Girassol escrita por they call me hell


Capítulo 8
Dia de Vitória


Notas iniciais do capítulo

Eu amo escrever sobre o DDM, ele foi muito inspirado pela DHARMA da série "Lost" que eu estava assistindo de novo quando escrevi essa história. Espero escrever no futuro um spin-off contando a história da Calliope e assim falar mais dele, mas ainda não tenho muitas ideias.



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— 8 —

 

Na terça-feira, estamos todos tensos. Tomo café com Harry e Ron antes do expediente começar, seguindo nossa já estabelecida tradição, e só conseguimos falar sobre Fleur. É o dia marcado para o seu parto, mas sabemos que a natureza não funciona exatamente da forma que nós queremos, por mais que ocasionalmente tentemos manipulá-la. Ainda não temos quaisquer notícias e é muito provável que ela esteja no décimo quinto sono em sua cama, sem nenhuma preocupação, já que ainda são seis e quarenta da manhã. Isso, porém, não impede o nosso sentimento.

— Se mamãe disser qualquer coisa, eu aviso vocês — Ron nos diz. — Aliás, obrigado.

Nós entendemos o seu agradecimento. Somos amigos e estamos tão agoniados quanto ele. Termos crescido juntos faz a sua família parecer a nossa própria família, ainda que agora realmente seja a família de Harry e apenas eu tenha esse tipo de sensação.

— Eu tenho que ir agora — resmungo, deixando meus ombros caírem. — Sabem onde me encontrar se precisarem de algo.

Ron agradece outra vez e me garante que se qualquer coisa acontecer, despachará uma coruja ao meu encontro. Me despeço de ambos com um aceno.

 

Bertie tem um sorriso largo no rosto. Ele é, sem dúvidas, a melhor parte do meu trabalho, sempre me encorajando e tentando me fazer sentir produtiva. Arrisco dizer que se não fosse por ele eu me sentiria muito pior sobre isso tudo. Ao me ver pontualmente, como sempre, me cumprimenta e diz algo engraçado sobre seu café da manhã com a esposa. Eu comento sobre Fleur e seus bebês, e como meus amigos estão em alerta no Departamento de Aurores, e ele me responde que hoje é um grande dia. Deixa claro, e eu aprecio isso, que posso sair mais cedo caso seja necessário, mesmo que esse tipo de regalia só abranja situações ocorridas com parentes diretos e próximos. Ele deseja o melhor nesse momento e eu agradeço, então sigo para minha mesa.

Apenas após deixar minha pasta de lado e dar uma conferida nos formulários já preenchidos é que percebo um grande envelope. Ele tem o selo padrão do Ministério e me intriga. Olho para Bertie em confusão e, me vendo analisar o envelope ele deixa sua mesa e se dirige até mim.

— Abra, Srta. Granger — um risinho ecoa pelos seus lábios. — Não é um berrador. Não vai gritar com você.

Rompo o selo de cera e torço pelo melhor. Meus olhos levam alguns instantes para absorver todo o conteúdo, desde o cabeçalho até a saudação final. Eu não posso acreditar. Olho para Bertie incrédula, ele só pode estar brincando comigo.

— Mexi alguns pauzinhos aqui e ali — começa a dizer, apoiando o quadril em minha mesa para descansar uma das pernas. — E acho que consegui algo para você.

Quero dizer algo, mas não consigo. Falta palavras.

— Sejamos sinceros, isso aqui não é para você, Granger. Se me permite ser completamente sincero, reunimos aqui aqueles que já traçaram uma longa carreira em seus departamentos. Quando precisam desacelerar o ritmo, nós os trazemos para que possam relaxar um pouco antes de desfrutar da liberdade da aposentadoria — suas palavras confirmam o que pensei desde o primeiro momento ali e isso me faz rir com nervosismo. — Você é jovem, tem um longo caminho pela frente. É um desperdício mantê-la aqui quando poderia estar fazendo muito mais.

Sem palavras suficientes para agradecê-lo, me limito a levantar e abraçá-lo apertado. Isso não é nada profissional, mas estou tão emocionada que ele não se importa. Ele me devolve o abraço, dando tapinhas nas minhas costas. Sei que estou sendo imprópria e me afasto com um pedido de desculpas.

