Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 53
Bloody Mary vs Sentinela da Liberdade




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Bloody Mary vs Sentinela da Liberdade

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31 de Outubro de 2012, 07:18 PM

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Brooklyn – Nova York

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Steve terminava de se aprontar em seu apartamento, para a festa de Halloween na Torre dos Vingadores, uma festa que Tony Stark fazia questão de promover, já que o bilionário era um amante de agitações.

Como o Super Soldado não curtia o lance de fantasias grotescas e precisava vestir algo, resolvia usar uma roupa semelhante ao seu primeiro uniforme ‘não oficial’ como Capitão América, quando fez sua primeira missão, ao ir para a Áustria, invadir uma das bases da HYDRA e resgatar os prisioneiros.

O uniforme tinha um visual mais rústico e militar. Até o capacete e o escudo eram iguais aos daquela época.

O loiro se preparava para sair, até que Bucky o avistou no meio do caminho.

— Uau, essa roupa me traz antigas recordações...

— Você se lembra do dia em que te resgatei na Áustria?

— Sim... esse dia foi bem louco...! – O sargento ria, relembrando de como foi assustador ver Johann Schmidt como Caveira Vermelha.

— Eu tenho boas recordações dessa época, embora sejam poucas...

— Imagino... mas me diz uma coisa... você já está indo pra tal festa de Halloween da torre, não é? Não acha um pouco cedo?

— Não quero ficar até tarde...

— Entendo... e você chamou alguma acompanhante? – O soldado tentava sondar a vida amorosa de seu amigo, e meio que já sabia a resposta.

— A Sharon. Vou busca-la daqui a pouco.

— Vai deixar outra loira montar na sua Harley, Steve...? – Bucky zombava, fazendo uma piada bem maliciosa.

— Cala boca e vá dormir, já que não tem nada melhor pra fazer. E sabe... você tem sorte de o Stark não ter explodido seus miolos aquele dia.

— Se o Stark quiser fazer isso, sabe exatamente onde estou, mas acho que ele resolveu arquivar essa vingança contra mim. – James dava de ombros.

— Você já agradeceu a Deus por isso? – O loiro sorria, aliviado por saber que o episódio dramático envolvendo o Homem de Ferro, terminava bem.

— Sim, mas tenho a impressão que você queria que eu estivesse pelos cantos, chorando um rio só pra mostrar arrependimento...

— Não, eu quero que deixe de ser idiota e viva a sua vida. Todos desejam te ver bem.

— Estou fazendo isso...

— Sei... dando em cima da Maximoff todos os dias?

— Ah, a Wanda não é bem o meu tipo... eu não estou com ela o tempo todo porque tenho sentimentos, mas porque ela é muito obscura e alguém deveria ficar de olho nessa bruxinha.

— Sim, por razões de segurança, alguém deve ficar de olho na Maximoff, e esse alguém é você, um ex-assassino de elite... sei... você acha que pode me enganar, seu idiota...?

Bucky abriu a boca e depois fechou novamente. Ele sabia que Steve o conhecia tão bem, que já imaginava o que estava acontecendo entre ele e Wanda.

— Bem... nós somos apenas amigos... e não é como se eu estivesse planejando chama-la para sair, mas é inevitável não pensar nisso... – James redarguia, num tom mais ameno e um tanto tímido.

Steve sorria afetuosamente, se aproximando para perto dele.

— Você não pode me enganar! Eu te vi sair com várias damas desde 1935 e conheço esse olhar... – O loiro jogava um braço ao redor dos ombros do soldado, num gesto de amizade.

— Eu estava flertando um pouco com ela, mas... isso não significa nada... estou apenas me aquecendo pra quando voltar ao mundo de verdade e dar em cima de todas as mulheres que eu encontrar pela frente...

— Não seja ridículo, Bucky! Pare de tentar se enganar e assuma de uma vez que você gosta dela!

— Igual você gosta da filha do Presidente? Olha, Punk, eu acho que ainda não estou desesperadamente tão apaixonado pela Wanda como você está pela Mary, desculpe... – O sargento lançava um meio sorriso de canto para o Super Soldado, que apenas revirava os olhos em resposta.

— A Mary é passado. Estou levando a Sharon para uma festa hoje e amanhã teremos nosso primeiro encontro oficial.

— Você está mesmo disposto a esquecer a sua loirinha piloto? Uau... por essa eu não esperava... sua determinação é mesmo incrível!

— Eu vou indo agora... não tenho tempo a perder com sua estupidez. – O Capitão o repreendia, largando o ombro de metal e se dirigindo até a porta.

— Está levando toda a estupidez com você! – Bucky respondia sempre a mesma coisa.

Os dois sorriram um para o outro, e Steve finalmente saiu.

James soltava um longo suspiro...

As coisas estavam em plena calmaria, coisa que ele não imaginava que aconteceria nunca mais em sua vida, mas a pessoa que o ajudou a chegar aquele estágio era alguém que teria uma imensa dívida pelo resto de sua vida...

Wanda Maximoff...

Bucky olhava pela janela da sala... e se recordava de ter sonhos sobre se casar há muitas décadas atrás. Pensou que voltaria da guerra e todas as garotas de Nova York desmaiariam por ele, o chamando de herói... pensou que levaria algumas delas para dançar e se divertir nos clubes de Jazz, e só depois encontraria uma que iria ter vontade de ligar no dia seguinte, e no dia seguinte, e no dia seguinte também...

Essa seria a garota com que se casaria...

Mas...

Sua vida tomou o rumo oposto e o soldado se transformou num assassino que transcendeu as barreiras do tempo, entrando no século 21...

Agora lá estava ele, tentando se recuperar com a ajuda de uma garota aprimorada, muito mais nova do que ele...

Wanda era a mulher que Bucky desejava levar para dançar e ligar no dia seguinte... ela era muito melhor do que qualquer garota que idealizou em sua época...

Ela era muito mais especial do que qualquer mulher daquele planeta... Wanda era...

Única...

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Manhattan – Nova York

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Steve chegava a festa ao lado de Sharon, que estava fantasiada de... enfermeira...

