Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 22
Mary Crystal e o Tesseract




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Mary Crsytal e o Tesseract

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25 de Abril de 2012, 9:28 PM

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San Diego – Califórnia

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Mary Crystal abria os olhos lentamente... suas pálpebras pesavam e sua visão estava levemente desfocada...

Ela levou alguns minutos para acordar inteiramente e então, sua vista finalmente ficava nítida...

Quando olhou ao redor, percebeu estar deitada numa cama de casal, num quarto amplo e aconchegante, provavelmente de algum hotel...

O que havia acontecido...? Onde ela estava...? Onde estavam todos...?

A loira resolvia levantar da cama, com certa dificuldade... ela completamente perdida...

Que horas eram...? Por que ela estava ali...? O que tinha acontecido...?

Flashes de memórias invadiam sua mente e Mary se recordava de ter desmaiado nos braços de Steve depois de ter sua mente invadida por visões desconexas sobre o futuro...

Ela respirava fundo... assustada... suas pernas estavam trêmulas...

As roupas que trajava, se resumiam a uma camisola branca e larga... alguém havia lhe trocado...

Quando olhou para a lateral do quarto, a janela ao lado da cama estava aberta e as cortinas balançavam com a oscilação do vento...

Era uma noite de lua cheia...

Kiara piscou algumas vezes, ainda muito sonolenta e fraca... não sabia porque estava ali, mas aquela situação era bastante familiar...

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Muitos anos atrás, ela ficou presa num leito, se recuperando depois de um incidente com o Tesseract...

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Aos poucos, as memórias de quando desmaiou nos braços do Capitão América, sobrevinham em sua mente...

A garota começava a entrar em pânico...

Os Vingadores lhe viram numa hora em que suas habilidades vieram à tona...

Ninguém podia saber sobre suas habilidades... nem eles...

Perdida e desesperada, Mary resolvia sair daquele quarto de hotel, mas...

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O Capitão América abria a porta do local...

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Os olhos dela arregalaram ao enxerga-lo ali... em sua frente...

Ela ficou em silêncio, assustada, sem saber o que dizer, mas o Super Soldado quebrou o silêncio.

— Por que está de pé, senhorita Ellis? Devia estar repousando em sua cama.

A loira o analisou da cabeça aos pés... ele estava com seu uniforme tático, sem o capacete, mas segurava o escudo na mão direita.

Ela o fitava com muita desconfiança...

— Onde está o Fury...? – O contestava, ainda atônita.

— Por que está perguntando sobre o Fury?

— Preciso saber onde ele está.

— Torno a perguntar porquê.

— Isso... não é da sua conta... – Ela olhava para baixo, receosa.

— Senhorita Ellis... o que está acontecendo? Precisa me dizer...

— Por que eu deveria dizer qualquer coisa a você...?

— Por que você sabe que pode confiar em mim... – E então, Steve andou um passo para frente, mas... Mary recuou um passo para trás, completamente assustada...

— Onde eu estou...?

— Num hotel em San Diego.

A garota cerrava o punho diante das palavras dele, temerosa com o que Steve responderia a seguir.

— Quantos dias se passaram... desde que perdi a consciência...? – O questionava, já sabendo a resposta...

Steve relutou em responder de imediato, mas não mentiria para ela...

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Quatro dias...

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E então, a garota fechou os olhos, externando uma expressão de dor e decepção. Ela sabia o que estava acontecendo...

Diante daquela cena, o Capitão resolveu a contestar novamente.

— Você está bem...? Como está se sentindo...? – A contestava, com certa tensão em sua voz, e obviamente, Mary percebia.

— Não precisa fingir que se importa comigo, Capitão Rogers... eu sei exatamente que devem estar confusos sobre o que viram aquele dia em que foram me resgatar na fábrica, então a pergunta é: O Fury contou a vocês sobre mim ou não?

O loiro não hesitou em responde-la com sinceridade.

— Não contou nada, mas disse que quando a senhorita acordasse, esclareceria tudo.

Mary expressou ama feição de desespero de novo. Ela não esperava que tivesse que esclarecer nada aos Vingadores...

— Ele não devia ter dito isso...

— Por quê não...?

Diferente de todas as vezes em que estiveram juntos, aquela era a primeira vez que Steve presenciava o medo nos olhos e gestos dela...

Ninguém podia descobrir sobre o incidente envolvendo a joia do Espaço... ninguém...

E então, a garota começou a perder a paciência, olhando para todos os lados.

— Onde está o Fury...?

— Ele está com Hill, Romanoff e Barton num lugar perto daqui.

— E quanto ao Stark e Banner?

— Estão neste hotel.

