Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 4
Capítulo 4




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“Beije-me assim, sem compaixão

Fique em mim, sem condição

Me dê apenas um motivo

E fico eu.”

Camila – Bésame

****

Maria chegara à casa possessa de ódio do marido. Ao se encontrar com Estêvão, ela decidira que ia se distanciar ao máximo dele, e então, vem o marido e decide que eles serão vizinhos.

— Oi mãe! – Juliana cumprimentou a mãe assim que ela entrou, mas a mesma passou direto sem falar com as filhas. – Eu hein, o que deu nela?

— Vai saber. – Giovana respondeu sem tirar os olhos do celular.

As horas foram passando depressa e logo anoiteceu. Cláudio chegara à casa ansioso para falar com a esposa, já que não entendera o porquê de ter agido daquela forma.

— A mãe de vocês está em casa? – Perguntou às filhas assim que chegou ao apartamento.

— Chegou há um tempo, e foi logo para o quarto. Ela tava com uma cara. – Juliana respondeu. A irmã, que ainda estava grudada em seu aparelho, não dera atenção à chegada do pai.

Cláudio deixou sua pasta em qualquer canto da sala, e foi ao encontro da esposa. Ao entrar no cômodo, viu Maria vestida com seu hobby rosa bebê deitada de bruços, com um travesseiro por cima da cabeça.

— Maria?! – Quis saber se estava acordada. Percebeu que sim quando ela se mexeu. – Posso saber por que você reagiu daquela forma? – Sua voz era toda calma.

Vagarosamente, Maria retirou o travesseiro de sobre sua cabeça e sentou-se, olhando-o.

— E então? – Esperou que ela dissesse algo.

— Por que você fez isso, hein? – Sua voz também era calma, mas continha um tom de melancolia.

— Isso o quê? – Indagou sem entender do que ela falava.

— Tanto lugar pra comprar uma casa – ela se levantou – por que logo lá?

— Ora Maria, eu não vi lugar melhor. Perto de pessoas que nós conhecemos, sua irmã, seu cunhado.

— Eu não queria! – Gritou. – Será que você não entende que eu queria ficar o mais longe possível de qualquer pessoa que eu conheça aqui?

— Mas Maria!

— Não tem mais Cláudio, você deveria ter pedido a minha opinião! – Sua voz era potente, e ela não se importava com a possibilidade das filhas estarem escutando. – É a segunda vez que você faz isso, toma uma decisão sem antes me consultar!

— Eu faço pensando no melhor pra nós! – Sua voz aumentou em algumas oitavas.

— Não sei se você se lembra, mas somos um casal, temos que tomar decisões juntos, como um casal! Não é pra você sair agindo como convém e só depois vir me informar!

— Você quer que compre outra casa em outro lugar?

— Não! O que está feito, está feito, eu só gostaria que minha opinião valesse alguma coisa! – Ela se virou, ficando de costas para ele.

— Por favor, se acalme, vamos tentar acertar isso.

— Não tem mais nada pra acertar – o olhou – agora me deixa quieta, por favor.

— Maria...

— Cláudio, me deixa!

...

Estêvão chegara a casa numa calma tremenda, alguns sorrisos vinham de repente quando sua mente se dispersava, mas foi Fabíola vir ao seu encontro que o homem, então, voltara para a vida real.

— Que cara é essa? – O abraçou sorrindo. – Novidades?

Os dois, de mãos dadas, foram caminhando para a sala de estar.

— Finalmente consegui vender a casa.

— Hum, que bom. E quem foi o felizardo?

— Na verdade – se jogou no sofá cruzando as pernas - felizarda, sua irmã.

— Maria?! – Indagou surpresa. – Por que ela compraria uma casa tão perto da nossa?

— O marido deu a ela de presente. Na verdade ela não gostou nem um pouco, precisava ver o pouco caso que ela fez.

Fabíola, por um instante, analisou a fisionomia tranquila do marido, e então ligou os pontos.

— Então é por isso que você tá todo feliz.

— Ham?

— Claro, agora vai ter Maria mais perto. Você é muito estúpido Estêvão, enquanto você morre de felicidade porque vai tê-la mais perto, ela morre de ódio pelo mesmo motivo. Será que você não entende que ela nunca mais vai querer nada com você? – Vociferou.

— Do que você tá falando? – A olhou com cara de desentendido, sem saber ao certo onde ela queria chegar, ou talvez soubesse, e estava apenas fingindo.

— Homens – riu – ter Maria por perto não significa nada Estêvão, você nunca, me ouça bem, nunca – enfatizou – mais terá nada com ela, entendeu bem?

