Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 37
Um desencontro de convicções




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Um desencontro de convicções

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16 de Junho de 2012, 08:00 AM

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Kindred Hispital - San Diego

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Com o térmico quase trágico da missão em Tijuana, Mary Crystal era levada às pressas para um hospital em San Diego, onde era avaliada por um médico da SHIELD que conhecia sobre a anomalia genética da garota por conta da radiação com o Tesseract.

Ela havia levado cinco tiros, e por sorte, nenhum ponto vital foi atingido.

A Segundo-Tenente ficaria bem, graças ao acaso e a sua alta capacidade de regeneração.

Felizmente, os locais atingidos se resumiam ao ombro esquerdo, o braço e antebraço direito e a perna esquerda, sem perfurações profundas, apenas com escoriações que nem mesmo deixariam cicatrizes, obviamente, por causa do DNA modificado da garota.

Mary Crystal teve sorte... muita sorte...

Ela repousava na cama do hospital, ao lado de sua mãe, Beatrice Ellis, que havia sido chamada repentinamente.

A primeira dama dos Estados Unidos conhecia as condições da filha desde o incidente com o Tesseract e sabia que ela era forte.

No quarto com a loirinha, Beatrice lia um livro e resolvia sair para beber algo.

— Você quer alguma coisa, sininho? – A mãe perguntava carinhosamente à filha.

— Não, mãe. Obrigada. – Ela redarguia, com um semblante desanimado, enquanto se mantinha sentada na cama, com a típica camisola do hospital, repleta de curativos e tomando dois litros de soro na veia.

— Já volto, querida. – E então, a primeira dama saia do quarto, ligando logo em seguida para o marido, no intuito de reportar a situação de Mary Crystal.

O médico que cuidava da Segundo-Tenente cruzava com Beatrice, que lhe dava um aceno de cabeça.

Ele entrava no quarto onde Kiara estava, prestes a conferir sua pressão arterial e fazer outros procedimentos médicos.

A mãe da garota andava pelo longo corredor e passava por vários agentes da SHIELD e do FBI, que cercavam o hospital.

Felizmente, Natasha e Clint haviam capturado não só os dois membros da S.T.R.I.K.E. como conseguido informações valiosas sobre o paradeiro dos demais, além de Alexander Pierce.

Enquanto a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro lidavam com tudo do lado de fora, o Capitão estava liberado para ir até o quarto onde a garota estava internada.

Os muitos funcionários da SHIELD observavam Steve Rogers marchando vigorosamente pelo local, exibindo uma expressão que poderia transformar o dia mais ensolarado no mais tempestuoso.

Era uma expressão que era frequentemente usada pelo Super Soldado durante uma batalha... ou uma guerra, quando confrontado por adversários sem escrúpulos.

Seus olhos, geralmente azuis, agora reluziam em violentos tons de cinza. Sua mandíbula estava trancada, o cenho franzido e a testa encrespada, trazendo escuridão às feições geralmente gentis e simpáticas.

O Capitão, que trajava seu uniforme tático, por conta da missão de capturar os demais membros da S.T.R.I.K.E., que tivera ao lado de Nat e Barton, horas antes, carregava o escudo de vibranium nas costas, tornando seu aspecto ainda mais intimidante.

O Sentinela da Liberdade se encontrava furioso, aflito e apreensivo...

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Steve não sabia se agradecia ou se matava Mary Crystal por quase morrer por ele...

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Procurando a unidade médica que a garota ocupava, o Super Soldado empurrava a porta agressivamente, dando um susto no médico que conferia o curativo no braço de Mary.

— Poderia no deixar a sós, Doutor? – Ele era direto, e a maneira severa como Steve se referia ao médico, fazia Kiara suspirar e um sorriso cansado atravessar seu rosto. Ela sabia exatamente o que ia acontecer naquele momento.

O loiro observava Mary Crystal na cama. O ombro, o braço e a perna dela estavam enfaixados, enquanto seu rosto possuía uma feição extenuada, com leves escoriações.

Os olhos esverdeados em tons de esmeralda, reluziam suavemente e o pequeno sorriso artificial que florescia no rosto dela, apenas aumentava o fogo da tempestade que Steve demonstrava naquele exato momento, levando-o a lutar contra a fúria que brotava dentro de seu peito e sua demasiada preocupação com a situação dela, antes de dizer o que estava entalado em sua garganta... até que...

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— O que você estava pensando...!? E antes de responder, eu sei que você costuma agir por instinto, mas poderia ao menos ter me dado um sinal de que havia inimigos do outro lado, para que pudesse ter te dado cobertura!

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Steve bradava, num tom áspero, firme e férreo. Ele estava completamente enfurecido.

O olhar da loira alargava levemente, mirando profundamente os penetrantes olhos azul do Super Soldado.

— Eu estou bem, Capitão Rogers, então não preciso de sua compaixão. Acredite ou não, neste século, nem toda mulher é uma donzela em perigo. Eu posso me cuidar... – A Segundo-Tenente redarguia, com certo desprezo na voz, e a maneira como ela acentuava a palavra ‘Capitão’, apenas acendia ainda mais a fúria descontrolada no peito do loiro.

— Foi isso que pensou quando várias balas atravessaram seus braços e ombro!? Que você podia se cuidar, senhorita Ellis!? Nós estávamos juntos nessa missão! Éramos uma equipe e pensei que depois de tudo o que já passamos juntos, havíamos feito algum progresso! – A voz do Capitão aumentava gradualmente a cada palavra, se transformando num rugido de repreensão.

Kiara passou a defrontá-lo com cólera. Quem ele pensava que era para gritar com ela daquela forma?

