Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 48
Fugindo, negando e cedendo




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Fugindo, negando e cedendo

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29 de Agosto de 2012, 10:01 PM

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Brooklyn – Nova York

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Não vou te deixar para trás, mas cuidado para não me perder de vista...

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Essa foi a última coisa que Mary disse a Steve, antes de sumir de vez por quase um mês.

O Capitão não a viu durante todo aquele tempo, mas não era porque a garota tinha fugido por conta de visões/sonhos, mas porque segundo Fury, ela estava participando de muitas reuniões com seus superiores da Força Aérea, o que não fazia tanto sentido, já que Mary trabalhava com ele e os Vingadores, até segunda ordem do Diretor da SHIELD.

Porém...

Ainda que tudo fosse verdade, a Segundo-Tenente resolveu ignorar e evitar o Super Soldado por todo aquele tempo.

Ela não retornava as ligações dele. Apenas respondia de modo genérico por SMS.

Ela não comparecia as reuniões e mandava sempre recados por Natasha.

Ela não procurou por Steve e quando o via perto da torre, ou até mesmo aos arredores do Brooklyn, desviava o caminho, dando meia volta para trás.

Nem mesmo o loiro entendia o que estava acontecendo. Pensava que Mary devia estar muito ocupada e que todos aqueles desencontros não eram propositais.

Mas após muitos dias e até semanas pensando a respeito, a Segundo-Tenente chegava a conclusão que algo estava muito errado, porque quando a mesma pessoa aparecia inúmeras vezes em seus sonhos é porque você andava precisando dela... e não o contrário...

E se fossem apenas os sonhos com Steve, tudo bem...

O tempo passava, porém, ao decorrer dos dias e semanas, Mary Crystal entendia que quando tudo aquilo sentia não fazia sentido... ela negou por um tempo, de tão inacreditável que parecia... não tinha lógica alguma...

Paixão era quando apesar da placa avisando “PERIGO”, o desejo prosseguia e entrava.

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Estar apaixonada era quando tudo ficava lindo... lindamente aterrorizante...

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Mary pensava em Steve o tempo todo e chegava a ser irritante. Já estava fora de seu controle.

Só nas últimas horas, tinha se policiado para não pensar nele, tentando se concentrar em outras coisas, mas em poucos minutos, lá estava ela de novo, pensando nas últimas vezes em que estiveram juntos... se recordando daquele sorriso maravilhoso... daqueles olhos azuis tão lindos... daquele caráter puro e cristalino... dos gestos cavalheirescos e da personalidade gentil e amável...

Seu coração gritava para correr até ele, e dizer tudo o que estava sentindo e pensando, mas... Mary chacoalhava a cabeça e sempre se xingava quando isso acontecia. Onde já se viu, estar apaixonada pelo homem mais perfeito que já passou na face da terra? Quem era ela para sequer nutrir tais sentimentos pelo Capitão América?

E durante todo aquele tempo, a garota percebia que passava pelos cinco estágios da paixão...

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A negação, a raiva, a negociação, a depressão e finalmente, a aceitação...

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A Segundo-Tenente se sentia vulnerável diante de tudo aquilo, sem saber o que fazer... estava com medo, hesitante em assumir no começo, mas quando finalmente aceitou, o sofrimento parecia diminuir...

Exausta e mentalmente fadigada, a loira só queria relaxar e esquecer aquela confusão em sua mente que mexia fortemente com seu coração.

E então, Mary marcava com Christine num bar no Brooklyn, pra que pudessem conversar. Sim, porque Amber estava longe e ela era a pessoa que mais confiava para desabafar suas discrepâncias emocionais envolvendo Steve Rogers.

A garota já estava na sexta garrafa de Heineken quando a médica chegava ao local.

— Hey! – Christine se aproximava, tocando o ombro da amiga e sentando-se ao seu lado.

— Hey... – Kiara a cumprimentava com uma feição de zumbi...

A Segundo-Tenente estava com olheiras, sem maquiagem, descabelada, as roupas amassadas, e com uma feição de decepção e cansaço evidente.

— O que aconteceu, Kiara? Por que você tá com essa cara detonada?

— Eu? Detonada...? Impressão sua...

— E ainda por cima bêbada? Sério, me diz o que aconteceu...

— Nada... – Ela tentava desconversar, relutando em dizer a verdade.

— Sei... você me chama aqui a essa hora da noite pra dizer “nada”?

Hesitante, Mary Crystal se virou para a amiga, apoiando os cotovelos no balcão, segurando a garrafa verde de vidro na mão direita.

— Acho que estou meio cansada da vida a dois, Chris... eu e o meu ego...

— Seja mais clara...

— Eu estou com insônia... – A loira revelava, fazendo a amiga lhe encarar desconfiada.

— Insônia...? – Christine arqueava uma sobrancelha.

— Uma insônia que tem nome, endereço e... um sorriso lindo... – Kiara confessava, rindo como uma bêbada fascinada...

— Explique, Mary... – A médica cruzava os braços, olhando fixamente para a amiga.

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— Eu fui não sei onde, pegar não sei o que e voltei não sei como... totalmente apaixonada por ‘aquele idiota’...

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As palavras dela soavam desconexas e embriagadas.

— Quer ser mais clara...?

— Eu não... esse é um segredo que eu nunca vou contar a ninguém, mas eu confesso que... estou a fim dele... muito a fim dele... – A Segundo-Tenente sorria de olhos fechados, rindo exatamente por conta de sua embriaguez.

— A fim dele? Steve Rogers? O Capitão América, você quis dizer?

— Droga... não era pra você saber... – A loirinha se encolhia, arrependida por ter confessado tamanha infâmia.

— Céus, Kiara... que cena patética... custava ser honesta desde o início? Por que demorou tanto pra você perceber, ou melhor, admitir? - Christine respirava fundo, balançando a cabeça, vendo o quão orgulhosa sua amiga era.

A garota ficou quieta por alguns segundos, encarando o rótulo da garrafa molhada que segurava.

— Não está sendo fácil... eu não o vejo a um mês...

— E o que você tem feito ultimamente?

— Tenho participado de algumas reuniões com a Força Aérea e conectado minhas habilidades com as da Wanda para repassar tudo ao Fury. Graças a isso, ele não tem me cobrado para ir a torre dos Vingadores, então quando percebi que as coisas estavam ficando estranhas entre eu e o Cap, resolvi ignorá-lo e evita-lo a todo custo, mas de uma forma que não parecesse estranho...

— Por quê...? Não seria melhor contar a ele o que você anda sentindo...?

— Não... eu estou esperando que em breve o Fury retire a minha licença, pra que eu possa voltar para a Força Aérea.

— Espera... você vai voltar pra Força Aérea e não vai dizer nada pro Capitão!?

— Vai ser melhor assim, Chris... – Mary confessava, com uma feição triste no rosto.

— Não é melhor você ser honesta? Eu tenho absoluta certeza que ele também gosta de você! É recíproco!

