Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 47
Confrontando verdades dolorosas




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Confrontando verdades dolorosas

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30 de Julho de 2012, 09:28 AM

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Brooklyn – Nova York

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Wanda esperava por Bucky na sala do apartamento de Steve, para mais uma sessão.

O procedimento era sempre o mesmo: Após andar pela mente dele, teria de reportar tudo à SHIELD através de um relatório.

A garota estava parada em frente à janela, observando a movimentação do lado de fora.

Bucky já estava ali, mas pensando em dar um susto nela.

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Na hora em que o sargento se aproximou, prestes a gritar para assustá-la, Wanda se virou rapidamente, levantou os punhos e o jogou contra a parede.

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No final, era ele quem se assustava...

— Uau... normalmente as mulheres recuam quando estão com medo, mas você encara o perigo e me arremessa contra a parede?

— Não sou como a maioria das mulheres... – A feiticeira o mantinha preso na parede através de seus poderes. Faíscas vermelhas saiam de suas mãos.

— Agora estou muito bem convencido disso... mas... será que pode me soltar? – Ele praticamente implorava, porque aquela posição estava incômoda.

Wanda abaixava as mãos, o encarando com seriedade.

— Não faça mais esse tipo de brincadeira. Tive a impressão que você estava perdendo o controle.

— Mas você pode ler minha mente...

— Eu evito a todo custo ler a mente das pessoas. Não acho certo.

— Você é incrível, sabia...? – Ele sorria desavergonhadamente para ela, e Wanda em sua discrição, apenas achava melhor ignorá-lo.

Vendo a reação da garota, Bucky deu um passo para frente e pegou na mão dela, segurando-a suavemente.

— Eu jamais te machucaria, Wanda... só quero estar perto de você... – O soldado lançava um olhar sugestivo à garota, que resolvia desviar os olhos do rosto dele.

— Eu também... mas sem brincadeiras, por favor...

— Tudo bem, senhorita Maximoff... – As últimas palavras do sargento soavam como um sussurro, e ela estremeceu diante da vibração de sua voz.

— Então... podemos começar...? – A feiticeira o indagava, tentando resistir ao charme que Bucky fazia questão de lançar a ela.

— Sim, mas antes, queria te convidar para tomar um chá gelado mais tarde. Você aceita?

— Chá gelado? Como você sabe que eu gosto de chá gelado?

— A Natasha me disse... – Ele a fitava, com um sorriso sacana nos lábios.

— Disse...? – Wanda arqueava uma sobrancelha, desconfiada.

— Sim... – Bucky largava a mão dela, sentindo seu sorriso alargar um pouco mais com o olhar surpreendido da garota.

— Bem, eu não sei se devemos... – Wanda desviava o olhar novamente.

— Por que não...?

— Nós estamos fazendo uma colaboração conjunta com a SHIELD e... estamos marcando de sair para tomar algo, estando no apartamento do seu amigo, que é o líder dos Vingadores? Não acha isso inadequado?

Bucky sentia uma ponta de decepção diante daquelas palavras de negação. Por que Wanda parecia estar preocupada que Steve descobrisse algo? Ela estava interessada nele?

O sargento sabia que seu amigo tinha uma tendência a inspirar paixão na maioria das mulheres. Na verdade, qualquer homem ao lado de Steve era praticamente invisível. Será que Wanda estava tentando impressionar seu amigo? Aquele Punk maldito não se contentaria apenas com a filha do Presidente?

— Ok, eu desisto. Acho que você prefere sair com outra pessoa, certo? – O sargento jogava certa indireta.

— Sim, você tem razão. Eu prefiro. – O tom de voz da feiticeira era rígido, como se estivesse mostrando que não estava curtindo toda aquela série de flertes descarados.

E como ele previa, a feiticeira deixava claro que queria sair com outro – vulgo Steve?

— Não precisava deixar tão na cara que quer sair com aquele idiota. Isso machuca, sabia, bruxinha? – James reclamava, decepcionado.

— Idiota? Está chamando meu irmão de idiota, é isso?

— Irmão...? – Um ponto de interrogação surgia na face do soldado.

— Sim, ele vem me buscar mais tarde pra jantarmos juntos.

— Como assim...? – Bucky não entendia nada.

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— Pietro anda me fazendo ameaças explícitas toda vez que venho pra cá. Ele disse que se você se aproximar um milímetro a mais de mim, vai te pendurar pelas cuecas numa das escadas desse prédio.

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A garota revelava, arrancando um sorriso aliviado, porém divertido dos lábios do sargento.

— Então o seu irmãozinho só está querendo te proteger...? Eu entendo o que ele sente...

— Entende?

— Sim... se eu tivesse uma irmã tão linda como você, faria o mesmo, ou melhor, eu realmente mataria o maldito que tentasse se aproximar... – Bucky redarguia, com uma expressão sedutora no rosto.

Wanda revirou os olhos, decidindo ignorá-lo de novo.

— Vamos parar de enrolação e começar logo.

— Você é quem manda, bruxinha...

E então, os dois sentaram na mesa da sala de jantar do apartamento, para mais uma sessão de bisbilhotagem na mente do Soldado Invernal.

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Em Manhattan, Steve terminava seu café numa das cafeterias perto da torre.

Ao se levantar para ir embora do estabelecimento, um senhor pegava em seu braço, impedindo-o de sair.

— Desculpe te importunar, rapaz... mas será que pode me fazer um favor, caso não seja incômodo?

— Sim, claro, o que precisa?

— Pode olhar meu neto por cinco minutos, para que eu possa ir ao toalete?

O loiro olhou para o lado e notou que o neto do senhorzinho era um bebê, que parecia ter mais de um ano.

O Capitão não conseguia dizer não para pessoas mais velhas. Elas eram tão educadas, falavam de forma refinada e sempre com tanta civilidade... ele se recordava de sua época, algo que ainda o prendia ao passado...

— Claro. Pode ir. Eu fico de olho nele...

— Muito obrigado. Eu já volto! – O senhor, que segurava o neto no colo, deixava que o Capitão agora ficasse com ele.

O loiro pegava a criança em seus braços, enquanto observava o idoso caminhar rapidamente na direção do banheiro.

Não era certo deixar um bebê nas mãos de um desconhecido, mas... o senhorzinho sabia exatamente que aquele rapaz era o Capitão América...

O Super Soldado resolvia prestar atenção no bebezinho, que tinha olhos azuis, cabelos loiros iguais aos dele, pele clara e um lindo sorriso.

Ele encarava Steve, soltando gargalhadas.

Por mais que não tivesse muita experiência com crianças, ele as admirava. A pureza delas era algo resplandecente aos seus olhos...

