Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 60
A declaração desesperada da Segundo-Tenente




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A declaração desesperada da Segundo-Tenente

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23 de Novembro de 2012, 09:15 AM

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Brooklyn – Nova York

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Sam Wilson se encontrava com Steve Rogers numa cafeteria perto da casa do Super Soldado.

Os dois não se viam há um tempo, já que o Falcão estava muito atarefado com sua carreira na Força Aérea.

O aviador observava o loiro chegando ao local, pela parede de vidro da cafeteria.

O sino da porta tocou quando Steve entrou.

Se aproximando da mesa, o Capitão acenava para Sam.

— E aí, Cap...! – Ele o chamava, acenando com a mão direita.

— Desculpe o atraso. – O Super Soldado sorriu, se juntando a ele na mesa.

— Você parece feliz hoje... aconteceu alguma coisa boa nos últimos dias?

— Coisas bem loucas e que você nem imagina... – Steve sorria plenamente satisfeito, se recordando de como estava aliviado pela forma como ele e Mary Crystal estavam se dando bem nos últimos dias.

— Sei... aposto que tem a ver com a Mary, certo...? Ela está de volta a Nova York, não é?

— Como sabe?

— O Coronel Rhodes me disse... rapaz, você não sabe o quanto o Senhor Presidente pulou de alegria por saber que a filha voltou pra perto do quase-genro dele.

Os olhos do Capitão alargaram no mesmo instante.

— Quase-genro...? Do que está falando...?

— Ai ai... você é mais ingênuo do que demonstra... – O Falcão sorria cinicamente, apoiando as costas sobre o banco acolchoado onde estava sentado.

— Não estou entendendo...

— Bem... já faz alguns meses que o Senhor Presidente, a primeira dama e o seu quase-cunhado estão numa campanha de oração para que você e a Mary comecem a namorar. A coisa tá tão séria, que parte dos congressistas mais próximos dos três, fizeram uma roda de preces numa reunião secreta na Casa Branca, pedindo a Deus que vocês dois se acertassem. – Sam revelava, deixando Steve completamente assustado.

— Sam... eu realmente não estou estendendo...

— Você não sabe? O casal mais esperado por todos os amigos mais íntimos da família Ellis é a filha do Presidente dos Estados Unidos e o Capitão América! Como eu sei disso!? O Rhodes nos disse! Ele me conta tudo, afinal, vez outra estou fazendo bico de segurança da Mary.

— Você sabe que se continuar fazendo essas piadas, eu vou acreditar, certo? – O loiro achava que tudo aquilo era só mais uma brincadeira do aviador.

— Não é piada, Steve... todos estão na torcida por vocês dois... todos menos a Agente 13, porque até onde sei, até Peggy Carter tem acendido uma vela todos os dias, e pedido para que os cupidos acertem os coraçõezinhos de vocês dois de uma vez só. – E então, o Falcão fazia o símbolo de uma arma com os dedos, apontando na direção do Super Soldado.

— Isso não pode ser verdade... e eu não quero mais continuar divagando entre você estar sendo irônico comigo e dizendo algo que é assustador.

— Vamos esquecer isso por enquanto, mas me diz... como estão as coisas com a fadinha? Vocês deram um passo a mais nessa relação ‘inimizadade-amizade-colorida-rividalidade-quase-namoro’?

— Acho que sim... a Mary está bem ciente dos meus sentimentos por ela... – Steve afirmava, convicto.

— Dá pra ver por esse sorriso bobo de menino apaixonado... aposto que o rosto dela é o último que você quer ver todos os dias... – Ele brincava e o loiro confirmava.

— Por enquanto, só a vejo por último por pensamento... se bem que ontem, de fato o rosto dela foi o último que de vi de verdade...

— Vocês saíram juntos?

— Não. Ela estava andando de patins perto do meu apartamento e acabou se machucando, então eu a levei para dentro, cuidei de seu ferimento e preparei chocolate quente com pedacinhos de marshmallows. – O Capitão revelava, totalmente orgulhoso de si mesmo.

— Uau!!! Você preparou chocolate quente pra sua garota!? E ainda por cima com marshmallows!? Excelente plano de ataque, Cap! – O Falcão sorria, feliz por seu amigo.

— Ela ainda não é a minha garota... – O Super Soldado replicava, sorrindo como um idiota...

— Mas pelo que estou vendo, vai se tornar em breve, então não desista!

— Não vou desistir... – Steve mantinha o sorriso resplandecente. Embora estivesse envergonhado sobre Mary ter descoberto seus desenhos secretos e ainda quisesse enforcar Natasha Romanoff se ela aparecesse em sua frente, estava grato que tudo tivesse terminado bem.

— Você não sabe como estou feliz por você... fico me recordando de como era no começo, você negando, fugindo e escapando, com medo de se arriscar... quer dizer, você é o tipo de cara que tem coragem de se jogar de um avião sem um maldito paraquedas, mas não conseguia se jogar de cabeça em seus sentimentos por alguém como a Mary?

— Isso é passado agora, Sam...

— E quando vai chama-la pra um encontro?

O semblante alegre de Steve se desfez no mesmo instante em que ele ouviu a palavra ‘encontro’.

— Não... eu não vou chama-la pra sair, porque da última vez foi um desastre... nós discutimos feio, nos desentendemos de uma forma tão violenta, que logo depois ela foi embora para o Colorado e ficamos um bom tempo sem nos ver.

— Você está com medo de estragar tudo como fez da primeira vez?

— Sim...

— Acha que a Mary vai te rejeitar de novo?

— Sim... então prefiro manter tudo como está.

— Ah, qual é, cara! É diferente agora que você não está mais saindo com a Agente 13! Não há mais empecilhos entre vocês dois!

— Prefiro pensar que assim é melhor. A Mary também não me disse até hoje como se sente sobre mim... – O loiro redarguia, com certeza melancolia na voz, esperando que não demorasse tanto para que ela confessasse que também era apaixonada por ele.

— Você sabe que a senhorita encrenca também gosta de você, certo?