— Mas é claro que não! Ele só ama uma mulher, e ela se chama Peggy Carter! Também tem o fato de o mesmo estar próximo da Sharon! Os dois têm trabalhado juntos nas últimas missões da SHIELD. Eles têm uma conexão muito mais profunda e que até faz sentido... ela é sobrinha da Agente Carter!

— E daí!?

— E daí que o melhor é que eu saia do caminho dela. O Cap merece ser feliz. Não quero ser um empecilho, porque sei que às vezes eu o confundo...

— Como você é burra, Kiara! Você não está confundindo ninguém! ELE TAMBÉM GOSTA DE VOCÊ!

— Não... isso é impossível... eu sou a personificação de tudo o que ele mais odeia...

— Céus... você está louca... – Christine revirava os olhos, irritada.

A Segundo-Tenente queria muito acreditar no que sua amiga lhe dizia, mas não conseguia... estava cética...

Às vezes Mary dizia que odiava todo mundo e que ninguém a entendia, mas a verdade era que se odiava pelo fato de nem mesmo ela se entender...

Ao observar que sua amiga parecia estar sofrendo e que esse com certeza era o principal motivo de encher a cara, Christine achava melhor parar por ali.

— Acho melhor encerrarmos esse assunto, já que você não vai me ouvir...

— Tudo bem...

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— Hey, desculpem a demora.

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Uma voz surgia por trás das duas.

— Não se preocupe, porque também acabei de chegar. – Christine cumprimentava Darcy, a estagiária de Jane.

— Por que a Darcy também está aqui!? – Mary a questionava, assustada.

— Pensei que você estaria aqui se divertindo e não entrando numa depressão alcóolica por causa de um cara. Foi por isso que chamei a Darcy.

— Se você está assim por causa do Capitão, sugiro que coloque um sorriso no rosto e disfarce o mais rápido possível, porque ele está vindo para esse bar junto com o Sam e umas pessoas aí que não conheço... – A estagiária avisava Mary enquanto sentava no banco do balcão ao lado de Christine.

A Segundo-Tenente expressava uma cara de espanto ao descobrir que em breve Steve estaria ali.

— Como assim eles estão vindo pra cá!? Alguém além de vocês duas sabia que eu estaria aqui!?

— O Sam não é seu guarda-costas? Acho que ele sabe. – Darcy redarguia, despreocupada.

— Kiara... se você quiser ir embora, eu e a Darcy damos uma desculpa quando eles chegarem aqui. – A médica sugeria, deixando a loira ainda mais sem reação.

— Céus... a minha vida é uma piada mesmo... – A loira abaixava a cabeça, escondendo o rosto entre seus braços.

— Ela tá na maior bad, né...? – A garota perguntava a Christine que confirmava com um aceno de cabeça.

— Eu vou lá pra fora para ver se eles estão chegando. Volto em um minuto. – A médica corria na direção da entrada, deixando Darcy e Mary sozinhas.

A estagiária analisava a situação da Segundo-Tenente, que parecia estar no fundo do poço por causa de um certo alguém...

— Levante a mão quem estiver irremediavelmente apaixonada por um Super Soldado loiro! – Darcy a provocava, apenas para arrancar uma reação.

— Por quê? Você está? – Kiara a questionava, ainda com a cabeça apoiada no balcão.

— Eu não. Tô falando de você...

— Eu!? Não... você tá delirando...

— Sei como é essa fase... é horrível... mas vai por mim, evitar o cara, fingir que ele não existe e trata-lo com indiferença é bem pior. Vai deixar explícito que você gosta dele. – Darcy alegava, como se tivesse muita experiência naquilo.

— Que lógica é essa?

— Você nunca esteve apaixonada antes, né? Se eu estiver certa, te aconselho a ser o mais normal possível e até amigável. Se você não for, vai tornar as coisas mais complicadas. – Ela aconselhava a Segundo-Tenente, que de fato, não sabia como agir.

— Então está me dizendo pra ficar aqui e falar com ele normalmente?

— Sim, vai ser melhor. Depois você pode fugir de novo e sumir de vez, se quiser.

Kiara bufava de raiva... se praguejava de estar naquela situação por conta daquele Capitão Idiota América...

— Eu acho que... não consigo... então me ajude a ficar o mais longe possível dele? Não tenho a menor condição de olhar na cara do Cap hoje...

— Posso tentar, mas não garanto que vamos conseguir mantê-lo distante. – Darcy terminava, quando de repente, Christine entrava no bar, na frente, com Steve, Sam, Riley, Bucky, Natasha, Wanda e... Sharon logo atrás.

A médica fazia mímica através de suas expressões faciais, para disfarçar, dizendo explicitamente a Darcy que todos eles estavam ali.

Mary Crystal preferia manter sua cabeça baixa, escondida entre seus braços enquanto segurava a garrafa de Heineken, não tendo coragem de olhar pra ninguém, e fingindo que estava dormindo. Seria bem melhor do que se a vissem naquele estado deplorável...

Céus... ela sequer estava bem vestida aquela noite... suas roupas estavam amassadas, além de estar tão na cara que não dormia por semanas por conta das olheiras horríveis... e o que dizer de seu cabelo completamente bagunçado? Ela parecia uma ogra depois de lutar na guerra do Vietnã...

— Darcy... olha quem está aqui...! – Christine dizia enquanto fingia sorrir na frente deles, mas por dentro, só queria tirar a Segundo-Tenente dali.

Steve, que não via Mary Crystal por semanas, passava por seus amigos, indo apressadamente na direção dela...

O loiro se manteve triste e cabisbaixo por muitos dias, e vê-la ali depois de todo aquele tempo, era reconfortante, porém, desesperador... - “Droga... ela também não ajudava em nada...” – Ele pensava, apreensivo e ansioso.

O Capitão sentia-se desmoronar por não ter notícias de como ela estava... de como foram aquelas semanas sem se verem...

E ao perceberem que o Super Soldado andava na direção da loira, Darcy e Christine entraram na frente...

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— Desculpe, Capitão, mas a Mary não está muito bem hoje e pediu pra não ser incomodada por ninguém. Ela quer ficar aqui sozinha, então você pode falar com ela outro dia, se quiser.

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A médica tomava a frente, e Darcy arregalava os olhos, porque pensava que suas palavras seriam mais amigáveis...

— O que aconteceu com ela...? Já faz tempo que não nos vemos, então pensei que-

— Ela está bem. Só está cansada fisicamente, então vocês podem se falar outra hora. – Christine o interrompia, deixando claro que não permitiria que se aproximasse de sua amiga... a menos que a própria Mary quisesse.

Embora não entendesse o porquê, o loiro respeitava a decisão da Segundo-Tenente, que não desejava ser incomodada, nem mesmo por ele...

— Tudo bem...

Vendo a frustração de seu amigo, Bucky se aproximava e tocava seu ombro.