— Entendo... vocês já estão preparados para fazer um interrogatório.

— Não vamos interroga-la, se é o que está pensando... – O Capitão tentava acalmá-la, mas ele já sabia que seria impossível, por causa da expressão de ódio e desconfiança da garota.

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Passado um tempo, os Vingadores, juntamente com Fury e Hill se reuniam numa sala no último andar do hotel.

Steve acompanhava Mary, que ainda se encontrava fraca...

Quando os dois atravessaram a porta, todos ficaram em silêncio, esperando que a Segundo-Tenente dissesse algo.

A garota olhou para Nick Fury, que parecia irritado pelo fato de os Vingadores descobrirem sobre as anomalias envolvendo Mary Crystal.

— E então...? – Tony principiava, deixando-a com raiva.

— Eu... não deveria dizer nada a ninguém... não sou obrigada! – Ela se defendia, olhando diretamente para o Diretor da SHIELD, mas foi respondida por Natasha.

— Não é obrigada, senhorita Ellis, mas você mencionou um nome estranho e no chamou de desordeiros miseráveis. Queremos saber o que isso significa.

— Você nunca me enganou, garotinha... – Clint a encarava com cólera, já sabendo que ela não parecia uma aliada.

Não havia jeito... precisava dizer a verdade a eles...

A loira então os encarou com muito ódio, externando uma aura nebulosamente ameaçadora.

— Certo, Vingadores... vocês terão a resposta sobre seus questionamentos sobre mim, mas devo adverti-los sobre algo...

— E o que seria? – Bruce questionava, a fitando como alguém extremamente perigoso que pudesse fazê-lo ficar verde.

E então, Mary continuou, num tom de intimidação.

— Se tudo o que eu disser aqui, sair dessa sala e prejudicar o Presidente dos Estados Unidos, eu juro por Deus que vou acabar com todos vocês... e destruir tudo o que vocês representam... fui clara...? – A garota anunciava, numa impetuosidade descontrolada.

Steve não entendia porque os olhos dela pareciam mudar de cor, toda vez que a mesma ficava com raiva...

Era um amarelo neon aterrorizante...

— Tem a nossa palavra de que isso ficará apenas entre nós, senhorita Ellis. – Steve tocava o ombro da garota, mostrando que podia confiar neles.

Tony revirou os olhos em resposta.

— Certo, então comece a explicar porque estamos a quatro dias esperando a princesa Aurora acordar e esclarecer o que foi aquilo que vimos naquela fábrica.

E então, depois de alguns segundos, tentando recuperar a calma, Mary apertou os punhos com força...

Ela teria de dizer tudo desde o começo...

— Tudo isso começou em 1998... quando tinha acabado de completar 10 anos. Meu pai era um congressista e participou diretamente de alguns projetos envolvendo a NASA e o governo americano, em parceria com a SHIELD. Nessa época, eu... – Ela pausou, com dificuldades de continuar, mas sabia que teria de dizer tudo detalhadamente, apenas para que pudessem entender o contexto daquela história alarmante. – Eu era uma garota doente... minha imunidade era baixa, tinha um alto grau de miopia, problemas respiratórios, alergias terríveis, problemas com arritmia, além de dislexia e ansiedade...

Steve virou o rosto na direção dela, abismado com suas palavras...

Mary Crystal era uma garotinha doente...? Igual a ele antes do soro...?

Era inacreditável...

Todos continuaram em silêncio, ouvindo-a atentamente.

— E então, num dia em que meu pai havia me levado a um médico cardiologista, quando ainda morávamos na Califórnia, um dos supervisores do projeto PEGASUS entrou em contato para que ele pudesse comparecer ao local onde a SHIELD realizava alguns experimentos com o cubo numa base subterrânea, só que... eu estava com ele nessa hora e por estarmos longe de casa, não havia outra forma a não ser me levar junto...

Enquanto Kiara revelava sobre o dia do incidente, Fury expressava uma feição de compadecimento...

Mary continuou...

— Nesse dia, fiquei esperando meu pai numa sala muito próxima de onde o Tesseract estava. Várias pessoas da NASA e da SHIELD trabalhavam ao lado e meu pai ficou por um tempo junto de todos eles, mas... do nada eu ouvi um barulho estridente e fiquei com medo de que algo pudesse ter acontecido... então, eu saí da sala, desesperada, e caminhei com dificuldades até o local onde o Tesseract estava...

A garota deu mais uma pausa antes de continuar, mas era notório o quão concentrados os Vingadores estavam... e o receio de a mesma prosseguir...

— Quando entrei no local, não havia ninguém ali... apenas o Tesseract, preso num centro de uma máquina estranha...

