Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 61
O encontro de Steve e Mary




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O encontro de Steve e Mary

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23 de Novembro de 2012, 07:10 AM

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Brooklyn – Nova York

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Era mais uma manhã de outono no Brooklyn, no entanto, não era uma manhã comum para Steve Rogers... era a manhã do dia de seu encontro com Mary Crystal Ellis...

O Super Soldado se via cantarolando junto com algumas músicas que tocavam no rádio, ansioso pelas horas que viriam.

Ele ligou o chuveiro, tomou um banho demorado, fez a barba, preparou um café da manhã tradicional com ovos mexidos, torradas e café preto, certificando-se de deixa-lo mais enérgico, apenas para se manter ainda mais frenético e atento durante o dia.

Passada uma hora, o Capitão terminava de se arrumar, vestido parcialmente... quase pronto para ter seu tão sonhado e esperado encontro com Mary.

Bucky estava feliz por seu amigo. Fazia muitos anos que não vislumbrava aquele sorriso tão luminoso e verdadeiro no rosto dele.

A campainha do apartamento tocava e o sargento resolvia atender.

— Eu vou atender, Punk. Continue se arrumando, porque você não pode se atrasar.

O soldado caminhava rumo a porta, mas quando girou a maçaneta e a abriu...

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Deu de cara com Tony Stark e Bruce Banner em sua frente.

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— Stark...? – Bucky esperava qualquer um ali, menos o Homem de Ferro.

— Não, é a Beyonce. Poupe-me dessa sua cara feia de assombro, Barnes. Eu quero falar com o Capicolé. Ele está? – O bilionário ironizava, puxando os óculos estilosos dos olhos, encarando-o com desdém.

— Sim, está...

— Então dá licença... – O gênio das Indústrias Stark empurrava o sargento, forçando-o a dar espaço para que invadisse o apartamento de Steve, sem que fosse convidado.

— Oi, desculpe a invasão... – Banner cumprimentava James com certa timidez, já que nunca agia como Tony.

Steve, que terminava de se arrumar, faltando apenas a parte de cima de seu paletó, já imaginava o motivo de o bilionário e o cientista estarem ali, e os recebia na sala.

— Stark, Banner... vocês vieram hoje pra pegar aquilo que mencionei, certo?

— Sim e... uau, que apartamento mais retrô é esse, Cap!? Essa decoração é tão óbvia que eu nem deveria estar impressionado! – Tony zombava do ambiente, olhando detalhe por detalhe.

O Super Soldado revirava os olhos e entregava um envelope A4 nas mãos de Banner.

Bucky observava a cena, achando tudo muito estranho, afinal, não era todo dia que você via três Vingadores reunidos no mesmo lugar que não fosse algum evento catastrófico para salvar o mundo.

— Devo ir a torre apenas no começo da semana que vem, e como já adiantei meu trabalho por hoje, estou me dando o direito de tirar esses dias de folga. – O Capitão os avisava, arrancando uma careta assombrosa de Tony e uma face assustada em Bruce.

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— Claro, você que manda, chefe... só não fique fora até tarde no seu encontro quente! – O Homem de Ferro piscava, caçoando mais uma vez do Super Soldado, que franzia o cenho, assustado.

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— Como você sabe que vou ter um encontro hoje!? – O loiro o contestava, levemente surpreso.

— Se a Natasha sabe, Nova York inteira sabe... um outdoor na Time Square teria menos impacto do que a propaganda da Viúva Negra. – Banner redarguia, brincando com o fato de Natasha Romanoff ser a fofoqueira do grupo.

— Natasha... tinha que ser... – O loiro passava a mão pela nuca, soltando um suspiro.

— Ela só age como agente secreta quando trabalha pra SHIELD, mas quando se trata da vida pessoal do Capitão América, a Nat age como uma verdadeira mexeriqueira. – O cientista continuava deixando suas impressões sobre a ruiva.

— Acho que esse é um dos hobbies dela... – Steve retorquia, num tom impaciente.

— Vamos parar de falar da intrometida da Romanoff e falar sobre você, Capitão? Não acha que é meio óbvio que vai sair com a Mary...? Olha como você está todo elegante e perfumado... – Tony puxava uma cadeira, sentando entre Steve e Bruce.

— E...?

— Quero saber algumas coisas... – O bilionário retorquia, mostrando que bancaria o mexeriqueiro também, exatamente como Natasha.

— O que você quer saber, Stark? – O Super Soldado estreitava o olhar, desconfiado das intenções do gênio das Indústrias Stark.

— Já programou o roteiro de seu encontro?

— Sim.

— Onde vai levar a cachinhos dourados?

— Em um restaurante tradicional aqui no Brooklyn e depois em um cinema em Manhattan.

— E que horas vai busca-la?

— Às onze. – Steve redarguia de modo alvoroçado. Não estava em seus planos dizer a Tony Stark os detalhes de seu encontro com Mary.

— Entendo... você quer que eu ligue para o Happy trabalhar como motorista freela do Capitão América? Vou pedir pra ele arrumar a melhor limusine... e então, não precisa se preocupar com os detalhes. Apenas enlouqueça ao lado da sua garota!

— Tony, acho que não é necessário...

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— Por quê!? Eu tenho o plano perfeito pra vocês dois! Champanhe, pasta, canapés, vinho e por último, fondue...!

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Banner olhava para Tony com uma expressão horrorizada. Natasha não era a única intrometida quando se tratava sobre a vida amorosa do loiro.

Bucky, que ainda estava de pé e encostado na porta da frente, segurava uma risada, achando aquela conversa bizarra... Tony Stark era muito mais cruel com Steve em relação a piadas envolvendo a filha do Presidente, do que ele.

— Eu agradeço, mas prefiro o meu roteiro, com todo o respeito, Tony... – Steve não conseguia aderir as extravagâncias do bilionário.

— Ah, seu plano é chato! Eu vou mandar alguns violinistas visitar a mesa de vocês e fazer uma serenata!

O loiro sacudia a cabeça, desacreditado do que estava ouvindo...

— Eu realmente prefiro ter um encontro simples e discreto, sem interferência de terceiros...

Banner começava a rir e o Homem de Ferro fazia uma careta em resposta.