— Hey, Punk, tem uma mesa de sinuca aqui! Vamos jogar!? Deixe as meninas aí e vamos nos divertir! – O sargento sugeria, tentando puxá-lo dali.

— Claro... vamos lá... – E então, Steve virava de costas, acompanhando Bucky na direção da mesa.

Sam fitava Christine, preocupado com Mary.

— Ela bebeu muito?

— Sim. Vamos deixa-la quieta por enquanto...

— Eu vou manter o Steve distraído. Se ela quiser ir embora, eu não vou deixar ele ir atrás dela, ok? – O aviador mostrava certo cuidado com a filha do Presidente, afinal, ele e Riley não estavam responsáveis apenas pela segurança dela, mas também em ajuda-la quando estivesse encurralada numa situação difícil.

Enquanto o Falcão e seu amigo decidiam jogar sinuca com Steve e Bucky, Natasha sentava numa mesa com Wanda pedindo uma bebida ao garçom.

Sharon decidiu ir até onde Steve e os outros estavam, apenas para ver se eles sabiam mesmo jogar sinuca.

Quinze minutos se passaram, e o Capitão juntamente com o sargento e os dois aviadores jogavam contra numa disputa.

A Agente 13 também estava bem entrosada no meio dos quatro.

Christine e Darcy observavam a cena, fuzilando a mulher com os olhos, e quando olharam para o lado, viam que Kiara fazia o mesmo.

Elas percebiam o que aquele olhar significava...

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Lógica de Mary Crystal Ellis: O Capitão América está solteiro, mas é meu.

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— Ela nem disfarça que está lá atrás dele, só pra te fazer ciúmes... – Darcy resmungava, indignada com a Agente 13.

— É muito satanás pra pouco inferno! – Mary redarguia, com um semblante horroroso na face.

— Você fica aí perdendo tempo se escondendo, enquanto ela está lá, dando descaradamente em cima do Capitão! – Christine tentava encorajar a amiga a fazer algo.

— E quem deu permissão pra ela dar em cima da pessoa que futuramente se casará comigo!? – A Segundo-Tenente continuava rezingando, odiando aquela cena ridícula de Sharon sorrindo para Steve.

— Olha, o que você não tem de altura, tem de ciúmes, hein... – Darcy fazia uma piada, deixando a garota ainda mais zangada.

— Você não vai fazer nada, Kiara?

— Não... não vou conseguir... – A loirinha batia a testa na madeira do balcão, inúmeras vezes, se praguejando porque resolveu sair de casa e beber naquele bar.

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Depois de meia hora, Sharon resolvia deixar os quatro rapazes jogando e se sentava na mesma mesa em que Natasha e Wanda estavam.

A loira e a ruiva começavam a beber e conversar.

— Me conta... você e o Steve estão fazendo algumas missões juntos, certo? Como está a sincronia entre vocês? – A Viúva Negra perguntava a Agente 13, que parecia feliz com o rumo em que as coisas estavam indo.

— Estamos bem. Tivemos algumas desavenças no começo, por causa da minha identidade real, mas no final, ele aceitou minhas desculpas.

— Que ótimo... acho que vocês vão se dar muito bem no futuro. – Natasha redarguia, com um sorriso no rosto.

— Também acho... – Sharon sorria de volta e as duas brindavam com seus copos de cerveja.

Wanda, que também estava na mesa, observava tudo silenciosamente...

Embora sempre evitasse usar seus poderes, era evidente que havia algo de muito estranho naquela conversa entre as duas...

A garota sabia que Natasha parecia testar as pessoas o tempo todo, somente para ver suas reações, mas Sharon... essa mostrava algo um tanto simulado na maior parte do tempo, como se expressasse algo, mas por dentro, discordasse de sua própria expressão.

Ao olhar para trás, a feiticeira observava as três garotas no balcão.

Christine atendia o telefone, se ausentando do balcão, e Darcy... bem, ela resolvia ir ao banheiro, deixando Mary Crystal sozinha.

Wanda decidia ir até a Segundo-Tenente, que não parecia muito bem naquele momento.

— Com licença, vou até o balcão e já volto. – A garota avisava Natasha e Sharon, que assentiam com a cabeça.

Ao caminhar na direção da loira, sentando-se ao lado dela no balcão, a garota resolvia dizer algo.

— Sei que não deseja ser incomodada, mas sua aura está me atormentando de longe...

Wanda revelava, fazendo Mary virar o rosto em sua direção, ainda apoiada no balcão.

— Por quê...?

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— Nem é preciso ler sua mente pra saber que você está completamente apaixonada pelo Capitão América...

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Kiara franziu o cenho, esboçando uma expressão cansada.

— Você está enganada. Meus pensamentos se resumem a puro desejo carnal. Não tem nada de paixão aqui...

— Eu entendo quando o corpo fala mais alto, só que o que está gritando no momento, são suas emoções e eu posso senti-las a milhas de distância...

A Segundo-Tenente respirava pesadamente em resposta.

— Ótimo, até você agora me vem com essa... quem será o próximo a descobrir essa vergonha?

— O Sam Wilson já sabe, o Bucky também, a Natasha com certeza também e a Sharon é bem provável, mas está fingindo que não. Tirando todas essas pessoas, acho que o único que ainda não percebeu, foi o próprio Steve.

— Céus, Wanda... pare de me torturar... você devia me ajudar... não quer manipular a minha mente, apagar minhas memórias e me fazer voltar para o dia em que eu não conhecia o Cap?

— Eu jamais faria isso.

— Por quê...?

A garota queria dizer que era porque sabia que Steve também se sentia da mesma forma, que era mútuo... recíproco, mas não podia dizer isso no lugar dele. Era ele quem devia dizer a verdade a Mary.

— Não farei porque não acho certo. – Wanda replicava, tentando disfarçar o máximo que podia.

Steve e Mary se gostavam... todo mundo sabia... mas os dois não conseguiam ficar juntos...

Era simples... porém, complexo...

Ele continuava vivendo sua vida idealizada e ela continuava idealizando sua vida...

Alguns diziam que isso jamais daria certo, outro diziam que os dois foram feitos um para o outro, mas o suposto casal em si, preferia não se manifestar. Preferiam meias palavras e milhares de coisas não ditas...

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Mary queria sumir... e Steve...? Ele queria ela...

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Todas as noites ele pensava nela, e todas as manhãs ela pensava nele...

Mesmo sorrindo para outras pessoas, cada um deles sabia a falta que o outro fazia...

Todos os dias os dois se perguntavam o que fazer...

Os sentimentos entre eles eram totalmente recíprocos. Estavam sincronizados até mesmo quando sofriam um pelo outro...

Wanda conseguia captar tudo aquilo apenas os observando, e vez ou outra, os pensamentos dos dois eram tão altos, que se tornava impossível não ouvir. Não era porque ela queria ouvir ou porque estivesse curiosa em saber, mas porque os dois deixavam isso transparecer com muita facilidade... e até quem não tinha os poderes da Feiticeira Escarlate, conseguia ouvir aqueles gritos silenciosos...

