinheiro público não era preciso bater nas portas, apenas entrar e ir direto a recepção. Quando Jean entrou, teve que parar por um momento e olhar para cima, estava apaixonado pela ideia de ter casas e estabelecimentos em árvores ocas. Acima dele, o teto se alongava e mostrava várias portas, sem escadas e diferente do Pinheiro A23, Jean conseguiu ver o teto. Teto este que era de vidro e dava chance a Jean de ver as estrelas e as duas luas daquele planeta. 

Suspirou maravilhado e olhou para frente, havia uma mesa cheia de arquivos e enfeites de Natal. A mesa era o que dividia dois corredores, em um havia uma placa de madeira pendurada escrito: “DELEGADOS”. E no outro corredor havia uma mesma placa, mas nesta estava escrito “INVESTIGADORES”. Na escrivania da recepção, estava sentado um malasiano com orelhas pontiagudas, cheias de brincos de prata, e com um chapéu vermelho. Quando Jean se aproximou, o estranho sorriu e parou de tentar arrumar os papéis acumulados. 

Dobry wieczór! — O estranho inclinou um pouco mais para frente, Jean engoliu seco ao perceber que ele era maior que Mary May. Quando viu o símbolo de caçador espacial na jaqueta do francês o estranho tomou um pequeno susto — Mas que surpresa! Mais um caçador! — “Encontrei você, Ully!”, pensou Jean. — Parece que estamos movimentados de casos hoje, não é? Antes de você veio cinco alienígenas, um deles era igual você. Como é o nome mesmo? Ah, sim! Humanos — Jean notou um toque de desdém na voz do recepcionista. — Como posso ajudá-lo nesta noite infeliz?

— É… — os olhos cinzas do debochado estranho o fez estremecer — Bonsoir! Eu não falo sua língua, mas acho que devo te cumprimentar na minha língua nativa mesmo assim — limpou a garganta — Eu quero falar com o responsável pelo caso da Klaus Nöel ou se eu puder olhar os arquivos… 

— Carteira ou pedido.

— Aqui está os dois. — Entregou a carteira de identificação dos caçadores espaciais, que nada mais era que um cartão com foto e número de identificação grampeado a um bottom, que tinha o desenho da nave comandante do caçador chefe. Quando entregou o cartaz de procurado que Circe lhe deu, o estranho o olhou feio. 

— Isso não é um pedido! — bufou — Mas sua carteira é verdadeira e eu estou com medo de ficar aqui sozinho enquanto todos estão se divertindo. Tem tido muito vandalismo ultimamente.  — Jean agradeceu baixinho, pegou sua carteira e cartaz. — Aqui está a chave, os arquivos estão no armário #98, seção B, caso 423. — O estranho apontou para o corredor dos investigadores — Fica perto da sala do Sênior, caso precise de ajuda pode me chamar, atendo por Grinch.  

Os dois trocaram olhares, Jean teve um vislumbre de sua infância ao ouvir aquele nome, mas seguiu seu caminho. Agradeceu novamente e entrou no corredor dos investigadores. O corredor era curto, acabava em uma enorme sala cheia de escrivanias com uma enorme árvore de Natal no centro. Sendo uma grande ironia para Jean, “um pinheiro falso dentro de um verdadeiro”. A sala era ampla e de fácil acesso para os armários, procurou o ármario #98 e o achou rapidamente, destrancou e folheou os arquivos.  Pegou a pasta do caso do Klaus e se sentou na mesa vazia mais próxima, quis ficar distante do grupo de alienígenas sentados na única mesa redonda do lugar. 

— Escaneie isso, Audrey. — Pegou uma aranha metálica da sua bolsa que estava conectada ao sistema da nave. — Algum ser se aproximou da nave? — Audrey negou — Depois de escanear, vá até a mesa deles e tente achar algo interessante. Seja discreta.

— Modo espionagem ativado. Invadindo sistemas de segurança.

— Não! — exclamou um pouco alto demais, fazendo com que o grupo o olhasse rapidamente para depois ignorá-lo, aliviando o coração do francês. Jean forçou uma tosse. — Não é necessário, apenas preciso das pistas deles.