— Sim... mas se até agora ela não me disse apropriadamente, deve ser porque ainda se sente insegura ou está confusa... eu não sei o que se passa na cabeça da Mary e prefiro esperar pacientemente pelo dia que ela se confessará pra mim...

— Uau... que homem mais tranquilo...! Admiro isso em você, porque se fosse qualquer um, ia marcar cerrado em cima!

— Mas eu não. No dia que ela estiver pronta, eu estarei de braços abertos esperando...

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Algumas horas depois, no meio da tarde e em Manhattan, Mary Crystal almoçava com sua amiga, Christine, que tinha acabado de sair de mais um plantão no hospital.

A médica sentava na mesa da lanchonete, sentindo suas costas doerem depois de mais uma madrugada de trabalho...

— Céus, hoje foi um daqueles dias terríveis, e pra variar, o chato do Doutor Strange fez questão de ficar pegando no meu pé o tempo todo... – A cirurgiã reclamava com a loirinha, que soltava um riso bobo.

— Acho que ele tem um crush em você, Chris...

— Não, eu acho que ele quer me trucidar mesmo... eu sou a novata do hospital... não nos conhecemos direito, então talvez ele se ache no direito de me esculhambar pra testar minha paciência... – Ela dava de ombros.

— Sorte a dele que você seja tão paciente...

— E o que vamos pedir? – Christine pegava o cardápio, olhando as opções do menu.

— Não sei... não estou com muita fome hoje... – A Segundo-Tenente redarguia, sentindo-se exausta mentalmente e emocionalmente.

— Por que está assim? Não me diga que é por causa do Capitão...? – A médica a indagava, curiosa em saber o que aconteceu depois do encontro estragado de Steve com Sharon.

— Ai, Chris... eu nem te contei, né...? Fui num “encontro duplo” com a Wanda, o Bucky e o Steve em Coney Island... deu tudo errado, fiquei bêbada, fiz uma cena e a Sharon flagrou o Cap comigo...

— Céus, que babado!

— Depois disso, a Nat invadiu o apartamento dele e me arrastou pra dentro só pra me mostrar uns desenhos que o Steve fez de mim e eu fiquei bem assustada com o que vi naquela pasta...

— O Capitão América te desenhou e guardou tudo numa pasta!? Me conta isso direito!!! – A cirurgiã mostrava muita empolgação em saber sobre os últimos detalhes daquela ‘novela tragicômica romântica’.

— O Steve tem um dom surreal como artista... ele desenha super bem e faz isso como hobby. No dia em que te reencontrei lá em Santa Mônica, eu descobri que ele me desenhava. Na hora fiquei chocada, mas depois desencanei, porque julguei que não fosse nada demais, só que depois que a Nat me levou ao apartamento dele e vi dezenas de retratos meus, desenhados a lápis, nanquim e carvão, percebi que a coisa era mais séria do que poderia supor...

— Uau... isso é realmente extraordinário, Kiara... ele é tão apaixonado por você, que acabou replicando parte de sua paixão através dos desenhos...! Isso é muito romântico! - Christine sorria... um sorriso largo de orelha a orelha, aberto e completamente resplandecente.

— Sim... e... bem, não parou por aí... – Mary Crystal sentia seu rosto começar a esquentar, quando se recordava dos outros desenhos no fundo da pasta...

— Tem mais!? Me conta!!! – A médica só faltava pular no assento.

A loirinha tomou fôlego e soltou tudo de uma vez...

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— Ele também me desenhou nua...

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Os olhos de Christine Palmer arregalaram, completamente assustada com o que sua amiga lhe revelava.

— Você tá falando sério!??

— Sim... – Kiara assentia, com o rosto muito enrubescido.

— Então essa paixão que ele sente por você já evoluiu para níveis bem mais altos! Aliás, eu já tinha certeza há tempos que não era uma simples paixão...

— E o que é então, Chris...?

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— É amor, Kiara... o Capitão América te ama...

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As palavras de Christine assustavam Mary Crystal... porque mesmo que o Super Soldado dissesse com todas as letras, e até provasse que de fato a amava, a Segundo-Tenente ainda não conseguia acreditar.

Ninguém nunca soube do medo exagerado que ela tinha de corresponder os sentimentos de alguém e amar demais... de se perder de tanto amar e não ser boa o suficiente... aliás, Kiara tinha certeza que nunca seria boa o suficiente pra ninguém, quanto mais pra um ser tão celestial e perfeito como Steve Rogers...

Tinha muito medo que o Capitão fosse um caminhão de luz que a esmagaria e a cegaria na frente de todos... tinha medo de ser um saquinho frágil de bolinhas de cristal e de ele abri-lo... e então, suas bolinhas correrem para vários cantos do mundo e entrarem pelas valetas do universo...

Se isso acontecesse, ela nunca mais conseguiria se juntar novamente...

Mary tinha medo de abrir o espartilho superficial que apertava todos os dias para se manter ereta, firme e impenetrável. Sua angústia particular a fazia parecer segura...

Sim, porque a garota tinha medo, mas tanto medo que Steve melhorasse sua vida de um jeito que nunca mais pudesse se ajeitar sozinha, que a melhor opção era sair correndo para longe dele...

Ela tinha medo de deixar de ser irônica e infantil... tinha medo de deixar de ser menina, de ser estranha, de ser sozinha, de ser triste e cínica... Mary tinha muito medo de deixar de ser aquela personagem idiota que todos odiavam e de ser ela mesma, porque temia se machucar, mas... como seria se isso acontecesse? Qual seria a sensação?

— E o que você fez depois que descobriu sobre os desenhos? Contou pra ele!? – Christine a tirava de seus devaneios através daquela pergunta.

— Eu fui andar de patins pra espairecer na noite daquele mesmo dia que descobri sobre os desenhos, e então eu caí em frente ao apartamento dele... daí o Cap viu meu tombo pela janela da sala, me levou pra dentro, cuidou do meu machucado, fez um curativo no meu joelho e por último... fez chocolate quente com pedacinhos de marshmallows pra mim... – Ela colocava as duas mãos no rosto avermelhado, escondendo a vergonha e a felicidade que sentia.