Enquanto se mantinha distraído com ele, Mary Crystal entrava na cafeteria, porque tinha marcado de se encontrar com o Capitão em frente ao estabelecimento, e quando cruzou a porta... lá estava Steve Rogers, com um bebezinho no colo, brincando com ele...

A garota parou no meio do caminho, com os olhos um pouco arregalados, achando aquela cena extraordinária.

Mary olhava para os dois, em silêncio, admirando a forma como Steve brincava com o pequeno bebê, arrancando até algumas risadas do mesmo...

Era algo lindo de se apreciar...

O Super Soldado sorria divinamente para aquela criança em seu colo...

Jamais diria a ele que admirava secretamente todo aquele lado ingênuo e inocente, tão simplório e gentil... tão menino... tão meigo e fofo... o Capitão América era um homem forte, imponente, tinha as maiores qualidades de um super-herói, mas se transformava em uma pessoa sensível e amável em determinadas situações, e aquilo aquecia o coração dela... era algo muito belo de se contemplar...

Porém...

Ficar ali babando não era uma boa ideia, já que Steve poderia notar que tinha chegado ao local e parado no meio do caminho só para admirá-lo.

Então, Kiara resolvia se aproximar e fazer uma piada, como sempre...

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— Uau... alguém está treinando pra ser pai um dia!?

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A Segundo-Tenente sorria, olhando para o bebezinho no colo do Super Soldado.

Mas a piada não parecia ter surtido efeito, e então, ele resolvia responde-la à altura.

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— Antes de ser pai, preciso achar uma boa esposa e me casar...

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Os olhos de Kiara alargaram levemente.

— Seu filho terá parte do DNA de Super Soldado, já parou pra pensar nisso?

— Sim...  – O loiro segurava a mãozinha do pequeno bebê.

— Então ele será forte como você. Devia cogitar montar um exército de soldados, não acha, Cap?

— Está me mandando gerar um batalhão em vez de filhos, Mary?

— Sim, por que não? Seria bem útil! – A garota o provocava, tentando arrancar uma reação mais rígida, só que...

Steve sorriu ternamente em resposta...

— Não penso em ter muitos filhos... acho que dois estaria ótimo...

— Só dois?

— Sim... uma menina e um menino... – O sorriso puro e genuíno que florescia nos lábios do Super Soldado ao dizer aquelas palavras tão sinceras e simplórias, fazia repentinamente o coração da Segundo-Tenente disparar... e ali, Mary percebia que não conhecia Steve Rogers como achava... porque não tinha ideia que ele possuía um desejo tão normal... tão comum... tão humano... tão amoroso...

O loiro a fitava, enquanto segurava o bebê, lançando o olhar mais angelical, modesto e cristalino que existia... e os raios solares que entravam pela janela de vidro da cafeteria, transformavam aquele mesmo olhar azul, num verde primoroso...

Então... Steve desejava uma família...? Era incrível, mas ao mesmo tempo assustador...

O maior herói da América parecia ter sonhos simples e fáceis... o que mais ele escondia...? O desejo de morar numa casinha pequena no interior? Céus... de repente, Kiara se via curiosa em descobrir sobre os sonhos mais secretos de Steve... mas...

Resolvia ignorar todos os efeitos que aquela revelação lhe causava, e se aproximar para brincar com o bebezinho, afinal, ela também adorava crianças, principalmente bebês.

— Mas que menino mais lindo! Qual é o seu nome, hein? – Ela segurava a mãozinha dele, ainda no colo de Steve.

E ali, os dois começavam a brincar com a criança.

Só que... o que ambos não esperavam, era que Tony também entraria no local, do nada... repentinamente...

O Homem de Ferro olhava para a cena, e de tão absurda, resolvia tirar os óculos, indo na direção deles.

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— Mas que linda família de comercial de margarina!

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— Stark...? – O loiro observava o bilionário se aproximar.

— Vocês dois por acaso se casaram em segredo, a Mary ficou grávida e vocês tiveram um filho sem nem ao menos dizer nada pra todos nós!? – Tony fazia uma piada, como de costume.

— Claro... fizemos tudo isso em três meses. A minha gestação levou apenas duas semanas. Fui mãe em tempo recorde, não está vendo!? – A loira rebatia, fazendo outra piada.

— Eu não duvido nada. Mas ao menos podiam ter me chamado pra ser padrinho do casamento de vocês, né? – O Homem de Ferro sentava no banco em frente à mesa ao lado da janela de vidro.

Em seguida, o senhorzinho saia do banheiro, e agradecia por Steve tomar conta de seu neto.

— Me desculpe por demorar e muito obrigado por ficar de olho nele! – O idoso pegava o bebê do colo do loiro.

— Imagine...

— Dê tchau para eles, Daniel! – O senhor revelava o nome da criança, enquanto o pequeno bebê sorria para Steve e Mary.

— Tchau, Daniel! – Mary acenava junto com Steve, sorrindo largamente.

Tony estreitava o olhar, observando o casal STARY sorrindo para a criança.

Quando o idoso saia da cafeteria com seu neto, cruzando a porta, o Homem de Ferro resolvia dar sua opinião, sem que ninguém a tivesse pedido.

— Vocês nem disfarçam que são apaixonados por crianças, certo?

— E o que tem isso? – Mary arqueava uma sobrancelha, sentando no banco, de frente para Tony.

— E o que tem isso? Eu vou dizer: Vocês precisam parar de charminho, namorarem, noivarem, casarem e formarem uma família logo! Vai ser lindo ter Super Soldadinhos correndo pela torre dos Vingadores um dia.

— Muito engraçado, Stark, mas por que você mesmo não faz isso então? – Steve sentava ao lado de Mary, de frente para o bilionário.

— É um passo muito importante a ser dado tão repentinamente, e a senhorita Potts não está psicologicamente preparada.

— Tenho a mesma opinião. – O loiro sorria de canto.

— Nós vivemos a vida, Capitão... você não...

— Eu sei. E é por isso que preciso ser mil vezes mais cauteloso, não acha? – O Super Soldado o contestava, segurando a chave de sua moto na mão, com um pequeno chaveiro com o logo dos Dodgers, presente de Sam Wilson da última vez que se viram.

Tony atentou para aquilo e soltou uma gargalhada.

— Você gosta de Baseball, Capitão? Tão previsível...

— Por quê?

— Porque Baseball é chato! E pessoas chatas gostam de esportes chatos!

— Não, Stark. Baseball é um esporte grandioso demais para mentes pequenas. É algo muito complexo pra um reles bilionário narcisista como você entender. - Kiara rebatia, defendendo Steve.

— Uau, já está defendendo seu namorado? Pensei que ficaria do meu lado nessa, Barbiezinha.