— Onde estavam as pessoas que trabalhavam no projeto? E os seguranças que ficavam nas portas? – Natasha a indagava.

— Parece que o cubo havia dado sinais estranhos... oscilações que ninguém entendia e foi dada a ordem de que todos se afastassem, só que... eu fiquei na sala ao lado e a porta estava destrancada. Como não sabia o que fazer, acabei parando no lugar onde o Tesseract estava.

— Então, foi como semanas atrás, quando o Doutor Selvig estava realizando alguns testes? – Clint a questionava e ela assentia com a cabeça.

— Sim. Os níveis de energia do cubo estavam altos e evacuaram o andar inteiro.

— A energia do Tesseract já era descontrolada até mesmo em 1998? – Dessa vez era Banner quem a contestava.

— O Tesseract é uma fonte de energia... ele parecia ter... vontade própria... e liberava radiação de uma forma que não havia como controlar... – Mary revelava sua impressão sobre a joia do Espaço.

— Houve uma variação de energia nesse dia, assim como no dia em que Loki apareceu do outro lado... – Fury dizia o que achava, mas não tinha certeza porque o cubo havia se comportado daquela forma na ocasião.

— E o que aconteceu depois? – Natasha lançava a pergunta que todos queriam saber.

Mary olhou fixamente dentro dos olhos da Viúva Negra e respondeu...

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A energia do Tesseract ficou incontrolável e espalhou uma onda de radiação por todo o salão... bem na hora em que eu estava de frente para ele...

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— E então...? – Natasha a indagou novamente, mas Fury respondeu no lugar de Mary.

— A energia do Tesseract a atingiu diretamente e Mary Crystal ficou seis meses em coma. – O Diretor revelava, deixando-os pasmos.

— Em coma...? – Steve olhava para a Segundo-Tenente que permaneceu quieta com uma expressão melancólica, já que Fury respondeu em seu lugar.

— O impacto da radiação a manteve desacordada durante um longo tempo e todos achavam que ela jamais recuperaria a consciência, mas depois de meses, ela acordou... e... todos os seus problemas de saúde haviam desaparecido.

— O quê...? – O Capitão mostrava o quão perplexo estava naquele momento.

O Tesseract podia curar as pessoas? Assim como o soro?

— Daquele dia em diante, Mary se transformou em uma garota normal, livre de todas as doenças, porque seu DNA foi modificado, mas... outras habilidades surgiram com o decorrer do tempo. – Fury permaneceu explicando.

— Que habilidades? – Dessa vez, era Tony quem perguntava.

— Super força, visões do futuro e... sonhos desconexos que também tinham a ver com o futuro...

— Visões...? Sonhos...? Então isso tem a ver com o dia em que você mencionou o nome “Thanos”? – Banner inquiria.

— Quem é esse Thanos, senhorita Ellis...? – Natasha indagava, fazendo a garota olhar com certo horror e pânico ao se recordar do que viu...

Ela ficou em silêncio por um tempo, sentindo suas pernas tremerem ao se lembrar do que tinha visto...

— Eu não sei exatamente quem ele é, mas... na minha visão, todos vocês lutavam contra ele...

— Todos nós? – Steve contestava.

— Sim... era um cenário devastador de guerra e ele tinha um exército... na verdade, era o exército Chitauri e houve uma cena em que você estava sozinho, Capitão... segurando o escudo quebrado e extremamente ferido...

Naquele momento, todos os Vingadores arregalaram os olhos... chocados com tais informações...

— Então, essa é uma visão do futuro? Do nosso futuro? – Tony se aproximava de Mary, assustado com suas palavras.

— Eu não sei exatamente, mas... tenho certeza que o Capitão América que encontrei em meio aos destroços da batalha de Nova York, era o mesmo da minha visão.

— Foi isso que aconteceu? Será que nossas versões do futuro vieram desfazer algo terrível que tem a ver com essa visão? – Banner mostrava o quão assustado estava em ouvir tudo aquilo.

— Eu não sei... é tudo muito confuso...! Eu não queria ter essas malditas visões... e-eu... eu odeio quando sou assombrada por elas...! – E então, Mary Crystal levou as mãos até a cabeça, perdendo o fôlego ao se recordar daquelas imagens terríveis.

Maria Hill tentava ajudá-la a se manter de pé...

Tony observava a aflição da Segundo-Tenente...

— Meu pai trabalhou no Projeto PEGASUS a muitos anos junto com o Doutor Hank Pym e alguns agentes da SHIELD, numa base em Nova Jersey, exatamente na época em que eu estava para nascer. – O Homem de Ferro revelava, fazendo todos se espantarem.