O Capitão não diria a agente que havia odiado aquela fantasia, e achado de um tremendo mau-gosto, já que a mesma o enganou lhe dizendo que trabalhava com enfermagem, mas como desejava seguir em frente e fazer de tudo para esquecer a garota de seus pesadelos, sim, porque Mary agora fazia parte de seus pesadelos e não mais sonhos, o loiro se esforçava em assassinar todos os sentimentos que sentia pela Segundo-Tenente.

O salão principal da torre estava repleto de pessoas fantasiadas, e que o Capitão não tinha ideia de quem eram, mas desconfiava serem amigos do Homem de Ferro.

Tudo estava enfeitado nas cores preta, abóbora e roxa. Era algo bem bizarro, porém extravagante, ao nível Tony Stark da coisa.

Steve e Sharon estavam sentados numa mesa, ao lado da parede de vidro, conversando tranquilamente, quando de repente, o bilionário surgia...

— E aí, estão aproveitando a festa? – O gênio das Indústrias Stark averiguava a interação daquele casal que ele simplesmente odiava.

— Sim, está tudo incrível, senhor Stark. – A loira redarguia com um sorriso.

Tony esboçava uma careta sorridente e dissimulada, abominando vê-la ao lado do líder dos Vingadores.

— E como estão as missões com o Fury...? – O Homem de Ferro continuava puxando conversa, mas enquanto a Agente 13 respondia detalhadamente, Steve olhava para o lado e notava algo que o fez estremecer de imediato...

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Uma garota baixa, branca, de estatura magra, com uma peruca ruiva Chanel, de costas... muito parecia com o disfarce que Mary Crystal usou quando o presidente foi sequestrado meses atrás.

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A silhueta era idêntica ao da Segundo-Tenente, e então, movido por um impulso, o Capitão resolvia ir até onde aquela pessoa estava, deixando Sharon conversando com Tony.

— Pra onde seu namorado tá indo? – O bilionário a provocava, com um sorriso malicioso de canto.

— O Steve não é meu namorado, mas eu não tenho ideia pra onde ele está indo... – A Agente 13 respondia, também não entendendo para onde o Capitão corria com tanta pressa.

Enquanto descia as escadas, Steve notava que a tal garota saia do local rapidamente e entrava por uma das portas do salão que dava acesso ao andar abaixo.

O loiro corria apressadamente, abrindo a mesma porta.

Ele caminhou pelo escuro breu, procurando por ela...

Quem era aquela garota afinal...? Seria Mary Crystal...? Mas não fazia sentido algum que ela estivesse ali...

Uma música fluía no salão principal, no andar de cima, de forma ecoada... transformando todo o ambiente em algo ainda mais assustador e aterrorizante...

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Shot In The Dark - Within Temptation

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I've been left out alone, (Eu fui deixado sozinho)

Like a damn criminal, (Como um criminoso)

I've been praying for help, (Eu tenho orado por ajuda)

'Cause I can't take it all, (Porque eu não posso aguentar tudo isso)

I'm not done? It's not over? (Eu não acabei? Não está acabado?)

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Now I'm fighting this war, (Agora eu estou lutando nessa guerra)

Since the day of the fall, (Desde o dia da queda)

And I'm desperately holding on to it all, (E eu estou me agarrando a tudo desesperadamente)

But I'm lost, I'm so damn lost… (Mas eu estou perdido, estou tão perdido...)

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Oh I wish it was over, (Eu queria que tivesse acabado)

And I wish you were here, (E eu queria que você estivesse aqui)

Still I'm hoping that somehow… (Eu ainda estou esperando por isso de alguma forma...)

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Steve continuava caminhando pelo longo corredor escuro... procurando por aquela pessoa, até que finalmente, deu de cara com a saída... mas... não havia ninguém ali...

Apenas as fracas luzes da cidade entravam pela parede de vidro do corredor... e quando o Super Soldado pensou que havia perdido a misteriosa garota de vista...

Havia uma porta aberta, que dava entrada para outro grande salão...

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'Cause your soul is on fire… (Porque sua alma está em chamas)

A shot in the dark, (Um tiro no escuro)

What did they aim for when they missed your heart? (No que eles miraram quando erraram seu coração?)

I breathe underwater, (Eu respiro dentro d'água)

It's all in my hands, (Está tudo em minhas mãos)

But what can I do? (O que eu posso fazer?)

Don't let it fall apart, (Não o deixe desmoronar)

A shot in the dark… (Um tiro no escuro...)

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Ao entrar no local, o Capitão andava sorrateiramente... e o eco da música abafava suas pegadas na escuridão...

A decoração daquela sala era de Halloween... havia velas e espelhos por todos os cantos, abóboras e uma enorme mesa com um ponche vermelho no meio...

No centro daquela mesa, uma poltrona estava virada de trás... e Steve temia que alguém estivesse sentado ali.

Por mais que não se assustasse com nada referente à Halloween, o loiro sentia calafrios ao vislumbrar aquele lugar... estava apreensivo...

Em lentos passos, ele se aproximava da mesa... e perto o suficiente para constatar que havia uma pessoa sentada naquela cadeira...

E então, inesperadamente, uma voz surgia na direção onde permanecia com o olhar fixado...

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— Reza a lenda, que se você chamar o nome Bloody Mary três vezes em frente a um espelho, ela aparecerá... e caso tenha matado alguém, lhe arrancará os olhos...

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A voz feminina... o timbre familiar... o jeito único de falar...

Steve não tinha dúvidas sobre quem era a pessoa diante de si naquele momento.

O Super Soldado deu dois passos para frente, tentando recuperar os sentidos, porque por dentro, estava abismado com aquela presença...

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— Mary...?

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E então, a Segundo-Tenente virava a cadeira giratória, se revelando para ele...

Um sorriso obstinado e provocante brotava nos lábios vermelhos da garota, que estava exatamente disfarçada, ou melhor, fantasiada de sua melhor personagem...

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Bloody Mary... a linda, letal e assombrosa ruiva de cabelos curtos, em sua forma mais maligna...