— Eu acho que estava fazendo um excelente trabalho antes de você ser descongelado, Capitão Picolé! Acredite ou não, eu era capaz de me manter viva antes que você acordasse nesse século! Minha vida virou de cabeça para baixo desde que te conheci! Eu nem devia estar aqui! Meu lugar é e sempre foi na Força Aérea! – O olhar da Segundo-Tenente transpassava o olhar azulado, quase acinzentado de Steve.

E mediante suas palavras, um sorriso afrontoso surgia no canto dos lábios do Super Soldado.

— O que isso tem a ver com nossa última missão!? Você devia ter me avisado e pedido ajuda! Nós somos uma equipe, senhorita Ellis! O mínimo que esperava era que confiasse em mim e dividíssemos tudo! Então o que acontece depois!? O que acontecerá quando uma bala não atingir o seu braço, mas sua cabeça ou seu coração!? Se continuar agindo sozinha, você perderá a sua vida! – Steve replicava, esbravejando alto contra a garota, deixando claro que estava muito furioso.

Os dois se defrontavam com olhares inflamados pela ira. Azul e verde se chocando com força, numa incendiada batalha psicológica.

— Bem, não sabia que você se importava, Capitão... eu deveria ficar lisonjeada...? – Mary o provocava deliberadamente.

— Pare de ser debochada, Mary Crystal!

A garota revirava os olhos, irritada com o fato de o mesmo estar ali, lhe dando sermões.

— Devia estar preparado para a morte, Capitão!

— E por que acha que não estou!?

— Você vive todos os dias como se fossem os últimos!? Não parece! – Ela bufava, ranzinza.

— Isso significa ter que viver igual a você, senhorita Ellis!?

— Sim, porque eu vivo intensamente todos os dias, como se realmente fossem os últimos!

— Eu não pedi para que entrasse em minha frente e tomasse todos aqueles tiros por mim!

— Acha mesmo que eu esperaria você fazer alguma coisa!? Se eu não tivesse feito do meu jeito, você bancaria o herói e estragaria tudo!

— E qual é o problema!? Eu jamais deixaria alguém se machucar para me salvar! Jamais deixaria você me proteger! – Steve rebatia em alto tom, com aspereza e severidade em sua voz, deixando-a ainda mais irritada.

— Bem-vindo ao clube dos salvados! Salvadores aqui não tem vez! – A loira retorquia, com sanha e rigidez, mostrando que não se daria por vencida.

— Até quando vai agir como uma criança, senhorita Ellis!?

— Está furioso porque fiz as coisas do meu jeito!?

— Não, estou furioso por que... – Steve não conseguiu terminar a frase... ele não estava preparado para dizer o que mantinha preso em sua garganta...

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“Estou furioso porque me importo com você...”

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Ele então resolvia responder, friamente...

— Desculpe, Mary... acho que devia parar de me preocupar, afinal, você tem tudo sob controle, não é...?

— Exato. Agora que já se convenceu disso, espero que não venha com seus discursos chatos e imorais de superproteção pra cima de mim de novo, entendeu!?

O loiro a encarava com o olhar friamente impassível e demasiadamente implacável.

— Se eu concordar com você, nós dois estaremos errados...

— Sério!? Sua opinião é tão importante pra mim, que vou guardar aqui na minha preciosa caixa do esquecimento! – E então, a loirinha sorria amplamente luminosa, numa doce ironia atrevida.

Steve balançava a cabeça, em desaprovação.

— Ninguém tem obrigação de ser inteligente, mas há pessoas que se esforçam para conseguir o título de Miss Estupidez... – O Capitão rebatia, ainda a defrontando de forma violenta.

— Uau... depois de ser chamada de criança, imbecil, mafiosa e gângster, eis que surge o ‘Miss Estupidez’!? Isso aqui está ficando interessante e eu que sempre me julguei um anjinho! – Kiara soltava uma gargalhada, cujo objetivo era apenas um: infernizar Steve Rogers.

— Certo, se é assim que quer agir, então faça como quiser...

A Segundo-Tenente o analisava, dos pés à cabeça...

Por que o Super Soldado achava que sempre tinha de carregar o peso de tudo?

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Por que ele tinha que ser o herói e salvar as pessoas? Por que ela não podia salvá-lo também?

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— Sua vida deve ser muito vazia mesmo, para você gastar tanto tempo cuidando da minha, não é, Cap...? – Ela dizia, com certa expressão de desprezo no rosto e ele, obviamente notava.

— Eu realmente espero que você perceba o seu erro um dia, senhorita Ellis...

— Sinto dizer, mas não há erro algum. E por que acha que poderia ter alguma influência sobre mim? Porque eu levei alguns tiros por você!?

— Tem razão... eu esqueço que estou falando com uma garotinha insana que não se importa com o que as pessoas ao redor pensam... e sabe... acho que meu desprezo por você vai evoluir para algo muito pior...

— Aaawn, Steve, você não vai conseguir me odiar pra sempre! – Ela sorria, maquiavelicamente.

— Não é ódio, senhorita... e espero que saiba do que estou falando...

Ele se referia a indiferença... porque quando chegasse nesse nível, então, acabou...

Steve soltava um suspiro violento antes de virar de costas para ela, prestes a sair do quarto.

— Isso, vá embora, pegue sua bússola com a foto da Peggy, vá chorar pelo que você perdeu de viver em 1945 e me deixe em paz...!

— Seus ataques pessoais não vão me atingir mais, senhorita Ellis... – E então, o loiro abriu a porta do quarto com força, saindo dali.

Mary ouvia os passos duros do Capitão pelo corredor, e a cada batida, notava o mesmo se afastando completamente dali...

A garota apertava o punho da mão direita com força, expressando uma feição de dor... jamais diria a Steve que se jogou no meio daquelas balas porque julgou que sua vida valesse menos que a dele... e mais do que nunca, passou a enxerga-lo como um grande patrimônio da humanidade.