— Como é que é!? Ele fez chocolate quente com pedacinhos de marshmallows!? E eu aqui sentindo pena de você, sua safada!!! – A cirurgiã começava a bater na amiga, que ria como uma criança, feliz, mas ainda desacreditada.

— Eu comentei com ele sobre os desenhos e a resposta que tive foi a mesma... ele só reforçou o que eu já sabia...

— Reforçou que é apaixonado por você?

— Sim...

— E o que você respondeu a ele?

— Nada... eu não consegui dizer nada, Chris... – Ela confessava, triste consigo mesma.

— Por que é tão difícil, Kiara? É por causa do seu passado por conta do bullying? Você ainda não superou isso!?

— Eu acho que não totalmente... e... você consegue imaginar alguém tão perfeito como o Cap, apaixonado por alguém como eu?

— E por que não? O que há de errado com você que o impediria de se apaixonar?

— Eu tenho uma personalidade terrível e... nem sou tão bonita assim...

— Ah, por favor, Mary! Não me venha com crises de baixa autoestima! Você é linda e sabe disso!

— Ainda me olho no espelho e vejo aquela garota cheia de problemas... doente, incapaz de tantas coisas simples...

— Mas você não é assim há muitos anos! Por que toda essa insegurança!?

— Eu não sei... – Mary suspirava, triste consigo mesma.

— Ouça... apenas se entregue a esse sentimento tão bonito que você tem por ele... acho que tá na hora de você sair do casulo, abrir suas asas e voar... permita que a felicidade que você pode ter ao lado dele, te guie daqui pra frente! – A médica a incentivava, mas a loirinha ainda não conseguia se libertar.

— E se eu fizer tudo errado...? E se eu o magoar e fizer tudo ficar pior? – Os olhos verdes mostravam um brilho reluzente e meio vítreo, por conta de duas lágrimas que passavam a se acumular embaixo de suas pálpebras... Steve era alguém tão precioso, que temia machucá-lo por conta de suas imperfeições...

Kiara não era do tipo sensível, muito menos sentimental, muito menos romântica, muito menos idiota... mas... se sentia perdida e sem saída...

— Não vai dar errado se vocês forem se ajustando com o tempo... ele gosta de você, você gosta dele... já é um belo começo! – Christine sorria para a amiga, tocando o rosto dela com a ponta dos dedos, num meigo gesto de carinho.

— Você acha...? – A Segundo-Tenente a indagava, numa mistura de medo e confusão... e uma expressão de adolescente apaixonada tomava conta de sua face...

— Claro que sim e... você devia olhar pra sua cara agora! Parece uma colegial!

— Eu sempre odiei essa expressão na cara de pessoas apaixonadas... eca! – Mary fazia um beicinho, indignada.

— De qualquer forma, se as coisas deram errado até agora, é porque você ainda está no meio de um capítulo e não no fim da história, então continue andando... seu príncipe encantado está te esperando no fim da estrada!

— A coisa mais irônica nisso tudo é que de fato o Cap parece um príncipe encantado, de tão perfeito... – Os olhos esverdeados brilhavam, maravilhados ao lembrarem do Capitão América.

— E você pode ser a princesa encantada dele! Se o Capitão já conhece o seu pior lado, mas ainda assim quer estar com você, então é amor... disso eu tenho certeza!

— Será mesmo...?

— O que mais você precisa pra ser totalmente convencida, Kiara...?

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— Acho que ela precisa ler isso aqui.

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Uma voz familiar interrompia a conversa das duas garotas.

Natasha Romanoff entrava no local, com um sorriso no rosto, olhando fixamente para a Segundo-Tenente.

— Nat...? O que tá fazendo aqui...? – Mary limpava os poucos resquícios de lágrimas em seus olhos.

— Estou aqui há um tempo ouvindo a conversa de vocês duas. Me perdoem a intromissão, mas minha natureza de espiã me empurrou para isso. Posso me sentar?

— Por mim tudo bem... – Christine abria espaço na mesa para que a ruiva se sentasse.

— Por que tá aqui dizendo na maior cara dura que estava ouvindo nossa conversa? – A loira a questionava, confusa.

— Porque eu já sabia que só os desenhos não surtiriam tanto efeito em você e resolvi dar a tacada final.

— Que tacada final!? – Kiara franzia o cenho, assustada com as palavras da Viúva Negra.

O que ela aprontaria dessa vez?

— O Rogers provavelmente vai querer me matar de novo, mas eu roubei uma carta que estava no fundo daquela pasta de desenhos no apartamento. Só não entendi porque ele não deu falta até agora.

— Roubou...? Do que você tá falando Nat? Que carta é essa!?

— Uma carta que provavelmente ele escreveu quando você ainda estava no Colorado. Acho que o Capitão pretendia enviá-la pra você, só que por algum motivo, deve ter desistido...

Mary respirou fundo, sentindo seu estômago dar cambalhotas...

— Natasha... eu não quero ver as coisas do Steve sem o consentimento dele, então se você veio até aqui pra me entregar essa carta esperando que eu leia, sinto dizer, mas não vou fazer isso...

— Ah é...? Tem certeza...? Pois eu acho que você devia ler, porque isso pode te ajudar a deixar de ser uma idiota indecisa e aceitar de uma vez por todas que você deve dar uma chance a ele.

— E porque essa carta me convenceria?

— Se você ler, vai entender... é uma carta de amor, Mary... algo que somente homens de antigamente faziam... tem ideia do quão sortuda você é por isso...?

— Mas-

— Kiara, faz o que ela está pedindo. Leia... você não tem nada a perder... – Christine incitava a amiga a seguir o conselho da ruiva.

A garota olhou para as duas mulheres em sua frente, com uma expressão assustada...

Natasha erguia o envelope na direção dela, e então, depois de muito hesitar, a garota o pegava de suas mãos.

Na parte do destinatário, estava escrito o nome dela...

Para Mary Crystal.

A Segundo-Tenente fazia respiração por diafragma, ainda assustada com o conteúdo que tinha ali...

Ela resolveu abrir e desdobrou duas folhas delicadamente...

A caligrafia do Super Soldado era mesmo incrível... tudo alinhado, simétrico e escrito perfeitamente, sem um erro sequer...

