Girassol escrita por they call me hell


Capítulo 7
Avelãs e Biscoitos


Notas iniciais do capítulo

Passar os capítulos do Spirit pra cá depois a formatação do texto péssima, cheia de espaços. Prometo arrumar isso até o final da semana. ♥



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— 7 —

 

Na segunda-feira trabalho normalmente e no final do dia chego em casa podendo terminar de organizar as coisas, agora tendo recebido os últimos móveis que faltavam. Depois de tomar um banho, como o resto da sopa que trouxe da casa dos meus pais e organizo as roupas em seu devido lugar. Vejo que ela também instalou cortinas no quarto que cobrem a janela com um tecido vermelho escuro muito bonito. 

 

O resto da semana se passa sem grandes emoções e até me sinto melhor sobre o trabalho que já não me desmotiva tanto. Ao invés de reclamar, estou aproveitando a calmaria do setor que não me deixa tão cansada no fim do dia para intensificar minhas pesquisas sobre os estudos avançados.

 

Quando a sexta-feira chega outra vez, estou feliz. Se passou algum tempo desde que comecei a trabalhar no meu cubículo no Ministério, mas sinto que do lado de fora as pessoas já estão no novo milênio. Porém, não penso muito nisso, pois é noite das garotas, o que significa que estamos na última sexta-feira do mês. Tradicionalmente, Ginevra deixa Harry para passar a noite comigo, enquanto Ron faz companhia ao cunhado. Às vezes nós nos perguntamos o que eles fazem na nossa ausência.

 

— Aposto que estão jogando videogame, Harry adora fazer isso quando chega o final de semana — ela sugere, checando nossos biscoitos no forno.

 

— São tão previsíveis, não é?

 

Ela tira a forma com cuidado, colocando-a sobre a mesa. O cheiro invade a cozinha e sinto que agora estamos oficialmente prontas para começar a noite. 

 

 

* * *

 

 

 

Ron atende a campainha enquanto eu verifico os fios até encontrar onde está o problema.

 

— Ei Fred — digo, acenando rapidamente antes de voltar a me concentrar.

 

— Ei Harry — ele responde, me olhando com curiosidade. — Onde estão Gina e Mione?

 

Ron se joga no sofá, abrindo uma cerveja.

 

— Na noite do pijama — esclarece ele, jogando uma cerveja para o irmão. — Devem estar pintando as unhas e assistindo filmes melosos.

 

Fred balança a cabeça com uma expressão de quem acha a ideia muito justa e eu finalmente concluo minha missão.

 

— Estamos prontos!

 

Aperto o botão superior do videogame e vejo a tela se acender. Perfeito. Quando Ginevra não está, nós sempre compramos cerveja e jogamos videogame. Agora Fred descobrirá a magia por trás dos jogos trouxa.

 

— Eu não sei ainda o que é isso — ele diz, apontando para a grande caixa preta. — Mas eu sei que quero um desses.

 

Deixamos sobre a mesa um lanche completo de chá, bolachas salgadas e sanduíches de patê. É o melhor que posso fazer sem Gina ou um elfo doméstico, mas estou bastante orgulhoso. Ao invés de comermos imediatamente, apenas cobrimos tudo com um pano por hora.

 

 

* * *

 

 

 

— Já está pronta? — grito da cozinha e escuto os passos de Gina ficando cada vez mais próximos.

 

— Pronta — ela dá um giro no lugar, me mostrando como combinou seu vestido de lã vermelho com a meia-calça preta. — Vamos!

 

Deixando minha casa, caminhamos pela rua e passamos em frente à sua, onde os garotos estão com todas as luzes acesas. Pode-se ouvir alguns gritos animados que daqui parecem quase sussurros, mas lá dentro devem estar a todo vapor. Rimos disso.

 

— Será que eles imaginam que nós, na verdade, saímos de casa nas nossas sextas das garotas?

 

Balanço a cabeça em negação para ela.

 

— Duvido muito. Eles chamam nossas sextas de “noite do pijama”. Devem achar que vemos filmes de comédia romântica enquanto pintamos as unhas.