— Eu também gosto de Baseball, então se você sonhar em fazer piada disso, vamos entrar num debate interminável. – A Segundo-Tenente piscava, olhando firmemente para Tony, com um sorriso de canto.

— Essa até eu quero ver. – Steve mostrava estar do lado de Mary dessa vez e sorria cinicamente para o bilionário.

— Muito engraçado, Capitão... pensei que seu esporte favorito fosse “fondue”... só que sempre me esqueço que você nunca praticou, então te aconselho a colocar seus conhecimentos teóricos em prática logo, de preferência com a moça que está do seu lado.

— Eu não fico mais constrangido com essas piadas, Tony. – Steve rebatia na lata, mostrando firmeza em sua postura.

— Ele está andando muito tempo com você! – O gênio das Indústrias Stark apontava para a loira.

— Não é porque eu quero...

E então, os três ficaram ali por algum tempo, até Steve pedir para conversar em particular com Tony.

Kiara já sabia sobre o que os dois conversariam... e tinha certeza que o diálogo ficaria tenso.

Ela observaria tudo de longe, dando suporte para Steve, mostrando que estaria perto, caso precisasse.

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Meia hora depois, o Capitão tirava de seus pertences, uma pasta com alguns arquivos sobre o Soldado Invernal, entregando nas mãos do Homem de Ferro.

— Soldado Invernal não é o seu amigo que foi feito de refém pela HYDRA durante décadas e transformado numa arma? – O bilionário o indagava, sem entender porque Steve lhe mostrava aquilo.

— Tony... o que você vai descobrir aí, pode te deixar um pouco transtornado... eu marquei para nos encontrarmos nessa cafeteria, porque não queria que ninguém dali além de você, soubesse sobre o que isso se trata.

— É um assunto tão tenso assim, Capicolé...? Por que eu ficaria transtornado?

— Apenas leia...

E então, o Homem de Ferro fez o que o Super Soldado pedia.

Aos poucos, Tony entendia o que estava registrado naqueles papeis...

Gradativamente, o semblante dele se desfazia num aspecto sério, áspero e desacreditado...

Steve sabia que as coisas não seriam mais as mesmas entre ele e Tony.

Talvez a iniciativa Vingadores estivesse até prestes a terminar... ali...

Os segundos foram se passando, se transformando em minutos, que também foram se passando, e cada vez mais, Tony parecia chocado e assombrado com o que descobria.

Depois de um tempo, ele olhou para o rosto do Capitão...

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— Você... teve mesmo coragem de chegar até aqui e me mostrar isso...?

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— Eu não tive escolha. O que acha que devia ter feito? Te esconder algo desse nível? Você acha que seria certo?

E então, mediante as palavras do loiro, o Homem de Ferro se levantou, deixando-o ali, sozinho, caminhando para fora, completamente...

Desnorteado...

O gênio das Indústrias Stark segurava algumas lágrimas enquanto andava... porque acabava de descobrir que o Soldado Invernal...

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Havia assassinado seus pais...

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Steve corria atrás do bilionário e segurou seu braço no meio do caminho.

Ambos pararam em frente a torre dos Vingadores, com várias pessoas transitando pelo local.

— Tony, espera...

— Tire suas mãos de mim, Rogers...

— Não era ele... ele... estava sendo controlado pela HYDRA...

O Homem de Ferro se virou, encarando o Super Soldado de forma colérica... e furiosa...

— Ele precisa ser preso! Precisa ser julgado por todos os seus crimes!

— Sim, ele será julgado, mas não agora.

— Desde quando é o Nick que decide isso!?

— Stark... aconteceu algo no futuro que dividiu os Vingadores e a Mary tem receio de que o motivo que os separou, tem a ver com o fato de o meu eu do futuro ter omitido que sabia sobre o assassino de seus pais, então estou contando a você o que sei, esperando que entenda a situação e confie em mim...

— É mesmo!? Eu imagino o que aconteceu no futuro, Rogers... você deve ter escolhido o seu amiguinho e não os Vingadores! Isso é tão típico de você!

— Não sabemos o que aconteceu, mas tudo leva a crer que foi a nossa divisão que causou todo o mal que levou a equipe a viajar no tempo. Você precisa entender isso de uma vez Tony! Se tivermos que perder, perderemos juntos, entendeu!?

— Fale por você, Rogers... eu... não sei mais o que é certo...

— Sei que está sofrendo por saber disso...! É uma revelação dolorosa, mas... achei que se contasse a verdade, você entendesse que estou priorizando os Vingadores e não ele!

— Sim... você é o herói do país... o paladino da justiça... o homem santificado, e eu... bem, você sabe o que eu sou... não costumo perdoar as pessoas tão facilmente...

— Não... as coisas não precisam ser assim, Tony... por favor...

E então, o bilionário se aproximou, e encarou Steve nos olhos, mostrando ódio, revolta e... dor...

— Eu espero que o seu amiguinho esteja preparado para o pior... porque eu não sei do que sou capaz...

— Não...! Ele não teve culpa... ele foi só uma vítima...!

— Isso é o que você acha... – E então, Tony resolvia sair dali e deixa-lo sozinho, andando na direção da torre.

Steve não sabia o que fazer... temia pela vida de Bucky, já que o Homem de Ferro parecia estar sendo consumido pela vingança...

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O Capitão avisava seu amigo sobre a conversa que tivera com Stark, e Bucky mostrava uma postura calma e tranquila, dizendo que se o Homem de Ferro quisesse vingança, ele estava pronto para morrer nas mãos dele.

Por mais que quisesse se redimir e pagar por seus erros, o sargento estava disposto até mesmo a morrer se fosse necessário.

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Os dias se passaram e Steve não conseguia encontrar Tony.

O Super Soldado não deixou seu amigo sozinho, temendo que o Homem de Ferro pudesse assassiná-lo, porém, Steve teve que se ausentar por uma noite, e Bucky teve de ficar sozinho no apartamento.

Nesse dia em específico, o sargento parecia estar pronto para morrer. Ele sabia que Tony Stark viria atrás dele para um acerto de contas. Já havia aceitado que era assim que as coisas se resolveriam.

E então, o soldado permaneceu sentado em uma das cadeiras em frente à mesa de jantar da sala do apartamento, no escuro... no breu...

Seus instintos de espião lhe diziam que o Homem de Ferro já estava ali... e faria o primeiro movimento...

E como esperado, alguns minutos depois, o bilionário surgia por trás dele, com a mão aberta na direção da cabeça do sargento, com a luva de sua armadura, prestes a disparar uma rajada.

James suspirou fundo... até se pronunciar...

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— Se veio me matar, sugiro que faça isso o mais rápido possível. Posso mudar de ideia e tentar me defender...

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E então, Tony saia por trás dele, ficando agora frente a frente com o Soldado Invernal.