Mary suspirou fundo, contou até três e então, começou a ler...

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Nova York, 25 de Outubro de 2012.

Não sei se essa carta chegará até você, mas saiba que semanas antes, pensei em várias formas de ir até o Colorado pra te dizer pessoalmente tudo o que está escrito aqui, só que não tive coragem. Me perdoe por isso. Então, vou começar do começo.

Várias semanas se passaram desde que você partiu. Em breve fará dois meses que não nos falamos. Não sei como tem sido pra você, mas pra mim, tem sido difícil.

Você se tornou tudo em pouco tempo, e agora é um quase. Eu quase estou conseguindo pensar em você como se não fosse nada. Quase desisto de tudo e quase ignoro, sem me sentir tão mal, então eu termino o dia tendo quase certeza que dá pra prosseguir sem que você esteja aqui e... quase consigo me convencer disso, mas não dá mais.

Você foi embora e eu fiquei. Também percebi que você levou partes de mim que antes eu nem sentia falta. Você continua escrevendo sua história, pulando linhas, errando palavras e esquecendo títulos. E eu continuo escrevendo seu nome com letras cheias, para tentar preencher o espaço vazio que ficou, pra deixar tangível a sua existência de alguma forma, e principalmente pra amassar o papel e jogar no lixo de novo... sim, porque tenho feito isso todos os dias.

Agora vamos para a parte onde me acho um idiota? Você provavelmente riria se visse essa cena patética.

Eu nunca imaginei, logo eu que não acredito em conto de fadas, que começaria a viver um, com uma certa garota que mais parece uma bruxa má do que uma princesa encantada... que mais parece uma vilã do que uma fada... ou uma sereia... ou uma ninfa... ou até mesmo um anjo... me sinto patético por pensar que você seja a mistura de tudo isso, porque é assim que meu coração bobo te enxerga.

Só queria te dizer que você quebrou as minhas expectativas, mudou minhas definições, derrubou todas as minhas opções e melhorou algumas prerrogativas. Isso seria ótimo, se não tivesse te entregado tudo o que tinha até ficar de mãos vazias, mas não me arrependo.

Você partiu e me partiu, porém, essa não foi a primeira vez que vi alguém importante indo embora, porque minha vida sempre foi assim... as pessoas que estimo sempre acabam me deixando, e apesar de já estar acostumado, ainda dói e muito.

Acabei ficando ainda mais perdido e sem rumo depois que você foi embora. Me vi machucado e caído, abandonado e desiludido. É indigno confessar isso, mas não tenho vergonha alguma, então só queria te dizer que você é importante pra mim e que não consigo te deixar ir, porque no fundo sou egoísta e só penso em mim mesmo. Quer a maior prova disso? Saiba que se eu pudesse salvar o mundo hoje, a minha maior motivação seria salva-lo apenas para te proteger.

Me perdoe por ser um idiota que ainda se importa e que apenas te vê como a pessoa que me ensinou a olhar mais pra mim mesmo e me redescobrir. Eu não ando sendo altruísta ultimamente, e a culpa é sua, Mary Crystal. Te agradeço por ter estado ao meu lado todo esse tempo e ter me ajudado a recuperar o que nunca tive: meu olhar sobre mim mesmo, fora da imagem idealizada do Capitão América... eu sou apenas aquele garoto tímido do Brooklyn, enxergado no fundo de uma sala escura por você.

Vou tentar esquecer o sonho que tive na última noite a seu respeito, e que na verdade sei que é meu subconsciente me dizendo que nunca vou conseguir te esquecer, porque sim... eu te amo e finalmente consegui escrever isso... eu te amo... e é libertador confessar, ainda que por palavras escritas num papel, como todos os homens faziam antigamente... e se você receber essa carta, me desculpe por soar tão brega e retrógrado... não sei se as pessoas se confessam assim... talvez elas mandem um e-mail ou SMS, mas não estou acostumado com isso.

Finalizo reforçando o que escrevi aí em cima: Eu te amo, de uma forma como nunca amei ninguém, porque é diferente de amor fraternal, e diferente do amor que tive por Peggy. É real e estou feliz por perceber o quão humano sou por sentir isso. É real e é por você.

S.G.R

PS: Ainda estou decidindo se vou enviar essa carta a você.

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Ao terminar de ler, Mary nem mesmo percebia que deixava escapar quatro lágrimas de seu rosto, caindo em cima dos papeis que lia.

Natasha e Christine observavam a garota agora cobrir metade do rosto com a mão direita, apenas tentando não chorar ainda mais com o que acabava de ler.

Ele confessou que a amava? Era mesmo amor? Justo ela, alguém tão imperfeita?

E pelo que conhecia de Steve, ele provavelmente desistiu de enviar aquela carta porque não tinha coragem de dizer com todas as letras “Eu te amo”. Devia ser difícil pra ele... o quanto não deve ter sofrido todo aquele tempo por ela ter sido tão cruel e o empurrando para longe?

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O Super Soldado não sabia, nem sonhava, mas acaba de zerar a vida da Segundo-Tenente...

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Sua vida se resumia a vestir uma armadura e relembrar da dor de ser rejeitada pelas pessoas a sua volta pela milésima vez... sim, porque seu maior medo era ser rejeitada por alguém que um dia pudesse gostar de verdade, e esse era o motivo de sempre estar fugindo... mas o Capitão acabava de zerar tudo... acabava de salvá-la de si mesma... porque a realidade era óbvia... Mary Crystal estava acabando com sua própria vida ao escapar das pessoas que se aproximavam dela... e o Super Soldado desejava lhe tirar daquela caverna escura e trazê-la para a luz... porque ele era a própria luz...

Steve queria mostrar a Mary Crystal um caminho mais feliz... que desgraça... o Capitão América queria acabar com a maravilhosa sensação que ela tinha de ser uma idiota, cínica, irônica e miserável... e tirar dela a única coisa que sabia fazer direito em sua vida, que era sofrer por ter medo de tudo. Anos de aprimoramento e ele queria mudar todo o esquema... quebrando de uma vez a sua armadura não tão impenetrável...

