Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 20
Capítulo 20




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“Vai, se você precisa ir
Não quero mais brigar esta noite
Nossas acusações infantis
E palavras mordazes que machucam tanto
Não vão levar a nada, como sempre
Vai, clareia um pouco a cabeça
Já que você não quer conversar.
Já brigamos tanto
Mas não vale a pena
Vou ficar aqui, com um bom livro ou com a TV
Sei que existe alguma coisa incomodando você.

Meu amor, cuidado na estrada
E quando você voltar
Tranque o portão
Feche as janelas
Apague a luz
e saiba que te amo.”


Legião Urbana – Quando Você Voltar

****

Dos olhos de Maria pareciam querer saltar duas bolas de fogo. Sua fisionomia mudou completamente: de preocupada se tornou em indignação. Antes de proferir qualquer palavra, ela respirou fundo uma, duas, três vezes antes que pulasse no pescoço de Estêvão e o matasse com suas próprias mãos.

— Por que você tá me olhando assim? – Ele perguntou com certo receio.

— E você ainda pergunta? – Rebateu alterada. – Como você deixou ela entrar aqui e mexer nas suas coisas?

— Eu não deixei, eu não sei como ela entrou. Eu não tenho culpa.

— Mas é claro que tem! Desde o momento que você a trouxe pra essa casa, abriu qualquer tipo de brecha pra ela. – A mulher, tomada de ódio, fora até a janela e ficou por alguns segundos olhando para fora, mas logo retornou. – Por que você ainda tem coisas minhas, nossas, guardadas? – Perguntou confusa, como se não entendesse de fato o porquê.

— Ora Maria, por que mais eu teria? Você não tem as cartas que eu te mandei?

— Claro que não Estêvão – ela ficou de costas para ele – eu queimei qualquer coisa que me fizesse lembrar você, depois do que você fez.

Um considerável silêncio se formou entre eles. Apesar de estar em seu direito, Maria não se sentiu tão bem quanto queria quando lançou aquelas palavras em cima de Estêvão, e ele, por sua vez, sentiu-se novamente culpado. Sem olhar para trás, Maria seguiu em direção a sala, sendo seguida pelos passos pesados de Estêvão.

— Maria, por favor, vamos conversar, você está muito alterada.

— Ainda tem alguma coisa pra ser dita? – O encarou. – A essa altura, Giovana sabe sobre o que aconteceu conosco no passado, pra ela me chantagear é um passo. Você é um... Estúpido!

— Ah, agora eu sou  estúpido? Sua filha invade minha casa e rouba minhas coisas, e eu sou o estúpido?

— Sim, e dê sorte que eu me contenha nos xingamentos. Tenho certeza que você merece ouvir coisas muito mais pesadas que essa.

— Então vamos lá, diga. – Ele abriu os braços pronto para receber qualquer coisa que ela o dissesse.

— Não, ficar aqui te xingando não vai resolver meu problema. – Inundada por pensamentos perturbadores, Maria se sentou no sofá com a mão no rosto. Queria chorar, mas se conteve. – Estamos perdido. – Disse ao olhá-lo.

— Calma, Maria.

— Não me peça calma! – Ela se levantou, e com ela, a sua voz. – Ai Estêvão, toda vez que eu olho pra essa sua cara lavada e despreocupada, tenho vontade de te esganar!

— Você quer beber alguma coisa, Maria? Uma água, um chá? Você tá nervosa demais.

— Quero. Um whisky... Um conhaque... Uma vodca... Ah, mistura tudo, talvez assim eu consiga relaxar.

Ele a encarou, talvez estivesse pensando que ela pudesse estar brincando, mas o ver que não havia nenhum vestígio de ironia no rosto, entendeu que ela falara muito sério.

Fazendo como ela havia pedido, ele misturou as bebidas e levou até ela. Numa golada só, Maria ingeriu todo o líquido do copo. Sua ação deixou Estêvão perplexo, e sem saber, ao certo, o que dizer.

— Que foi? – Ela perguntou sarcástica.

— Não foi nada – ele pegou o copo de sua mão, e o pôs na mesinha de centro – tá mais calma.

— Não, eu ainda quero te matar.

— Maria, por favor.

— Não venha com essa voz mole, Estêvão. Você sabe muito bem como Giovana é, e ainda a trouxe pra cá, tendo todas essa coisas sobre o nosso passado.

— Eu já disse que não imaginava que isso fosse acontecer.

— Eu não quero ouvir mais nada, eu vou embora, já perdi demais meu tempo aqui. – Um tanto decepcionada, Maria pegou sua bolsa que estava em cima do sofá, e começou a caminhar em direção a porta.