— Na época em que você nasceu? 1970? Em Nova Jersey? É esse lugar e o ano em que o Tony falava com o Steve do futuro, nas imagens das câmeras que vimos. – Banner se recordava das imagens onde o Homem de Ferro e o Capitão América do futuro pareciam ter se transportado com aqueles trajes brancos.

— Faz sentido... eles foram até lá para pegar o Tesseract? – Clint especulava, tentando completar o quebra-cabeça.

— Agora que sabemos sobre isso, precisamos nos focar em descobrir sobre as demais joias que estão na terra. O cetro foi levado e também não sabemos quem é aquela pessoa no telhado que falou com o Hulk do futuro que parecia ter uma joia do infinito. – Tony finalizava.

Mas em meio as conclusões que todos tiravam, Steve notava o sofrimento de Mary, devastada por conta daquelas visões e das habilidades confusas que ela possuía por causa do Tesseract.

Quando pensou em se aproximar e perguntar se a garota estava se sentindo bem, Kiara empurrou abruptamente Maria Hill e resolveu sair correndo dali.

Desesperada...

Fury e os demais não esperavam que a Segundo-Tenente saísse correndo.

O Diretor da SHIELD então olhou para Steve...

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Capitão, vá atrás dela...

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Sem pensar duas vezes, o Super Soldado saiu disparado pelo corredor, segurando o escudo e procurando pela loira, mas ela já estava longe, porque era incrivelmente veloz...

A garota desceu as escadas do prédio de modo célere, atravessou uma rua pouco movimentada, correndo na direção de uma montanha que ficava perto dali, afinal, San Diego era repleto de montanhas.

Steve a localizou de longe e passou a correr em sua direção.

Kiara corria desesperadamente, desnorteada... era nítido que estava instável emocionalmente e vulnerável...

Enquanto corria para longe, ela tropeçou e caiu, manchando totalmente a camisola branca que trajava, além de ter ralado os joelhos...

Os longos cabelos loiros cobriam seus olhos e estavam desgrenhados por causa do vento...

Mary Crystal permaneceu caída, desatinada e abalada por conta dos sentimentos fortes que aquelas visões assombrosas ocasionavam.

Nascia uma dor e ia crescendo, crescendo, aumentando, e cada vez mais aumentando, até explodir uma, duas, três, quatro, cinco lágrimas e nascer um choro...

Era assustador... toda vez que aquelas visões lhe perseguiam, a garota não tinha paz...

Às vezes, caminhava sem rumo durante dias... e todos temiam por sua vida...

No entanto, Mary não tinha controle sobre tudo aquilo...

Steve finalmente a alcançava e instintivamente estendia a mão para ela...

— Levante-se...

A garota o ignorava... ela simplesmente não queria levantar...

— Senhorita Ellis... pegue a minha mão...

— Vá embora... – Sussurrava, pedindo para que ele a deixasse.

— Eu sei que está assustada... sei que tudo deve estar confuso em sua mente, mas vamos sair daqui... é perigoso...

— Eu não quero... por favor, me deixe sozinha...

— Não posso deixa-la sozinha nessa situação...

— Eu preciso ficar sozinha... – A Segundo-Tenente balbuciava, segurando o choro o máximo que podia. Não queria que Steve a visse naquelas condições deploráveis e muito menos sua vulnerabilidade...

— Não... você não tem que ficar sozinha... vamos, eu estou aqui... – O Capitão América exercia seu papel de herói... de alguém otimista que dizia para as outras que tudo ficaria bem, mas...

Mary não conseguia acreditar nele... pelo contrário... ela não confiava nele, e ambos sabiam muito bem disso.

O choro entalado afligia sua alma... e mediante aquela cena, Steve se agachou...

As longas madeixas loiras cobriam a face da garota... e ele apenas afastou delicadamente os fios loiros da testa dela, o que acabava expondo sua expressão de suplício...

Seus olhos silenciosos e opacos denunciavam um grito de desespero que não sairia...

As lágrimas que desciam pelos lindos olhos verdes, incineravam...

Steve enxergava a escuridão no meio dos entretons esverdeados... era algo eclipsado e demasiadamente mórbido...

Os desvairos... a hipérbole... o pane... a dor...

Ele se compadecia de sua aflição... e compreendia o quão doloroso devia ser, carregar tantas visões assombrosas do futuro e não saber como lidar com elas...

— Senhorita Ellis... por favor... reaja...

Mary deixava um choro engasgado sair de sua garganta... era baixo e delicado... porque não queria que Steve achasse que ela era tão frágil assim...

— Eu só quero que você vá embora... por favor... – A garota rogava, com muita consternação, mas o loiro não estava disposto a ceder.

