Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 52
O misterioso cachorro terapeuta




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O misterioso cachorro terapeuta

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28 de Outubro de 2012, 05:01 PM

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Colorado Springs – Colorado

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Kiara e Amber terminavam alguns testes em uma das aeronaves da base, já que ambas tinham formação em Ciência da Computação e conhecimentos técnicos por serem pilotos.

A Segundo-Tenente andava em direção ao interior do local, trajada com seu típico macacão da Força Aérea e um sorriso no rosto, por ter desempenhado maravilhosamente o seu trabalho aquele dia. Sim, porque aquele dia era um dos poucos dias que estava se sentindo muito bem e queria aproveitá-lo da melhor forma possível.

Mary cruzava a porta do escritório, no ímpeto de encontrar com seu superior e entregar um relatório, mas quando chegou no local...

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Deu de cara com Nick Fury, a esperando, sentado numa poltrona...

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No mesmo instante a garota fez uma careta assombrosa...

— Aah não...

— Não adianta fazer careta e dizer “Aah não”, porque você sabe que isso não vai adiantar. – O Diretor da SHIELD se levantou, indo até ela.

Mary esboçava uma expressão furiosa na face.

Por que ele estava ali?

— O que você quer comigo? Estragar a minha vida de novo!? – Ela o contestava, com raiva.

— Os testes com a cobaia deram certo e provavelmente teremos uma possível tentativa para a primeira viagem no tempo no começo do ano que vem. – Fury revelava, deixando-a levemente chocada.

— E o que isso tem a ver comigo?

— Seu trabalho ainda não acabou, Kiara. Onde estão as coisas que lhe pedi? E por que você não tem vindo para Nova York?

— Pensei que tínhamos combinado que eu apenas lhe diria sobre o que tenho visto em meus sonhos e visões. Por que precisaria ir até Nova York?

— Nos últimos dois meses, suas visões ficaram imprecisas e... a frequência diminuiu, então, isso pode significar duas coisas: a primeira é que o fato de não estar em contato com os Vingadores, fez suas visões ficarem embaralhadas e duvidosas e a segunda é: você está escondendo o que tem visto de mim...

— Não seja ridículo, por que eu esconderia!? Eu disse que ia cooperar!

— Então é o primeiro fator, logo, preciso que você volte a se reunir com a SHIELD e os Vingadores nos fins de semana. – Fury a encarava com severidade, e ela... bem, ela estava chocada...

— Como é que é!? Você quer que eu me desloque toda semana pra ir até Nova York!? Eu tenho uma vida aqui em Colorado Springs e sou um ser humano que também precisa de descanso! Não vou dar os meus fins de semana para os Vingadores e a SHIELD!

O espião a encarou intensamente, com uma feição austera e então...

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— Prefere que eu revogue sua licença de novo, Kiara...?

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— Você não ousaria...

— Eu vou fazer de tudo pra salvar o mundo, e sou capaz de passar por cima de qualquer pessoa para conseguir isso, fui claro...? – Ele a ameaçava descaradamente, deixando-a perplexa com tamanha petulância.

— Por que você não me deixa em paz!? Eu não posso ficar atrelada a SHIELD e aos Vingadores pra sempre! Eu só quero seguir a minha vida normalmente, longe de tudo isso!

— No momento, é impossível, então, espero te ver na torre dos Vingadores no próximo fim de semana. – Fury virava de costas, prestes a sair dali.

— Uau, você está me dando uma semana pra me preparar!?

— Por mim, você já estaria em Nova York nesse fim de semana, mas o Stark vai dar uma festa de Halloween, então não haverá reunião.

— Mas-

— Esteja pronta. Uma aeronave irá te buscar na manhã do próximo sábado. – E então, o espião saia do local, deixando-a sem saídas...

Céus, por quê...? Estava finalmente começando a se sentir melhor depois de ter voltado a rotina da Força Aérea, e agora teria que voltar para aquela vida...?

Como iria encarar a todos de novo...? Como iria encarar Steve depois de tudo o que aconteceu...?

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Aquela noite, Mary Crystal não dormiu. Não conseguiria...

Ela tentou de todas as formas arrumar uma solução que não a colocasse de novo no caminho da SHIELD e dos Vingadores, mas Fury conseguia estragar tudo, como sempre...

A garota pensou que seria muito pior se chegasse na torre na próxima semana, sem saber o que lhe esperar, e então, decidia ir para Nova York no fim de semana de Halloween, apenas para sondar como estavam as coisas, e não ser pega de surpresa, por nada e nem ninguém...

Teria que preparar seu psicológico novamente para reencontrar com Steve, embora não quisesse...

Amber, que já estava ciente da situação, fazia várias perguntas à amiga.

— Você simplesmente vai chegar lá do nada?

— Não vai ser do nada. Eu tenho uma ideia...

— Que ideia?

— É Halloween, então, eu posso ir disfarçada pra que ninguém me reconheça e entrar no meio deles, só pra saber como estão as coisas depois que fui embora.

— E você vai se disfarçar de Noiva Cadáver ou Arlequina? – A piloto brincava com a amiga, fazendo-a revirar os olhos.

— Lembra aquela minha fantasia de cachorro, que usei em vários eventos beneficentes para animais? – A loira sorria cinicamente.

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— Você vai espionar os Vingadores, vestida de cachorro!? É sério, Kiara!?