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In the blink of an eye, (Em um piscar de olhos)

I can see through your eyes, (Eu posso ver através dos seus olhos)

As I'm lying awake I'm still hearing the cries, (Enquanto eu deito acordada eu ainda ouço o choro)

And it hurts, hurts me so bad… (E me machuca, me machuca tanto...)

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O loiro sentia uma forte pressão em seu peito e um formigamento correndo fortemente por seus músculos...

Entre os dois, um silêncio e o eco da música...

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Oh I wish it was over, (Eu queria que tivesse acabado)

And I wish you were here, (E eu queria que você estivesse aqui)

Still I'm hoping that somehow… (Eu ainda estou esperando por isso de alguma forma...)

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Por que ainda se sentia assim na presença dela? Por que seu coração ainda se prostrava diante da imagem deslumbrante da Segundo-Tenente? Por que... parecia ter voltado para o ponto de partida, onde os dois se despediram aquela vez...?

Por que não conseguia superá-la e nem a esquecer totalmente...? Até quando reagiria como um estúpido idiotamente apaixonado...?

Já a garota, mantinha uma postura firme, diferente dele, afinal, ela tinha a vantagem de tê-lo visto no dia anterior e não se sentia tão intimidada com sua presença, ainda que a imagem de Steve lhe fitando de modo assombrado, lhe arrancasse arrepios.

Mary continuava sorrindo e o encarando firmemente, provocante, então, o loiro era obrigado a falar alguma coisa novamente, para quebrar o silêncio entre ambos.

— O que você está fazendo aqui? E... por quê...? – O Super Soldado a contestava, ainda muito assustado por vê-la repentinamente em sua frente.

— Por que a surpresa, senhor Sentinela da Liberdade? O Stark me convidou pra festa e resolvi aparecer. – Ela mantinha o sorriso petulante.

— Você... veio até Nova York por causa de uma festa de Halloween...?

— Sim.

— Desculpe, mas eu não acredito em você!

— Não seja uma rainha do drama, Steve... relaxa... por que está me olhando com essa cara assustada? Está com medo de mim...? – Mary sorria, cruzando as pernas, apoiando os cotovelos nos braços da poltrona, enquanto inclinava o rosto para o lado, de forma irritante, apenas para deixa-lo com mais raiva.

Mas repentinamente, alguém entrava no salão escuro, interrompendo-os...

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Tony Stark...

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— Aah, vejo que já se encontraram!

O loiro olhou para trás, com um semblante furioso.

— Foi você que armou isso, Tony!?

— Ah qual é, vai dizer que não curtiu a surpresinha que te fiz!? Devia agradecer em vez de me olhar desse jeito, Capicolé!

— Você realmente não tem limites, não é mesmo!?

— Não! E prefiro deixar vocês dois sozinhos, por que tenho uma festa pra comandar, então comportem-se! Mas não muito! Tchau! – E então, o bilionário abria e fechava a porta rapidamente, deixando os dois a sós mais uma vez.

Steve respirou fundo e voltou a olhar para a garota, que ainda o fitava de modo provocante, irritando-o por simplesmente manter aquela postura arrogante, presunçosa e vaidosa.

O Super Soldado andou mais alguns passos à frente, olhando Kiara por trás da mesa, sentada e...

Ele apoiou as duas mãos na base da mesa, inclinando seu corpo, defrontando-a através do olhar intransigente e ferrenho.

— Você não está aqui só porque queria ir numa festa de Halloween... você está aqui por minha causa, apenas pra me provocar!

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— Olha a minha cara de atleta, pra ficar correndo atrás de alguém... – Ela revirava os olhos, levantando o rosto, encarando o teto.

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— Quem menos demonstra é quem mais sente, Mary Crystal! Você acha que pode me enganar!? – Ele a rebatia, sabendo que teriam mais uma violenta discussão.

E era incrível como tantas variáveis existentes, quando juntas, a traziam para perto dele... Steve ficava impressionado em como o destino a colocava em sua frente...

Era reconfortante, mas muito assustador como o inferno...

A garota lançava um olhar desdenhoso na direção do Super Soldado, encontrando os olhos azuis em chamas... preciosos como safiras...

E toda vez que o Capitão encontrava aquele maravilhoso olhar esverdeado, todo o seu esforço ia por água abaixo.

— Atualmente estou preferindo ser odiada, já que o amor de hoje em dia está tão falso, que pelo menos o ódio é um sentimento verdadeiro... – Mary retorquia de modo audacioso e atrevido, numa espécie de indireta.

— Dizer que odeia é admitir que ama. Quem não se importa, não diz nada... – O loiro replicava, com cólera em sua voz.

— Vejo que é você quem parece me odiar, Cap...

— É inevitável, não acha...?

— Sim e isso é incrível! Se você me ama, eu estarei no seu coração, mas se você me odeia, eu estarei em sua mente, portanto, eu sempre estarei com você! – A Segundo-Tenente sorria mais uma vez, deslumbrantemente ufana e insolente.

E diante das afirmações atrevidas da garota, agora era o Capitão quem sorria.

— Você usa uma máscara por tanto tempo que se esquece de quem é por baixo... eu tenho tanta pena de você, Mary Crystal...

— Eu sei que esse sorriso escancarado no meu rosto te incomoda, Capitão Rogers... – Kiara estava amando provoca-lo, vê-lo irritado e desconsertado por sua causa.

Era revigorante ter sua vingança daquela forma...

— A prepotência te faz forte por um dia, mas a humildade é para sempre... então eu não vou acreditar nesse sorriso falso...

— Ok, não se iluda com meu sorriso mesmo... porque eu estava apenas pensando qual a forma mais prazerosa de te ver morrer... – Mary Crystal soltava uma risada soberba, se deliciando com as feições de ódio que Steve lhe lançava.

— Eu sei que você está mal, mas continua sorrindo... é uma perita na arte de fingir...

— Ah Cap... eu realmente não sou como você quer que eu seja... eu sou melhor... – Ela piscava, mantendo o sorriso soberbo no rosto.