— Não se desculpe — sorri para mim. — Apenas me deixe orgulhoso. Ficarei de olho em você.

— Obrigada, Bertie. Isso significa muito para mim — finalmente consigo dizer.

Me sento outra vez e olho para o pergaminho diante de mim, meu cérebro funcionando a todo vapor. Eu estava ansiosa por uma promoção, mas seguindo os padrões do Ministério não esperava recebê-la em menos do que seis meses ou um ano.

— Você tem cara de Regulamentação da Magia — comenta ele, me olhando em análise. — Pouco papel, muita ação. Reuniões, pesquisa de campo, esse tipo de coisa.

Ele diz isso porque o pergaminho deixa claro que estou pronta para o próximo passo. A partir daqui, preciso fazer uma escolha que definirá todo o meu futuro. O peso da decisão é imenso. O segundo estágio – como é chamado, ainda que não se trate de um estágio no sentido mais usado da palavra – começa com a escolha de um departamento entre todos os do Ministério. É um caminho só de ida. Felizmente, eu já sei para onde quero ir.

— Seria uma ótima escolha — concordo com a cabeça, erguendo os ombros sutilmente. — Mas acho que preciso de mais. Gosto de desafios, do inesperado.

Ele sussurra um “oh” e eu sei com isso que já entendeu para onde vou.

— Bem, seja qual for o caminho, eu te desejo sorte. Coisas grandes esperam por você, menina. Agora vá, não perca tempo. Aproveite que o dia está apenas começando. Dizem que os recrutadores são mais amistosos no primeiro horário do dia.

Me levanto outra vez, pegando minha pasta e mantendo o pergaminho em mãos. Dou uma última olhada para Bertie, sabendo que meu sorriso não poderia ser maior. O encontro dos nossos olhares tem o significado da despedida e não precisamos dizer nada, mas ainda assim, preciso de algumas últimas palavras.

— Obrigada pelo que está fazendo por mim. E obrigada por me manter sempre positiva.

Ele apenas sorri e eu sei que ele sente que fez a coisa certa. Sentirei falta das suas conversas ocasionais e espero que se aposente em breve para poder realizar o sonho de viajar para conhecer todos os castelos da Europa com a esposa. Ele merece.

Ao sair, me contenho e não vou para o Departamento de Aurores contar para Harry e Ron sobre minha nova promoção, decido que falarei tudo durante o almoço. Enquanto cruzo corredores e pátios, ansiosa, agradeço mentalmente por não ter desistido durante esse mês. Foi um aprendizado. Terrível, mas um aprendizado necessário. Me sinto mais forte agora para o que vier.

 

Quando o átrio do Ministério está diante de mim, me sinto eufórica. Utilizo um dos elevadores para ir até o nível nove, sentindo minhas mãos suando frio. Quando as portas se abrem, me sinto mais sozinha do que nunca. Agora é tudo com você, Hermione. A ansiedade faz meu corpo entrar em modo de fuga, mas não vou fugir. Ao invés disso, vou utilizar essa força extra em meu corpo para vencer esse desafio. Tenho que ser aceita.

O nível nove é assustador e é justamente isso que me fascina sobre ele. Já estive ali uma vez. Não possui janelas ou portas, apenas paredes com azulejos negros que guiam ao final do corredor mais extenso que já vi. A iluminação nem mesmo é elétrica, utilizando tochas. Esse é o coração primitivo de toda a magia e ele pulsa, me chamando, há muito tempo. Esse sempre foi o meu objetivo, então ando com a confiança que nunca tive. Por detrás da porta, há uma câmara. Ela não é capaz de me desorientar, pois eu sei qual porta abrir. Passando o pergaminho para a mão esquerda, fecho meus dedos ao redor da maçaneta e olho para cada uma das portas, seguindo meu instinto e implorando mentalmente para que ele esteja correto.

Ele está.

O escritório do Departamento de Mistérios se revela para mim. Devo dizer que nunca estive naquela área antes, mas não estou surpresa. Uma mulher de cabelos escuros ergue os olhos para mim. Ela tem um sorriso sutil, aposto que não vê muitos rostos novos. Quando ela se levanta, percebo como é tudo aquilo que eu não sou. Alta, magra, elegante como uma modelo. Tem olhos azuis tão claros e enigmáticos que me sinto desconfortável ao estar na mira deles, mas sigo firme.

