Rain escrita por Aiwa Schawa


Capítulo 6
Dia 6




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Férias

—Navire, onde as outras estão?

—Ainda não saíram da barraca, fui espiar a pouco, está tendo uma conversa bem interessante.

—Se elas estão lá ainda... é uma boa hora para falar de... uma coisa importante.

—Sem hesitar, pode falar.

—Você aprendeu a rimar com a Arc?

—Depois do que houve na última noite... talvez tenha realmente sido um efeito colateral...

—Voltando, Navire, você sendo um mentiroso tão bom, consegue detectar quando outra pessoa está mentindo?

—Ah, isso, sim posso, porém para isso preciso lamber o suor da pessoa, o gosto de um mentiroso é sutilmente mais doce.

—Hum, então não é uma boa ideia mentir para você.

—Se seu objetivo for me fazer acreditar na mentira, creio que sim.

—Qual outro motivo pode existir para contar uma mentira?

—Pode ser uma mentira boa, se ela for movida de altruísmo e gentileza, não iria desmenti-la, pois, mentir por outrem é um grande sacrifício, é a mais pura forma de altruísmo.

—O que você quer dizer?

—Pois mentir por outra pessoa é algo que você nunca será reconhecido, você só o fez em nome do bem-estar dessa pessoa, isso é bem admirável, não é?

—Incorreto.

—Por que diz isso?

—Uma mentira é uma mentira, não importa seu motivo, se quer mesmo ajudar alguém, não tome atalhos, siga todo o caminho.

—Certamente, porém, nunca tomar atalhos é o caminho de um super-humano como você, para mim, um humano apenas, tomar esses atalhos é a única forma de completar essa jornada, portanto estou sempre buscando mais atalhos.

—Não sou um super-humano, nada em mim é tão especial.

—...

—Está querendo lamber meu suor? É uma pena que as manhãs na França sejam tão frias.

—Não é para tanto, seria desnecessário.

Arvores

Pouco mais tarde, naquela mesma manhã.

—Yuki, pode me dizer agora o porquê de, abruptamente, você ter me chamado para caminhar pela floresta?

—Você está muito apressado.

—Correto, pois considerando a situação que estamos, além da ideia de estar sozinho com você no meio dessa densa floresta, isso me dá arrepios!

—Não seria eu que devia falar isso? Você é o homem aqui, se continuar confundindo papeis vais ser difícil se tornar um ator.

—Incorreto. Primeiro, de forma alguma desejo ser um ator.

—Ainda bem.

—Segundo, estou plenamente certo em ter arrepios, acho que me força bruta ainda poderia ganhar por pouco de você, porém você é melhor em todo o resto.

—Mas você é mais alto.

—Gostaria. Me dói muito dizer, porém você sempre foi 2 centímetros mais alta. Desde o dia que nos conhecemos.

—Ah... sim, sim.

—Só reparou nisso agora? Então creio que a lição do dia para mim seria: Não falar demais.

—Verdade.

Nós finalmente paramos, perto de um rio.

—O que foi? É uma vampira?

—Não, é aqui nossa parada.

—Hum, então figa por que me trouxe para tão longe, é tão importante assim?

—Que insensível, você devia ser gentil com meus sentimentos, faria isso com ou sem o mistério do mês.

—É... talvez tenha que me tornar um cavalheiro.

—Com certeza. Agora indo ao assunto.

—Vá...

—Vamos brincar de esconde-esconde.

—Hum...?

—Sua arvore fica desse lado do rio, vou me esconder do outro lado, certo?

—Bem... claro! Vou contar até 100, se esconda enquanto isso Rots.

—Ok! Hahaha...

“Vou mostrar o motivo de estar na RAIN”

—Noventa e cinco, noventa e seis, noventa e sete, noventa e oito, noventa e nove, cem!

Pensar que apenas uma sorte sobrenatural é suficiente para me enganar é um erro enorme.

—Diria que pelo menos 1 milhão de soldados-fantasmas seriam necessários para me derrotar.

Foram uma melhor de 5.

Na primeira vez avancei cautelosamente, não imaginei que ela conseguia subir pelas arvores.

1 a 0.

Na segunda resolvi roubar seu truque, assim que ela correu para a vitória, pulei de cima da arvore e a capturei.

1 a 1.

E na terceira, passei direto por ela, mas usei a técnica de me jogar contra ela em alta velocidade para ganhar.

2 a 1.