— Bem, eu não posso obrigar ninguém a ter um encontro dos sonhos... mas já que está dispensando meus serviços casamenteiros, espero que você me compense nomeando o seu primeiro filho com a Mary em minha homenagem. Se for menino, é pra se chamar ‘Anthony’, e se for menina, pode ‘Antonia’ ou ‘Antonieta’. Eu não me importo. – Ele dava de ombros.

Steve não pôde deixar de rir daquela piada... céus, como Tony era idiota...

— Não é um nome tão ruim... Anthony Rogers? Ia ficar estiloso! – Banner entrava na brincadeira.

— Pensando bem, Cap... acho que seria melhor se você nomeasse os seus dois primeiros filhos com meu nome... assim me sentiria satisfeito... Anthony e Antonieta... já pensou se a Supergirl ficasse grávida de gêmeos? Um menino e uma menina? Ia ser lindo... – Os olhos do bilionário brilhavam, imaginando a cena.

— Você diz isso como se fosse me casar tão rápido e ter uma manada de filhos...

— Pelo menos uma dúzia você vai ter, certo? – O gênio das Indústrias Stark sorria cinicamente.

— Não tenho ideia de como será o meu futuro, mas ok... se eu acabar tendo doze filhos, prometo nomear pelo menos um com o seu nome. Combinado? – O loiro finalizava a piada, deixando o Homem de Ferro imensamente feliz.

— Promessa é dívida.

Banner, que ria da interação estranha entre seus companheiros Vingadores, resolvia dizer o que achava do encontro entre Steve e Mary.

— É realmente ótimo ver que você finalmente está seguindo em frente com sua vida, Steve... fico muito feliz por você. – O cientista afirmava, com um sorriso no rosto.

— Obrigado, Doutor. – O loiro tentava conter a excitação em sua voz pensando sobre o dia maravilhoso que teria ao lado da Segundo-Tenente.

— E quando você vai seguir com sua vida também, Banner? – Tony aproveitava a deixa para se meter na vida do cientista.

— Dessa vez eu tenho que fazer a mesma pergunta que o Tony, Doutor Banner... você também não tem alguém especial...? – Steve perguntava timidamente. Ele tinha sido cuidadoso em não bisbilhotar o passado de Bruce no início da primeira reunião dos Vingadores, antes de enfrentarem Loki e o exército chitauri, mas agora podia perguntar diretamente a ele o que tinha em mente.

— Eu tive uma pessoa especial no passado... o nome dela é Betty... mas decidi que não era justo para ela se ver amarrada ao ‘outro cara’ e resolvi pular fora... – O cientista replicava, num tom melancólico ao se recordar da filha do General Ross.

— Mas você pode controla-lo agora, não é...? – O Capitão insistia, pensando brevemente em Peggy e em como os dois ficaram separados por muito tempo na segunda guerra.

— Prefiro fazer o meu melhor em me manter distante dela, porque não quero machucá-la, ainda que tudo esteja sob controle no momento... – Bruce olhava para Steve, deixando escapar certa amargura em sua voz...

— Por quê...? – O Super Soldado tornava a insistir, e até Tony achava que não deveriam continuar aquela conversa.

— Bem... eu não quero machucar ninguém, Steve... não quero ser um instrumento decisivo, uma bomba que destrói o caos e dizima cidades inteiras... não quero nada disso e ainda estar atrelado a uma pessoa... sei que não posso ter uma vida normal novamente...

— Bem, nós não teríamos vencido a batalha de Nova York sem você. Tony podia ter morrido se não tivesse o pegado enquanto caia do buraco de minhoca. Você salvou o planeta de ser governado por um homem insano como Loki e muitas vidas foram poupadas... – O Capitão reforçava suas impressões sobre a batalha de Nova York.

— Fico feliz por ter essa visão sobre mim, Capitão, mas... eu realmente não consigo acreditar que poderei ter uma vida normal... já estou conformado com isso... – O Doutor finalizava, tristemente.

Bucky, que ainda ouvia a conversa entre os três, percebia que ele não era o único naquele meio que também tinha uma vida conturbada. De certa forma, todos os Vingadores também tinham isso em comum.

Steve se sentia culpado por ter insistido naquelas perguntas, e mediante tal clima, Tony resolvia animar tudo com suas piadas e extravagâncias fora de hora.

— Bem, devemos ir agora que pegamos os papeis com o Capicolé! Vamos deixa-lo em paz por ora, mas saiba que queremos saber dos detalhes do fondue que provavelmente deve rolar essa noite... isso se... você não bancar o Edward Cullen e dizer que só vai transar depois do casamento.– O bilionário se levantava da cadeira, rumo a porta.

— Não ligue pra ele, Steve. Você não deve satisfações da sua vida pessoal pra ninguém. – Banner tocava o ombro do Super Soldado, incentivando-o a não se preocupar com o Homem de Ferro e principalmente a Viúva Negra.

— Eu sei. Obrigado por reforçar isso, Doutor Banner.

— Eu espero que tenha um ótimo encontro e que tudo dê certo. – O cientista se despedia, seguindo Tony pela porta.

— Obrigado mais uma vez. – Steve os acompanhava até a porta, mas...

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Tony cruzava o caminho de Bucky novamente...

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O Homem de Ferro olhou o sargento de cima em baixo, com desprezo.

— E você vai continuar abrigando esse mendigo no seu apê até quando, Cap? – O bilionário destilava seu veneno contra o Soldado Invernal, fazendo o Capitão soltar um riso alto.

— Eu dei mais um mês pra ele. Se não arrumar um emprego decente, a rua será sua nova casa.

— Obrigado por expor a parte que me toca, Punk... – Bucky respondia Steve, com uma carranca bem visível.

Era óbvio que o loiro estava brincando. Ele e Bucky tinham uma amizade e cumplicidade tão forte, que nem o tempo conseguiria destruir, muito menos as piadas ácidas de Tony Stark.

— Aah... eu tinha me esquecido, você é o Soldado Invernal, certo? – Banner caia de paraquedas na conversa, tentando ser gentil, já sabendo de toda a história onde o mesmo assassinou os pais do Homem de Ferro.

— Fico feliz em dizer que hoje, não sou mais o Soldado Invernal, Doutor... – James redarguia, olhando para Steve, que sorria do outro lado.

