Joyeux Noël escrita por kuriyamanyah


Capítulo 3
Capítulo II




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16 dias para a véspera de Natal 

 

Sinceramente Jean não tinha a menor ideia de como funcionava a física da nave, estava à quatro dias preso dentro da máquina e a cada dia que se passava ficava cada vez mais entediado. Havia parado em três fast-food interplanetários, experimentando sanduíches de coisas que nem conseguia pronunciar e um macarrão que lembrava comida chinesa, comeu aquele macarrão sentindo falta de casa. No quarto dia, dançava uma música do Nirvana, semi nu e bêbado, tocando uma guitarra que o chefe havia lhe dado e ensinado a tocar, depois de aprender a tocar com apenas dois braços. Um dia antes, Jean havia fumado, mas a nave o repreendeu acendendo os alarmes de incêndio e molhando todo o interior da máquina. O francês teve uma longa discussão com a inteligência artificial da nave, dormindo na cama molhando, sentindo um leve ar quente que via dos secadores e aquecedores que a máquina usava.

Em meio ao seu sono drogado, Jean riu e olhou para o grande volante que ficava pendurado no centro da nave branca e espaçosa, era enorme e poderia ter paredes caso o francês quisesse. 

— Vou te chamar de Audrey agora, era a irmã de um menino que eu gostava — fechou os olhos e riu mais, um riso seco e com ironia presente. — Eu achava que gostava dela, sabe? Ela era sempre legal comigo, nós roubávamos umas garrafas de vinho da coleção da avó dela e do meu pai. Acho que por causa disso meu pai e avó dela brigaram, ele era o desafeto dela na ceia de Natal quando eu tinha sete anos. Rimos muito naquele dia, aí descobriram que éramos nós que pegavam os vinhos e as uvas. — Riu. 

— Não deve beber mais do que isso, está prejudicando seus órgãos.

— Audrey, minha garota, esconda esses vinhos de mim até amanhã.

— Não sou uma garota. Sou…

— Tá, tá, ninguém liga, ma chérie.   

A única coisa que Jean lembrava de ter feito quando acordou foi ter nomeado a nave, continuou  a chamá-la de Audrey. Havia tentando nomear a nave diversas vezes, quase todas estava bêbado e nunca lembrava no outro dia, ou tentava manter o nome, mas nunca “colava”. No quinto dia, não quis ver uma garrafa de vinho na sua frente e pediu para a nave fazer várias das poucas comidas que sua mãe fazia que ainda eram presentes em sua memória. Comia assistindo alguns canais da TV Interplanetária, vendo os programas e filmes que estavam em alta na Terra, ficando rapidamente entediado e desligando os monitores de Audrey. Ficou horas a observar a escuridão cheia de constelações, encontrando uma nebulosa ou outra, mas o que te chamou a atenção foram algumas naves escondidas que o seguiam. Ao ver a nave que comandava as demais naquele cinturão de blocos de gelo, ordenou que Audrey desviasse das demais naves e ligasse o modo furtivo.

— Audrey, salte para o Quadrante Southeastern. 

— Sinto muito, mas desde a última viagem um salto no espaço é muito perigoso para você.  Devemos proceder no modo furtivo.

Uma das naves acertou o bloco de gelo a sudoeste, quase acertando Audrey com os destroços gigantes. 

— Não vai ter modo furtivo se os idiotas acertarem a gente. 

— Segundo meus cálculos você é o idiota, pague o conserto na próxima parada. Ativando modo de segurança, desligando modo furtivo e direcionando 46% da bateria interna para fazer o salto. Segure-se. — Jean fez o que lhe foi mandado, vendo pelos monitores que outro bloco de gelo tinha sido acertado ao sul da nave. — Em 3...2… — Jean sentia seu rosto esticar como se estivesse de frente para maior rajada de vento da sua vida, sentia seu corpo esquentar e derreter como se estivesse drogado, as luzes de cores azuis faziam seus olhos arderem e a cabeça doer. — Um! Chegamos. Bem-vindo ao Quadrante Southeastern, destino: Planeta Y. Pouso em duas horas terrestres. Jean, deve descansar.

— Que merda foi essa? — encostou na cadeira de comandante exausto, enjoado e com a cabeça latejando.

— Como eu disse antes, meu sistema de transporte foi danificado na última viagem. 

— E você não pode se consertar sozinha? 