— Espera, eu te levo.

— Não precisa, eu vou sozinha.

— Nem pensar! – Protestou. – Tá muito tarde, não vou deixar você entrar no carro de um desconhecido.

— Que seja.

O trajeto até a casa de Maria não foi longo, mas o silêncio dentro do carro era agoniante. Por diversas vezes Estêvão abriu a boca, na tentativa de puxar algum assunto, mas logo a fechava ao ver a decepção estampada na cara de Maria.

— Chegamos. – Finalmente ele se sentiu à vontade para dizer alguma coisa, sem correr o risco de ser xingado por ela.

— Obrigada.

Sem o olhar, Maria já ia saindo do veículo, mas Estêvão a impediu, segurando seu pulso esquerdo.

— Espera, Maria.

— O que você ainda quer? Esqueceu de me contar alguma outra coisa? – Perguntou, voltando a sua posição inicial.

Ele respirou fundo, talvez buscando as palavras certas. No fim, ele não conseguiu dizer muita coisa.

— Me desculpa. Eu não quis colocar a gente nessa. Te colocar nessa.

— Infelizmente seu pedido de desculpas não vai mudar nada.

— Sera que já não tá na hora deles saberem a verdade sobre nós?

— É simples pra você dizer isso, né? O que você tem a perder? Nada! Já saiu de casa, um divórcio praticamente assinado. É muito fácil você pedir esse tipo de coisa.

— Pode não ser tão simples pra você, quanto pra mim, mas você tá inventando desculpas, isso é claro. Estávamos bem, e de uma hora pra outra, tudo mudou. O que foi que houve?

— Não houve nada, Estêvão, que coisa.

— Claro que aconteceu alguma coisa. Eu sei que você estava disposta a largar tudo pra nos assumirmos, e daí, você muda, do nada. Por favor, Maria, me diz, o que fez você mudar de ideia de uma hora pra outra?

— O que deu em mim? Simplesmente vi que o que eu estava fazendo era uma besteira, foi isso, Estêvão.

— Isso não é verdade! Se fosse assim, você não ficaria como fica quando estamos sozinhos. Você não me repele quando eu te beijo, quando eu te toco. – Ele segurou a sua mão enquanto falava, e a encarava também, ela, portanto, mantinha os olhos longe dos dele. – Se você tivesse mesmo voltado atrás, teria dado um basta nisso há muito tempo, e não foi o que você fez.

— Não seja por isso – o fitou – eu não quero que você me procure mais, que ouse me beijar de novo. Entre nós não existe mais nada, aliás, deixou de existir quando...

— Quando eu fiz o que fiz. – A cortou completando a frase que ele estava cansado de escutar. – É por causa da Giovana? Desse amor doentio que ela sente por mim? Você não quer ser rival da sua própria filha, é isso?

— Estêvão, esquece isso. Nós não demos certo no passado, e não é agora que isso vai acontecer, então, por favor, não insista nessa história. Boa noite.

Novamente ela ia saindo do carro, e mais uma vez ele impediu, deixando-a um tanto impaciente devido a sua persistência.

— O que foi agora?

— Eu não vou desistir de você, mesmo que seja isso que você queira. Eu já te deixei partir uma vez, e isso não vai acontecer de novo. Eu te amo, e vou lutar por esse amor custe o que custar. Eu fui um covarde no passado, não nego, mas vou te mostrar que eu não sou mais aquele babaca que se deixava levar pelo que os os outros diziam. Nós dois ainda vamos ser muito felizes juntos, Maria, você vai ver só.

Ele aguardou alguma resposta dela, porém não vindo nada, ele continuou:

— É só isso.

Maria sentiu os olhos de Estêvão em suas costas enquanto ia se distanciando. Queria voltar e dizer que também o amava, mas o medo de vivenciar todo o passado de novo era maior, então escolheu deixar as coisas como estevam, mesmo que tivesse que sacrificar sua felicidade.

Um completo silêncio reinava ao chegar em casa, era o que esperava, afinal, já era quase uma da manhã. Pé por pé, Maria caminhou lentamente pelo corredor do andar de cima, entrou em seu quarto e levou um pequeno susto quando Cláudio acendeu a luz do abajur do lado da cama.

— Você quer me matar do coração?! – A mulher esbravejou com a mão no peito.

— Vocês dois aproveitaram bem. Olha só a hora que você chega em casa.

— Não estávamos fazendo o que sua mente poluída está maquinando.

— O que estavam fazendo? Tricô?