— Você deve isso a Maximoff, caso contrário, não estaríamos os quatro aqui, tendo essa conversa. – O loiro respondia, deixando Tony ainda mais irritado.

— Sei... a garota aprimorada que queria me matar... só falta você me dizer que ele e ela se tornaram um casal, pra tudo se transformar num verdadeiro filme de terror... – O bilionário fazia uma piada maldosa, com o intuito de deixar o sargento com raiva.

— Bem... digamos que eu esteja me dando muito mal com ela em alguns aspectos... então, você já se deu mal com alguma garota também, Stark...? – Bucky direcionava a pergunta ao Homem de Ferro, que o encarou de modo desacreditado.

O gênio das Indústrias Stark piscou duas vezes e depois caiu na gargalhada com tanta força que teve que se curvar e apoiar as mãos nos ombros do cientista, que estava ao seu lado.

James franzia o cenho. Não entendendo aquela reação.

— Então, R2D2, você nunca pesquisou por mim no Google, certo? – Tony o questionava, ainda rindo.

— Não... quer dizer... talvez uma ou duas vezes, por quê...?

— É por isso que está me fazendo uma pergunta dessas... não conhece a minha fama... – O Homem de Ferro continuava rindo de forma descontrolada.

— Fama?

— A fama de garanhão. – Banner explicava, deixando o sargento ciente.

— Você está mesmo pedindo um conselho romântico pra conquistar aquela Elvira, digo, aquela garota aprimorada!? Posso filmar isso!?

— Ok... eu desisto... foi um prazer revê-lo, Stark, e um prazer conhece-lo Doutor Banner, então adeus, rapazes. – O sargento saia da frente da porta, deixando Tony rindo como louco.

— Bem, eu realmente preciso me aprontar agora, então nos vemos na semana que vem. – Steve assumia a frente, abrindo a porta para o bilionário e o cientista.

— Tenha um ótimo encontro, Capitão! – O cientista se despedia.

— Capriche no fondue! Não me decepcione, Cap! Só pega leva com a Barbiezinha porque ela pode não aguentar tanto no começo... seja carinhoso e paciente, e não tenha ejaculação precoce, ok? Se precisar de conselhos sexuais, pode me ligar. – Tony acenava, dando tchauzinho.

O loiro revirava os olhos mediante aquelas palavras obscenas, observando o Homem de Ferro e o cientista seguirem rumo as escadas.

Steve fechava a porta, respirando fundo e recuperando o fôlego.

Precisava terminar de se arrumar.

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O relógio marcava dez e meia, e o Capitão estacionava sua moto em frente a uma floricultura, perto da casa dos irmãos Maximoff.

Completamente arrumado para a ocasião, o loiro passava pela porta do estabelecimento, chamando muita atenção...

Todas as mulheres praticamente fixaram seus olhares nele, que mantinha uma postura imponente, caminhando tranquilamente com as mãos no bolso de seu terno escuro, olhando para todas as flores do local.

Steve estava trajado com roupas formais, o cabelo arrumado num topete impecável, totalmente barbeado e perfumado... era a ocasião mais especial de sua vida, e isso exigia um cuidado muito mais esmerado do que os demais episódios de sua rotina.

As garotas que trabalhavam na floricultura, suspiravam, encantadas com a beleza física do Super Soldado, além do perfume delicioso e extremamente refrescante que ele exalava.

Olhando atentamente para todas as flores, algumas lhe chamavam atenção...

Ele sorriu, completamente satisfeito ao perceber que o que tinha em mente, iria se concretizar...

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Alguns minutos depois, o loiro chegava a residência dos irmãos Maximoff...

Steve agarrou o buquê de flores que havia comprado, sentindo suas mãos tremerem levemente de nervoso, e então, atravessou o gramado da casa e subiu os degraus da entrada da porta.

O relógio marcava cinco minutos para as onze... e ele sempre mantinha sua pontualidade...

O Capitão se sentia um idiota por estar tão ansioso, no entanto, resolvia bater na porta enquanto tentava controlar sua respiração, já que seu peito pesava a ponto de seu coração parecer explodir de tão descompassado.

E dentro da casa, Wanda ouvia as batidas na porta, mas... não era isso que fazia um imenso barulho, e sim os pensamentos frenéticos da pessoa que acabava de chegar ali.

A feiticeira então resolvia chamar pela Segundo-Tenente.

— Mary, ele chegou.

Mediante ao chamado da garota, Kiara resolvia descer as escadas...

Ela descia degrau por degrau com um semblante muito apreensivo e preocupado, mas extremamente vestida para a ocasião.

A Segundo-Tenente encontrava com Wanda no meio do caminho, que já se assustava assustada com a expressão da loira.

— Você está indo para um encontro ou um enterro? – A feiticeira a questionava, erguendo uma sobrancelha.

Mary respirava fundo, extremamente nervosa e apreensiva.

— Eu estou com medo de fazer tudo errado... nunca saí num encontro antes...

— Fique calma, respire fundo e apenas seja você mesma. Não há motivos pra vocês se desentenderem como antes, certo? Então por que essa preocupação toda?

— É só que... eu não quero decepcioná-lo...

— Você não vai...

— Mas e se o Cap tiver expectativas altas demais e eu não conseguir corresponder?

Wanda soltava uma risada, achando tudo aquilo engraçado. Se Mary pudesse ouvir os pensamentos do Super Soldado do lado de fora, com certeza ficaria chocada.

— Vá por mim, ele deve estar mais nervoso que você, então suas ‘falhas’ passarão despercebidas.

— Será...?

— Você vai deixa-lo esperando? Vá logo atender a porta! – A garota empurrava a Segundo-Tenente na direção da entrada principal.

Kiara fazia respiração por diafragma, tentando se acalmar...

Ela contou até três mentalmente... e então...

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Mary Crystal abriu a porta e avistou Steve Rogers a esperando, com um buquê de flores nas mãos e um sorriso maravilhoso no rosto...

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O Capitão não disfarçava o quão deslumbrado estava ao vê-la em sua frente, quase se esquecendo de como respirar...

Mary estava lindamente encantadora, fascinante... magnífica... divina...

A garota trajava um vestido simples na cor branca, com texturas discretas em forma de bolinhas, algumas partes em rendas e as mangas num babado médio, um vestido discreto e singelo para uma garota como ela...

