Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784652/chapter/7

”Se pudesse voltar no tempo

Desta vez não esconderia o que sinto

O silêncio foi o engano mais violento

Meu terrível experimento falhou

Se te afastei de mim, se falhei e fui embora

Foi porque minhas mentiras me davam medo

Você acreditou em mim e me tornei tão

Fingindo.”

Camila – Perdón

****

Com o coração acelerado, Maria voltou para o seu quarto, onde ficara meditando nos acontecimentos. Ela se culpava por, inevitavelmente, sentir-se estranha, abalada toda vez que Estêvão se aproximava. Por mais que ela quisesse negar, ele ainda lhe causara arrepios, os mesmos arrepios que ela sentia quando eles se entregavam a paixão, o mesmo arrepio que ela sentiu quando ele sussurrava em seu ouvido dizendo que ela era única em sua vida. Se ele era verdadeiro ou não, ela não sabia dizer, mas sabia que todo seu interior se agitava quando ele estava por perto.

...

O dia começara bem agitado, e todos na Casa de Modas seguiam a corda toda. Maria permanecia em sua sala organizando umas coisas pelo computador, enquanto Jacques lhe fazia companhia, também organizando algumas coisas, no caso, era uma pilha de revistas que estavam jogadas, várias pastas fora de ordem, e, a pedido de Maria, ele estava colocando cada coisa em seu devido lugar.

— Jacques, posso te fazer uma pergunta? – Maria tirou sua atenção do computador, e olhou o, talvez amigo, trazendo a sua atenção para si.

— Quantas você quiser, minha rainha. – Ele espanava algumas prateleiras, com toda a classe. Não era sua responsabilidade tirar pó dos móveis, mas ele fazia tudo o que pudesse para agradar Maria.

— Você, que conhece minha irmã melhor que eu, sabe me dizer como é o relacionamento dela com Estêvão? – Ela saiu da frente do computador para olha-lo melhor, mas ainda permanecia em sua cadeira.

— Ah, claro. – Jacques se acomodou em uma poltrona fofinha que havia ali, e cruzando as pernas, pôs-se a contar o que sabia. – Desde quando eu conheço a Fabi, sei que ela é louca por ele, agora ele, não sei se sente a mesma loucura por ela. Não tô dizendo que ele não gosta dela, mas parece que ele não liga muito, sabe. Às vezes eu acho ele tão indiferente a ela, e ela faz tudo por ele. – Ele regia sua história com o espanador que ainda estava na sua mão.

— Hum. Então o casamento deles não é mil maravilhas, como todos pensam?

— Na verdade é oposto. Eles discutem muito e tal. Eles só saem juntos quando é realmente necessário, ou quando ele quer exibir a bela esposa. Eu já disse pra ela se separar dele, mas quem disse que ela me ouve? Prefere ficar num casamento amarrado do que dar o braço a torcer.

— Então é um casamento de aparências?

— Olha, vou te contar uma coisa – ele largou seu espanador, e se juntou a ela na mesa falando um pouco mais baixo – Fabi me disse que ele sempre foi louco por uma mulher, mas aí a mulher foi embora e ele não teve mais notícias dela. Ela foi jogando charme pra ele, e ele sempre mostrando que não tinha o mínimo interesse nela. Ela praticamente se humilhava nos pés daquele cafajeste, e ele dizia que sempre viveria pra amar a tal mulher, e nada que ela fizesse iria mudar isso.

— Caramba, que história! – Maria ouvia atentamente a história, e a cada minuto que passava, ela ficava mais boquiaberta. – Então como eles chegaram a se casar? A mulher morreu? – Se fez de desentendida, sabendo que se tratava dela.

— Não! Quer dizer, acho que a mulher deve tá viva. – Deu de ombros. – Eles se casaram depois que a irmã dele morreu. Ele estava disposto a cuidar do sobrinho, que só tinha cinco anos na época, mas ele era meio sem jeito com crianças, e viu nela uma mãe pro Henrique. E depois de quase quatro anos que a irmã e o cunhado morreram, e eles dois nessa enrolação, ele decidiu que era hora de se casar com ela, e estão a quase quinze anos casado.

— Então ele só se casou com ela por causa do sobrinho? – Maria ficara em choque diante da revelação.

