Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 6
Capítulo 6




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“Somente, somente

Um minuto foi suficiente

Pra te querer

Com um só segundo

Nos demos conta que era pra sempre

Não posso esconder, não posso evitar

Estar ao seu lado, me faz sentir diferente.”

Río Roma – Tan Solo Um Minuto

****

Giovana havia feito o que sua mãe lhe pedira e se retratara com a irmã, agora só faltava Estêvão, e ela estava mais do que disposta a se desculpar com ele.

Já acertada com a irmã, as duas resolveram ir até a mansão dos San Roman, para jogar conversa fora, para um bate papo informal, a convite de Henrique. Ao chegarem, o moço já as esperava com uma bandeja recheada de besteiras cheia de calorias, sucos e refrigerantes, coisas que jovens amam.

No decorrer da conversa, Henrique e Juliana foram ficando mais próximos e deixando, sem querer da parte de ambos, Giovana um pouco de lado, mas a garota pouco se importou, tinha outro assunto para tratar.

Ao notar que já não chamava atenção de nenhum dos dois, ela saiu discretamente do meio deles indo até o escritório, onde estava Estêvão. Giovana deu duas batidas na porta, e logo a abriu, encontrando-o concentrado folheando alguns papéis.

— Ah, oi... – Ele a olhou por cima dos óculos, mas tinha uma fisionomia incerta, pois não sabia quem estava a sua frente.

— Giovana. – Ela respondeu sorrindo.

— Entra Giovana – ela entrou fechando a porta, e avançou alguns passos, mas permanecera de pé – me desculpe, eu ainda não consigo distinguir quem é quem, vocês duas são muito parecidas.

— Não precisa se desculpar, tenho certeza que não vai demorar muito, e logo você vai saber muito bem que eu sou Giovana. – Sorriu.

— Bom – ele tirou seus óculos e o colocou sobre a mesa – no que posso ser útil? – Perguntou de forma gentil. A essa altura, possivelmente, já tinha se esquecido do ocorrido de mais cedo.

— Eu vim desculpar pelo modo que eu agi mais cedo – ela deu mais alguns passos, e repousou suas mãos na cadeira – eu não quero que você pense que a relação com a minha irmã se resuma ao que você presenciou, ou ache que eu sou uma garota fútil.

— Não precisa se desculpar. Todos os irmãos brigam não é? Eu brigava muito com a minha, e tenho certeza que você também com a sua, só muda de endereço. Não se precisa se preocupar com isso, e já nem me lembrava mais.

Estêvão lhe sorriu cordial, dando a entender que o assunto já estava terminando, mas notando que a menina nem se mexera, achou que ela ainda tivesse algo a dizer.

— Mais alguma coisa? – Perguntou incerto.

— Não, sobre esse assunto não tenho mais nada a dizer! – Respondeu de pronto.

— E então, por que essa cara de quem quer algo mais?

— Na verdade, queria mesmo. Por que você não deixa esses papéis aí, e vem ficar com a gente na sala?

— Ora – ele riu – eu não posso me dar esse luxo. Tenho muita coisa pra resolver e você sabe que seu pai é bastante exigente.

— Sim, eu sei. – Ela saiu de onde estava, e foi caminhando até ele, e parou atrás da sua cadeira, com as mãos no seu ombro. – Mas você parece muito tenso – começou a massagea-lo – com certeza é pelo excesso de trabalho. Você não deve se cobrar tanto, Estêvão. – Sua voz abaixara no tom, e ficara um pouco manhosa.

— Você é boa nisso. – Estêvão recebia de bom grado a massagem feita pelas mãos leves e delicadas da menina.

— Eu sou boa em muitas coisas Estêvão, basta que você me dê a chance de mostrar. – Afirmou com um sorriso cínico mordendo seu lábio inferior.

Giovana seguia tateando o largo dorso de Estêvão, que deliciava com o toque preciso dela. Talvez ela estivesse certa, talvez ele realmente estivesse precisando relaxar, e ela surgira do céu como um santo remédio.

— Tá gostando? – Perguntou na ponta do seu ouvido.

— Você é ótima!

Ela estava indo bem no que planejara, só não contava com a chegada inesperada da tia no cômodo.