Ela também usava sandálias simples, maquiagem leve e os cabelos ondulados penteados para o lado, levemente tendo a impressão de estar diante de uma princesa de algum reino europeu...

Embora estivesse boquiaberto diante daquela beleza feminina tão primorosa e surpreendido pelo fato de Mary Crystal ter sido tão caprichosa em ter se arrumado da forma mais tradicional possível, Steve resolvia quebrar o silêncio constrangedor entre ambos.

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— Você está linda... – Ele dizia sem nem pensar direito, e a loira se sentia muito encabulada diante daquele elogio tão sincero.

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O sorriso tímido do Super Soldado a deixava ainda mais nervosa...

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— Obrigada... você também está lindo... – Ela respondia, insegura de si mesma, sem saber exatamente o que dizer ou fazer, afinal, de fato, Steve Rogers estava vestido incrivelmente perfeito...

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E então, com ambos tão embaraçados e frente a frente, o loiro percebia sua primeira gafe ao notar que Kiara fazia uma pergunta com o olhar ao mirar as flores que ele segurava.

— Ah... i-isso... pode p-parecer um p-pouco brega nos dias de hoje, m-mas pensei que talvez você pudesse gostar... - E então, o Capitão gaguejava, entendendo o buquê de flores na direção dela.

A Segundo-Tenente pegava o ramalhete embrulhado com um papel sedoso e automaticamente seus olhos brilharam em resposta...

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As flores eram lindas hortênsias, num tom de azul muito suave...

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Ela sorriu de forma resplandecente, ampla e feliz... seu olhar de esmeralda cintilava de alegria...

— Hortênsias azuis são minhas flores favoritas! Como você descobriu isso!? – Mary o contestava, muito impressionada.

— Aquela vez que te dei uma rosa champanhe em Newport Beach, v-você disse que suas flores favoritas eram hortênsias azuis... e-então eu apenas... pensei que você ficaria feliz em recebe-las... – O Super Soldado retorquia, com um leve rubor no rosto, ainda gaguejando de nervoso, mas feliz por contemplar o sorriso da loirinha, que amava aquele presente.

— Você se lembrou de algo que eu disse há tanto tempo assim? Uau... você é um homem muito atento e detalhista, Cap...

— Talvez... mas... você realmente não está achando que receber flores soe como um gesto brega? Bem... na minha época, era algo muito normal... – O Capitão virava o rosto, passando a mão direita pela nuca, mostrando inquietação...

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— Acho a sua breguice extremamente encantadora, Steve...

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— Isso é um alívio... - Ele sorria, tímido...

A garota agarrava o buquê com carinho e cuidado, sentindo o cheiro das hortênsias...

Mary fechou os olhos, inalando a fragrância das flores, com a deliciosa sensação de que Steven Grant Rogers estava lhe fazendo viver um romance dos anos 40, clássico... antigo... e conservador...

Contemplando a bela imagem da Segundo-Tenente com os olhos fechados, sentindo o aroma das flores, Steve a olhava com muita paixão... tentando gravar aquela cena em sua retina, eternizando-a em sua mente...

Se estivesse em um mundo onde metáforas e figuras de linguagem se tornassem reais, certamente o lindo sorriso brilhante de Mary Crystal seria o sol que iluminaria as manhãs de sua vida...

Ela estava tão linda... linda como jamais a viu antes... e como jamais imaginou... porque de todas as formas como a enxergava, não podia pensar que teriam um encontro onde a mesma colocaria um vestido tão comportado e bonito, em tons claros, texturas antigas e num molde antiquado... e o que dizer de seu cabelo? Ele estava modelado exatamente como os das mulheres da década de 40...

A incrível sensação que sentia, jamais poderia ser explicada... as borboletas em seu estômago estavam fora de controle... era tudo tão profundo e intenso...

Steve sentia o doce desejo de tocá-la e abraça-la com carinho, toda vez que se via dono daqueles olhos verdes em tons de jade...

E o dizer do maravilhoso cheiro de lavanda que Mary exalava? De suas pétalas invisíveis...? De seu caule e sua cor...? De seu sabor de flor...?

Kiara subiu o olhar na direção do Super Soldado, enquanto Steve descia o dele... e ambos encararam os lábios um do outro...

Era uma espécie de convite para um beijo, toda vez que os dois sorriam...

E então, Mary resolvia sair de seus devaneios e também tirá-lo dos dele.

— Eu vou lá dentro colocar as flores num vaso. Pode me esperar só um minuto?

— Claro...

A Segundo-Tenente correu para dentro rapidamente, arrumou um vaso de vidro e colocou as hortênsias azuis ali.

Wanda a observava com certo divertimento, mordiscando a unha, achando tudo muito lindo...

Steve e Mary dois formavam um casal belíssimo...

— Por que não o chamou pra entrar? – A feiticeira a contestava, com um sorriso ameno nos lábios.

— Por que já estamos saindo... e... cuide das flores pra mim!? Não deixe o idiota do Pietro despedaça-las. – A garota pegava um cardigã de lã no mesmo tom do vestido, por conta da baixa temperatura do outono Nova-Yorkino.

— Se ele ousar chegar perto dessas flores, quem vai ficar em pedaços é ele. Pode ir tranquila em seu encontro.

— Obrigada! Não tenho hora pra voltar, então nem precisa esperar por mim!

— Relaxa... tenha um ótimo encontro, Mary.

Kiara acenava para a garota, se despedindo.

A loira abriu a porta rapidamente, e lá estava de novo, nervosa e sem jeito na frente do Capitão.

— Bem... vamos então...? – Steve a indagava.

— Claro...

E então, ambos passaram a caminhar lado a lado...

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Ele estava muito nervoso...

Ela também estava muito nervosa...

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E por mais que tentasse disfarçar, era difícil não olhar para o Super Soldado pelo canto dos olhos.

Ele estava incrivelmente lindo, bem vestido, a barba feita e cheiroso... extremamente cheiroso... era um perfume diferente do que estava acostumada... o que a deixava ainda mais extasiada...

De fato... Steve Rogers tinha a aparência de um homem à moda antiga... e sua grandiosidade espontânea lhe atraía de formas impactantes...