— Invasão concluída — Jean revirou os olhos — Analisando suspeitos. Suspeito nº1: Scratch, Adam; codinome Rocky Balboa; planeta de origem: Terra — Jean segurou o fôlego, fazia algum tempo que não via um caçador da Terra — Suspeito nº2 e 3: Overtaker, Naoki e Hazzard; codinomes: Temor Negro e Big Moon; planeta de origem: Vênus; casados desde 2002… 

Enquanto Audrey listava e escaneia documentos, Jean fazia anotações dos registros que estava na língua comum, pensando o porquê de não haver mais evidências e pistas, parecia que Klaus Nöel havia nem sequer existido. Apoiou o rosto na mão enquanto anotava, rangia os dentes de frustração, tinha poucos dias e mais uma caçadora tentando roubar seu trabalho. “Antes minha recompensa que minha nave”, consolou-se com este pensamento. 

— … todos juntos formam a Tríade. Pelas câmeras vi um pedido, gostaria de saber do que se trata?

— Sim, Audrey. Envie as fotos e os registros deles para a nave — respondeu sem dar muita importância para o que foi dito antes. 

— Ampliar imagem. Melhorar resolução. Colher dados. Processando… — Jean teve sua resposta em breves segundos — É uma cópia não autenticada pelo caçador chefe, o pedido é de Mary May Nöel. — aquilo chamou a atenção de Jean, que havia parado de escrever e agora olhava fixamente para o papel em mãos. — No pedido diz que todos os distritos da cidade foram acionados, o primeiro a quem ela recorreu foi este aqui. Nikolaj Petvyr era o responsável do caso até o segundo distrito ser acionado. 

O que não fazem por um velho rico… 

— Também diz que achá-lo é de extrema importância, pois ele tem um papel significativo na paz deste planeta desde a Guerra dos 7 anos. Curiosidade: a Guerra do 7 anos durou 100 anos terrestres, foi a luta entre as famílias Noix e Petrova pelo domínio do Eixo Norte. As famílias eram dinastias diferentes de uma mesma linhagem, as lendas contam que o perdedor dominou o Planeta X e…

— Ninguém liga para suas curiosidades, mon ange — interrompeu —  Se é uma cópia do pedido quer dizer que ou alguém roubou o pedido original ou alguém está divulgando o pedido — resmungava sozinho, criando suas teorias.

— Um dia você vai precisar das minhas curiosidades. 

— E se o subcomandante estiver aqui também?

— Achou alguma coisa relevante, terráqueo? — Jean tomou um susto com a pergunta feita tão perto do seu ouvido, por instinto escondeu o que estava escrevendo com as mãos e olhou para o malasiano que fez a pergunta. Ele o olhava divertido, quase como se tivesse prazer em causar pequenos sustos nas pessoas. — Não sabia que eram tão sensíveis assim. — Grinch voltou a seu jeito casual, apoiou-se na mesa que Jean estava e apontou para a sala do Sênior. — Consegui achar a chave da sala Sênior embaixo de toda aquela bagunça, gostaria de ir ver? Ele era o responsável pelo caso, mas foi afastado. 

— E por que afastaram ele? — levantou, guardando suas folhas de rascunho dentro da sua pasta e arrumando os registros da Guarda que tinha pegado. Grinch levantou e foi em direção a sala do Sênior com Jean o seguindo. O francês levava os arquivos da Guarda junto consigo, tinha receio que alguém da Tríade ficasse curioso e descobrisse que ele também estava em busca de Klaus. 

— O senhor sabe que não pode levar esses registros embora, não é? Enfim, é o mesmo de sempre. — Colocou a chave na parede de vidro da sala principal, quando fez isso o formato de porta apareceu na parede e girou, abrindo passagem para Jean e Grinch. — Um grande caso, uma grande responsabilidade que os velhos não querem passar para os caçadores. Ainda não superaram o fato de existir diversas outras sociedades no espaço e que uma delas faz um trabalho melhor que o deles. Todo caso de sucesso fica pessoal demais para eles, então… 

A sala do Sênior era enorme, por um momento Jean sentiu estar subindo um andar  mais. Havia uma grande mesa no centro, a cadeira giratória do Sênior era elegante e transmitia poder só de olhar para ela enquanto que as duas cadeiras a frente da mesa eram duas poltronas desconfortáveis. Grinch foi até a mesa e ligou o pequeno círculo que estava ali jogado, era um computador com tela holográfica. O malasiano abriu as gavetas da escrivaninha e conectou o computador com o teclado branco e de luzes neon, digitou qualquer coisa e virou o monitor para Jean.

