O Pequeno Rei e sua coroa de espinhos escrita por crowhime


Capítulo 8
Capítulo VII




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1972

 

A exaustão tomava conta de seu corpo, mas a sensação de dever cumprido era extremamente agradável, beirava o alívio. As provas haviam finalmente chegado ao fim e agora era arrumar as malas para ir para casa, então estava de bom humor. Só precisava conferir o último trabalho de Poções que tinha de entregar antes de fazê-lo, porém quando alguém retirou o livro de suas mãos, ergueu os olhos já na defensiva, o cenho franzido até perceber que se tratava de sua prima.

“Regulus.”

“Cissa.” Cumprimentou, embora estivesse confuso com a aproximação.

Mesmo sendo parte da família, a verdade é que não se falavam muito dentro do colégio. A diferença de idade pesava e Narcissa tinha suas próprias amigas e também um namorado, o monitor Malfoy, que também era de uma família respeitável e rica. Achava-o elegante. E já havia dado alguns broncas em Mulciber, então gostava dele por tabela. Narcissa provavelmente não queria ser vista com um pirralho e Regulus também não se incomodava, afinal estava acostumado a ser o mais novo - o que, consequentemente, significava ser deixado de fora das brincadeiras dos mais velhos. Mesmo sendo só um pouco mais velho, Sirius costumava se intrometer com as primas, atrevimento que Regulus não possuía.

“Vem comigo.”

Regulus correu ao encalce dela, sem questionar o silêncio confortável. Talvez porque era família e ela era a prima de quem era mais próximo, afinal Narcissa sempre havia sido gentil com ele, talvez por compreender o sentimento de ser a filha mais nova, mas se sentia seguro enquanto observava a figura elegante dela andando à sua frente, os cabelos loiros de tom escuro, parecidos com os de tia Druella, balançando sobre seus ombros.

Ela abriu então uma das portas no corredor e Regulus não sabia direito onde estava, franzindo o cenho com o enorme banheiro com o qual se deparou.

“Onde estamos?”

“Banheiro dos monitores.”

“Devíamos estar aqui?”

Perguntou com alguma preocupação, não queria se encrencar logo antes das férias, acompanhando Narcissa colocar algumas coisas sobre a bancada da pia, não conseguindo ver o que era, pois seu corpo bloqueava a visão.

“Não se preocupe. Lucius me disse o melhor horário e todos estão preocupados com os trabalhos finais, então ninguém vai nos incomodar.”

Já que era Cissa falando, confiou e se aproximou dela, curioso.

“E o que estamos fazendo aqui?”

“Você vai me ajudar com algo, priminho.” O sorriso voltado para ele era leve e misterioso e ela lhe entregou um frasco com uma poção. “Passe no meu cabelo. Não deixe um fio sem, entendeu? Ou eu te mato.”

Regulus estreitou os olhos, erguendo a poção na altura dos olhos e concordou, mesmo com a ameaça gentil que Narcissa lhe fizera. Ela retirou a blusa da Sonserina e a gravata, ficando com a camisa social branca, com uma toalha sobre os ombros. Regulus estendeu as mangas quando ela se sentou, ficando por trás dela.

“Que poção é essa?”

“Vou tingir o cabelo. É um… teste, digamos.”

“Entendi.” Mas franziu o cenho enquanto puxava cuidadosamente as mechas para trás. “Por quê? Seu cabelo é tão bonito… É lisinho e eu gosto da cor.”

“Pensei em fazer uma surpresa pro Lucius.” Mesmo sem ver direito o rosto dela, soube que Cissa sorria discretamente. “Sabia que todos os Malfoys têm aquela cor de cabelo? Vou passar o Natal com ele. Meus pais já deixaram. Mas quero testar a reação antes… Essa é semi-permanente. Só gostaria de tentar, vou tirar qualquer coisa.”

Não entendeu muito bem a lógica. Se eles namoravam é porque ele deveria gostar de como ela era… Então não achou que fazia sentido, mas Narcissa parecia com um humor tão bom que não questionou. Talvez ela só quisesse se misturar aos Malfoy. Não costumava vê-la tão relaxada nos corredores do castelo, então começou a passar a poção sobre os fios com cuidado.

“E por que me chamou?” Quis saber, entretanto. “E suas amigas? Não poderiam te ajudar?”

“Simples. Você é minha família.” Cissa dizia como se a resposta fosse óbvia. “Você ainda é um bebê e não vai entender, mas vai perceber depois que nós, Blacks, não temos amigos. Só nossa família.” A voz dela soava baixa, distante. Imaginou se ela estava pensando em Andrômeda. “Nós temos que proteger e valorizar os nossos. Precisamos lutar pelo nosso nome e honrá-lo. É o que temos de mais importante… E todos sabem disso. E vão se aproximar por simples interesse.”