Mary tinha medo de parecer uma idiota na frente dele, então se limitaria a falar apenas o necessário... porque diferente de antes, onde agia como uma garotinha má e cínica, era a primeira vez que teria de ser ela mesma... um evento raro...

Já o loiro, ainda se sentia como o cara magro e baixinho do Brooklyn... um rapaz que todas as damas davam vários foras...

Ao chegarem onde a Harley Davidson estava estacionada, o Capitão olhava para baixo, notando o joelho de Mary, com um Band-Aid, por conta do tombo de patins de poucos dias atrás.

— Como está o seu machucado?

— Melhor... obrigada por se preocupar... aliás, obrigada por ter cuidado de mim aquele dia... pelo chocolate quente... e... eu acho que já tinha agradecido antes, então me desculpe por parecer estranha, é só que... eu estou muito nervosa e esquecendo de tudo... – A garota agradecia, timidamente embaraçada, deixando-o um pouco assustado com tanta timidez, cortesia e sinceridade.

— Você é mesmo a Mary que eu conheço...? – O Super Soldado brincava, arrancando um sorriso acanhado dos lábios dela.

— Sim... – A loirinha olhava para ele, com uma feição inibida.

Quando Steve a fitou por um momento, apenas para vislumbrar aquela linda expressão tímida, acabou reparando imediatamente no pescoço da Segundo-Tenente...

Não tinha percebido antes, porque os longos cabelos loiros cobriram, mas Mary Crystal estava usando a correntinha com o pingente de floco de neve que ele a presenteou dias atrás...

Ao notar o olhar atento do Capitão, Kiara resolvia questioná-lo...

— O que foi...?

— Você está usando a correntinha... – Ele dizia, admirado e surpreso.

— Claro que estou usando... hoje é um dia muito especial... – Mary redarguia, como se fosse óbvio.

— É que... eu não estava preparado para ver isso... desculpe... – Steve confessava, sentindo seu coração batendo muito forte...

A garota sorria divinamente...

— Eu gosto dessa correntinha... foi um presente maravilhoso...

— Você gosta mesmo...? – O loiro perguntava, muito feliz, ainda não conseguindo acreditar, por mais bobo que fosse...

E então, a loira sorriu novamente, se achegando um pouco mais ao Super Soldado...

— Não, acho que eu não gosto... eu amo... – Ela terminava de sussurrar, enfatizando as duas últimas palavras, com uma expressão deslumbrada na face.

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“E eu amo você...” – Steve queria dizer isso em voz alta, mas não conseguiu... talvez fosse muito cedo...

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Os dois se entreolhavam, demasiadamente apaixonados...

— Fico feliz que tenha gostado... – Ele se limitava em responder aquelas singelas palavras, enquanto sentia um arrepio espinha abaixo.

Kiara o vislumbrava completamente fascinada, e então...

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— Acho que alguns anjos ainda pousam na terra, mas com as asas escondidas... - Ela se referia indiscretamente a Steve, que entendia a referência.

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— Está falando de si mesma, senhorita Ellis...? – O loiro a provocava, chamando-a por seu sobrenome, apenas porque desejava flertar com Mary o tempo todo aquele dia, afinal, teria de cortejá-la da forma mais incrível naquele encontro...

— Não... estou falando do nobre e ilustre Capitão América... conhece...? – A garota rebatia, sorrindo magicamente para Steve.

Um clima muito romântico pairava entre ambos... a ponto de seus rostos se aproximarem ainda mais... de modo espontâneo e natural...

Os olhos azuis claros do Capitão, tão extasiados encontravam os dela... tão verdes e em tons de água... folhas... floresta... mar...

— Devemos ir agora... – Ele piscava, sorrindo levemente enquanto erguia a mão para que ela segurasse e mantivesse o equilíbrio na hora de subir na moto.

— Então vamos nessa, gentil senhor...? – A loira segurava a mão quente do Capitão, se posicionando na garupa.

— Segure firme, senhorita... - Steve subiu logo em seguida, ligando a chave na ignição.

Mary circundou o corpo dele com seus braços, apoiando o rosto nas costas do loiro...

E então ambos partiram...

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Ao chegarem no restaurante onde Steve havia feito uma reserva, os dois eram escoltados por um dos garçons do estabelecimento.

Antes de sentar, Mary fazia menção de tirar seu cardigã, já que o clima dentro do local estava mais ameno devido ao aquecedor.

O Capitão se aproximou e num incrível gesto de cavalheirismo, lhe ajudou a tirar a peça de roupa de seus braços.

Kiara sorriu diante de toda aquela cordialidade celestial...

E então, eles se sentaram na mesa reservada.

O garçom trazia o menu e ambos passaram a ver as opções.

Como seu estômago estava muito pesado por conta do nervosismo, a Segundo-Tenente resolvia pedir algo leve.

— Eu vou querer apenas esse salmão ao molho de alcaparra.

— E para beber? – O garçom perguntava.

— O que você sugere, Cap...?

— Que tal esse vinho branco? – Steve mostrava a opção no menu para ela.

— Por mim tudo bem... – Ela redarguia, com um sorriso suave nos lábios.

— Certo. Vamos querer o salmão ao molho de alcaparra e essa opção de vinho branco. – O Capitão terminava de fazer o pedido ao garçom, que anotava tudo na comanda.

— Algo mais?

— Não vai querer nenhuma sobremesa, Mary?

— Não, obrigada.

— Então é só isso. – O Super Soldado finalizava o pedido.

O garçom dava um aceno de cabeça e se retirava.

E então, os dois ficaram em silêncio, se olhando, com sorrisos tímidos e rostos vermelhos...

Não sabiam como se comportar num encontro real...

Uma música fluía pelo local, algo que o Super Soldado conhecia.

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Ária na corda sol de Johann Sebastian Bach.

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Kiara percebia que Steve parecia conhecer aquela composição, por conta do semblante convencido que ele expressava.

— Você me trouxe a esse restaurante só pra esfregar na minha cara que conhece música clássica? – Ela o alfinetava, e o loiro notava a velha Mary encrenqueira ressurgindo das cinzas.

— Você não gosta dessa adaptação? Porque eu amo... – O Capitão sorria, plenamente satisfeito.

