Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784652/chapter/5

“Hoje eu tive medo de acordar de um sonho lindo
Garantir, reter, guardar essa esperança
Ando em paraísos, descaminhos, precipícios
Ao seu lado eu vejo que ainda sou uma criança.”

Jorge Vercillo – Sensível Demais

****

A respiração dela era ofegante, e alguns segundos depois de terem se separado, algo fez Maria voltar a si, e então lembrar-se o quanto odiava Estêvão.

— Você ficou louco! – Gritou pegando um roupão e vestindo-se. – Como teve a audácia de fazer isso?

— Eu? Audacioso? Você gostou Maria, gostou não, você adorou o beijo!

— Não seja presunçoso!

— Eu não estou sendo presunçoso, em nenhum momento você se opôs. – Ele disse rindo, gostando da situação.

— É que você me deixa maluca! Argh, como eu te odeio Estêvão San Roman! Você é louco, acaso se esqueceu que eu sou casada?

— Ah Maria, não se faça de boa moça. Eu sei muito bem do seu caso extraconjugal, não seria a primeira vez que você trai seu esposo. – Acusou sem a menor piedade.

— Você é patético. – Riu balançando a cabeça de um lado ao outro. – Agora sai e me deixa em paz! Já teve o que queria não é? Agora vê se me esquece! – Ela gritava, mas não muito alto para que os funcionários não a escutasse.

— Ok, eu vou, mas uma última coisa: – ele se aproximou um pouco mais dela e segurou seu queixo com doçura, e a olhou pícaro – amei ter matado a saudade dessa forma. – Ele sorriu travesso.

— Sai!

Maria pegou uma roupa qualquer que estava jogada pelo chão para atirando nele, e antes que o acertasse, ele saiu rindo vitorioso.

...

Maria ainda ficou no cômodo por alguns minutos tentando entender o que se passara ali.

Sua mente estava atordoada, a única coisa que não esperava era ser beijada, não por aquele homem, o homem a qual entregara a si por inteiro, mas o mesmo tomara tudo de si. Maria sentia-se a própria fraqueza, desprezava a si mesmo por não ter sido tão forte e acabara sucumbindo à vontade de estar nos braços desse mesmo homem. Mas seria a última vez, jurara para si.

Contara até cem antes de voltar aos seus afazeres, não podia dar pinta e iniciar um burburio, afinal, a última coisa que precisaria era ter seu nome metido em fofocas.

— Minha deusa master! – Jacques se encontrou com Maria no caminho de sua sala, piruetando como sempre, segurou-a pelo braço, rodopiando-a. Maria ria.

— Jacques, faz um favor pra mim?

— Não só um, como dois, ou melhor, todos os que você quiser! – Ele ofereceu o braço e ela de pronto aceitou.

— Leva um copo d'água e dois analgésicos pra mim, na minha sala? Estou com uma dor de cabeça infernal.

— Claro, minha diva, em menos de cinco minutos eu apareço lá.

Maria seguiu sozinha para sua sala enquanto aguardava por Jacques, que por sua vez, cumprira o que havia dito e trouxara com rapidez o que Maria lhe pedira.

— Obrigada Jacques. – Num movimento só, ela enfiou os dois comprimidos na boca e os engoliu com a ajuda da água.

— Posso saber o motivo dessa dor de cabeça? Sim, porque há pouco menos de uma hora você estava muito bem. – Ele coçava seu queixo com os olhos semicerrados.

— Meus problemas têm nome e sobrenome.

— Estêvão San Roman?

— Como você sabe? – Arregalou os olhos surpresa.

— Bom, eu o vi saindo da sala onde você estava, e tava com um sorriso que eu nunca vi. Me diz vai – ele foi correndo, saltitante e se acomodou na sua mesa – o que foi que aconteceu.

— Não aconteceu nada! – Se levantou um pouco alterada e rodeou a mesa. – Eu só não suporto olhar pra cara daquele sujeitinho!