— Não vou te deixar sozinha... não quando está sofrendo...

— Por favor... eu imploro... – A Segundo-Tenente o fitou com uma expressão miserável no rosto... seus olhos se encontravam encharcados... suas narinas também... ela não conseguia sequer respirar direito...

Seu choro soava como uma melancólica canção lírica e desesperadamente triste...

Estava numa circunstância tão lastimável e humilhante... não queria ser vista em tais condições tão degradantes por aquele em que não confiava plenamente...

As únicas pessoas que lhe viram chorar foram seus pais, seu irmão e Amber... ninguém além deles naquele imenso planeta, presenciou seu choro... nem mesmo Nick Fury...

Kiara só queria estar só, conversar com o silêncio e deixar o tempo falar por ela...

Era mais uma noite de lua cheia... e Mary sentia seu mundo cair... de novo...

A ansiedade batia... a ansiedade gritava...

Por que tinha a impressão de ter nascido do acaso e de que morreria na mera ilusão de ter existido por algum propósito... sim, ela não via utilidade em sua irônica, trágica e cômica existência, por mais que desejasse viver intensamente...

Steve a contemplava com uma expressão de compaixão... ele afastava os longos fios loiros da testa da garota, deixando seu rosto livre... num meigo e suave gesto de sensibilidade... e então... ele estendeu sua mão novamente, olhando fixamente dentro dos olhos dela, esperando que a mesma a segurasse...

Relutantemente, num lento reflexo, Mary segurou a mão de Steve... desatinada... perdida... e vulnerável...

Ele a puxou delicadamente e agora, ambos ficavam frente a frente...

O choro não cessava... e mesmo com todo o acúmulo de palavras... nada aliviava as sensações agonizantes que transpassavam dentro dela.

O Capitão a fitava com atenção...

A expressão de Mary Crystal era de puro colapso... e a garota estreitou o olhar de modo mortífero... lesivo e tétrico... era algo extremamente lutuoso, prolixo e sobrecarregado... porém, havia algo belo diante de tanta escuridão e sofrimento...

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Steve se recordava de sua falecida mãe... Sarah Rogers... aquela que mesmo sofrendo, fazia de tudo para que ele fosse feliz...

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O olhar de Mary o golpeava de uma forma inesperada... e ele não imaginava ver o semblante de sua mãe enquanto a contemplava...

Tudo o que o Capitão desejava quando se tornou um Super Soldado forte e saudável, era mostrar a sua mãe, que agora ele estava bem... que ela não mais precisaria vê-lo sofrer nunca mais... porque o seu maior desejo havia se realizado...

Mas ela morreu muito antes de vê-lo se tornar o maior herói americano...

Só que agora ele estava ali... vendo sua mãe em sua frente novamente... refletida nos olhos de Mary...

O olhar da garota causava um dano em seu cerne... sua essência... o âmago de todo o seu ser...

Não foi apenas uma... mas duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito batidas seguidas, numa série contínua de pulsações cardíacas desencadeadas no coração do Super Soldado... porque Kiara continuava o defrontando através do olhar colapsado em tormenta, completamente enternecedor e obscuro...

Como uma mulher tão bela como a Segundo-Tenente, conseguia externar a mais terrível e inexplicável expressão de dor que vira em toda a sua vida?

Nem mesmo na guerra ele presenciou uma expressão tão sombria e dolorosa como aquela...

Mas era impossível não se recordar de sua mãe quando a fitava... sua consternação e martírio se assemelhavam as vezes em que Sarah Rogers chorava em segredo em seu escuro quarto, pedindo a Deus que curasse seu filho asmático...

Steve se sentia fortemente atraído pela expressão de fragilidade e melancolia da garota... sua delicadeza primorosa que se assemelhava ao de sua falecida mãe, lhe atingia de uma forma certeira e profunda...

Ele não suportava ver nenhuma mulher chorando em sua frente... quanto mais alguém que lembrasse sua mãe...

Sem entender exatamente o porquê, seus instintos e sentidos corresponderam de uma forma que sua razão não compreendia...

O Capitão pressentia que a alma da Segundo-Tenente explanava o desejo contido de um abraço...

Ele abraçaria sua confusão caótica ou fugiria...? A resposta veio um segundo depois...

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Steve a puxou delicadamente contra seu peito, cercando-a com seus fortes braços...

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Mary era pega totalmente de surpresa... por que aquilo estava acontecendo?

Ela jamais deixaria qualquer homem lhe tocar sem seu consentimento, mas... não conseguiu se afastar... e tudo o que a garota fez, foi se deixar levar...