Ainda triste e transtornada, Mary continuava suas indagações...

— Pra não ver, a gente fecha os olhos... pra não ouvir, a gente tampa os ouvidos... e pra não sentir...? O que a gente faz, Wanda...? – A garota a contestava, num tom de voz manhoso e choroso.

— Não tenho ideia, Mary...

E então, as duas permaneceram em silêncio...

Havia uma Jukebox ao lado do balcão, perto da mesa de sinuca onde Steve os outros jogavam, e um rapaz escolhia uma música nele.

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Creep – Radiohead.

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Aquela música tão conhecida e que Mary adorava, soava de fundo, como parte da trilha sonora de sua vida fracassada...

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When you were here before, (Quando você esteve aqui antes)

Couldn't look you in the eye... (Não conseguia te olhar nos olhos)

You're just like an angel, (Você é como um anjo)

Your skin makes me cry… (Sua pele me faz chorar)

You float like a feather, (Você flutua como uma pena)

In a beautiful world, (Em um mundo tão belo)

I wish I was special, (Eu queria ser especial)

You're so f* special… (Você é especial pra c*)

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Quando música romântica começava a fazer sentido, é por que você já estava ferrado...

Porque estar apaixonado é estar mais próximo da insanidade do que da razão...

Enquanto a melodia fluía pelo lugar, Kiara continuava no balcão, ao lado de Wanda, afastada, segurando a garrafa de vidro na mão, bebendo frustrada e observando Steve de longe... tão radiante...

Ele sorria ao lado de Bucky, segurando o taco de sinuca, com aquela expressão resplandecente... tão perfeita...

Tudo nele era tão apaixonante...

Mary descobria que valia a pena ficar três horas olhando para Steve, totalmente parada, ainda que o mundo estivesse explodindo lá fora...

Tinha certeza que podia ficar o resto de sua vida olhando para ele, sentindo seu coração e pulmões sendo apertados com força em seu peito... nada no mundo importava...

Por que Steve Rogers tinha que ser tão perfeito...?

E quanto a ela...? Bem... Mary sabia que era uma pessoa difícil de lidar... teimosa ao extremo, grosseira, fria na maioria das vezes, dona de uma personalidade muito forte, impulsiva e explosiva, mas nem por isso deixava de ter sentimentos e sofrer... e Steve a fazia ter vontade de voltar a ser aquela menina sem máscaras, sem filtros e sem personalidades criadas... ele a fazia repensar suas decisões, pensamentos e desistências, arrancando seu muro de proteção, sua fortaleza, seus medos e espinhos... ele mudava seu humor ácido, tornando-o naturalmente doce...

Olhar naqueles vibrantes e calorosos olhos azuis cor de céu, era motivo suficiente para se despir de suas fantasias idiotas de menina má, porque desejava estar nos braços dele e sentir conforto e descanso... era o peito dele que trazia a única sensação de paz que acalmava seu coração aflito... era aquele sorriso de diamante que a desarmava... era só olhar para ele e Mary se sentia salva...

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But I'm a creep… (Mas eu sou uma aberração)

I'm a weirdo... (Eu sou uma esquisitona)

What the hell am I doing here? (Que diabos estou fazendo aqui?)

I don't belong here... (Eu não pertenço a este lugar)

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A letra da música dizia bem o que a loira estava sentindo no momento...

Kiara fitava Steve de longe... tão herói, tão imponente, tão brilhante...

Ele de fato parecia um anjo, com uma alma bela e um corpo perfeito...

E ela... era só uma esquisitona, repleta de defeitos...

Enquanto o fitava de forma tão apaixonada, seu coração disparava... e a garota o mandava parar de todas as formas, mas não conseguia ter controle...

“Céus, que patético...” – Pensava, se sentindo um lixo.

— Garçom, uma dose de amnésia e duas de desapego por favor... – Mary fazia piada de si mesma, rindo, derrotada.

— Acho melhor você disfarçar um pouco... está ficando muito na cara que você está admirando ele de longe. – Wanda invadia os delírios da Segundo-Tenente, repentinamente.

— Eu estou bem ferrada...

— Sim, você está... – A feiticeira concordava.

Um rubor se aprofundou na pele das bochechas de Mary Crystal.

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I don't care if it hurts, (Eu não ligo se isso machuca)

I wanna have control… (Eu quero ter o controle)

I wanna a perfect body, (Eu quero um corpo perfeito)

I wanna a perfect soul… (Eu quero uma alma perfeita)

I want you to notice, (Eu quero que você perceba)

When I'm not around… (Quando eu não estiver por perto)

You're so f* special… (Que você é especial pra c*)

I wish I was special… (Eu queria ser especial)

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Aah aquela melodia... nada melhor do que Radiohead pra curtir a depressão de uma embriaguez apaixonada...

— Acho melhor ir embora... essa noite já deu pra mim... – A loira se levantava para sair dali, mas foi impedida por Wanda.

Ela se virou para Mary, e começou a dizer palavras que deixaram a Segundo-Tenente completamente abismada, assustada, perplexa, alarmada e sem chão...

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— 28 de Agosto, 07:51 PM... – Wanda pausava, como se estivesse narrando algo, replicando tudo o que vinha em sua mente...

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— Querido Cap... Andei pensando em nosso primeiro beijo... acho que seria melhor dizer primeiros beijos, mas me refiro ao quarto, aquele que você me deu a algumas semanas atrás, depois que meu pai foi resgatado do sequestro... já te contei como me senti aquela noite...? Não foi o primeiro beijo da minha vida, mas foi o meu primeiro beijo verdadeiro e foi com você... já vivi muitas coisas, Cap... porém, nunca senti nada que fosse tão especial... é algo que vou guardar comigo pra sempre, e que tinha vontade de contar pra todo mundo... só que isso está me deixando maluca, tirando o meu sono a noite e me fazendo suspirar o dia todo... eu estou perdidamente apaixonada por você... céus... não acredito que conseguir dizer isso por pensamento e até escrever num papel... será que estou ficando louca...? Droga... é tão constrangedor... vou precisar queimar antes que alguém encontre...

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Wanda terminava de narrar tudo o que Mary Crystal havia escrito numa folha de papel, um dia atrás, em seu apartamento, porque seus pensamentos sobre Steve estavam transbordando e era impossível que a feiticeira não conseguisse ouvi-los. Era forte demais para ignorar...

A loira estava branca...

Depois ficou azul...

Depois ficou verde... e... ela tinha vontade de sair dali, correr pro banheiro e vomitar...

— Wanda... como... você...? – A Segundo-Tenente balbuciava, desacreditada que a garota conseguisse dizer tudo o que ela havia escrito naquele papel.

— Eu não estou invadindo sua mente, Mary, mas... esses pensamentos estão alardeando ao redor... já imaginou se o Steve pudesse ouvi-los?