“Então… elas andam com você por interesse? Por que anda com elas?” Tentava entender.

“Reggie, Reggie…” Ela suspirou e ergueu os olhos para fitá-lo, fazendo-o recuar as mãos por um momento. “Como Blacks, precisamos ser fortes. Isso inclui, às vezes, lidar com certas… coisas. Nem sempre agradáveis. Inclusive lidar com gente interesseira. Temos que aprender a lidar e manejar. Na primeira chance vão puxar nosso tapete, por isso temos que ser fortes. Não podemos desgraçar ainda mais nossa família. Está em nossas mãos.”

O nariz fino de Cissa se torceu com desgosto e Regulus entendeu que ela definitivamente estava pensando em Andrômeda. E também se referindo a Sirius, imaginou, já que definitivamente ele não tinha o menor senso para com a família. Os sentimentos dela eram mistos, os de Regulus também, então a compreendia mesmo no silêncio. Eles tinham responsabilidade. Mesmo sendo os mais novos. Voltou a mexer nos cabelos macios, pensativo.

“E Malfoy? Também é interesse?”

Foi a primeira vez em muitos anos que a viu rir, como se Regulus tivesse contado uma piada. O som era agradável, então não se incomodou mesmo que talvez se sentisse um pouquinho idiota pela pergunta, como se devesse saber a resposta. Ou como se nem deveria ter a feito em primeiro lugar.

“Não. Lucius é diferente.” Disse com orgulho, o nariz empinado. “Ele pertence a uma boa família. Filho único. Único herdeiro. É o casamento dos sonhos.”

“Você vai casar, Cissa?!”

Acabou exclamando, surpreso. Fazia sentido, é claro. A melhor forma de uma mulher como Narcissa honrar a família era arrumar um bom casamento, mas não imaginava que estava nesse nível.

“Não ainda.” O suspiro dela mal se ouviu, mas parecia um pouco nervosa. “Espero que sim. Ele é um bom pretendente. É carinhoso comigo e tem a cabeça no lugar. Está do lado certo.”

Lado certo. O Lorde das Trevas. Não era difícil adivinhar. Talvez ela se sentisse pressionada a ter um bom marido já que Bellatrix já era casada e era considerada braço direito de Voldemort, com um marido de uma família respeitável e também Comensal das Trevas. Narcissa provavelmente não queria deixar a chance passar... Mas acreditava que não era só por isso, afinal Cissa não costumava se importar com opiniões alheias. Era uma mulher forte.

Conferiu várias vezes se todos os fios estavam cobertos e esperaram juntos o tempo de efeito da poção. Cissa lhe deu alguns doces enquanto isso como recompensa pelo trabalho, e depois Regulus a ajudou a lavar o cabelo. Quando terminaram, ela secou o cabelo com a varinha e se encarava nervosamente no espelho com uma careta, encarando os fios agora da cor do cabelo de Lucius Malfoy.

“Me sinto estranha. O que acha? Seja sincero. Não vou te azarar.”

“Ficou bonito.” Respondeu sinceramente, sorrindo. “Você é bonita, Cissa. Qualquer coisa ficaria bem.”

Narcissa logo retomou a expressão confiante, sorrindo convencida.

“Tem razão. Besteira a minha. Tenho certeza de que ele vai adorar.”

Assentiu de modo a reassegurar o que falou, mas agora Cissa parecia tranquila, arrumando os cabelos agora loiros muito claros, quase brancos, enquanto Regulus quem juntava as coisas para saírem do banheiro.

“Obrigada, Reggie.”

“Vou sentir sua falta no Natal. Mas boa sorte com ele.”

A expressão de Narcissa se suavizou por um momento. Acabou lhe puxando para um abraço, embora o mesmo tenha sido rápido, mal havia retribuído e ela o soltou, saindo do banheiro como se nada tivesse acontecido. Regulus sentiu o rosto quente, porém foi atrás dela assim que se recuperou, não querendo correr o risco de levar uma detenção.