— Uau, que homem culto...! Mas sim, conheço essa adaptação. Esqueceu que toco piano? Você não vai conseguir me deixar constrangida, Cap... – A garota sorria, achando engraçado aquele bobo desafio entre ambos.

— Essa não é a minha intenção... – O Super Soldado dava de ombros, com uma expressão cínica.

Os dois sorriram novamente, mas ao mesmo tempo em que estavam imensamente felizes, também estavam imensamente perdidos...

— Então... sobre o que devemos falar? - Ele a indagava, introvertido.

— O que se fala em um primeiro encontro...? – Kiara colocava um dedo no queixo, olhando para cima, duvidosa.

— Não sei... nossos pontos de vista políticos?

— Nacionais ou internacionais? - Ela rebatia.

— Não tenho ideia... mas por onde começamos? Problemas socioeconômicos?

— Não... provavelmente vamos acabar travando uma guerra ideológica e eu não estou a fim... – A garota retorquia e ambos riam do desastre daquela tentativa estranha de fazer tudo soar incrivelmente normal num primeiro encontro.

— Por mais que eu ache que tenhamos uma visão política similar, também não tenho paciência para esse tipo de diálogo...

— Então vamos tentar de novo... me diga algumas coisas que não sei sobre você... o que realmente gosta de fazer... suas preferências... – Mary sugeria, fazendo Steve aderir a ideia.

— Bem... eu sempre gostei muito de ler livros de escritores do período do Romantismo e Anti-Transcendentalismo, mas meus favoritos eram os autores religiosos contemporâneos, do século 19 e começo do século 20, que possuíam uma cosmovisão mais criacionista... também gosto de músicas clássicas, mas também modernas como jazz e swing... aliás, esses gêneros não são mais modernos, então vou pular para a parte onde adorava apreciar o entretenimento audiovisual e ir ao cinema, além de também assistir a algumas peças de teatro, visitar galerias de arte e acompanhar exposições de alguns artistas de minha época...

Mary começava a rir discretamente, deixando-o confuso.

— Por que está rindo? – Ele a questionava, achando estranho.

— Vejo que você era um jovem bem moderno pra sua época... um verdadeiro nerd e fã de cultura pop...

— Nerd...? Cultura Pop? Isso são termos atuais desse século? – O loiro estava mais confuso ainda.

— Sim, já que você era bem inteirado na cultura de sua época... é isso que quero dizer.

— Bem, talvez eu realmente fosse... – O loiro passava a mão direita pela nuca, num gesto de embaraço.

— Eu sempre te chamei de fóssil por ser um homem dos anos 40, mas talvez no final, a fóssil aqui seja eu...

— Você...? Por quê...?

— Eu não sou exatamente uma garota da cidade grande... gosto de lugares mais tranquilos, que tenham a ver com a natureza... gosto de florestas, rios, montanhas e o oceano... e também amo observar alguns fenômenos da natureza vez ou outra...

— Como o quê por exemplo? – O Capitão arqueava uma sobrancelha, achando aquelas revelações muito inusitadas.

— Pilares de luz, bioluminescência, aurora boreal, parélios, arco-íris noturno, eclipse solar, relâmpagos vulcânicos, turbilhões de fogo, sol da meia noite... coisas assim... – A garota revelava, deixando-o assustado...

O que era tudo aquilo que ela dizia?

— Eu... não tenho ideia do que seja a maioria dessas coisas que você mencionou...

— Eu sei... não sou alguém muito normal, sabe...? – Ela corava, com o olhar cabisbaixo, segurando parte de seu vestido entre as mãos, enquanto se encolhia na cadeira.

Steve soltava um assobio baixo em resposta.

— Realmente não sabia que você era uma amante de fenômenos da natureza, mas ainda que seja algo peculiar, é bastante encantador... – O loiro piscava lentamente, olhando no fundo dos olhos dela.

— Bem, ao menos você não era zoado por gostar de coisas estranhas na sua época, certo? Eu não tive a mesma sorte...

— Você está brincando comigo?

— Não. Por que estaria, Cap?

— Porque... você é uma mulher linda, inteligente e filha do presidente dos Estados Unidos. Quem iria caçoar de você?

— Steve, você melhor do que eu, sabe, que não sou uma mulher normal... tenho parte do Tesseract em minhas veias... e isso é apenas um mero detalhe, mas nunca alcancei os padrões altos da sociedade... até na Força Aérea, era reconhecida por meus talentos, mas fora disso, sempre fui a esquisitona que gostava de coisas e lugares bizarros... os rapazes se aproximavam de mim por conta da minha aparência e status, mas quando me conheciam na essência, sempre davam um jeito de me dizer ‘tchau’.

— Isso... é sério...? – O loiro a questionava, muito assustado com tais revelações.

— Sim... acho que o único que realmente me levou a sério foi o Johnny, mas nessa época, o meu medo de ser eu mesma não me permitia abrir o coração pra viver um romance verdadeiro...

— Mas-

— Sou como você na parte de ser um esquisitão no século 21... e acho que devia estar feliz que possamos ter isso em comum, Cap... - Ela sorria, deixando-o ainda mais impressionado.

Steve olhava para Kiara e notava que havia tantas coisas que não sabia sobre ela... e estava ansioso por conhece-la verdadeiramente...

Se ele se apaixonou pela Segundo-Tenente desconhecendo quem a mesma era na essência, imagine agora que teria sua eu verdadeira diante dele todos os dias?

O Super Soldado ergueu seu corpo para frente, ergueu o braço e segurou a mão da garota por cima da mesa, com extremo carinho e cuidado...

A mão dele era tão grande, quente e aconchegante... Mary amava quando Steve expressava o quanto gostava dela...

— Lembra aquilo que te pedi ontem, quando você disse que gostava de mim?

— Minha lista de homem ideal?

— Você trouxe...?

— Sim... você trouxe a sua lista também...? – Mary Crystal o questionava, sentindo seu rosto esquentar de modo violento.

— Claro. Eu jamais esqueceria algo tão importante, então... vamos trocar ao mesmo tempo?

— Ok... – A loirinha assentia, timidamente.

Era uma ideia boba, mas romântica e divertida.

E então, ambos trocaram dois papeis dobrados ao mesmo tempo.

— Vamos ler ao mesmo tempo também...? – A garota o contestava, com o rosto muito corado.