Era como se todas as suas antigas concepções sobre o Capitão América retornassem... da mesma época em que o admirava, quando era criança...

Mary Crystal estava... confusa... confusa sobre tudo... e a melhor forma de disfarçar, era tentando interpretar suas personagens idiotas, apenas para não deixar transparecer o quanto tinha certeza que era ele quem merecia ser protegido e não ela.

Aquele pensamento se intensificou principalmente quando o Super Soldado a salvou em Las Vegas... desde então, era assombrada pelo fato de achar que ele era importante demais para o futuro do mundo e do universo e que... precisava estar vivo... custe o que custar...

A garota levava as mãos no rosto, perdida, suprimindo uma lágrima...

— Steve... seu idiota...

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O Capitão voltava para o hotel ao qual estava, no ímpeto de pegar suas coisas.

Ele voltaria para Nova York aquela tarde.

Ao arrumar sua mala, notava a camiseta dos Dodgers que comprou no dia em que fora assistir ao jogo junto com Mary e Sam em Los Angeles.

Aquele dia foi... maravilhoso... a recordação da tarde ensolarada... sua conversa com Sam... suas impressões sobre Mary... as duas crianças que acreditaram que os dois eram um casal... o beijo terno que compartilharam na frente delas... tudo tinha sido tão perfeito...

O loiro apanhou a peça de roupa, se recordando da Segundo-Tenente vestida nela, dias antes...

Ainda frustrado e decepcionado com a garota, ele tinha vontade de apagar todas aquelas memórias de sua mente, porém, seus instintos imploravam em apertar a camiseta com força entre seus dedos e sentir o cheiro de Mary Crystal através do tecido...

Steve fechava os olhos... absorvendo aquela doce fragrância... materializando em sua mente a imagem da Segundo-Tenente vestindo a camiseta... e que ficava gigante nela...

Ele se recordava de tudo dela... inclusive do último beijo que compartilharam no clube retrô em Tijuana, no México.

A pele macia como cetim... o toque delicado... a suavidade de pétalas... os maravilhosos lábios róseos tão macios e doces... tão deleitosos... tão apetitivos... e que se encaixavam perfeitamente nos dele de uma forma tão mágica a ponto de ainda sentir seu gosto...

O cheiro dela, seu toque, seu sabor, sua visão, sua voz... tudo estava impregnado em sua alma...

Suas explosões internas e silenciosas apenas constatavam o quão afetado Steve estava por Mary... e dessa vez, o significado parecia mais profundo...

Por que ela se atirou na frente daquelas balas, sendo que era ele quem deveria protege-la? Como poderia lidar com aquele acontecimento daqui pra frente?

Como poderia não ter raiva dela por isso? E porque Mary mostrava que...

Não se importava...?

Enquanto mantinha-se submerso no cheiro tão particular e inebriante da Segundo-Tenente, penetrado no tecido de sua camiseta, o loiro ouvia seu telefone tocar e vibrar ao mesmo tempo, tirando-o de seus devaneios.

No visor: Sam Wilson.

O Capitão atendia, mesmo se sentindo desanimado.

— Fala, Sam...

— E aí, Cap, tá tudo bem?

— Sim, mas... por que está ligando pra saber se estou bem? Não deveria perguntar se a filha do Presidente está bem?

— A Mary eu sei que está segura, mas e quanto a você!?

— Eu... não tive nenhum dano físico. Estou bem...

— O Coronel Rhodes nos disse para ficarmos de olho na Mary aos arredores daquele clube, mas não tínhamos ideia de que vários homens armados entrariam ali. A entrada do local tinha detector de metais.

— Bem... estamos lidando com a HYDRA, esqueceu?

— Eu nunca lutei contra a HYDRA antes, então acho que estou bem desinformado sobre o que esses caras são capazes de fazer.

— Esteja preparado. Haverá coisas piores.

— Falando assim, você me deixa assustado!

— Não se preocupe. Você dá conta do recado... – Steve sorria. Era um alívio ter uma conversa descontraída com alguém, sendo que sua situação atual se encontrava... tensa...

— Você não parece bem... pelo tom de sua voz, é notável... então... você quer falar sobre isso...? – Sam perguntava, do outro da linha, mostrando uma leve preocupação com o loiro.

— Falar sobre isso?

— Não tente fingir... você está mal por causa da Mary, certo?

— E por que você acha que é por causa dela? Alguém te contou alguma coisa?

— Não precisa ficar na defensiva comigo, Steve. Ninguém me disse nada. Eu apenas tenho observado tudo com muita atenção... eu vi vocês dois interagirem nos últimos dias, além do mais, você me confidenciou coisas importantes aquele dia, no estádio dos Dodgers em Los Angeles, esqueceu?

O Capitão soltava um suspiro profundo e cansado... Sam realmente conseguia enxergar mais do que as outras pessoas...

— Bem... tenho a impressão de que estou preso numa grande confusão...

— Essa é uma bela surpresa, vindo do Capitão América...

— Mas não estou me sentindo bem para falar sobre ela... preciso pensar em algumas coisas por um tempo... ficar sozinho e refletir...

— Tudo bem então. Sempre que quiser falar sobre o que te incomoda, me avise...

— Obrigado por ligar, Sam.

— É isso que amigos fazem. Quando quiser, pode ligar pra mim, caso queira desabafar, ok?

— Certo... ainda não estou acostumado com isso, mas prometo me esforçar.

— É assim que se fala! A gente se esbarra por aí, espero que em breve!

— Se cuida. – E então, o Capitão encerrava a ligação.

Tudo parecia estar fora de órbita e talvez uma boa noite de sono o ajudaria...