— Você tá ficando neurótica com isso, desde que sua irmã apareceu, você não consegue pensar em outra coisa. – Ele se levantou, e deu as costas para sair, mas voltou alguns passos para dizer-lhe umas últimas palavras: – Será que isso não é peso na consciência, Fabíola?

Após deixar a pergunta retórica, ele se retirou, deixando a esposa sozinha, cuspindo marimbondos.

...

Um outro dia nascera, e logo os quatro estavam juntos para mais uma vez tomarem o café da manhã, como estavam acostumados desde sempre, mesmo que, agora, os ânimos não estivessem lá grandes coisas.

— Hoje vamos pra casa nova, então organizem as coisas de vocês. – Disse às filhas, séria.

— Tive um trabalhão pra desfazer as malas, e agora vou ter outro pra refazer? Ah não! – Giovana reclamou.

— Burra foi você, sabia que aqui seria provisório. – Juliana rebateu, deixando a irmã irritada.

— Bom, eu já vou – limpou sua boca – já sabem o que têm que fazer.

— Quer que eu te leve? – Cláudio perguntou. Ainda buscava uma forma de a esposa o desculpar.

— Não – se levantou – eu prefiro ir sozinha.

Maria foi até às filhas, as beijou e saiu, sem sequer se despedir do marido. As meninas ficaram a olhar para o pai, querendo rir.

— Pai, você pisou na bola legal com ela, hein, eu acho que nunca a vi assim. – Giovana comentou sem esconder o quanto achava aquela situação hilária.

— Pois é pai.

— Eu já vou indo, pra não ouvir sermão de vocês também.

Antes de sair, Cláudio fora até às filhas, as beijou e então saiu.

Já no trabalho, os dois amigos conversavam sobre o acontecimento do dia anterior. Mesmo sabendo qual seria o possível motivo para que Maria agisse daquela forma, Estêvão escutava o amigo como se fosse um personagem terciário daquela história.

— Então quer dizer que ela ainda está brava com você? – Estêvão atravessou a sala, indo para trás de sua mesa, com um sorriso cínico e discreto no rosto.

— Pois é. Ela simplesmente odiou.

— E por que essa reação? – Perguntou como se não conhecesse a história.

— Sabe Estêvão – o pobre homem se sentou a frente de Estêvão – antes de se casar comigo, Maria sofreu um pouco por um homem que ela amava. Esse cara machucou muito seus sentimentos, e pra fugir de tudo, e dos olhares cheio de maldade das pessoas, ela aceitou meu pedido de casamento. Eu sempre gostei dela, mesmo sabendo que ela só tinha olhos pra esse imbecil, e mesmo depois de casados, pensei que nunca iria ganhar seu amor. Por muitas vezes eu a encontrei chorando, ela teve muitos pesadelos, e depois de muito tempo, ela parecia, enfim, estar liberta. – Explicou com calma. – E agora que voltamos, eu creio que ela ache que vai acabar encontrando com ele por aí, por isso suas emoções estão à flor da pele.

— E você sabe quem é esse cara? – Indagou, porém com medo da sua resposta.

— Não. Ela nunca me disse quem era. Se eu já o vi, não sei, pois ela nunca me disse seu nome.

— Nossa. – Fora a única coisa que Estêvão conseguira responder.

— Senhor Estêvão – uma secretária baixinha apareceu com a cabeça na porta, e entrou assim que ele autorizou – chegou essa encomenda pra dona Fabíola. – Ela portava nas mãos uma caixa de tamanho médio.

— Ah claro, ela estava esperando por isso. Deixa aí no canto, na hora do almoço eu entrego a ela. – Ele voltou sua atenção para Cláudio depois que a secretária se retirou. – Essa história é bastante complicada...

Os dois seguiram conversando, Estêvão questionava sobre o passado do casal, e quanto mais perguntas fazia, mais se dava conta do quanto havia machucado a mulher que um dia dissera amar.

...

A manhã corria normalmente na Casa de Modas Maria Zilda. A nova designer estava a todo vapor, sentia-se em casa com toda aquela correria, com a gritaria das modelos frescas e histéricas, tendo que aprovar ou desaprovar desenhos bem feitos e mal feitos. Era o tipo de agitação que dava ânimo aos seus dias mais complexos.

— Jacques, você pode pedir a Fabíola que traga o rascunho do próximo lançamento, por favor? – Os dois estavam a sós na sala de Maria, e enquanto Maria analisava algumas coisas em seu computador, Jacques passava a limpo uma série de medidas. – Eu queria dar uma olhada antes do almoço.

