Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 59
Entre indagações e revelações apaixonadas




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Entre indagações e revelações apaixonadas

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22 de Novembro de 2012, 08:14 PM

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Brooklyn – Nova York

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Após levar um tombo e cair de patins em frente ao apartamento de Steve, Mary Crystal era puxada para dentro da residência do Capitão, para que o mesmo cuidasse de seu ferimento.

A Segundo-Tenente se sentia estranha, já que havia invadido aquele lugar pela manhã junto com Natasha.

“Eu sou uma pecadora mesmo... me perdoa, meu Deus...” – Pensava, sentindo sua consciência pesar.

Mary tirava o capacete que usava, colocando-o na mesa de centro da sala e se sentava no sofá ao lado do armário onde secretamente Steve guardava aquela pasta...

O loiro ligava o aquecedor da sala.

Kiara sentia seu rosto corando cada vez mais... estava impossível de disfarçar...

O Super Soldado pegava um kit de primeiros socorros em uma das partições da longa estante, se sentando ao lado dela logo em seguida.

— É o seu joelho esquerdo, certo?

— Aah, não foi nada demais... só um arranhãozinho minúsculo... – A loira respondia, com uma expressão embaraçada no rosto.

— Não deve ser só um arranhãozinho, Mary... você estava mancando...

— Devo estar melhor amanhã...

— Certo, mas me deixe verificar.

— Ok... – A garota obedecia, abrindo o zíper de seu imenso sobretudo, deixando suas atuais roupas à mostra...

Uma calça larga de poliéster, tênis esportivo e uma regata apertada, um pouco decotada...

A Segundo-Tenente se sentia estranhamente exposta naqueles trajes ao lado dele, e quando o Capitão a olhou, tinha a impressão de que os olhos azuis lhe invadiam a ponto de ver por trás de suas roupas...

Automaticamente, a lembrança dos desenhos onde ela se encontrava nua, vinha em sua mente...

Kiara engoliu a seco, tentando não engasgar...

O Super Soldado pegava no tornozelo dela, puxando suavemente o tecido por cima de sua pele, com o intuito de verificar o joelho.

Havia uma escoriação com sangue por cima.

— Como eu disse, não foi só um arranhão... – Ele a repreendia e tudo o que Mary fez, foi soltar um pequeno riso em resposta.

Steve tratou do machucado, limpando o sangue, passando uma pomada e cobrindo com gaze e esparadrapo. Um curativo simples, mas que faria toda diferença.

— Troque o curativo amanhã, ok?

— Ok... – Ela olhava para cima, tentando disfarçar o nervosismo e constrangimento.

O Capitão reparava que Kiara parecia estar agindo estranhamente aquele dia. Ele só não entendia o porquê.

Ele guardava o kit de primeiros socorros e voltava seu olhar na direção dela.

De fato, havia algo estranho...

— Estou indo pra cozinha preparar nosso chocolate quente. Me espere aqui.

— Eu posso te ajudar se quiser e-

— Fique quietinha me esperando, Mary. Você está machucada.

— Tudo bem então... – A loira assentia, dividida entre obedecê-lo e esperar ali e sair correndo logo que Steve virasse de costas.

Mas não podia fugir... havia prometido à Nat que não fugiria...

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Meia hora depois, Steve voltava com duas enormes xícaras, carregando a bebida quente na direção dela.

— Aqui está. Espero que você goste... – E então o loiro estendia a xícara para a garota, com um sorriso maravilhoso naqueles lábios tão primorosos...

Oh céus... que visão do paraíso... o homem mais lindo do universo havia feito chocolate quente com marshmallows para ela... que sorte Mary tinha... qualquer mulher naquele imenso planetinha azul, mataria e morreria por aquilo...

— Obrigada... – A Segundo-Tenente pegava a xícara da mão dele, sorrindo timidamente... sentindo-se derreter mais do que os marshmallows dentro do chocolate...

E o encarando, podia ouvir mais uma vez o barulho dos brilhinhos, sininhos tocando, uma aura branca ao redor, coraçõezinhos rosas flutuando e uma música romântica de fundo... mais precisamente November Rain do Guns N' Roses, que era a música exata que tocava muito baixo no rádio ao lado da janela da sala, na estação que Bucky sempre deixava, e que Mary não tinha prestado atenção de estar ligado.