Ele trajava uma de suas armaduras, e estava vestindo o capacete.

O bilionário começou a rodeá-lo, observando-o atentamente em silêncio, como se estivesse analisando quem ele era...

Depois de um minuto o avaliando, resolvia dizer algo...

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— Acha que vou acreditar que está aqui porque quer se redimir...? Sua lata velha...

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Bucky soltava um riso...

— Eu sou pedaço de sucata pra você...?

— Por que o Fury te trouxe pra cá? – Tony respondia com outra pergunta.

— Eu não sei exatamente... talvez ele enxergue em mim um possível aliado...

— Eu jamais me uniria ao assassino dos meus pais...

— Eu sei... e é por isso que aceito minha punição. Você veio aqui para me assassinar, não é...? Mas por que demorou todos esses dias?

— Cala boca. Eu é que faço as perguntas aqui, a menos que queira ter seus miolos estourados... – Tony voltava a apontar o laser de sua luva na direção da cabeça dele.

— Certo... o que você quer saber...?

— Por que o Capitão revelaria quem é o assassino dos meus pais? Por que ele colocaria a vida de seu melhor amigo em risco me dizendo isso?

Tomando um momento para encontrar uma resposta, Bucky olhou para o chão. Quando ele ergueu o olhar novamente, resolvia indaga-lo.

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— Isso vai ser uma revelação bombástica, mas... o Steve nunca gostou muito de seguir regras...

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Tony quis rir, mas se segurou.

— Isso é alguma piada? O Capitão não gosta de seguir regras!? Ele é um soldado da segunda guerra mundial e vivia me dizendo para obedecer cegamente às ordens do Fury!

— Pode parecer um absurdo, mas ele sempre preferiu fazer as coisas do seu jeito... seguir seus instintos... seu coração... principalmente em ocasiões de risco... então, acho que isso deve responder sua pergunta...

— Não faz sentido...

— É não faz... mas você não o conhece como eu conheço...

— Por que ele escolheria os Vingadores em vez de você!? Por que ele diria tudo pra mim, se sabia que eu viria atrás de você pra te matar!?

— Não sei... você teria que perguntar a ele...

— Eu não estou interessado em falar com ele, estou interessado em matar você! – Tony agora apontava as duas mãos na direção do sargento, e a luz que saia de suas luvas, se tornavam mais brilhantes, como se estivesse prestes a atirar.

Bucky suspirou, vacilando entre ser honesto e apenas se livrar daquela curiosidade, porque era extremamente incômodo.

Ele também queria saber por que Steve o entregou e escolheu os Vingadores...

Havia algo acontecendo, e o sargento não tinha ideia. Nem os irmãos Maximoff sabiam direito sobre o que acontecia. A SHIELD não tinha explicado quase nada...

Mas ele conhecia seu amigo... e sabia que era melhor que Tony soubesse quem Steve realmente era...

— O Steve passou por coisas terríveis antes do soro. Ele era pequeno, doente e fraco. Era como se seu corpo não pudesse segurar sua personalidade aguerrida. E quando você tem uma grande personalidade e um corpo insignificante, você chama atenção dos caras que só querem um saco de pancadas pra se divertirem. Eu me dediquei a ele quando éramos mais jovens, depois que sua mãe morreu... não acho que ele tivesse mais ninguém além de mim... nós sempre fomos como irmãos... ele nunca foi apenas meu amigo... ele... era da família e eu faria qualquer coisa por ele... e sei que ele faria o mesmo por mim...

Tony dava uma gargalhada em resposta.

— Oh, que lindo... mas não estou interessado no passado de vocês. Só quero saber por que ele agiu como agiu. Ele não te escolheu. Ele escolheu a equipe...

— Se eu soubesse, te diria. Mas não sei. A SHIELD me tirou da Prisão Balsa e me enviou para cá, e acredite, depois de tudo o que vivi, estou menos chocado com a era moderna do que o Steve... acho que você não vai entender o quão difícil é perder décadas por estar preso no gelo... – Bucky fazia uma pausa... engolindo um nó na garganta.

— Eu sei exatamente as dificuldades que o Capitão tem passado, e ele não está sozinho todo esse tempo, ele tem a nós... – O bilionário redarguia, ríspido.

— Será...? Não sei exatamente como ele se sente hoje, sobre estar sozinho, mas... depois que a Sarah morreu, a vida dele não foi um mar de rosas... nem antes e nem depois do soro, muito menos depois de acordar nesse século...

Tony ficava em silêncio, se recordando do que Howard dizia sobre o Capitão América. Ele tinha muita admiração por Steve, e o gênio das Indústrias Stark sempre se sentia enciumado diante de todos aqueles elogios.

Era difícil não se recordar de seus pais... e estar diante do assassino deles, soava como se pudesse ter a chance de saber mais sobre o que aconteceu de fato, naquele fatídico 16 de Dezembro de 1991...

— Quais foram as suas ordens? – Tony o indagava repentinamente.

— Minhas ordens...?

— Meus pais... – O Homem de Ferro o contestava, ainda desacreditado de que estava interrogando a pessoa que matou seu pai e sua mãe.

Por um momento, Bucky pensou em perguntar se Tony realmente queria saber, mas decidiu responder honestamente, em vez de irritá-lo com mais uma pergunta.

— A missão era... conseguir o soro e matar o alvo, eliminando também todas as testemunhas.

— O alvo era meu pai?

— Sim. Eles queriam o soro que Howard carregava, mas não o queriam vivo, caso fosse o único a ter a fórmula do Doutor Erskine. Era uma corrida armamentista... se ele estivesse vivo e tivesse aprendido a replicar o soro, outros Super Soldados nasceriam...

— E quanto a minha mãe?

— Ela era a testemunha...

— Por que você não atirou nela...?

Bucky respirou fundo antes de responder.

— Eu não sei... mas não podia chamar atenção. Tinha que parecer que tudo foi um acidente e-

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— Não foi você...

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Tony o interrompia, dizendo o que realmente achava, depois de trocar todas aquelas palavras com o sargento.

Ele tirava a parte da frente do capacete da armadura, passando a encarar Bucky Barnes intensamente.

O Homem de Ferro percebia que o olhar dele era totalmente diferente do olhar das filmagens que mostrava a morte de seus pais.

Ali ficava comprovado, que ele de fato, tinha sido controlado...

— Você tem razão, Stark... não fui, mas... gostaria de ter morrido quando caí daquele trem, nos alpes... então nada disso teria acontecido... e... você e o Steve estariam trabalhando juntos e em harmonia, salvando o mundo, ou seja lá o que vocês fazem... – O soldado colocava as mãos no rosto, mostrando que realmente não desejava estar ali...