Não foi surpresa ver a estação de Hogsmeade, de onde saía o trem para King’s Cross, cheia. Muitos alunos voltavam para casa para as festividades de fim de ano, mas estava difícil achar Barty em meio a tantas pessoas. Procurava-o com os olhos, mas quem encontrou primeiro foi Remus, que na verdade vinha em sua direção com ares constrangidos. Regulus chegou a notar o fato, mas ignorou achando que não deveria ser com ele, afinal não haviam conversado mais depois do último encontro não muito agradável que tiveram. Havia se sentido um pouco culpado por pressioná-lo, porém não sabia também como resolver e não é como se Lupin nutrisse qualquer tipo de sentimento amigável por Regulus. Sabia que ele era considerado só o irmão de Sirius e só por isso que o grupo ocasionalmente o suportava, mas não iria forçar sua presença também. Nem sabia se queria se misturar com eles (adivinhava que não). Mas Lupin parou em frente a ele, bloqueando com sua altura a visão de Regulus que às vezes ficava nas pontas dos pés para tentar ver entre os alunos em busca dos cabelos cor de palha do amigo, franzindo o cenho e se voltando para Remus que possuía um sorriso amarelo nos lábios.

“O-oi…”

“Hum… Oi.”

Era estranho falar com alguém que havia discutido. Não era bom naquilo, então só esperou. Remus baixou os olhos nervosamente e respirou muito fundo antes de falar.

“Me desculpe como te tratei aquele outro dia…”

“Aquele dia mais de um mês atrás?” Arqueou uma das sobrancelhas, vendo o outro ficar vermelho.

“Bem… Sim. Não sabia como me aproximar, e teve as provas, então…”

Regulus concordou com a cabeça, transferindo o peso de um pé ao outro, incomodado. Não estava acostumado a receber pedidos de desculpas também. Sirius não conhecia essa palavra. Provavelmente nem os pais. E não tinha contato com muitas pessoas além deles antes que entrasse em Hogwarts e, até então, essa não era uma experiência que havia tido. Mulciber e Avery definitivamente não eram de pedir desculpas também: na realidade implicavam com ele de propósito.

“Tudo bem. Eu entendo.” Murmurou, quase tímido, embora de fato entendesse e não fosse da boca para fora. “Espero que sua mãe esteja melhor.”

O olhar de Remus, por um milésimo de segundo, transpareceu confusão antes que ele se aprumasse e sorrisse, agora casualmente.

“Acontece às vezes. Obrigado por se preocupar.” Ele passou a mão pelos cabelos, sem graça. “Então… feliz natal, Regulus.”

De modo discreto, sorriu singelamente em retribuição.

“Feliz natal.”

Lupin acenou para ele rapidamente antes de correr e sumir entre os alunos, provavelmente voltando para os amigos, e Regulus voltou a procurar por Barty. Achou-o conversando com uma menina, na realidade a menina tagarelava e ele sorria incomodado, então Regulus experimentou chamar:

“Barty!”

Os olhos dele brilharam de alívio e ele mal pediu licença antes de correr em sua direção.

“Graças a Merlin! Não aguentava mais.”

“Você parece popular…” Observou, pensativo.

“Hmm… Não acho. Só querem saber do meu pai. Ele anda meio famoso no Ministério.” Torceu o nariz com desgosto e balançou a cabeça.

Regulus já havia percebido que Barty não gostava muito de falar sobre o pai, dizia que não tinha o que falar, já que sequer o conhecia direito, uma vez que ele não ligava para a família. Enquanto pegavam uma cabine apenas para os dois, lembrou-se do que Cissa havia dito e imaginou se as pessoas também se aproximavam dele por interesse, embora por motivos diferentes, já que Bartemius Crouch Sr. fazia uma ferrenha campanha contra o Lorde das Trevas. Não trouxe o assunto, embora às vezes tenha passado por sua cabeça se Barty ou Lucinda, que ficaria em Hogwarts, andavam com ele só por seu nome. Rabastan não lhe preocupava, já que pertenciam praticamente à mesma família, então tinham uma relação casual amigável, mas tecnicamente não via motivo para alguém andar consigo.

Quando desembarcaram em King’s Cross, a mãe de Barty já o esperava e ele correu para abraçá-la, e Regulus foi atrás para cumprimentar a Sra. Crouch enquanto olhava em volta em busca de Walburga.

“Posso escrever, Reg?”

“São só quinze dias, Barty.”

“E daí? Vou te escrever. Até mais, Reg!”

Revirou os olhos, mas de modo divertido, e acenou para Barty que logo sumia de vista. Não demorou muito a achar Walburga, cujos olhos discretamente também olhavam ao redor em busca dos filhos, o nariz empinado, e inicialmente até teria ímpeto de imitar Barty, mas sabia que não seria adequado e se conteve. Havia trocado algumas poucas cartas com ela, porém estava com saudades. Fazia meses que não a via, então apesar de andar com calma, não conteve o sorriso quando a viu acompanhada do elfo doméstico.