— Nossa Maria, quanto ódio nesse coraçãozinho – ele acompanhava seu andar pela sala girando na cadeira – mas admite, ele pode ser o homem mais tosco do mundo, mas o cretino é um gato, não é?

— Não é pra tanto Jacques.

— Ah é sim! – Ele foi até ela, e ficando na sua retaguarda, cochichou no seu ouvido. – E aposto que você também acha, só não quer admitir porque não gosta dele. – Maria revirou os olhos com o comentário, e ele saiu da sua cola e se recostou na mesa, ainda a olhando. – Sabe de uma coisa, se ele não fosse marido da minha amiga, eu com certeza daria em cima dele, mas como dizem, marido de amiga minha pra mim é mulher. – Sua voz tinha um irônico pesar.

— Ah Jacques, só você mesmo pra me fazer rir. – Ela voltou para sua mesa, rindo dele de forma discreta.

...

Mais tarde no mesmo dia, as coisas fluíam naturalmente, na mesma correria de todos os dias.

Maria seguia frenética com os preparativos para a próxima coleção de verão. Eram muitos papéis para revisar, muitos modelos para aprovar e desaprovar, muitas coisas para criar. Era seu primeiro evento de grande porte no Brasil, e queria dar o máximo de si, para que tudo ficasse perfeito, e para que isso acontecesse, ela exigia muito esforço de si mesma.

— Tá aqui os papéis que você me pediu.

Fabíola entrara de supetão em sua sala, e jogara em sua mesa alguns papéis, dando um susto na irmã, que não gostara nada de sua atitude, mas ela não estava ligando muito para o que Maria estava a pensar a seu respeito.

— Vem cá – a olhou com uma cara não muito boa – você acha que, por ser minha irmã pode sair entrando sem bater?

— Sim. – Deu se ombros sem se importar com a sua irritação.

— Ah é? Eu espero que essa seja a última vez que você entra sem bater, pois da próxima vez eu não respondo pelos meus atos! – Disse a ela num tom mais alto que o normal, mas se perder a compostura.

— Nossa, minha irmãzinha está estressada? – Debochou. – Será que posso saber o motivo, ou não sou digna?

— Pergunte ao seu esposo, ele sabe o motivo. – Ela fora toda sarcasmo fazendo a fisionomia de Fabíola mudar da água para o vinho.

— O Estêvão? Ele esteve aqui?

— Sim, pelo tô sabendo veio trazer alguma coisa pra você. – Respondeu analisando os papéis que trouxera sem dar muito mais atenção a ela.

— E o que foi que ele fez pra te irritar tanto?

— Eu já disse: pergunte a ele. Agora, por favor, eu tenho que terminar umas coisas. Com licença.

Fabíola saiu da sala da irmã, mesmo querendo ficar e tirar todas as informações sobre a visita do marido, boa coisa não era, para deixar Maria em cólera.

Ansiosa para se encontrar com o marido, Fabíola saiu do trabalho às pressas naquele dia, assim que terminara seu horário de trabalho, sem ao menos de despedir de Jacques, que ficara enraivecido com a atitude da amiga.

Quando colocou os pés em casa, falou com o filho entre os dentes e foi correndo para o escritório, pois sabia que encontraria o marido ali. Dito e feito, lá ele estava.

— O que aconteceu entre você e Maria hoje na casa de modas? – Perguntou sem rodeios, deixando o marido abismado.

— Boa noite pra você também né Fabíola – tirou os óculos e deixou o mesmo sobre a mesa – sobre o que nós estamos falando mesmo?

— Maria estava insuportável no trabalho, e disse que a culpa era sua. O que você fez?

— Ela disse alguma coisa? – Perguntou apreensivo, com medo do que Maria possa ter dito.

— Não, só disse que vocês se encontraram, e por isso estava estressada. O que houve, hein?