— … virou o mesmo clichê de sempre, Nikolaj começou a fazer coisas fora da nossa ética e a dizer loucuras no relatórios dele, ficou doente e foi internado no pinheiro dele. E mais um Sênior louco de raiva pelo sistema que tem que ser forçado a viver com seus parceiros e filhotes, viajar e outras coisas “trágicas” enquanto eu tenho que atender malasianos histéricos e idiotas que nem você. — Foi até os armários da parede esquerda, Jean ouvia o relato sentado na poltrona desconfortável, sentia-se intimidado com o ser de cabelos verde escuro. Grinch destrancou os armários e pegou algumas pastas, colocando em cima da mesa. — Se eu te ofendi… — parou um momento para olhar Jean nos olhos — É mais um problema para você, felizmente — riu — Aqui está os relatórios de Nikolaj e do Sênior depois dele, e mais os arquivos do caso de mais outro desaparecido, uma pessoa com as mesmas características de Klaus e blá blá blá. 

— Obrigado, Grin… — engasgou com o olhar que recebeu — Grinch! 

— Um desprazer ajudar. — Foi até a porta, observando a Tríade ler os registros que ele havia dado. — São seus parceiros aqueles ali? 

— Não. 

Grinch olhou pensativo para Jean, que estava navegando no computador com seus dedos rápidos enquanto sua aranha mecânica digitalizava os documentos. Achou interessante tal tecnologia, quis mexer e perguntar como funcionava, mas os aracnídeos de seu mundo fazia seu corpo estremecer e suar. Só de olhar para o pequeno robô sentiu um calafrio.

— Eu posso confiscar você por tirar registros dos meus registros. 

— Não pode provar que eu fiz isso se não tiver meus registros — retrucou distraído, fazendo Grinch rir.

— Tenho provas de que você está fazendo isso.

— O que aconteceu com o “senhor”? 

— As câmeras da sala dos investigadores tem som e eu não posso perder a pose. — olhou mais uma vez para a Tríade — Mas adoraria perder se fosse por dar um falso gáudio para aquele idiota ali — sussurrou — Estão trabalhando no mesmo caso, não é? 

— Não, é complicado.

— Mentira. Eu vi a cópia do pedido deles, estão atrás do velho sorridente, não é? 

Jean ignorava a maior parte do que Grinch dizia, não queria responder perguntas se não fosse para ajudar seu caso. Também se perguntava se todas as pessoas daquele planeta falavam muito ou com esse tom de empolgação. Grinch se afastou da porta e foi até Jean, olhava por cima do ombro do francês para ver o que ele fazia, sempre quis participar da busca, mas seus superiores nunca deixavam. Assistia o francês fazer seu trabalho como se estivesse vendo um espetáculo acontecer, ignorou que ele estava hackeando o computador de seu antigo chefe e o observou folhear os documentos e fazer anotações rápidas e desenhos sem sentido enquanto murmurava ordens. 

— Quem é Audrey? — observou o caçador a sua frente levantar rapidamente, o corpo ficar tenso como um felino arrisco. Ficou curioso quando Jean olhou para trás, vendo nos olhos castanhos um pouco de... desespero, talvez? — Algo errado? 

Jean olhou para os papéis a sua frente, guardou suas anotações rapidamente e pegou mais alguns relatórios do Sênior Nikolaj, desejando que se Grinch tivesse percebido não se importasse. O francês foi até a porta e olhou para a Tríade, bagunçou os cabelos ondulados e cravou os olhos em Grinch.

— Me diga, Audrey, existe dutos de ar nesse planeta? — Grinch o olhou indignado — Esses pinheiros não fazem sentido, mas obrigado. Grinch, onde fica o conduto de ar mais próximo?