— Sempre que avisam que novos pergaminhos foram enviados aos setores, abrindo a oportunidade para que alguém aproveite sua promoção e se recrute, eu venho até aqui e aguardo — ela me diz ao parar diante de mim. Me olha de cima dos seus saltos em uma pose imponente e eu sei que muitos tremeriam diante dela. — Não vejo ninguém entrar nesse cômodo há cinco anos.

Realmente não imagino que muita gente sonhe em trabalhar aqui.

— Sou Hermione Granger — digo, buscando manter a minha melhor postura.

— Eu imaginei que você viesse assim que chequei a lista — seus lábios se curvam em um sorriso. — Você faz o tipo.

— Aparentemente você sabe algo sobre mim.

Ela ri.

— Sei muito sobre muitas coisas — é a sua resposta. — Me acompanhe, Granger.

A sigo, sempre mantendo uma distância confortável, até a próxima porta. É um escritório grande e ela se senta na cadeira maior antes de me oferecer o lugar do outro lado da mesa. Vejo uma placa que diz seu nome. Calliope Dawlish. Tenho um Dawlish arquivado em algum lugar da minha memória mas não me recordo muito sobre. Talvez tenha lido em algum livro.

— Me deixe ver o que você tem.

Coloco minha pasta sobre o colo e a abro. Dela retiro alguns papéis importantes que sempre levei comigo na esperança desse momento. Deixo em sua mesa o último pergaminho que recebi do Ministério, minha carta de apresentação feita à mão, meu histórico em Hogwarts, as recomendações dos meus dois primeiros supervisores no Ministério e o documento que legitima minha condecoração de guerra apenas por um pequeno capricho. Ela ignora todos eles, exceto a carta e o histórico, o que me deixa um pouco incomodada.

Seus olhos passeiam pelas duas páginas sem pressa.

— Nenhuma monitoria ou curso avançado — ela diz, sua frase me cortando como uma navalha.

De fato, não consegui ser monitora em Hogwarts por estar ocupada demais com outras coisas e tampouco gastei tempo em outros estudos, focando em passar um período agradável com meus pais após todos os acontecimentos. Quis ingressar no Ministério o quanto antes e achei que a experiência e tempo decorrido me fariam jus.

— Notas impressionantes.

Isso me conforta um pouco. Se posso me orgulhar de algo é do meu impecável histórico escolar.

— Você retornou para concluir os estudos em Hogwarts após a guerra, isso já demonstra algo — seus olhos voltam para mim e os papéis voltam para a mesa. — O que busca aqui, Granger? Você teria desafios para enfrentar em qualquer departamento.

Ela parece ler a minha mente e me sinto invadida por isso, mas não perco o foco. Sei trabalhar sob pressão como ninguém.

— Entrei aqui pela primeira vez em 1996 e...

Calliope faz um som com os lábios de desaprovação.

— Não me conte o que você já fez — ela se levanta de sua cadeira, começando a andar devagar pelo escritório. O barulho dos seus saltos ecoa. — Todos sabem. “A Batalha do Departamento de Mistérios” — sua voz parece cansada, entediada. Amaldiçoo a mim mesma por isso. Como desejei isso todos os dias durante anos, me preparei tanto e não me sinto pronta? Para alguém que não gosta de ser reconhecida como uma heroína, acabei confiando muito nisso. — Eu não me interesso pela sua medalha de guerra. O departamento não se interessa pela sua medalha de guerra. Uma medalha e uma história de vida brilhante não te garantem uma vaga aqui.

Vejo pelo canto do olho que ela encostou os ombros na estante de livros e pretende se manter atrás de mim. Certamente percebeu que seu olhar e sua expressão me deixam tensa. Ainda que pareça que não, sei que ela está me incentivando. Já poderia ter me dispensado, se quisesse.

— Não conte essa história aqui. Esse episódio causou danos severos ao departamento, então precisamos concordar que o dia em que foram enganados e vieram bagunçar a casa não é a melhor forma de começar.
Sinto o riso em sua voz. Um riso debochado que só não ecoa porque seria inapropriado.