— Posso saber o que está acontecendo aqui?! – Fabíola berrou assim que entrou, dando de cara com a cena, encerrando a sessão de massagem.

— Não tá acontecendo nada demais Fabíola, eu só estava ajudando o Estêvão a relaxar, ele anda muito tenso, não sei se já reparou. – Ela disse no auge do seu deboche. – Bom, já terminei por aqui, vou fazer companhia para os outro. Até mais. – Antes de se retirar, deixou um leve acenar de mãos, deixando sua tia ainda mais irritada.

— Eu não confio nessa garota! – Falou baixo, mas de forma dura.

— Posso saber em quem você confia? – Ignorando a neurótica esposa, ele repôs seus óculos e voltou sua atenção aos papéis.

— Eu tô falando sério Estêvão. Essa garota tem cara de que não vale um centavo. Você abre bem o olho com ela, hein.

— Pelo amor de Deus Fabíola! – Espalmou a mesa furioso. – Eu devo ser a oitava maravilha do mundo, né? Pra você achar que todo mundo está interessado em mim, só pode! Ah, por Deus, a garota é sua sobrinha, não seja tão podre!

— O fato de ela ser minha sobrinha, não a impede de ser uma dissimulada, sem pudor. Essa aí deve ser igualzinha à mãe.

— Sorte a dela se for, pois a mãe é uma mulher de causar inveja em qualquer um. – Ele fora sincero, mas acabou falando o que não devia.

— Ah é Estêvão? – Fabíola só faltava lhe fulminar com os olhos

— Espera Fabíola, não me interprete mal, eu não quis dizer isso.

— Mas disse, Estêvão. E pro seu governo, eu não sinto a menor inveja dela, você está muito equivocado no seu pensamento. Ela não é tudo isso que você diz.

— Por favor, Fabíola, não vamos brigar de novo, pelo mesmo motivo, isso tá ficando cansativo.

— E que culpa eu tenho se meu marido não para de pensar na vizinha?

— Eu não vou ficar aturando seus chiliques. Por favor, me deixe sozinho.

— Mas Estêvão...

— Fabíola, por favor! – Falou um pouco mais alto.

Fabíola não disse mais nada, apenas saiu deixando seu marido a sós.

...

Já era outro dia, e após a saída dos pais, Giovana já estava certa de que colocaria seu plano em prática.

— Aonde você vai? – Juliana Perguntou assim que viu a irmã arrumada.

— Vou procurar um emprego. – Respondeu convencida.

— Ah tá, se eu acreditar nisso, também acredito em papai Noel. Conta outra Giovana.

— Eu tô falando muito sério. Vocês vivem dizendo que eu sou superficial, vou provar o contrário pra vocês.

— Tá bom, Giovana. – Juliana já não lhe dava mais atenção. – Só não vou ficar te consolando quando você voltar chorando, tá.

— Ah garota, deixa de ser ridícula!

A menina saiu dali marchando por sua irmã não lhe dar confiança, em contrapartida, Juliana ficara rindo da irmã, imaginando a cena que seria Giovana pedindo um emprego por aí.

...

O táxi parara em frente à empresa San Roman, o destino de Giovana, um prédio alto e com pinta de importante. A moça entrou e após descobrir onde e em qual andar ficava a sala do dono da empresa, se derigiu até ela. Ela logo encontrou a sala, e se ajeitando um pouco, entrou.

— Bom dia Estêvão! – O saudou num sorriso convidativo.

— Giovana? – Estranhou a presença dela ali.

— Tô vendo que já me conhece.

— É, dá pra diferenciar pelo corte de cabelo. – A sala do seu pai é no outro corredor, quer que eu a acompanhe?

— Não, não! Eu não vim falar com meu pai, eu vim falar com você.

— Comigo? O que você tem pra falar comigo?

— Na verdade é um pedido. Eu queria pedir que você me desse um emprego aqui. – Lhe mostrou todos os dentes.

— C-como assim? Emprego?

— Sim. – Respondeu simples.

— O que uma garota como você vai querer fazer aqui? Num lugar cheio de homens?

— Eu posso fazer qualquer coisa! E sempre precisam de um toque feminino.

— E por que você não pede para o seu pai?

— Porque ele vai querer passar pano nas coisas errada que eu fizer, e você não, você não vai me acobertar, pelo contrário, vai me corrigir. – Juntou as mãos em preces. – Por favor, por favorzinho Estêvão.