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— O que você prefere? Que eu chegue lá no próximo sábado do nada? Preciso preparar o meu psicológico primeiro!

— Sei... quer trabalhar o psicológico pra conseguir reencontrar o Capitão América sem desmaiar de amores por ele, certo? Eu te entendo... você está sendo inteligente...

— Não, eu...-

— Olha Kiara, você devia parar com essa maldita negação. Aposto que quando a Chris estava com você, dizia as mesmas coisas a ela, não é!? Por que você não nos ouve!? Só queremos que você seja feliz, e se você quer ficar com o Capitão, então vá atrás dele! Pare de se esconder atrás dos seus medos! – Amber a repreendia, farta de suas desculpas.

— Você sabe que não é tão simples...

— Sim, você mesma torna as coisas difíceis. Largue esse seu passado sombrio de traumas por medo de rejeição e apenas se lance! Eu tenho certeza que é recíproco! Eu reparei no modo como o Capitão te olhou quando vocês foram a Casa Branca! Ele estava com ciúmes do Harry! Do Harry!!! Olha só o nível em que as coisas chegaram!

— Ciúmes do Harry...? – A loira arqueava uma sobrancelha, desacreditada.

— Ele não sabia que o Harry era seu irmão e exibiu uma feição de frustração no começo...

Mary arregalava os olhos... Steve já tinha sentimentos por ela naquela época?

— Eu... nunca reparei em nada disso... só acreditei quando ele disse na minha cara e com todas as letras que estava apaixonado por mim... – A garota confessava, com uma expressão atordoada.

— Ele com certeza se apaixonou primeiro... – Amber sorria sordidamente, imaginando que deve ter sido muito engraçado o Capitão América, o ser mais nobre da face da terra, estar apaixonado por uma garota tão retardada e mimada como sua amiga.

— Isso é obvio, mas inacreditável, Amber...

— Então trabalhe direito essa ideia em sua mente! Dê uma chance pro amor, Kiara! Você nunca se apaixonou por ninguém na sua vida, então se entregue! Pare de resistir! Vá até ele e diga como você se sente!

— Eu não sei se consigo...

— Consegue sim! Vai dar tudo certo!

A Segundo-Tenente suspirava, sentindo seu peito pesado...

Quando estava começando a se recuperar, Nick Fury chegava ali e lhe colocava na maldita situação de ter que reencontrar com Steve, então, que escolha ela tinha...?

Mary não estava disposta a seguir o conselho de Amber, mas não conseguia esquecer a lembrança de Steve se confessando e a implorando para ficar...

Ela decidia ir para Nova York, apenas para fazer um teste...

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Ficaria frente a frente com o Super Soldado, e esperava não sentir mais nada por ele...

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O que com certeza era impossível, mas estava disposta a tentar.

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30 de Outubro de 2012, 07:07 PM

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Brooklyn – Nova York

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O clima de Halloween invadia Nova York e havia muitos grupos passeando pela cidade, pedindo doces e participando de várias festas ao ar livre.

A decoração também era o ponto alto, além de muitos eventos que ocorriam simultaneamente.

Mary Crystal havia chegado a capital pela manhã e se hospedado na casa de Christine Palmer.

A médica sabia que o casal STARY não havia chegado ao fim, e estava disposta a convencer sua amiga a ir atrás do Capitão América para que os dois se acertassem, só que...

A Segundo-Tenente ainda resistia a tal ideia insana...

Ela havia vestido sua fantasia de cachorro e resolvido sair no meio da multidão, rumo aos arredores do apartamento do Super Soldado, no Brooklyn.

Não tinha ideia se o encontraria ali, mas o plano era apenas observar seus passos, se fosse possível...

E então, a garota finalmente chegava em frente ao prédio dele, reparando que muitas crianças batiam de porta em porta pedindo doces.

Um grupo se aproximava e batia na porta do prédio. Todos estavam disfarçados e seguravam algumas cestas em forma de abóbora.

Mary ficava parada, escondida atrás de um poste, observando tudo com atenção, até que...

Bucky abria a porta do local, vestido todo de preto e com Wanda atrás dele...

Os dois distribuíam doces para as crianças, que saíam felizes e saltitantes.

A loira arregalava os olhos ao perceber que na verdade...

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O sargento e a feiticeira estavam saindo do apartamento, juntos e fantasiados, provavelmente para algum lugar...

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Bucky estava fantasiado de vampiro e Wanda de... bruxa...

“Que óbvio, Wanda...” – Kiara pensava.

A feiticeira usava um chapéu clássico de uma bruxa em sua cabeça, o que a deixava até fofa.

Os dois saíam dali, lado a lado e sorrindo um para o outro, e... a Segundo-Tenente não estava entendendo absolutamente nada...

— Eu fico fora dois meses e esses dois já estão nesse nível...? Será que estão namorando...? – Perguntava a si mesma.

E então, mediante a seus pensamentos que pareciam um grito por conta da perplexidade, Wanda conseguia distingui-los dos diversos pensamentos da multidão que passava por ali.

Ela olhou para os lados, procurando a voz daqueles pensamentos...

A feiticeira sabia que pertenciam a Mary Crystal, porque era obvio...

— O que foi, bruxinha? – Bucky a indagava, achando a expressão da garota um tanto estranha.