 

Rimos de como são bobos enquanto caminhamos até um grande pub localizado atrás do Gringotts. Gui o apresentou a nós uma vez, sendo o lugar preferido dos funcionários do banco após o expediente. Antes de Harry, Gina costumava vir e flertar com os rapazes do dinheiro, como nós os chamávamos, apenas por brincadeira.

 

Uma vez lá dentro, não nos sentimos deslocadas, apesar da ausência de Gui. Nos sentamos no balcão e pedimos duas cervejas amanteigadas, brindando quando chegam. Nossos olhos são atentos. A diversão dessas noites é observar o máximo de coisas estranhas ao redor e rir delas, entre uma conversa e outra. Pode parecer estúpido, mas prefiro dizer que as coisas simples da vida nos alegram.

 

Theo, um dos amigos de Gui, chega até nós com um grande sorriso e beija nossas bochechas. É um rapaz agradável e apesar de detestá-lo por ser um paquerador, admiro que seja inteligente e me surpreenda ocasionalmente. Gina sempre diz que estou perdendo tempo, mas não tenho pressa.

 

— Vou ficar de olho em vocês já que Gui não está — ele diz, nos provocando risos. E parece falar sério, já que se senta no banco ao meu lado. Talvez o fato de Gina ser a caçula do seu amigo o deixe intimidado. Ou o grande anel no dedo dela.

 

— Então, como estão as coisas no Gringotts? — pergunto como é de praxe, pois ele adora falar sobre seu trabalho e eu adoro ouvir sobre ele, uma combinação perfeita. O banco dos bruxos é peculiar o bastante para manter uma conversa inteira.

 

Ele pede uma cerveja e começa a nos contar que sem Fleur, e com um Gui de cabeça cheia, as coisas estão uma loucura.

 

— A adequação das taxas que vem do Ministério está atrasada e os vagonetes resolveram se rebelar essa semana — comenta, dando um gole em sua cerveja. — Um dos duendes ficou rodando pelo subterrâneo por três horas antes de conseguir pedir ajuda.

Imagino a cena e solto uma gargalhada.

 

— Estamos contratando duas pessoas novas para dar apoio, felizmente — ele ergue as sobrancelhas ao dizer. — Se tiver interesse, seria uma excelente adição à equipe.

 

Gui já me fez essa proposta antes. Na verdade, Fleur a fez por ele. “Receber uma mãozinha de Gui com o idioma enquanto estagiava no Gringotts me fez chegar até aqui”, ela me disse na ocasião, deixando claro que estava muito feliz por isso. Eu sabia que Gui ter se oferecido para ajudá-la com o idioma acabara fazendo com que ela se sentisse mais confortável e desistisse da ideia de voltar para o seu país. Com isso, ela passara o tempo necessário para deixar de ser apenas estagiária e pouco depois de tornar-se uma funcionária fixa do banco, ela e Gui começaram a namorar. “Às vezes, deixar alguém te dar uma mãozinha pode ser o que precisamos para ajeitar as coisas”. Ela tinha razão, é claro, e eu ficaria feliz em aceitar a ajuda caso as coisas não dessem certo no Ministério, mas precisava tentar primeiro ou me amaldiçoaria para sempre.

 

— Pode apostar que sim — respondo, batendo minha caneca contra a dele.

 

Ginevra não parece nada interessada na conversa hoje. Mais do que isso, parece querer se esquivar dela a todo custo. Depois que tomamos a primeira caneca ela me puxa para fora do balcão, me fazendo pedir desculpas a Theo abruptamente, para me guiar até a pista de dança. Se eu estivesse mesmo interessada nele, e não estou dizendo que estou nem que não estou, eu ficaria furiosa com ela. Seus braços se erguem enquanto ela move os quadris no meio de todas as outras pessoas, deixando claro que ela não se importa se eu estava conversando ou não.

 

— Theodore é um chato — ela grita para mim. — Dançar é muito mais divertido.