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26 de Junho de 2012, 09:02 AM

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Manhattan – Nova York

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Onze dias se passaram desde a missão em Tijuana no México.

Mary Crystal teve alta um dia depois do incidente, ficando com seus pais em Washington DC todo aquele tempo.

Steve tinha voltado para Nova York a dez dias e se juntado aos seus companheiros Vingadores sobre a missão prioritária: O futuro emblemático que os esperava.

O loiro se encontrava sentado numa mesa do lado de fora da cafeteria em frente a torre dos Vingadores.

Beth, a sorridente e simpática garçonete o atendia.

— O que vai pedir hoje?

— Bem, estou esperando uma pessoa, então assim que ela chegar, faremos nosso pedido. – O Super Soldado explicava com muita educação e requinte.

— Esperando alguém? Hmmm... não me diga que é a garota que você estava desenhando aquela vez!? – A garçonete brincava, esperando que o mesmo sorrisse tímido e embaraçado, dizendo que não, mas...

Steve esboçava uma expressão pesada, fria e áspera...

— Não, felizmente não é ela. – Replicava, num tom severo.

— Ok... estarei por aqui quando for fazer o pedido. – Beth se afastava, notando que o mesmo não havia ficado feliz com sua pergunta inconveniente.

E quando menos o Super Soldado esperava, a pessoa ao qual marcou de tomar um café, chegava naquele exato momento...

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Kate... a enfermeira que trabalhava na ala infecciosa de um famoso hospital em Manhattan.

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— Desculpe a demora, América. O trânsito está infernal hoje! – A loira o cumprimentava, ofegante e se sentando apressadamente na mesa.

— Tudo bem... cheguei faz pouco tempo... – O loiro redarguia, com um leve sorriso no rosto.

Kate colocava sua jaqueta em cima da mesa, se acomodando na cadeira.

Ela olhou para Steve, notando que o mesmo parecia estar um tanto... desanimado...

— Bem, já que estamos nos vendo a todos esses dias e já conhecemos bastante um do outro, posso dizer que hoje você não parece bem. Aconteceu alguma coisa, Steve? – A enfermeira o indagava, num tom de preocupação.

Steve e Kate marcaram várias vezes de se encontrar naquela cafeteria em frente a torre.

As conversas eram sempre casuais e divertidas. Não havia piadas, ironias, ofensas, debates ou até mesmo divergências por assuntos triviais. Tudo estava perfeito... perfeito até demais.

Se o loiro pudesse julgar aquela situação, diria que Kate era a mulher ideal para sair e até mesmo cogitar ter um relacionamento saudável... mas... além de se sentir mal porque algo nela o lembrava Peggy Carter, havia outro detalhe irritantemente incômodo...

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Mary Crystal não saia de sua cabeça... ele pensava nela todos os dias... principalmente quando acordava e quando ia dormir...

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Toda vez que deitava a cabeça no travesseiro, seu quarto jazia em silêncio, mas sua mente se recusava a parar com a gritaria que não o deixava dormir...

A mente inquieta procurava refúgio no silêncio, mas tudo soava estranhamente barulhento...

Tudo aquilo que evitava pensar durante o dia, simplesmente aparecia na hora em que tentava dormir e também quando acordava... mas Steve não conseguia ignorar...

Porém, ironicamente, a única forma de acabar com tais pensamentos barulhentos sobre Mary Crystal, era sentando na mesa da sala de seu apartamento no Brooklyn e a desenhando... sim, ele a desenhava todos os dias, de diferentes ângulos, com diversos penteados e roupas, em distintos lugares...

O Capitão havia nomeado a pasta que guardava os desenhos dela como... “Desenhos dourados” e a escondia no armário da sala, trancado com um pequeno cadeado.

Tudo parecia estranhamente fora do lugar nos últimos tempos...

Às vezes ele se pegava olhando pro nada, imaginando tudo...

O Super Soldado e a Segundo-Tenente não se viam a dez dias... era um tempo recorde desde que se conheceram.

Ele não ligou para ela e ela também não ligou para ele e o loiro se perguntava se estava tudo bem... como estava sua recuperação, como estavam seus ferimentos e seu emocional depois de ter sido baleada daquela forma, no entanto... quando se recordava do quão insensível e debochada a garota havia sido em seu último encontro com ele, uma fúria descomedida subia por seus sentidos, impedindo-o de quebrar seu orgulho e entrar em contato com ela.

Mary Crystal parecia não se importar... e se ela não se importava, ele deveria fazer o mesmo...

Toda vez que o rosto dela invadia seus pensamentos, se dava conta do quanto odiava o som de sua risada e o quanto odiava sua aparência quando dormia... e... céus, ele odiava também aquela música que tocava dentro da cafeteria, ecoando pelo lado de fora, porque lhe fazia se recordar dela e do tempo em que esteve ao seu lado...

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Coldplay – A Message.

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My song is love, (Minha canção é amor)

Love to the loveless shown, (Amor para aqueles que nunca o viram)

And it goes up, (E assim se segue)

You don't have to be alone… (Você não precisa ficar só)

Your heavy heart Is made of stone, (Seu coração pesado é feito de pedra)

And it's so hard to see clearly, (E é tão difícil ver claramente)

You don't have to be on your own, (Você não tem que ficar sozinha)

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Aquela música o lembrava da vez em que estiveram no Queensbridge Parque no Queens, do evento literário do CS Lewis, do passeio de moto, de quando descobriram torcer para os Dodgers, de quando lhe confidenciou coisas de sua vida antes do soro e do quanto se decepcionou com ela por ter roubado sua moto e ido embora... mas... por que ele simplesmente amava aquelas lembranças...?