— Ainda assim, eu sei que você tem algo convincente aí. Pense melhor e encontre-o — conclui ela, pegando um livro e o folheando. — Algo melhor do que ter visto coisas incríveis aqui naquele dia, coisas que fizeram esse ser o seu objetivo. Você não precisa saber tudo, Granger. Se isso é o que te motiva, escolheu o pior departamento possível. Você terá mais perguntas do que respostas aqui.

Ela definitivamente esteve na minha mente. Somar isso ao fato de que ela está correta em todos os ângulos acaba comigo. Eu quero saber tudo. Quero saber o que eu vi e quero saber a resposta por trás dos mistérios que esse departamento estuda. Porém, ela também sabe que há algo aqui que pode impressioná-la. Preciso descobrir o que ela viu dentro de mim que eu não consigo ver com clareza.

 

Me encontro com Harry na hora do almoço. Ao contrário do que pensei, não tenho energia suficiente para falar uma palavra sequer sobre minha ida ao Departamento de Mistérios. Estou arrasada. Por sorte, ele tem boas notícias para mim.

— Ron saiu há alguns minutos — ele sorri ao dizer, me fazendo sentir melhor. — Ele recebeu uma coruja de Molly avisando que Fleur teve uma menina. Te mandamos uma coruja, mas ela retornou por não ter conseguido te encontrar.

Finjo uma enorme surpresa, mas sou acobertada pelo fato de que realmente estou em êxtase por tudo ter corrido bem. Falamos sobre como todos estão agitados e felizes nesse momento, sobre como algumas coisas mudarão a partir de agora e debatemos possíveis presentes. Decido que Fleur experimentará meus biscoitos de avelã.

— Alguma vez você já sentiu que as suas maiores virtudes, aquilo que você diria para impressionar alguém, não é o bastante? — questiono entre uma mordida e outra. Ele me olha com confusão, mas parece pensar sobre o assunto. — Digo, todas as coisas que nós fizemos. É uma história incrível, mas não faz a menor diferença para a outra pessoa. Ela quer algo mais que está dentro de você e nem mesmo você sabe o que é isso para oferecer.

Ele balança a cabeça para mim.

— Com Gina foi assim. Ela não queria saber sobre toda essa história de “Potter, o eleito”. Ela via algo mais em mim. Algo muito além disso.

Eu não me refiro exatamente a relacionamentos, mas ele pegou a ideia. Já é o suficiente.

— E como você descobriu o que ela via que realmente importava? — pergunto com real interesse. — Como soube qual parte de você era a que precisava mostrar para te fazer tê-la?

Harry ri, certamente me achando filosófica demais.

— Até hoje eu não sei. Talvez seja algo que nem existe de verdade, só... uma percepção dela. Algo que ela vê em mim. Como ela me vê. Talvez o segredo do amor esteja aí, mais importante do que o que eu realmente sou é como ela me vê.

Ouvir isso não me ajuda em nada.

— Você está querendo conquistar alguém, Mione?

Bem, sim. Mas não dessa forma.

— Acho que só estou pensando demais hoje — rio, terminando meu prato.

— Sendo assim, relaxe. Você é uma pessoa incrível e não só por conhecer mais feitiços do que a maioria ou por já ter lutado em uma guerra, sabe. Você processa as coisas diferente. Você quer mudar o mundo, mesmo que um passo por vez — ele me diz, pegando uma das minhas mãos. Sei que não entende o motivo das minhas perguntas, mas sabe que há algo por trás delas e respeita minha decisão de não falar sobre ainda, sabendo que contarei quando for a hora. — Enquanto todos veem uma pessoa se afogando e se preocupam, pensando no que fazer para salvá-la, você é aquela que já pula de cara e sabe o que deve ser feito. E você faz.

Curvo meus lábios para ele. Talvez o que eu preciso encontrar esteja nesse caminho.

 

No final do dia, encontro os outros no Chalé das Conchas. Está cheio de vozes e me sinto cercada de amor. Tenho uma caixa de biscoitos e cupcakes – minha nova tentativa culinária – para a mais nova mamãe da família, e ela me chama para perto, agradecida pelos doces, me mostrando a sua menininha. Victoire tem os olhos de Gui e uma penugem clara na cabeça que certamente se tornará uma porção de fios loiros como os dela nos próximos meses. É uma criança linda, ainda que todos os recém-nascidos seja um pouco enrugados e pareçam mais com um joelho do que com seus pais.