E no fundo a garota sabia... sabia que quando o olhar de Steve cruzou com o dela na festa dos veteranos, Mary sabia que se apaixonaria por seu ídolo de infância... porque era um olhar cheio de brilho, que transmitia uma energia angelical... ele a encantou logo no primeiro olhar...

A garota desabava na frente da médica e da espiã, chorando a ponto de soluçar...

Christine pegava os papeis da mão de sua amiga.

— Mary, posso ler?

— Sim... – A Segundo-Tenente fungava, chorando como uma criança.

— Esse choro é de alegria, não é...? - A Viúva Negra tirava um lenço do bolso, oferecendo a ela.

— Como você sabe...? – Kiara enxugava as lágrimas que não paravam de cair, pegando o lenço da mão da ruiva.

— Eu reconheço um choro de tristeza e de alegria há milhas de distância.

— Bem... eu acho que essa carta mexeu profundamente com algumas coisas que carrego comigo desde sempre...

— E o que você fará a respeito? Vai continuar ignorando o Rogers ou vai atrás dele? – A ruiva a questionava, sendo interrompida pela voz de Christine.

— Meu Deus, Mary... se você não for até ele agora, então isso só mostra que você realmente não tem coração... – A médica a repreendia, surpreendida com o que acabava de ler.

A garota chorava ainda mais, deixando que um enorme peso saísse finalmente de dentro de si mesma... e então...

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— Vocês estão certas... acho que não tem mais como fugir disso...

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— Até que enfim! – A médica sorria, colocando a carta de volta no envelope e a entregando para Kiara.

— Antes tarde do que nunca... – A ruiva suspirava, cruzando os braços e apoiando as costas no assento do banco.

— Mary colocava todos os seus pertences na mochila que carregava, incluindo o lenço de Natasha e o envelope com a carta de Steve.

— Eu vou indo nessa, garotas... – Ela estava prestes a sair dali, até que Christine a contestou.

— Pra onde você vai!?

Kiara olhou para trás, sorriu ternamente doce e...

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— Estou indo atrás da minha felicidade!

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A Segundo-Tenente corria dali, numa velocidade incrível.

Natasha e Christine sorriam uma para a outra, satisfeitas por conseguirem ajudar Mary Crystal a quebrar os grilhões que lhe prendiam a um passado de sofrimento e desconfiança e voar até Steve Rogers.

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Na torre dos Vingadores, no salão principal, Tony e Banner trabalhavam juntos, dialogando sobre cálculos que nenhum ser humano normal teria capacidade de entender, e então, ouviam o barulho de um cavalo trombando com pressa na direção da porta.

Era Mary Crystal, que chegava ali, correndo, descabelada e respirando pesado depois de correr quase duas milhas e meia.

— O que tá fazendo aqui, cachinhos dourados!? – O bilionário a indagava, estranhando o modo pela qual a garota chegava ali, no desespero.

— Cadê o Cap...!? Eu preciso falar com ele...!

— O Capitão está no estacionamento, lá embaixo tentando consertar a Harley que deu um problema no motor. – Bruce respondia à pergunta da loira, que virava rapidamente de costas, rumo ao elevador, deixando-os no vácuo.

Tony e Banner se olharam, não entendendo absolutamente nada.

— O que será que tá acontecendo? – O cientista indagava o Homem de Ferro.

— Sei lá, mas julgando pelas maluquices da Supergirl, não deve ser nada que não estejamos acostumados.

E então, do outro lado, Mary entrava no elevador, rumo ao estacionamento da Torre dos Vingadores.

Ela apertava o botão várias vezes, tamanha ansiedade.

Quando o elevador chegou ao andar do estacionamento e abriu as portas, a loira saia disparada, correndo muito rápido pelo amplo local, procurando pelo Capitão.

Kiara olhou para os quatro cantos, e depois de muito esforço, avistava o Super Soldado do outro lado, deitado de costas no chão, segurando uma chave de fenda, parafusando uma parte de sua moto, terminando o conserto.

Ela sorria... plenamente satisfeita...

Encontrá-lo era como observar a primavera florir em pleno inverno...

O loiro percebia a presença dela ali e ao virar o rosto, ele se levantou, colocou a ferramenta que segurava em cima do banco da moto e a encarou, surpreso.

— Mary...? – Steve avistava a Segundo-Tenente há dez metros, o fitando com um semblante choroso.

Não entendendo o motivo, ele se mantinha de pé, com o rosto e a camiseta cinza de algodão sujas por conta da graxa de seu veículo.

A garota olhava para o rosto confuso do Capitão, surpreso por vê-la ali e então...

Mary Crystal começou a correr muito rápido na direção dele, desesperadamente...

Os olhos do Super Soldado arregalaram quando percebeu que a loira estava prestes a trombar com ele... e então...

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Kiara pulava em cima de Steve com força, agarrando o pescoço masculino e o derrubando no chão, com seu corpo caindo por cima do corpo dele...

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Assustado, confuso e atônito, o loiro sentia a Segundo-Tenente o abraçando intimamente após levar um tombo com ela por cima.

— Mary, o que você está fazend-

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Antes que pudesse terminar, o Capitão era surpreendido novamente, mas pelos lábios da garota que o calaram de imediato, num beijo inesperado.

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Por cima do corpo do Super Soldado, Mary segurava seu rosto com força, pressionando um selinho apertado, molhado e demorado...

Ela fechou os olhos, sentindo-o corar sob seu toque... sob seu beijo infantil...

O coração de Steve palpitava, porque não estava esperando que a loira chegasse ali e o jogasse no chão só para beijá-lo como se tivesse acabado de descobrir o que era um beijo.

A Segundo-Tenente mantinha seus lábios pressionados contra os dele, movimentando-os devagar, com muito carinho, desespero, paixão e medo...

Uma pequena lágrima escorria de sua face, caindo no rosto dele...

Mary demorou uma hora para conhece-lo na festa dos veteranos, cinco meses para se apaixonar e agora, levaria uma vida inteira para esquecê-lo...

Por meses tentou tirá-lo de sua mente e seu coração... tentou mata-lo um pouco a cada dia que passava, mas também percebeu que morria a cada dia sem ele...