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And I'm not going to take it back, (E eu não vou retirar o que disse)

I'm not going to say I don't mean that, (Eu não vou dizer que não era minha intenção)

You're the target that I'm aiming at, (Você é o alvo para o qual eu estou apontando)

And I get that message home… (E eu levarei essa mensagem para casa)

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Deveria odiar tudo sobre ela... era o mais lógico...

Odiava como ela o fazia se sentir naquele momento... como se ainda existisse ‘nós’... como se seu mundo estivesse preso ao dela e que qualquer coisa que aquela garotinha mafiosa fizesse, não o faria deixar de gostar dela...

Odiava quando ela sussurrava suas provocações ácidas em seu ouvido, lhe arrancando arrepios... odiava seu jeito... odiava quando piscava para ele... e do modo cínico como fazia isso...

Odiava também acordar de um sonho com ela, e desejar do fundo de seu coração que ela aparecesse ali e estivesse com ele todos os dias...

Odiava quando ela fingia abraça-lo naquelas missões onde ficavam tão próximos e íntimos, fazendo seu coração bater mais rápido e mais forte, inexplicavelmente...

Odiava quando ela o beijava daquele jeito tão doce e instigante e fazia seu corpo estremecer...

Odiava como seus lábios se curvavam num sorriso malicioso... odiava olhar em seus olhos e não saber o que aquelas lindas e resplandecentes esmeraldas queriam dizer... e...-

— Hey, América, você está me ouvindo!? – Kate o chamava, estalando os dedos na frente de seu rosto, fazendo-o prestar atenção nela.

— Aah sim... desculpe... eu estava pensativo...

— É sobre a filha do Presidente, certo?

— Não... não é sobre ela... – O loiro mentia, desviando o olhar.

— Acho que devia ligar pra ela. Você parece muito apreensivo nos últimos dias.

— Me desculpe por trazer à tona algumas coisas envolvendo meus problemas, mas a pessoa que serviria como terapeuta, está ocupada no momento. – Ele se referia a Sam Wilson, que se dividia entre as tarefas da Força Aérea e seu trabalho como ‘segurança’ de Mary Crystal juntamente com Riley.

Steve tentava prestar atenção em Kate... tentava... mas aquela música não lhe deixava se concentrar em mais nada além de seus pensamentos ocultos sobre Kiara...

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My song is love, (Minha canção é amor)

My song is love unknown, (Minha canção é amor desconhecido)

And I'm on fire for you clearly, (E eu estou nitidamente apaixonado por você)

You don't have to be alone… (Você não tem que ficar só)

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— Entendo... vocês passaram muito tempo juntos, então é obvio que ficaria assim, afinal, amigos ficam preocupados.

— Eu e ela... não somos amigos...

— Então o que vocês são...?

— Eu... não sei... – Steve sorria, totalmente derrotado...

— Não posso dar um raio X sobre o pouco que conheço da senhorita Ellis, mas... talvez ela goste de você... de uma forma diferente do que você esteja acostumado.

— Bem, eu duvido... – O Capitão confessava, num tom agastado.

— Imagino... algumas mulheres passam a vida procurando o Superman, mas vivem ignorando o Clark Kent...

O Capitão sorriu, entendendo a referência.

— Nesse caso, sou claramente o Clark Kent...

— Eu sei... não dá pra ser o Superman na maior parte do tempo, certo?

— Mas é isso que as pessoas esperam de mim...

— Não se diminua para caber no mundo de ninguém, Steve. – E então, a loira pegava na mão dele, segurando-a com carinho, o presenteando com o sorriso mais iluminado e doce que possuía.

O loiro sorria de volta, correspondendo o aperto em sua mão.

— É assim que quero te ver sempre. Cada minuto que você fica triste por causa dela, são 60 segundos perdidos que você poderia estar sorrindo para alguém... – A loira confessava, olhando fixamente no azul profundo dos olhos de Steve.

— Obrigado, Kate...

— Você pode mostrar sua gratidão aceitando meu convite para outro café essa semana, o que acha?

— Eu aceito... – Steve sorria, desanimado.

— Então está combinado!

Os dois se entreolharam, sorridentes e dispostos a sempre saírem para conversarem sobre tudo.

Steve não sabia se estava fazendo uma amizade real ou algo que pudesse evoluir no futuro, para quem sabe, um relacionamento? Estava disposto a ser feliz, ainda que em suas profundas concepções, amasse apenas Peggy Carter e fosse assombrado por Mary Crystal.

A música seguia para fim, fazendo tudo ficar ainda mais confuso e melancólico...

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And I'm not going to stand and wait, (E eu não vou ficar parado e esperar)

Not going to leave it until it's much too late, (Não vou deixar isso até ser tarde demais)

On a platform I'm going to stand and say, (Numa plataforma eu vou ficar de pé e dizer)

That I'm nothing on my own, (Que eu não sou nada sozinho)

And I love you, please, come home, (E eu te amo, por favor, venha para casa)

My song is love, is love unknown, (Minha canção é amor, é amor desconhecido)

And I've got to get that message home… (E eu tenho que levar essa mensagem para casa)

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Passadas algumas horas, Steve voltava para o Brooklyn e entrava na academia de boxe que costumava frequentar quando sobrava algum tempo livre.

Precisava descarregar as tensões acumuladas, porque era notório o quão frustrado, ansioso e inquieto se sentia nos últimos dias.

O Capitão passava as últimas duas horas socando vários sacos de pancadas.

O ritmo era sempre intenso... e por mais que tivesse passado tanto tempo desde que discutira com Mary Crystal, a raiva continuava a queimar profundamente dentro de si, principalmente quando mais um pensamento sobre a Segundo-Tenente interrompia o momento em que descarregava suas tensões através dos punhos.