— Não, como dizem as mães do planeta Terra: arque com as consequências. Mas primeiro descanse, minhas pesquisas dizem que esse remédio vai cortar o enjoo. — Jean já havia se levantado e deitado em sua cama, aproveitando das vantagens de não haver paredes em sua nave e conseguindo deitar antes que caísse no chão. Pegou o comprimido da mão robótica, que havia se esticado do grande volante, e a água que estava na mesa ao lado de sua cama, tomou e dormiu.



Em seu sonho, o filme de Natal estava em câmera lenta e o sorriso da sua mãe era estranho. Seu pai, que segurava um dos braços de sua tia, não tinha rosto e tudo parecia estar sendo sugado para cima por uma luz verde. E depois não havia filme de Natal, nem mãe, pai ou sua tia inconveniente, ouvia passos altos no chão metálico e não conseguia se mexer. De repente era o menino de 10 anos magricela e sardento, de pele oliva e olhos sensíveis; estava sem seus óculos e por isso enxergava apenas um borrão esquisito. Quis gritar, mas não sentiu suas cordas vocais, entrou em desespero e chorou. Seus gritos eram mudos, a visão embaçada clareou quando o rosto medonho se aproximou, não era o que pensava ser, mas o sorriso perverso cresceu até não haver nada além dele caindo na boca de um gigante. 

Acordou no susto, retraindo o corpo ao sentir as pontadas em sua cabeça. Sentiu o suor frio escorrer pela sua testa e barriga, depois sentiu o temível frio congelando a nave de fora para dentro.

— Audrey, ligue os aquecedores.

— Ligando aquecedores. Bom dia, você dormiu seis horas e quarenta e oito minutos, o que você gostaria de almoçar? 

— Eu dormi seis horas? Por que não me acordou? — Sentou na cama e pegou as roupas de frio que estava na estante acoplada a cabeceira da cama. Vestiu calças de moletom, botas marrons, uma blusa vermelha por cima de mais uma blusa de frio e de uma camiseta de pano grosso, vestindo a jaqueta de aviador depois. 

— Não tive ordens para acordá-lo. Chegamos no Planeta Y, pousamos no Eixo Norte, sua missão está há 10 minutos a pé, 8 minutos de carro e 4 minutos se fôssemos juntos. Mas pelos meus cálculos você deve gastar 20 minutos para chegar a casa de Mary May Nöel.  Não esqueça de levar seus óculos e as luvas. — o francês bufou — Pode aumentar o grau das lentes e perder os dedos pelo frio. 

Pegou um cachecol cinza e sua touca, vestiu e foi em busca da sua pasta de trabalho, colocando os óculos e as luvas antes de sair da nave.  



Havia ligado o aparelho na orelha no minuto que saiu da nave, a atmosfera não era compatível com a sua respiração e pelo visto aquele planeta não foi equipado de adaptadores de atmosfera. Ao ligar o aparelho, um capacete transparente aparece rodeando a cabeça de Jean. Tudo que via ao seu redor era neve, nevasca, rios congelados, pinheiros azuis cobertos de neve e alguns postes acesos. 

— Neve, neve, neve, mon Dieu! Cadê as casas desse lugar? — apertou outro botão do aparelho em seu ouvido, conectando seu capacete com Audrey. — Pra onde eu vou?

— Calculando, pode demorar um minuto. Aguarde. — Tentou esquentar suas mãos com o ar quente que saía de sua boca, ajeitou os óculos e abraçou o próprio corpo. — Neste planeta, as casas de lugares frios são árvores ocas. Mary May mora à dois metros em sua direção, Pinheiro A23.

— Obrigado. — Continuou a andar, pisadas desajeitadas por não estar acostumado a andar em grandes cobertores de neve. Entrou no meio dos pinheiros de folhas azuis, admirando os galhos acima de si, se perdendo em como aqueles pinheiros pareciam formar uma aurora boreal. Quis parar e ficar admirando os pinheiros, mesmo que morresse de frio, sentiu-se, de um modo estranho, como se tivesse achado seu outro lar. 

Passou as mãos por cada tronco, pegando a lanterna que estava em sua pasta e iluminando os entalhes que sentia em cada tronco até achar o A23. Quando achou pediu uma sugestão de Audrey, devido aos muitos problemas  que teve em outros planetas, causado por choques de costumes. 

— O povo daqui é bem respectivo, mas acredita muito nos números. Três batidas na porta de Mary May será muito bem-vindo. Não se esqueça de dizer “Dobry wieczór” ao entrar.