“Mãe! Monstro!”

“Mestre Regulus.” Monstro fez uma mesura exagerada enquanto Walburga continuava a passar os olhos pela estação.

“Onde está seu irmão?”

Regulus encolheu os ombros, pressentindo uma bronca por não ter estado de olho no mais velho, mas logo Sirius chegou com o cabelo desalinhado e gravata frouxa. Não muito diferente de como ele andava na escola, ele nunca parecia estar verdadeiramente arrumado, mas Regulus sabia que era só para contrariar a mãe e abaixou a cabeça. Por sorte, Walburga apenas torceu o nariz e seguiram em silêncio para casa, afinal havia descoberto no último ano que não adiantava cortar o cabelo de Sirius.

Em casa, havia um banquete até mesmo exagerado os esperando, afinal ainda era véspera da véspera de Natal, com as comidas favoritas servidas sobre a mesa. Regulus ficou feliz com o gesto, sabia que era ideia de Walburga, e Sirius revirava os olhos, entediado, especialmente com a forma empolgada como o irmão mais novo contava sobre o ano, sobre o namorado de Cissa, o irmão do marido de Bellatrix que estava em seu ano, o clube do professor Slughorn, entre outras coisas que deixariam os pais orgulhosos, enquanto Sirius limitou-se a responder quando indagado um “normal” visivelmente de saco cheio e um dar de ombros indiferente. Então Regulus tentava compensar pelo comportamento do irmão antes que estourasse uma briga. Não queria que o Natal fosse um fiasco como o do último ano, embora Sirius não estivesse ajudando muito. Ele nunca ajudava, ranzinza como se portava.

Walburga parecia querer o mesmo, então os chamou para descer no dia seguinte antes que a família chegasse, inspecionando a aparência dos dois. Sirius não tinha muito jeito, mas ainda assim ela o puxou e fechou os botões da camisa, o colete e puxou a gravata, apertando-a no pescoço do filho, soando irritadiça.

“Você não pode ficar andando assim por aí, você é o herdeiro dessa família!”

Ela não olhou para Regulus duas vezes, afinal sempre se arrumava direito, então ficou aguardando com o olhar baixo, fingindo não ver Sirius afrouxar novamente a gravata e resmungar um “mulher chata” quando ela se afastou para recepcionar os primeiros convidados da noite.

Walburga sorriu para Druella que chegava acompanhada de Cygnus e Regulus não entendeu porque elas pareciam próximas, sentindo falta de Cissa, afinal talvez ela soubesse o motivo… Ia ser um Natal um pouco chato sem ela ali. Ao menos, foi o que pensou.

“Walburga, esse é meu sobrinho, Evan Rosier. Ele queria conhecer a Bella, então vai passar o Natal conosco… Não temos muitas chances de vê-la agora. Ela está fazendo muitos trabalhos para o Lorde das Trevas. Não tem problema, tem?”

“Claro que não, querida. Fiquem à vontade, é um prazer, Evan.”

Nervosamente, percebendo o garoto que acompanhava sua tia, Regulus passou as mãos pelos cabelos, lamentando que sua mãe não tivesse conferido como eles estavam, amassando-os no lugar sob o olhar confuso de Sirius, embora este estivesse achando engraçado o nervosismo do irmão.

Até Evan se aproximar e ele entender a causa daquela comoção por parte do mais novo, fechando instantaneamente a cara quando ele parou em frente à Regulus que havia endireitado a postura de modo exagerado, o ignorando completamente.

“Regulus, não é? Parece que vamos passar o Natal juntos. Fico feliz de ter alguém que conheço aqui!”

“A-ah… É mesmo, né? Que legal isso.”

Regulus sorriu nervosamente. Rosier podia não ser o capitão do time de quadribol, mas era um dos alunos mais populares da Sonserina. Talvez o mais popular. Todo mundo gostava dele. Podia estar só no quinto ano, mas tinha impressão que os alunos mais novos respeitavam mais a ele, um monitor novato, do que ao próprio Lucius Malfoy, chefe dos monitores. Ele tinha uma aura envolvente e um sorriso altivo persistente que lhe dava a sensação de que ele era uma pessoa importante que deveria agradar. Pensando em questões de poder, imaginou que, em Hogwarts, Evan estava para o que os Black eram para a sociedade sangue-puro e o admirou por isso.

Sirius pigarreou, cruzando os braços, encarando Evan com os olhos estreitos. Ele se virou para fitar o mais velho dos irmãos, com uma expressão tão indiferente que parecia que nem havia o notado ali.

“Quem é você mesmo?”