— É – arqueou as sobrancelhas – basicamente isso. Talvez se os pais do menino estivessem vivos, eles nunca se casariam.

A conversa entre eles ainda durou algum tempo, entre idas e vindas na história da irmã, mas o que ela não esperava era saber que Estêvão nunca amou a irmã a ponto de querer estar com ela, e casamento dos dois veio num mero acaso do destino.

...

O primeiro dia oficial de Giovana trabalhando com Estêvão fluia tranquilamente. Ela estava sempre às ordens fazendo o que o chefe pedia, mostrando ser uma funcionária exemplar.

— Caramba Giovana – olhou seu relógio no pulso – já passou da hora do almoço e ainda estamos aqui. Vai almoçar, já ficou tempo demais aqui. – Ordenou.

— Claro que não, e você?

— Um dia sem almoço não vai me matar. Pode ir tranquila.

— Nananinanão! – A menina mexia seu dedo indicador direito de um lado para o outro. – Você não ouviu falar que saco vazio não para de pé? – Vociferou. – Vou lá fora e compro comida pra nós dois. Gosta de comida chinesa?

— Nunca comi, mas é uma boa pedida.

— Ok, eu volto logo.

Giovana saiu quase correndo procurando algo para ela e o chefe comerem. Não demorou mais que dez minutos, e ela voltara com duas caixas de comida chinesa nas mãos, já que o prédio na empresa ficara no centro, e havia vários fast food pela área.

— Pronto, aqui está chefinho.

A menina deixou sua bolsa jogada por ali e foi até a mesa de Estêvão com duas caixas na mão. Logo todo o cheiro agradável do alimento se espalhou por toda a sala.

— Pelo cheiro parece bom. – Disse inalando o aroma. – Vamos comer na caixa? – Aquilo tudo parecia novo para ele.

— Uhum, isso se chama China na caixa. – Ela trouxe uma cadeira até onde ele estava, os dois ficaram muito próximos.

— E vamos comer isso com o quê? Com esses pauzinhos? – Pegou os dois pares de hashis que estavam dentro de um saquinho.

— Não são pauzinhos Estêvão – ela estava se divertindo muito com a situação – isso se chama hashi, e eu vou te ensinar como usa. Você coloca entre os dedos e voilà! É só saborear.

Giovana tinha toda a paciência do mundo com Estêvão que era um analfabeto em hashis. De início, ele se complicara todo com os pauzinhos, mas logo pegou o jeito da coisa, e conseguiu manuseá-lo sem a ajuda da sua assistente.

— Hum, até que não é tão ruim assim.

— Não, é muito bom. Eu comia direto com meus amigos nos Estados Unidos, e minha mãe vivia dizendo você tem que comer alguma coisa que dê sangue, isso não alimenta. — Ela imitava a mãe fazendo Estêvão rir.

— Ela tá certa. – Uma pausa foi feita entre um assunto e outro, e logo Estêvão retomou a conversa. – Você gosta muito dela, né.

— Sim. Apesar das constantes brigas eu a amo demais. Acho que a gente briga muito porque somos muito parecidas, e ela vive dizendo que a mãe dela dizia que dois bicudos não se beijam, e deve ser verdade, mas ainda assim, ela é tudo pra mim, e eu faria tudo pra vê-la feliz. – Seus olhos reluziam quando falava da mãe, e ele a admirava ainda mais por isso.

— É normal, todo relacionamento tem brigas, se não, que graça teria.

O homem gesticulava tanto ao falar, que acabou derrubando comida no seu paletó, fazendo uma enorme mancha. Pelo visto ele não estava tão familiarizado com o hashi assim.

— Meu Deus, olha besteira que eu fiz! – Ele ria tentando se limpar.

— Calma aí que você tá fazendo mais lambança ainda. – Ela se divertia com a situação, enquanto tentava limpar a roupa de Estêvão com um guardanapo.

— Deixa Giovana – ele se levantou e foi até o centro da sala – eu vou mandar pra lavanderia, é o melhor que eu faço. – Ele tirou seu paletó, ficando apenas com uma camiseta branca de mangas que estava por baixo.

— Você fica melhor assim, sem o terno – o olhava ainda sentada na sua mesa – deveria trabalhar assim.

— São regras trabalhar de terno. – Colocou a peça de roupa num cabideiro que havia ali.