— Nada... vamos indo? – E então, ela sorriu, disfarçando. Não podia dizer ao sargento que sabia que Mary estava por ali, porque com certeza ele diria a Steve.

A Segundo-Tenente suspirou, irritada...

— Que ótimo... agora a Wanda sabe que eu estou aqui... – Ela massageava as têmporas, se sentindo encurralada.

Depois de ficar escondida atrás daquele poste por muito tempo e constatar que o apartamento de Steve se encontrava vazio, Mary se convencia que o Capitão estava fora...

Mas onde estava com a cabeça? Por que ele ficaria em casa sendo que a cidade estava em festa? Ou talvez ele estivesse na torre, trabalhando com Tony e os outros? Ou talvez...

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Steve estivesse com Sharon...

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A garota esfregava o rosto, desanimada...

— Eu sou uma idiota mesmo... o que eu tô fazendo aqui...? – E então, Mary Crystal resolvia sentar na borda da janela de uma loja em frente ao apartamento de Steve.

Triste e perdida, a loira apenas pensava que devia sair dali, pegar um avião e voltar para Colorado Springs...

Quando Kiara decidia se levantar, passar no apartamento de Christine, pegar sua mochila e partir para o aeroporto John F. Kennedy no intuito de ir embora no primeiro voo para Colorado Springs...

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O Capitão América passava por ela, com seu uniforme tático da SHIELD, o escudo de vibranium nas costas, capacete, luvas e trajando todos os equipamentos de uma missão formal...

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A garota arregalou os olhos, e puxou a máscara por baixo da cabeça de cachorro, escondendo sua face, além de colocar óculos de proteção, ficando impossível de alguém a reconhecer.

E como se não bastasse estar assustada por vê-lo passar, o Super Soldado também decidia parar em sua frente e...

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Sentar ao seu lado...

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A Segundo-Tenente sentia seus batimentos cardíacos totalmente frenéticos...

“Mas que droga! Era só o que faltava!!!” – Ela pensava, atônita, com medo de ser reconhecida.

Desespero era a palavra que definia a feição por baixo de todo o disfarce da loirinha.

E ao vislumbrá-lo de lado, percebia que o Capitão estava um tanto cabisbaixo e triste...

Por que ele estava daquele jeito?

O loiro suspirava, como se estivesse perdido e ao mesmo tempo sem saída...

Foi então que Steve percebia que havia alguém do seu lado, já que se encontrava distraído demais com tantos pensamentos.

Ele também notava que a pessoa estava disfarçada de cachorro... algo bem normal, perto das fantasias malucas que havia presenciado no caminho de volta para seu apartamento...

O Capitão ficou em silêncio por um minuto ao lado do cachorro, que também se mantinha quieto... calado... e ao perceber que ele a fitava, como se estivesse curioso sobre sua fantasia, ou que tipo de pessoa estava de baixo daquela cabeça de cachorro, ela resolvia sair correndo dali... porém, a Segundo-Tenente tropeçou em seu próprio pé e...

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Caiu de cara no chão...

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Céus... por quê...?

Se ela não queria chamar atenção e passar despercebida por ele, havia falhado completamente em sua missão.

E então, Steve se levantou, indo até ela, e...

— Você está bem...!? – O loiro se agachava, erguendo a mão e ajudando-a se levantar.

Ao contemplá-lo depois de tanto tempo, a garota sentia tudo ao redor parar de fazer sentido, apenas porque vislumbrava o rosto do Super Soldado...

Era como se seus olhos ficassem em formato de coração, apenas porque ele estava ali, segurando sua mão... céus, porque o Capitão tinha uma natureza tão gentil, bondosa e altruísta?

Tudo ressoava em câmera lenta, com som de brilhinhos de fundo, uma aura iluminada e uma música para sair da bad... mais precisamente, a música que ouviu mil vezes quando estava em Colorado Springs...

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Walk – Foo Fighters

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A million miles away, (A muitas milhas de distância)

Your signal in the distance, (Está o seu sinal)

To whom it may concern, (Pra quem quiser saber)

I think I lost my way, (Acho que perdi meu caminho)

Getting good at starting over, (Estou ficando bom em começar de novo)

Every time that I return… (Toda vez que eu tenho uma recaída)

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Learning to walk again, (Estou aprendendo a andar novamente)

I believe I've waited long enough, (Acho que já esperei tempo demais)

Where do I begin? (Mas por onde eu começo?)

Learning to talk again, (Estou aprendendo a falar novamente)

Can't you see I've waited long enough? (Você não vê que já esperei tempo demais?)

Where do I begin? (Mas por onde eu começo?)

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Aquela música lhe vinha à cabeça naquele exato instante...

O Capitão América estava diante de si... completamente uniformizado, equipado e armado... parecia um sonho, mas ao mesmo tempo um pesadelo...

Seu pobre e combalido coração, que já estava sofrendo fortes palpitações, já dava graves sinais que explodiria em breve...

Era a primeira vez que os dois estavam frente a frente e tão perto após quase dois meses... e tudo o que a Segundo-Tenente conseguia sentir, era o maravilhoso perfume amadeirado de Steve... aquela fragrância tão familiar que ela secretamente amava...

Por um momento, Mary sentia vontade de abraça-lo... de revelar quem era e dizer que estava ali disfarçada de cachorro o esperando, envergonhada, arrependida e confessar que não havia conseguido esquecê-lo todo aquele tempo, no entanto... tal insanidade estava completamente fora de cogitação...

