O Pequeno Rei e sua coroa de espinhos escrita por crowhime


Capítulo 9
Capítulo VIII




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1973

 

Não sabia se era culpa de Evan, mas Regulus ficou feliz que Sirius parecia muito mais tranquilo. Quer dizer, continuava xingando Monstro, desobedecendo a mãe e o pai e os irritando de propósito, não mandava cartas, e ainda fazendo “brincadeiras” de muito mau gosto com Snape (que continuava a ignorá-lo sumariamente) junto com o restante do grupo de amigos, mas ao menos não o tratava com cinco pedras na mão como se tivesse feito algo de errado. Às vezes, ele até agia como o irmão mais velho que costumava ser. Só por isso que, quando Remus Lupin lhe abordou em uma tarde livre de aulas, mas que se concentrava no estudo para as provas finais, que se dignou a se levantar e segui-lo.

“Por que Sirius não veio, se quer falar comigo?” Expressou a dúvida casualmente enquanto seguia o aluno mais velho.

“Você sabe…” Ele sorria sem graça, parecia um pouco abatido, mas Regulus não achou estranho. Ele havia tido mais um daqueles sumiços recentemente e, quando perguntou a Peter, ele nervosamente afirmou que Remus estava doente e foi para casa por conta disso. Julgou que, inútil como era, Peter ainda tinha medo de Regulus, e francamente este não fazia nada para mudar o fato. Até gostava da sensação. “Ele pegou uma detenção. Mas já está terminando, ele disse que queria falar com você e me pediu pra te buscar.”

Regulus suspirou baixinho, soando cansado.

“Por isso mamãe e papai brigam com ele… Ele deveria ao menos tentar não ser pego...”

Murmurou para si mesmo, mas Remus ouviu e deixou escapar um risinho suave, silenciosamente concordando, o que fez Regulus sorrir de canto. Mesmo fazendo parte do grupo, Remus recebia metade das detenções de Sirius e James e muito menos do que Peter, que geralmente era o bode expiatório do grupo. Não era difícil adivinhar a dinâmica do quarteto. Ainda apostava que era Remus quem arrastou Peter para o grupo, porque ele certamente fazia mais o tipo de ser alvo das implicâncias dos outros dois do que realmente parte do grupo. Parecia extremamente deslocado ali. Remus ao menos era um pouco mais gentil e estudioso. Ser um bom aluno com certeza ajudava, ao contrário dos outros três que usavam a inteligência que possuíam só para o que interessavam (e certamente nada tinha a ver com o conteúdo das aulas).

Lupin foi quem abriu a porta da sala, mas deixou que Regulus entrasse primeiro. Por um segundo achou que estava sendo alvo de uma das brincadeiras do grupo quando ouviu sons de pequenas explosões e faíscas se projetando no ar, o que fez com que recuasse um passo no susto, batendo contra o corpo de Remus que vinha atrás de si, só depois entendendo que o feitiço saía da varinha de Sirius e de Potter e Pettigrew quem estourava algumas bombinhas para projetar o barulho. Remus o segurou pelos ombros e foi o empurrando para dentro, enquanto Regulus olhava confuso para o trio, tentando decidir se deveria se irritar ou não.

“O que é isso?” Perguntou, por fim.

“Que dia é hoje, irmãozinho?” Sirius perguntou, o sorriso maior que a cara.

Regulus franziu o cenho, pensativo.

“Quinta…?”

Sirius revirou os olhos, se aproximando e contornando seus ombros, puxando o livro de Transfiguração que Regulus tinha debaixo de um dos braços e o atirando para Peter, que não conseguiu pegar a tempo. Ou talvez fosse por causa do peso do livro, mas ele terminou batendo nas mãos do menino e caindo no chão e Regulus precisou segurar um suspiro exasperado quando isto aconteceu.

“Irmãozinho, irmãozinho. Sabia que você era burro, mas nem tanto.” Regulus franziu o cenho, prestes a discutir quando Sirius o sentou na frente da montanha de guloseimas que havia espalhadas no chão no canto da sala. “Esqueceu do seu próprio aniversário? E eu preocupado achando que você se sentiria solitário...”