Para mudar um pouco as coisas, dessa vez eu me escondi.

Tentei atravessar o pequeno riacho, me escondendo pela água, porém a correnteza me atrasou e fui pego.

2 a 2.

Na última vez, resolvi jogar a sério.

Nos 100 segundos, fui o quão longe podia, corri com tudo.

Usei folhas das arvores e fiz um disfarce para mim.

Essa seria a tática infalível.

Lentamente, após algumas dezenas de segundos a mais, andava alguns centímetros.

Estava de manhã, porém a floresta era densa suficiente, podia dizer que estava invisível.

Mas então... percebi algo estranho, assustador, misterioso. Passos, eles eram muito pesados, tinham um ritmo calculado, pareciam... desesperados, alguém preso a um único local, um local que ela não queria estar.

Era um monstro preso ao seu próprio inferno, nada poderia tira-lo de lá, seus passos pesavam, pois, o próprio mundo havia o prendido.

Parei de me mover totalmente, prendi minha respiração, não queria ver a fonte desses passos, queria me esconder, não, preferia morrer do que o ver.

Aquele som. O som apenas, me fez chorar, estar preso daquela forma, aquele barulho não parava, cento e vinte vezes por minuto, sem nunca se interromper, o mesmo trazia um conceito consigo. Ser aprisionado para sempre.

Ele parou.

Estava perto de mim, sabia disso.

—Assim que disser “vá” corra o mais rápido possível. Não pare em momento algum, a sua vida depende disso.

Era ele, aquela voz que cuspia veneno, essa aura maligna, os tons calculados, piores do que a voz de uma máquina, mas tão vivos e com consciência quanto um monstro.

—Vá.

AAAAAHHHHHHHHHHH!!!

Corri pela minha vida, preferia morrer de um ataque cardíaco do que ser vítima daquela criatura.

AHHHHHHHH!!!

Sempre pensei que a morte não era nada a se pensar, quando ela viesse poderia apenas aceitar, porém não assim, daquele jeito, nunca poderia morrer assim.

Cheguei em algum lugar, tropecei numas pedras.

Meu coração se esforçou tanto que sangue estava escorrendo do meu nariz e boca, com a queda, tossi um pouco, uma mancha se formou na grama.

Me levantei sem jeito, não importava, tinha que correr dali.

“Mas... Yuki... ela não sabe, nem a sorte dela pode salva-la daquele... monstro”

Liguei para ela.

Um toque veio de trás de mim.

Olhei bem, era ela, Yuki estava correndo na minha direção.

Por um puro acidente, tinha ganhado o jogo.

Monstro

Depois disso, corri de volta para o acampamento, fui o quão rápido podia, ao chegar lá... não pude falar nada, nada saia da minha boca...

Mesmo agora, não ouvi apenas sua voz, vi seu rosto, sei seu nome, sei muito bem quem ele é.

Só de lembrar meu corpo treme, não queria ter visto aquilo, a RAIN sempre buscou a verdade, porém isso não era uma verdade, era uma distorção, o que ocorre quando a própria verdade é distorcida e se torna uma mentira, ela se torna impronunciável, impossível de entender, de explicar.

Não posso falar mais para meus companheiros, nem mesmo aqui. Me desculpo a todos por não poder contar mais nada.

Pagamento

As 5 da tarde, depois de minha tremedeira abaixar até um nível suportável, quando consegui andar de novo, assim que meus lábios não se fechavam mais em resposta as minhas tentativas de falar.

Preferi voltar a investigação como se nada tivesse acontecido, assim seria mais fácil.

Por investigação, digo cobrar a aposta, afinal não estava brincando por nada.

—Rots, apesar de ter sido por um acaso, ganhei o esconde-esconde, agora você precisa me dar o que deve.

—Ah sim, agora lhe devo minha liberdade certo? A aposta era sobre quem iria se tornar o escravo de quem, não é?

—Se fosse, nunca teria entrado na brincadeira, é um risco muito alto.

—Para mim, a recompensa seria bem válida.

—De qualquer forma, você só está fazendo isso porque insisti em não dizer o que queria como recompensa, certo?

—Sim.

—Pois então, quero conversar um pouco.

—Como?

—Normalmente você sempre parece ocupada, ou pensando em algo, se não tenho uma justificativa, fica difícil de falar com você.

—Hum... que pensamento infantil.

—Sua forma de ver o mundo é bem diferente da minha... continuando, contudo, é claro, tenho um tópico em especifico para lhe questionar sobre, é até que bem importante.