Steve se sentava ao lado dela, achando estranho a forma como Kiara o olhava.

A loira assoprava suavemente a bebida quente, afastando a fumaça enquanto os marshmallows flutuavam sobre a espuma.

A letra da música fluía de forma ecoada, deixando o clima ente os dois ainda mais estranho.

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When I look into your eyes, (Quando olho nos seus olhos)

I can see a love restrained, (Posso ver um amor reprimido)

But, darlin', when I hold you, (Mas, querida, quando eu te abraço)

Don't you know I feel the same? (Você sabia que eu sinto o mesmo?)

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'Cause nothin' lasts forever, (Pois nada dura para sempre)

And we both know hearts can change, (E nós dois sabemos que os corações podem mudar)

And it's hard to hold a candle, (E é difícil segurar uma vela)

In the cold November rain… (Na fria chuva de novembro)

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Mary se encolhia sobre o canto do sofá, tentando esconder o rosto desesperadamente atrás da xícara, só para que o Capitão não a vislumbrasse com aquela cara patética de menina apaixonada que não tinha coragem de se declarar.

Mas era obvio que ele notava que havia algo de errado com ela.

— Está tudo bem com você, Mary? Parece distante desde hoje à tarde... – Ele a questionava, ajeitando sua postura, apoiando o braço atrás dela no sofá, enquanto o outro se mantinha erguido, segurando a xícara.

— Está tudo bem sim... – A loirinha se limitava a responder sem explicar mais nada.

Os olhos verdes rolavam por toda a extensão da sala, menos na direção dele.

Steve notava o embaraço dela, e aquilo o incomodava...

— Não vai me dizer o que achou? – Ele a contestava.

— Sobre...?

— O chocolate quente...

— Ah sim, está delicioso! – Exclamava, de forma destrambelhada.

Estava tão nervosa, que quando experimentou a bebida, nem tinha percebido que estava incrivelmente gostoso.

— Você está mais distraída do que o comum... tem algo te incomodando...? – Ele arqueava uma sobrancelha.

— Claro que não, Cap! Não tem nada me incomodando! – “É só essa pasta que você esconde no armário, repleta de desenhos meus sem roupa!!!”

A garota soltava uma risada estridente, mas seus pensamentos estavam a mil.

Mary oferecia a Steve o sorriso mais bizarro do mundo, e era rapidamente compensada com outro sorriso dele... um sorriso mais largo e alegre, onde conseguia vislumbrar aqueles lindos e alinhados dentes brancos.

O Capitão não tinha ideia do quão maravilhoso era quando lançava aquele sorriso poderoso na direção dela...

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If we could take the time, (Se nós darmos um tempo)

To lay it on the line, (Para acertar tudo)

I could rest my head, (Eu poderia descansar a minha cabeça)

Just knowin' that you were mine… (Simplesmente sabendo que você foi minha)

All mine… (Toda minha)

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So, if you want to love me, (Então, se você quiser me amar)

Then, darlin', don't refrain, (Então, querida, não se reprima)

Or I'll just end up walkin', (Ou simplesmente eu vou acabar indo embora)

In the cold November rain…  (Na fria chuva de novembro)

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A letra da música fazia com que Mary se recordasse de todas as vezes que Steve lhe ameaçava, dizendo que iria embora, caso ela continuasse fugindo dele, então, as bochechas femininas adquiriam uma cor mais avermelhada e o loiro obviamente notava.

— O clima do aquecedor está muito quente ou é a bebida? Seu rosto está muito vermelho... – A contestava inocentemente, não tendo ideia do quão nervosa a garota estava.

— É A BEBIDA, CAP! NÃO SE PREOCUPE! – A voz dela saia num tom desafinado, de forma desajeitada.

Aquilo estava assustando o Super Soldado...

— Tem certeza...?

— Sim!!! – A Segundo-Tenente respondia com um ardor não intencional, sentindo seu rosto esquentando ainda mais enquanto olhava para o chão, quase fazendo um buraco nele de tão intenso.

“Mas que lindo, Mary Crystal... você se transformou numa colegial babaca e apaixonada!?” – Ela se repreendia mentalmente.

Era tão incômodo ter o olhar azul do Capitão em sua direção, sabendo que ele possuía uma imaginação vívida e extremamente indecente sobre ela...

