Joyeux Noël escrita por kuriyamanyah


Capítulo 5
Capítulo IV




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785103/chapter/5

Extremo Sul, Eixo Norte - Planeta Y

15  dias para a véspera de Natal

 

Um passeio de nave, um longo passeio, com Grinch foi o suficiente para fazer Jean pedir a Audrey para mudar a planta da nave e colocar paredes para dividir os cômodos. Pediu um novo quarto e quando estava pronto Jean disse para Grinch enfeitá-lo como quisesse. 

— Sinto como se tivesse achado minha segunda alma, silenciosa e livre de enfeites natalinos.

— Eu não vou ficar buscando você para investigar, então… bem-vindo, eu acho. — Foi o que Jean respondeu encostado no batente da porta, era de madrugada quando pediu para Audrey reformar tudo. Deixou Grinch sozinho e com permissão para mexer no acervo de decoração da nave e usar o que quisesse. Antes de dormir, Jean disse para o recepcionista dar as coordenadas de sua casa para Audrey, assim Grinch podia pegar algumas roupas e qualquer outra coisa que não ocupasse muito espaço. Enquanto Jean dormia, Grinch virou a noite enfeitando seu quarto, podia se acostumar a viver ali.  

 Quando Jean acordou, Grinch dormiu. O francês estranhou, mas não deu muita importância. Tinha pedido para Audrey voltar ao lugar que tinha pousado, não queria ficar a vista tanto dos malasianos quanto de possíveis caçadores, mas desta vez pediu que Audrey pousasse entre os pinheiros abandonados. Passou o dia dentro de sua nave, analisando com mais calma os arquivos que tinha roubado e escaneado, mandou Audrey deixar o painel no meio da sala para fazer um mural do caso. Em poucas horas, o painel tinha vários registros e anotações, fotos impressas por Audrey e um fio de lã conectando os possíveis pontos chave. Assim que terminou, o francês contemplou seu trabalho e se jogou no sofá, olhou para o teto e ouviu palmas lentas e irônicas.

— Quem te vê, quem te viu não diria que era tão paranoico — comentou Grinch, com uma xícara de chá preto em mãos e vestindo um dos suéteres de Jean — Gostei do seu pinheiro, isso é o que chamam de café?

— Não — respondeu Audrey — Preparei chá preto, pois sua espécie não consegue digerir cafeína. Curiosidade: somente 1% da população malasiana consegue ingerir bebidas com cafeína. 

— Enfim, o que temos aí? Você viu Coroas e Outras Coisas também?! Não é tão complicado achar o assassino na primeira temporada, mas se for sobre a segunda eu concordo com o que quer que seja tudo isso aqui — apontou para o mural olhando o francês — Nada faz sentido, história fraca e tenho que esperar uma semana para o próximo episódio. — Jean olhou para o volante, Audrey, em busca de respostas. 

— Ele está falando do programa Coroas e Outras Coisas que é exibido pela emissora StyfTV semanalmente. O programa fala sobre o assassinato do rei Kristov, onde…

— Tá, tá, já entendi, Audrey — interrompeu Jean — Isso é o que temos sobre o desaparecimento do Klaus. 

— Você parece mais obcecado que Nikolaj, mas pelo menos soube juntar as peças.  

— Espero ter mais informação sobre o paradeiro dele do que os outros caçadores — fechou os olhos e deitou no sofá. 

— Você deve ter um número muito bom, humano, pois foi o único caçador para quem eu dei esses registros. Que dia você nasceu? — Jean abriu os olhos e se ajeitou no sofá, observou Grinch analisar o painel. 

— Por que não mostrou para os outros caçadores?

