Anne With An "E" - Versão Gilbert Blythe escrita por Bruna Gabrielle Belle


Capítulo 7
Não quero ser como eles.




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Anne With an E – Segunda temporada: Episodio 2

(“Pequenos detalhes são mensuráveis, significados são infinitos”)

O navio atracou um pouco longe do porto e optamos por ir até o mesmo num bote lotado de coisas e eu me encantei com aquele local abarrotado de uma variedade de pessoas e de povos, etnias e tudo mais e me afastei um pouco do barco e logo Bash chamou minha atenção, parecia ter medo de eu “desaparecer”.

Voltei para ajudar ele e os outros com as cargas para o reabastecimentos dos alojamentos e algumas outras coisas e ele notou que somente com o porto eu estava deslumbrado e prometeu mais aventuras.

Naquela cidade, notei que Bash não parecia muito a vontade como estava no navio e na minha companhia quando conversamos sozinhos, até perguntei porque dessa mudança, mas ele não me respondeu de verdade, achei estranho claro, mas preferi lhe dar espaço e com o tempo me contar os motivos disso.

Peguei os barris e estava um pouco estranho nos últimos dias, o que deixou Bash ainda mais preocupado.

—- De onde você veio mesmo lagartixa? – perguntou ele e eu revirei os olhos – Avonlea, Ilha do príncipe Eduardo.

Durante o trajeto, Bash e eu conversamos sobre muitas coisas e o que me surpreendeu foi ver que existiam escravos e que pessoas como Bash, somente por terem a cor diferente da minha sofriam preconceito.

No meio do nosso caminho encontrei um cavalo caramelo claro que me lembrava a ao cavalo que eu tenho em Avonlea e conseqüentemente a égua de Anne e sorri acariciando o animal e sorri com as lembranças.

Percebi o preconceito de um dos hospedes do local onde o cavalo estava parado em frente e entendi o que Bash dizia sobre ser livre e mesmo com esse direito ainda assim ser humilhado pela cor da pele, suspirei.

—- Vamos logo Gil, você ainda precisa de sustância para essa sua estrutura que você chama de corpo.

Na companhia de Bash andamos pelas ruas apinhadas de pessoas e parei olhando para todas aquelas maravilhas comestíveis ou que pareciam ser na feira e minha boca salivou e meu estomago roncou.

—- Cuspa a casca – murmurou Bash com uma das cascas de sua manga entre os dentes e o encarei e sorri.

—- Se isso não vai me matar, porque eu vou desperdiçar ela? – murmurei e ele riu e voltamos a caminhar.

Nunca tinha comido uma manga tão gostosa na minha vida, bem que a senhora Kincannon sempre dizia: Quando estamos com muita, mas muita fome, até feno fica com o melhor gosto de todo o mundo. Ri disso.

Caminhei com Bash até uma parte um pouco afastada do centro de Trindade e a casa era uma das mais bonitas da região, quase tão bonita quanto à dos Barrys ou dos Andrews, mas ele me assustou no percurso

Não entendi porque Bash havia abandonado uma casa daquele jeito e perguntei, mas ele me empurrou para a mata que cercava a estrada quando alguns cavalos passaram, não entendi o medo dele e me calei.

Assim que os homens e seus cavalos passaram corremos ainda por dentro da mata e fomos para os fundos da residência e do outro lado notei uma senhora tirando algumas roupas do varal e Bash respirou fundo.

Depois que a mulher se virou assustou com nossa presença, pensei em pedir desculpas pelo susto, mas ela se encaminhou para Bash, no caso Sebastian com os braços abertos e o abraçou fortemente, sorri com isso

Mas a pergunta dela sobre alguém ter visto seu filho, me intrigou ainda mais, será que ele saiu fugido daqui porque tinha inimigos? Alguma coisa mais grave aconteceu? Diversas duvidas surgiram em minha mente.

Fiquei parado os vendo abraçados e notei que a mulher me encarou, parecia assustada comigo e congelei.

Quando ela notou minha magreza excessiva como Bash dizia segurei o riso, eles eram mesmo mãe e filho.

Quando ela me perguntou meu nome de batismo, apenas me ajeitei melhor e retirei meu chapéu e sorri.

Ela me olhou estranho quando a cumprimentei com toda educação possível e fiquei ainda mais intrigado.

Contei a ela o que já tinha informado Bash, sobre meu nome, minha terra natal e onde eu morava e ela riu.

A mulher parecia me avaliar como se eu estivesse com alguma coisa e permaneci calado e ela perguntou se eu não me alimentava direito no navio onde trabalhava com o filho, sorri constrangido e cocei a nuca e ri.