— Enquanto você não for o suficiente pra si mesma, vai viver incompleta... é por isso que você age desse jeito e está sozinha até hoje!

— Ah, não me diga o que fazer, quando nem você mesmo consegue dar um jeito nessa sua vidinha medíocre de super herói e agente secreto! – A garota batia as mãos na mesa, ainda sentada, num tom de voz imperioso e autoritário.

Os dois se encaravam com muito ódio... com os rostos direcionados na direção um do outro...

Por mais que odiasse admitir, aquele maldito sorriso que Steve deixava escapar, e seus olhos brilhando por conta do desafio de mais uma discussão onde ambos tinham um embate violento, fazia com que Mary se transformasse numa poça aos pés dele...

— Não estou tão bem quanto eu gostaria, Mary... mas também não estou tão mal quanto você pensa... – O loiro rebatia, de modo ríspido. Ele odiava quando a garota tentava esfregar em sua cara que ele parecia perdido sem ela.

Detestava aquela arrogância e orgulho... detestava aquela maldita distância entre ambos... mas era só ela aparecer em sua frente de novo, que seu coração desejava esquecer que detestava tudo aquilo...

Como ele detestava a detestar...

— Pra quem dizia estar tão apaixonado por mim, até que você desistiu fácil... – Kiara dizia tais palavras num tom de voz irritante, só para provoca-lo ainda mais.

— Se não te procurei mais é porque aprendi com você! Eu não vou me rastejar aos seus pés, Mary Crystal!

— É mesmo...? – E então, a Segundo-Tenente se levantava... dando a volta na mesa lentamente, e encontrando Steve no meio do caminho...

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Eles agora ficavam frente a frente, depois de quase dois meses...

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Os dois se entreolhavam intensamente... perdidamente e demasiadamente... distantes, mas tão perto... como um toque físico invisível...

Como lábios que se beijavam sem encostar um no outro...

Como mãos que se entrelaçavam sem estarem dadas...

Como almas que se encontravam, como uma conexão... antes do encaixe de seus corpos...

Steve desejava fechar os olhos, apenas para não ter a imagem dela em sua frente de novo...

Ele sentiu algo torcer dolorosamente em seu peito, e entreabriu os lábios, no ímpeto de dizer o que estava em sua mente, mas desistiu logo em seguida e depois suspirou, de modo impaciente...

O Super Soldado queria significar para Mary, pelo menos a metade do que ela significava para ele.

Kiara mantinha o olhar fixo no rosto do Capitão, e então, passou a atentar para aquela roupa que o mesmo vestia.

Aquele era o primeiro uniforme como Capitão América, numa missão não oficial. Estava em todos os livros de história...

Ambos ficaram em silêncio alguns segundos, e os dois sentiam suas respirações um pouco pesadas... o ar estava denso demais...

Era tão inacreditável... Mary Crystal estava ali... diante de si...

Mas ele não conseguia decifrá-la... porque a garota soava como uma brisa leve com ar de furacão... cada porta que ela abria para mostrar algo, escondia outras mil faces que possuía...

Os dois eram tão opostos... porque enquanto a loira era uma explosão que precedia a calmaria, Steve era a calmaria que precedia uma explosão...

Jamais daria certo entre os dois...

Depois de se entreolharem por longos segundos, a garota resolvia dizer algo, mas em tom de provocação.

— Acho engraçado como você tenta parecer forte na minha frente, Cap, mas parece que na realidade, as coisas não estão dando certo, não é mesmo?

— Claro que estão... todo carinho e atenção que você não me deu, eu estou recebendo hoje de outra pessoa.

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Kiara soltava uma gargalhada alta diante daquelas palavras.

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— Awwn, você e a agente 13 já chegaram nesse estágio!? Fico pensando o quanto o mundo deve sentir vergonha ao ter duas pessoas tão sem graça e sem química saindo juntas!

— Vai dizer o que veio fazer aqui, ou vai continuar mentindo? – Ele a interrompia, ignorando sua provocação.

— Por que eu estaria mentindo?

— Não está mentindo? Então você foi se esconder no Colorado pra fugir de mim!?

— Ah, se toca, Steve... eu tinha uma vida, bem antes de você aparecer... – A garota revirava os olhos, desdenhando daquela pergunta.

— O que eu fui pra você então, Mary Crystal? Uma fuga!?

— Fuga!? Tudo o que mais desejei quando te conheci, era te matar! Você me irritava só de ouvir sua voz!

— Isso foi no começo, mas e depois? – Steve a contestava, lhe intimidando com força.

Os olhos da Segundo-Tenente alargaram por um breve momento. Mary queria desviar o olhar, mas não o fez... e depois de um segundo, a garota piscou de volta para si mesma e sorriu de forma insolente.

— Você foi a melhor coisa que desapareceu da minha vida, Capitão Rogers... depois que fui embora, tudo voltou ao normal... minha vida, meu emprego, meus sonhos, o sentido e a lógica, minha ânsia por viver e realizar meus objetivos... então por que está insinuando que eu estaria aqui por sua causa? – Ela mentia descaradamente... sabia que nada voltaria a ser como antes, mas seu orgulho não lhe permitia dizer a verdade. Mary nunca diria a verdade ao Capitão.

— Se sua vida voltou ao normal, por que estamos aqui discutindo?

— É verdade, por quê?

— Eu sei a resposta... – O loiro se aproximou dois passos, ficando ainda mais perto dela, e a encarou firmemente, com o rosto inclinado para baixo, olhando fundo naqueles olhos esverdeados... para aquele rosto tão belo e que lhe trazia recordações e sensações aprazíveis...

— Sabe a resposta...? Será...? – Kiara cruzava os braços, encarando-o numa postura intransigente, com o rosto erguido.

— Lembre-se que independente do tempo passar, tudo o que é verdadeiro permanece... e é por isso que você está aqui hoje, Mary... – Ele afirmava, implacavelmente convicto.

A garota sorriu de canto.

— E o que é verdadeiro...?

Steve não desviou o olhar, não piscou, não corou, não se afastou, não se moveu um milímetro sequer na hora de responder, e então...