Kiara precisava sentir que Steve também sentia o mesmo... precisava que o coração dele desse um choque no seu... precisava saber que seu peito ainda se expandia quando ela estava tão perto dele...

Porque no universo de seu corpo, a garota se encontrava como louca... nos relevos quentes de seus músculos, se tornava absorta... e no delírio daqueles olhos azuis, a constelação mais divina reinava...

Tudo dentro dele era um infinito singular de vinte dimensões...

Rendido, inepto e sem saber exatamente o que fazer, Steve sentia Mary Crystal beijando sua boca como se amanhã nunca mais fosse vê-lo...

Os lábios da Segundo-Tenente se encaixavam perfeitamente nos dele...

Ela lhe tirava o ar... seus pulmões diminuíam freneticamente e era difícil manter a respiração ordenada, porque Kiara lhe afetava de todas as formas... lhe espremia, lhe comprimia, lhe deixava sem ar e céus... Steve não conseguia respirar...

Mary chegava ali, o derrubava no chão e lhe roubava um beijo, deixando-o sem rumo... sem oxigênio... sem fôlego... porque a loira sabia, que pela nata alma de artista, o Capitão tinha o dom de desenhar o paraíso através de seus lábios... a levando ao céu sem sair do chão...

E assim ela o beijava... adentrando seu mundo... devagar, mas desesperado... lento, mas frenético... suave, mas avassalador... delicado, mas indômito...

A garota não sabia ser chuvisco... era logo uma tempestade, e infelizmente não existia guarda-chuva para o Super Soldado naquele momento... ele teria que aceitar e se molhar cada vez mais...

Seu peito pulsava feito uma bomba... uma granada... sem hora marcada para explodir...

Era amor quando sentia a necessidade daquele toque... era amor quando não via sentido algum se não estivessem juntos e colados, como um só...

E por mais que o Super Soldado possuísse um incrível autocontrole, não conseguia mais resistir... e então, ele tocou a cintura da garota, deslizando suavemente as mãos quentes e os dedos firmes pelas curvas acentuadas, até chegar nos cabelos loiros e tocar o rosto feminino, segurando-o com extrema docilidade e delicadeza...

Kiara esperava que Steve entendesse o que queria lhe dizer, provando de seu beijo desesperado, mas...

Ambos cessaram o toque por um momento... e se entreolharam, muito próximos... com as respirações ofegantes se misturando...

O loiro a tocava lentamente e os tormentos de sua vida desapareciam quando sentia sua pele encostando na dela...

Mary Crystal observava seus sentidos se expandirem... aguçados e fortemente instigados...

O cheiro particular dele, misturado com a típica colônia de lavanda, era intoxicante...

Céus, como Steve era perfeito...

Seu cheiro viciante... seu corpo quente... seu coração estremecido... e a imensidão de sua íris azulada... tão resplandecente...

O Super Soldado a capturava através do olhar, parecendo dançar com ela... lendo os sinais de sua expressão... viajando na adrenalina daquele sentimento enlouquecedor...

Mary sentia-se derretendo diante daqueles braços seguros, daquele pescoço tão perfumado e da voz deliciosa que ousava lhe perguntar...

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— Por que me derrubou no chão desse jeito...?

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Uau... não existia nada igual e nada mais incrível do que olhos tão azuis como o céu lhe contemplando extasiados, e aquela boca tão dela, que tinha acabado de beijar...

Mary Crystal se sentia linda, poderosa... e nas nuvens...

Seu coração voltava a disparar quando as pequenas mãos apoiavam seu equilíbrio rente ao peitoral musculoso do Super Soldado...

Ele era um homem formado, em todos os sentidos... mas a garota também pressentia que havia um menininho ali... e que desejava com todas as suas forças cuidar...

A loira sorriu, matreira, com uma expressão divertida no rosto, secando duas lágrimas acumuladas nos olhos...

Steve ainda esperava sua pergunta ser respondida, e então...

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— Será que a gente pode só se beijar como nunca nos beijamos antes...? – A loirinha sugeria, o deixando surpreso.

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— Mary... você-

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— Ah, Cap... não estraga tudo...! Apenas fique quietinho e me beije...! Deite essa alma dourada e heroica em mim e vamos fazer amor...?

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Aquelas palavras romanticamente obscenas eram o gatilho necessário que faltava para que o Capitão a pegasse pela cintura a levantando junto com ele.

A loirinha fazia uma careta em resposta, e ambos ficavam agora sentados, com ela ainda por cima dele.

— V-v-você chega aqui, m-me agarra com força, me joga no chão, me rouba um beijo e começa a chorar, pra depois dizer que quer fazer amor comigo!? Você perdeu a noção da realidade, Mary Crystal!? – Ele a repreendia, um pouco corado, um tanto envergonhado, desnorteado e confuso pelo atrevimento da garota...

— Me desculpa... mas eu não sei usar as palavras certas em horas como essa... sou melhor agindo... – A Segundo-Tenente replicava, vendo que tinha ido longe demais.

— Então tente me explicar com palavras...

— Não consigo... – Ela abaixava o rosto, embaraçada...

— Por quê...? – O loiro erguia a mão direita, afagando algumas mechas loiras, colocando-as por trás da orelha dela.

— Eu vou tentar resumir, mas por favor, não ria...

— Eu jamais riria de você... – Steve a vislumbrava de forma apaixonada, mas ao mesmo tempo ansioso e apreensivo pelo que Mary lhe diria.

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— Bem... a questão é... você salvou o meu dia, minha semana, meu ano... e minha vida... você é meu herói, Cap...

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Um ponto de interrogação ficava estampado na face dele.

— E o que isso quer dizer exatamente...?

Kiara lançou um olhar nublado e sombrio na direção do Super Soldado.

— Você realmente não entendeu!?

— Não.

— Eu não acredito... – Ela resmungava, com raiva.

Mary nunca imaginou que estaria naquela situação, como uma idiota estupidamente apaixonada... falhando miseravelmente em se confessar...