— Claro minha deusa, eu vou agorinha, porque a última coisa que eu quero é deixar minha deusa nível máster esperando. – Ele saiu batendo a porta exalando feminidade.

Não demorou cinco minutos, e logo ele voltara com Fabíola ao seu lado.

— Tá aqui o que me pediu. – Entregou a irmã um tablet.

— Obrigada.

Maria observava atentamente as fotos no aparelho, enquanto os dois a encaravam esperando alguma resposta sua. Passados poucos minutos, por fim, ela os olhou e encontrou dois pares de olhos apreensivos pela sua posição a respeito dos modelos criados por Fabíola.

— São ótimos – Jacques olhou para Fabíola sorrindo – se fossem destinados para o público infanto juvenil.

 O sorriso de Jacques logo se desfez, e o semblante de Fabíola se transformou, no lugar de uma face tranquila, surgira uma fisionomia odiosa e dura.

— Então quer dizer que não agrada a distinta dama? – Debochou com raiva.

— Não é isso Fabíola – foi até eles – são bons, mas falta alguma coisa. Tá faltando sedução nesses lingeries. – Explicou enquanto passava as fotos no tablet.

— Eu não vejo nada de errado aí Maria, você tá acostumada com outras coisas, aqui é diferente.

— Eu tô dizendo o que eu acho certo. Dava certo lá, e aqui também vai dar.

— Só lembre-se que você está em um país diferente, com pessoas totalmente diferentes.

— Eu tô ciente disso Fabíola, só acho que é válido tentarmos uma coisa que já deu e dá certo em um país cujas pessoas têm a cabeça muito mais aberta que aqui.

— Talvez ela tenha razão Fabi – Jacques comentou, porém com receio da reação de Fabíola – o conhecimento dela é muito mais amplo que o de nós dois juntos.

Fabíola o olhou com cara de poucos amigos e ele lhe sorriu cético. Maria entendeu que aquelas caras foram um sim para sua proposta de melhora, ou se não fosse, ela acabara liquidar.

— Bom, então vamos ao vestiário ver isso na prática.

Os três saíram, e em silêncio chegaram até a saleta. Ao entrarem, encontraram apenas uma enorme bagunça: araras desarrumadas, roupas para tudo que é lado, acessórios jogados, e nenhuma modelo presente. Maria ficou boquiaberta com aquela cena, já que era todo bons modos.

— Cadê as modelos? – Perguntou um tanto irada.

— Minha deusa – olhou para o relógio no seu pulso esquerdo – elas só podem estar no horário de almoço. E vão ganhar um belo sabão por deixarem essa bagunça. Meninas, eu odeio bagunça! – Jacques respirou fundo colando o dorso de sua mão na testa.

— Então quem vai experimentar?

— Eu não! Estou naqueles dias, então não rola mesmo! – Fabíola se adiantou.

— Se vocês quiserem, eu experimento. – Jacques disse bem descontraído.

— Não! – As duas responderam em uníssono.

— Então só resta você minha deusa.

Maria olhou para eles com olhos esbugalhados e tensa. Eles deram de ombro, e no mesmo instante ela soube que não tinha outra opção.

Ela foi para o provador, e após um, dois ou três minutos depois ela voltou devidamente vestida com um conjunto de lingerie num tom de vermelho com um toque de preto em algumas partes. Maria era pura vergonha, pois, por mais que fossem irmãs, ela nunca tivera o costume de se despir em sua frente, e mesmo que Jacques fosse gay, a deixava encabulada. Somente duas pessoas viram-na daquela forma.

— Meu Jesus Cristinho! Como pode uma mulher ser tão maravilhosa desse jeito! Olha isso, Fabi! – Ele rodeava Maria admirando cada parte de seu corpo, e ela parecia uma adolescente tímida tentando se esconder com seus braços.

— Vamos ao que interessa né Jacque, não viemos aqui pra ficar olhando minha irmã pelada. – Disse no auge da sua raiva.

— Bom – Maria parou em frente a um espelho, e se livrando da vergonha, começou a explicar – eu acho que esse sutiã tá valorizando pouco o seio, acho que o decote poderia ser um pouco maior, e pra dar uma valorizada, podia colocar uma outra alça pra ir contornando todo o seio, dar um ar mais sexy.

Maria gesticulava em todo o tempo enquanto explicava a eles. Jacques praticamente babava em cima da mulher a sua frente de tanto que a admirava, enquanto Fabíola, por mais que eu seu íntimo soubesse que a irmã poderia estar certa, só queria que ela sumisse com todas as suas teorias.