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— Eu, você... nós... isso é verdadeiro...

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O Super Soldado terminava, a deixando assustada, mas ao mesmo tempo, aliviada... ele sentia isso...

Steve não sabia como esquecer o arrepio em sua pele, quando se recordava dos lábios dela encontrando os dele...

Não sabia como era parar de sentir seu perfume, porque em todo lugar que ia, lá estava ela...

Não sabia como se esconder da imensidão dos olhos verdes esmeralda... onde se perdia...

Se sentindo estremecida pelas palavras do Capitão, Mary não estava disposta a se abster da postura de garota má, orgulhosa e arrogante.

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— Eu sou muita ação e adrenalina pro seu romance meloso de época...

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E mediante a tais palavras, Steve soltou uma risada, abismado com tamanha infantilidade.

— Demorou tanto pra eu entender que esse seu jeito é puro fingimento... você nunca é sincera, porque se sente intimidada quando alguém expressa o mínimo de apreço por você, não é mesmo, Mary Crystal? Meus sentimentos por você te assustam... – Ele sorria, triunfante.

— Você está delirando, Capitão... – Naquele momento, Mary não conseguia manter o olhar no dele, e acabava desviando, deixando claro que sim... Steve estava certo... os sentimentos dele a assustavam...

— Estou tão certo, que você acabou de desviar o olhar! Não consegue olhar no fundo dos meus olhos por que sabe que está mentindo! – O loiro andou mais um passo para frente, com ambos ficando ainda mais perto...

— Desviei o olhar porque estou me segurando pra não rir da sua cara... – A Segundo-Tenente mentia mais uma vez. Estava desatinada... depois de tantos meses presenciando a personalidade tímida e gentil do Super Soldado, se sentia ameaçada e intimidada com aquela postura audaciosa e perigosa dele, ao ser tão sincero em sua frente, sem mostrar o mínimo de embaraço.

Agora que tudo estava claro, era tão fácil ser franco e jogar aquelas verdades na cara dela, sem expressar o mínimo de acanhamento... porque aquele sim era o verdadeiro Steve Rogers... livre, ousado, corajoso e desimpedido... e expor seus sentimentos, era muito, mas muito simples agora...

— Olhe pra mim, Mary Crystal... – Ele exigia, mas Kiara não conseguia.

— Se afaste... – A garota mantinha o olhar preso no chão.

— Olhe pra mim...

— Não...

E então, o Capitão fechou completamente a distância entre ambos, e agarrou o queixo feminino, erguendo-o entre o polegar e o indicador, a forçando a encará-lo...

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— Admita que você não consegue me esquecer...

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A voz Steve soava grave, férrea e irresistível...

Mary Crystal finalmente o olhava... assustada... os lindos olhos verdes alarmados e piscando... perdidos e encurralados...

Tantas coisas se passavam na mente dela... tantas coisas que deseja dizer a ele...

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“Ei, seu tonto, será que você pode parar de me olhar com esses olhos azuis tão belos que lembram os de um anjo numa pintura de um quadro renascentista, porque eu estou aqui quase esmagada com sua presença?”

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Não... não dava para dizer isso, mas e se dissesse...

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“Ei, seu idiota, será que você pode me abraçar como se estivéssemos caindo de uma ponte, porque eu estou aqui sem chão com sua presença?”

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Não, ela não podia dizer isso... mas e se...

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“Ei, seu soldadinho de meia pataca, será que você pode me beijar como numa cena de final de filme, porque eu estou sem ar com sua presença?”

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Definitivamente, não... melhor não dizer nada...

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— Onde está aprendendo a ser tão atrevido desse jeito...? – Isso era tudo o que Mary conseguia responder, de tão amedrontada que estava.

— Aprendi com você... – E então, Steve sorriu de modo sedutor, desmontando-a por completo...

A garota virou o rosto para o lado, evitando mais uma vez o contato visual com ele.

Mary Crystal tinha vontade de mata-lo naquele minuto... mas quando se lembrava que sem Steve não conseguia ser nada, a vontade de mata-lo passava...

— Olhe pra mim... por que desviou o olhar de novo...?

— Pare de me intimidar, Steve...

— A gente não se entende... é uma conversa e três, quatro, cinco, sete, dez brigas...

— E daí...? Quer alguém que concorde com você o tempo todo...? Não consegue lidar com o contraditório...?

Cansado de ser contrariado, o Super Soldado virava o rosto da garota novamente entre seus dedos, mas dessa vez, gentilmente...

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— Eu sei que você me quer... exatamente do jeito como eu te quero...

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Um tanto deslumbrada e hipnotizada por aquelas palavras tão diretas e incitantes, a Segundo-Tenente semicerrava o olhar... mostrando que o loiro ainda tinha muito efeito sobre ela...

— Não... você está ficando louco... – Kiara continuava negando, embora ele soubesse que era mentira.

— Mary... eu te deixei ir embora porque não queria que você ficasse contra a sua vontade... mas agora que você está aqui, me diga a verdade... por quê...?

A garota não conseguia sustentar o olhar no dele... seus olhos sorriam, a voz falhava, suas bochechas coravam, e todos os seus sentidos se esvaiam...

Fazia tanto tempo que não via Steve... que não o sentia, não o respirava, que não se entregava e suspirava...

Por dias, sozinha em seu quarto na base de Colorado Springs, se recordava daquela presença majestosa e da aura heroica... fazendo com que todos os silêncios lhe trouxessem o eco da voz dele...

E agora, o Super Soldado estava ali... diante de si... tão disposto a deixar claro o que sentia por ela...

A Segundo-Tenente suspirou de modo pesado, recuperando o fôlego...

Mas seu orgulho ainda imperava...

E então...

— Pensou que eu ia correr atrás de você, Capitão? Desculpe-me a pergunta, mas seu nome é felicidade...?

O loiro curvou os lábios num sorriso confino e resplandecente...

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— Você já sabe a resposta... – Ele a mirava com um olhar penetrante, ainda segurando seu queixo delicadamente...