Mas o loiro continuava achando aquela reação muito suspeita e franziu o cenho, a observando detalhadamente.

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— Mary... eu estou te deixando desconfortável...?

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O estômago da loira deu algumas voltas ao ouvir aquela pergunta num tom de voz mais áspero do que o habitual.

Céus, ele havia percebido...?

— Não, Steve... você não está me deixando desconfortável... eu só... estou tendo... um daqueles dias... — A garota tentava justificar, arrumando uma desculpa que o deixasse convencido, e aquilo de certa forma fazia sentido para ele, já que o Capitão havia testemunhado o quão vulnerável Mary Crystal ficava em seu período...

— Entendo... mas se está nessas condições, não devia sair de casa... aquela vez em Newport Beach, você ficou muito mal...

— Não se preocupe, é raro que eu fique naquele estado...

O Super Soldado bufou, um pouco irritado com a resposta.

— Não, Kiara... você não devia ser tão negligente consigo mesma. Precisa se cuidar... olha o que aconteceu com você agora há pouco... eu vi o tombo que levou no asfalto no meio da rua e até agora não sei como você conseguiu sair ilesa.

— É porque eu sei cair... ando de patins há muitos anos...

— Mas ainda assim precisa estar mais atenta. E não é saudável sair de casa nesse frio.

A garota arqueava uma sobrancelha, achando aquela repreensão protetora demais. Steve parecia seu pai.

— Que eu saiba, ainda não é o ápice do frio em Nova York, Cap... o inverno só começa em Dezembro.

— Sim, o auge é em Janeiro e Fevereiro, mas se a temperatura está caindo, é melhor ficar em casa.

— Eu não tenho uma casa aqui... aliás, eu nem sei o que será da minha vida profissional... o Fury praticamente me obrigou a ficar de licença de novo... – Mary resmungava, com raiva, enquanto bebericava sua bebida.

— Você está morando com a Wanda e o irmão irritante dela?

— Sim.

— Bem, por que você não fica na torre dos Vingadores? Há tantos quartos vagos lá, e tenho certeza que o Stark não se importaria.

— Eu não quero ficar na aba de ninguém, Cap... estou com a Wanda e o Pietro porque eles estão sob custódia da SHIELD, então se o Fury tirou meu emprego, ele que arque com as despesas da minha moradia! – Mary rezingava num tom de voz assustador. Ela odiava Nick Fury com todas as suas forças.

Steve observava a expressão de raiva da garota, achando encantadora a forma como ela fazia um beicinho fofo quando começava a reclamar.

— Então no final, é isso que está te deixando desconfortável, certo...?

— Claro... o que mais seria...!? – A Segundo-Tenente sorria de modo dissimulado, afinal... não era todo dia que via desenhos de si mesma em posições comprometedoras e nua, traçados pelo lindo e idolatrado ícone nacional dos Estados Unidos, a relíquia do mundo – vulgo Capitão América, Steven Grant Rogers.

Ele sorria, contemplando o rosto enrubescido da garota.

— Bem... você parece ainda mais fofa quando está corando de raiva... – O Super Soldado confessava, pigarreando, tentando parecer discreto, mas deixando claro sua ousadia em flertar descaradamente com ela...

Céus, o que estava acontecendo com Steve? Desde quando ele agia daquela forma tão audaciosa?

— De novo isso, Cap...? Você deu em cima de mim na maior cara de pau hoje, na frente do Tony, da Nat e do Doutor Banner...

— E qual o problema...? Eu estou cansado de reprimir o que acho de você o tempo todo...

Mary arregalava os olhos, virando o rosto na direção do loiro, de modo meio robótico.

— Como.é.que.é...? – Ela silabava, perplexa.

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— Você está linda hoje, Mary... você está linda e encantadora todos os dias... e finalmente tive coragem de dizer isso...

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O Capitão admitia, sorrindo como um bobo, sentindo um peso saindo de seu peito... era tão bom ser sincero... era tão libertador dizer o que tinha em mente, deixando seu coração falar mais alto...

Já Mary Crystal, não sabia se o xingava por deixa-la ainda mais desconfortável e envergonhada, ou se jogava a xícara de chocolate quente para o alto e o agarrava ali mesmo.

