Corações Indomáveis Reylo escrita por Lyse Darcy


Capítulo 14
Capítulo 14 Um ardil chega ao fim




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O navio singrava pelas águas tranquilas, a escuridão permeava por todos os lados. Os primeiros raios solares ainda não despontaram no céu. O convés estava vazio, os revezamentos para o descanso estava quase no fim, os corsários em pouco tempo preencheriam todos os espaços. Logo começariam a se agitar num vai e vem sem fim. Kylo Ren estava no leme, gostava do silêncio, sentir a brisa em sua face. O vento, agitou os seus cabelos um pouco maior agora. Era um momento só seu. Ter o controle do Darkness em suas mãos o deixava seguro. O timão trepidava suavemente, fazia leves movimentos para manter o curso. Olhou o céu que estava encoberto, não se avistava nenhuma estrela, apenas se guiava por sua bússola. Aferiu o instrumento. Sua mente viajava para o continente.

Pensava que ao regressar a Chandrila, suas pendências com Snoke estariam quitadas. Trazia o porão do navio repleto da mercadoria encomendada pelo homem, esperava que o velho sustentasse a sua palavra de o deixar em paz. Tinha a convicção em colocar a pirataria no seu passado. Todavia, ele estava alheio aos planos que o prefeito arquitetava contra si. O marulho balançava suavemente a embarcação. O momento silente o fazia pensar em muitas coisas que passaria a fazer para começar uma nova vida, agora seria um homem de bem, teria um sobrenome aceitável.

Nesse momento, o rosto de uma jovem muito corajosa que o enfrentou no desfiladeiro preencheu seu pensamento. A garota vestida de uma maneira nada convencional, mas que mesmo assim não escondia a sua beleza, prendeu sua atenção. A conversa apesar de breve deixaram impressões positivas na mente de Kylo. Não podia ficar alimentando essas ideias. Meneou a cabeça, para afugentar a mulher que era impossível de alcançar. Admitia a si que a noviça era uma mulher de personalidade e convicções, não se dobraria a qualquer pessoa, mesmo sendo ele. Um sorriso brotou no seu rosto. Forçou seus pensamentos para Desirée, era a sua amante. A mulher que ele desposaria, começando uma vida honrada com o nome que tinha por direito de seu pai.

Organizava seus pensamentos para todas as atividades que tinha ao chegar na vila. O primeiro lugar que iria para promover seus interesses seria a casa de seu velho amigo Chewie. As águas quebraram na quilha o fazendo voltar a sua atenção ao seu trabalho. O imediato se aproximou ficando ao lado do pirata. Soltou o leme para que o outro se encarregasse da ocupação, este no que lhe concerne acatou o recado. A tripulação já estava ativa. O convés repleto de homens trabalhando em suas funções, a umidade deixava a madeira escorregadia. Um nauta limpavam o assoalho para manter a segurança da tripulação.

Kylo Ren caminhou até a proa do navio, o céu começava a aparecer um despontar avermelhado no horizonte. Tirou um charuto do bolso de seu casaco, o cheirou por todo o cumprimento, o aroma era muito repousante para si, cortou a extremidade do fumo, acendendo uma pequena chama na ponta, sugou o ar para avivar o fogo, ao conseguir, soltou a fumaça dos pulmões pelo nariz e boca. O nevoeiro dificultava a visibilidade. Contudo, confiava em seus instintos de que estavam muito próximos do seu destino. Voltou a tragar o tabaco que estava entre seus dedos.

A neblina da madrugada encobria toda a baía, não se enxergava com nitidez o quão próximo estavam de terras firmes. Foi quando o marujo na gávea berrou.

— Terra à vista!

O pirata pegou sua luneta. A isso avistou a luz pálida do farol encoberta entre a bruma. Confirmando o que o rapaz via do alto. Estavam se aproximando do continente. Encolheu a haste do objeto e gritou aos homens.

— Manter o curso. Abaixar as velas auxiliares!

O imediato seguindo a ordem do seu superior falou em tom enérgico, os comandos vindos do seu superior. Os marinheiros de pronto começaram a encolher as cordas para recolher as aderiças, com movimentos enérgicos. O trabalho era feito numa sincronia perfeita. Tudo para que o navio ancorasse de modo seguro no porto.