— O mundo está a salvo... pelo menos por enquanto... – Tony retorquia, num tom mais brando.

Bucky respirou fundo, sentindo uma onda de tristeza tomar conta de si.

— Eu... sinto muito... não significa que um pedido de desculpas vá trazer seus pais de volta, mas... – O soldado mal podia suportar o peso da culpa pressionando-o. Seu coração estava muito pesado em seu peito...

— Eu já entendi... e você não precisa se humilhar... – E então, o bilionário resolvia arrastar uma cadeira e sentar ao lado dele.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo...

— O Steve... te respeita e te reconhece, embora não acredite... – O sargento revelava, fazendo com que o gênio das Indústrias Stark arqueasse uma sobrancelha, desconfiado.

— Ele me respeita? Isso porque você ainda não nos viu discutir...

— Eu estou falando sério... ele... deixou isso muito claro pra mim...

— Não sei não... – Tony virava o rosto, ainda desconfiado.

Aquele Picolé ambulante o respeitava? Era difícil de acreditar...

— Se tiver que culpar alguém, não o culpe. Eu sou o problema aqui...

— Você não é o maldito problema, Barnes... toda essa situação é o problema...! – O Homem de Ferro não conseguia acreditar que estava ali, diante do assassino de seus pais, acreditando nele, no final de tudo...

Bucky olhou para o chão entre os pés enquanto os dois ficavam em silêncio...

— Eu não quero ficar entre vocês dois... você e o Steve fazem parte da mesma equipe, uma equipe importante e...-

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— Ah, para com isso... você está tornando as coisas estranhas... dá a impressão que você acha que eu estou namorando o Rogers e não, definitivamente ele não faz o meu tipo...!

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O sargento segurou o riso, mesmo se sentindo estranhamente pesado e culpado. Não era engraçado, mas havia algo tão ridículo naquela situação e ambos não conseguiam chegar a nenhuma conclusão...

— Desde o projeto renascimento, esse Punk tem que combater todas as ameaças, sem que ninguém tente destruir o mundo por três ou quatro semanas e-

— Eu já sei de tudo isso. E você como melhor amigo, deveria convencê-lo a relaxar... arrumar algum hobby ou uma namorada... porque eu não acho que vou conseguir suportar o jeito rabugento e autoritário dele por muito tempo... – Tony concluía, num tom mais suave, fazendo o soldado rir novamente.

— Eu sei que ele tem uma paixão secreta pela filha do Presidente, então a única coisa que tenho feito é tentar convencê-lo a se declarar...

— Você está falhando miseravelmente, Robocop. Faça logo alguma coisa, porque não aguento mais aturar as chatices do Capitão por viver um amor platônico imaginário.

—  Eu prometo que vou me esforçar em convencê-lo... – Bucky deixava um meio sorriso florescer, achando aquele diálogo engraçado.

— Bem... nas circunstâncias em que estamos agora, eu acho que você deveria se ajoelhar e implorar o meu perdão, não acha, Barnes...? – Tony se levantava, deixando claro que iria embora.

— Eu não recusaria o seu perdão, mas não acho que deveria pedir...

— Por enquanto, digamos que a sua consciência pesada seja a minha maior vingança, então... você conseguiu, exterminador do futuro, eu vou te deixar em paz, mas eu espero que você tenha muitos pesadelos à noite... – Tony dava um tapa no ombro dele, passando pela porta da entrada, e então...

O Homem de Ferro saia dali, voando...

Bucky o observava de longe, deixando um rastro pelo céu escuro em meio as luzes dos prédios de Nova York...

Imaginava que aquela seria a noite de sua morte, mas no final, Tony Stark foi embora, em paz e fazendo piadas sobre Steve arrumar uma namorada pra deixar de ser tão chato...

O sargento pensava que talvez a vida lhe puniria da pior forma, só que de algum jeito, as coisas estavam indo na direção oposta...

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Um dia depois, Steve era reportado sobre a conversa que Tony teve com Bucky, por intermédio de Wanda, após uma das sessões de peregrinação pela mente do sargento.

O Super Soldado conseguia respirar aliviado agora... mas o bilionário continuava o ignorando e o evitando de todas as formas...

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Que ironia do destino... Tony perdoava Bucky, mas não o perdoava...? Onde estava a lógica naquilo tudo...?

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Depois do diálogo estranho em que James revelava sobre a conversa que tivera com o Homem de Ferro, o sargento resolvia passar algumas horas longe, para refletir, deixando o Capitão sozinho e confuso em seu apartamento.

O loiro tinha acabado de chegar de uma missão com a SHIELD, e ainda trajava seu uniforme tático.

Quando pensou em sair dali e tomar um banho, ele ouvia a campainha tocar, e se perguntava quem era.

Steve caminhou rumo a entrada e abriu a porta...

No mesmo instante, seus olhos alargaram de surpresa diante da pessoa que estava em sua frente...

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— Oi, idiota! Posso entrar!?

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Mary Crystal estava planejando dizer um doce e sedutor “Oi, Cap!” para confortá-lo depois da tensão em que o mesmo viveu aqueles dias, mas o “Oi, idiota!” parecia ser mais divertido.

Steve cruzou os braços, ergueu o queixo e deu um meio aceno de cabeça.

— Olá, senhorita Ellis... – Ele a cumprimentava, formalmente e de propósito.

— Mary/Kiara, dá licença? – Ela o corrigiu com força, o empurrando para dentro de modo destrambelhando, cruzando a porta e entrando sem que ele a convidasse.

— Ok, Mary/Kiara... posso saber por que está invadindo meu apartamento a essa hora da noite? – O loiro observava a Segundo-Tenente entrar em sua residência e olhar para todos os cantos, curiosa.

Ela nunca esteve ali. Era a primeira vez que a loira entrava no apartamento de Steve.

A garota estava de óculos, vestida com roupas simples e com os cabelos meio desgrenhados, provavelmente disfarçada por algum motivo que ele não quis perguntar.

— Uau... até que para o apê de um senhor de 95 anos idade, está bem incrível... quem decorou? A Natasha?

— Fui eu.

— Hmmmm.... ficou muito bom... mas esse estilo está muito retrô e... céus, sua casa é repleta de livros! – Ela dizia, impressionada, vendo alguns quadros com bandeiras dos Estados Unidos, e de algumas motos, além das poltronas ao lado da lareira e uma vitrola no centro da sala.

— Você deve gostar muito do estilo retrô, não é mesmo, Mary? E sobre os livros, eu prefiro ler em vez de ver TV ou usar o computador.

— Sobre o estilo retrô, talvez tenha razão, Cap... os primeiros anos da minha vida foram dentro de uma casa gigante aos moldes da máfia siciliana... talvez a sofisticação dos anos 50 esteja presa no meu subconsciente e eu ache o que é antigo muito bonito... – Ela se virou e olhou para ele, com um olhar malicioso e sugestivo.