Regulus não sabia se queria rir ou se deveria ficar indignado, afinal Sirius ainda era seu irmão… Mas achou graça e uma pontinha de vaidade surgiu em si, era ele sendo notado, não Sirius. Mesmo que ele fosse o primogênito, o herdeiro, e aquele para quem todos ligavam e se preocupavam.

“Sirius Black, idiota! O herdeiro dessa casa.” Sirius falou com arrogância, o rosto vermelho de raiva.

“Ah, sim. Parece bom, Sirius. Agora, Regulus? Por que não me mostra onde consigo uma bebida?”

Percebeu que Evan fez de propósito e respirou fundo para não rir, embora sorrisse em resposta ao pedido, guiando-o até a mesa com comidas e bebidas. Monstro estava correndo de um lado para o outro para receber os convidados, servir as bebidas e comidas, então Regulus tratou de ser quem acomodava Evan, sem realmente se incomodar, servindo-lhe algo para beber e ficaram sentados juntos, conversando. Mais de uma vez Regulus pegou Sirius os encarando, embora ele desviasse o olhar quando percebesse que havia visto, a presença de Evan fazia com que não pensasse muito sobre.

“Eu vi o jogo contra a Grifinória. Você foi incrível!” Comentou a certa altura, ansiando para manter a conversa fluindo.

“Fui, não é?” Ele sorriu convencido, de quem estava ciente de que era bom no que fazia. “Você joga também?”

“Só antigamente, com meu irmão… Não posso levar uma vassoura ainda, já que estou no primeiro ano…”

O sorriso de canto de Rosier era convencido, mas satisfeito.

“Deveríamos jogar um pouco!”

Regulus se sentiu lisonjeado com o convite e concordou, torcendo para ter logo a chance. Logo era hora da ceia e Bellatrix chegou bem a tempo junto com Rodolphus, e Rosier logo pediu licença para conversar com eles. Apurou os ouvidos para tentar descobrir o que falavam, pegando apenas trechos soltos.

“Se você for digno, é claro que o Lorde das Trevas o aceitaria!”

Bellatrix lhe assustava um pouco, especialmente quando ria, mas achava incrível a atenção e o respeito que os parentes nutriam por ela e ouviam enquanto ela contava algumas aventuras dos trabalhos pro Lorde das Trevas. Até mesmo seu avô Pollux parecia orgulhoso dela. E ele nunca se orgulhava de nada.

“Vocês precisavam ver! Queimamos hoje uma casa de sangue-ruins. Foi incrível!”

Sirius se levantou irritado e subiu sob os chamados de Walburga, que gritava para ele retornar, mas ele não deu atenção, se trancando no quarto e nem descendo para abrir os presentes. Então o pai de Walburga começou a gritar com ela e resmungar como ela não sabia criar os filhos e a família estava perdida, já muito bêbado, comentando como as mulheres de hoje em dia não conseguiam fazer uma prole que prestasse (não você, Bellatrix, você é nosso orgulho, ele ressaltava) e Walburga começou a brigar de volta. Regulus suspirou, um pouco envergonhado por Evan estar presenciando aquilo, mas era só mais um Natal comum na família Black. Brigas, discussões... Só esperava que seu avô não ficasse violento.

Quando espiou para ver a reação do colega da Sonserina, percebeu que ele tinha uma expressão tranquila e, quando os olhos se encontraram, o sorriso se ampliou e Regulus sentiu o rosto esquentar, mas sorriu de volta. Se perguntou se Rosier sempre sorria, afinal nunca havia visto seu sorriso vacilar.

Alphard precisou arrastar Pollux para casa, ele havia dormido na poltrona depois de encher a cara. Regulus já estava com sono, mas sorriu frouxo e agradeceu quando o tio lhe passou sorrateiramente um envelope com algum dinheiro, piscando cúmplice e dizendo para dividir com seu irmão antes de ir embora. Um a um, os convidados se foram, e Druella e Cygnus foram os últimos junto com Evan. Regulus havia se forçado a ficar acordado para fazer companhia a ele, embora o colega parecesse achar um pouco de graça toda vez que piscava demoradamente e sua cabeça ameaçava tombar para frente, mas não sentia que ele estava tirando sarro - até porque já passava das três horas da madrugada. Evan se aproximou dele para se despedir, apertando-lhe o ombro brevemente e se inclinando para sussurrar:

“Nossa partida fica pra amanhã, Reg.”

Endireitando-se, ele também lhe piscou e, ao contrário de quando seu tio Alphard o fizera, lentamente a mente de Regulus foi despertando quando se deu conta de que isso significava que ele voltaria no dia seguinte.