Era incrível como sua paz desaparecia e a fúria o consumia rapidamente... bastava pensar nela...

Ele não achava que Mary fosse fraca e não pudesse lidar com o que aconteceu em Tijuana... mas o fato de a mesma não confiar plenamente nele, depois de tudo o que passaram juntos, soava como uma ofensa... um desrespeito e desconsideração.

Não adiantava mais fingir, porque diferente de Mary, ele já confiava nela... e sabia que toda aquela pose de garota má era fachada.

Ela cuidou dele quando teve problemas com insônia e pesadelos constantes. Ela o levou para um jogo dos Dodgers, se abriu para ele quando suas terríveis visões lhe atormentavam, fizeram uma promessa na praia de Santa Mônica para que não ultrapassassem seus limites, o aconselhou a espairecer quando não sabia lidar com a dor envolvendo Bucky nas mãos da HYDRA, lhe ensinou tantas coisas adoráveis e... arriscou sua vida para salvá-lo, mesmo sabendo que ele jamais aceitaria que ela fizesse isso...

Steve queria ajuda-la com seus sonhos e as terríveis visões sobre o futuro, queria apoiá-la em suas decisões, queria que a mesma realizasse seu grande desejo de retornar a Força Aérea, mas também queria mantê-la segura...

Tais pensamentos provocaram outra queimação dolorosa em seu peito, induzindo uma carga de socos duros e rápidos no saco de pancadas...

A raiva silenciosa o consumia de tal forma, que o loiro não notava os delicados passos que fluíam na entrada da academia onde treinava sozinho.

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Mary Crystal chegava ao local onde Steve treinava, sabendo que aquele era o lugar mais provável onde o Super Soldado irritado poderia estar.

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Aproximando-se da porta, a garota via o Capitão América pelo painel de vidro...

A figura inconfundível de Steve Rogers, socando um saco de pancadas era esplêndida... seus braços revezavam-se entre um soco e outro, e ela nunca o vislumbrou naquele contexto antes.

Havia uma pilha de sacos perfurados, um do lado do outro... ele já havia estourado tantos, que era difícil de contar.

Kiara esperava que ele a tivesse ouvido entrar e, portanto, lhe ajudasse a sair daquele constrangimento de chamar seu nome de longe, só que... a loirinha não estava com tanta sorte aquele dia.

Ela respirou fundo três vezes... tentando reunir coragem em chamar por ele, mas... estranhamente não estava dando certo.

A Segundo-Tenente contou até dez, respirou fundo de novo e então...

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— Capitão Rogers!!!

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A voz dela fluía pelo local e Steve finalmente percebia sua presença ali...

Os batimentos cardíacos do Super Soldado que já estavam frenéticos por conta do esforço que fazia, se transformavam agora em palpitações ainda mais violentas e aterrorizantes... apenas por ouvir aquela voz...

Um frio agudo e intenso percorria seu abdômen... era quente, mas frio... um ardor gelado...

E o arrepio cortante que atravessava sua espinha naquele momento, o deixava transtornado... o que Mary Crystal fazia ali? E por que repentinamente seu corpo se tornava ainda mais rígido? Por que um nervosismo descomedido lhe trespassava de modo veemente e impetuoso?

A garota permanecia parada, esperando que o loiro virasse o rosto e dissesse algo, porém...

Não houve resposta alguma por parte dele...

Sim, o Super Soldado estava lhe ignorando e fazia questão de deixar isso bem claro.

Seu orgulho ferido era muito mais forte do que qualquer sensação intensa que Mary pudesse lhe causar...

A garota arqueava uma sobrancelha. Não era um comportamento do feitio dele, ignorar alguém, ainda mais ela.

A loira notava que os ombros do Super Soldado se apertaram ainda mais e o ritmo de seus golpes aumentavam, numa série de socos potentes e ininterruptos.

Kiara esboçava uma careta ao vê-lo agir daquela forma, e então...

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— STEVE!!!

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E mais uma vez...

O Capitão a ignorava...

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito e nove segundos se passaram e lá estava ele, ainda acertando o saco de pancadas com muito mais força, mostrando sua profunda irritação e raiva.

Era nítido que Steve ainda estava furioso com ela.

Mary revirava os olhos. Sabia que teria de ir até ele. Não havia outra forma.

A garota caminhava na direção do Super Soldado, que ainda batia com muita força em seu alvo e então...

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Ela rapidamente correu e desferiu um forte chute no saco de pancadas, arrancando a pesada bolsa de areia do teto, arremessando-a do outro lado do ringue.

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Mary Crystal era forte... muito forte...

A loira acabava descaradamente com o treino de Steve.

Mediante aquele movimento, ele bufava, agressivamente, mostrando impaciência e... raiva, muita raiva...

— O que diabos você quer aqui, senhorita Ellis!? – O Capitão se virava, começando a desembrulhar as ataduras em volta de suas mãos, respirando ofegante, evitando olhar para ela.

Mary nunca o viu naquelas condições... ele jamais a ignorou antes... e jamais a tratou tão mal...

A garota sentia um nó na garganta e passou a engolir a seco, para então...

— Bem... acredite ou não, eu vim aqui para... me desculpar... algo que você sabe que raramente faço, então... – A loira não terminou, porque via um sorriso agressivo emergir nos lábios de Steve...

E então, o Super Soldado finalmente olhava para ela... com um semblante tenso e pesado, mas com as linhas de expressão mais suaves, por conta de seu sorriso cínico.

Mary estava... incrivelmente linda... cabelos lisos, um vestido preto casual, botas, maquiagem leve e brincos largos...

Seu perfume... seu maldito e doce perfume de lavanda era inebriante...

Olhos esmeralda enfrentavam olhos safira... numa luta invisível...