— Obrigada...? – A loira agradecia e ao mesmo tempo fazia uma pergunta, mostrando perplexidade.

O Super Soldado soltava uma risada abafada em resposta.

— De nada... – Seus lindos e resplandecentes olhos azuis se mantinham fixos nela... piscando lentamente...

A garota sentia seu coração bater mais forte diante do charme deslumbrante do Capitão...

Mary estava derretendo internamente... estava se liquefazendo... estava evaporando... sumindo como fumaça...

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Ooh...

Céus...

E agora...?

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“Que legal... que beleza... vai derreter e virar uma poça bem agora na frente dele, sua asna!?”

Mas ao mesmo tempo em que se sentia arrebatada ao céu, também se recordava de coisas as quais tentou esquecer na época em que esteve longe dele.

Mary olhava para Steve, se lembrando de sua confissão desesperada quando resolveu ir embora, e de todas as séries de confissões do quanto era apaixonado por ela, desde a festa de Halloween até o ‘encontro duplo’ em Coney Island, e então uma ponta de culpa surgia em seu peito...

O Capitão sempre foi tão sincero, enquanto ela, nunca havia dito nada do que realmente sentia... além do mais, ter invadido o apartamento dele junto com Natasha, e visto aquela pasta de desenhos sem seu consentimento, lhe fazia se sentir ainda pior...

Odiava quando tinha tanta coisa para dizer a ele... mas não encontrava palavras...

Kiara decidia então engolir todo o seu orgulho, medo e vergonha e o interrogar sobre aquilo...

Sim, assumiria a culpa de que entrou em seu apartamento sem que ele estivesse presente, e sobre o conteúdo dos desenhos.

Steve com certeza iria odiá-la por isso, mas era melhor assim...

O semblante da garota se desfazia de tímido para um aspecto sério, e obviamente o Capitão reparava.

— Cap... há algumas coisas que eu preciso... bem, que eu gostaria de falar com você... – Mary dizia com a voz mais baixa.

A expressão do Super Soldado mediante aquilo, era de preocupação.

— Alguma coisa errada? O que aconteceu? – Ele a contestava, não entendendo o tom rígido de sua voz.

— Não há nada de errado... não é algo ruim na verdade... e... você vai querer me matar quando souber, mas eu prefiro me livrar da culpa o mais rápido possível... – A Segundo-Tenente sorria, convencida de que ele a expulsaria de seu apartamento quando soubesse que ela estava ali mais cedo, bisbilhotando seus desenhos secretos junto com Natasha.

— Você está me assustando, Mary... seja lá o que for, diga logo... – O tom de voz dele também mudava. Estava apreensivo.

A garota ficou em silêncio por alguns segundos, até finalmente recuperar o fôlego e ter coragem de dizer... mas antes, precisava ir com calma, então...

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— É sobre sua paixão por mim...

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Ela replicava, ainda com a voz baixa.

— O que tem isso...? – O Capitão a indagava de volta, mostrando uma postura firme e rigorosa.

A loira o fitava um pouco desacreditada... céus, ele estava tão certo e decidido sobre seus sentimentos por ela, que nem mesmo quando tocava no assunto, aquilo simplesmente não o incomodava mais? Era tão verdadeiro, que Steve não se sentia tímido como antes?

— Bem... pra começar, eu não acreditei quando você se declarou pra mim aquele dia na base de Syracuse... eu meio que já desconfiava, só que não tinha certeza... havia sinais, pequenas coisas que captei conforme o tempo, mas acreditava que você estava apenas sendo gentil comigo, porque... bem, você é um homem naturalmente gentil com todos sem exceção, porém, recatado e incrivelmente discreto...

— Aonde quer chegar, Mary...? – Ele a encarava impetuosamente sério. Não estava gostando do tom daquela conversa.

— O que quero dizer é... você é o Capitão América e eu odeio parecer uma idiota bajuladora, mas... você é perfeito... – Ela voltava seu olhar para o Super Soldado, fitando profundamente os olhos azuis, sem quebrar o contato visual.

— É isso que você acha...? – O loiro perguntava, mantendo o braço apoiado atrás dela no sofá, a fitando com seriedade.

— Sim... e... há tantas mulheres lindas e dispostas a se casarem com você... há tantas mulheres melhores, mais altruístas, mais bondosas, mais educadas, mais bonitas e à sua altura...