— Se você for mais clara, eu posso entender... – Steve redarguia, lançando um olhar afetuoso e deslumbrado na direção dela... era obvio que ele entendia que a loirinha estava ali pra se confessar, mas achava engraçado a forma como a mesma resolvia fazer isso.

A Segundo-Tenente nunca era boa em deixar as coisas claras...

Mas ela tentaria... ainda que seu rosto ficasse preto, depois de passar por todos os tons de vermelho.

— Você mais eu, pode ser nós, né...? – Ela replicava, com muita timidez.

— Nós...? O que quer dizer com isso...? – O Super Soldado a provocava, sabendo exatamente o que ela queria dizer.

Mary respirou fundo três vezes e então...

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— Sono innamorato di te... (Estou apaixonada por você...)

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O Capitão arqueava uma sobrancelha, exprimindo uma feição impaciente.

— Em inglês Americano, por favor... – A repreendia, fazendo a garota corar como um pimentão ainda mais.

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— Eu quero dizer... ah... é... bem... é isso, sei lá... mas acho que eu gosto de você, Cap...

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Steve a observava, com uma expressão risonha, achando aquele semblante tímido e envergonhado um tanto fofo e encantador.

— Gosta de mim? Como amigo...? – Ele a provocava de novo, sabendo exatamente que não era isso que Mary queria dizer.

— Claro que não, seu idiota! Gosto de você romanticamente! Te enxergo como um homem, entendeu!? – Ela gritava de forma irritada e exasperada, batendo forte no peitoral firme do Super Soldado, como se estivesse fazendo muito por se declarar daquela forma vergonhosa.

Céus, ele estava tão feliz por dentro... nunca imaginou que aquele momento chegaria... demorou tanto e ambos sofreram por muito tempo...

Sentindo-a lhe estapear, Steve pegava delicadamente nos pulsos femininos, olhando fundo nos olhos esverdeados...

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— Você quer dizer que está apaixonada por mim, Kiara...? É isso que está dizendo...?

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Ele a contestava, com a voz mais baixa, rouca e um tanto sensual.

“Maldito Super Soldado!” – Ela pensava.

— Sim!!! Eu estou apaixonada por você!!! EU ESTOU APAIXONADA POR VOCÊ, EU ESTOU APAIXONADA POR VOCÊ!!! SATISFEITO!!? ERA ISSO QUE QUERIA OUVIR, SEU CAPITÃO CONVENCIDO AMÉRICA!!!? – Ela gritava, de forma destrambelhada, finalmente admitindo, finalmente sendo sincera com ele pela primeira vez.

Steve sorria, a encarando de forma apaixonante, feliz e satisfeita.

— Seu idiota... – A Segundo-Tenente virava o rosto com uma carranca enfurecida, extremamente corada, sentindo sua respiração engatada e o coração acelerado.

Tudo estava bagunçado em sua mente, mas não podia dizer a Steve que da mesma forma que tinha vontade de arrancar sua roupa e apalpar a linda e maravilhosa bunda da América, também tinha vontade de passear de mãos dadas com ele e seus futuros filhos.

O loiro comprimiu ainda mais a distância entre ambos, sorriu e fechou os olhos, encostando sua testa na dela...

— Obrigado por me dizer o que esperei ansioso por meses, Mary...

— Você já sabia... mas era óbvio... – A garota suspirava, se praguejando mentalmente por ter sido tão idiota... todos sabiam... só ela que fingiu não ver e insistiu em esconder por meses...

— Sim, já sabia, mas resolvi esperar até que você estivesse pronta pra me dizer... e na verdade, foi mais rápido do que imaginei... – Ele abria os olhos, acariciando o rosto feminino com delicadeza, tocando a covinha direita com a ponta do dedo indicador.

— Achei que tínhamos combinado de não tocar a minha covinha... – Ela protestava, com um rubor gigante na face.

— Vai ser impossível não tocar sua covinha daqui pra frente... – Ele rebatia, divertidamente, sentindo a textura macia da pele nívea do rosto feminino.

Steve não tinha explicação para dizer o que estava sentindo... Mary Crystal era tão errada e cheia de estragos, mas se pegava olhando para tudo aquilo e amando tanto, tanto, tanto...

Ele apenas desejava que Kiara fechasse os olhos e se visse por dentro... visse o quanto ela era arte...

Os dois se entreolhavam, apaixonados, tímidos, envergonhados, mas com os corações sincronizados, batendo no mesmo ritmo...

O loiro desviava as mãos firmes do rosto para a cintura da garota, mantendo-a equilibrada por cima dele.

Ainda sentados, Mary rodeava o pescoço do Super Soldado, prendendo suas mãos atrás da nuca masculina...

Ela amava olhar para ele e se perder... no vão da curva de seus lábios... no dedilhar de seus finos dedos pelos ombros largos... pelo cabelo loiro tão curto e sedoso... por seu rosto... por sua pele exposta... e de completamente ficar submersa nele...

A Segundo-Tenente ainda não sabia como fazer para juntar num abraço, sua total falta de jeito com aquele sorriso tão perfeito...

— Steve...

— Sim...?

— Me pergunte só mais uma vez, e eu juro que a resposta será sim...

— Perguntar o quê...?

— Não acha que devíamos evitar o inevitável e apressar as coisas...?

— E o que é inevitável e por que devíamos apressar...? – Ele a indagava, ansioso, sentindo seu estômago ser preenchido por uma manada de borboletas azuis.

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— Eu quero sair com você, Cap...

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— Sair comigo...!? – A contestava, atônito, sendo pego de surpresa.

— Vamos sair num encontro... – Ela sugeria, olhando-o com aqueles lindos olhinhos verdes esmeralda, tão verdejantes...

— Mas...-

— O quê!? Você não quer!!? – Kiara perguntava, assustada, temendo ser rejeitada.

Aquele era o mais intenso de todos os desejos do Capitão...

— N-não, é claro que eu quero, só que... n-não queria parecer desesperado em responder de imediato, afinal, quando combinamos de sair, tudo deu errado e você foi embora logo depois... – Redarguia, com as bochechas vermelhas.

— E eu pensando que você estava me dispensando... – Ela bufava, perplexa.