— Se ele pudesse ouvir, eu entraria no bueiro mais fundo de Nova York e moraria ali, até achar as Tartarugas Ninja e me tornar assistente delas!

A feiticeira riu daquela piada.

— Se não quer se confessar, então fuja...

— É exatamente o que vou fazer...

E então, Kiara se levantava, prestes a sair dali sem que ninguém a visse...

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She's running out the door, (Ela está fugindo pela porta)

She's running out, (Ela está fugindo)

She run, run, run, run, (Ela corre, corre, corre, corre)

Run… (Corre...)

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Mas…

Quando Mary terminava de se virar para sair pela porta dos fundos, Sharon a cercava completamente, ficando frente a frente com a mesma.

A Segundo-Tenente a encarava com um olhar desconfiado.

— Senhorita Ellis, tá tudo bem...? – A Agente a analisava, achando a aparência atual da garota um tanto... desleixada...

— Tudo ótimo! Agora se me dá licença, estou de saída.

— Mas já...? Não acha melhor esperar um pouco? Você parece estar muito alcoolizada.

— Sim, eu estou, mas não se preocupe, eu sei me cuidar... – A garota redarguia, desviando dela, rumo a porta.

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— Não quer jogar uma partida de Guitar Hero? A Nat disse que você curte esse jogo... – A agente a convidava para jogar, ou melhor... parecia que estava lhe desafiando.

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Mary Crystal olhou fixamente nos olhos castanhos de Sharon Carter, e então...

— Claro! Faço 100% no nível expert de olhos vendados. Quer ver...? – Ela aceitava o desafio, e então, ambas pegaram os controles em cima da mesa ao lado do balcão, ligaram o videogame em cima de uma das mesas e colocaram o jogo no PlayStation 2.

Christine voltava para dentro do bar, depois de receber uma ligação de seu superior que lhe dava mais uma bronca por ter cometido um erro em seu turno no hospital... aquele homem egocêntrico e irritante, chamado Stephen Strange, lhe dava nos nervos...

E Darcy...? Bem, ela havia esbarrado em um rapaz muito bonito perto do banheiro, e que vigiava a irmã caçula de longe, apenas por precaução...

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Pietro Maximoff...

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A estagiária e o velocista começaram a conversar e desde então não pararam, perdendo a noção do tempo.

Aos poucos, a plateia ia se formando ao redor das duas loiras que jogariam, com algumas pessoas fazendo suas apostas.

Christine sabia que Mary venceria. Sua amiga era a melhor jogadora de Guitar Hero na época da escola.

Já Natasha, sabia que Sharon era viciada naquele jogo, mas não tinha ideia quem venceria aquele duelo estranho.

Do outro lado, Steve e os demais viam as duas prestes a começarem o primeiro round.

A música escolhida era...

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Miss Murder – AFI.

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Nível expert.

O Capitão achava tudo aquilo muito estranho e até pensou em intervir, já que Mary não parecia estar bem, segundo sua amiga, só que... Bucky o impediu de ir até ela.

— Deixe as garotas brigarem... – O sargento sorria cinicamente.

— Você devia pegar uma pipoca, Steve. – Sam assinava em baixo.

— Vai ser divertido. – Riley cruzava os braços, sorrindo. Kiara era a melhor jogadora de Guitar Hero da base de Colorado Springs.

— Vão apostar em quem...? – Natasha se aproximava, olhando fixamente para Steve, sorrindo de canto.

— Nós apostamos na Mary. – Sam falava por ele e Riley.

— Eu não vou apostar nada. Quero apenas ver o circo pegar fogo. – O sargento Barnes olhava para as duas, cada uma com um controle na mão.

— Por que elas resolveram jogar? A Mary não estava passando mal? – Steve questionava a ruiva.

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— Elas estão claramente disputando você, Rogers.

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Natasha sorria descaradamente.

— Isso é impossível...

— Cap, isso é muito possível, e você tem que ter cuidado ao lidar com duas loiras apaixonadas. – Sam completava o raciocínio da Viúva Negra.

— Do que você tá falando...? – O Super Soldado era o único naquele lugar que estava totalmente alheio ao que acontecia de fato...

Ele não tinha ideia de nada... sua ingenuidade chegava a ser engraçada de tão inacreditável...

A música começava com um trecho tocado por um baixo, e logo a bateria, guitarra e demais instrumentos surgiam...

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Hey, miss murder, can I (Ei, senhorita assassina, eu posso)

Hey, miss murder, can I (Ei, senhorita assassina, eu posso)

Make beauty stay if I (Fazer a beleza ficar se eu)

Take my life? (Tirar minha vida?)

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E então, tudo o que eles observavam era a gigante tela de LED exibindo o braço de uma guitarra e vários botões nas cores verde, vermelho, amarelo, azul e laranja, passando numa velocidade muito rápida.

Mary, que jogava primeiro, era extremamente precisa, não errando uma nota sequer. Seus dedos se moviam numa velocidade incrível.

Steve, que não entendia como aquele jogo funcionava, ficava impressionado em como a garota mostrava tanta habilidade.

— Como funciona esse jogo, Sam? – O Capitão perguntava ao Falcão, curioso.

— A Mary vai jogar primeiro, e em seguida é a Sharon. Quem acertar mais notas, vence o round.

— Não tinha ideia que um jogo desses existia...

— Você não tem ideia de quase nada, Cap... – Sam dava alguns tapinhas nas costas do loiro, impressionado pelo mesmo não entender que Mary e Sharon estavam brigando por causa dele.

Naquele momento, enquanto as duas loiras apaixonadas por Steve lutavam por ele, a Viúva Negra resolvia puxá-lo dali, para mais perto do balcão, próximo de onde Wanda estava sozinha.

— Rogers, preciso te perguntar uma coisa. Pode me acompanhar?

— Claro... – E então o loiro a seguiu.

Wanda, que tomava uma latinha de refrigerante, sentadinha em um dos balcões, os espionava pelo canto dos olhos, já imaginando o que a ruiva perguntaria a ele.

Ela e Natasha agiam em conjunto no plano de fazer Steve e Mary conversarem aquela noite, fazendo jogadas perigosas...

Christine torcia pela amiga do outro lado, junto de Darcy e Pietro.

Uma certa aglomeração de pessoas curiosas também assistia à partida entre Mary e Sharon.

E então, com Steve longe de Bucky e Sam, Natasha se sentia mais à vontade de perguntar o que tinha em mente.

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— Rogers... algumas mulheres desse bar estão de olho em você. São todas bonitas. Por que não aproveita essa noite pra começar a papear com alguma?

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O Super Soldado estreitou o olhar, achando aquela pergunta aleatória e estranha.

Ele olhou ao redor e notou que de fato, havia muitas mulheres bonitas no local.