Quando Steve terminava de ajudá-la a se levantar, a garota apenas engrossava a voz, para que ele não a reconhecesse.

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— Obrigada... – Ela articulava, com ódio de si mesma...

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“Quase dois meses de abstinência dele, e a porcaria do coração quer ter recaídas agora?! Ah coração, não me envergonhe!”

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O Super Soldado olhou para a pessoa em sua frente, um pouco desconfiado, como se houvesse algo naquele cachorro que fosse familiar, mas não fazia o menor sentido, então, parado de frente para ela, a única coisa que Steve conseguiu dizer em seguida foi...

— Hey, será que você pode me ajudar...?

Mary Crystal queria sair dali correndo, mas com certeza cairia de novo, então, apenas se limitou em responder algo que o fizesse desistir.

— Eu sou só um cachorro passando por aqui... – A loira pedia a Deus que o Super Soldado parasse de olhar pra ela.

— Bem... seria muito atrevimento de minha parte pedir seu celular emprestado? Acabei perdendo o meu na última missão...

— Não tenho celular. Desculpe...

— Ah... entendo... – O loiro replicava, desanimado.

Como o Capitão América havia perdido o celular?

Desconfiada e curiosa, a loirinha apenas resolvia entender o que havia acontecido.

— Não acha insensato perder o celular? Desde quando um Vingador do seu nível se presta a isso? - Ela o questionava, fazendo-o arquear uma sobrancelha.

— Você sabe quem eu sou...? – Steve a contestava, e Kiara percebia que não devia ter feito aquela pergunta.

— Ahaha... claro que eu sei... você não é o Capitão América...!? – A garota ria amedrontada, com medo que o Capitão a reconhecesse.

— Uau... a maioria das pessoas que passou por mim hoje, dizia que meu cosplay de Capitão América estava ótimo para o Halloween, mas... você foi a primeira a descobrir que eu realmente sou ele...

Mary Crystal se sentia encurralada... céus o que devia responder...? Precisava sair dali o mais rápido possível...

— Acho que fui muito sincera e direta... mas disse essas palavras grosseiras porquê de todos os Vingadores, você é o que eu mais odeio, então não resisti em criticá-lo! Como um super herói do seu nível consegue perder um telefone? – Ela terminava, forçando uma voz grave, não sabendo mais o que dizer, temendo ser reconhecida.

O Capitão a encarava com uma carranca... uma tensão estranha pairava entre ambos e a garota se perguntava se ele estava prestes a lhe dar um soco, mas...

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Steve começava a sorrir...

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— Essa é a primeira vez que ouço as palavras “você é o vingador que mais odeio” de alguém normal... – Ele mantinha o sorriso caloroso e gentil que Mary tanto amava e sentia saudades de contemplar...

O Super Soldado também lhe roubava um sorriso por trás da máscara...

A presença dele era capaz de tornar um dia cinza em arco-íris...

— Bem, peço desculpas por ser grosseira. – Kiara se justificava, com a cabeça baixa.

— Tudo bem... isso não me incomoda nem um pouco...

— Então não está zangado?

— Por que estaria? Você não pediu desculpas? Não acredito que deva ficar zangado com alguém que tenha se desculpado com sinceridade... – O loiro redarguia, ainda sorrindo ternamente.

Uau... Steve Rogers era tão maduro, educado e gentil... e céus, ela sentia que estava corando por trás da cabeça de cachorro...

— Estou me sentindo mais leve agora... obrigado por falar comigo, cachorro... – O Capitão agradecia, e Kiara apenas focava no olhar azul, que brilhava levemente...

Porém...

A loira ainda constatava que a feição dele ainda estava carregada...

O Super Soldado estava preocupado com alguma coisa?

Steve não era do tipo que mostrava suas fraquezas na frente dos outros, mas de alguma forma, ele fazia isso na frente de Mary, e ela obviamente, sempre o ajudava a se sentir mais aliviado.

Ele escondia seus sentimentos verdadeiros com um sorriso e mantinha suas emoções engarrafadas...

Aquilo de certa forma a preocupava, e então...

— Você parece tenso... aconteceu alguma coisa além de ter perdido seu celular?

O Capitão arqueou uma sobrancelha, um tanto impressionado por aquele cachorro perceber o que ele tentava esconder.

— Como sabe que estou apreensivo?

— Se quiser desabafar e falar dos seus problemas... eu estou aqui...

— Contar meus problemas? Pra um cachorro? E que ainda por cima disse que me odeia?

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— O cachorro é o melhor amigo do homem, caro soldado... – E então, Kiara arrancava uma risada do Capitão, que estava impressionado com a ousadia da pessoa por trás da máscara.

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— Eu não sei se devia contar isso a uma pessoa desconhecida... é um pouco... vergonhoso... – Steve sentia um leve rubor colorindo suas bochechas por trás do capacete, mas de fato, não havia ninguém perto dele com quem pudesse desabafar.

Bucky tinha ido a uma festa com Wanda.

Sam estava numa base da Força Aérea, fora do estado.

Tony estava ocupado, organizando a festa de Halloween da torre.

Natasha estava em outro país, numa missão da SHIELD.

E ele não tinha tanta intimidade com os outros Vingadores para simplesmente sair falando de seus problemas pessoais.