— Sim...

— Então no três, nós abrimos... – Ela dizia, pronta para iniciar a contagem...

— Quando quiser...

— Um... dois... três... – Ao terminar a contagem, Steve abria o papel ao mesmo tempo que ela.

Quando o Capitão começou a ler o que estava escrito, seus olhos alargaram de surpresa...

Atributos do homem ideal para Mary Crystal Ellis:

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“Um homem atencioso, sensível, romântico e bonito. De preferência alto, forte, simpático, que seja naturalmente gentil e tenha uma alma bondosa e corajosa. Também precisa ser mais velho do que eu e muito maduro. Fisicamente, minha preferência é por loiros de olhos azuis, que lembrem meu ídolo de infância, porque talvez eu tenha idealizado alguém assim justamente porque sempre gostei do Capitão América dos quadrinhos que li. E bem, é quase impossível que exista um homem assim, mas quem sabe não tenha a chance de encontra-lo um dia?”

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O Super Soldado inclinava o rosto, ainda muito assustado com o que estava escrito ali.

— Mary... com quantos anos você fez essa lista?

— Com dezesseis anos... eu ainda era uma adolescente... mas não tiro uma vírgula do que está escrito aí...

— Uau... é impressionante, mas assustador...

— Bem... assustador é o que estou lendo aqui, Cap... eu sempre achei que você preferisse mulheres fisicamente como a Peggy...

— A única pessoa que conhece minhas preferências reais é o Bucky.

— Então, quando ele disse aquela vez lá em Coney Island que você gostava de loiras, não estava mentindo?

— Não, ele não estava mentindo... embora eu tentasse esconder esse fato de todos.

— Por quê?

— Por que era um modismo estranho da nossa época... a maioria dos homens gostava de mulheres loiras... e eu não queria parecer como eles, então acabava dizendo o contrário, até que acabei me convencendo falsamente disso.

Mary segurava o pequeno papel, ainda chocada com o que estava escrito ali...

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“Uma mulher corajosa, imediatista, ousada, desafiadora, inteligente, altruísta, mas com ideias e personalidade fortes, porém gentil, doce e meiga em seu íntimo, que esteja sempre pronta para ajudar, apontar críticas, fazer fortes contrapontos e usar de argumentos convincentes que me deixem sempre sem resposta, porque gosto de ser surpreendido e desafiado. A aparência ideal é do tipo baixa, magra, de estatura delicada e rosto angelical, cabelos loiros, olhos claros, e com um estilo que lembre Betty Grable, Lana Turner ou Rita Hayworth...”

.

Sentindo um nó na garganta, Mary via que ali, Steve narrava a maior parte de seus atributos pessoais, o que de fato era chocante...

— Preciso pesquisar sobre essa Betty Grable, Lana Turner e Rita Hayworth, porque não tenho ideia de quem sejam...

— São ótimas atrizes... acho que vai gostar dos filmes delas... – O loiro redarguia, convicto, enquanto mantinha um sorriso discreto.

Mas a verdade nua e crua era que, mesmo se tivesse outras opções, Mary Crystal sempre seria sua escolha...

Os dois se olhavam, sorrindo... tudo estava tão perfeito, aconchegante e brilhante...

E mais uma vez, Steve deslizava sua mão na direção da mão da Segundo-Tenente, segurando-a com carinho e delicadeza...

Todos que passavam ali, achavam o jovem casal muito bonito... eles ficavam lindos juntos... possuíam doces olhares, sem terem consciência disso... quando próximos, ambos perfilavam ainda mais suas posturas... os dois quase cintilavam...

O bonito de dentro, estimulava o bonito de fora do outro e vice-versa, numa incrível harmonia e simetria...

Mary fitava Steve, desejando pegar todas as dores dos ombros dele e colocar nos seus, apenas para deixa-lo livre e mais leve... queria que ele sentisse que com ela, as coisas ficariam mais fáceis... que podia ajuda-lo com seus problemas, ainda que ela mesma fosse mais um...

A Segundo-Tenente sentia que podia dar a ele o céu, o mar, as nuvens e tudo o que desejasse e com ele, iria para qualquer lugar... porque não conseguia ver outro caminho que não a levasse até Steve...

O Capitão era um abraço para sua alma... um beijo em seu coração... um lindo colírio para seus olhos e inspiração para seus dias... ele era sua esperança em meio a escuridão e as estrelas em seu céu...

O loiro tinha um sorriso tão gostoso e uma alma tão bonita, dourada e celestial... muitas vezes se sentia nas nuvens, apenas por contemplá-lo...

Depois de meses sendo tão má e implacável, seu lado doce agora dava as caras... mas sabia que vez ou outra revezaria com seu jeito indomado, acirrado e obscuro, andando lado a lado... e ela também tinha noção que agora, Steve apreciava isso... sua natureza mansa e ácida... de seu jeito tão à flor da pele...

Era exatamente isso que o Super Soldado gostava em Mary Crystal... seu corpo esguio tão sedutor, mas seu avesso tão lindo...

E vê-la sorrindo, era como ver uma flor desabrochar... terna e delicada...

Em meio a todo o caos do mundo, ela escolhia ser a turbulência dele... ela escolhia ser doce, mesmo diante de tantos rancores... escolhia ser amor para ele, mesmo num mundo tão cheio de dor... e escolhia ser sonhos, num lugar repleto de ilusões...

Porque Steve tinha a calma do céu e o mistério das estrelas no olhar...

Seu ateísmo no amor, nunca mais seria páreo para o olhar messiânico de Steve Rogers...

Mary sentia-se florescer em pleno outono... entre a desfolhagem costumeira, seu coração se coloria de belas flores, e se cobria com aromas doces em seu âmago...

Os universos particulares dos dois colidiam, quando seus olhares se encontravam... havia um magnetismo... uma energia a favor do encontro astral daqueles dois pares de olhos... talvez uma energia cósmica que entrava em colapso ao se deparar com tanta força magnética de dois seres, cujos olhares estavam em perfeita sintonia...

Mary via seus olhos no reflexo dos olhos de Steve... como quando o mar achava que era o céu e abraçava a lua...

E então, depois de muitos minutos, o garçom trazia a refeição dos dois.

Eles sequer notavam o tempo passar quando estavam juntos...

.