— Isso quer dizer, que você também me acha bonito...? – O loiro aproximou alguns passos na direção dela, ainda com os braços cruzados, a provocando de propósito.

— Sempre deixei claro que te acho maravilhoso fisicamente, mas isso pra você é um mero detalhe, esqueceu?

— Sim... é um mero detalhe mesmo... – Ele a encarava intensamente... porém, Kiara desviava o olhar, curiosa com o ambiente.

A luz fraca, alaranjada e incandescente iluminava o local.

Uma música antiga tocava no rádio em uma das prateleiras da sala.

O som estava baixo, mas perceptível...

Ao vê-la tão imersa nos detalhes de sua casa, Steve se dava conta que era estranho intercalar sua vida entre a torre e seu apartamento... além de ter dois empregos, já que era o líder dos Vingadores e também agia como agente da SHIELD vez ou outra.

— E como estão as coisas com o Tony? – Mary o indagava, bisbilhotando alguns objetos da sala, e fascinada pela decoração do ambiente.

— Não tão bem como imaginava. O Tony tem me evitado por dias e não aparece em nenhuma das reuniões com os Vingadores.

— É uma reação normal. Dê um tempo pra ele...

— E se ele não quiser mais levar isso adiante, Mary...?

— Ele vai. O Stark é uma das peças principais desse enorme quebra-cabeça.

— Como sabe disso?

— Pelos fragmentos de visões e sonhos... há algo que não consigo deduzir, só que tenho uma ideia... – A garota voltava seu olhar na direção do loiro.

— Que ideia?

— Algo relacionado a morte de alguns de vocês. – Revelava, com um semblante tenso.

— E quem você acha que vai morrer?

.

— Eu não sei... mas se fosse deduzir, eu diria que seria o Stark ou você...

.

— Não sei se morrer por uma causa heroica seria a escolha que o Tony faria...

— Acredite, você pode estar errado... – Mary assegurava, e Steve se sentia estremecido diante daquelas palavras.

Se as coisas não fluíssem como deveriam... o que aconteceria no futuro...?

— Eu não tenho a mínima ideia de como vamos resolver isso... o Doutor Pym está fazendo vários testes com as partículas junto com o Doutor Banner e o Doutor Selvig, mas até agora, eles não estão progredindo.

— Eu já sei... a tal cobaia também está prestes a entrar em cena, certo?

— Sim, o Scott Lang. Ele deve chegar na torre em breve.

— Seja como for, se a tecnologia do Doutor Pym trouxer as respostas, eu quero ser a primeira a me voluntariar.

— Se voluntariar...? – Steve arqueava uma sobrancelha, confuso.

.

— Se a cobaia der pra trás, eu serei a primeira e me voluntariar para viajar no tempo e descobrir o que aconteceu no futuro.

.

A Segundo-Tenente revelava, deixando-o assustado e um pouco incomodado com tais palavras.

— Isso é perigoso, Mary. Se alguém tiver que ir, esse alguém sou eu.

— Pode esquecer! Você é importante demais pra se arriscar dessa forma, Cap. Eu posso fazer isso!

— Por que quer tanto colocar sua vida em risco como se não tivesse a mínima importância, Mary Crystal?

— Comparado a vocês, eu não tenho importância nenhuma. Sou só uma piloto da Força Aérea, Steve. Não faço diferença alguma pro mundo... – Kiara retorquia, sorrindo logo depois, convicta.

Steve odiava quando Mary falava de si mesma como se sua vida não tivesse importância e... ele resolvia responder sem nem pensar direito...

.

.

— Você tem importância pra mim, Mary... isso não conta...?

.

.

— Hey, vamos parar com esse papo estranho? Use a lógica e seja racional, Cap! Se alguém tiver que se arriscar e até morrer nesse processo, essa pessoa sou eu, não você!

— Se houver a possibilidade de viajar no tempo, um dia, você terá que seguir vários protocolos.

— Vai me oferecer conselhos táticos, Capitão?

— Com certeza não vou lhe oferecer flores... – Ele sorria singelamente para ela.

Outra música começava a tocar na estação de rádio... uma que Steve já estava habituado a ouvir por causa do sargento, que adorava aquele estilo pesado.

.

Nutshell – Alice in Chains.

.

O violão, acompanhado de uma guitarra acústica, era a combinação perfeita para aquele momento...

— Eu gosto dessa música... – Mary dizia, se recordando da fase rockeira de seu irmão e de como ele a influenciou diretamente.

— Eu também gosto dessa música... – Steve revelava, deixando-a abismada.

— Impossível. Essa música é de 1994! Você estava no seu sono profundo nessa época e... eu pensei que você só ouvisse jazz.

— Conheço porque o Bucky ouve essa estação de rádio todos os dias e essa música sempre toca quando estou por perto.

— Hmm... não sabia que o Barnes curtia grunge... e nem que você ia acabar gostando... não sei se você sabe, mas esse gênero é o meu favorito...

— Eu sei... e... talvez você tenha me influenciado indiretamente...

— Sério...!? – Mary sorria, com os olhos brilhando, achando aquela declaração surpreendente.

— Essa música... tem um ritmo lento... e pensei que talvez... você... não se importasse se te pedisse um favor... – Steve a cercou, olhando fixamente para ela, com um sorriso enigmático, mas que Mary já imaginava o que poderia ser...

A Segundo-Tenente ergueu uma sobrancelha.

— Está me propondo uma dança, implicitamente, Capitão Rogers...?

— Sim... – Ele afirmava, um pouco encabulado.

— Dançar Alice in Chains? Sabe que isso faria muito mais sentido se nós estivéssemos num cemitério, às três da manhã, com velas pretas e vermelhas em volta de um túmulo, depois de usarmos um speedball? – A garota satirizava, sabendo que aquela banda era extremamente depressiva, mas Steve não ligava... ele até se identificava com algumas letras...

— Eu prefiro aqui e agora... sem túmulos ou velas, o que acha...?

— Não sei...

O Capitão a vislumbrava profundamente... imaginando mil coisas misturadas com seus sentimentos tão fortes por ela... e então...

.

.

— Eu sei que podemos fazer isso se formos devagar, Mary...

.

.

Kiara franziu o cenho, desconfiada.

— Fazer isso devagar...? A dança, você quis dizer...?

— Sim... o que mais seria...? – Ele deixava que a imaginação da Segundo-Tenente viajasse, ocultando o verdadeiro significado... deixando subtendido... nas entrelinhas...

— Certo... já que insiste... – E então, a garota se aproximou, encurtando totalmente a distância entre ambos, rapidamente pegando na mão dele.