 

Eu a sigo, mas definitivamente não sou do tipo dançante. Ela segura minhas mãos, me fazendo rodopiar e eu me rendo, rindo. Tudo bem se ela num momento estiver praticamente me empurrando para o amigo do irmão e no outro instante decidir que seu apelido não é mais "Theo", como Gui o chama, mas sim “Tedioso”. Não é como se eu realmente estivesse ali por causa dele.

 

Quando chegamos em casa, no fim da noite, meus pés estão doloridos e eu praguejo. Pegamos nosso combo de doces e nos jogamos na minha cama, colocando um filme qualquer para assistir. Ele vai acabar passando sozinho enquanto abraçamos os travesseiros e falamos sobre a vida, de qualquer forma.

 

— Esses ficaram muito bons — ela diz, erguendo um dos biscoitos de avelã.

 

Eu concordo com um aceno, tendo a boca cheia. Desde que passei a morar sozinha decidi iniciar uma exploração culinária, começando por receitas que ajudei minha mãe a fazer durante toda a vida. Os biscoitos de avelã foram a primeira e aparentemente deram muito certo.

 

— Mamãe costumava fazer biscoitos parecidos no meu aniversário, lembra?

 

Os aniversários de Gina eram sempre os mais divertidos. Talvez porque fossem os únicos cheios de bexigas coloridas e caça aos gnomos no jardim, quando os girávamos sobre nossas cabeças e os jogávamos para além do muro. Quem conseguisse jogar mais gnomos do outro lado vencia, mas caso um deles voltasse porque não ficou tonto o bastante, perdia-se um ponto. Lembramos disso e nos deliciamos com essas memórias infantis. 

 

— Que bom que continuamos amigas ainda hoje. Papai e mamãe já não tem mais amigos do tempo de Hogwarts, e vejo que ficam tristes por isso.

 

— Vamos ser amigas para sempre — eu prometo e ela me abraça, selando o compromisso.

 

— Um dia eu também terei uma grande família e você será madrinha dos meus filhos. Virá almoçar conosco todos os domingos.

 

— E levarei biscoitos de avelã.

 

— E será a tia solteirona — ela me provoca, levando um tapa no ombro.

 

— Não serei solteira para sempre, Gina.

 

— O que você está esperando? — questiona ela, agarrando um dos travesseiros. — De verdade, Hermione.

 

Eu estava pronta para dar alguma resposta ríspida apenas para irritá-la, mas decidi ter essa conversa de forma séria pela primeira vez. O fato de respostas evasivas serem dadas toda vez talvez estivesse incentivando as pessoas a repetirem o assunto e eu queria deixá-lo suficientemente claro.

 

— Eu preciso entrar em um departamento no Ministério. Só isso — parece simples, se posto assim. — Um departamento que eu goste e onde me sinta útil. Quando eu tiver conquistado isso, estarei em paz e encontrarei alguém.

 

— Isso é uma promessa? — ela bebe chá, me olhando com dúvida.

 

— Sim, é uma promessa. Andei pensando sobre isso ultimamente e não digo que vou iniciar uma caça desenfreada ao amor da minha vida, mas vou parar de insistir para que isso não aconteça. É possível equilibrar as coisas e ter alguém com quem passar o tempo às vezes pode me fazer bem.

 

Gina abraça o travesseiro apertado, empolgada.

 

— Eu não quero ser inconveniente, então agora que você me disse isso, fico mais tranquila e te deixarei em paz com isso. Fico feliz, Hermione.

 

Eu também, de verdade. Seja porque tocamos em um assunto sério ou porque agora estou pensando em um milhão de coisas. Gina não pode deixar que nossa divertida noite de sexta-feira acabe com um assunto assim, tão sonso, então pega o prato de biscoitos e me indica as demais coisas com os dedos.

 

— Vamos ver o que os meninos estão fazendo.

 

A sigo hesitante para a lareira. Nunca fizemos isso e não sei se é uma boa ideia, mas não quero contrariá-la. Sempre podemos voltar, de qualquer forma.

 

Quando cruzamos para a sala de estar da sua casa, vemos os garotos jogados no sofá, gritando com a televisão. Eles demoram alguns instantes para notar a nossa presença, mas quando o fazem, passam a gritar para nós.