O abraço do Capitão América era tão quente e acolhedor... era tão caloroso, amável e aconchegante...

As mãos dela deslizaram relutantemente pelas costas firmes do loiro... e seus dedos contornavam os músculos definidos por cima do uniforme azul que ela tanto odiava...

Steve afagava suavemente os longos cabelos loiros da Segundo-Tenente com extrema delicadeza, numa doce carícia afável e demasiadamente melodiosa...

Era como se pudesse abraçar sua mãe... um velho e reprimido desejo que possuía desde que se tornara o Sentinela da Liberdade...

O gesto de gratidão e proteção que ele sempre desejou presentear a Sarah Rogers, era concretizado naquele momento... ainda que Mary não fosse sua mãe de verdade...

Naquele momento, Steve fechava os olhos... imaginando que abraçava ela... e um sentimento de recompensa emergia em seu coração...

O Capitão suspirou ternamente, sentindo a maciez dos fios ondulados e o doce perfume do cabelo loiro... tão aprazível e inebriante...

Imersa no gesto compassivo do Sentinela da Liberdade, Kiara deixava as lágrimas de seus piores medos desabarem de seus olhos...

Sentia-se protegida e naufragada nos braços do Capitão América...

A única pessoa ao qual se lembrava naquele instante, era de seu pai... a pessoa que mais amava naquele mundo...

A pessoa que fez de tudo para que aquela frágil e doente garotinha que possuía as piores doenças, tivesse uma vida normal...

Mary apertou ainda mais o abraço... deixando com que mais lágrimas escorressem de sua face... e consequentemente molhassem o tecido do uniforme e a estrela que havia no meio do peito do Super Soldado...

A garota sentia as batidas fortes do coração de Steve acalmarem a avalanche de pensamentos e sentimentos excruciantes e penosos que a oprimiam...

Ambos ficaram parados, abraçados por longos segundos... até que os suspiros ofegantes da loira cessassem e ela se sentisse melhor...

Era incrível como os dois possuíam tantas coisas em comum... Steve lembrava de sua mãe e Mary de seu pai... o sentimento fraternal os envolvia por completo...

Quando o Super Soldado percebeu que a Segundo-Tenente parecia ter se acalmado, ele levemente desfez o abraço e inclinou o rosto para fita-la...

E lá estava Mary Crystal... com uma expressão de alívio tão atenuante que o fez sorrir ternamente em resposta.

Ela o mirava com certa curiosidade em sua face... seus incríveis olhos verdes tão abertos... e refletindo um confino brilho espelhado...

O brilho do luar tocava a pele da garota... tornando-a mais iluminada... como um belo e resplandecente anjo de luz...

— Está mais calma agora...? – O loiro a indagava enquanto ainda acariciava o topo de sua cabeça, num meigo carinho pelos longos fios dourados de seu cabelo.

— Sim... – Kiara piscou, fitando-o com uma linda feição inocente de uma menina que apenas havia se perdido de seus pais...

— Isso é ótimo... – O Capitão retorquiu, num tom caloroso e terno.

Mas ainda que a loira estivesse consolada por seu gesto compassivo, ainda havia lágrimas em seus perfeitos olhos...

Tudo o que Steve desejava naquele momento, era secar aquelas últimas lágrimas, antes que desabassem dos olhos dela...

E foi o que ele fez... instintivamente...

Seu polegar correu pela beira dos olhos da garota... secando duas pequenas lágrimas que reluziam como cristais...

O Capitão tocava a pele de seu rosto, que mais parecia uma porcelana refinada... tão úmida e candente...

Mary não entendia porque repentinamente ele a contemplava de uma forma tão suave e afetuosa... odiava que as pessoas sentissem pena dela...

Steve Rogers estava se vingando...? Ele queria tortura-la por vê-la daquela forma tão frágil e patética?

Porque o Super Soldado a olhava daquele jeito...? E porque não conseguia sustentar a capacidade de desvendar o que aquela expressão significava?

Aquele doce e inocente olhar azul, a destroçava por completo... transformando sua personalidade e caráter em pequenos estilhaços que lhe impediam de ser quem era...

Mary desconhecia como era ser tratada de forma tão cordial e calorosa por outro homem que não fosse seu pai...

— Pare de me olhar desse jeito... eu não quero a sua piedade... – A loirinha sussurrava, com certo desprezo em sua voz.

— Eu não estou com pena de você, senhorita...

— Não é o que vejo quando olho dentro dos seus olhos...

— Então me diga... o que você vê...? – Steve lentamente segurou as delicadas mãos da garota, com a forte impressão de ainda enxergar sua mãe nela...

Kiara suspirou... se recordando de suas terríveis visões...