— Segurança, não que alguém valorize meu trabalho. Quando se recebe muito caçadores por ano e ricos desaparecendo cada vez mais, você aprende a diferenciar identificações e pedidos falsos, ainda mais depois que muitos se tornaram desertores. Ninguém confia no subcomandante, por isso eles recebem poucos pedidos, mas para os meus superiores vocês são todos iguais. Todos os caçadores que foram no meu Distrito tinha uma cópia do pedido de uma tal de Mary May, entreguei registros de sequestros, perdas e assassinatos que já foram resolvidos, mas escondi as evidências principais e os relatórios finais porque nenhuma cópia era autenticada. — Tirou uma foto do painel e um relatório — E o seu chefe ligou para meu Distrito, disse para confiar os registros para quem aparecesse com o cartaz velho e a carteira verdadeira. Uma curiosidade: se você está respirando sem o capacete... eu não devia usar um?

— Adaptadores — apontou para o teto — Parece que aquele velho me ajudou em alguma coisa, finalmente. Achei que ia ser expulso com a cara que você fez para o cartaz.

— Sim, sim, eu ainda não acredito que tenham convocado mais pessoas para achar aquele velho. O que ele tem de tão importante? A “paz do mundo”? — grunhiu —  Um caralho! Se não fosse a família dele essa cidade não estaria com os pinheiros não ocos!

— Ele tem dinheiro, muito dinheiro. E uma quantia em dinheiro universal, é tudo que eu preciso agora. Quer contribuir ou vai ficar por aí roubando minhas roupas?

— Suas roupas ficam melhor em mim e você sabe. — Jean revirou os olhos — Esse relatório está errado, eu fui a última pessoa a ver Nöel, não esse babaca! E olha só: “eu o vi indo para o correio do centro”. — Jean levantou pegando o relatório que Grinch tinha tirado do painel enquanto ele ria, sentou de frente para os monitores e controles da nave — O último lugar que Nöel esteve foi no Espinhaço Níveo ou no Alude Uivante, chame do que quiser. Nikolaj pensou ser tão bom detetive, que nem viu o trenó largado dentro da caverna — riu.

— Audrey, destino: Alude Uivante.

— Preparando coordenadas, pouso em duas horas.

— Uau, alguém presta atenção no que eu estou dizendo. — Grinch saboreou o chá, esticou a mão com a xícara e o robô de limpeza, que trazia a chaleira consigo, encheu o copo do malasiano. — Ironicamente, também me ignora — murmurou — E então, humano? — Jean se virou para ele — Quando ganho minha jaqueta?

— No dia de “São Nunca”, mon chéri

— Daqui uns dias, então.

Grinch sorriu e ficou observando Jean comandar a nave e fazer mais anotações, desta vez em um caderno diferente. Estava acostumado a atender humanos loiros e que sempre falavam a língua comum, não entendia as poucas frases que ele falava naquela língua estranha e agradecia por não ser outro humano com síndrome de superioridade. Jamais tinha atendido um humano com tantas sardas no rosto e de pele escura, sem ser artificial. O recepcionista reparava no Moreau como se ele fosse um objeto de estudo, o cabelo dele estava molhado e ele usava uma blusa preta de gola alta, calça jeans clara e meias pretas; ficou indignado ao ver que o francês não usava brincos. 

Kitsch. — Deixou Jean sozinho com seus monitores e foi até seu quarto, pegou um pequeno baú e abriu, dentro tinha vários brincos organizados por tamanho. — Audrey, quais brincos eu uso hoje? 

Apesar de ter feito uma mala com quase todas as roupas das araras, Grinch preferiu usar as roupas de Jean, usando a desculpa de “estar experimentando um novo estilo”. A única coisa que Jean não o deixava usar era sua jaqueta de caçador e um suéter que nem cabia nele, segundo Grinch. Era um suéter feito à mão, azul e com desenhos de padrões estranhos; era largo e, nos olhos de Grinch, o francês iria parecer um duende vestindo aquilo. Jean era baixo demais, magro e o recepcionista tinha certeza que ele usava botas para parecer mais alto. 

Encheu Jean de perguntas durante a viagem até o espinhaço, que teria durado duas horas se uma tempestade de neve não tivesse começado. O francês achou aquilo frustrante, diferente de Grinch que achou uma ótima oportunidade para investigar o passado do caçador, sempre quis saber o que motivava os seres a serem caçadores do que somente viajar pelo espaço. 