— Que tipo de mulheres você se refere...?

— Mulheres do tipo que ganham o prêmio Nobel da paz, que saem por aí lutando por causas nobres, fazendo ativismo a favor dos mais vulneráveis... mulheres mais doces, mais femininas, mais tradicionais e muito mais incríveis do que eu... – A loira declarava, olhando para baixo, se sentindo indigna de olhar para ele.

— Eu sinto muito que você esteja se sentido assim, Mary, mas não acredito que nenhuma dessas mulheres despertaria tanto a minha atenção como você despertou... – Ele respondia convicto, numa tensão firme e decidida.

— Por quê...? – A garota o indagava, curiosa.

— Porque eu não sou perfeito e nem você...

— Você é muito melhor do que eu...

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— Deixe eu ver se entendi... está dizendo que eu sou muito perfeito e por isso você não me quer?

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Os olhos esverdeados arregalaram de imediato diante das palavras dele.

— Aah... não é isso... – Ela não sabia como explicar e... que mulher na face da terra daria um fora em Steve Rogers? Só ela... uma completa idiota...

— Eu não sou perfeito, Mary Crystal... tire isso da sua cabeça...

— E o que você viu em mim, afinal? Somos opostos demais...

O loiro desviou o olhar, bufando logo em seguida...

— Se for pra começar a dizer o que eu vi em você, vou demorar em descrever detalhe por detalhe... você quer ouvir...?

O Capitão tinha vontade de explicar detalhadamente os motivos errados que o levaram a continuar querendo Mary Crystal de todas as formas, mesmo seguindo na curva acentuada que o faria atravessar o sinal vermelho na contramão... porque era exatamente assim que se sentia sobre ela...

Por um momento, Kiara tinha vontade de se virar totalmente para Steve, passar os braços em volta daqueles ombros largos e abraça-lo com muita força... ela tinha vontade de dizer que naquela época em que estiveram juntos na Califórnia, começou a despertar sentimentos confusos por ele, mas que estava se forçando a não deixar, pois não teria sentido ter uma queda por alguém que não gostava dela de volta, porque amor não correspondido com certeza devia doer...

Mary praticamente esperava vê-lo todos os dias quando estavam trabalhando juntos... estava sempre ansiosa... sempre esperando vê-lo sorrir para ela do jeito que só ele sabia... a garota sentia uma vibração estranha em seu peito quando ouvia a voz dele... mas não queria se apaixonar, porque se isso acontecesse, doeria como o inferno...

— Imagino que os motivos que o levaram a gostar de mim devem ser surpreendentes, mas não estou pronta pra ouvir, Steve... ainda não... – O olhar de Kiara sussurrava delicadamente tudo aquilo que seus lábios se recusavam a dizer.

— Certo... então aonde quer chegar com essa conversa?

— O que quero dizer é que... não faz sentido você gostar de mim... não há lógica alguma nisso...

— Por quê não há...?

— Por que eu tenho mais defeitos do que qualidades...

— É mesmo...? Essa é a impressão que tem de si mesma...? – Steve sorria de canto, achando engraçado e até ingênuo da parte dela.

— Sim, eu penso isso... todos pensam, menos você... mas por quê...?

O loiro mantinha seu olhar no dela, respondendo logo em seguida...

— Uma vez me perguntaram o que eu vi em você, e sabe o que respondi?

— O quê...?

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— Eu vi em você o que faltava em mim...

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A Segundo-Tenente alargava o olhar, surpreendida e tentou contestá-lo.

— Mas-

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— Pessoas perfeitas não existem... somos todos errados procurando alguém que aceite nossas imperfeições...

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O Super Soldado a interrompia, deixando-a muito surpreendida.

A garota chacoalhava a cabeça, ainda desacreditada.

— Vai ser difícil me convencer, Cap...

— Não importa. Eu estou completamente preso a você, Kiara... essa é a verdade mais sincera de toda a minha vida... – O loiro afirmava, ainda com o olhar fixo nela.

— Mas... e quanto ao seu passado...?

Steve olhava no fundo dos olhos esverdeados, atentamente e então...

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— Não me pergunte do passado... eu nem sei o caminho pra voltar... - Ele sorria despreocupadamente...

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Mary Crystal engolia a seco... que inveja sentia dele, por conseguir ser tão sincero sem se desesperar...