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Eu vejo um imbecil com um escudo quebrado... que mesmo ferido, se coloca de pé para enfrentar sozinho um exército de milhares de alienígenas...

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Steve sorriu... um sorriso melancólico, porém seguro, firme, convicto e corajoso...

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Guerras se lutam com armas, mas são vencidas por homens...

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Mary piscava, perplexa com a ousadia requintada do Super Soldado...

Ele era alguém surpreendente, mesmo naquelas horas e sabia confortar como ninguém...

Suas habilidades eram muito mais do que ser alguém silencioso numa missão, perspicaz nos combates ou um gênio em calcular exatamente onde seu escudo de vibranium ia e onde devia pegá-lo de volta...

E por mais que ela fosse rápida, ágil, mais silenciosa ainda, possuísse uma excelente mira e uma destreza acima do normal para pilotar uma aeronave, às vezes, Mary tinha a incapacidade de não decifrar totalmente o que as pessoas eram...

Em especial, Steve Rogers...

E aquilo... lhe deixava um tanto irritada.

A garota franziu o cenho... ainda fungando por causa das lágrimas que antes caíam de seu rosto.

— É melhor você recuar, Capitão Rogers... por sua própria sobrevivência...

— Por quê...?

— Não é uma boa ideia me deixar confessar nada em sua frente.

— Torno a perguntar por quê...

— Porque é perigoso.

— Me diga por quê, senhorita Ellis...

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Da última vez que fui a igreja falar sobre meus pecados, quando terminei, o presbítero chamou a polícia...

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Steve soltou um riso sonoro, achando engraçado a forma como Mary aliviava a tensão daquele momento.

— Acredite, senhorita, já vi confissões bem piores do que essa... vai precisar de muito mais para me assustar...

— Certo, soldado... você está me ensinando como um velho sábio, o quanto sou apenas uma menina... – Ela virou o rosto, um pouco constrangida... mas estava tão fora de si, que nem sabia se devia ter dito aquilo a ele...

Steve riu levemente em resposta.

— É um pouco engraçado você finalmente admitir isso, mas aposto que não vai se recordar no dia seguinte.

— Claro. Antes uma tola fingida, do que uma otária assumida... – E então, Mary esboçou um sorriso muito singelo e discreto, ainda envergonhada porque Steve Rogers havia presenciado o seu lado mais frágil...

Mas... ele entendia... o Capitão compreendia o que Mary Crystal passava.

— Se serve de ensinamento o que esse velho soldado vai confessar... posso dizer que eu nunca superei a minha dor, mas aprendi a viver com ela. Hoje, essa dor faz parte de mim, e me torna mais forte a cada dia que passa... se antes a via como tormento, hoje a vejo como uma velha companheira...

O Super Soldado sorriu e piscou lentamente, olhando profundamente nos olhos de Kiara.

Ela queria conseguir sentir o mesmo... mas sabia que era impossível...

— Ah se eu pudesse abrir a minha cabeça, colocar tudo pra fora, e arrumar todas as coisas direitinho como quem arruma uma gaveta... acho que parte desse sofrimento aliviaria...

— Não se martirize por causa da confusão em sua mente, senhorita... principalmente se essas visões e sonhos têm a ver com os Vingadores.

— Por quê...?

— Nós estamos aqui agora e... você trabalha junto comigo. – O loiro afirmava com muita firmeza em sua voz, causando certo refrigério e dando a sensação de proteção e segurança que a Segundo-Tenente precisava, mas...

Ela sentia que havia uma enorme barreira entre os dois...

— Sabe que isso é impossível, Capitão...

— Hoje, mas no futuro as coisas podem mudar...

— Sério, pare de bancar o super-herói pra cima de mim... - Mary fazia questão de enfatizar as últimas palavras.

— Posso ser tudo, menos super-herói... - Os lindos olhos azuis flamejaram sobre o gélido olhar esverdeado...

Mary desviou os olhos para baixo, com uma sensação frustrante brandindo em seu desolado coração.

— A situação da minha montanha de emoções hoje tá russa...

— Eu entendo...

— Achei que eu seria esperta pra sempre, mas para a minha grande alegria, estou me sentindo uma idiota nesse momento...

— Sei como é se sentir um idiota... – Steve retorquia, piscando enquanto a olhava atentamente.

— É mesmo? Mas que tal pararmos de fingir que nos damos bem e que você está sensibilizado com minha dor? Pode soltar minhas mãos agora, Capitão Rogers... – A garota chamava atenção para o fato de o Capitão ainda segurar ternamente suas delicadas mãos.

Um leve rubor subiu pelas bochechas do Super Soldado.