 

— Ei, vocês estão quebrando as regras!

 

Gina olha para o relógio na parede.

 

— Já é meia noite e doze, então teoricamente já acabou nossa sexta-feira das garotas.

 

Ela está certa.

 

— Além do mais, nós trouxemos biscoitos de avelã — eu digo. — Mas podemos levá-los de volta se vocês não quiserem.

 

Ron ergue ambas as mãos em rendição. Agora que sabe sobre os biscoitos, não deixará que vão embora.

 

— Ok, vocês venceram — Harry ri ao dizer, fazendo um gesto para que nos juntemos a eles.

 

Pego uma grande almofada e me sento no chão entre a poltrona de Ron e o sofá onde Harry e Fred estão. O mais velho acaba por fazer o mesmo que eu, deixando Gina juntar-se ao marido. Nós os mimamos demais, definitivamente.

 

Colocamos os biscoitos em um pequeno banquinho no centro do círculo para que todos possam pegá-los. Vejo como parecem adorá-los e isso me deixa com uma sensação boa. É ótimo descobrir que aparentemente tenho alguns dons culinários que agradam aos demais, ainda que se limitem a alguns tipos de doces.

 

— Estes são os melhores biscoitos de avelã que eu já comi — Fred murmura com a boca cheia, fechando os olhos em sua degustação. — Os melhores.

 

— Não deixe mamãe ouvir isso — Ron riu.

 

Ginevra olha para os lados, antes de sussurrar para nós:

 

— Eu nem tive coragem de dizer em voz alta.

 

Sinto minhas bochechas esquentarem. Não sei lidar muito bem com elogios, por mais que tenha consciência de que já provei para mim mesma e para o mundo que mereço uma porção deles. Corajosa é o único que não me comove, talvez porque eu saiba que posso enfrentar um dragão sem pensar duas vezes, mas há coisas muito mais simples para as quais não tenho coragem. Porém, algo dentro de mim parece me empurrar adiante. Talvez seja a nova confiança quanto aos meus dons de confeitaria.

 

— Posso fazer alguns e te levar na loja qualquer dia — sugiro, olhando seu rosto sardento.

 

Ele sorri para mim, um sorriso cheio de pedaços de avelã que me faz rir.

 

— Eu adoraria — responde, erguendo o dedo indicador de uma das mãos. — George precisa provar isso. Ele vai concordar comigo.

 

Ron resmunga do seu lugar.

 

— Também quero biscoitos.

 

Harry dá uma cotovelada nele que reclama da dor.

 

— Hermione já nos leva doces no Ministério para o café da manhã.

 

Não é bem verdade. Levei apenas duas vezes em troca de terem pago meu café em muitas ocasiões, mas agradeço Harry com o olhar. Ele sabe contornar essas situações discretamente, muito melhor do que Gina. Faço uma anotação mental de cozinhar biscoitos outra vez para eles, uma fornada inteira.

 

Acho que, para um primeiro passo, até que me saí bem. Fui sutil e recebi uma resposta positiva. Não posso reclamar.

 

No dia domingo de manhã, estou sozinha em casa e me levanto jurando que já está perto da hora do almoço, mas descubro que são apenas oito horas. Tenho um pouco de dor de cabeça e meus olhos parecem estar afundados no crânio, uma sensação muito incômoda. Vou para a cozinha e tomo uma poção para aliviar. Depois de meia hora já estou muito melhor e posso me concentrar em fazer biscoitos.

 

Enquanto assam, envio uma coruja aos meus pais. Conto sobre a senhora que atendi no Ministério durante a semana, sobre a sexta-feira com Gina e prometo levar alguns biscoitos para eles agora que estou craque em fazê-los. Depois, me levanto e visto roupas limpas, e minhas botas preferidas para andar na neve. Estou determinada.