E a música continuava tocando...

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And when your fears subside, (E quando os seus medos passarem)

And shadows still remain, (E as sombras permanecerem)

Oh, yeah I know that you can love me, (Ah, sim Sei que você poderá me amar)

When there's no one left to blame, (Quando não houver mais ninguém a quem culpar)

So never mind the darkness, (Então não se preocupe com a escuridão)

We still can find a way, (Ainda podemos encontrar um jeito)

'Cause nothin' lasts forever, (Pois nada é para sempre)

Even cold November rain…  (Nem mesmo a fria chuva de novembro)

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Com um suspiro desanimado, a garota olhou na direção da repartição do armário onde estavam os desenhos, trancados.

— Ok... mas depois de hoje, você provavelmente vai me achar ainda mais imperfeita e me odiar mais do que tudo...

— Por quê...?

E então, Mary Crystal voltou seu olhar ao dele, olhando fixamente para os olhos azuis de Steve.

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— A Natasha me arrastou para seu apartamento hoje de manhã e me mostrou todos os desenhos que você fez de mim...

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O Capitão arregalava os olhos imediatamente, assustado com o que ela lhe dizia.

Ele se levantou do sofá, colocando a xícara na mesa de centro, respirando pesadamente e enquanto passava as mãos pela cabeça, de forma exasperada.

Steve parecia ter ficado pálido naquele momento.

— Por favor... me diga que você não viu os-

— Os últimos desenhos? Sim, eu vi... – Mary redarguia, triste consigo mesma...

Com certeza ele a colocaria para fora dali...

A loira o observava andar de um lado para o outro, numa agitação desapontada...

— Mas que droga...! – O loiro deixava escapar, em meio a um suspiro desconcertado...

Kiara se sentia culpada e não sabia mais o que dizer...

— Me desculpe, Cap... eu devia ter dito não a ela, mas a Natasha foi bem persuasiva... então acabei entrando aqui... e... vou entender se você nunca mais quiser falar comigo... – A Segundo-Tenente se desculpava, embora soubesse que não havia como se justificar por ter invadido a privacidade de sua casa e visto o que ele escondia de todos.

— Natasha... por quê...? – Ele continuava exalando suspiros desesperados, se praguejando por ter deixado a Viúva Negra tão à vontade em sua casa quando acompanhava Wanda, que fazia sessões com Bucky.

— Por favor... se acalme... – Ela pedia, mas era impossível. Steve tinha vontade de dar um soco na parede, imaginando a cara da ruiva bem no meio.

— Eu sou mesmo um idiota... como acreditei que uma espiã da SHIELD não reviraria a minha casa...!? – O Capitão dizia a si mesmo, com Mary ouvindo.

— Você não é idiota, Steve... eu que sou... me perdoe...

O Super Soldado tinha vontade de xingar Natasha Romanoff de todos os palavrões que existiam...

— Eu juro por Deus, que se a Romanoff não quiser morrer, é melhor que ela não apareça na minha frente essa semana... – O Capitão se mantinha de costas, passando as mãos pelos cabelos, bagunçando-os com força.

Mary Crystal olhava para ele, desesperado, frustrado, envergonhado e sentia que havia errado em ter entrado no jogo da Viúva Negra aquela manhã.

— Eu sinto muito, Steve... não queria que você se sentisse assim... para falar a verdade, eu queria me desculpar por ter agido estranho com você, porque também não soube lidar muito bem com o que vi hoje... e... acho melhor eu ir embora... não quero que você se sinta pior por minha causa... – A loira colocava a xícara em cima da mesa de centro e pegava seu sobretudo, o capacete e o par de patins, com o único intuito de sair dali.

Havia uma dor desagradável no fundo da garganta da Segundo-Tenente e seus olhos começavam a brilhar, porque resquícios de lágrimas surgiam...

Triste, decepcionada consigo mesma, segurando um choro e mancando, quando Kiara chegou na frente da porta, Steve rapidamente agarrou sua mão...

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— Por favor, não vá embora, Mary... eu não estou bravo com você... estou com raiva de mim e muito envergonhado por ter sido um idiota em tê-la desenhado dessa forma... é só que... eu não consegui conter o que sentia... me perdoe...