Puxou de leve a barra da blusa da mãe, que franziu o cenho devido a seu gesto, já que ela odiava que puxassem-lhe as roupas, mas se voltou a ele sem maior comoção uma vez que todos já tinham ido embora e não precisava mais se preocupar se estava com as vestes amassadas ou não.

“O que foi, Regulus?”

“O tio Cygnus vem almoçar amanhã?”

“Sim. Eu convidei Druella e ela disse que viria. Vão tentar trazer a Cissa também.” Sem perdeu tempo, ela envolveu seus ombros e foi o empurrando na direção da escada, dando dois tapinhas em suas costas e o incentivando a subir. “Agora é hora de ir pra cama. Suba logo e vá direto dormir.”

“Sim, mãe. Boa noite.”

Quando se aprontou para dormir, colocou o envelope sobre a cômoda, desligando o abajur antes de se deitar. As luzes do quarto de Sirius estavam apagadas, então lhe daria o dinheiro de tio Alphard no dia seguinte. Achou que sequer conseguiria dormir com o nervosismo que se instalou na boca do estômago com a percepção de que a possibilidade de jogar com Evan era real, mas o sono logo lhe venceu.

Manhãs de Natal sempre eram aquelas que a casa demorava a acordar. Tinha um clima preguiçoso no ar, o frio não facilitava a tarefa de sair da cama, mas Regulus acordou mais cedo do que esperava devido ao horário no qual foi dormir, então se revirou na cama, com ruídos preguiçosos, encolhendo-se mais nas cobertas até que a lembrança de que os tios - e Rosier - viriam para o almoço lhe atingiu.

A primeira coisa que viu foi o envelope do tio Alphard sobre a cômoda, então se espreguiçou e separou a quantia na metade, calçando as pantufas e, ainda de pijama, foi até o quarto do irmão, batendo na porta duas vezes antes de entrar e fechá-la atrás de si, ouvindo os resmungos de Sirius que ainda estava deitado, cobrindo a cabeça com os cobertores. Subiu na cama dele, deitando-se em cima e o balançando.

“Sirius, Sirius. Feliz Natal.”

“Muito cedo pra Feliz Natal, Reg…”

Conferiu o relógio. Nem estava tão cedo assim, já passava das dez horas.

“Não consegui te dar ontem. E aqui, tio Alphard deixou dinheiro pra gente.” Explicou, sentando-se no colchão enquanto o irmão entreabria lentamente os olhos.

“Deixa aí.”

Regulus torceu um pouco o nariz, desgostoso, mas colocou sobre a cômoda do irmão.

“Não esquece de agradecer depois.”

“Tá bom, Reg.”

Esboçou uma expressão emburrada, fazendo um pequeno bico com a indiferença de Sirius.

"Tio Cygnus vem hoje. Acho que a Cissa também." Murmurou, a voz casual. "E o Rosier."

Sirius pareceu acordar de verdade e o mirou com rugas de irritação aparecendo na testa.

"Não acredito que aquele babaca vai vir aqui de novo!"

"Ele não é babaca." Defendeu sem pensar. "Se conversar com ele, vai ver…"

"Nunca conversaria com aquele idiota!" Grunhindo, Sirius se sentou.

"Ele disse pra jogarmos quadribol hoje. Você podia jogar com a gente."

"Há!" Com sorriso cínico, fez pouco caso do convite de Regulus, escondendo o ciúmes desconfortável que tomou conta de si desde a noite anterior. Era como se protegia. "Vai você ficar atrás dele como um cachorrinho! Estou fora. É o melhor que você faz, ficar abanando o rabo."

O mais novo franziu o cenho em uma expressão irritada e saltou para fora da cama do irmão, voltando a calçar as pantufas.

"Talvez eu vá mesmo! Estou aprendendo com você, que só sabe ficar balançando o rabo pro Potter. Idiota."

Fechou a porta atrás de si ao sair, podendo ainda ouvir a voz de Sirius falando para voltar e o chamando de insolente, mas logo se trancou no próprio quarto, irritado. Parecia que não podia falar nada que fugisse do que Sirius esperava que ele ficaria irritado e começaria a brigar. Não entendia aquele comportamento ou a razão dele não gostar de Evan: seria por que ele era da Sonserina? Não via motivo além daquele. Rosier era gentil e carismático. Melhor que o idiota do Potter, concluía naturalmente, bufando com a ignorância de Sirius. Voltou a se deitar, cobrindo a cabeça com os cobertores nos quais se enrolou, fechando os olhos.