A aproximação se deu de modo suave, a bruma sumia aos poucos dando contorno a vila, ao passo que o Darkness encurtava a distância, a maré a favor contribuía para que a embarcação ganhasse um impulso natural. Kylo conhecia esse porto como a palma de sua mão, então ordenou que seus marujos encolhessem a vela principal, a isso ficaram ao sabor da corrente marinha. Tomie estava no leme atento as ordens de seu capitão, por nenhum momento se desviou da tarefa de conduzir o navio de modo seguro, girar o timão de modo imprudente poderia causar um naufrágio ao se chocar nos rochedos da enseada.

— Baixar as âncoras! — Ouviu-se a voz enérgica do pirata.

Esse último mandado, evidenciava a todos os tripulantes que aportaram em segurança, que sua viagem foi bem-sucedida. Os marinheiros confiavam na liderança de seu capitão. Faziam isso há anos. Algumas viagens tinham as suas adversidades, no entanto, Kylo Ren sempre foi muito responsável contornando cada dificuldade com experiência e audácia, nunca abandonava os membros da tripulação, os viam como parte de sua família.

 Os primeiros raios solares atravessaram as nuvens densas, banhando de dourado as edificações simples do povoado pesqueiro. Ren se lembrou de sua infância pobre na vila de pescadores, sentiu saudades do menino que foi um dia. Com isso, avistou os comerciantes do porto, algumas crianças da vila festejando a chegada do seu navio pirata, o mais amado por toda a costa, pois sempre que possível ajudava a quem necessitava. Ele era temido e amado pelo povoado pesqueiro, o viam como herói. Todavia os mais ricos o viam como bandido altamente periculoso.  Vivia na tênue linha entre o marginal e o protetor do mais vulneráveis.

O homem que comandava o Darkness, estava vestido de modo distinto, os trajes caros o diferenciava de sua tripulação. Sua aparência mostrava ser de um indivíduo abastado. Os que esperavam o navio ancorar silenciaram ao ver aquela imagem tão requintada. Estavam surpresos ao ver Kylo Ren em uma postura régia, fato que ele já tinha essa atitude. Contudo, o ver tão alinhado os fizeram calar e admirar o pirata.

Ao colocarem a prancha par ligar a embarcação com à terra firme, ouviu-se um ruído alto, alguns se afastaram abanando as mãos para afugentar a poeira. Ren foi o primeiro a cruzar a dala. Olhava os aldeões, queriam tocar nele para testificarem se era real, alguns reverenciava como um rei retornando de sua batalha. As crianças cantarolavam o seu nome: “Kylo Ren é o maioral.” O capitão do Darkness estava muito envaidecido com a sua recepção. Depositava algumas moedas nas mãos da garotada que ficava mais eufórica com o agrado do homem.

Kylo foi ao encontro do seu imediato para encarregar ele a responsabilidade de desembarcar as mercadorias e colocarem em seu armazém particular, antes de resolver seu último negócio com o senhor Snoke precisava ir falar com o seu velho amigo. Assim foi tudo decidido e seus marujos sabiam o que devia ser feito. Então ele foi de pronto a casa do advogado.

(…)

Batia a porta com muita insistência, o estampido agoniava o homem que andava o mais rápido que conseguia para atender a pessoa que o deixava impaciente. “Quem poderia ser numa hora dessas sendo tão impertinente.” Meneava a cabeça para dispersar o mau-humor.

— Espere um pouco, criatura!

Ao ver quem estava a sua frente ficou emudecido. O rapaz que conhecia desde menino, por quem se preocupava muito diante de si, estava muito bem vestido. O puxou para um abraço fraterno, o cobria por inteiro, mesmo o pirata sendo de estatura alta, o advogado era ainda maior. No início Ren ficou desconcertado com a acolhida, porém segundos depois aceitou o cumprimento do mais velho.

— Que felicidade ver você novamente. — Sorria afável. — Vieram algumas notícias não muito confiável que vocês sofreram alguns contratempos, outros que naufragou, ficamos aqui muito preocupados com você e sua tripulação.

— Verdade que nos deparamos com uma grande tempestade no nosso trajeto, tivemos algumas avarias, mas nada que nos tirasse de nosso foco. Estamos todos bem. O Darkness é um navio sólido. — Sorria orgulhoso.

— Vamos entre, sente um pouco para me contar as notícias dos lugares que foi. — Chewbacca conduziu Kylo para a sua sala de estar.

Ren estava muito agitado aceitou o convite, de modo hesitante, não por estar sendo teimoso, mas, porque estava ansioso para saber se o advogado havia feito os preparativos combinados que acertaram quando conversaram há meses atrás. Caminhava de um lado para o outro.