Steve alargava o olhar, surpreendendo-se em como Mary aceitava de imediato. Normalmente, ela diria não...

 .

We chase misprinted lies, (Nós perseguimos mentiras mal contadas)

We face the path of time, (Nós enfrentamos o caminho do tempo)

And yet I fight, and yet I fight, (E ainda assim eu luto, e ainda assim eu luto)

This battle all alone… (Esta batalha completamente sozinho)

No one to cry to… (Ninguém com quem chorar)

No place to call home… (Nenhum lugar para chamar de lar)

.

Os dois se encaravam profundamente enquanto se movimentavam num círculo, num ritmo lento e com aquela música depressiva de fundo...

O Super Soldado se identificava com aquela letra... sentia-se exatamente como o personagem daquela música... e era um pouco triste...

Mas em meio a canção melancólica, Mary olhava com desconfiança para Steve... se perguntando se ele tinha mentido todo aquele tempo para ela, com relação a todas as suas experiências amorosas.

— Por que está me olhando dessa forma...? – O loiro a questionava, se sentindo intimidado com aquele olhar.

—  Diga a verdade... você mentiu quando disse não ter experiência com as mulheres, certo?

— Como assim...?

.

.

— Eu quero saber, Cap... quantas mulheres você realmente beijou, saiu para um encontro e levou pra cama...

.

.

A loira perguntava diretamente, sem delongas, e com uma expressão meio birrenta no rosto.

— O-o quê...? Por que está me fazendo essas perguntas...!? – Ele corava de vergonha, mas tentava disfarçar.

— Me responda.

— Já sei... foi o Bucky quem plantou essas ideias na sua cabeça e você caiu, certo...?

— Eu quero saber.

— Mas-

— Sem mas, Cap! Acho que mereço saber, depois de tudo o que já passamos juntos, não acha? Eu sugeri que poderíamos ser amigos a poucos dias, lembra? E amigos merecem saber todos os segredos um do outro!

— Espere aí, Mary... você quis virar minha amiga apenas pra arrancar coisas mais íntimas sobre a minha vida...? – Ele rebatia com outra pergunta, deixando-a sem saída.

— Claro que não! Apenas estou curiosa! – A garota desviava o olhar, tentando disfarçar.

Steve suspirou fundo...

Sua vida antes e depois da guerra não foi fácil... com ou sem companhia, ele se sentia exatamente como a letra da música, naquela época...

.

My gift of self is raped, (Meu amor próprio é violado)

My privacy is raked, (Minha privacidade é revirada)

And yet I find, yet I find, (E ainda encontro, ainda encontro)

Repeating in my head, (Repetindo em minha mente)

If I can't be my own... (Se não posso ser eu mesmo)

I'd feel better dead… (Eu me sentiria melhor morto)

.

O Super Soldado resolvia responder, apenas porque não queria esconder nada dela.

— Ok, se você quer saber, eu vou responder todas as suas perguntas de forma honesta e sincera... então... por onde quer começar...?

A garota sorria, vitoriosa.

— Onde e quantas mulheres se aproximaram de você na década de 40 com segundas intenções? – Mary ia direto ao ponto.

— Bem... acho que na turnê com a USO, e quando finalmente me tornei líder do Comando Selvagem... algumas mulheres se aproximaram e... – Ele não conseguia terminar de falar, porque era constrangedor.

— E...? – Kiara esbanjava uma feição extremamente contumaz e insistente. Ela estava colocando medo nele e nem percebia...

— Bem... elas se aproximavam e... sorrateiramente me roubavam algum beijo ou abraço, mas para a minha defesa, eu não correspondia! – O loiro tentava se justificar, porém, a loira mostrava que não estava gostando nada do que ouvia.

— Quantas...? – O tom de voz dela era nebuloso.

— Oito... ou nove... se não me engano...

— Então, nove mulheres te beijaram?

— Fui pego de surpresa e... bem, essas tentativas não podem ser consideradas como um beijo real...

— Por quê...?

.

— Por que um beijo real é quando duas pessoas possuem sentimentos uma pela outra...

.

Steve revelava, deixando-a impressionada... e de fato, até fazia sentido.

— Sei... e quantos encontros você teve? – Ela segurava a mão do Capitão com força enquanto ambos tentavam desastrosamente dançar...

— Não tive nenhum encontro sozinho com uma mulher, antes ou depois do soro. Eu não tive tempo pra isso...

— Nem com a Peggy?

— Nem com a Peggy...

— E quanto a reta final...?

Steve inclinava a cabeça, não entendendo aquela pergunta.

— Reta final? Como assim...?

.

.

— Com quantas você transou?

.

.

O Capitão virava o rosto, constrangido... ela já sabia a resposta, então por que insistir naquela pergunta descabida?

— Estou esperando, Cap... – Mary apertava a mão do loiro com muito mais força, deixando-o assustado.

— Eu... não levei nenhuma mulher pra cama, Mary... pensei que você já tivesse se convencido disso... – O rosto dele parecia um pimentão, de tão envergonhado que estava...

— E quanto a Peggy? Vocês se amavam...

Ele balançou a cabeça em resposta, negando.

— Eu e a Peggy trocamos apenas um beijo, segundos antes de eu ir atrás do Schmidt.

— Será que devo mesmo acreditar...?

— E qual prova devo te dar pra acreditar? – Ele a contestava, ainda muito embaraçado, mas tudo o que a garota lhe dava em resposta era...

.

.

.

— Uma prova? Me dê sua virgindade. Se a gente transar, eu com certeza vou descobrir a verdade...

.

.

.

Os olhos azuis de Steve arregalaram...

— Você é inacreditável, Mary...! Está fazendo todas essas perguntas vergonhosas em tom de interrogatório e agora diz um absurdo desses!? O que você pretende afinal!? E... por que tudo isso importa pra você...!?

— Importa desde que me tornei sua amiga real... – Ela exprimia uma feição birrenta.

O loiro a fitou com desconfiança...

— Está mesmo dizendo a verdade...?

— Essa sou eu, Cap! Sou mandona, autoritária e arrogante, mas não costumo mentir. Se pergunto, é porque quero saber a resposta!

— Uau... isso parece mais uma ameaça...

— Passe pela provação, aguente meu lado ruim, mimado, opressor, desconfiado e terá quem realmente eu sou... – Ela sorria, triunfante.

— É mesmo... então o que vem a seguir...? – E então, Steve fixou o olhar nela, com um sorriso simplório nos lábios...

Mary se sentiu congelar diante daquela expressão...

E para piorar, a melodia belíssima da música lhe atingia em cheio, porque não sabia como reagir… tinha vontade de xingá-lo...