 

Quando os biscoitos estão prontos, os tiro do forno e após alguns minutos os transfiro para uma grande caixa branca que comprei no dia anterior com esse único propósito. Respiro fundo. Talvez devesse deixar que alguns dias se passassem até que fizesse isso, mas estou empolgada com a ideia, então apenas pego a caixa e saio de casa rapidamente, antes que comece a debater comigo mesma e desista.

 

As ruas do Beco tem pouca movimentação a esse horário, se comparado com o período da tarde onde torna-se impossível andar sem esbarrar em alguém. Caminho feliz, observando as casas de chá lotadas pelo caminho. São nove e quinze quando paro diante da fachada da Gemialidades. Preciso respirar fundo mais uma vez antes de entrar, mas uma vez que entro, perco a ar. Me dou conta de que é a primeira vez que estou ali, de fato.

 

São muitas prateleiras, escadas e coisas. Há barulhos diferentes em todos os lugares. Algumas crianças correm animadas sob o olhar atento dos pais e eu sei que estou de queixo caído, tentando processar o máximo de informação. Sou abordada por um dos gêmeos que se aproxima notando como estou. Sei que é George pelos seus cabelos curtos.

 

— Bem vinda, Mione — ele diz, rindo.

 

Eu olho para ele esquecendo completamente dos biscoitos.

 

— Isso é incrível — falo como uma criança e sei que poderia estar apontando para as coisas como uma, se não tivesse as mãos ocupadas. — Todas essas coisas e cores!

 

Ele balança a cabeça para cima e para baixo.

 

— Fico orgulhoso por ouvir isso vindo de você, não parecia muito entusiasmada com a ideia dos logros quando éramos mais novos — ri, me deixando envergonhada. É verdade, eu tinha um problema com eles. Para ser específica, tinha um problema com a forma como testavam eles. — Apesar de surpreso por essa mudança, ainda não acho que esteja pronta para a sua primeira compra.

Essa é a sua forma discreta de perguntar o que estou fazendo ali.

 

— Trouxe alguns biscoitos — ergo a caixa em minhas mãos. — Os fiz hoje cedo.

 

— Biscoitos Granger? — sua expressão se torna curiosa e abro a caixa para ele que apanha um dos biscoitos, levando-o à boca. — Preciso provar isso, Fred me falou sobre eles.

 

Espero que ele tenha falado bem deles ou terei que chamá-lo de dissimulado.

 

Os olhos de George se fecham por um instante, enquanto mastiga. Eu dou risada, o assistindo sem pressa. Ele balança a cabeça outra vez, mas não diz nada. Primeiro acena positivamente. Depois, negativamente. Em seguida, murmura baixinho.

 

— Por Merlin, o idiota estava certo. São maravilhosos.

 

Me curvo em agradecimento, rindo.

 

— Leve-os para cima e peça ao Fred para fazer chá, há uma escada logo ali— ele aponta para um canto da loja, onde posso ver os degraus que levam ao apartamento. — Vamos tomar café de novo, subirei em alguns minutos.

 

Meus biscoitos são tão bons que farão George Weasley fechar a sua loja para tomar um segundo café da manhã. Estou muito orgulhosa. Passando pelos corredores, subo as escadas até alcançar o apartamento. Bato na porta, que está aberta, apenas para indicar que estou ali.

 

— Fred?

 

Um rosto sardento surge em poucos instantes, me olhando com surpresa.

 

— Trouxe biscoitos.

 

Ele vê a caixa em minhas mãos e aponta para a poltrona da sala.

 

— Não diga mais nada, vou fazer chá.

 

Sentada na sala dos gêmeos, esperando para que Fred e George se juntem a mim, sei que estou indo muito bem com a minha nova pseudo vida social. Observo Fred encher um bule com água e colocá-lo no fogo, então ele se vira para mim e puxa uma das cadeiras da mesa para perto, sentando-se.

 

— Acho que é hora de comprarmos um sofá — ele diz, risonho. — Quando nos mudamos não achamos que era necessário mais do que duas poltronas e duas cadeiras, mas nunca é tarde para repensar.

 

Eu acompanho seu riso, o achando extremamente bobo.

 

— Comemos pizza no chão da minha sala, sofás são apenas formalidades.