— Que dia você nasceu?

— Eu não quero saber meu número da sorte. — Os dois estavam sentados no sofá da sala, presos dentro da nave que se estabilizou no meio da tempestade, Jean estava com os pés apoiados na mesa de centro enquanto comia Boeuf Bourguignon. Grinch olhava o prato com nojo e pediu para Audrey preparar sanduíches à moda malasiana.

— Então, me fala daquele seu ex romance que quase te matou ontem. 

— Não! Não é da sua conta.

— Se não me contar, eu peço para Audrey me explicar com imagens ilustrativas — Grinch sorriu maquiavélico ao ter olhos assustados fitando os seus — Te dou uma chance, me conte algo empolgante ou eu peço para Audrey me contar os detalhes sórdidos. 

— Como você é recepcionista desse jeito? Eu não vou contar nada e nem você, Audrey!

— Sinto muito, mas meus arquivos já foram programados para este dia. Citando o personagem Nelson Muntz, da série animada Os Simpsons: “Ha-ha”. Ligando TV, exibindo gravações de junho de 2002…

— Não! Eu conto! Só… tira isso da minha frente. — Grinch acenou positivamente para o volante, apoiou o braço no apoio do sofá e se ajeitou para ouvir a história. — Você é maligno.

— Você é o humano aqui.

— Enfim, eu conheci ele no treino. Ele era um recruta e o chefe disse que eu tinha que treiná-lo na arte do roubo… 



Jean poupou Grinch de todos os detalhes, fazia meses que queria desabafar sobre o que tinha acontecido, como tinha se sentido traído, mas não quis chorar na frente de alguém tão… intimidante. Narrou a história por cima, querendo tirar os sentimentos dela e como ainda sentia-se frustrado com relacionamentos, porque sentia que quando não era abduzido e forçado a se distanciar deles, era obrigado a escolher um lado e os lados que seus amores escolhiam nunca era o seu. Odiava as ameaças de seu chefe, odiava o treino e os caçadores que era os amigos mais íntimos do chefe, mas mesmo assim nunca iria traí-lo para virar um desertor. 

Todavia Grinch notou que não foi presenteado com todos os detalhes, não o questionou mais visto que sentiu a dor emanando da aura do caçador. Para ser recepcionista da Guarda, teve que aprender a ler o corpo das pessoas e, felizmente, Jean falava muito com o corpo e pouco com a boca, o que Grinch considerou uma fatalidade visto que gostava de ouvi-lo falar naquela língua estranha. A história de Jean fez um paralelo com a tempestade de neve, conforme ele chegava ao final daquele romance inacabado a tempestade abaixava e Audrey pode continuar seu voo até o Espinhaço Níveo. 

— Você não parece odiar seu chefe tanto assim… 

— É porque ele não fica- 

— Chegamos. — Os dois olharam para o volante quando foram interrompidos — Bem-vindos ao Espinhaço Níveo, o segundo maior pico do Eixo Norte. Para conseguirem investigar a caverna que foi relatada por Nikolaj Petriv irão ter que usar capacetes e roupas com aquecedores. Para uma trilha segura é recomendado capacetes de vidros temperados, trajes aquecidos e ligados a nave pelos cabos de atmosfera; além de lanternas, isqueiros, comida nutritiva, câmeras e armas por precaução. Previsão do tempo para as próximas horas: quinze graus negativos, com nevoeiro baixo. Seu destino está a 20 minutos de escalada, por favor se dirigirem para a saída que está tudo pronto, boa viagem. 

— Audrey, você é o único ser que não posso declarar ódio — disse Grinch — Consegue me arrumar um lugar para passar o Natal longe do Natal?

— Pesquisando… Resultados prontos depois da viagem.

— Vamos, Grinch. 