— Estêvão foi assaltado. Um meliantezinho entrou no seu apartamento, foi por isso que ele me chamou. – Maria respondeu sem rodeios, como se já tivesse pensado naquela desculpa.

— Hum. E levaram alguma coisa de valor?

— Sim, levaram algumas coisas.

— E por que ele te ligou? Poderia muito bem ter ligado pra Fabíola, por exemplo.

— Fabíola e ele estão separados, e ele disse que a primeira pessoa que pensou foi em mim. Enfim, agora ele está mais calmo. Eu só vim aqui pra pegar uma camisola, vou dormir no quarto de hóspedes. Boa noite.

...

O dia começara um pouco mais tarde para Maria, já que não tinha a obrigação de ir para a Casa de Modas, ela havia se permitido ficar um pouco na cama, um ótimo pretexto para não ter que encarar a cara do marido.

— Bom dia Maria – Miguel apareceu na sala, um tanto surpreso ao ver a mãe em casa – não sabia que estava em casa. Não vai trabalhar?

— Bom dia – respondeu com um sorriso acolhedor – antes de responder sua pergunta, cadê meu beijo? – Sem esperar ela pedir de novo, ele foi até ela e deixou um beijo na sua bochecha. – Bom – começou assim que ele se acomodou no sofá, meio que de frente – acho que depois de ontem, minha equipe e eu merecemos uma folga, né.

— Ah, claro, mais que merecido, né. Cadê as meninas?

— Juliana saiu com umas amigas, e Giovana deve ter ido pra empresa com seu pai.

— Então quer dizer que estamos sozinhos?

— Sim. Mas posso saber aonde você quer chegar?

— Hum, naquele assunto. Maria, eu já tô algum tempo aqui no Brasil, e até agora você não me disse nada, e o nosso combinado era que você me esclareceria tudo quando chegasse aqui.

— Eu sei disso, Miguel. Mas creio que esse não seja o melhor momento pra falarmos disso.

— E qual será o melhor momento, Maria? – Ele se levantou um pouco alterado. – Você tá me enrolando, eu não aguento mais isso, eu não sou uma criança!

— Se acalme – Maria também se levantou e ficou frente a frente com o filho – eu disse que vamos conversar, e nós vamos, só que eu acho que esse não é momento ideal.

— Ah, e qual será o momento? Quando eu me cansar de esperar o seu tempo, Maria?

— Miguel, por favor, tenta me entender.

— E você me entende, Maria? Não, né. Eu pensei que pudesse confiar em você, mas tô vendo que me enganei.

— Você tá exagerando, Miguel.

— Não, não estou, mas se você quiser provar que estou errado – se sentou – sou todo ouvidos.

Maria queria fugir, correr dali enquanto tinha o olhar pesado de Miguel a encarando. Os segundos se tornaram ainda mais longos, e uma onde de calor subiu por todo seu corpo, mas não tinha para onde fugir, ou encarava aquele assunto que ele tanto queria saber, ou encerrava o assunto ali mesmo, mesmo sabendo qual seria sua reação.

— Miguel, essa não é a melhor hora pra discutirmos sobre isso.

— Ok Maria, você quer assim, né? – Ele se levantou, e olhou no fundo dos seus olhos; os dele era frios, mas também continham certa mágoa. – Então só volte a falar comigo quando resolver abrir o jogo.

Ao ver o filho lhe dando as costas sem ao menos se despedir com o carinho de sempre, Maria logo se desesperou, queria impedi-lo e gritar tudo o que ele queria saber, mas o receio de receber em troca a frieza da parte dele, não parava de azucriná-la em nenhum momento.

— Miguel...

Foi a única coisa que ela conseguiu dizer. Ele simplesmente a olhou, e prosseguiu em seu caminho.

Com muito pesar, Maria se lançou no sofá e deixou vir milhares de coisas à tona. Talvez quisesse se ferir um pouco, afinal, merecia por não ser suficientemente forte a ponto de contar uma simples história para seu filho, a quem dizia amar.

Em contrapartida, em um canto qualquer do andar de cima da mansão, havia alguém com ouvidos atentos a toda e qualquer palavra dita pelos dois, sua curiosidade só aumentou ainda mais.

— Oi mãe. – Giovana apareceu na sala quase meia hora depois da saída de Miguel, assustando a matriarca, que já tinha se recomposto.

— O que você tá fazendo em casa a essa hora? – Perguntou com um V entre as sobrancelhas.

— Tô naqueles dias, e tava com uma cólica horrível. Meu pai deixou que eu fosse um pouco mais tarde.