— No meio de tudo — apontou para cima, para sorte de Jean aquele cômodo não tinha um teto que se alongava até o final do pinheiro como pensava. Era um pouco mais alto do que estava acostumado, mas não teria tanta dificuldade em subir. 

— Me ajuda a subir, monsieur

— Aquele programa estava certo, vocês humanos são estranhos — comentou — E muito baixos. — Jean o olhou bravo — Mas eu ajudo sim, possivelmente você vai acabar indo para o lugar errado, sempre acontece. 

Grinch pegou Jean no colo, o jogando no ombro como um saco de batata e subindo em cima da mesa, pouco se importando se estragaria os registros ou não. Quando Jean conseguiu se jogar um pouco para trás e ficar ereto, embora ainda no colo de Grinch, o recepcionista o levantou ainda mais para que ele conseguisse encostar no teto. Jean esticou-se e tirou a grade do conduto, empurrou um pouco para o lado e pediu que Grinch o levantasse mais um pouco. 

— Vocês são sempre tão leves assim?

Ele levantou Jean mais um pouco, o mesmo conseguiu apoiar seus braços dentro do conduto e fazer força para entrar, contou com um pouco da ajuda de Grinch que deu um leve empurrão nos pés de Jean, o forçando a ir para cima. Depois que Jean entrou, acenou para Grinch e agradeceu, fazendo um último pedido:

— Se puder distrair eles ali, eu agradeço muito. Audrey, ligue as luvas.

— Seu plano vai dar errado, humano, mas foi um desprazer ajudar. Por favor, pare de me chamar de Audrey, eu não sei acionar suas luvas e nem o que são dutos. 

— Sim, sim, tudo vai dar errado — revirou os olhos — À plus tard, bisous.

 

Grinch tinha razão, Jean deu tantas voltas no conduto em busca de uma saída ou um cômodo com janelas, ou algo que se assemelhasse a tal, que quis vomitar. O conduto não era como os dutos de ar de sua nave, eles subiam e desciam e era necessário a luvas para que o francês não escorregasse. 

Jean tentava clarear tudo em sua cabeça, as informações que Audrey havia dado e tudo que havia lido e absorvido. Tinha ignorado a maior parte da análise de Audrey de todos os membros da Tríade, mas quando mexeu no computador do Sênior e viu as gravações das últimas horas antes dele chegar ao Distrito viu que havia uma certo membro que devia temer. Embora a menção do codinome “Rocky Balboa” tenha o deixado em alerta, fazendo ele esconder quaisquer anotações e pistas que tenha achado, Jean não lembrava de Audrey mencionar o Robô H.E.Y e também não queria perguntar, pois isso daria razão à Audrey. 

Era um colega de trabalho que desertou, um ex-parceiro de Jean que ao partir tentou levá-lo para o outro lado. Todavia o outro lado trazia memórias e sensações que Jean preferiu evitar. Xingou-se por sempre se desligar do mundo ao redor enquanto fazia anotações e buscava por pistas, quando focava toda sua atenção nas possíveis pistas e teorias. 

— Finalmente! — Conseguiu ver pelas grades daquele conduto que estava perto da recepção, um pouco distante dos corredores de investigadores e delegados, podia ver Grinch fechar o corredor de investigadores com uma cortina e ir sentar em sua mesa. 

Julgou que ele estava fechando o corredor para que não o vissem saindo, pois não quis acreditar que ele fosse burro o bastante para não perceber que Jean queria sair sem ser visto pela Tríade. Jean estava certo, mas Grinch não se importava se o francês fosse visto ou não. Jean empurrou a grade com um chute, atraindo o olhar de Grinch para o conduto. O recepcionista riu divertido e abriu o jornal que estava segurando. O francês se virou de costas para descer do conduto que estava no meio da parede, sua pasta caiu e espalhou alguns papéis, ele não ligou, mas travou ao ouvir o som de uma arma sendo destravada. Praguejou e chamou por Audrey.

— Não posso ligar o modo espionagem em você, meu sistema não funciona em células orgânicas. Temo em dizer que está sozinho nessa.