A deixo pouco depois, imaginando que não precise de mais uma pessoa a cercando no meio da multidão. Encontro Theodore sentado na sala tomando café e me sento perto dele. Somos os únicos ali que não são parte da família, visto que até os pais e a irmã de Fleur estão presentes.

— Dia cheio hoje, não é? — ele me diz, apontando com a cabeça para todas as pessoas ao redor.

— Com certeza — eu respondo rindo, olhando de longe para o quarto lotado.

— É uma menina maravilhosa. Avisei ao Gui que terá problemas.

Homens. Sempre fazem esse tipo de brincadeira e eu a acho parte engraçada, parte estúpida. Por que continuamos dizendo que garotas bonitas um dia terão um namorado e darão trabalho aos seus pais por isso? Temem que elas farão o mesmo que várias mulheres e homens fazem por aí todos os dias, isso é tão normal. E tão bobo. Não vejo o problema ou a graça disso.

— Ela é parte veela. Espero que Gui não veja problemas nisso quando chegar a hora ou será um pai terrivelmente chato.

Theodore faz uma careta e ri, achando isso a coisa mais engraçada do mundo. A cada vez em que conversamos melhor, me sinto menos disposta a me interessar por ele e suas ideias retrógradas.

— Ei, Mione!

Viro meu rosto para encontrar o de quem me chamou.

— Não queria atrapalhar, desculpem. Não vi que estavam conversando.

Dou de ombros, feliz pela interrupção.

— Não se preocupe, apenas falávamos sobre como Victoire é linda.

Fred se senta no braço do sofá, me deixando entre ambos. Theo nos pede licença para pegar um pouco mais de café e diz que volta logo, mas espero que ele demore o quanto for preciso. O ruivo o acompanha com os olhos, atento.

— Ginevra me disse que ele é um saco, achei que precisasse de uma mãozinha — sussurra ele.

— Sou grata por ela, Fred.

Sei que é Fred porque está com um dos suéteres de natal que Molly borda todos os anos. O seu, é claro, tem sua inicial bordada na frente. Sempre que o vejo, me lembro de ouvi-lo dizer que a mãe devia pensar que ele não sabia diferenciar suas roupas das do irmão, mas é claro que sabemos que isso é uma grande bobagem, já que os de Ron e Gina também possuem letras, assim como todos os outros.

— Isso é para você, pelos biscoitos — ele tira uma pequena caixa do bolso e me entrega. — Vi em uma vitrine quando saía do Gringotts ontem e achei o presente perfeito.

Abro o embrulho e percebo que é uma pena de repetição rápida. Isso significa que escreve sozinha de acordo com o que é dito pelo seu dono. Realmente muito útil.

— Eu sempre quis ter uma dessas — confesso, me esticando no sofá para dar um pequeno beijo em sua bochecha. — Obrigada, Fred.

— Disponha — ele me responde e olhamos para o quarto onde Fleur está quando ouvimos uma risada alta vindo de lá. — Não aguento mais ouvi-los dizer que a menina é bonita. Para mim, parece mais com uma daquelas mandrágoras das estufas de Hogwarts.

Não consigo conter o riso. Esse é o tipo de coisa que me fez gostar de Fred agora que somos mais velhos. Enquanto outras pessoas, como Theo, estão pensando no trabalho que ela dará quando tiver namorados, ele está pensando o completo oposto e não está se importando com o que dirão sobre isso. Ele já passou da fase de se adequar.

— Mas tudo bem, ela terá desconto especial na minha loja por ser a primeira sobrinha.

— Seus filhos e os de George se sentirão no paraíso.

Ele parece nunca ter pensado nisso. Sua expressão de análise me faz rir de novo.

— Serão os melhores pregadores de peças que essa família já viu. Vou ensinar muitas coisas a eles.

— Tenho certeza de que será um bom pai um dia e um bom tio para Victoire — olho para o quarto uma vez mais, as vozes ainda transbordando para fora do cômodo. — Ela veio na melhor família possível. É sortuda.

Fred passa uma das mãos pelos meus ombros, mas não como um abraço fraternal e sim para me chacoalhar.

— Você também é parte da família, Mione, assim como Harry.

Rolo os olhos para ele.