— Não acha melhor ficar em casa hoje? Seu pai vai entender.

— Não, já tô bem. Tomei um remedinho, e já sou outra.

Giovana ia saindo, mas decidiu voltar, para quitar uma pequena dúvida que a envolvia.

— Escuta mãe – Maria, que tinha voltado sua atenção para uma revista de modas, tornou a olhá-la após sua volta – você tem algum segredo? – Perguntou despretensiosa. – Algo além da relação obscura entre você e Estevão.

— Segredo? N-não. – Maria gaguejou ao responder, achava que esse era o momento em que ela iria jogar em sua cara o conteúdo das cartas.

— Tem certeza? – Ela insistiu.

— Não Giovana, eu não tenho nenhum segredo que você já não saiba.

— Ok. Tchau.

Giovana saiu despreocupada, porém deixando a mãe com uma pulga atrás da orelha.

Será que Giovana falava das cartas, ou tinha algum assunto mais?

...

Era a sétima vez que Estêvão ligava para recepção para perguntar sobre Giovana, e nada. Ele a maldizia em sua mente, ela conseguia o perturbar mesmo quando não estava presente. Para sua sorte, na oitava vez, ela já havia chegado, e como ele havia pedido, ela foi diretamente para sua sala. Ao entrar, encontrou nada menos que a própria fúria em pessoa.

— Mandou me chamar, querido?

Quando a moça entrou pela porta, Estêvão saiu de onde estava, foi até a mesma e a trancou. Giovana observava seu breve ato recostada sobre a mesa.

— Nossa, devo já ir tirando a blusa, ou você quer ter a honra? – Giovana era puro deboche.

— Eu não estou pra brincadeiras, Giovana.

— E quem disse que eu estou? Só não pensei que a nossa primeira vez fosse aqui no seu escritório, mas acho que vai gostoso também.

Estêvão respirou fundo antes de prosseguir.

— Quem te deu autorização de entrar na minha casa e mexer nas minhas coisas? – Foi direto ao ponto.

— Você está me acusando?

— Estou!

— Nossa, quase me importei. – Sorriu cinicamente. – É fui eu sim. Agora eu te faço uma pergunta: o que foi que você fez te tão grave pra minha mãe que tanto pedia perdão?

— Isso não é da sua conta.

— É claro que é, se trata da minha mãe. Ela gostava de você, e você aprontou alguma coisa muito séria. Minha mãe é toda certinha, não ia sair se entregando pra qualquer um – revirou os olhos – ela ia querer casar, e blá, blá, blá, mas se ela fez isso com você, é porque confiava em você, aí você vai e trai a confiança dela a ponto de fazer ela se casar com meu pai, é, porque as datas batem certinho.

— Você não vale nada, Giovana.

— Olha, mudou o tom de voz. Acho que o que mais me surpreendeu nisso tudo foi minha mãe ter casado com meu pai, pra... Fugir? – Supôs, ainda em tom de deboche. – Eu sempre os vi como um casal que se amavam acima de tudo, mas não é bem assim. Então, vai me contar agora o porquê disso? – Ela perguntou ao sentar-se sobre a mesa.

— Já te disse uma vez, você não tem nada a ver com isso. O que você tá querendo, hein? Nós chantagear?

— Não, não, longe de mim, só quero saber a verdade mesmo.

— Pois fique você sabendo que eu não vou cair no seu joguinho, se você conseguiu envolver a sua mãe, esteja certa que não vai fazer o mesmo comigo!

— Calma meu amor, não fala assim. Eu não vou meter as mãos pelas pernas, mas depende de você o meu silêncio. Quem sabe você me dando o carinho que eu mereço, eu fique de boquinha fechada.

— Sai daqui. – Ordenou.

— Tem certeza que quer me expulsar?

— Sai daqui agora, Giovana. E só me dirija a palavra quando realmente for necessário.

Estêvão só esperou que a menina saísse pra se jogar em sua cadeira. Com sua mão em punho cerrado, ele socou algumas vezes a mesa. Talvez Maria estivesse certa, e ele acabou sendo ingênuo demais se tratando de Giovana.

...

A aversão de Fabíola por sua irmã só fazia crescer a cada dia que passava. Por sorte, ou o que quer que fosse, Maria havia se dado bem no desfile, seu nome estava brilhando na mídia, e isso a deixava ainda mais em cóleras, mas ela não era mulher de desistir assim tão facilmente.

Obstinada, Fabíola estava disposta a tudo para prejudicar a irmã, e separá-la do homem a quem sempre dedicara seu amor, mesmo que para isso tivesse que voltar ao passado, e relembrá-la o porquê de eles estarem separados.