Je suis foutu. — Respirou fundo e bateu três vezes no tronco, poucos segundos depois apareceu uma mulher alta e gorda, com bochechas rosadas e orelhas pontudas, sorriso fácil e olhos castanhos. Seu cabelo era azul-gelo e parecia a própria neve, vestia roupas vermelhas e segurava uma chaleira. Jean ficou vermelho e disse o cumprimento com dificuldade, sendo recebido por uma risada da mulher que o puxou para dentro de casa.

— Não precisa ficar tenso, eu sei falar o idioma comum. Viajamos bastante na véspera, seria muito problemático falar uma só língua. Enfim, sente-se que um dos duendes irá trazer os biscoitos. 

Jean foi conduzido até o sofá marrom, dividido por um lado cheio de tralha e outro que estava limpo e livre de qualquer coisa de madeira que o francês não sabia dizer o que era. Ele achou o sofá muito baixo para uma mulher que era trinta centímetros maior que ele, olhou ao redor e achou o pinheiro muito aconchegante por dentro, não sentia mais frio. Mas não havia um teto sobre si, percebeu ao encostar no sofá e olhar para cima. As paredes iam subindo e mostrando portas e mais portas, escadas e luzes diferentes piscando ao mesmo tempo. Ao seu lado, o montinho de tralha de madeira passou a ser uma montanha a medida que os duendes jogavam mais coisas de lá de cima. Na cabeça de Jean, a geografia e o planejamento da casa não fazia sentido assim como aquele sofá, mas pensou ser a pequena dor de cabeça distorcendo sua visão. Mary May voltou do outro cômodo, Jean logo percebeu que ela falava demais e se distraía fácil, pois ela chegou cheia de panos pendurados nos ombros, com bandejas e um bule de chá na mão. 

Ele se levantou para ajudá-la a colocar as coisas na mesa, para sua infelicidade um dos duendes passou correndo por debaixo de seus pés o fazendo bater a canela na mesa de madeira. Mary May riu e pediu desculpas em sua língua nativa.

— Não tem problema, madame — disse com a voz afinando a cada sílaba, parecendo um chiado raivoso. — Podemos ir logo ao assunto? — Audrey o reprimiu em seu ouvido e Mary May se sentou.

— Sim, sim. Estive muito nervosa esses dias, muitos gáudios para fazer e Klaus que é responsável pelos planejamentos, nunca fiquei tão perdida. Estava tudo dando certo, sabe? — Jean respirou fundo enquanto bebia o chá azul, o líquido o lembrou mirtilo e ficou levemente irritado com a falação e a memória de Ully em sua cabeça. — Começamos o planejamento em Zota, logo depois dos cincos dias de comemoração mandamos os planos para os elfos e os duendes começarem a trabalhar.  Houve muitas baixas, as árvores ficaram insatisfeitas com a comemoração e não nos deixaram utilizar de suas madeiras, tivemos que esperar mais um mês e o solstício para fazer outra festa que agradasse os pinheiros. Em Yaxquin, não tínhamos nem 30% dos pedidos prontos e cada vez mais chegava os pedidos e… — Mary May deu um grunhido, quase um pedido desesperado por descanso. — Mas Klaus estava muito esquisito, nem acolhia mais novos duendes. Precisávamos deles, eles sempre vêm aos montes, mas dessa vez ele disse para Rabbet acolhê-los, o feriado dele seria mais grandioso que o nosso e, ai meu Hun Batz! 

 Olhou para a parede a sua esquerda, Jean olhou também e achou que não havia nada ali, mas a parede tremeu e o formato de porta apareceu, sendo aberta por um duende chorando e outro rindo. 

— Saiam daí agora! Parem de brigar, temos muito o que fazer! — Mary May bufou e voltou a olhar Jean, tirando os fios bagunçados da testa. —  Continuando, assim que acabou Xhen nós tínhamos mais de cem milhões de gáudios, ao poucos nós estávamos chegando na metade da meta. Mas aí… — Mary May olhou para baixo e fungou, Jean ficou constrangido quando ela voltou a olhar para ele com os olhos cheios de gelo. — Desculpe, desculpe, dizem que sou muito sentimental como meu elemento. Ele sumiu faz quase seis meses, eu chamei a Guarda e os Navegadores, mas eles não acharam nada. Pensaram que tinham conseguido um rastro dois meses atrás, todavia não era nada e não posso perdê-lo, sabe? Nos dois primeiros meses eu não dei muita importância, achei que era uma de suas viagens em busca de inspiração, mas...