— Me desculpe, é que... a senhorita estava mal e só tentei ajudar...

Steve ainda não acreditava que havia a tocado de forma tão natural e espontânea, sem nem perceber direito o que estava fazendo.

Vez ou outra Mary também o tocava e aquilo o incomodava... as vezes em que a Segundo-Tenente o beijou com e sem seu consentimento, ou quando o agarrou por trás, da vez em que andaram de moto, eram a maior prova disso...

Contato físico de uma forma não combativa, não era algo que Steve estava acostumado. As pessoas só se aproximavam dele quando precisavam de ajuda, e ele as salvava... ou então quando o atacavam... mas tocar alguém com gentileza, era algo estranho...

Talvez estivesse imerso na lembrança de sua amada mãe, a qual replicou nela, e por isso acabou sendo tão afável e cordial sem perceber...

— Bem... muito obrigada... e me desculpe ter sido inconveniente... – A garota virou o rosto para o lado, um pouco encabulada também...

Era a primeira vez que se sentia compelida por um gesto tão doce e gentil por parte de um homem...

Nenhum deles havia lhe sensibilizado mais do que o daquela noite... Steve Rogers era o primeiro a conseguir tal façanha.

— Imagine... uma pessoa sofrendo não é inconveniência...

— É, eu sei... – A loira se recordava de poucos dias, quando o loiro estava com insônia e o ajudou... de fato, uma pessoa sofrendo não era inconveniência alguma...

— Bem, se me permite perguntar... como foi o processo de adaptação quando acordou do coma?

— Do coma?

— Sim... você não disse que tomou uma rajada de radiação do Tesseract?

— Bem... quando acordei, estava tudo normal, mas notei que enxergava nítido e aquilo era estranho, já que eu tinha dois graus e meio de miopia em cada olho...

— Imagino...

— Aos poucos fui desenvolvendo algumas habilidades que uma criança normal não possuía, como agilidade acima da média, resistência e alta regeneração.

— Isso lembra quando saí do laboratório e me tornei um Super Soldado... eu conseguia correr tão rápido, que não tinha dimensão de minha própria força e velocidade.

— Acho que foi bem parecido com você... mas a primeira coisa que fiz, foi ir atrás de todos os valentões que praticaram bullying contra mim. Eu dei uma surra em todos eles pra me vingar.

Steve arregalava os olhos...

Mary também era perseguida por valentões?

— Está falando sério?

— Claro... mas foi só uma vez. – Ela sorriu um pouco mais animada naquele momento.

— Impressionante...

— Com o decorrer dos anos e muito treino, eu me tornei perita em combates corpo a corpo e consegui medir os níveis da minha força quando alcancei a maior idade... se fosse classificar, eu diria que... tenho o equivalente à sua força...

Steve ficava boquiaberto diante daquela afirmação.

— Isso é sério...?

— Seríssimo.

— O que explica porque conseguiu me atingir um soco da vez em que discutimos na Torre Stark e ter deixado um leve hematoma no rosto.

— Eu poderia ter dado um soco muito mais forte, mas tive que me conter... – Ela sorria triunfante de canto.

Os olhos do Capitão a fitavam... caóticos...

Como assim ela podia dar um soco mais forte?

— A senhorita tem mesmo a mesma força que eu?

— Sim.

— É um pouco inacreditável...

— Podemos testar isso um dia, se quiser... – Mary sugeria, e Steve captava certa malícia naquelas palavras.

A garota não estava dando uma desculpa para finalmente se vingar dele e soca-lo de verdade por todas as vezes em que discutiram fervorosamente?

— Bem, quem sabe um dia...

E então, os dois sorriram um para o outro, mas...

Steve ainda podia vislumbrar certa melancolia nos olhos de Mary...

Assim como a loira também notava os resquícios de desolação nos olhos dele...

Os dois sabiam que seus medos se misturavam com suas certezas...

E ambos não sabiam pra onde ir...

A Segundo-Tenente estava aflita, por conta de suas visões e sonhos desconexos e Steve...

.

Se encontrava devastado por conta de Bucky Barnes, preso agora numa prisão de segurança máxima, sob vigilância da SHIELD, do FBI e do Conselho Mundial de Segurança.

.

Qual seria o futuro de seu velho amigo...?

O que fariam com ele...?

.

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Notas finais do capítulo

Mais um momento cute entre os nossos loirinhos e os laços entre eles se estreitando... estão ficando tão próximos, que ambos já estão tendo sentimentos fraternais um pelo outro o/

No próximo teremos uma Mary sarcástica voltando ao auge de seus deboches e ironias, porque essa fanfic é focada nisso.

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