— Eu considero vocês como minha família, é claro, mas Harry é casado com a sua irmã. É diferente.

— Você pode se casar comigo se esse é o caso — ele diz com uma naturalidade, claramente brincando, que me deixa um pouco sem rumo. George faz isso com frequência e antes de perceber que me deixava desconfortável, ouvi coisas do tipo uma porção de vezes. — Ou com Carlinhos, caso se fantasie de dragão. Acho que só assim ele terá interesse, sinto muito.

— Acho que dadas essas condições, ficarei com você.

Ele tira a mão dos meus ombros e a passa pelos cabelos, muito galanteador.

— Você é uma garota de sorte.

Rimos, sem levar nada disso a sério. Antes que eu possa dizer qualquer outra coisa, Molly se aproxima de nós quase saltitante e nos convida para jantar na Toca, assim Fleur pode descansar. Ela deixou porções generosas de comida prontas na geladeira, garantindo que a nova mamãe não precise se preocupar com afazeres domésticos por um bom tempo.

Cruzamos a lareira e encontramos George, Gina, Ron e Harry sentados à mesa. Conversam sobre algo quando Molly utiliza sua varinha para colocar os pratos e talheres, e nós sentamos para comer.

Em um clima tão feliz, decido compartilhar minha novidade, agora que já visitamos Fleur e não parecerá que estou tentando roubar o seu momento de atenção, ainda que eu saiba que ninguém ali teria pensado nisso.

— Recebi uma promoção hoje — digo, me servindo um copo de suco e um pedaço de torta. — Meu supervisor disse que eu me sentiria mais útil em um departamento do que preenchendo formulários.

Gina sorri para mim e Molly bate palmas alegres, enquanto os demais me parabenizam.

— E já decidiu para qual departamento irá?

Olho para Arthur, que parece realmente interessado, e aceno positivamente. Quando decidi entrar no Ministério ele me ofereceu um cargo no seu setor, mas declinei educadamente pelo mesmo motivo que declinara a proposta de Harry e Ron. "Você é uma garota muito esforçada, Hermione", dissera ele na época.

— Departamento de Mistérios — respondo sem rodeios.

A mesa fica em silêncio pelo próximo minuto, até que Ron tosse, engasgado com um pedaço de torta. Harry dá um tapa forte em suas costas e eu rio.

— É o maior departamento do Ministério, você se dará bem lá — responde Arthur.

Sei que gostariam de falar mais sobre, mas ninguém realmente sabe o que acontece lá, então é um pouco complicado. Mas ele quebra o gelo, erguendo seu copo de suco e propondo um brinde.

— À Hermione, futura Inominável.

Todos nós brindamos e a mesa segue em suas conversas usuais, mas eu, Arthur, Ron e Harry continuamos conversando sobre o Ministério.

— Já se apresentou ao departamento? — pergunta Ron, curioso.

Decido mentir, por pior que isso seja, pois ainda não estou pronta para admitir que fui derrotada na minha primeira tentativa. Eles me dão alguns conselhos úteis que me fazem pensar um pouco melhor. Faço a mesma pergunta que fiz para Harry no almoço, agora para Arthur que possui mais experiência de vida, e pela expressão de Harry vejo que entendeu agora ao que eu me referia. Seu olhar me pede desculpas silenciosamente.

— Não conheço muito sobre o DDM, mas já vi sua supervisora em uma reunião. Me parece uma pessoa muito direta. Seja lá o que queira de você durante a entrevista, tenho certeza de que perceberá sem que você diga.

Acho que isso era verdade, pois ela não me dispensou mesmo com a minha falha. Infelizmente, sem admitir que já fiz a primeira entrevista, não posso ser mais específica, então agradeço todos os desejos de boa sorte e nos unimos à conversa geral da mesa pelo resto da noite.

Quando são nove e meia nos despedimos de todos, e os gêmeos se oferecem para me acompanhar na aparatação até em casa, já que a loja fica próxima e Fred agora sabe como detesto aparatar depois de ter o estômago cheio. Eles me deixam na porta e também me despeço deles, pronta para entrar e ter uma boa noite de sono.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Se puder, me deixe um comentário, isso me incentiva a continuar escrevendo e desperta o interesse de outras pessoas em ler também. :)



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