A garota bufava de raiva... tinha tanta vontade de encostar a cabeça naquele peito musculoso e descansar... mas o ódio que sentia naquele momento a consumia e tudo isso porque parecia estar muito incomodada com o passado do Super Soldado... ele sempre esteve cercado de mulheres bonitas naquela época... - “Será que esse idiota realmente não cedeu? - Ela pensava...

Mary o contemplava com uma feição emburrada, pedindo a Deus que nunca desistisse de odiá-lo, porque não podia existir ódio mais cheio de borboletas, notas musicais e passarinhos azuis...

Céus... ela queria mata-lo...

E desejava do fundo do coração que Steve lhe afagasse e não desse conta de que na verdade, ela era feita de algodão doce... e que não cultivava maçãs do amor em jardins, mas sim no coração...

Kiara desejava um abraço forte, daqueles que tirassem o ar, acabassem com a dor e acalmassem um coração... além de um beijo na testa, que demonstrasse carinho e lhe arrancasse um sorriso, fazendo ter a sensação de estar protegida...

“Mas que droga... desde quando essas sensações estão mais fortes e intensas?” – Ela se perguntava, em silêncio.

A loira só desejava que Steve segurasse sua mão e cruzasse seus dedos longos e quentes nos dela... sondar o universo ao seu lado e procurar um planeta ou uma estrela para batizar com o nome deles... que... qual era mesmo...? - “Ah sim, STARY!” — Segundo Tony.

Mary se praguejava mentalmente, porque sabia que o loiro a tinha transformado no eufemismo de si mesma, a fazendo se sentir uma menina que segurava uma flor... ele suavizou seu soco... amoleceu sua marcha e transformou sua dureza em dança... além de ter quebrado suas pernas e ter tirado as pedras de sua mão, a fez ter vontade de comprar um vestido branco cheio de rendas e babados...

Os dois continuaram dançando... mas não parecia uma dança real... era algo muito estranho e constrangedor para simplesmente chamar de dança...

E então, Steve resolvia quebrar aquele silêncio embaraçoso, em meio a música.

— Você... parou com as perguntas... – Não era uma pergunta, mas uma forma de trazê-la de volta para o diálogo.

— Eu estava meio imersa em meus pensamentos, desculpe... – A loira não revelaria o que tinha vontade de dizer a ele...

— Você sempre me deixa perdido, sabia...? O que se passa em sua mente afinal?

— Se souber me ouvir com inteligência, não irei confundir você... – A garota sorria, tentando esconder nas profundezas de seu coração, os efeitos exorbitantes que sentia secretamente por ele.

O loiro a fitava profundamente, se perdendo sem querer naqueles olhos verdes por trás dos óculos... e ficaria por horas contando todos os pequenos brilhinhos envolta de sua íris...

Seu olhar percorria os lábios e o corpo da Segundo-Tenente, imaginando como seria beijar cada cantinho de sua pele macia...

Tais pensamentos eram inevitáveis, principalmente depois do dia em que se beijaram perto do farol em Portland...

O loiro ficava horas intermináveis lembrando de cada momento... não sabia como esquecer, porque achava aquela lembrança tão linda, de formas tão variadas, profundas e insuportáveis...

Aquela madrugada, Mary Crystal se assemelhava a uma bela flor... que exibia a beleza de suas pétalas... uma alma limpa... pelos ares de seu ser... derramando seu inebriante perfume...

Kiara o olhava de um jeito tão único, que o deixava desarmado... trazendo no olhar, visões extraordinárias de coisas que ele abraçava de olhos fechados...

Ela era como todo o espaço sideral, e ele, como astrônomo, tentava explorar e descobrir todos os seus segredos mais íntimos e ocultos... porque cada vez que a conhecia mais... descobria novas formas de gostar dela...

Diante do silêncio que pairava entre ambos, Mary resolvia quebrar aquele ‘projeto de dança’.

— Bem, eu preciso ir agora, Cap. Só passei aqui pra saber se você e o Stark tinham se entendido.

— Então você estava preocupada comigo...? – O Super Soldado a contestava, tímido, mas desejando secretamente que ela dissesse que sim.

— Com você e o Tony. – Kiara revirou os olhos, o corrigindo.

— Sei... você parecia bem preocupada com minha vida amorosa. Até chegou aqui fazendo um interrogatório, me intimidando.

— Relaxa, Cap. Tudo isso é só uma brincadeira! Você sempre leva as coisas muito a sério!

O loiro a fitava com o olhar severo e estreito...

Ela chegava repentinamente em sua casa, reparando tudo ao redor, lhe enchendo de perguntas, fingindo que estava dançando com ele, e depois ia embora dizendo que tudo era apenas uma brincadeira?

— Ok... já que veio aqui só pra ver se estava tudo bem e brincar comigo, pode ir embora tranquila. – Steve caminhava rumo a porta, abrindo-a logo em seguida, com uma carranca no rosto.

— Não precisa me mandar embora desse jeito! É falta de educação!

— É você quem está dizendo que vai embora, então, até logo. Nos vemos em breve...

Mary passava por ele, olhando fixamente para aqueles maravilhosos olhos azuis que lhe tiravam o fôlego...

.

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— Não vou te deixar para trás, mas cuidado para não me perder de vista... – E então, a Segundo-Tenente piscou de modo sedutor, sorrindo logo em seguida para ele.

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Steve sentiu uma forte pressão no coração... estava com um pressentimento estranho sobre aquelas palavras...

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Notas finais do capítulo

Eu só posso dizer que realizei um grande sonho escrevendo esse capítulo, porque o que eu mais queria era que o Tony se acertasse com o Bucky sem interferência do Steve. Guerra Civil, aqui você perdeu, muahahahaha!

E o que vocês acharam dessa última fala da Mary? Será que o Steve vai a perder de vista? Se eu disser que sim, como vocês vão reagir? Então lá vai a prévia do próximo: Finalmente, depois de todos esses capítulos, a nossa diabinha percebe que... ESTÁ APAIXONADA! Sim, agora vai Brazyl zyl zyl, só que.......... quem disse que ela vai aceitar isso numa boa? Então, vocês verão uma Mary versão zumbi no próximo, com a mesma se lamentando para pessoas próximas sobre sua paixão no Cap enquanto enche a cara. Até batalha de Guitar Hero contra a Sharon vai rolar no próximo, deixando um Steve totalmente confuso, sem entender absolutamente NADA! Ela sofrendo de amores por ele, e ele sofrendo de amores por ela, com nenhum dos dois tendo ideia disso. Vai ser hilário, muahahahaha!

Obs: Ouçam a música desse capítulo. Eu tenho medo do Alice in Chains, mas essa banda é surreal de tão perfeita: https://www.youtube.com/watch?v=_siJRgDlddY

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