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O Super Soldado confessava de modo melancólico, sentindo-se envergonhado e humilhado...

O rosto dele estava corado... mas a desonra e a infâmia por Mary ter descoberto seus desenhos secretos, não era nada comparado a forte paixão que nutria por ela...

A garota fungava, segurando uma lágrima e compadecida da sinceridade dele... não tinha nada a ver com Steve... porque ele não havia cometido nenhum crime... não havia nada de errado ali...

Mary girou seu corpo, cabisbaixa... ficando frente a frente com ele...

— São desenhos incríveis, Cap... eu não me importo se estou sorrindo ou se estou nua... e... eu realmente fiquei assustada no início, mas muito mais impressionada e lisonjeada... então você não devia ter vergonha deles, porque... são verdadeiras obras de arte, desenhadas pelas mãos de um artista apaixonado... – A Segundo-Tenente afirmava, segurando a mão dele de volta, com certo brilho no rosto, embora estivesse demasiadamente ruborizada e inibida.

Steve sorria derrotado, mas aliviado pela reação pacífica dela.

— Eu não queria parecer um pervertido... então... me desculpe por isso, Mary... me desculpe por deixa-la desconfortável... não foi minha intenção...

— Você é apaixonado por mim, então é natural que pense em mim dessa forma... – Ela redarguia, sendo compreensiva, ainda que estivesse embaraçada.

— Deve ter sido realmente assustador, não é...?

— Sim, eu fiquei bastante chocada, mas não da forma como você está pensando, como se fosse no mal sentido... eu fiquei assustada porque está provado que você realmente gosta de mim de uma forma muito intensa...

— Acho que não sei me expressar muito bem com palavras e... acabo transbordando tudo o que sinto através dos meus desenhos... – Ele retorquia, num tom de voz ameno, mas ainda muito encabulado.

Mary Crystal finalmente ergueu o olhar, encontrando o dele...

— Você disse isso no Queensbridge Parque... aquela vez que fomos no evento literário do CS Lewis... – Ela sorriu timidamente, com as maçãs do rosto muito vermelhas.

— Vejo que estava prestando atenção em mim aquele dia... – Ele sorriu de volta, ainda segurando a mão dela, firmemente.

— Ah, bem... sim, eu estava... – Kiara corava ainda mais, ficando da cor de um tomate e o loiro amava aquela expressão de menina tímida...

— Sei que vai soar estranho dizer isso, mas... é um alívio ver o seu sorriso depois de toda essa confusão com os desenhos... e... quero sempre ver esse sorriso... mesmo que eu não seja o motivo... – Ele confessava, ainda segurando a mão dela, com muito carinho e devoção.

Steve tinha aquela leve mania de fazê-la se sentir tão bem... e era nessas horas que Mary tinha uma imensa vontade de ficar com ele...

Os dois se entreolhavam, completamente apaixonados... completamente corados...

— Pare de me tratar como se eu fosse tão especial, Cap... – A garota o repreendia, correndo os olhos para os lados, apenas para não encontrar aquelas lindas safiras reluzentes que a fitavam de modo deslumbrante.

— Mas você é especial... principalmente pra mim...

— Não me acho tão especial assim... mas confesso que sou uma edição limitada... – A loirinha brincava, deixando o clima mais ameno e arrancando um novo sorriso dele.

— Sim, você é única... – E então, ambos se perdiam em seus próprios olhares, que se mesclavam, cada vez que tentavam decifrar a alma um do outro.

Mary pigarreava, tentando quebrar o clima demasiadamente romântico, porém constrangedor que pairava ao redor.

— Bem... obrigada por ter cuidado do ferimento no meu joelho e por ter feito esse chocolate quente delicioso, mas eu preciso ir agora, Steve... – A garota desconversava, ainda tímida e sem saber como sair daquela situação inesperada.

— Você já vai...? Se não for pedir muito, fique mais um pouco... “pro resto da vida quem sabe...” – As últimas palavras eram proferidas apenas pelos pensamentos do Super Soldado, que não queria que Mary partisse.

— Já está tarde... então eu realmente preciso ir... – Ela justificava, ainda muito acanhada, sentindo sua mão sendo segurada de forma possessiva pelo Capitão.