Então, só restava aquele cachorro...? Um cachorro terapeuta...?

— Bem... será que podemos nos sentar...?

— Claro...

E então, os dois se sentaram onde estavam antes.

Steve ficou quieto por um minuto, encarando o chão, imerso em seus pensamentos, e então...

— Já aconteceu com você antes...?

— O quê...?

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— Você... já se apaixonou alguma vez...?

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Kiara ficava assustada com aquela pergunta... então, o loiro queria falar sobre seus problemas amorosos? Oh céus... isso com certeza tinha a ver com ela, e a garota começava a sentir calafrios por todo corpo, com medo do rumo que aquela conversa poderia tomar.

— Eu nunca me apaixonei, mas aposto que você já esteve apaixonado antes, então tem mais experiência do que eu... – Ela rebatia, sem saber o que o Super Soldado responderia.

O Capitão realmente não tinha experiência... ele apenas sabia o que era amar uma mulher, mas nunca teve um relacionamento real com uma... nem mesmo com a que amou no passado, já que não teve tempo para isso.

— Não tive tempo para isso... eu estava ocupado, salvando o mundo dos nazistas e da HYDRA...

— Isso é bem triste... mas... o seu amor foi unilateral...?

— O meu era correspondido, só que realmente não tive tempo de... vive-lo... – Steve mostrava embaraço como uma garotinha inocente, esperando um príncipe encantado.

A velha história dramática envolvendo Peggy Carter...

A garota bocejava por trás da máscara...

Mas o Capitão continuava seu raciocínio.

— Me disseram que o fato de nunca ter tido um relacionamento real, não faz dos meus sentimentos algo forte e inabalável para ser considerado amor verdadeiro, só que eu sei que é verdadeiro...

— Então, isso te faz inexperiente no caso? Gostar de alguém, mas nunca ter tido um relacionamento?

— Sim...

Steve se sentia incapacitado de entender o que era um relacionamento, já que nunca teve um...

— Realmente, o que te disseram é o certo. Amar não é só se apaixonar, é conviver diariamente, estar presente, se importar, apoiar, confortar e compartilhar os meus sonhos e objetivos.

— Só posso dizer que suas palavras estão esmagando meu coração... isso é bem triste... – O loiro sorria novamente, derrotado... aquele sorriso idiota e charmoso que de alguma forma fazia os dias de Mary Crystal muito melhores...

— A verdade dói... – Kiara queria rir, mas ao mesmo tempo estava aflita, porque era nítido que ele estava falando sobre Peggy Carter e não ela.

— Preciso te lembrar que você se voluntariou pra ouvir os meus problemas? Então esperava ouvir algo mais confortante...

— Eu disse que te odeio. Não ia pegar leve de qualquer jeito... – O cachorro dava de ombros.

Steve a olhava desconfiado... curioso sobre a identidade daquela pessoa...

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— Quem é você afinal...?

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Mary Crystal engolia a seco, temerosa.

— Apenas um cachorro...

— Sei... você já disse isso...

— E quanto ao seu amor não correspondido? – A loira tentava desviar o rumo da conversa.

— O meu grande amor era alguém inalcançável, porque dormi por muitas décadas... mas depois de um tempo, comecei a perceber que outra pessoa tomou o lugar dela, repentinamente... só que as coisas não estão indo tão bem quanto imaginava...

Agora Steve estava falando sobre Mary...

— Por quê...?

— Por que ela é uma pessoa complexa e que ocupa uma posição de destaque numa instituição...

— E só por isso não deu certo...? – A Segundo-Tenente o contestava, porque também queria saber a resposta... embora fosse errado enganá-lo daquele jeito, disfarçada.

— Eu sinto que não fiz tudo o que deveria, mas... estou disposto a mudar o rumo para onde estou indo...

— Vai atrás dela...? – Mary sentia muita necessidade de ouvir o que o Steve responderia... a ansiedade tomava conta de seus sentidos e então...

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— Eu não vou atrás dela...

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Os olhos da garota arregalaram diante das palavras dele... sentia que acabava de tomar um chute no estômago.

— Não vai...? Por quê...!? – O contestava, desesperada internamente.

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— Porque eu mereço ser feliz...

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Kiara não estava entendendo... ele seria mais feliz sem ela?

— E... você terá felicidade longe dela...?

— Estou convencido que sim... e acho que estou começando a enxergar a felicidade batendo em minha porta todos os dias, só que... relutei, porque estava muito apaixonado...

A Segundo-Tenente observava seus batimentos cardíacos aumentarem... era esplêndido, mas ao mesmo tempo assustador ouvir aquelas palavras...

Essa tal felicidade se chamava Sharon Carter?

— A felicidade está batendo em sua porta...? Como assim...?

— Pela primeira vez, a realidade da ausência dela falou mais alto do que todas as lembranças de nossos momentos juntos, então, acho que devo seguir em frente...

Mary Crystal não estava gostando do rumo daquela conversa. Steve estava dizendo que desistiria dela?

— Você está desistindo mesmo!?

O loiro respirou fundo, recuperando o fôlego.

— Sim... finalmente deixei de ter pena de mim por estar sem ela, e passei a ter pena dela por estar sem mim...

Uma veia pipocava na testa da loirinha. O Super Soldado tinha pena dela...?