—Nada de mais Fabíola – respirou aliviado – ou você não sabe que todas as vezes que nós nos encontramos vai ser assim? Sua irmã não me suporta, se lembra? – Desconversou.

— Tá, vou acreditar, mas eu tô de olho em você, pois tenho certeza que você só tá esperando uma oportunidade pra se aproximar dela.

Fabíola o deixou, mas antes fez questão de mostrar toda sua fúria batendo a porta.

Estêvão interrompeu seu trabalho por um instante, e trouxe lembranças recentes a sua mente. Ainda não acreditara que a teve em seus braços, mesmo que por alguns poucos minutos, sentir seu calor, o sabor doce de sua boca que não mudara com o decorrer do tempo, poder ouvir suas batidas aceleradas e saber que ele era o causador, era inebriante demais para ele, e o melhor, ainda tinha o prazer de sentir o seu cheiro na sua roupa. Com toda a certeza, ela estaria em seus melhores sonhos dali por diante.

...

Depois de um dia corrido, finalmente Maria estava a sós consigo mesmo, e então pudera refletir sobre os acontecimentos de um dia tão atípico. Seus sentimentos estavam expostos, ela estava se sentindo tão vulnerável, tão frágil, e por mais que não quisesse, aquelas imagens não paravam de torturá-la, e ainda sentia o toque de Estêvão, seus beijos quentes, e sua consciência não parava de acusá-la.

Enquanto a água caía sobre seu corpo, sua mente vagava em um universo que até então, ela tinha esquecido, mas voltara à tona. Por um momento, sentia um imenso prazer naquilo tudo, porém em sua maior parte, se sentia imensamente culpada, não somente por tê-lo beijado, mas por ter gostado de cada segundo.

— Oi. – Cláudio disse assim que ela saiu do banheiro vestida por um roupão. – Tudo bem? – Foi ela com selinho, ela não se negou.

— Tudo, só tô um pouco cansada do trabalho.

— Entendo bem. Ainda está chateada comigo?

— Não. Esquece isso tá. – Ela acariciou o seu rosto barbudo com um sorriso simples.

...

A manhã do dia seguinte passara rápido, e já era hora do almoço. Estêvão decidira almoçar em casa, na companhia do filho, mas ao passar pela casa dos novos vizinhos, encontrara o filho sentado na calçada da casa acompanhado de uma das gêmeas.

— E então – buzinou – nosso almoço tá de pé?

— Claro pai!

— Tá convidada também moça!

— Será que posso chamar minha irmã?

— Com certeza!

Estêvão seguiu para a sua casa enquanto esperava os três jovens chegarem.

Os quatro já estavam à mesa, almoçando numa conversa animada.

— Então quer dizer que você gosta de moda, como sua mãe. – Estêvão perguntou. Estava à vontade na presença dos três.

— Sim. – Juliana respondeu. – Meu sonho é um dia ser um pouco do que minha mãe é hoje. – Seus olhos brilhavam ao falar da mãe.

— Poderia seguir a carreira de modelo. A beleza já tem. – Henrique comentou com um sorriso maroto.

Juliana era o centro das atenções, todas as perguntas eram para ela, todas as opiniões eram pedidas a ela, e Giovana não estava gostando nada disso, pois ela gostava e queria que todas as atenções fossem voltadas para ela. Diante da situação, Giovana acabou por jogar suco na irmã, acabando com seus quinze minutos de fama.

— Giovana, olha o que você fez!

— Desculpa irmãzinha, foi sem querer. – Ela sorria cínica.

— Claro que foi por querer! Você me sujou toda!

— Vem – Henrique lhe pegou pela mão – vamos até a cozinha tentar limpar isso antes que manche sua blusa.

Os dois saíram de mãos dadas, deixando Estêvão e Giovana sozinhos.

— Por que você fez isso? – Ele perguntou um tanto irado.

— Foi sem querer, já não falei. – Respondeu cética.

— Eu vi, e sei que não foi sem querer. Por que você fez isso? – Insistiu.