 

Ele balança os ombros, concordando com uma expressão de "deixa para lá" e se levanta ao ouvir o barulho da chaleira no minuto seguinte. A parte de baixo da sua chaleira é preta de queimado, provavelmente já tendo sido esquecida no fogo muitas vezes. Ele abaixa diminui a chama, colocando folhas de chá na água fervente e a tampa outra vez.

 

— Mais alguns minutos e estaremos bem.

 

Antes que eu possa responder, George abre a porta e sua expressão assume o tom de alívio.

 

— Graças a Merlin — sua mão direita passa sobre a testa, como se limpasse o suor. — Tive medo de entrar e ver que vocês estavam se beijando... ou pior, que já tinham acabado com os biscoitos sem mim.

 

Uma gargalhada escapa pelos meus lábios sem que eu possa conter.

 

— Não precisa se preocupar, somos apenas bons amigos — digo, ainda rindo.

 

George arqueia uma das sobrancelhas para mim.

 

— Isso não quer dizer nada, amigos às vezes acabam se beijando.

 

Fred rola os olhos, indo checar a chaleira outra vez para não responder o irmão. Ele serve xícaras de chá para todos nós e coloca a caixa com os biscoitos na mesa de centro.

 

— Então Hermione, como anda a vida? — George questiona, servindo-se.

 

Penso um pouco, avaliando se há algo de interessante que eu possa contar, mas não tem acontecido muita coisa ultimamente. 

 

— Com o tédio no trabalho decidi começar um curso de nível especial. É a minha única novidade por hora.

 

— Se eu não fosse tão preguiçoso, faria o curso de feitiços. Seria útil na loja.

 

Fred estica um dos braços e dá tapas leves nas costas do irmão em consolação.

 

— Nós sabemos que você desistiria na primeira semana, quando te pedissem pra ler cinco livros e fazer três resumos de vinte páginas.

 

George resmunga com a boca cheia deixando claro que ele está correto.

 

— Além do mais, eu tive uma ideia muito mais produtiva. Convidei Hermione para dar uma olhada nos projetos qualquer dia desses.

 

— É uma boa ideia, talvez possa nos ajudar com algumas coisas.

 

Assisto o debate dos dois, enquanto citam alguns casos específicos com os quais estão tendo problemas, exemplificando processos. Por mais que eu me julgue uma pessoa inteligente, não entendo nada do que estão falando. Nunca ficou claro para mim como se cria um logro. 

 

Vendo minha cara de confusão, George vai até um outro cômodo do apartamento e depois de alguns minutos volta com um caderno em mãos, o abrindo e me mostrando alguns desenhos e anotações. Ele me explica e aponta as notas, tornando um pouco mais compreensível.

 

— Admito que por mais que sempre tenha criticado seus testes em primeiranistas, a criação é um processo bem inteligente — digo, alternando o olhar do caderno para os dois ruivos ao meu lado.

 

Fred dá um sorriso imenso, triunfal, e bate com a mão livre no braço do irmão.

 

— Estamos sendo chamados de inteligentes por Hermione Granger. Quem diria que esse dia chegaria!

 

É minha vez de rolar os olhos, mas acabo rindo em seguida.

 

— Se tivesse uma máquina fotográfica tiraria uma foto para guardar para sempre esse momento — completa George.

 

— Acho que vocês conseguem entender a razão de eu nunca ter dito isso antes.

 

George enche a boca de biscoitos outra vez, enquanto Fred bebe seu chá, ambos se fazendo de desentendidos. É divertido conversar com eles, ainda que só tenhamos nos aproximado recentemente. Eles tem o mesmo bom humor de Gina e Ron, mas conseguem ser ainda mais divertidos. E exagerados, é claro.

 

Continuamos conversando sobre projetos, feitiços e outras coisas pela manhã, e eu aproveito esse momento mais do que julguei que aproveitaria. Quando fiz os biscoitos não tive a intenção de ficar para um segundo café da manhã, mas não podia negar que estava me divertindo com os dois.

 

Ginevra ficaria orgulhosa da sua nova borboleta social.


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