—- É que Ba... Sebastian me prometeu a melhor comida existente em Trindade senhora – comentei e ela riu.

Ela olhou de mim para o filho e desapareceu na cozinha da casa, respirei fundo e olhei de relance para Bash.

Provoquei Bash sobre seu nome de batismo e ele apenas me mandou calar a boca, segurei uma risada.

A mãe dele veio da cozinha com dois pratos cheios de uma comida com um cheiro que nunca senti na vida.

Enquanto ela conversava com Sebastian eu me sentei na mesa do quintal de frente para o prato de comida e nisso um garotinho branco apareceu e eu sorri assoprando a colher com aquele caldo com cheiro ótimo.

Quando o garotinho perguntou a ela se estávamos roubando ainda mais coisas surgiram em minha mente e a cara que Bash havia feito me intrigou ainda mais que me fez até esquecer da comida na minha frente.

Quando ela justificou para o garotinho o motivo para estarmos ali, como se fossemos andarilhos, minha mente começou a entender os motivos do receio de Bash e a preocupação de Hazel, devolvi a colher no prato de caldo e procurei pensar em algum pedido de desculpas pela confusão que havíamos causado ali.

Naquele momento eu entendi tudo, o preconceito contra os negros, a escravidão e tudo mais e congelei.

Bash pegou seu prato de comida e caminhamos para longe dos fundos da casa e nos sentamos atrás de um grande conjunto de plantas altas no meio do grande quintal e resolvi o distrair, tinha muitas perguntas.

A comida estava excelente e comentei isso com Bash e ele começou a me contar a história do alimento e aquilo me intrigou pelo que eu estudava na escola e lia, nos muitos livros que eu tinha acesso a escravidão deveria ser coisa do passado, mas o choque com a história que Bash me contou me fez enxergar que o mundo, mesmo com todos os avanços ainda não mudava essa parte triste e dolorosa de seu passado frio.

Quando ele disse que Hazel se privou de cuidar dele para cuidar dos filhos de seus patrões, meu estômago parecia ter encolhido e eu não sabia se conseguiria comer novamente, mas a fome era mais forte do que a dor e resolvi não desperdiçar o esforço da mãe de Bash e jurei nunca ser preconceituoso com ninguém.

Quando devolvemos os pratos para a mesa dos fundos da casa onde Hazel trabalhava Bash se afastou rapidamente, eu queria agradecer a ela pelo prato de comida e apesar de tudo a hospitalidade, peguei um pequeno dente de leão que encontrei no canto do quintal e coloquei sob a mesa como agradecimento e sai indo atrás de Bash que parecia um pouco chateado, permaneci em silencio no caminho todo até voltamos para o navio e no “alojamento” resolvi puxar conversa com ele que continuava em silencio.

Usei seu nome completo e um de nossos colegas o provocou e Bash nos ameaçou e eu segurei um riso.

Resolvi eu mesmo iniciar uma conversa com ele e pensei em como fazer isso e me lembrei de Anne e sorri.

—- Há uma garota na cidade onde eu moro... O nome dela é Anne – comecei e Bash me encarou interessado no assunto e isso me incentivou a continuar a falar um pouco mais sobre a garota ruiva eu respirei fundo.

—- Certa vez, eu a provoquei chamando ela de cenoura e ela quebrou uma lousa na minha cabeça...

—- Não tiro a razão dela – disse Bash e eu sorri com seu comentário, mas não parei de falar sobre Anne.

—- Ela é ruiva e é muito temperamental... – parei um pouco lembrando que meu pai a chamou de “linda”.

—- Acho que ela deve ter feito muito mais coisa do que te bater... – começou Bash, mas o interrompi.

—- Ás vezes eu fico pensando... Será que eu algum dia vou voltar a ver ela de novo? – murmurei e olhei pela pequena janela que tinha ao lado de minha “cama” e me perdi em pensamentos e Bash respirou fundo.

—- Pretende passar mais tempo nesse navio? – perguntou Bash me retirando de meus pensamentos ruivos.

—- Quero ir para onde meu espírito me guiar e seguir meu coração, era o que meu pai costumava dizer.

—- Me sinto preso dentro desse navio – disse Bash – Apenas catando carvão pra esse navio “andar por aí”.

—- Sempre pensei que se eu voltar pra casa, nunca mais vou conseguir sair de lá – murmurei pensativo.

Quando um dos colegas de Bash disse que era pra eu ser agradecido por ter um lugar para voltar eu resolvi me calar, minha mente parecia ferver com tudo que eu ouvira naquele dia e dormi pensando em tudo isso.


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