— Você tá dizendo que vai mesmo desistir da mulher que você gosta e que sente pena dela!? – Kiara alterava o tom de voz, sem nem perceber.

— Ontem, pensando sobre o dia em que ela foi embora, confesso que fiquei triste como sempre... mas pela primeira vez, triste por ela...

— Triste por ela...? Por quê...?

— Porque por mais que tenha certeza de meus sentimentos, eu jamais a obrigaria a ficar comigo... então, acho que devo deixa-la ir e seguir o meu caminho... isso é o certo a se fazer...

Mary não sabia mais o que dizer. Estava triste, decepcionada e abatida por aquelas palavras tão pesadas... pesadas para ela, leves e libertadoras para ele.

Aquilo não poderia acontecer, e a garota tinha a chance de convencê-lo do contrário, já que estava disfarçada de cachorro.

— Se você disse que é amor verdadeiro, como pode desistir tão fácil?

— Porque fiz dela o meu sol e hoje estou passando frio...

A garota franzia o cenho, indignada. Que respostas idiotas eram aquelas afinal?

— Já parou para pensar que se você correr atrás, talvez hoje ela mude de ideia?

— Não acredito que vá mudar de ideia. Atualmente as pessoas não procuram alguém para amar, e sim alguém para superar as suas expectativas... eu não superei as dela...

Kiara observava todo aquele desânimo... desde quando Steve se tornou aquele tipo de homem?

— Pode estar jogando sua felicidade pela janela, Capitão...

— Estou ciente disso... eu amava o sorriso dela, mas hoje prefiro o meu...

O tom de voz ameno e suave do Super Soldado, arrancava um semblante colérico no rosto da garota, por trás da cabeça de cachorro.

— Você não pode dizer isso sem perguntar a opinião dela primeiro!

— Eu perguntei, e ela disse olhando nos meus olhos que não queria levar nada entre nós adiante...

— Mas-

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— Se ela não quis ficar comigo, tenho que aceitar, porque não posso obrigar ninguém a ser feliz...

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Steve sorria para o cachorro terapeuta, sentindo certo alívio em jogar todas as suas frustrações para fora...

Precisava seguir em frente... porque a hora mais triste do amor era quando sabia que ele devia morrer, mesmo não tendo forças para mata-lo...

A Segundo-Tenente o encarava, desacreditada... o forte, destemido, corajoso e heroico Capitão América desistiria tão fácil assim de sua amada?

— De qualquer forma, foi ótimo conversar com você, cachorro. Estou muito melhor agora. Obrigado mais uma vez por me ouvir...

— De nada... – Ela respondia, cabisbaixa, sem saber o que dizer...

— Espero te ver de novo um dia... quem sabe...? – E então, o loiro se levantava, despedindo-se dela, rumando para o outro lado da rua, na direção da entrada de seu apartamento.

Enquanto pegava a chave da porta no bolso da calça do uniforme tático, sentia uma breve e doce brisa que parecia trazer de volta o perfume inebriante de Mary Crystal...

A saudade invadia seu peito, não pedindo licença... entrava sem bater e bagunçava tudo por dentro...

O Capitão suspirava, desanimado, enquanto caminhava, rumo a porta do prédio...

A Segundo-Tenente o mirava do outro lado da rua, totalmente decepcionada...

Tão bonito olhá-lo de longe... à distância, nem parecia que aquele Super Soldado machucava...

Após dias, semanas e quase dois meses, Kiara finalmente conseguia enxergar o que havia dentro de si mesma... ela via claramente... e pela primeira vez, não era mais uma negação por medo, mas uma afirmação dolorosa por ter fugido... porque estava completamente, desesperadamente e perdidamente apaixonada por Steve Rogers...

Aliás, não era só paixão o que sentia por ele... era algo muito mais forte...

A loira ficava ali... assustada, desiludida, frustrada, triste, perdida e um tanto desesperada...

Devia bater na porta dele e fazê-lo desistir daquela ideia?

Devia fazer Steve desistir de desistir dela...?

— Que ótimo... o tiro saiu pela culatra... ele está superando e eu não... ooh céus... o que será de mim agora...?

A loirinha saia dali cabisbaixa, sem saber o que fazer...

A única saída era...

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Encontrar o caminho do bar mais próximo...

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Christine chegava no local onde Kiara estava bebendo.

O bar estava repleto de pessoas fantasiadas, aproveitando a véspera do Halloween.

A médica sentava no banco ao lado dela, de frente para o balcão.

— E aí, cachorro...? Você parece desanimado... seu plano não deu certo?

Mary virou o olhar de zumbi na direção de Christine, sorrindo de forma sacana.

— Chris... fui agendar um horário pra sofrer e só tem pra depois do dia 2 de Novembro...! – A garota erguia os braços, segurando uma garrafa de vodka... sempre vodka...

— Me diz o que aconteceu...

— Eu encontrei ele... – A garota revelava, num tom choroso, segurando fortemente a garrafa.

Kiara já estava bêbada e constatava que foi a pior ideia ter saído do Colorado para até Nova York.

— E ele te reconheceu!? – A médica perguntava, assustada.

— Não... por sorte não me reconheceu...

— E... você só o viu de longe!?

— Nós conversamos por um tempo, mas ele não sabia que o cachorro era eu...

— Como assim ele não te reconheceu!? Sobre o que vocês conversaram!!? – Christine só faltava pular no banco, de tanta curiosidade, afinal, ela era mais uma torcedora ferrenha do casal STARY.