Acordou com Monstro o balançando para acordá-lo e se levantou assustado para se arrumar, não queria ter dormido tanto daquele jeito e perdido a hora. Se vestiu às pressas e desceu, vendo a mãe tentando amassar os cabelos de Sirius com uma poção e se sentiu meio… deixado de lado. O irmão lhe sorriu sem graça, aparentemente arrependido do que falou mais cedo, mas Regulus virou o rosto, emburrado.

Evan chegou junto aos tios e sua prima Narcissa, cujo namorado veio junto com roupas pomposas e cabelos longos bem penteados. Pediu permissão a sua mãe para sair com Evan após este lhe chamar novamente, ela não deu muita atenção então interpretou como um sim, e aproximou-se de Cissa e a cutucou.

"Quer jogar com a gente?"

Ela pareceu quase horrorizada, como se Regulus estivesse louco, quando disse não. Não queria estragar o cabelo ou o vestido. Saiu apenas com Evan e se encolheu dentro do casaco, emprestando a vassoura velha de Sirius ao garoto mais velho. Ficaram mais passando uma bola, a qual Evan jogou longe demais, mas Regulus rapidamente voou e a apanhou.

"Wow! Você é bom, Reg."

Regulus sentiu o rosto esquentar. Não estava acostumado a ser elogiado, tudo que fazia geralmente era não mais que sua obrigação.

"Você acha?"

"Sim! Há espaço para melhora, porém. Pretende fazer os testes pro time ano que vem?"

Evan o fitava intensamente e acabou o fazendo abaixar o olhar, pensativo. Não achava que seus pais deixariam, afinal seria uma distração dos estudos.

"Não sei… Não acho que sou tão bom assim, também."

O outro se aproximou, uma das sobrancelhas franzida e a outra arqueada e Regulus não sabia dizer se havia o irritado ou não.

"O que isso deveria significar?"

Ficou ainda mais constrangido e o mirou desconsertado.

"Você sabe… digo… sou muito novo e não sei se conseguiria." Tentou se justificar e Evan balançou a cabeça negativamente.

"Regulus, Regulus. Vou te ensinar algo: mesmo se não tem confiança, ao menos você tem que parecer que tem. E se eu disse que é bom, é porque você é bom. Fim de papo."

Não soube direito se foi um conselho ou um sermão, mas concordou timidamente com a cabeça, aceitando o que ele dizia.

"Você também não tem confiança às vezes, Rosier?"

"Antigamente você pode até dizer que sim, quem sabe… Mas hoje não. Olhe para mim, afinal. Eu sou brilhante!"

Regulus acabou rindo baixo. Não sabia se ele estava só brincando ou falando sério, mas decidiu que não importava muito. Concordava que ele era brilhante e não conseguia conceber ele como uma pessoa insegura. Desceram para o chão para retornar ao lado de dentro, as mãos congelando, mas Regulus estava de bom humor.

"Sabe, eu gosto de ser filho único, mas foi divertido jogar com você. Se fosse pra ter um irmão assim, até que não ligaria."

Não teve tempo de apreciar o elogio, sequer ficar tímido, pois no segundo seguinte, a porta se abriu sozinha e os assustou até um Sirius enfurecido sair de dentro dela. Não era difícil entender que ele estava espiando, porém Regulus demorou a sair do choque, vendo-o puxar a vassoura violentamente das mãos de Rosier.

"Não toque na minha vassoura, nem no meu irmão!" A voz de Sirius soava como um rosnado, em contraste com a calma que logo Evan retomara.

"Sua mãe nos deu permissão e, se me lembro bem, seu irmão não é um objeto para você falar assim."

O rosto de Sirius ficou vermelho de raiva. Parecia Walburga quando era contrariada. Achou que ele daria um soco em Evan, mas ele se virou e agarrou o braço de Regulus, o arrastando para dentro enquanto gritava:

"Sai da minha casa!"

Ouviu Evan rindo mesmo após fechar a porta, certamente achando graça do comportamento infantil de Sirius.

"Me solta, Sirius! Por que falou aquilo? E se ele for embora?"

"Que vá!" Grunhiu, puxando-o escada acima.

"Tá me machucando, me solta!" Irritado, largou a vassoura na escada e se agarrou ao corrimão para impedir que continuasse sendo arrastado, puxando o próprio braço com força e se soltando, colocando a mão na região apertada. "Qual seu problema?!"

"Qual o SEU problema?! Andando com aquele babaca!"

"Ele não é babaca e você não manda em mim!"

"Eu sou seu irmão mais velho!"