 

Espinhaço Níveo, Eixo Norte - Planeta Y

14 dias para a véspera de Natal

 

Grinch pegou da mochila uma latinha de spray, escreveu na parede oposta a cena do crime “GRINCH ESTEVE AQUI” e tirando uma foto com o próprio celular depois. Jean analisava a cena, reprovando mentalmente o vandalismo que o recepcionista tinha feito. Encostado na parede do crime, tinha um trenó quebrado, com cartas jogadas no banco de trás e algumas rasgadas, alguns pedaços de madeira estavam queimados e, o mais preocupante, havia um entalhe e pinturas estranhas na parede do crime. Alguém já havia vandalizado o local e não parecia ser apenas uma brincadeira de adolescentes.

— “Oznatzenbie na śmierfć” — Jean leu baixinho, atraindo a atenção de Grinch que parou de tirar fotos. O malasiano leu a parede, sentindo um calafrio na espinha e procurou por  algo que tivesse significado implícito. 

— Está pronunciando errado, humano. Oznaczenie na śmierć! Traduzindo na sua língua, “marcar para morrer”. É o que eu disse, o ricaço não traz e nem mantém a paz, só adia o inevitável.  Olhe em volta, não devíamos estar aqui, esse número, trzynaście, traz azar. 

— Temos que entrar mais, tem um túnel ali.

— Com um tryznaście nem fudendo. Quero ir embora, humano.

— Fica aqui, então. — Iluminou o túnel com sua lanterna, não acreditava em numerologias, mas não queria desrespeitar a cultura de seu novo colega temporário. Audrey iria puni-lo caso fizesse, como aconteceu em outras viagens. — Eu vou entrar — virou para Grinch — Você pode chamar a Audrey com seu capacete, fica tranquilo. Talvez esse número me dê sorte.

— Duvido muito. Boa sorte, caçador, caso você morra eu vou ficar com Audrey. — Jean o olhou feio, mas relevou ao ver um pouco de medo nos olhos cinzentos. 

— Eu já deixei Audrey para outra pessoa no meu testamento.

— Terei que falsificar seu testamento como seus parceiros fizeram com o pedido de Mary May — Jean riu e acenou para Grinch enquanto andava até o túnel. Era estreito e escorregadio, desceu com cuidado e sumiu na escuridão. 



Agradecia a Deus por estar ligado a nave por um cabo grosso, se estivesse sem reforços estaria sentado e chorando, sendo esmagado e enterrado pela caverna e seus mistérios. Grandes mistérios! Aliás, Jean achou uma pequena mina de pedras preciosas, aquamarines e pequenos quartzos, usou duas de suas armas brancas para colher um pedaço e tirava várias fotos enquanto andava. Sentiu-se envolto de magia ao entrar na mina, entretanto quando entrou em outro túnel seu estômago revirou pelo medo. Era como se fosse uma criança de novo, flashes passou pela sua cabeça e o número treze dentro do círculo mais perfeito que viu alguém desenhar brilhava em seus olhos, um brilho forte e irritante que trazia a tona memórias não desejáveis. 

— É o que te disseram, pirralho. As vezes é melhor não saber de uma vez o que sua mente se recusa a lembrar, você pode se achar quebrado agora, mas irá quebrar mais se entrar com tudo nisso. — Lembrou do abraço que ganhou do chefe e do subcomandante, antes dele se revoltar. Lembrou do calor que o ser de pele azul emitia e de como suas palavras o acalmaram da raiva e da dor. — Respire, não esqueça de respirar, humaninho idiota. 

— Respire — disse para si, tinha uma mão segurando o colar que havia ganhado de seu pai. Pegou a bola metálica e a jogou no chão, ela rolou e patas surgiram dela. — Avalie tudo que encontrar, depois volte, eu não consigo mais… — Caiu no chão, ofegante e sem ar pela própria ansiedade. Levantou a cabeça, encarando um teto rochoso e deixando lágrimas escorrerem pelo pânico. — Respire, respire, respire, você não está lembrando de respirar… — deitou no chão molhado e frio, ficou em posição fetal pela dor de cabeça que sentia. Iria esperar a aranha de metal enquanto tentava lembrar do que tinha esquecido e de como respirar. 