“... Ah.”

Lentamente, a ficha caiu de que dia era. Não havia se atentado à data, atarefado com os deveres, a proximidade das provas e o clube do professor Slughorn, sem contar a preocupação que às vezes lhe ocorria com o ódio que recebia de Severus e as brincadeiras de Avery e Mulciber, que aparentemente gostavam tanto quanto Sirius da atenção que ocasionalmente Rosier lhe dava, e ainda não haviam encontrado outro alvo para atormentar além dos alunos trouxas da Grifinória. Nos últimos dias até começou a conferir os sapatos antes de calçar depois de espetar o pé com tachinhas que alguém havia casualmente esquecido dentro deles e passou um dia inteiro andando estranho pela dor ao pisar até Barty notar e arrastá-lo para a enfermaria, mesmo insistindo que não era nada após ver a sombra assustadora cobrindo o olhar o amigo.

Lembrou-se então de que também não recebeu nada dos pais daquele dia e se perguntou se eles também haviam esquecido ou se era só um atraso quando Sirius apertou seu pescoço, distraindo-o dos pensamentos que começavam a penetrar sua mente.

“Fique feliz que seu grande e bondoso irmão mais velho está aqui para lembrar!” Se gabou. “Feliz aniversário, Reg!”

Sentindo-se tímido com os olhares sobre si, Regulus se encolheu e assentiu, agradecendo em um tom de voz baixo, não acostumado a ter tanta atenção. Aniversários não eram exatamente tão comemorados em casa, havia passado dessa idade, embora ganhasse algum presente e pudesse escolher o cardápio do jantar. E Monstro sempre fizesse um pequeno bolo - era o presente dele, dizia.

“Como vocês conseguiram isso tudo?”

Não escapou a seu olhar a encarada cúmplice que os quatro trocaram antes de James também se sentar e tomar a frente da resposta, o sorriso misterioso.

“Contrabando de Hogsmeade, irmãozinho.”

Regulus franziu o cenho. Odiava ser chamado daquele jeito por qualquer um que não fosse Sirius, mas James parecia se dar a intimidade para isso. Peter não, parecia ter medo que Regulus arrancasse sua língua, e Remus tinha bom senso.

“Mas achei que só podíamos ir lá a partir do terceiro ano…?” Ignorou a forma como ele o chamou.

Sirius grunhiu ao seu lado e, sorrindo como quem havia aprontado, o apertou mais contra si.

“Por isso é contrabando, irmãozinho. Não discuta. Alunos mais velhos têm seus… truques.”

“E contatos.” Remus discretamente acrescentou e Regulus ficou sem saber o que pensar.

“Certamente! Agradeça ao Pete pelo cupcake!” James instruiu.

Peter estufou o peito, parecendo orgulhoso pela primeira vez na vida e só então Regulus percebeu um pequeno cupcake com uma vela espetada no meio.

“Esse é da cozinha. Com jeitinho, consegui dos elfos!”

A contragosto, afinal não queria admitir que o gesto foi bem legal da parte dele, agradeceu ao garoto, que pareceu tomar aquilo como uma vitória pessoal e Regulus imaginou que ele não voltaria a ter medo quando o encarasse, especialmente com o jeito como sentia o rosto quente e mal conseguia encarar o irmão e os amigos, por pura timidez. Talvez eles não fossem só um bando de babacas influenciando mal a Sirius, embora não queira dizer que começou repentinamente a gostar deles. Especialmente de James, de quem Sirius parecia gostar mais do que o próprio irmão, como observou quando, após apagar a vela que havia sido acesa para que assoprasse, os dois se juntaram para fazer os feijãozinhos de todos os sabores de Peter flutuarem e saírem do pacote, assustando-o. Só estava grato. Especialmente ao irmão, afinal a ideia partiu dele.

“Regulus.” A voz de Remus chamou ao seu lado e desviou a atenção para fitá-lo. Considerava ele o menos pior, visto que parecia o mais sensato do grupo e não forçava uma proximidade entre ambos que não existia. Provavelmente Sirius sabia que ele seria o único a quem Regulus ouviria (e não ficaria com medo de falar consigo, claro) e por isso ele quem o chamou naquela tarde. “Seu presente. Na realidade, é só algo velho meu, não precisa ficar se não quiser, mas James e Sirius cuidaram de conseguir as coisas e Peter o cupcake, me senti mal de não ter feito nada...”