— Mas você é o dono.

— Foi uma regra criada pelo meu pai, e é um modo de mantê-lo vivo. – Ele voltou para sua mesa e se assentou ao lado da menina.

— Eu entendo.

...

O dia já estava no fim, e todos seguiam em casa.

Maria se encontrava eu seus aposentos sozinha, quando Giovana apareceu com a cabeça na porta chamando a atenção da mãe.

— Vem, senta aqui.

A menina entrou correndo e se jogou na cama do lado da mãe.

— O que tá te incomodando? – Perguntou fechando seu computador.

— Na verdade não é um incômodo, é algo que eu queria te perguntar.

— Sou todo ouvido.

— Você acha errado eu me apaixonar por um cara mais velho? – Indagou com um olhar sereno, sincera.

— Não filha. Desde que o cara goste de você, te respeite e acima de tudo seja solteiro, não vejo o menor problema. Quem é? E alguns da empresa? Eu o conheço? – Perguntou animada.

— Calma mãe, por Deus! Daqui a pouco vai querer que eu o chame aqui pra apresentá-lo. – As duas riam. – Ele não sabe que eu gosto dele, mas não vai demorar pra saber.

— Bom, eu apoio desde que estejam dentro dos padrões, e conhecendo bem você, sei que você ama burlar esses padrões. – A mãe lhe dera um sermão.

— Ah mãe, não viaja vai.

...

O dia amanheceu mais cedo, e fazia um dia lindo lá fora. O sol brilhava sem dar espaços para nuvens, ele tinha o céu só para si. Com o sol a todo vapor, a temperatura subia rapidamente no decorrer das horas, e nada melhor do que uma praia, ou piscina.

— Eu vou almoçar fora com o pai de vocês, conseguem se virar? – A mãe preocupada perguntou, toda arrumada.

— Minha mãe insiste em achar que somos crianças. – Giovana revirou os olhos.

— Bom, o Henrique me chamou pra curtir uma piscininha na casa dele. – A gêmea doce respondeu bem humorada, e deixou sua irmã atenta.

— Tudo bem, estou indo que o pai de vocês está me esperando, não aprontem! – Ela deixou um beijo no cabelo das duas e saiu.

— Juliana, eu vou com você! – Ela saiu do sofá num pulo, e seguiu a irmã pela escada.

— Pra quê você quer ir? Pra dar outra mancada como no dia do almoço? – Ela parou no meio da escada para fita-la.

— As coisas mudaram, agora eu sou funcionária assídua do Estêvão, então não tenho por que ficar de dando satisfação, eu vou e pronto.

...

Os três estavam na areia piscina. Giovana estava meio destacado dos demais, e eles nem se deram conta que tinham a deixado de lado, mas ela não se importou de ficar sozinha enquanto ficavam de namorico, ela apenas se deitou na cadeira, e ficou a tomar sol, e se bronzear.

Algum tempo se passou desde que chegara e nada tinha mudado. A atenção de Henrique era toda para Juliana, e Giovana aquém de toda a situação. De início a jovem não se importara muito, mas com o decorrer do tempo, começara a sentir-se entediada.

Entendiada até a página dois. A porta que ligava a piscina a casa era de vidro, e ao olhar para dentro, a menina logo avistou Estêvão vestido de forma informal, diferente do que estava acostumada a ver. Logo seus ânimos foram despertados, e ela foi ao seu encontro sem que os outros dois se dessem conta.

— Oi Giovana – ele notara que sua expressão não era das melhores – aconteceu alguma coisa?

— Eu não tô me sentindo bem Estêvão, tô meio tonta. – Ela se aproximou tanto dele, que, inevitavelmente, ele a segurou em seus braços.

— Você tá meio quente, deve ter ficado muito tempo no sol. Quer que eu te leve em casa? – Ela confirmou com a cabeça. – Eu te ajudo a se vestir, e te levo. Vem.

Os dois logo chegaram à outra casa, e a pedido da moça, ele ficou fazendo companhia a ela em seu quarto. Giovana se deitou em sua cama, e aproveitando que ele estava sentado na mesma, fez seu colo de travesseiro. Estêvão ficou incomodado com a situação, mas ficara ainda mais constrangido em retirá-la dali.