Estêvão saiu de sua cadeira, e respirando fundo, analisou a menina, e por rápidos segundos, pensou nos prós e contras de tê-la ali, e chegou a uma conclusão:

— Tudo bem – soltou seu ar preso – eu te contrato como minha assistente.

— Ai Estêvão obrigada! – Ela pulou em seu pescoço, abraçando-o, e gritando faceira. – Obrigada! Obrigada mesmo! – Ela se soltou, e descendo sua mão pelo seu peitoral, repousou suas mãos sobre o mesmo. – Você não vai se arrepender, eu juro. – Lhe sorriu pícara.

— Eu espero que não. – Ele retirou suas mãos de sobre ele, mas ainda as segurou com carinho. – Mas eu preciso falar com seus pais, especialmente com a sua mãe, você sabe que ela não – hesitou – não vai muito com a minha cara.

— Tudo bem. Acho justo.

— Bom – ele soltou suas mãos e voltou para sua mesa – qual o melhor dia pra você começar?

— Agora mesmo! – Exclamou com veemência.

— Mas agora?

— Sim, aposto que tem alguma coisa pra eu fazer. Pode dizer.

— Ok. Hum – colocou a mão no queixo pensando – leva esses papéis lá no andar de cima, estão esperando por ele – entregou uns papéis a ela – e, você sabe mexer no computador, certo?

— Uhum. – A moça balançava a cabeça para cima e para baixo ostensivamente.

— Então, depois que você subir com os papéis, quero que envie uns emails pra mim, confirmando algumas reuniões, e coisas do tipo. Preparada? – Ela confirmou. – Então, seja bem vinda as empresas San Roman!

...

A noite logo chegara, e Maria também. Ao entrar em casa, viu somente uma das filhas, e logo estranhou a ausência da outra, e mais ainda o silêncio que percorria toda a mansão.

— Oi meu amor – beijou o cabelo da filha que estava sentada no sofá estudando algumas coisas – cadê sua irmã?

— Oi mãe – a olhou, mas logo voltou-se para o notebook – ela saiu de manhã dizendo que ia procurar emprego e ainda não voltou.

— O quê?! Como assim procurar emprego? – Num instante a calma de Maria fora embora dando lugar a normal preocupação de mãe. – Por que você não me avisou assim que ela saiu? E por que você não ligou pra ela? – Desesperada, ela começou a andar de um lado para o outro.

— Mãe – a menina deixou o computador do seu lado no sofá, e começou calmamente: – a Giovana é maior de idade, e eu não sou babá dela – ela fora até a mãe e segurou seu ombro – relaxa, não aconteceu nada de mais com ela, você sabe que notícia ruim chega rápido.

— E se ela tiver se perdido, ou foi sequestrada, ela não conhece nada aqui, ela pode tá correndo perigo! – Maria desabou no sofá a chorar.

— Ninguém em sã consciência a sequestraria, e se sequestrasse iria pagar pra devolver. – A menina revirou os olhos e se sentou ao lado da mãe, consolando-a.

Mãe e filha tentaram ligar para Giovana, em vão, seu celular estava desligado. Maria estava que era só nervosismo. Depois de muitas respiradas funda de Juliana, e muita água com açúcar para Maria, a filha chegara sorridente ao lado do pai.

— Posso saber onde a senhorita estava? E por que não atende essa droga de celular? – Maria se levantou bastante alterada.

— Calma mãe – a menina que estava de braços dados com o pai, era só sorrisos – eu estava trabalhando, por isso meu celular estava desligado e eu acabei me esquecendo de ligar ao sair.

Juliana olhou a irmã com os olhos esbugalhados sem acreditar que realmente a irmã conseguira um trabalho.

— Que história é essa de trabalho? E você sabia Cláudio?

— Vocês estão olhando pra nova assistente do Estêvão San Roman! – Disse cheia de orgulho de si mesma.

Maria quase caiu para trás quando a filha contara a novidade. O ar irado que estava presente em toda ela desapareceu dando lugar a uma Maria inerte e sem reação.

— Me fala que é só mais uma de suas brincadeiras, Giovana. – A mãe sentou-se no sofá fitando a filha alegre.