Mary May desatou a chorar, sendo consolada pelos duendes brigões que lhe deram ursos de pano para que a mesma abraçasse, Jean ficou com vergonha e não soube o que dizer. Esperou que ela se acalmasse e continuasse com seu longo monólogo, apesar de odiar pessoas que falassem demais e sem parar, ouvir a mulher de cabelos brancos lhe passava uma sensação de paz, quase como se ouvisse sua mãe falar como fora o dia. Ela se acalmou, encerrou seu monólogo lhe contando as últimas pistas do paradeiro de Klaus e pedindo para que Jean o achasse imediatamente, pois eles estavam ficando sem tempo. 

— Não se preocupe, farei o possível para achá-lo. 

— Você está junto daquela uranis, não é? Ela veio aqui ontem, usava o mesmo casaco que você, ela é muito bonita sabe. Nunca vi outro ser de quatro braços com unhas tão bonitas. — O choque no rosto de Jean era evidente, o tique em seu olho esquerdo demonstrava sua raiva e o ranger de dentes seu leve desespero por Audrey. “Ela vai roubar a porra da minha nave!”, pensou enquanto ouvia Mary May dizer as seguintes palavras em câmera lenta. — Ela disse que irá “pegar os dólares primeiro que você”, mas não sei o que são dólares, então… Seu nome é Jean Moreau, certo? Desculpa, desculpa, nem perguntei seu nome, o meu você já sabe. Muito obrigada por me ouvir, a uranis é muito bonita, mas grossa demais, chorei um pouco depois porque pensei que tivesse feito algo errado. 

— Desculpe, senhora Nöel, mas…

— Me chame de Mary, criança!

— Mary, você não saberia para onde minha parceira teria ido, não? 

— Ao centro da cidade, foi falar com a Guarda. Hoje vai haver um show de um grupo, sabe como são os jovens do universo, sempre querendo cantar em garagens. A Guarda vai estar com os distritos vazios, é mais fácil investigar eu acho. — Já não conseguia se concentrar em mais nada do que Mary dizia, levantou-se em desespero, não queria ser rude nem aparentar estar desesperado, mas quase não controlava os sinais do próprio corpo. — Você está bem?

— Pode me dizer onde fica o centro da cidade? Tenho que encontrar minha parceira antes que ela me encontre.

— Quer fazer uma surpresa, não é? Nós amamos surpresas! Vá junto com Elf, Delf e Belf no trenó deles, vão fazer uma coleta de cartas agora à noite. Boa sorte e obrigada de novo. — Em um estalo Jean já estava no trenó, acenava para Mary May enquanto gritava:

— Muito obrigado, madame Nöel! — virou-se para os duendes — Não sei se vocês falam minha língua, mas acelera! É caso de vida ou morte! 

 

O trenó descia a colina cheia de neve e pinheiros, Jean podia reconhecer o centro pelas luzes frenéticas que vinha das árvores em círculo à poucos metros de si. O som do show podia ser escutado aquela distância, mesmo que baixo. Ao mesmo tempo que Jean torcia chegar a tempo de pegar Ully no meio de uma investigação (ou antes que ela roubasse sua nave) seus ouvidos eram preenchidos com a irônica trilha sonora:

Because you look so fine /And I really wanna make you mine 

— Não mesmo! E por que estão cantando em inglês? Estamos na droga de outra planeta! — resmungava para si, segurava na borda do trenó com mais força à medida que os duendes iam mais rápido, dando risadinhas infernais. Todos pareciam o próprio Grinch.

Be my girl /Be my girl /Are you gonna be my girl? — cantarolou os duendes

Mon Dieu! Não! 


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Notas finais do capítulo

Ola! Eu espero terminar essa história ate o fim do mês, preciso de sorte pq inspiração eu ate q tenho djaoijdisd

qlqr furo da história eu gostaria q vcs me avisassem, pq são os pequenos detalhes q vão fazer diferença e eu gostaria de menos erros possíveis oiajsi

mt obg por lerem ♥ espero q tenham gostado

DICIONÁRIO
— mon dieu = meu deus
— ma chérie = minha querida
— je suis foutu = estou ferrado
— Dobry wieczór” = boa noite (polonês)

LINKS
música q a banda toca
Jet - Are You Gonna Be My Girl
( https://www.youtube.com/watch?v=54dLepp2b0A )



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