— Fica aqui comigo Estêvão, eu não quero ficar sozinha. – Choramingava.

— Calma, eu tô aqui, e não vou te deixar sozinha.

Carinhosamente, com um carinho de pai, ele começou a coçar seus cabelos. Ele não tinha nenhuma outra intenção, apenas se imaginava como se ela fosse sua filha, em contrapartida, Giovana se aproveitava ao máximo de tudo aquilo, e achava que estava a cada dia mais perto de conquistar o seu coração. Diante do cafuné, a moça acabou não resistindo e pegou no sono, e bem na hora que ele ia se retirar, Maria apareceu.

— Posso saber o que você tá fazendo aqui? – O pegou saindo do quarto da filha.

— Calma – disse em voz baixa, e fechou a porta do quarto ao sair – não é nada disso que você tá pensando.

Os dois foram para o andar de baixo e enquanto seguiam, Estêvão fora explicando toda a situação para Maria, que acreditara em todas suas palavras.

— Quer beber alguma coisa? – Perguntou simpática, Estêvão a encarou sem entender sua reação. – Você ajudou minha filha, ganhou pontos comigo. – Explicou.

— Um suco está ótimo.

A dona da casa convidou a visita para sentar-se ao seu lado no sofá da sala de estar enquanto esperavam pelo suco. Não demorou e a empregada trouxera dois copos de suco bem gelado, o dia pedia.

— Há quanto tempo não ficamos assim, a sós, conversando civilizadamente.

— Pois é. Mas não é culpa minha as coisas terem acontecido como aconteceram. – O acusou sem a mínima compaixão.

— Se você soubesse o quanto eu me arrependo de tudo Maria. – Ele se achegou para mais perto dela.

— Arrependimentos não mudam o passado Estêvão. – Disse com pesar.

— Se você soubesse o quanto eu sofri Maria.

— Você não sofreu mais que eu. – Nos seus olhos brigavam alguns resquícios de lágrimas.

— Me perdoa Maria – segurou sua mão que repousara no sofá – eu nunca vou ser um homem feliz se você não me disser que me perdoa.

— Você me destruiu, sabia?

— Eu sei, sei de todo o mal que te causei, eu mesmo não me perdôo por isso. Eu vejo você aqui, sua família, suas filhas lindas e morro de inveja do Cláudio, era pra ser eu no lugar dele, eu tinha que poder te tocar, te beijar quando eu quisesse, não ele, mas eu mesmo acabei com a chance que eu tive de te ter.

— Ainda bem que você sabe que foi o único que acabou com o nosso possível futuro juntos.

— Eu queria poder voltar atrás e reparar o erro que eu cometi. – Ele se calou e fitou seus pés no chão. Seu rosto ardia sentindo Maria encara-lo. – Eu não suporto te ver com ele. – A olhou depois de algum tempo em silêncio. – Você não devia ter se casado com ele, Maria.

— Você não tem direito de julgar minhas decisões, você não me deixou outra escolha.

— Você tá me dizendo que não se casou com Cláudio por amor?

— A princípio não, eu te amava de verdade, Estêvão. Mas Cláudio me mostrou que merecia muito mais meu amor que você, aliás, qualquer pessoa, por mais detestável que fosse, me merecia mais que você.

— Eu mereço qualquer palavra dura que vier de você, é o mínimo. Eu só queria poder algum dia deitar minha cabeça tranquila no travesseiro, sabendo que eu tenho o seu perdão.

— Estêvão... – Ela respirou fundo e secou algumas lágrimas que caiam. – É melhor você ir embora – se levantou e ficou de costas para ele – não vai adiantar nada ficarmos remoendo coisas do passado.

Estêvão se levantou e ameaçou toca-la, mas respeitou seu pedido e foi embora.

Maria correu para o seu quarto e chorou, chorou tanto a ponto de soluçar. Sua razão dizia que ela deveria se afastar de Estêvão, porém sua emoção o queria por perto. Sua razão dizia a todo instante que ele só merecia dela sua aversão; seu coração dizia que ela deveria reconsiderar, e deixar florescer o sentimento que ainda estava ali dentro. Será que depois de tanto tempo, depois de guardar tanto rancor por ele, de apaixonara novamente por ele? Ou o sentimento nunca deixara de existir?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Encantos & Desencontros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.