— Chewie, as questões quanto aos meus investimentos foram resolvidos?

O mais velho titubeou ao ouvir o questionamento do jovem. O advogado coçou sua barba ruiva espessa. Pensou na impulsividade do rapaz, pois essa pergunta levaria a questão mais delicada daquela conversa. O casamento de Desirée. Caminhou até o aparador num movimento lento numa tentativa imperfeita de ganhar tempo.

— Aceita um bom rum? — Desconversou.

 — A essa hora? — Apontou para o relógio que estava na moldura da lareira.  Olhou para o amigo desconfiado. — A família Organa Solo não foram ao cartório de notas asseverar que sou filho de Han Solo? — Estava começando a sentir sua calma se esvaindo.

— Leia é uma mulher honrada, não faria uma coisa dessa. — Tornou a ficar de frente, o encarando com convicção. — Quando falei com ela sobre essa possibilidade, fomos ao tabelião. Tanto a viúva quanto Ben declararam em juízo que você era o filho de Solo. — Caminhou até a escrivaninha, numa gaveta puxou o documento, depositando na mão de Kylo. — Leia o que está escrito.

 Ren olhou para o papel lavrado, mostrava que ele tinha um nome honrado. Poderia se casar com a mulher que escolheu para si, nada o impediria de concretizar o que tinha traçado. Tinha fortuna, uma noiva da boa sociedade, aceitou o nome do seu pai. Todavia, ainda havia alguma coisa na expressão Geoffrey que o deixou desconfiado.

— Obrigado, meu velho amigo por me ajudar. Mais uma coisa, quero que continue em seu nome os meus bens. — Sentou numa poltrona confortável. Sentia uma intuição nesse sentido em manter sua fortuna resguardada. — Agora irei ver minha prometida. Tenho muitas coisas para resolver com o velho Skywalker.

Chewbacca se aproximou do mais novo com cautela, não sabia como passar aquela informação sem que o outro se descontrolasse. Tinha receio de que o rapaz se descompensasse. Passou os dedos pelos cabelos fartos e rebeldes. Olhava o mais novo avaliando tudo a volta, com o intuito de proteger seus objetos queridos para não serem destruídos pelo acesso de fúria de Kylo. No entanto, era tarde demais para salvaguardar as suas coisa. Arquejou.

Sentou-se na cadeira próxima, depositou sua mão no ombro esquerdo do homem mais jovem, puxou o ar para os pulmões o soltando de maneira pesada, como se quisesse afugentar algum mau-agouro.

— Terá que ser prudente, Kylo ao ouvir o que tenho para lhe dizer.

O pirata se levantou bruscamente, deixando a mão do outro no vazio. — O que é que tem de tão importante para me contar. — Andou até a mesa. — Conte logo. Não tenho tempo a perder. Velho! — O advogado suspirou.

— A notícia que tenho será muito difícil para você… — Se levantou indo até ele. — Queria ter sabido antes. Contudo, tomei ciência quando sua embarcação já havia saído do porto, não encontrei os portos que o Darkness ancorou, todos os meus telegramas voltaram a mim. Pensando bem foi melhor não ter recebido a correspondência. — Ponderou.

— Fale logo homem!

— Seja equilibrado ao ouvir o que tenho a dizer. — Suspirou pedindo aos deuses que o jovem fosse sensato. Ren já estava a ponto de explodir em raiva da demora do mais velho, tentava controlar sua ira. — Desirée…

— O que tem a tutelada de Skywalker? “Desembucha” de uma vez!

— … A garota se casou com Ben Solo. — Soltou o ar que prendia no peito que o deixava pesado. — Faz cinco dias que ocorreu o matrimônio. — Pretendeu consolar o seu interlocutor.

Kylo Ren ao ouvir as palavras de Geoffrey, ficou cego e surdo de ódio, o sangue de pronto entraram em ebulição em suas veias. Rechaçou o advogado, estava obtuso a qualquer palavra de prudência ou sensatez. Seu desejo primitivo berrava por todo o seu corpo, queria matar Desirée, aquela mulher ordinária. Queria pôr fim a vida de seu irmão, aquele homem tolo e desprezível.

Num acesso de fúria pegou o colarinho de Chewie, olhava o homem de modo raivoso, a sua voz saiu áspera.