Confuso, Regulus limpou as mãos nas roupas, mesmo sabendo que não deveria, mas era melhor que sujar o livro de Remus.

“Não precisa me dar nada.” Murmurou, porém a curiosidade fez com que desse uma espiada no livro, não reconhecendo o nome do autor.

“Eu sei.” Encolheu os ombros, parecendo um tanto quanto nervoso na forma como dava uma explicação. “Como disse, é só algo que estava largado nas minhas coisas. Não uso mais, e Sirius falou que você gosta de ler, então pensei em te dar. Mas se não quiser, tudo bem, pode me devolver. Não tem problema, nem nada.”

“Hm.”

Com um pouquinho de receio, olhou para o livro. Tinha algumas ilustrações e, pela falta de movimento nas imagens, logo descobriu se tratar de um livro trouxa. Ficou incomodado, e imaginou se aquilo era uma afronta, afinal seus pais odiavam qualquer coisa que vinha de sangues-ruins, mas a curiosidade sobre o conteúdo foi o que lhe compeliu a abrir o livro, o fazendo com as pontinhas dos dedos como se temesse se contaminar.

“Eu não sou mais criança. Sabia?”

Lembrou a Lupin, que soltou uma risada anasalada, agora mais tranquilo, percebendo o interesse de Regulus no objeto mesmo que ele tentasse disfarçar.

“Eu sei. Como disse, pode me devolver, se não quiser…”

Não respondeu de imediato, o cenho franzido como se não compreendesse aquele conteúdo. Quase involuntário, havia começado a ler o livro, curioso com a ilustração de um chapéu que na verdade não era um chapéu.

“É falta de educação recusar um presente.” Respondeu simplesmente e fingiu não ouvir Remus rindo de sua resistência.

Depois percebeu que aquilo poderia encrencá-lo e muito, e correu até a biblioteca após se despedir do irmão e dos amigos dele, buscando na seção de livros infantis algum que tivesse a mesma grossura do que o que Lupin lhe dera. Sabia que era errado? Sim. E isso lhe deixava com o estômago revirando, mas era melhor ser pego com um livro infantil teoricamente bruxo do que um trouxa. Não poderia entrar no salão comunal com aquilo. Que dirá em casa! Ter de escondê-lo no livro de Transfiguração que lhe rendeu a ideia, então se sentou em um canto afastado da biblioteca, procurando dentro dele o feitiço que deveria usar.

Era só trocar a capa dos livros. Não deveria ser tão difícil.

Conferiu duas vezes o que deveria fazer. Confiava nas próprias habilidades, costumava ir bem naquela matéria. Já estava prestes a pronunciar baixo o feitiço quando alguém assoprou em seu ouvido e fez com que pulasse da cadeira, derrubando-a no processo, o coração acelerando ainda mais com o susto e quase saindo pela boca.

“Silêncio!”

A bibliotecária gritou ao longe e Regulus colocou a mão sobre o peito, ainda assustado, quando viu que era só Bartemius que piscava confuso e surpreso, as mãos erguidas no ar como se pedisse calma.

“Sou só eu, Reg. Tá tudo bem.” Ele ergueu a cadeira que Regulus havia derrubado, olhando de forma suspeita para o amigo. “O que está fazendo?”

Barty se sentava ao seu lado e Regulus se debruçou sobre a mesa, tentando esconder de forma desesperada o livro.

“Nada.”

“Vamos, Reg! Me conta, sou seu amigo.”

Barty não esperou resposta, cutucando-lhe nas costelas, fazendo com que se remexesse e tentasse afastá-lo com a sensação de cócegas.

“Para com isso, Barty!” Pediu em um sussurro nervoso, porém o momento de guarda baixa foi suficiente para o amigo puxar o livro que Regulus escondia de modo suspeito. Todo seu corpo se tensionou e engoliu a seco enquanto o amigo folheava o livro, paralisado no lugar.