— Você acredita que aquele cretino veio desabafar comigo sobre sua vida amorosa e teve a coragem de dizer que desistiria de mim!? – Kiara mostrava raiva, indignação e muita irritação.

Seu rosto estava muito vermelho por conta da embriaguez.

— A culpa é sua!!! Você vai mesmo deixar o orgulho tirar o grande amor da sua vida!? Vá até o apartamento do Capitão e diz logo que você ama ele!

— Eu!? NUNCA!!! – Ela gritava, desafinada.

— Você quer que eu vá até lá então!? Por que se eu disser pro Capitão que você está aqui, com certeza ele virá correndo atrás de você!

— A Agente 13 já está ocupando o meu lugar! Sei que ela está fazendo missões conjuntas com ele e...-

— E você vai deixar!? – Christine rebatia.

— Ela é falsa, limitada, quieta e sem personalidade! Ela é a mulher perfeita pra ele!!!

— Não, não é! Pare de ser tão infantil, Kiara!

— Os dois são chatos, então com certeza devem ter muitas coisas em comum e terão um entrosamento muito melhor!

— Até quando você vai continuar sendo tão teimosa...? Eu não sei mais o que te dizer... – Christine massageava as têmporas, impaciente.

— Se esse Capitão Insensível América acha que vou voltar correndo atrás ele, pedindo pra não desistir de mim, ele está enganado! Espero que ele e a Sharon se acertem, namorem, noivem, se casem e tenham vários filhinhos de olhos castanhos e azuis!!!

A cirurgiã já não sabia mais o que responder... já era difícil lidar com a teimosia dela, imagine lidar com teimosia e embriaguez junto?

— E você...? Vai seguir em frente também e ficar com outra pessoa?

— Sim... com a saudade, conhece...!? – A loira sorria, completamente derrotada.

— Vai se afundar na bebida desse jeito?

— Amanhã é dia de sacudir a poeira e seguir em frente, mas por hoje, me reservei o direito de encher a cara, então, com licença... – A Segundo-Tenente pegava outra garrafa que o garçom acabava de deixar no balcão.

— Você é uma piada, sabia...?

— Prefiro fazer de tudo isso uma grande piada mesmo, assim me machuco menos e eu ainda dou risada...!

— Eu não estou vendo você rir até agora...

— É claro que estou! Estou rindo da vida patética que ele vai ter com aquela farsante da Sharon! – A garota começava a gargalhar desvairadamente e Christine perdia a paciência.

— Kiara, as suas dores não são as maiores do mundo e nem vão ser! Sacode a poeira, tome um banho gelado, abra essas asas, grite com força, chore baixo, pule alto e se jogue! Eu vou te tirar daqui, comprar uma caixa de bombom, e te forçar a ver um filme de comédia depois que você ficar sóbria, então vem, vamos sair daqui agora! – A médica pegava na mão de sua amiga, que era arrastada do bar, quase caindo no chão.

Céus, ela se sentia no fundo do poço... não conseguia nem andar sem que sua amiga estivesse ali para lhe apartar...

E agora que se dava conta, percebia que os ciúmes que sentia de Sharon, mostrava o quão afetada, destruída e arrependida estava por ter ido embora, mesmo quando Steve a pediu pra ficar...

Não existia amor mais perfeito do que o platônico recíproco... os dois se amavam, mas não estavam juntos...

.

E o prêmio de maior decepção do ano vai para... mim! Parabéns por ter sido tão cega e tão burra, Mary Crystal!”

.

.

.

Não muito longe dali, Steve, que acabava de sair do banho, colocava uma xícara de café na mesa da sala de seu apartamento.

Ele levantava a cortina, abria as janelas e sentia a brisa fria do outono Nova-Yorkino tocando seu peito pela fina malha de sua camiseta.

O loiro olhava as luzes da cidade, em meio ao clima de Halloween, e a lua nova no céu, e então o Super Soldado suspirou...

Achava que olhar para a avenida pela janela, o ajudaria a desenhar, mas... ele não estava seguro sobre seus últimos desenhos...

Transformar cada traço numa palavra bordada de seus secretos sentimentos, era como se esvair de dentro e sentir-se livre, liberando o caos que habitava nele, recuperando o fôlego do estrangulamento de um coração partido...

Tudo o que Steve fazia era desenhar para se libertar... e não possuía resposta para isso... apenas seguia seus dedos, traçando riscos que o levavam para o penhasco de seus delírios, que o aprisionariam em mais uma madrugada que passaria em claro...

O eterno caos que ecoava pelas escadas dos fundos de sua mente, era abafado pela sinfonia de passos ocos que rangiam o chão de madeira de seu coração...

O Capitão se sentava na cadeira, olhando para a janela a frente...

Não queria se doar tanto pra mais ninguém, porque era sempre ele quem demorava paraa se reconstruir...

E toda aquela mistura de sentimentos se resumia a apenas uma pessoa...

.

.

Mary Crystal Ellis...

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Ele a escolheu pelos motivos errados e continuava a querendo mesmo assim... se sentia um tolo na maior parte do tempo... se sentia como uma reles poeira, enquanto ela era o seu sol...