 

Cochilou, em seu sonho estava no mesmo lugar, mas sabia como respirar e não sentia mais dor. Escutava uivos e via pedras preciosas onde não tinha. Quando levantava a cabeça, Jean via o céu estrelado e escutava vozes chamando ele para entrar em um lugar que não sabia. Sentia a necessidade de fazer um pedido, porém não conseguia lembrar o que ia pedir. Viu um senhor gentil ir até ele, sorrindo e abrindo os braços e quando olhou para trás viu um elfo de cabelo verde escuro, olhos cinzentos e de pele retinta. O elfo usava vários anéis nos dedos e brincos nas orelhas pontudas; suas janelas cinzas transmitiam sarcasmo e um toque de maldade e impaciência, ele usava suas roupas e gritava impaciente. 

Jean tentava entender suas palavras em vão, alternava a visão entre ele e o senhor gentil e barbudo. Conseguia entender o senhor e as outras vozes que ouvia, mas não achava significado nas palavras do elfo, estas que pareciam tão urgentes. E como no outro sonho, luzes verdes apareceram do céu, o sugando de novo. O apagando da própria existência, levando sua memória e algo que não lembrava mais, mas que apesar disso reconhecia a importância. Terminou o sonho gritando e acordou no silêncio, os leves toques e baixos sons da aranha metálica o acordou, ele sorriu amarelo e levantou com dificuldade. 

— Temos que voltar — o aparelho fez um som que quase se assemelhava com um miado — Não quero preocupar Audrey ou o meu novo colega, seria embaraçoso. Eu estou bem, muito bem. Acho que preciso trocar minhas lentes, apenas isso… 

Jean começou a andar pelo caminho que havia trilhando, seguindo o cabo que estava conectado a mochila em suas costas, não percebia que estava sendo observado por filhotes de pelo branco e pelo preto, e que alguns deles estavam levando as pequenas coisas que ele havia deixado cair no chão. 



— Ah, meu Hunab Kú! Que porra é essa em cima da sua cabeça? Não me diga, ah meus deuses! — deu um grito histérico, indo para trás lentamente, a medida que Jean se aproximava com uma aranha mediana em cima do capacete. O francês parecia não notar tamanha criatura que trazia consigo sem querer —  Audrey, feche as portas! Não deixa ele entrar! 

C’est des conneries! Me deixa entrar! — reclamava enquanto subia a escada de corda, ao chegar no topo começou a bater diversas vezes no metal — Audrey, abre as portas!

— Não abre! — Grinch olhou ao redor, procurando algum jornal e xingando Jean por não apreciar as reportagens do dia-a-dia. Por fim, pegou um dos extintores de incêndio que Audrey lhe entregou com uma de suas mãos robóticas. — Pode abrir agora. 

A escotilha por qual saía a corda abriu, fazendo a corda cair um pouco devido ao fato dela não estar mais presa entre as frestas. Jean olhou para cima sorrindo e tomou um susto ao ver Grinch olhando para baixo com um extintor de incêndio, quase caiu, mas agarrou com mais força a corda e fechou os olhos. Sentiu o extintor passar de raspão por cima de sua cabeça e depois ser puxado pelo mesmo que o atacou. 

Fils de pute! Qu'est-ce que c'était, ãn? — gritava enquanto o outro lhe abraçava, trazendo o resto do corpo do francês para dentro da nave, Grinch respirava aliviado sem entender uma palavra. Deu outro gritinho ao ver a aranha metálica na perna de Jean, tentando matá-lo com a lanterna que pegou da pasta de Jean. — Aí! Que fais tu? À, putain! 

— Oh, meus deuses! Esse aracnídeo não morre, luas! — largou Jean no chão e se afastou dele — A última vez que vi um daquela espécie não dormi durante dias! Aquela sensação está voltando, humano. As patas enormes andando em cima de mim — tremeu — Como você traz aquilo para cá?! É pior que a ceia de Natal!