—Estou esperando.

—É sobre o resto da RAIN, o que você pensa dos outros? Nesses dias, um pensamento não foi retirado de forma alguma da minha mente. Esse é sobre sua lealdade a nós, depois de tudo que houve, não tenho como não confiar em você, entretanto há uma pessoa, talvez mais, que não pensam assim.

—Uma crise política?

—Não digo isso, pois ainda temos um laço mais próximo da amizade do que algo profissional, porém ao mesmo tempo, talvez haja um conflito de interesses.

—Continue, agora não vou conseguir dormir muito bem.

—Observe, primeiro pense na Arc, quem é ela para você?

—Hum... ela parece um pouco séria, o tempo todo... parece saber de algo a mais...

—Ela sabe, não tinha notado isso antes, porém recentemente ela me confrontou sobre algo, mal conversando comigo, apenas vendo minhas ações e prestando uma atenção sobrenatural, ela conseguiu entender muito, tudo seria mais exato, cada palavra proferida por ela naquele dia chuvoso era absolutamente verdadeira.

—Onde você tem de chegar com isso?

—Se ela fez isso comigo, pode, não, com certeza já fez com você, portanto agora virá meu verdadeiro pedido.

—Tinha certeza que aquilo não era ele, você realmente precisa aprende a mentir.

—Incorreto. Meu pedido é para você conversar com ela sobre isso, se necessário servirei como intermediário, se não houver outro jeito fazer Navire ser o intermediário, os dois parecem não ter problemas entre si, certo?

—Realmente, o Navire como um todo não é problemático, é uma pessoa divertida e boa de uma forma estranha, as vezes não parece, no entanto ele também tenta ajudar as pessoas.

—Os membros da agência foram escolhidos a dedo, é claro que são todos pessoas boas, por mais complicadas que esse “boas” seja.

—Escolhidos a dedo... não sei como você não riu, nós apenas tiramos férias no mesmo lugar e estávamos explorando a mesma construção abandonada, não houve escolha.

—Fomos escolhidos a dedo... pelo destino!

—AH!

—Mas sim Yuki, o que você me diz sobre o pedido?

—Se não fosse seu pedido único, não o faria, não gosto nada da ideia de ter uma conversa séria assim com ela, sem falar em confirmar essa onisciência dela que você clama existir.

—Chamar de onisciência é errado, ela estuda bastan... AHHHHH!!!

—O que foi!?

—Ela me cortou! Naquele dia, a maldita Arc me cortou!

—Do que você está falando?!

—Observe Yuki, pelo resto do dia, esqueça o que disse, pelo menos finja, tenho um assunto muito importante a tratar com aquela... assistente de laboratório de meia-tigela!

—Ok... cuide de preparar o chão para mim, vou pensar um pouco mais sobre essa conversa, sobre seu pedido.

—Correto, irei fazê-lo.

—Pode ir.

Impulso

—ARC! —Pelo acampamento.

—AAAAARRRRRRCCC! —Por toda a floresta.

AARRRRRRRCC! —E pela vila também.

Ela estava numa igreja dessa vez, só soube porque cansei de procurar e liguei para Jestiv, ela me disse onde Arc tinha ido.

Entrei, o local parecia vazio.

“Ainda bem... não sei se isso é egoísmo, mas acho que as igrejas ficam tão bonitas quando estão vazias... são calmas, como se a própria construção, seu projeto, suas pedras e seu conceito fossem serenos.

Arc estava em frente ao altar.

—Arc, você não é japonesa? Até onde sei o cristianismo não é muito forte no país.

—É bem fraco, 2,3% da população para ser exata —Ela não tirou os olhos do altar, nem eu o fiz.

—Fazendo um cálculo rápido... isso seria em torno de 3 milhões de habitantes.

—Exatamente. Você sempre tira a nota máxima em matemática, sim?

—É. Isso não está errado. Digo, não é realmente tão difícil assim...

—Na minha escola, matemática é o que nos assola —“Droga, falei algo errado”

—Talvez, no entanto ouvi que as escolas japonesas são bem rigorosas, deve ser isso, matemática do ensino médio não é tão difícil...

—Lhe darei dez segundos para que se livre de seus hábitos imundos.

—Arc, essa conversa está um pouco pesada demais, como um praticante, preferiria levar essa conversa para outro local.

—Assim está melhor, em agradecimento, vamos até onde você quiser.


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