— Bem, elas não são o meu tipo. Não quero ofendê-las, são todas lindas e parecem surpreendentes às sua maneiras, mas... nenhuma faz realmente o meu tipo... – Ele suspirava, imaginando se deveria continuar explicando o obvio.

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The stars that pierce the sky, (As estrelas que perfuram o céu)

He left them all behind…  (Ele as deixa para trás) ♪ ♫ ♬

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— Por quê...? – A ruiva o contestava, com um sorriso de canto.

— Ser solteiro não significa necessariamente que você está disponível, Natasha... – Ele retorquia, deixando claro que não estava interessado nas mulheres que a ruiva sugeria.

— Bom argumento, Capitão, mas eu insisto. Dê uma olhada melhor. Você não vai se arrepender.

— Obrigado por se preocupar, Romanoff, mas não tenho interesse em nenhuma mulher daqui, porque só existe uma em minha mente...

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— A Mary...? – A ruiva o provocava, propositalmente.

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Steve tinha vontade de responder que sim, que era ela, mas ainda não estava preparado para assumir aquilo para ninguém mais além de Sam e Bucky.

— Não, é a Peggy... quem mais seria? – O loiro tentava disfarçar, em vão.

— Aah, que pena... por que se fosse a Mary, eu te revelaria uma fórmula infalível de como fazê-la reparar em você... – A Viúva Negra replicava, muito sacana, fazendo Wanda quase cuspir a Coca-Cola que bebia, já que estava perto deles e ouvia a conversa.

Era melhor do que espionar suas mentes...

O Super Soldado encarava Natasha, curioso... que fórmula infalível era aquela que faria a Segundo-Tenente reparar nele?

— Estou ouvindo, Romanoff... – Steve corava levemente, fingindo indiferença, com os braços cruzados... e Natasha achava aquela timidez misturada com ansiedade um tanto divertida.

— Você tem que fazê-la se sentir amada, bonita e sexy. Faça-a acreditar que ela é a mulher mais bonita do mundo, a personificação da deusa Afrodite. Faça-a se sentir confiante, bonita e segura.

O loiro parecia um pouco decepcionado com aquela resposta.

— Mas... ela é tudo isso, Natasha... ela é linda, confiante e sabe muito bem disso, então... por que preciso dizer o obvio...? - Steve perguntava de volta, confuso, nem ao menos percebendo que estava praticamente confessando que gostava de Mary Crystal.

— Porque independente de como elas se apresentam, todas as mulheres têm dúvidas sobre essas coisas, mesmo que seja por um instante.

— E é só isso...? – O Capitão a indagava novamente.

— Ser sincero com seus sentimentos também é algo essencial, então independente de quem seja essa mulher, você precisa ser sincero logo e se confessar, antes que ela fuja para sempre.

Steve estreitou o olhar. O que ela queria dizer com “fugir para sempre”?

— Não entendi muito bem, mas terei isso em mente. Obrigado, Natasha.

— Disponha, Capitão. – E então, a ruiva o deixava concentrado na disputa entre as duas loiras, sentando-se ao lado de Wanda no balcão.

— Você é bem audaciosa, Nat... – Wanda dizia, sem se virar para a ruiva.

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— Espero que tenha agido de acordo com o plano, Wanda, porque se não for hoje,  esses dois nunca vão se acertar... – A espiã sussurrava suavemente.

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— Eu agi conforme planejamos, mas não garanto nada... tentei ser o mais sutil possível...

— Vai dar certo... – E então, Natasha sorriu e ergueu a mão para a feiticeira, que batia na palma da mão da ruiva, confirmando o pacto de juntar a todo custo o casal STARY, sem que eles soubessem.

Bucky olhava sorrateiramente para elas... já sabendo do plano.

Pietro, que estava ao lado de Darcy, também sabia sobre aquele plano ridículo de juntar a filha do Presidente com o Capitão América.

— Isso não vai dar certo... – O velocista dizia a si mesmo, mas seus devaneios eram interrompidos por Darcy.

— Vai dar sim. Eles se amam... – A estagiária retorquia, e ele se espantava por sua sagacidade. Ela também havia percebido?

— Se estão falando sobre o Capitão e a Mary, sou da mesma opinião. Eles se amam, mas não sabem e nem querem admitir um pro outro. – Christine completava, olhando para sua amiga terminando a música no nível expert sem errar uma nota sequer.

Kiara conseguia os 100% no nível mais difícil.

Todos que assistiam a partida, gritavam e assobiavam para a loirinha, que sorria triunfantemente de canto para Sharon.

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— Me acompanhe se conseguir... e vença-me se puder... – A Segundo-Tenente provocava a Agente 13, intencionalmente.

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— Farei com prazer, senhorita Ellis. – A loira aceitava o desafio e agora, era sua vez de jogar.

Ela começava a mesma música, no mesmo nível que Mary.

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Hey, miss murder, can I (Ei, senhorita assassina, eu posso) ♪ ♫ ♬

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De certa forma, entrar naquela disputa contra Sharon lhe fazia recuperar o ânimo.

A Agente 13 podia ser melhor que ela em várias coisas, mas com certeza não a venceria no Guitar Hero. Era impossível.

A Segundo-Tenente mantinha os braços cruzados, vendo a loira jogando, até agora sem errar.

E então, sem que percebesse...

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Steve já estava atrás dela...

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Kiara só se deu conta da presença dele, por causa daquele maldito perfume amadeirado e tão único que a narcotizava de longe...

Ela respirou fundo, tentando recuperar o fôlego... céus, ele mexia tanto com ela...

O Capitão também estava nervoso... fazia tantas semanas que não se viam...

Ele se aproximou e tocou o ombro feminino, delicadamente...

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— Mary...

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A garota não se virou... não conseguia... não tinha forças...

— Cap... – Ela o cumprimentava, sem virar em sua direção, mantendo-se de costas para ele.

— Você está bem...? – O loiro agora ficava ao lado dela.

— Sim... – Ela se limitou em apenas dizer que sim.

— Você não parece bem...

— Mas eu nem disse nada...

— É exatamente por isso... quando você está bem, nunca para de falar...

— Desculpe te passar essa impressão...

— Por que está me pedindo desculpas por isso...?

— Por nada... – A garota tentava se concentrar no jogo.

Sharon ia muito bem até a metade da música, mas ao notar que Steve estava ao lado de Mary falando com ela...

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A desconcentrou por um segundo que a fez errar duas notas seguidas...

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A plateia gritava um uníssono “Aaaaah, ela errou!”.

E Mary sorria, vendo que ganhava o primeiro round.

Steve não entendia aquele sorriso sádico nos lábios da garota.

E então, quando a música acabou, Sharon terminava com 98% no nível expert.

— Pronta pra perder de vez? - A Segundo-Tenente passou pela agente, segurando o controle e um sorriso provocante.

— Se eu vencer esse round, vamos ter um terceiro para desempatar. – Sharon redarguia, encarando-a com o mesmo sorriso.

— Isso não vai acontecer, mas eu aceito.