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Aquelas lindas esmeraldas que tanto amava, lhe arrancavam as mais secretas confissões... e o Capitão odiava confessar coisas, mas adorava roubar palavras e deixar Mary Crystal sem fala por alguns segundos, fazendo o coração dela saltar algumas batidas...

No entanto, por mais que o Super Soldado tivesse êxito em tudo o que pensava, deixando-a desnorteada, Kiara decidia não ceder...

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— Use o seu amor pra limpar o chão. Não estou mais interessada nele, Steve...

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Não, não era o que ela desejava dizer de verdade, mas... odiava ser intimidada daquela forma e ser posta em segundo plano. Odiava esperar... odiava, odiava, odiava, mesmo que por um segundo, ainda que ele demonstrasse que ela era a primeira, por que era sempre Sharon Carter quem levava o primeiro lugar?

No dia anterior, o loiro deixava claro que não moveria uma palha para ir até ela, decidindo esquecê-la... então por que se contradizia? Obviamente a culpa era de Sharon e da lembrança de Peggy que o mesmo encontrava no fundo dos olhos da Agente 13.

O Capitão franziu o cenho, irritado com aquela resposta birrenta.

— Quando corro atrás de uma pessoa é pra valer, mas quando desisto é pra sempre, Mary Crystal!

— Ui, que medo... estou me sentindo muito intimidada e preocupada com isso, sabia...?

— Você é minha preferência, mas não é minha única opção!

— Eu já sei! Sei que você já colocou uma substituta no meu lugar! – A garota se afastava, o empurrando para longe com força.

— O que você queria!? Que ficasse te esperando pra sempre!? Se você não é feliz, não atrapalhe a felicidade dos outros!

— Que felicidade!? Essa felicidade falsa que você acha que tem com a Sharon!?

— Você pensa que só porque gosto de você, eu iria implorar seu amor de joelhos!? Se enganou, pois meu objetivo era caminhar ao seu lado e não correr atrás de você!

— Eu nunca pedi pra você correr atrás de mim, Steve!

— Preste atenção, Mary... se quiser entrar em minha vida a porta estará aberta... e se quiser sair da minha vida, a porta continuará aberta, mas não fique no meio do caminho pra não bloquear o tráfego!

— Mas que diabos de amor é esse que você deixa a porta aberta e qualquer uma pode entrar quando bem entende!? – A garota mostrava a face dos ciúmes que carregava no peito, mas ele não estava disposto a aceitar aquela indefinição.

— Eu preciso virar a página! Você não sabe o que quer!

— Ah, você vai virar a página!? Pois saiba que eu vou queimar o livro!

O loiro bufava, completamente furioso.

Odiava aquele jeito soberbo e insensível da Segundo-Tenente, sempre querendo estar a par de sua vida, mas incapaz de mover um músculo para encontrar uma solução. Ela nunca reconhecia seu erro, e nunca pedia desculpas, sempre esperando que os outros a procurassem... sempre esperando que as coisas caíssem do céu, num ato milagroso... sempre colocando a culpa na insegurança, no medo, no orgulho e nas pessoas que nada tinham a ver com seus medos e traumas.

Steve odiava os passos lentos de Mary Crystal, quando seu tempo urgia... quando tudo nele era urgente... porque odiava a forma como ela tentava resolver tudo... como uma estrela, que constantemente implodia e explodia até chegar ao auge...

Desejava apressar as coisas... lançar seus sinais de fogo no coração dela e incendiar seu firmamento, porque estava enlouquecendo enquanto ela demorava...

Steve olhou para Mary novamente, cansado, aflito, machucado, apaixonado, porém, decidido...

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— Sinto que nossa história está caminhando para o fim...

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A garota estreitou o olhar, com cólera...

— Já estamos no fim, Cap!? Mas eu nem me lembro onde isso tudo começou!

— Claro, por que você estava ocupada demais alimentando seu ego!

— Oh, é mesmo!? Você pode então ficar com a perfeita e maravilhosa Agente 13, mas não se esqueça que é em mim que você vai pensar quando estiver com ela!

Steve a encarou com ódio, sanha, fúria...

Como podia ser tão mesquinha e egoísta? Tão infantil e pirracenta?

O Capitão se aproximou novamente da garota e agarrou seus ombros com força.

— Por que você tem o dom de estragar tudo, Mary Crystal!? Eu estou aqui pra você, mas também estou te deixando livre pra ir embora se quiser! O que você queria que eu fizesse!? Que te obrigasse a ficar comigo!? Como você pode ser tão insensível!? Todo esse tempo você não sentiu a minha falta!? Porque eu senti a sua cem vezes mais!!! – O Super Soldado chacoalhava os ombros da garota, num gesto desesperado.

— Se você sentisse a minha falta, não estaria saindo com a Sharon!

— Estou fazendo isso pra te esquecer!

— Ótimo, então fique com a Sharon! Podem namorar, noivar, casar e construírem uma família! Não era você que queria um casal de filhos!? – A Segundo-Tenente gritava de volta. Seu olhar era aterrorizante.

O olhar de quem odiava era mais penetrante do que o olhar de quem amava...

O ódio tinha melhor memória do que o amor...

— Pare de ser tão orgulhosa, Mary! – Steve ainda mantinha as mãos agarradas aos ombros femininos, segurando-os com força.

— Eu não estou sendo orgulhosa!

— Sim, você está! Está sendo orgulhosa e arrogante! Então pare logo com isso e assuma de uma vez que eu sou o que você quer, Kiara!

— Não!

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— Tem que ser eu... por que pra mim... tem que ser você...!

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O Capitão bradava de volta, alterado, descontrolado, ansioso e desnorteado.

Ele deveria odiá-la... sentir raiva de Mary Crystal por machucá-lo, mas não conseguia... no instante em que a odiava, ele também a amava... a queria longe dele, mas precisava dela por perto...

A garota sempre agia por impulso e tinha o dom de feri-lo... porque Mary Crystal era como uma linda e deslumbrante flor... mas possuía espinhos e sempre espetava sua mão, toda vez que tentava tocá-la...