— Ah, quer mesmo saber? – Jogou o guardanapo em cima da mesa. – Eu não gostei que vocês estivessem dando a atenção pra minha irmã, foi isso. Satisfeito?

— Ah menina, aposto que sua mãe não vai gostar nada disso!

— O quê?!

Antes mesmo que Giovana pudesse se dar conta, Estêvão a puxou pelo braço, e foi indo em direção à saída da casa. Ela o acompanhava porque não tinha forças o suficiente para soltar-se dele, mas ia reclamando em todo o caminho.

— Você é uma garota muito mimada, sabia? – Ele já estavam nas ruas do condomínio a caminho da casa da menina. O olhar raivoso já não fazia mais parte do semblante dela, dando lugar a olhar descarado.

— Se você continuar me segurando assim, eu posso acabar gostando. – A menina mordeu seu lábio inferior, mostrando estar gostando da situação, em contrapartida, Estêvão ignorou seu comentário.

Ao chegar a casa, ele fora direto para o escritório, sabia que Maria estava em casa, e pensara que ela poderia estar ali, e conhecendo bem a casa, não fora difícil ir ao seu encontro. Giovana permanecera na sala, alheia a situação.

— Mas o que significa isso? – Maria se assustou e passou ao ver o homem, praticamente, arrombando a porta para entrar.

— Você não deu educação as suas filhas não, né?

— Quem é você pra dizer como eu devo educar minhas filhas?

— Não sou ninguém, mas também não sou obrigado a aturar tamanha criancisse na minha casa.

Estêvão pôs-se a explicar o acontecido para a mulher a sua frente. Maria não surpreendera tanto, conhecia a filha que tinha, mas não gostara nada de saber que sua filha estava aprontando, pois viver em pé de guerra com a irmã dentro de casa era uma coisa, mas não iria tolerar esse tipo de postura fora de casa, e menos ainda ter atenção chamada por Estêvão.

— Obrigada por me alertar, eu vou tomar as devidas providências. Agora pode se retirar.

— Tudo bem. – Ele não saiu, mas ainda ficou a olhá-la.

Maria percebera seus olhares, e por um momento, ficara enrubecida com eles.

— Você veio somente falar da Giovana, ou isso foi um pretexto pra me ver?

— E depois eu sou o presunçoso. – Exibiu um sorriso, aquele que ele sabia que ela amava. – Mas quem sabe também não seja uma desculpa pra ver de novo esse seu rosto lindo.

— Dispenso esse tipo de comentário seu. Já deu seu recado? Agora pode se retirar.

Ele saiu rindo, ela permaneceu rindo.

Uns dez minutos se passaram e então Maria foi até a filha, que se encontrava largada no sofá despreocupado.

— Bonito hein dona Giovana, se prestando a um papelão desses, e logo na casa de quem? – Começou o sermão.

— Ah mãe, foi só uma brincadeirinha. – Ela não dava a menor atenção à mãe, sua atenção estava toda no seu celular.

— Brincadeira de muito mau gosto você quer dizer né – ela foi até a filha e tomou seu aparelho, obrigando a filha a olhá-la – você vai se desculpar com a sua irmã.

— Mãe?! – Protestou sentando-se no sofá, emburrada.

— Sem reclames, você vai sim se desculpar com a sua irmã, e vai se desculpar com o Estêvão também. – Ela jogou o seu celular no sofá ao seu lado e ia se retirando, mas voltou para dizer-lhe umas últimas palavras: – Trate de fazer isso logo que eu vou me certificar disso mais tarde. – Olhou a filha com aquele olhar de mãe contrariada e saiu.

Giovana ficara pensativa, maquinando algo em sua mente fértil, e ela já sabia muito bem o que queria, e logo colocaria seu plano em ação.

— Até que não será má ideia pedir desculpas ao Estêvão. – Giovana disse a si mesma com uma cara ardilosa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Encantos & Desencontros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.