A Segundo-Tenente escolhia a música que acabaria com Sharon Carter de uma vez por todas.

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Paranoid – Black Sabbath.

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Natasha riu ao ouvir o começo de uma das músicas favoritas do Homem de Ferro. Ele provavelmente cantaria junto se estivesse ali.

A música era curta, porém difícil.

Kiara mantinha toda a concentração no jogo e seus dedos se moviam muito rápido.

Ela sustentava um ar de vitória durante a melodia...

Faltava apenas dez segundos para terminar...

E então...

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Mary Crystal terminava com 100% no nível expert.

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Ela olhou para Sharon de cima para baixo.

— Se você fizer 100%, vamos pular logo para a última música do DragonForce, tudo bem? – A loirinha sorria sordidamente, a desafiando para a música mais difícil do jogo, e quase impossível de terminar em 100% no nível expert.

— Tudo bem. – A Agente agora começaria o seu jogo.

Steve, alheio a tudo, não entendia aquela rivalidade estranha entre elas.

Bucky o observava de longe, rindo de sua cara.

— Certas coisas nem setenta anos no futuro podem mudar... – O sargento dizia a si mesmo, achando muito engraçado a ingenuidade de seu melhor amigo.

Na metade da música, Sharon mantinha seu ritmo, não errando nenhuma.

Mary ainda estava convicta...

Trinta segundos para terminar...

Vinte e cinco...

Vinte...

Quinze...

E então... a Agente sentia seus dedos muito cansados por conta dos movimentos repetidos, até que...

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Sharon errava quatro notas, bem no final.

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A gritaria ao redor da Agente era estridente, mas as palmas para Mary Crystal eram notáveis.

A plateia inteira gritava, batia palmas e assobiava para a Segundo-Tenente.

O Capitão não entendia muito sobre videogame, mas pelo bom desempenho de Mary naquele jogo, era inevitável não haver uma torcida.

A garota jogava beijos e acenava para todos que torciam por ela.

Já Sharon, tentava disfarçar sua irritação, só que em vez de expressar isso, ela sorriu, se aproximando da garota.

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— Parabéns, mas que tal uma revanche?

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— Hoje, não Agente Carter. O dever me chama. Preciso ir agora. – E então, Kiara resolvia sair dali e fugir de Steve a todo custo.

Vendo que a garota sairia do bar pela porta dos fundos, o Super Soldado resolvia ir atrás dela.

Não deixaria que Mary fosse embora... não depois de longas semanas sem conversarem...

Sharon até tentou segui-lo para o impedir, mas quando o loiro cruzou a porta atrás da Segundo-Tenente, foi impedida por três pessoas...

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Christine, Darcy e Pietro.

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— Hey, Sharon, eu te desafio! Vem, vamos voltar pro Guitar Hero agora! – Darcy a puxava dali, impedindo que a loira fosse atrás de Steve.

Ela até tentou dar uma desculpa, mas a estagiária era cínica e cara de pau o suficiente em fingir que queria jogar contra ela, já que também era muito boa em Guitar Hero.

Toda a torcida do casal STARY estava na expectativa para que eles se acertassem. E tinha que ser aquela noite...

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Na saída dos fundos do bar, Steve ia atrás de Mary, que fingia que ele não estava ali lhe seguindo, mas...

Era impossível disfarçar quando o Capitão corria em sua direção, e entrava em sua frente, impedindo-a de continuar andando.

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— Por que você saiu correndo do bar!? Está se sentindo tão mal assim!? — Ele a contestava, preocupado, mas ao mesmo tempo irritado.

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Kiara mirava o chão, cabisbaixa e sem coragem de olhar nos olhos dele.

— Eu... não ando muito bem esses dias... é só isso... não precisa se preocupar, Cap...

— Faz muito tempo que não nos vemos... você... nem sequer respondia minhas mensagens...

— Eu estava ocupada... – O respondia, com medo... temerosa.

— Entendo, mas... ao menos podia ter comparecido a uma das reuniões na torre.

— Não tive como... eu estou empenhada em outras coisas...

— Sei... a Força Aérea, não é mesmo...?

— Se sabe, então não devia estar aqui me fazendo essas perguntas. – Ela replicava, ainda olhando pro chão. Mary odiava aquela tentação involuntária que era congelar na presença de Steve Rogers... e que se mostrava mais poderosa do que ela e suas imensas listas de certo e errado...

Já o loiro, se perguntava o que Mary Crystal havia feito com sua mente, porque ela já não o obedecia mais... seus pensamentos tinham vida própria e todos eram direcionados a garota... não importava se estava perto ou longe, ele estava sempre pensando nela...

Seu coração trepidava... doía, chacoalhava, tremia e vacilava... ele não parava de sentir aquele entrar e sair, abrir e fechar de portas, janelas e frestas...

E então, numa mistura de medo, desespero e descontrole, Steve pegou na mão da Segundo-Tenente e...

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— Eu senti sua falta, Mary...

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O Super Soldado confessava, instável, emotivo e apaixonado... tão apaixonado que não conseguia mais disfarçar...

O Capitão se rendia à poesia daqueles olhos esverdeados que o encaravam com assombro... e se perdia ao observar a imensidão do universo neles...

Todos os seus músculos se contraíam ao vê-la tão perto depois de... semanas...

Ele ficava bobo, a mão gelava, e se sentia um menino de novo... aquele menino fraco, tímido e franzino... vulnerável e indigno de sair com qualquer mulher por causa de sua estatura física.

Mary Crystal tentava ignorar todos os efeitos efervescentes que sentia naquele momento e então, ela sorriu e puxou sua mão de volta gentilmente, tentando disfarçar...

— Aah, Cap, sentiu saudades...? Quem diria que você ficaria perdido sem mim...? – Ela tentava fazer uma piada, mas... sua criatividade não estava muito boa aquela noite.

— Você é o antídoto perfeito para dezesseis horas com Tony... - Ele confessava, sorrindo timidamente...

— Fico feliz que você e ele estão bem depois do lance com o Barnes...

— Sim, nós estamos e... será que posso te acompanhar até a sua casa...? – Steve se oferecia, ainda muito embaraçado, sem saber o que dizer para convencê-la a não se afastar dele.

— Tudo bem... – Kiara cedia.

Os dois começaram a andar um pouco devagar, tímidos, constrangidos e perdidos...

O loiro estava muito apreensivo... tinha tantas coisas a dizer e também a perguntar... então, ele resolvia ser um pouco mais ousado aquela noite e tirar as dúvidas que tinha em sua mente, sobre ela.

— Mary... você me fez várias perguntas aquele dia e... queria saber as mesmas coisas hoje...

— Aquele dia...? Que coisas...? – Mary estava confusa.

— O dia em que você foi até o meu apartamento e perguntou sobre minha vida amorosa...

— Aah... então agora você quer saber as mesmas coisas sobre a minha vida amorosa? – Ela o questionava, receosa se deveria responder.