— Você tá me ouvindo, não é Antônio? – De costas para a entrada da casa, ela conversava com seu aliado em alto e bom som. – Faça o que for preciso pra que Maria odeie ele, ta me entendendo?

— Mas de novo? Eu já não falei com ela um vez? Não funcionou?

— Não, eu sei que eles ainda se encontram. Inventa qualquer coisa, eu quero que Maria não queira mais olhar na cara do Estêvão depois de conversa de vocês. Eu tô te pagando pra isso, Antônio.

— Como é que é, Fabíola?

Como um ladrão que aparece sem avisar, Estêvão chegou a mansão sorrateiramente e acabou por ouvir o diálogo perverso entre a ex esposa e seu cúmplice. Ao perceber a chegada de Estêvão e do filho, Fabíola logo encerrou a ligação e escondeu seu celular.

— Estêvão, o que você tá fazendo aqui? – Perguntou, visivelmente nervosa.

— Não muda de assunto, Fabíola. Você estava falando com aquele Antônio? Você se juntou a ele pra me separar da Maria, é isso que eu tô entendendo?

— Eu vou deixar vocês a sós. – Henrique disse antes de se retirar.

— Eu posso explicar, Estêvão, por favor, se acalme.

— Eu não quero me acalmar! – Berrou. – Onde eu encontro esse desgraçado?

— Eu não sei.

— Claro que sabe, Fabíola, não se faça de sonsa. Diga logo antes que eu perca a minha paciência com você.

— O que você vai fazer?

— Não interessa! Anda, me diz logo onde está esse verme.

— Eu só sei que ele trabalha numa sapataria no centro, eu juro.

Estêvão a olhou com um misto de repulsa e nojo, e saiu da casa sem falar mais nada. De pronto, Fabíola secou as lágrimas que havia forçado anteriormente, e buscou rapidamente uma forma de fazer com que o casal fossem os prejudicados da história.

— Alô, Antônio. Estêvão está indo pra aí. Eu vou dar um jeito de fazer a nojenta da minha irmã aparecer aí também, faz a sua parte, e você vai ser muito bem recompensado, ok? – Ela nem esperou ele dizer nada, e logo encerrou a ligação. – Se eu ligar pra ela, ela não vai me dar a menor confiança. Pensa Fabíola, pensa. – Um sorriso vil apareceu em seus lábios quando avistou o celular de Henrique dando sopa. – Vai ser mais simples do que eu pensava, Henrique nunca muda a senha, e voilà – se animou logo quando o celular do filho foi desbloqueado.

Henrique 17:33

Oi Maria, meu pai pediu que vc encontrasse ele no Centro, próximo ao n° 27.. ele disse que é urgente.

A resposta veio logo em seguida.

Maria 17:34

Ok.

— Perfeito, agora é só aguardar.

...

Todo o ser de Estêvão estava tomado por uma grande ansiedade. Ele andava pelas calçadas se desviando das pessoas com certa pressa. Talvez mal se desse conta da sua inquietação, quiçá quando recebia alguns xingamentos das pessoas a quem ele esbarrava.

Não foi difícil encontrar o local onde Antônio trabalhava, e menos ainda o reconhecer, já que não havia mudado tanto, a não ser pelos quilos a mais, e cabelos de menos.

— Antônio, te achei.

— Estêvão, meu amigo, quanto tempo!

— Não vim em missão de paz, seu cretino. Que história é essa que você está metido com Fabíola pra me prejudicar? – Sua voz ainda era pacífica.

— Estou sabendo que vocês estão casados, sempre soube que vocês dois ficariam juntos, naquela época vocês formavam um belo par.

— Não desconversa, Antônio.

— Pra quê essa aspereza? Vamos aproveitar e relembrar os velhos tempos. – Foi nesse momento que ele avistou Maria se aproximando, e aumentou o tom da sua voz. – Mas vamos combinar que você gostava mesmo era de ter muitas mulheres à sua disposição, um tremendo garanhão, hein meu amigo. – Ele riu bastando no seu ombro.

— Quê?

— E aquelazinha, a irmã da Fabíola? Aquela lá foi facinho de pegar, né irmão. Você só vacilou quando disse que eu também conseguiria dar uma mordidinha naquela carne, infelizmente ela foi embora antes.

— Você lava sua boca...

— Mas acredito quando você disse que aquela ali era fácil, iria pra cama com qualquer um que aparecesse. Lembra que você me disse que uma boa parte da escola já tinha levado ela pra cama.

— Estêvão?

— Maria?



 


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