A garota o observava atentamente... o loiro estava completamente suado, com suas roupas parcialmente molhadas, os músculos do bíceps enrijecidos e brilhantes por conta do suor que escorria de sua pele e o cabelo úmido...

Os fios loiros se encontravam grudados em sua testa...

E então...

— Esse foi o pedido de desculpas? – Steve a questionava, de forma agressiva.

— Bem... eu sei que não sou a mais fácil de trabalhar e sei que não deveria agir sozinha, só que... foi instinto... não pensei direito... – A garota mentia descaradamente. Não diria a ele, que no fundo, só queria protege-lo.

Mary terminava de dizer tudo num tom embaraçado e desconfortável, tentando escolher as palavras corretas.

Os olhos de Steve examinavam a expressão da Segundo-Tenente, absorvendo tudo o que ela pronunciava.

— Ainda não ouvi a palavra ‘desculpe’, senhorita Ellis. – O loiro respondia, com um suspiro profundo e um feição pesada, ainda a encarando de forma intimidante.

Mary olhava para um dos poucos homens em sua vida que a deixava confusa... por uma série de fatores que não conseguia entender...

Os dois se entreolhavam profundamente... ambos olhares transmitiam emoções honestas e puras sobre o que pensavam naquele momento, embora jamais admitissem.

E então, a garota entreabriu os lábios e finalmente...

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— Mi dispiace, Cap... (Me desculpe, Cap...)

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Steve estreitava o olhar...

— Em Inglês Americano, por favor... – Exigia, num tom rígido.

Kiara esboçava uma feição mimada, para então...

— Me desculpe... eu... sinto muito... – A loirinha se redimia, desviando os olhos para o chão... um pouco... envergonhada e... arrependida da última discussão que tiveram, no hospital em San Diego há dez dias.

As linhas duras do rosto do Super Soldado, suavizavam...

Steve e Mary estavam perigosamente próximos um do outro e então...

O Capitão avançou um passo, encurtando ainda mais a distância entre ambos...

Ele ergueu a mão direita, levantando o queixo da garota entre o dedo polegar e o indicador, forçando-a a encontrar seu olhar esplendidamente azul...

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O coração dela falhou duas batidas... Steve nunca havia feito aquilo antes... desde quando o Capitão América se tornou um homem audacioso?

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— Também peço desculpas por ter gritado com você aquele dia no hospital... a senhorita é um membro valioso da equipe... e eu... ou melhor, a equipe não poderia funcionar tão bem sem você... – O Super Soldado terminava, acariciando suavemente o polegar sobre a bochecha feminina...

Os olhos de Mary estavam mais abertos do que o comum e... ela piscava de constrangimento... o que era aquele toque carinhoso em seu rosto...?

Desde quando Steve Rogers agia como um homem sedutor e afetuoso? Desde quando ele se aproximava de uma mulher e a tratava daquela forma tão... audaciosa e fascinante...? Ele sempre odiou contatos físicos, ainda mais com ela.

Mary desviava o olhar, mas os rastros do Super Soldado invadiam seu caminho... sua presença cruzava com a dela... porque as linhas que os ligavam não eram físicas... e não importava a distância... ela o sentia...

Steve a contemplava, notando a timidez da garota diante de seu toque... por que ela demonstrava embaraço e inibição naquele momento?

O Capitão detestava aquela distância... ele detestava a arrogância de Mary... e detestava seu orgulho... mas era só ela voltar e estar ali, que ele esquecia tudo o que detestava...

Steve detestava detestá-la...

O loiro ainda sentia o toque de porcelana do rosto da garota entre seus dedos e a pele alva esquentar levemente diante do tímido rubor de suas bochechas...

Céus... por que ela parecia mais linda e encantadora quando exprimia timidez?

Daquele toque no rosto, ficava o gosto de um beijo que o deixou perdido por dias... e no caminho entre o olhar esverdeado e o jeito doce de sorrir, uma sensação sufocante e ao mesmo tempo inebriante que lhe acalentava...

Daquele toque no rosto, ficava o gosto do sol... e a vontade de se entregar naqueles raios dourados que ela esbanjava invisivelmente...

E daquele toque no rosto, ficava o gosto do brilho de um sorriso... de uma flor... e do céu resplandecente dos sonhos que tinha com ela... e transformava em desenhos...

A respiração do Super Soldado saia de seus lábios, uniformemente, e alta o suficiente para que Mary ouvisse...

O suor que havia ensopado sua camiseta, mostrava o quão rígidos seus músculos se encontravam...

Uma gota escorria de sua testa, chegando rapidamente até o pescoço...

Kiara atentava para toda aquela masculinidade acentuada pelo contorno firme do bíceps... e que ela secretamente tinha vontade de tocar...

Steve observava o ombro feminino, além de seu braço e os demais locais onde ela fora atingida no dia da missão, notando que havia fracas escoriações em sua pele.

— Como estão seus ferimentos?

— Bem melhores... minha regeneração é muito rápida. Talvez mais rápida que a sua. – Ela revelava, deixando-o aliviado.

O Capitão finalmente se afastava, dando as costas para ela...

Kiara respirava fundo, porque percebia que estava um tanto congelada na presença intimidante do loiro...

Steve pegava outro saco de pancadas, pendurando-o logo em seguida.

— Agora te devo um favor, 20 mil dólares e também a minha vida... não é mesmo...? – O Capitão a recordava de suas dívidas com ela.

— Você não me deve a sua vida, Cap.

— Você salvou a minha vida, senhorita Ellis...

— Você não morreria com cinco balas...

— Assim como você não morreu...? – E então, o Super Soldado sorria de modo firme e convicto.

Os dois se encaravam novamente...