“Eu conheço esse!” Por fim ele disse, devolvendo o livro a Regulus. “Mas não sabia que você gosta desse tipo de coisa…”

“Não gosto!” Disparou na defensiva, tomando cuidado de manter a voz baixa para não atrapalhar os outros alunos - e, especialmente, não atrair atenção para si. “M-meu irmão que me deu isso”, mentiu, “mas preciso esconder. Não posso chegar com isso na comunal…”

Barty franziu o nariz. Não gostava muito de Sirius ou dos amigos dele, porém sabia que Regulus era apegado ao irmão, apesar das ocasionais discussões, então costumava ficar quieto.

“Não sei como consegue gostar daquele idiota. Podia ter recusado, se vai causar problemas. Não acha que ele fez de propósito?” Tentou alertar ao amigo. “Podemos jogar fora. Ou queimar.”

“É meu irmão, Barty…” Suspirou e abaixou os olhos, desconfortável. Sabia que Bartemius estava certo em ter todos os motivos para desgostar de Sirius. “Não vou queimar um presente de aniversário…”

Barty tamborilava os dedos sobre a mesa, mas lentamente foi parando à medida que a realização do que Regulus havia dito recaía sobre si.

“Aniversário?”

Assentiu, tímido.

“Por que não me disse?!”

“FIQUEM QUIETOS!”

Novamente a voz da funcionária cortou a biblioteca após Barty se exaltar e ele se conteve, mordendo o próprio lábio inferior.

“Eu não comprei nada! Deveria ter me falado! O que você quer de presente? Posso te dar meu cachecol. Quer? Eu tenho três.”

“Eu… esqueci.” Franziu o cenho. “E não quero seu cachecol da Lufa-Lufa.”

“Por Merlin, Reg!” Barty revirou os olhos, mas ainda se sentia culpado, então puxou os dois livros para si e a varinha das vestes. “Certo. Odeio aquele idiota, mas vou te ajudar, já que é seu aniversário.”

Ia falar que não precisava, que poderia fazer sozinho, mas Bartemius já estava concentrado olhando o feitiço no livro e, com simplicidade de um acenar com a varinha, trocou as capas e devolveu a Regulus seu livro.

“Aqui.”

“Não precisava.”

“Eu sou melhor que você em Transfiguração.” Ele disse com um sorriso convencido. De fato, era o primeiro da turma das aulas da professora McGonagall que dividiam. “E eu não te comprei nada. Ao menos me deixa ajudar. Eu sou seu amigo ou não sou?”

Devia ser a décima vez no dia que sentiu o rosto esquentar, mas concordou e agradeceu. Mais tarde, descobriu que Narcissa também se lembrava, ela lhe deu uma caixa de chocolates comprada em Hogsmeade e Lucius lhe deu uma caneta que parecia cara, e Lucinda e Rabastan, que estavam por perto no momento, também lhe deram felicitações.

O restante do ano letivo passou em um piscar de olhos. As provas finais passaram e os alunos puderam aproveitar o banquete de encerramento. Foi um pouco frustrante ver a Lufa-Lufa ganhar a Taça das Casas, sabia que ouviria Barty se gabando sobre no trem no caminho de volta, mas ao menos a Sonserina havia ganhado no quadribol graças ao desempenho excepcional de Vanity que liderou bem o time, e segundo lugar nem era tão ruim. Estavam na frente da Grifinória e isso bastava para deixar a Sonserina minimamente satisfeita, embora o que quisessem mesmo era o topo. Mas, por ora, a disputa havia se encerrado e o topo precisaria ficar para o ano que vem. Todos os alunos embarcaram no Expresso Hogwarts, rumo às férias de verão.


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Notas finais do capítulo

Basicamente o momento: ah, eles não são tão ruins assim... do Reg. E Sirius agindo um pouquinho como irmão mais velho, porque nem só de brigas se vive uma relação entre irmãos!
Esse capítulo foi mais suave, mas espero que tenham gostado! Acabamos o primeiro ano do Reg aqui, mas ainda tem muita água pra rolar *suor frio*
Obrigada a todos que acompanham!
Beijos ♥



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