— Seu velho louco. Está mentido para mim! — O empurrou com toda a força que tinha. Chewbacca deu um pequeno tropeço, pois se desequilibrou com a ação impulsiva do rapaz furioso.

Chewie conhecia a natureza colérica de Ren, conter ele dentro de sua casa seria uma solução. No entanto, não conseguiria sozinho conter aquele força descomunal que o pirata tinha, se ao menos estivesse Tomie, ou o cozinheiro do navio próximo, teriam uma chance de segurá-lo. Contudo, estava sozinho, já não era mais um jovem, talvez assim pudesse ter uma possibilidade de encerrá-lo na residência.

Kylo parecia uma fera enjaulada, estava agastado, precisava sair dali, encontrar aquela dupla de traidores. O fluido vital de ambos seria a única maneira de aplacar seu estado de fúria. Com toda a sua força derrubou todos os objetos que estavam arrumados nas prateleiras e estantes da sala, nada ficou em pé diante da ação irada do jovem. Sentia o gosto acre da frustração de ser enganado, passado para trás. Não deixaria essa ação sem receber uma compensação.

— Antes estivesse mentindo a você. — Falava de modo tranquilo, na tentativa de chamar Ren a razão. — Todavia, isso aconteceu, não há nada que possa ser feito. Seu irmão é um bom homem, será um bom marido para ela. Seja generoso.

Kylo Ren, olhou o advogado como se não acreditasse em seus ouvidos. A revolta tomou conta de sua mente, tudo que sempre ouvia dos demais era que devia mostrar generosidade, ou gratidão. Contudo, sua realidade era de privação, nunca teve direito a uma família, ou respeito, um lugar digno na vida. Ele não deixaria passar essa mentira ardilosa que sofreu por acreditar em uma mulher tão hipócrita. Desejava a retaliação. Rodeou Chewie como um tigre.

— Quanto a mim, não mereço ser feliz? Devo sempre deixar que os outros tenham as coisas? Dar minha benção ao meu irmão mais novo? — Cuspia as palavras de modo ríspido. 

— Céus! Não homem, estou dizendo para pensar com clareza. — Tentava controlar os ânimos. — Pondere, eles já casaram, não se pode fazer nada a respeito.

— Sim há algo a ser feito. — Respirava pesadamente.

— O que, meu filho, pensa em fazer? — Tentou o segurar. Ele se desvencilhou de Chewie de modo rude.

— Ter o sangue dos dois em minhas mãos! — O ódio refletido em seus olhos, assustou seu amigo de longa data, nunca tinha visto seu semblante tão obscurecido, antes que pudesse fazer uma réplica, Kylo Ren saiu intempestivamente da casa de Geoffrey Chewbacca.

O homem tinha apenas um objetivo em sua cabeça, ir à Fazenda Millenium, intuía que estavam escondidos na propriedade, a sua avidez por revanche tomou todo o seu ser, foi até o estábulo do advogado. Montando no primeiro cavalo que avistou. Saiu em disparada, deixando apenas a poeira que o galope levantava, até desaparecer dos olhos do mais velho.

Chewie estava muito preocupado com o que o pirata pudesse fazer ao casal, sabia que ele estava transtornado, era capaz de qualquer coisa. Causaria uma tragédia. Não havia tempo a perder, precisava ir avisar os amigos de Ren, que poderiam ao menos segurar o homem enraivecido. Então, tomou a decisão de seguir Kylo até a fazenda, talvez uma luz de sensatez abrisse a mente do furibundo, ao passo que pediu a um moleque que passava em sua rua, avisar ao imediato de Ren encontrar com eles na fazenda dos Solo.

Com isso, correu até um coche de aluguel para tentar evitar uma desgraça entre os irmãos. Esperava que pudesse unir aqueles jovens, eram irmãos, filhos de Han Solo. A última vontade de seu amigo era ver os dois chegados um ao outro. Meneava a cabeça agora estava tudo perdido. Kylo estava prestes a cometer uma loucura, seu sobrenome não tinha garantias sem a carta testamento, o testemunho da viúva era muito frágil, diante da imprudência que ele estava em eminência de executar.

Subiu no transporte rapidamente. Suspirou. Tirou um lenço de linho de seu bolso, enxugando as gotas de suor que brotavam em sua testa. Estava tomado de aflição. Mesmo não sendo religioso, fazia uma prece fervorosa ao universo para que algo ou alguém impedisse Kylo Ren em sua ira.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido ...
Agradeço o apoio
Até a próxima vez!



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