— Sim... quantos caras te levaram para um encontro... coisas do tipo... – Ele a indagava, envergonhado, porém decidido.

— Ok, vamos lá, Cap... quer saber quantos...? Nenhum. - Kiara redarguia, sendo direta.

— Bem... então... você nunca...-

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— Eu só beijei quatro caras em toda a minha vida e nunca fui pra cama com nenhum deles. Satisfeito...?

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O Super Soldado arregalava os olhos, assustado, porém, aliviado...

— Quando você disse que não chegou a ter nenhuma experiência sexual, eu desacreditei no início, mas agora... eu acredito em você...

— Que fofo de sua parte, mas eu não sou tão santa assim, e sabe por quê? Eu tomei a inciativa de chegar nesses quatro caras! Eu investi e eles cederam!

— Você...? – Ele estava espantado diante daquela revelação.

— Sim...

— E como foi exatamente isso...? – O loiro tentava disfarçar a ansiedade em saber as respostas.

— O primeiro foi no ensino médio. Eu gostava de um garoto, achava ele uma gracinha, fui lá, o peguei desprevenido, tasquei um beijo e depois saímos juntos por um tempo, mas nada sério...

— Simples assim...?

— Sim...

— E o segundo? – O loiro estava perplexo em como a garota tinha facilidade em revelar tudo aquilo sem ficar embaraçada.

— Eu estava numa festa da faculdade, estávamos dançando, eu parti pra cima, ele cedeu e nós ficamos.

— Ficaram...?

— Esse termo é mais usado do que o termo “encontro” nos dias de hoje, Cap.

— E depois...?

— O terceiro foi na minha formatura... e você conhece ele. Foi o Johnny.

— O-o-o-o quê...? – O loiro era pego de surpresa. Johnny? O colega da Força Aérea que todos diziam que gostava dela?

— Mas para a minha defesa, eu estava bêbada!

— Certo... e o quarto...?

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— Você...

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Steve corava de vergonha... então, ele era o último da lista?

— Satisfeito? Quem devia estar mais indignada aqui sou eu! Você beijou muito mais pessoas do que eu!

— Aah... bem... eu não beijei realmente as mulheres que não conhecia. Elas se aproveitaram de mim, então a única mulher que eu realmente correspondi, foi a Peggy, então-

— Espere, por que eu não estou nessa conta!? Você me correspondeu em todas as vezes que nos beijamos! Sou tão insignificante assim!? Só a Peggy conta!? – Ela protestava, indignada e enciumada.

— O quê...!? Claro que não...! É que... eu não estava contando os dias atuais, só o que aconteceu na década de 40...!

— Você é cruel e desumano, Cap! Como pode esquecer de me incluir na lista de mulheres que te beijaram!? E você me correspondeu muito bem em todas as vezes! Sou uma piada pra você!?

— Não, claro que não! É que... eu não achei que estávamos contando os dias do século 21, me perdoe...! – O loiro não sabia o que dizer para se justificar.

— Sei... você não gosta mesmo de mim...! Isso é muito triste e humilhante, sabia!?

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— Você está enganada, Mary! Eu gosto de você! Eu gosto muito de você!

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Steve dizia num tom de desespero, sem nem perceber que aquilo soava muito estranho... estranhamente romântico... como uma verdadeira declaração de amor...

Mary Crystal ficou em silêncio... sentindo um forte rubor crescendo em suas bochechas, assim como ele...

Os dois estavam numa competição em quem corava mais... como um pimentão...

O Capitão pigarreava, tentando retornar ao diálogo, pronto para fazer a pergunta mais assustadora de sua vida a uma mulher...

— Mary... ouça... antes, que você fuja e desapareça da minha vida de novo, eu preciso te fazer uma pergunta...

— Pergunte... – Kiara se mantinha congelada em sua presença, sem saber o que esperar... o que ele lhe perguntaria...?

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— Seu aniversário é daqui a dois dias, não é...?

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— Sim... como você sabe...? – Ela o contestava, desconfiada.

— Você vai... passar com a sua família...? – O loiro estava muito envergonhado, mas corajoso o bastante para chegar aonde queria.

— Não vou passar com nenhum deles... meu pai está em Ohio, minha mãe na Itália e meu irmão a milhares de milhas, no oceano pacífico.

— Então você... vai ficar sozinha no seu aniversário...?

— Acho que sim... – Mary respondia, ainda encarando o chão...

Deveria inventar uma mentira para escapar dali... escapar de dizer que ficaria sozinha no dia de seu aniversário... mas... não conseguia... ela não conseguia mais mentir para ele...

E diante da resposta da garota, o loiro hesitou bastante em dizer o que tinha em mente, porém, ainda que estivesse tremendo por dentro e receoso de levar um gigante “NÃO”, resolveu seguir em frente...

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— Você não quer... sair comigo...?

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Ele se arriscava... sentindo seu rosto esquentando, completamente envergonhado, mas convicto.

Kiara arqueou uma sobrancelha, deixando-o desconfortável.

— Você está dizendo que quer que eu saia com você no dia do meu aniversário? Ou melhor, você está me chamando pra um... encontro...? É isso...? – A garota estava abismada, temendo ter entendido errado.

— Sim... - Ele sorriu, timidamente, olhando para os lados... Kiara era muito intimidante... ainda que ela também estivesse extremamente intimidada com aquela pergunta.

Mary ficava em silêncio, desacreditada e sem reação...

O Capitão América, ou melhor, Steve Rogers estava ali, pedindo para sair com ela em seu aniversário? E num encontro? Era isso?

— Você... está mesmo me chamando pra sair...? – A garota ainda não acreditava e queria ter 100% de certeza.

— Sim, estou... – O loiro piscava, olhando para a Segundo-Tenente, com aqueles olhos de safira, tão inocentes e brilhantes...

— Bem... eu não sei... – Ela desviava o olhar, totalmente temerosa... seu coração batia tão forte, que seu peito parecia que ia explodir.

— Por favor, Mary...! Tive que reunir muita coragem pra te fazer esse convite...! – O Super Soldado afirmava, desesperado. Não diria a ela que pensou naquilo umas mil vezes durante semanas, com medo de levar um “não”.

E então... engolindo a seco, sentindo falta de ar, as mãos geladas, os joelhos trêmulos e um enjoo quase insuportável por causa de seu nervosismo e da embriaguez, a Segundo-Tenente resolvia ceder...

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— Ok, eu aceito... mas é melhor que você pense em algo espetacular pra esse dia!

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Kiara aceitava o convite, finalmente olhando nos olhos dele e... sorrindo timidamente...

— Eu prometo que você não vai se arrepender... - Steve sorria de volta...

E assim ficava combinado...

Um encontro no dia 1 de Setembro, às 11 horas da manhã...

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Seu aniversário de 25 anos com certeza ficaria marcado pelo fenômeno mais extraordinário do universo, que era sair com o Capitão América...

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