Tudo era tão estranho... porque de todas as trilhas que seguia, de todos os passos rasos e todos os caminhos tortos, ele ainda continuava escolhendo a Segundo-Tenente, mesmo quando seu coração chorava de madrugada, pedindo um abraço que não teria e um beijo que só existia em suas memórias...

Steve continuava imaginando as noites que ele e Mary nunca tiveram... procurando conforto numa cama fria, coberta de edredons para fingir que se sentia aquecido, porque na verdade, desejava os braços dela em torno de si... mas o abraço da garota estava a muitos passos distantes dele...

Seus desenhos escondidos em sua pasta secreta e seus tomentos mais obscuros tinham um nome...

Mary, Kiara...

E mesmo interditando seu coração, não adiantava... mesmo com os avisos, sinalizações e placas, ainda havia uma fagulha de Mary Crystal ali...

.

.

.

Após duas horas, com Kiara já sentindo a embriaguez indo embora e sentada no sofá da sala do apartamento de Christine, a garota refletia sobre tudo o que tinha acontecido...

Ela se encolhia, abraçando seus joelhos... deixando suas longas madeixas loiras escorregarem por seus braços...

Estava tão aflita... tão perdida e indecisa...

Todo aquele tempo, acreditava que tudo o que sentia pelo Capitão era um reles sentimento fraco e sem importância... mas quando se deu conta que estava se apaixonando, ela fugiu e passou a ignorá-lo por semanas... até que percebeu que o fato de Sharon Carter estar entre os dois, apenas reforçava seus piores medos, lhe obrigando a decidir que o melhor era que Steve e ela nunca mais se vissem...

Mary Crystal ficou todo aquele tempo tentando se reerguer, percebendo que não era apenas uma simples paixonite que podia ser superada... não era...

Era amor...? Se sim, ele era a pessoa ideal...? O homem ideial...? Justo ela, que não acreditava nessas bobagens idiotas?

E lá estava ela, achando que Steve Rogers podia ser um forte candidato a homem de sua vida... e lá estava ela acreditando que existia um homem em sua vida...

Por que quando ouvia o nome dele, automaticamente um sorriso bobo e apaixonado surgia em seu rosto? Por que seu coração disparava tanto e suas mãos ficavam frias e trêmulas? Por que seus pensamentos iam diretamente para ele a qualquer hora do dia?

Ali, sentada, com uma expressão melancólica, vendo o relógio marcando quase meia noite, Mary Crystal se perguntava tantas coisas...

A garota queria sempre ser a escolha dele... e que dentre todas as pessoas que o rodeavam, desejava ser sempre a sua favorita... a companhia que Steve mais amasse e mais sentisse saudade... a que mais desejasse no fim do dia...

Que fosse o seu sorriso o único que o encantasse e lhe trouxesse alegria...

Que de todos os olhares, o dela fosse o único que ele almejasse...

Que de todos os abraços, o dela fosse o que ele mais ansiasse...

E que ele escolhesse ficar com ela... acima de todas as demais mulheres, que com certeza eram muito melhores do que ela... uma reles garotinha irritante, insegura, medrosa, indecisa, mandona, arrogante e ciumenta... muito ciumenta...

Era tão fácil admitir agora... que durante todos aqueles meses ao lado dele, era como se estivesse adormecida... indiferente, insensível e com o coração congelado... mas Steve se aproximou pouco a pouco... sendo ele um sol... e então, Mary não conseguia evitar estender as mãos para o seu calor... Steve lhe aquecia inteira... e sem defesas contra aquele calor, vívido, ardente e incandescente... ele a deixou pegando fogo... se sentindo afogar naquelas chamas...

Com os olhos fechados, Mary projetava a imagem dele em sua mente, tecendo breves fantasias... num sonho profundo... num azul celeste sem fim... e as mãos ávidas do Super Soldado a alcançavam, acariciando seu rosto que ardia suavemente, ao tocar sua alma...

Kiara até tentou correr, tentou não sentir, tentou resistir, tentou esquecer, mas... não conseguia mais ficar sem ele...

Entre suspiros e sussurros de “não consigo ficar sem você”, a Segundo-Tenente ouvia o barulho de mais uma notificação em seu telefone.

Ao pegar o aparelho, a notificação de uma nova mensagem aparecia no topo do visor.

Mensagem de: Tony Stark.

Ela arqueou uma sobrancelha. Por que o Homem de Ferro estava mandando mensagem aquela hora da noite?

Ao abrir, a garota começou a ler:

.

“Cachinhos dourados, eu sei que você está em Nova York. Te vi perambulando por aí como um cachorro perdido e, aproveitando a ocasião, estou te convidando para a festa de Halloween da torre. Começa amanhã às oito. E a propósito, venha fantasiada, se possível daquela última personagem que você se disfarçou, a ruiva de cabelo chanel. Nos vemos amanhã.

Obs: O Capitão vai estar lá.

.

Mary terminava de ler a mensagem com certa perplexidade...

Tony sabia que ela estava fantasiada de cachorro? E por que ele pedia para ela vir fantasiada de sua personagem “Bloody Mary”?

A garota passava as mãos pelos cabelos, cansada... céus... o que devia fazer...? O que aconteceria quando Steve a visse...? Será que desistiria do que disse a ela aquela noite...?

Mary Crystal decidia que iria à festa de Halloween, porque...

.

.

A pior coisa de estar apaixonada era quando você percebia que já estava amando...

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