— Quem disse que eu tô brincando mãe, eu tô falando muito sério.

— Cláudio, você tá compactuando com isso?

— Qual o problema Maria, é um trabalho honesto como qualquer outro. – Ele se acomodou ao seu lado, e ela, bruscamente, saiu, mostrando toda sua insatisfação a comodidade do marido em relação ao tal trabalho.

— Não, não tem problema algum – foi sarcástica – eu que sou louca! Tento lugar Giovana, por que logo lá? – Olhou a filha, que permanecia de pé. – Por que com ele? – Abaixou sua voz. – Por que não com seu pai?

— Ah mãe, meu pai ia agir como se eu fosse café com leite, ele não, ele não vai me tratar melhor do que os outros.

Maria tinha mil e uma palavras para dizer, porém decidiu calar-se, e sair de cena, assentindo aquilo, mesmo contra sua vontade.

...

O café da manhã no dia seguinte seguia animado, menos por Maria, que mantinha a cara amarrada.

— Não sei que tanto ânimo é esse, é apenas um trabalho bobo. – Maria disse inconsequente.

— É, pode até ser, só não entendo essa sua reação, tá com medo de alguma coisa, mãe?

Giovana jogou as palavras contra sua mãe, que a encarava com certa irritação e frustração.

...

Ao chegar do trabalho, Maria se isolou no seu quarto, para não ter que encarar a cara de satisfação da filha por estar trabalhando. Maria não tinha certeza se o desejo de Giovana era somente profissional, ou tinha algo mais encoberto. Ela conhecia muito bem a filha, e sabia que era obstinada a conseguir o que queria, e isso era o que mais lhe preocupava.

— Senhora Maria – uma empregada apareceu na porta, assim que Maria dera autorização para que ela entrasse – o senhor Estêvão está lá embaixo.

— O Cláudio está no escritório. – Ela mal olhou a moça ali parada.

— Ele disse que queria falar com a senhora.

Um V se formou entre as sobrancelhas dela. O que Estêvão iria querer com ela? Sem meio mais, ela se vestiu devidamente e foi saber o que distinto senhor tinha de tão importante para falar-lhe, a ponto de ir até sua casa.

— Pois não – disse ainda descendo as escadas – no que posso ajudá-lo? – Ela era toda formalidade.

— Temos um assunto pendente. – Estêvão, que estava sentado, se levantou quando a ouviu.

— Eu não tenho assunto nenhum pendente com você – riu – acho que você tá me confundindo. – Ela terminou os degraus e chegou até onde ele estava. Ambos ficaram de pé.

— Creio que Giovana seja um assunto importante pra você. – Ela assentiu. – Quero que saiba que ela me pediu o emprego, e eu só aceitei dá-lo a ela pela sua insistência, pois não quero problemas com você.

— Pensou certo, só acabou cedendo. Enfim, o que está feito, está feito, só quero que saiba que pra defender minhas filhas, eu viro bicho, então trate de não se meter com ela. – Ameaçou.

— Pode ficar tranquila – soergueu as mãos se rendendo – sua filha estará segura trabalhando comigo.

— Ótimo. Bom, será que pode se retirar agora? – Ela deu uma olhada de leve para o celular. – Eu tenho uma ligação importante pra atender.

— Do seu amante?

— Isso não lhe diz respeito. Vem, eu te acompanho até a porta.

Maria passou a frente e Estêvão a seguiu. Como a casa era nova, e ela ainda não tinha se acostumado com algumas pequenas graduações pela casa, a bela mulher pisou em falso e se desequilibrou, e só não foi ao chão porque Estêvão estava atento e a segurou nos seus braços.

— Ironia ou destino você está nos meus braços agora? – Perguntou com um sorriso pícaro. Seus corpos estavam tentadoramente colados.

— Foi apenas um acaso. – Mais uma vez, Maria se via refém da sorte.

— Eu queria muito te beijar nesse exato momento...

— Estêvão! – Ela o interrompeu.

— Mas vou reprimir minha vontade em respeito a sua casa, mas quero que saiba que não vai demorar muito, e vou matar essa vontade de sentir de novo o gosto dos seus lábios.

Delicadamente, ele a soltou e, num último olhar, se retirou da mansão, deixando Maria desnorteada.


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