Ambos estavam muito próximos... Kiara podia sentir a fragrância amadeirada que provinha do Capitão... tão aromática e estimulante, que lhe provocava uma intensa sensação eletrizante...

Céus, ele cheirava tão bem...

Em êxtase, Mary Crystal apenas estreitava o olhar, completamente estremecida por aquelas palavras tão diretas, e que não tinha a mesma coragem de dizer...

Steve estava tão alarmado e desesperado, que um impulso ardente lhe fazia se aproximar ainda mais da garota, comprimindo a total distância entre os dois...

E mediante a expressão apaixonada da Segundo-Tenente, o loiro percebia que aos poucos, Kiara parecia ceder a proximidade...

— Pare de me torturar, Mary... por favor... – O Capitão suplicava... e olhando dentro dos olhos esverdeados, ele estendeu a mão, colocando uma mecha dos cabelos ruivos atrás da orelha dela, tocando delicadamente a pele nívea e macia...

A garota se sentia estremecida... não conseguia ter capacidade de resistir... Steve parecia estar vencendo aquela batalha...

O Super Soldado abaixava o olhar... atentando para os lábios dela... entreabertos e tão vulneráveis... bastava se inclinar um pouco mais, e conseguiria saciar o desejo enlouquecedor de saborear aquela boca deliciosa... e beijá-la até desmaiar...

Porque o loiro queria marca-la de alguma forma, em todas as formas... queria ser uma presença frequente dentro dela... latejante... a lembrando em todos os momentos que seu lugar era ali, com ele... e que não tinha intenção alguma de sair e deixa-la sozinha...

Se Mary o queria com todas as suas vírgulas, Steve tinha plena certeza que a queria como ponto final.

Entorpecida pelo toque dos dedos do Capitão deslizando por sua nuca, a Segundo-Tenente tentava se afastar, mas ele a impediu imediatamente.

— Não me afaste de você, por favor... – E então, as mãos firmes tocaram o rosto feminino, encaixando-o entre seus dedos, como uma concha...

O Super Soldado inclinou o rosto, ficando a poucos milímetros do dela...

— Me deixe ir, Steve... – Kiara sussurrava, perto o bastante dos lábios dele... perto o bastante para sentir a respiração do loiro tocando sua bochecha...

— Eu não vou te deixar ir embora de novo... – Ele redarguia, com as mãos tocando a face da garota... segurando-a com delicadeza, como se estivesse prestes a fechar totalmente a distância entre ambos e beijá-la... lento, sensual... e sublime...

E sabia que Mary desejava o mesmo...

Oh céus, como ele tinha saudades daquele perfume...

Ambos tinham a imensa vontade de fechar os olhos e deixar seus narizes se encostarem... suas respirações se cruzarem... se misturarem... igualando seus fôlegos, assim como as batidas de seus corações, em perfeita sincronia...

De todos os sons, dos mais calmantes aos mais doces, e isso incluía o som dos pássaros, da chuva e da maresia do oceano... de todos esses sons, o do coração dela, se abrindo ao dele em batidas apressadas, era a melodia mais perfeita que podia existir...

A sonância do pulsar do coração da Segundo-Tenente, encaixando na dele, era mágica... de todos os sons, a voz dela... sua respiração... a vibração de seu querer, que impregnava em seu corpo... em seu peito... em sua alma... era a sinfonia mais linda, mais intensa e mais maravilhosa que repercutia em sua mente...

Steve precisava dela... precisava de Mary Crystal ali... no orbitar de seu corpo, no limite do toque, perto dele... deixando seu cheiro de pimenta rosa... de maçã e pêssego, com nuances quentes... cítricas e florais... suave e picante...

Ele precisava de seu cabelo macio... de sua pele aveludada... de seus olhos em tons de jade... de suas palavras de desafio, implicando, bagunçando, o martirizando, mas deixando seus olhos brilhando...

Precisava dela ali... lhe irritando... lhe fazendo ter a vontade de mordê-la de nervoso... segurando sua mão nos dias de vendavais, mas também nos dias de calma e tranquilidade... porque ninguém naquele século teria capacidade de ver quem Steve era por baixo de sua pele...

Que outra mulher o veria além da sua casca...? Era só Mary Crystal... ela e somente ela...

O Super Soldado permanecia lhe defrontando de forma veemente... fazendo-a perder o fôlego...

Os olhos azuis eclipsados e escurecidos de tão apaixonados por contemplá-la daquela forma diante de si, mostravam o possante de desejo que carregava...

Respirando profundo e lentamente, Mary Crystal subiu o olhar, encarando as safiras nubladas de Steve...

Os dois se olhavam intensamente... ambos olhares semicerrados... piscando vagarosamente...

E então, o Capitão sussurrava palavras ameaçadoras perto dos lábios da garota...

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— Eu não faço a menor ideia de como esperar você me querer... mas se tiver que esperar muito, então talvez eu não te queira mais...

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Mary Crystal se sentia petrificada e flutuando diante daquelas palavras... estavam tão próximos, que a garota sentia o hálito gélido do Super Soldado tocando seus lábios...

Não sabia o que responder... estava perdida...

Ela amava, mas ao mesmo tempo, tinha medo daqueles olhos... aquele olhar que lhe despia a alma e também de suas roupas... de cada camada... de cada imperfeição... deixando-a do avesso... e nua... completamente nua pra ele...

Quando Steve confessou sua paixão a ela, a insegurança da Segundo-Tenente explodiu... e seu medo eclodiu das piores formas...

Kiara não conseguia acreditar que alguém tão incrível como o Capitão América havia desenvolvido sentimentos tão intensos por ela...

O Super Soldado sempre lhe oferecia um abraço quando seus piores pesadelos apareciam... e sua mente se esvaía e esvaziava, sentindo-se em plena calmaria...

Tinha medo de perde-lo, dentre todos os seus medos... mas não poderia arriscar seu coração e aceitar os sentimentos dele... por que o que aconteceria se um dia Steve quisesse deixa-la...?