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Após saírem do restaurante, Steve e Mary iam ao Lincoln Square, um cinema famoso que ficava em Manhattan.

Naquele momento, eles assistiam Frankenweenie, um filme que contava a história de Victor Frankenstein, um garoto que perdeu seu cão Sparky num acidente de carro e que após seu professor de ciências o ensinar sobre bioelectricidade, tentava trazer Sparky de volta à vida.

E por mais incrível que pudesse parecer, por mais que Steve e Mary estivessem muito apaixonados e completamente nervosos na presença um do outro, ansiando por um contato mais próximo e íntimo, o único momento em que tiveram sossego era na exibição do filme.

Sim, porque todos os casais ali aproveitavam o escurinho do cinema para fazer daquele momento o mais romântico e clichê possível... mas o casal STARY comia pipoca e bebia refrigerante, prestando máxima atenção na gigante tela, apreensivos e muito concentrados no filme, totalmente curiosos sobre a história.

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Todos os casais trocavam amassos, menos os dois...

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Porque que graça tinha ir ao cinema pra se amassar? Alguém explique a lógica de você pagar caro nos ingressos e ficar beijando outra pessoa enquanto perde o filme...?

Enquanto muitos casais perdiam o espetáculo da gigante tela, Steve e Mary aproveitavam cada segundo, surpreendidos principalmente pelo desfecho emocionante.

E com o término do longa-metragem, ambos saíam da sala, percorrendo o corredor vermelho, muito emocionados e empolgados com o final de Victor e Sparky.

— Se ele não voltasse a vida no final, eu juro que ia lá na casa do Tim Burton tacar umas pedras na janela dele!!! – Kiara comentava o final do filme, ameaçando deliberadamente o diretor, limpando resquícios de lágrimas em seus olhos.

A Mary má ainda estava ali... dando as caras e trocando de lugar com a Mary meiga.

— Fazia décadas que não assistia nada no cinema, mas esse filme foi excelente... nunca algo mexeu comigo assim, depois de tanto tempo! – Steve afirmava, também empolgado e emocionado, afinal, os filmes de sua época eram menos emotivos do que os dos dias atuais.

— Fico feliz que tenha gostado, Cap! Achei que um filme assim seria a sua cara! – A loirinha replicava, sorridente e um tanto risonha.

Os dois se encaravam intensamente, mas algo ao redor chamava muita atenção...

Todos os casais que passavam por eles, estavam abraçados por conta do frio daquele outono tão gelado.

Mary e Steve meio que se sentiam deslocados... não sabiam exatamente como agir, porque era o primeiro encontro real dos dois.

— Ah, bem... você quer beber alguma coisa quente...? – O Super Soldado sugeria, olhando para baixo, com um leve rubor enfeitando suas bochechas.

Kiara o observava lentamente... aquele cavalheirismo tão cristalino... aquela gentileza tão esplêndida... aqueles gestos tão maravilhosos... céus, como Steve conseguia ser daquele jeito, tão incrível...? E então, ela resolvia provoca-lo...

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— Sapevi che sei l'uomo più perfetto dell'universo...? (Sabia que você é o homem mais perfeito do universo?)

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O loiro arqueava uma sobrancelha, não entendendo uma sílaba sequer daquelas palavras em Italiano.

— Será que você poderia traduzir...? Ou terei que fazer aulas de Italiano pra conseguir entender tudo o que você quer esconder de me dizer em inglês? – O Super Soldado sorria, encantado por aquele dialeto tão bonito e proferido pelos lábios da garota ao qual era perdidamente apaixonado.

— A tradução é: podemos deixar essa bebida quente para mais tarde, quando estivermos encerrando a nossa noite, o que acha...? – Mary o enganava, mas aceitando a sugestão dele de se aquecerem mais tarde com alguma bebida típica para o frio.

Ela sentia seu coração quase pulando pela garganta, ao constatar que ainda estava em seu encontro com Steve.

— Certo... então vamos encerrar nosso encontro numa cafeteria, senhorita?

— Sim, pode ser...

— E para onde vamos agora...? – O Capitão olhava para os lados, procurando a próxima parada para onde iriam.

Mary o fitava com aquele olhar de menina travessa que aprontaria, e então...

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Ela ficava na ponta dos pés, pressionando um beijo no rosto dele, pegando-o totalmente de surpresa...

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A loirinha sorria como uma criança, o deixando ainda mais acanhado diante daquele movimento repentino.

Steve estava tão distraído olhando para os lados, decidindo para onde iriam, que tinha esquecido aquela linda, doce e assustadora realidade... de estar ao lado de Mary Crystal num encontro...

— Você não cansa de me surpreender...? – Ele a indagava, um tanto acanhado.

— Não canso! E para onde vamos agora, Cap...!? – Os olhos da garota brilhavam de empolgação.

— Pensei no Central Park... o que acha...?

— Sério...? Que clichê...! Todos os casais passeiam lá no outono! – A Segundo-Tenente fazia uma piada.

— Não é clichê... você já viu como o Central Park fica no outono?

— Nunca vi... é bonito...?

— É um cenário digno de filme... então, pensei que você fosse gostar... – O loiro recomendava, um pouco impressionado por ela sempre lhe deixar tomar a frente de tudo naquele encontro.

Mary sorria, completamente satisfeita...

— Você já foi lá no outono...?

— Sim... muitas décadas atrás...

— Certo, então lidere o caminho, soldado... – A loira ordenava, fazendo Steve encará-la confuso.

— Por que quer que eu vá na frente?

— Pra que eu possa ver essa sua linda bunda patriótica nesse terno maravilhoso... não posso...?

— Tenho uma ideia melhor...

— Qual...?

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E então, Steve pegava na mão da garota, entrelaçando seus dedos nos dela com firmeza.

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— Podemos caminhar juntos e lado a lado... não quero ir na sua frente... quero estar ao seu lado, observando todos os seus passos e suas expressões faciais com atenção...

Kiara sentia seu estômago se contorcer de tanto nervosismo...

— Tudo bem Cap... você não vai perder nenhuma expressão minha...

E então, eles sorriram um para o outro, saindo do cinema, caminhando direto para o Central Park.

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Eles estavam aprendendo muito um do outro aquele dia... mas o melhor ainda estava por vir...

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