— Eu sempre quis sair com você, Mary... esse é o meu maior sonho no momento...

— É sério...?

— Sim...

— E desde quando você sonha em ter um encontro comigo, Cap...? – A garota o questionava, com uma expressão cínica na face.

— Já faz muitos meses. Desde que você me deu aquele Cupcake no meu aniversário... – Steve respondia, sentindo seu rosto ardendo como um pimentão...

— Então não devo fazer o nobre soldado esperar mais...

— Que tal sairmos amanhã...? – Ele sugeria, muito feliz e incrivelmente sorridente.

— Eu topo... – A garota aceitava, imensamente realizada.

— Devo dizer que você me salvou... porque meus planos para esse dia eram pizza congelada e o jogo dos Dodgers na TV...

— Podemos ver um jogo dos Dodgers num estádio na próxima vez... eu consigo fácil os ingressos... topa...? – Mary sorria, o fitando com muito carinho.

— Claro... – Steve aceitava... aliás, ele aceitaria sair com ela para qualquer lugar daquele mundo... ou até mesmo do universo...

Os dois não conseguiam parar de se olhar, sorrindo um para o outro... mas estavam tímidos demais para dizerem qualquer coisa, ou mesmo fazerem qualquer coisa, pois temiam dar um passo em falso...

No entanto, já que ambos sairiam juntos, o Super Soldado resolvia ajeitar os detalhes daquele encontro tão sonhado e esperado...

— Que horas devo passar pra te pegar...? – O loiro a questionava, não sabendo qual seria o melhor horário.

— Vamos sair de dia, por volta das onze! Quero que seja um encontro bem longo... pode ser...?

— Certo... vou te levar em um bom restaurante e depois podíamos ver um filme, o que acha...?

— Você pode planejar todo o roteiro, Cap... eu confio em você e sei que será incrível... – Mary sorria, ainda muito tímida e sem saber o que dizer...

— Tudo bem, senhorita... – Steve era sempre muito tímido, porém, cavalheiro... e quando percebia que as bochechas da garota coravam e seus gestos mantinham-se um tanto atrapalhados, tinha que admitir que era maravilhoso saber que ele era o principal motivo de deixa-la tão nervosa...

— É um encontro. Certifique-se de trazer uma lista cheia de elogios para mim... – Ela brincava, ainda muito acanhada.

— E que tal você me revelar a sua lista...? Aquela do seu homem ideal...?

— Se eu te mostrar a minha lista, você terá que me mostrar a sua!

— Acho justo... podemos fazer isso amanhã... no nosso encontro... – Ele replicava, imensamente feliz por dizer “nosso encontro”...

— Você vai se surpreender com o que vai ver, Cap...

— Você também...

E então, os dois continuavam se encarando, tão embaraçados, que Steve se sentia aliviado por saber que não era o único nervoso e destrambelhado naquelas horas...

Ambos se perdiam em seus olhos cores de netuno e de saturno... descansando os olhares um no outro... sentindo o universo todo se expandir em seus peitos, como uma constelação...

— Bem... é melhor eu me levantar então... – A garota saia de cima do Super Soldado, que se levantava logo em seguida.

Ambos ficaram parados de frente um para o outro, completamente tímidos...

Mary se encontrava muito nervosa ao fitar Steve a mirando tão devagar...

E se ele a olhasse por mais de dez segundos daquele jeito tão apaixonado, iria ver claramente toda a bagunça que havia naquela mente e coração confusos...

— Aah... eu deveria ir agora... – Kiara resolvia sair dali, porque parecia uma idiota ao não saber mais como agir na frente dele.

— Espera, você já vai!? – O loiro pegava na mão da garota, a contemplando mais uma vez...

A Segundo-Tenente lançava um sorriso meigo e doce em sua direção... ooh céus, ela era tão linda... e era tão impossível não ficar ali parado, vislumbrando com atenção seus perfeitos olhos verdes e sua pele tão branca como as nuvens...

— Eu não sei como agir agora, Steve... estou me sentindo sem chão... – A loirinha confessava, com a voz melindrosa e mais baixa que o comum.

— Por quê...? Agora que estamos tão bem, você resolve fugir de novo...? – O Capitão segurava a mão dela com firmeza, impedindo-a de se afastar.

Kiara olhava o chão... e mostrava uma expressão preocupada...

— E se não der certo, Cap...?

— O que não vai dar certo...?

— Nós dois... – Ela confessava, muito preocupada.

O Super Soldado sorriu ternamente em resposta.

— Vai dar certo... acredite em mim...

— Mas e se não der...?

— A gente vai tentando até acertar...

— Como...?

— Eu proponho uma coisa, Mary...

— Que coisa...?

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— Dessa vez, vamos com calma...

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Ele assegurava, com um lindo sorriso no rosto, passando toda confiança que tinha em si mesmo e no grande amor que nutria por ela...

— Tudo bem... espero não estragar tudo... – A garota replicava, com temor... porque tinha medo de Steve a ver como realmente era... de ver suas falhas ainda mais de perto e suas cicatrizes tão profundas... tinha medo dele chegar muito perto, pertinho, a tocar como ninguém tocou... não gostar do que ver, se assustar e decidir ir embora...

Mas o loiro estava muito decidido sobre seus sentimentos pela Segundo-Tenente.

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— O amor é um jogo em que dois podem jogar e ambos vencem, Kiara...

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Mary elevou o rosto, notando o sol nascer naqueles majestosos olhos azuis...

Aquela beleza que enxergava no céu, tinha o nome dele... e sua medida...

— Como pode ter tanta certeza, Steve...?

— É simples... me mostre do que você é capaz, que eu te mostro até onde vou por você... - O loiro afirmava, com extrema convicção, deixando-a completamente segura.

E como de costume, o timbre da voz dele calava todos os medos dela...

O tempo em que passaram juntos, foi suficiente para fazê-lo se apaixonar... e ele amava todas as perfeições e imperfeições de Mary Crystal... amava todos os momentos que compartilharam, bons e ruins, e esses momentos estavam eternizados dentro de si...

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Porque a parceira certa podia ser qualquer uma... desde que existisse amor...

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