— Bem... nesses dias frios, por que não se junta a mim quando tiver um tempo livre...? Eu posso preparar outro chocolate quente... aliás, aprendi a fazer a mesma receita, só que com caramelos e eu não tenho ninguém para experimentar... – Steve exibia uma expressão fofa, semelhante a um garotinho que acabava de perder seu carrinho na hora de brincar.

Kiara soltava um riso divertido em resposta.

— E o Bucky? Ele não pode experimentar?

— Não vou fazer leite quente com caramelo para aquele idiota... quero fazer pra você... – O loiro protestava, deixando claro que a única pessoa para quem cozinharia era ela e apenas ela.

E sim, ele estava investindo pesado em conquista-la... por que em sua mente, só precisava encontrar um ponto de partida, para que tudo aquilo que desejava, começasse a acontecer.

— Certo... vou pensar a respeito... já que estou de licença na Força Aérea de novo, devia esquecer de ir atrás do meu sonho e aceitar as suas gentilezas, não é mesmo, Cap...?

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— Não precisa ir atrás do seu sonho... eu estou sempre em casa, Mary...

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Um forte rubor florescia pelas maçãs do rosto de Mary Crystal... seu coração saltava algumas batidas diante daquelas lindas e extraordinárias palavras galanteadoras...

Como Steve sabia que no momento, era ele quem era o sonho dela?

As palavras do Capitão, fluíram de forma sincera, ousada e muito, muito apaixonada... ficando cada vez mais evidente sua postura conquistadora e audaciosa, apenas para arrancar uma expressão de surpresa nela... apenas para conquista-la... apenas para deixa-la ainda mais derretida e completamente morta de amores por ele...

E a garota já não sabia se aquilo era paixão, amor ou uma dinamite... porque tudo o que sentia por Steve, explodia em seu peito...

Céus, por quê...? Por que a aquela paixão era tão forte e avassaladora? Por que o amor que o Super Soldado tinha por ela se infiltrava tão facilmente em suas veias e em todas as suas células? Por que aquele amor a penetrava no mais profundo de suas vértebras? Como aquele amor lhe roubava a lógica, as palavras, os gestos, os pensamentos e a si mesma...? Como aquele amor se alojava tão facilmente em sua espinha e lhe tirava todo o ar de seus pulmões? Por quê e como...?

Incapaz de formular uma resposta para aquela investida tão audaciosa do Capitão, Mary voltava a dizer que precisava ir, apenas para sair correndo dali...

— Eu realmente preciso ir agora, Cap... – Kiara mirava o chão, ainda muito envergonhada e sem jeito.

Steve continuou segurando sua mão todo aquele tempo.

— Eu te levo pra casa. Você não pode sair com o joelho machucado desse jeito.

— Não precisa se dar ao trabalho...

Olhando para o rosto enrubescido de Mary Crystal, Steve se aproximou ainda mais, encurralando-a entre ele e a parede... e então...

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— Você acha que vou te deixar sair sozinha, machucada, de noite e no frio...? Que tipo de homem acha que sou, Kiara...?

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Ele a intimidava com força, deixando-a sem palavras de novo.

— Aah, mas eu não queria te dar esse trabalho, Steve... – Ela replicava, ainda mais acanhada e tímida, e então...

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— Não quero parecer audacioso dizendo isso, mas... eu jamais deixaria a garota ao qual sou apaixonado sair nessas condições... me deixe cuidar de você, Mary Crystal... aceite minha carona, por favor...

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Steve dava mais um tiro e para matar...

A Segundo-Tenente não sabia se desmaiava de vergonha ou de felicidade, embora não conseguisse demonstrar aquilo.

Ela amava quando Steve a tratava tão bem... com tanto cuidado, zelo e amor... era incrível e sabia que não merecia um por cento de toda aquela gentileza, mas também não podia recusar... seria cruel com ele... e ainda mais com ela, que se via cada vez mais dependente de todo aquele carinho que ele lhe presenteava ao decorrer dos dias.

— Ok... eu aceito... – Mary consentia, num fraco sussurro, tamanho acanhamento.

— Sábia escolha... – E então, ele pegava as chaves da Harley Davidson no chaveiro ao lado da lareira.

A loira observava Steve depois de toda aquela série de encontros e desencontros, ansiando dizer o que estava entalado em sua garganta...

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“Avisa pra sua paixão, que meu orgulho tomou vergonha na cara...”

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