— Enquanto a calcinha – continuou ficando de costas para o espelho, mas olhando sua retaguarda através do mesmo – acho que podia ser um pouco menor, um pouco mais cavada. E renda! Ela precisa de menos pano e mais renda! Renda dá um toque delicado e sexy ao mesmo tempo. É isso gente – os olhou – poucas coisas que fazem a maior diferença.

— Acabou?! – Perguntou impaciente.

— Sim – deu de ombros – acho que não tenho mais nada acrescentar.

— Ótimo, vamos almoçar Jacque. – O puxou pelo braço.

— Mas já Fabi? – Indagou com a voz mole. – Eu tô amando as explicações dela, a voz dela é tão angelical.

— Vamos logo Jacque, antes que eu perca a paciência com você.

— Grr!

A muito contragosto, o rapaz seguiu a amiga deixando Maria rindo da cena.

Como não estava com fome, Maria pôs-se a ajeitaram toda aquela bagunça. Começou colocando umas roupas nos cabides, depois juntando os calçados, e até documentos jogados das modelos ela encontrou.

Não passara cinco minutos que os dois haviam saído, e novamente a porta se abriu. Em sua cabeça só podia ser um dos dois, ou até alguma modelo voltando do almoço, mas não se tratava de nenhum deles. Era Estêvão.

— Me disseram que encontraria Fabíola aqui. – Ele entrou, e logo que vira Maria vestida daquela forma, todo seu corpo entrou em curto.

— Mas não está! – A respiração de Maria começara a acelerar. – Pode ir embora!

Agindo contrário a ordem de Maria, Estêvão fechou a porta atrás de si.

— Por que você fechou a porta? – Perguntou com medo de sua resposta.

Ele deixou a encomenda de sua esposa em um canto qualquer da sala, e fora caminhando lentamente em direção a ela. Maria começava a suar frio com aquela aproximação.

— Impressionante como o tempo e uma gravidez não te mudaram em nada, muito pelo contrário, só te deixaram ainda mais atraente.

Enquanto ele ia a sua direção, ela caminhava de costas buscando se afastar dele.

— Por que você tá me olhando assim? – E então, não tendo mais para onde ir, ela se viu encurralada entre a parede e Estêvão.

— Naquela época você era tão inexperiente, mas sabia que deixar louco, sabia? – Sorriu travesso.

— Por que você não vai embora?

Estêvão dizimou o curto espaço que ainda existia entre ambos. Após colar seus corpos, ele enluvou sua mão esquerda em seus cabelos negros, e com a mão direita pôs-se a acariciar toda extensão do seu corpo.

— Porque seria um tremendo pecado eu ir embora e não sentir seu cheiro – ele sussurrava em seu ouvido, Maria já se encontrava atordoada com todo aquele clima – sem te tocar – apertou sua coxa, fazendo-a dar leves gemidos – ah, como eu senti falta de tudo isso, Maria! – Estêvão inclinou levemente sua cabeça para trás sentindo um descomunal prazer em estar ali, daquela forma e com aquela mulher. – Me diz Maria, confessa pra mim – voltou a sussurrar em seu ouvido, deixando sua pele arrepiada – que você também não conseguiu dormir direito pensando em mim, que todos nossos momentos vieram à tona depois que voltamos a nos ver.

— Você está perto demais de mim, Estêvão.

— E vou ficar ainda mais.

— Por favor, não faz isso. – Maria pedia, sem ter certeza do que queria.

— Eu não posso não fazer isso, eu desejei esse momento por muito tempo pra sair daqui como se nada tivesse acontecido.

Estêvão não esperou mais. Ele a encarou, e viu nos seus olhos o mesmo desejo que ele sentia, e a trouxe para um beijo faminto e nostálgico.

Não havia sutileza ou ternura, como quando eram jovens, mas havia intensidade, gana, ímpeto. Em nenhum momento Maria mostrara resistência, muito pelo contrário, ela estava totalmente entregue a Estêvão, às suas carícias firmes, ao seu desejo de tê-la ainda mais, e quanto mais eles se entregavam, mais eles queriam se entregar.

Os dois juntos eram uma ventania destruidora, e já não se importavam com as consequências, só queriam matar a saudade e fazer crescer a concupiscência, a luxúria que eram os protagonistas de toda aquela encenação. Sem mais ar, Estêvão findou aquele beijo mordendo o lábio inferior de Maria, fazendo-a gemer ainda mais.


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