— Do que você está falando? — Grinch o olhou incrédulo.

— Do aracnídeo de trinta centímetros que estava em cima do seu capacete! — Jean olhou para o capacete que segurava e tremeu, jogando o mesmo no chão e se afastando. Limpando as mãos no traje e vendo se não tinha mais aranhas em seu cabelo ou corpo. — Dessa vez foi um prazer ajudar você! Deuses… preciso me limpar, não acredito que pedi para voltar nesse lugar. Eu só queria ver os lobos. — murmurava para si.

— Quais lobos? Tive um sonho esquisito… — pensou por um momento — Esses dias…

— Meus parabéns, então conseguiu algo relevante sobre si mesmo, caso tenha sonhado com lobos brancos — forçou uma risada sem humor — Sabe como é, esqueci de dizer que o espinhaço pode causar alucinações, mas não me olhe assim! Você só as tem quando dorme, duvido que tenha cochilado durante a missão com essa praga no seu bolso! — apontou para a aranha de metal e estremeceu. — É como dizem os rumores, se sonhou com lobo significa sobrevivência, beleza, orgulho e outros mais. Com lobo branco você tem coragem e vitórias à frente, mas se você sonha que mata o lobo você será traído ou traíra a si mesmo e revelará segredos. Lobos te perseguem como perseguiram o trenó ali? Parabéns, você é um medroso fugindo dos seus problemas. — Olhou para as mãos e foi até a porta da cabine, desejando um banho para afastar a visão da aranha de sua mente. — E não podemos esquecer do uivo. — Aquilo fez Jean redobrar sua atenção aos dizeres do recepcionista.  — Quer dizer que alguém próximo de você precisa de ajuda, mas é claro que eu não preciso dizer nada a você! Todos sabem disso, são lendas urbanas. 

— Já vi muitas coisas estranhas, não acha que essas lendas têm um fundo de verdade?

— É claro que elas tem um fundo de verdade! — olhou para Jean, já no corredor e com o corpo virado, pronto para tomar um delicioso banho com pequenos ramos de plantas — Por isso é chamado de Alude Uivante, estivemos em guerra, seu idiota! Todos precisam de ajuda, por isso eles uivam à noite, por isso é a montanha de todos os lobos! Vocês, humanos… sempre com perguntas óbvias!

E Grinch foi, andando com passos firmes e pesados, tomar seu banho para tentar esquecer da cena que vira. Não iria ter um bom sono e depois do que viu estava decidido, iria ser promovido depois que encontrasse o velho, nenhum dos superiores metidos e colegas de trabalho que o deixaram sozinho com vândalos iria se safar. Ficariam cegos com tanto sucesso! Era o que fantasiava em sua cabeça verde enquanto esfregava seu corpo com toda força que tinha, querendo tirar a sensação que somente sua fobia lhe trazia.

Jean tirou o traje e se jogou em sua cama, deixando a situação de lado e cedendo a sua dor de cabeça, a sua falta de vontade e ao seu interesse morto. Deixou-se vencido pelo sono, esperando estar cansado demais emocionalmente e fisicamente para não ter pesadelos e nem sonhos lúcidos. Não deu novas coordenadas a Audrey, apenas deitou como a criança assustada e sem parte da memória que o chefe consolava todas as noites.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu amo o título desse cap, sabe? Um dos meus preferidos, o segundo ainda fica em primeiro pq eu amo escrever com a Mary May ♥ espero q tenham gostado e q estejam gostado de como a história ta indo até agr

GLOSSÁRIO
mon chéri = meu querido
Kitsch = sinônimo de brega ijosjdoi
Boeuf Bourguignon = prato típico da França que consiste em carne de vaca guisada em vinho tinto com alguns condimentos e vegetais.
tryznaście = 13, o número do azar
C’est des conneries = Isso é besteira
Fils de pute! Qu'est-ce que c'était, ãn? = Filho da puta! O que foi, ãn?
Que fais tu? À, putain! = O que está fazendo? Para/Ah, porra!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Joyeux Noël" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.