Tinha medo de ceder e perder... mas também tinha um ciúmes gigantesco do Capitão... porque ao mesmo tempo em que pensava em se afastar, também sentia vontade de agir como uma leoa, devassa e egoísta, ansiando marcar território, pois odiava dividir o que era dela, ainda mais com alguém como Sharon Carter.

Por trás daquele orgulho todo, tinha alguém louca para ter aquele maldito Super Soldado de volta...

E entre toda a mistura de confusão, medo, insegurança, ciúme, desejo e paixão, Mary preferia deixa-lo em paz...

A garota desviou o rosto e levou os lábios até o ouvido dele...

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— Me desculpe, Cap, mas... não há porque continuar algo que nunca começamos...

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E então, quando a Segundo-Tenente fez menção de se afastar, Steve agarrou o pulso dela com força, desferindo um olhar fatalmente incisivo.

— Não precisa vir então, se não for pra ficar... – Ele redarguiu, cansado de todo aquele jogo maçante.

— Você é um porre, Steve Rogers... – A garota o defrontou, de cima a baixo, com desdém.

— Pode me xingar o quanto você quiser, desde que você sofra e aprenda a agir como uma adulta... então continue fingindo... vamos ver até quando você consegue...

— Esse é o problema. Eu não estou fingindo... – E então, Kiara puxava seu pulso com raiva.

— Você vai mentir na minha cara, Mary Crysta!? – Steve se aproximava novamente, a impedindo de se afastar.

— Pare de ser tão prepotente, Capitão!

— É assim que você sempre vai agir, não é...? Então a partir de agora, quando quiser, me procure no passado, porque foi lá que eu te quis!

— Quem é apegado ao passado é você, Steve! Esse seu descontrole raivoso comigo já está me dando nos nervos!

E então, os dois se encararam colericamente, com ambos olhares se misturando, presos um no outro, até que...

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Sharon Carter entrava no local, estranhando porque Steve estava ali com...

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— Senhorita Ellis...? – A Agente13 pronunciava, mostrando surpresa em vê-la ali...

Por que Mary Crystal estava com Steve naquela sala escura?

— Olha só quem chegou, Cap... a sua namorada! – A Segundo-Tenente ironizava, gargalhando.

— Steve... o que ela tá fazendo aqui...? – A loira o contestava, totalmente confusa.

— Ela... veio para a festa de Halloween do Stark... – O loiro bufava, com raiva de si mesmo por ser flagrado junto com Mary naquele lugar isolado e escuro.

— Sim... por que qual seria o real motivo de estar aqui...? – Mary “ironizava”, enquanto se afastava do Capitão, passando por Sharon, rumo ao corredor daquele andar.

Quando Kiara alcançou a porta, a Agente 13 a impediu, segurando seu ombro.

— Onde tem duas pessoas felizes, sempre tem uma terceira querendo atrapalhar, não é mesmo, Mary...? – Ela a defrontava, com certo peso no olhar.

— Aaawn...! Se você ficar com o Steve, eu vou rir e ter pena! Ele está tentando achar em você o que só encontrou em mim! – A garota sorria maliciosamente triunfante.

A agente observava a atual aparência de Mary... ruiva, cabelo Chanel, vestido vermelho e escuro de mangas curtas, salto... e uma maquiagem perfeita...

Ela sorriu gentilmente e então...

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— Estou tentando adivinhar quanto é que você gasta em maquiagem para pintar as trezentas caras que carrega nesse rosto artificial...

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Steve andava na direção das duas, e resolvia interromper a suposta “briga”.

— Chega vocês duas! – Ele se colocava entre ambas mulheres, que se encaravam de forma ferrenha.

Kiara olhou no fundo dos olhos da agente e então...

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— Não adianta tentar tomar um lugar que nunca vai ser seu, Sharon Carter...

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E então, Mary abria a porta e saia dali, deixando os dois sozinhos.

Steve suspirou fundo, envergonhado, perdido, humilhado, tudo junto...

A Agente 13 o defrontou com um olhar irritado.

— Pare de correr atrás de quem vive fugindo de você!

— Eu não estou correndo atrás dela... eu... nós... apenas nos encontramos por acaso... – O loiro retorquia, um tanto arrependido de ter tido uma recaída na frente daquela garotinha mafiosa, porque... Mary não merecia...

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— Você ainda é apaixonado por ela, não é, Steve...? Me diga a verdade...

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— E-eu... – O Capitão não conseguia terminar de dizer, nem que sim e nem que não...

A loira revirou os olhos, frustrada, impaciente e desacreditada.

— Isso não é amor, isso é martírio!

— Eu não estou me martirizando, Sharon... e... não estou correndo atrás da Mary... ela veio pra cá, nós conversamos, ou melhor... discutimos, e como sempre, não chegamos a lugar algum...

— Seja sincero... você ainda quer sair comigo, mesmo depois de reencontrar com ela? Olha, eu vou entender se disser que não... – A loira esboçava uma feição apreensiva, porém, decidida.

— Eu... não vou desistir do nosso encontro, mas você sabe que estou num árduo processo de me livrar dos meus sentimentos pela Mary... e não vou te enganar... ela ainda mexe muito comigo...

— Ok... se você quer sair comigo por livre e espontânea vontade porque quer esquecê-la, ótimo. Mas se for para se enganar, ou me enganar, é melhor me dizer agora. Não quero ficar entre vocês dois...

— Nós vamos sair, Sharon... eu não vou desistir de tirá-la da minha mente... “embora tenha impressão de que seja quase impossível.” – Steve não conseguia dizer aquelas últimas palavras a Agente 13.

Sharon era muito mais adulta, decidida, educada, focada, honesta, sincera e simples... o extremo oposto de Mary Crystal, mas...

Era aquela maldita garotinha gângster que mexia com seu coração...

Céus, por quê...?

— Espero que ela não fique chateada por eu ter chegado aqui e tê-la desafiado, porque apesar de tudo, não acho certo uma mulher chorar de tristeza por questões amorosas...

E então, Steve respondeu o que achava...

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— Esse é o problema da Mary... ela não fica triste... ela se vinga...

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