—  C’est mauvais, c'est mauvais... je suis foutu! — sussurrou, respirando fundo e querendo apelar para uma amizade que não existia mais. —  Me pergunto como chegamos à isso, sabe? Você apontando uma arma para mim enquanto eu estou nessa posição ridícula.

 

Agora - Meia-noite

15 dias para a véspera de Natal 

 

— Você estava no lugar errado e na hora errada, mas eu estava no lugar certo e na hora certa.

— Eu posso pelo menos descer? Eu conto tudo que você precisar.

— Você não mudou nada, Moreau. Desce logo, você não é nada sem sua nave e a pasta.

— É uma grande mentira isso. — desceu, se virando lentamente com as mãos para cima. — E você sabe. Eu pensei que nossa amizade não ia acabar, independente do emprego. 

— Não é só um trabalho, Moreau! É questão de princípio, família!

— A família que construiu e jogou você no lixo? Ou a família que te fez parte do sistema de uma nave e você a traiu? — olhou para Grinch — Você podia ajudar aqui, não é proibido armas de terceiros aqui ou algo do tipo? — H.E.Y olhou para o recepcionista, rindo, de um jeito estranhamente robótico, debochado ao perceber que Jean tinha sido completamente ignorado. 

— Acho que você não sabe muito das leis desse planeta. E parando pra’ pensar eu não preciso de você, tudo que você sabe sobre o trabalho deve tá aqui nesta sua bolsa.  Desde que perdeu a memória não vive mais sem escrever o que pensa, não é mesmo? — assobiou e em seguida veio o restante do grupo, entregou a bolsa para Rocky Balboa e fixou seus olhos, que eram microcâmeras, em Jean. — Estive procurando sua nave, mas você mudou de máquina. Mas tudo bem! Aquela uranis me disse como ela é agora — gargalhou — Ela colocou um prêmio pela sua cabeça, Moreau, devia escolher melhor com quem você dorme. 

— Isso já passou pela minha cabeça uma vez ou outra — olhou para Rocky Balboa, que segurava sua bolsa e nem conseguia olhar Jean nos olhos. — É uma vergonha saber que você é meu ex. 

— Sempre dormindo com o inimigo. — H.E.Y riu de novo, uma risada robótica que saia pela tela em sua cabeça, localizada onde devia estar uma boca, que mostrava o espectro de ondas sonoras que aquele robô reproduzia. — Mas isso não vai acontecer mais. Adeus, Moreau, obrigado pelas duas recompensas.

Jean fechou os olhos, esperando pela morte que nunca veio. Ficou poucos minutos de olhos fechados, não aceitando o destino que passava pela sua cabeça. Quando abriu os olhos, encarou confuso H.E.Y e a arma que ele apontava. 

— É agora que você atira. — Ele viu H.E.Y tentar mais uma vez e riu pelo nariz — Ou sou irresistível demais para todos os meus inimigos?

— 01001101 01100001 01110011 00100000 01110001 01110101 01100101 00100000 01110000 01101111 01110010 01110010 01100001 (Mas que porra?)

— Segundo o código 2/560 da Guarda, todas as armas tecnológicas e de fogo serão travadas e/ou desativadas em qualquer Distrito, com exceção de armas autorizadas pelo Sênior ou pelo próprio sistema — disse Grinch ainda lendo o jornal, abaixando o suficiente para olhar  Tríade e o francês. — Se tivessem lido A Ordem e Suas Leis que está do lado da porta saberiam disso. 

— Vamos resolver isso lá fora, então — disse Naoki olhando para H.E.Y. 

— Vamos! — Os membros da Tríade começaram a andar em direção a Jean que foi para trás, caindo no chão, mas lentamente seus passos pararam e foi como se lindas e estranhas estátuas de gelo tivessem sido feitas naquele instante. Jean ficou paralisado pelo medo e olhou confuso para Grinch.

— Achei que tivesse lido o livro, humano — bocejou e voltou a prestar atenção no jornal. — No código 2/561,  na primeira emenda, diz que qualquer ser, malasiano ou não será congelado pelo Distrito em caso de conflito e/ou brigas que tenha começado. O malasiano ou alienígena que tenha sido vítima ou atacado em legítima defesa, não será afetado pelo Distrito. 