Ela nunca diria que fez aquilo por instinto de proteção, e disfarçava através de piadas que minimizassem o real motivo.

No entanto, Kiara não conseguia traduzir a atual expressão dele diante daquela pergunta...

Steve Rogers aprendeu a isolar seus sentimentos a vida toda e aquilo se transformou num fardo para si mesmo...

Era um jogo de sacrifício...

— Olha só Cap, eu posso rir da minha desgraça, porque ela é minha. Mas você não! – Mary agora exibia um sorriso largo que fazia suas covinhas ficarem ainda mais proeminentes e ele...

Amava muito aquela expressão...

— Me desculpe, senhorita... achei que estava sendo amorosa comigo, mas acho que me enganei.

— Bem, muitos dizem mesmo que sou mesmo um amor de menina... meu médico diz que sou uma boneca, meu pai diz que sou uma fada e só a minha mãe insiste em me chamar de demônio! – A garota colocava os braços para trás, observando a academia, tentando disfarçar seu constrangimento.

— Talvez sua mãe tenha razão... – Steve sorria, puro, cristalino e caloroso, ajustando o saco de pancadas no gancho.

— Olha eu também sei ser meiga, fofa e legal, só não quero...! – Ela dizia, fazendo biquinho, piscando, e esboçando uma pose ridícula com as mãos abaixo do queixo.

— Bem... espero que tenha tirado alguma lição do dia da nossa última missão, senhorita Ellis... – O Capitão retorquia, num tom mais sério.

— E qual lição eu tiraria?

Ele a olhou com aqueles olhos incrivelmente azuis, como o céu...

— Você aprenderia a confiar nas pessoas...?

A garota olhou para cima, com o dedo indicador no queixo.

— Isso depende e você sabe que tenho certas restrições...

O loiro sorriu de canto, prestes a fazer a pergunta mais difícil, que lhe tirava o sono muitas vezes quando pensava a respeito, mas era agora ou nunca... Steve sabia e queria estreitar seus laços com Mary, ainda que se arrependesse daquilo no futuro...

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— Bem... e o que você diria se eu pedisse pra confiar em mim...?

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Kiara o encarava com um semblante de dúvida.

— Já conversamos sobre isso antes... eu e você não confiamos um no outro, esqueceu?

— É diferente agora...

— Por quê...?

— Não posso ignorar o fato de que você salvou a minha vida... – Steve retorquia, num tom grave e implacável.

— Mas você também salvou a minha vida em Las Vegas. Estamos quites.

— Isso não é uma competição ou uma troca, senhorita Ellis. Eu sei que podemos confiar um no outro... desde que pare de fazer seus joguinhos comigo.

— Mas essa é a minha real personalidade. Essa é quem eu sou... os joguinhos não vão acabar!

— Certo... mas ainda somos parceiros de missão e precisamos avançar até esse estágio se quisermos ter um bom entrosamento e sincronia no que está por vir, então... o que você me diz...? – Ele a encurralava, deixando a garota um pouco embaraçada...

— Eu não acho que tenha uma resposta pra isso... ainda...

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.

— Por favor, Mary... é tudo o que eu preciso saber...

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Steve pedia, ou melhor...

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Implorava...

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Ele implorava com aqueles olhos azuis... brilhantes, calorosos e gentis...

Kiara ainda não conseguia entender aonde o mesmo queria chegar, mas pelo bem da convivência de ambos, resolvia ceder... finalmente...

— Acho que posso abrir uma exceção pra você, Cap... - Ela sorria, plenamente divina e luminosa.

Ele sorriu de volta... feliz e satisfeito...

— E você está apenas atendendo a minha súplica ou... há algo em mim que te inspira confiança...?

Mary Crystal demorou alguns segundos para responder... ela olhava para ele e parecia enxergar tudo aquilo que contemplava na infância...

E então...

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— Você não é apenas o Capitão América... você é um homem que está disposto a lutar pelo que acredita e pelo que ama. Você é Steve Rogers, um bom homem, não um soldado perfeito. E essa é a pessoa que eu enxergo...

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Os olhos azuis alargaram, surpresos... era isso que Mary achava sobre ele...?

O Capitão sentia seu coração aquecer diante daquelas palavras... doces palavras...

Alguém que o enxergava por baixo de sua pele... por baixo de seu uniforme, de sua máscara e seu escudo...

Seu coração pulsava tão alto, que ele ouvia o som de cada batida... cada frenética palpitação trepidante...

Automaticamente, uma onda de eletricidade o compelia, fazendo suas mãos suarem frio... era incontrolável...

Steve se perguntava se Mary sentia o mesmo... embora não fizesse sentido...

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Mas e se ela pensasse nele, como ele pensava nela...? Era possível...? Era real...? O Super Soldado sentia urgência em saber se era... recíproco...

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Notas finais do capítulo

Agora é oficial: Steve Rogers está apaixonado. Essas sensações são certeiras. Por mais que ele ame a Peggy, a distância entre a paixão e o amor é uma linha tênue. Pra esse sentimento virar amor, falta apenas um passo. Se a Mary fizer mais algum ato heroico, ou gestos que mostrem que ela se importa e tem consideração por ele, vai ser o xeque-mate.

E quanto a nossa diabinha? Vocês acham que ela está apaixonadinha? Eu aposto que...sim e não...! Isso mesmo! Vai ser muito mais legal se o Cap se apaixonar primeiro, não acham? Então confiram os próximos. Sei que todos estão esperando momentos fofos entre eles, e teremos. Espero conseguir encerrar a fanfic com no máximo 65 ou 70 capítulos... tô fazendo de tudo pra encurtar, porque se dependesse do meu amor por essa história, tempo e disposição, teríamos uns 100 capítulos, mas infelizmente não posso ficar presa na história por muito tempo :/

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