"Parece que lembra disso só quando quer!" Disparou, assustando a Sirius. "No resto do tempo só quer saber daqueles seus amigos idiotas!"

"Por que está falando deles? Isso não vem ao caso!" Resmungou de volta.

"Claro que vem! Desde que começou a andar com eles, você não liga mais pra mim!"

"Do que está falando, Reg? Você tá viajando!"

A irritação e frustração se acumulavam, mas antes que gritasse de volta foram os berros de Walburga que se fizeram ouvir.

"O que vocês dois estão fazendo? Se estiverem bagunçando eu vou é dar na cara dos dois!"

Regulus estremeceu e se encolheu com a ameaça, Sirius franziu o cenho, mas respirou fundo, acalmando-se, enquanto ouvia os passos da mãe descendo escada abaixo, a expressão dela fechada e os braços se cruzando quando seus olhos pousaram nos dois filhos.

"Sirius Orion Black, suba agora! Sem discussão. Vá se lavar e vamos almoçar SEM brigas."

Resmungando, Sirius subiu, e Walburga esperou os passos dele sumirem no corredor antes de se voltar ao mais novo dos filhos.

"Regulus."

"Sim, mãe…"

Ele abaixou a cabeça, aguardando a briga. Ao contrário do que esperava, ela suspirou pesadamente.

"Você precisa se controlar, Regulus."

"Mas ele que…"

"Você conhece seu irmão. Sabe como ele é, então você precisa se controlar e ser responsável."

O ímpeto de discutir era grande, mas a expressão cansada de Walburga fez com que ele mordesse a boca e engolisse os argumentos.

"Sim, mãe…"

"Ótimo. Eu confio em você, Regulus. Não me decepcione."

Ele apenas concordou com a cabeça, o que era a resposta certa para não chateá-la, e ela foi na frente, mandando-o se lavar pois o almoço iria ser servido. Apesar de assentir, quando ela desapareceu no outro andar, ele se deixou desabar sobre o degrau da escada, sentando-se e enterrando o rosto nos braços por algum tempo.

Sabendo que não poderia ficar ali, se juntou aos outros para o almoço. Óbvio que Rosier ainda estava ali, ele não iria simplesmente embora sem a tia, e Sirius agiu consigo dentro da normalidade. Embora ele encarasse Evan como se quisesse que ele se engasgasse com a própria comida, quando se aproximou de Regulus, perguntou se estava tudo bem e se Walburga havia pegado muito pesado ao falar com ele, o que serviu para atenuar os sentimentos negativos e ignorar o que havia acontecido ao respondê-lo que não, só então vendo Sirius respirar aliviado.

O ponto alto do almoço foi quando Malfoy, com toda sua pompa e elegância, se aproximou de Cygnus e Druella e, sem conseguir parecer humilde, pediu a mão de Narcissa.

"Se os senhores permitirem, eu gostaria de fazer sua filha minha esposa. Estou mais do que certo de que ela é a mulher da minha vida. Ela já concordou, porém gostaria de que os senhores aceitassem também.”

Os olhos de Druella encheram-se de lágrimas e ela precisou dar uma cotovelada no marido, que havia sido pego de surpresa, para que ele concordasse.

"Mas Cissa precisa terminar os estudos." Ressaltou com o cenho franzido.

"Eu não pensaria diferente, senhor.”

O restante da família ficou focado em Lucius e Cissa, embora Walburga estivesse com o sorriso duro, curiosos sobre o futuro membro da família. Ele havia a pedido em casamento na noite anterior e Regulus se perguntou se o cabelo novo havia dado certo ou se ele já estava com tais intenções. Lucius iria se formar em breve e disse que gostaria de se casar após Narcissa também se formar em Hogwarts. Evan passou o restante do tempo falando com Bellatrix e Rodolphus, que passaram por ali após visitarem os Lestranges. Regulus se sentia deslocado em meio aos adultos, mas Sirius também, e o irmão o chamou para brincarem juntos em outro cômodo - o que não acontecia há muito - e assim seu bom humor retornou.


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Notas finais do capítulo

E mais uma vez é natal e comemoramos com a família Black ahahaha como sempre, tem alguma confusão. Família grande é assim, né?!
Em breve o primeiro ano de Regulus em Hogwarts chega ao fim, o que estão achando? O que gostariam de ver mais? Adoro sugestões e comentários, então não se acanhem! ♥
Agradeço muito a todos que estão lendo, especialmente ao carinho da Karina e da RiddleKun, obrigada mesmo por cada review, eles me motivam muito e me deixam muito soft! aaa
Então é isso, até a próxima e feliz natal!!... não pera



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