Jean respirou aliviado, ainda estava sentado no chão e em choque. Olhava para o grupo que ia atacá-lo com horror, mas voltou a si quando Audrey lhe chamou. Pegou a bolsa que não havia sido congelada e foi até Grinch. 

— Obrigado pelo serviço, monsieur. Por um momento achei que não ligava se eu ia morrer ou não.

— E não ligo. — Jean não soube o que responder, apenas pegou o papel ao lado da caneta acorrentada a mesa e avaliou o serviço, como Audrey havia lhe dito para fazer. 

— Eu agradeço mesmo assim, quer dizer eu acho — forçou uma tosse — Bom, vou indo. Bonsoir! À plus tard.  — Se virou, indo em direção a porta — Audrey, alguém se aproximou? — Grinch deixou o jornal de lado e se arrumou na cadeira, olhou Jean com os olhos semicerrados. — Ótimo, vem me buscar.

— Ei, humano! — Jean olhou para trás — Quem é Audrey?

— Minha nave, por quê? — Grinch ficou olhando o francês, olhando para o rosto dentro do capacete de vidro, um humano cheio de sardas e com uma barba rala. Viu naqueles olhos castanhos a chance de ser promovido e finalmente ser um investigador, mas caso desse errado seria divertido sair em uma aventura e provar que era melhor que seus superiores, possivelmente até chantageá-los para ganhar mais benefícios.

— Posso ir junto? 

— O que te faz pensar que pode, mon ange? Melhor, por que você quer ir?

— Não é da sua conta.

— Audrey? — Audrey analisou Grinch com sua aranha que andou até a mesa do recepcionista e o escaneou. Grinch tomou um susto e deu um gritinho, tentando “matar” o aracnídeo com seu jornal. — Grinch?

— O quê?!

— Pode vim, Audrey deu ótimos motivos e poucos contra. 

Grinch sorriu como se o Natal tivesse sido arruinado, levantou da cadeira e ligou um holograma que era programado para fazer todas as suas funções, em caso de precisar tocar em alguma coisa o holograma era programado para controlar um robô e continuar o trabalho. Pegou sua bolsa que estava embaixo da mesa, vestindo um longo casaco preto e suas luvas verdes. 

— Se você falar que deixei o posto para alguém, eu mando prenderem você. — Jean engoliu seco e concordou com um aceno.

Quando ele e Jean saíram do Distrito, a nave estava acima do pinheiro, com uma escada pendurada para que os dois subissem.  Dentro da nave, Grinch olhou todo o interior com grande curiosidade. O recepcionista parou por um breve momento e olhou para Jean, que tirou o capacete e em seguida limpou seus óculos.

— Agora que somos parceiros eu sou obrigado a te dizer — suspirou — Há mais caçadores no Eixo Norte. 

— Uma uranis de quatro braços com um péssimo temperamento? É, eu já estou sabendo.

— Quem? Não! São mais humanos como você, só que eles tem pele verde. E também tem alguns de tentáculos e outros de cauda… — Jean olhou para ele, estupefato e se sentindo completamente fudido. 

— Está me dizendo que eu virei a caça? 

— Talvez.

— Ah! Bâtir des châteaux en Espagne!





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Notas finais do capítulo

Oie, eu estou em um pacto comigo msm q essa fic sai até dia 31 e vai ser terminada uihaiuhsi espero q tenham gostado pq eu estou me divertindo mt escrevendo um genero q eu amo tanto assistir ♥

GLOSSÁRIO
Dobry wieczór = boa noite
Bonsoir = boa noite
mon ange = meu anjo
monsieur = senhor, cavalheiro
À plus tard, bisous. = até mais tarde, beijos
C’est mauvais, c'est mauvais... je suis foutu! = É ruim, é ruim... estou ferrado/fudido
Bâtir des châteaux en Espagne! = isso é como construir castelos na Espanha! - Ditado francês para se referir a algo sem fundamento, sem sentido, mas interpretei também como algo difícil de fazer devido ao contexto.



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