Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 19
Capítulo 19




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“Você me chama, e eu caio aos seus pés
Como alguém poderia pedir por mais?
E o tempo que passamos separados são como facas em meu coração
Como alguém poderia pedir por mais?

Tentar não te amar, é o máximo que consigo fazer
Tentar não precisar de você está acabando comigo
Não consigo ver o lado bom, daqui no chão
E eu só continuo tentando, mas eu não sei para quê
Porque tentar não te amar
Só me faz te amar mais
Só me faz te amar mais.”


Nickelback – Trying Not To Love You

 

****

Não demorou mais que vinte minutos para que Giovana chegasse em casa, e para sua sorte, não havia uma alma viva sequer na mansão, a não ser pelos empregados.

A menina segurou sua curiosidade ao decidir banhar-se antes de começar sua leitura, pois, em sua mente, aquele momento merecia mais do que olhos atentos. De banho tomado, e uma bandeja de biscoitinhos amanteigados a seu dispor, Giovana, que estava vestida apenas com um roupão fofinho, respirou fundo, e começou então a folear aquele caderno.

A primeira carta era de sua mãe para Estêvão. Não foi difícil abrí-la, já que a cola do lacre estava bem fraca e devido ao tempo também.

São Paulo, 20 de setembro de 1994

Estêvão,

Sei que pode soar meio bobo eu estar te escrevendo essa carta, já que saímos somente algumas vezes, mas eu sou boba mesmo. Só queria dizer que eu gosto de você, de estar com você, eu me sinto segura ao seu lado. Não sei se é amor, mas sei que é um sentimento tão bonito quanto. Me perdoe por não conseguir dizer isso quando estamos juntos, é que fico com um pouco de vergonha, mas saiba que você está presente nos meus pensamentos mais lindos.

Com amor, Maria.

***

São Paulo, 21 de setembro de 1994

Maria,

Fiquei muito surpreso e feliz lendo sua carta. Não me peça perdão, eu amo esse seu jeito tímido, só me faz querer estar ainda mais perto de você. Olha, eu não me sinto bem saindo às escondidas com você, mas é só por enquanto. Eu quero te assumir, e poder andar por todos os lugares segurando a sua mão, sem medo do que vão pensar a nosso respeito. Não vejo a hora de nos encontramos de novo, quero te encher te beijos, e poder sentir seu doce perfume.

Seu Estêvão.

***

São Paulo, 14 de outubro de 1994

Estêvão,

Você me proporcionou a noite mais maravilhosa de todas! Foi tudo lindo, perfeito, cada detalhe, cada gesto seu, tudo, exatamente tudo, foi importante pra que me sentisse a mulher mais feliz do mundo!

Você sabe bem que eu queria ter me guardado para o dia do nosso casamento, mas confio em você, de verdade, e sei que você é diferente dos outros garotos, sei que pra você eu não sou um objeto, sei que você não me quer somente como seu brinquedo. Um dia nós dois subiremos no altar, e juntos, vamos gritar para o mundo ouvir o tamanho do nosso amor.

Eu te amo Estêvão, te amo muito, te amo mais que a mim.

Com amor, Maria.

***

São Paulo, 22 de novembro de 1994

Maria,

Cada momento que passamos juntos, pra mim é único. Eu não preciso de mais nada quando estou com você. Você é a cor que faltava na minha vida tão acinzentada.

Eu te amo como jamais amei ninguém, e ninguém jamais vai ocupar seu espaço na minha vida. Estou perdidamente apaixonado por você, não consigo passar um minuto sequer sem pensar em nós dois, sem relembrar o quanto nossos corpos juntos compõem uma perfeita sinfonia. Eu te quero, te desejo, te amo, te necessito, Maria. Me perdoe se algum dia eu te fizer chorar, eu não sei se seria capaz de suportar uma lágrima sua, sabendo que eu sou o causador, me perdoe. Eu te amo, meu amor.

Que amanhã chegue logo, não vejo a hora de te ter em meus braços de novo.

Seu Estêvão.

***

São Paulo, 27 de novembro de 1994

Estêvão,

Você fica um fofo pedindo perdão, mas duvido muito que você seja capaz de me magoar, do jeito que você é delicado comigo? É meio difícil. Acredito todo relacionamento passa por turbulências, mas são coisas normais, mas acho que nenhum de nós dois tem a intenção ou premedita machucar o outro.

Você não meu deixou falar na última vez que nos encontramos, mas precisamos conversar, é um assunto sério, mas não dá pra falar por cartas, tem que ser olho no olho. Eu vou precisar muito de você, e sei que você não vai dar pra trás. Obrigada por ser a melhor pessoa da minha vida, depois da minha mãe, é claro. Te amo, muito, mais que a mim mesmo.

Com amor, Maria.

...
Após ter lido todas aquelas dezenas de cartas e rascunhos, a menina ficara perplexa com as informações, e boquiaberta. Diante das demasiadas hipóteses que passaram por sua cabeça, jamais imaginara que o envolvimento entre sua mãe e Estêvão tivesse sido tão intenso como cada linha de cada carta lhe revelara.

— Caramba, agora sim você me surpreendeu, dona Maria. – Ela disse olhando para o nada enquanto levava um biscoito a sua boca. – Eu preciso descobrir o que foi que Estêvão fez pra eles se separarem, senão eu vou morrer de curiosidade. Ai!

Ela se jogou na cama mordendo seu lábio inferior. Em sua cabeça, novamente, mil e uma coisas passavam, e sua ânsia de descobrir mais e mais só aumentava. Giovana estava decidida: só pararia quando finalmente tudo estivesse seu devido lugar.

...

As horas na Casa de Modas estavam passando tão rapidamente, que aquelas mulheres mal sentiam. O tempo  jogava contra Maria e sua equipe, e cada segunda que passava, parecia que se aproximava o momento que ela seria envergonhada diante de todos.

Embora o nervosismo estivesse pairando sobre aquele cômodo, que se tornara minúsculo diante de todas aquelas mulheres ali presentes, Maria tentava transmitir segurança, não somente a Juliana, mas a todas as outras, esse era seu papel de líder, às vezes era um papel um tanto complicado de exercer, mas ela estava dando conta.

O coração de Maria martelava toda vez que ela olhava para seu relógio de pulso, e por mais que tentasse evitar, a ansiedade falava mais alto. Das janelas do alto prédio, já se podia ver o sol nascendo e cada vez mais seu coração batia fora de ritmo. A situação só amenizou um pouco quando a última das mulheres gritou um “terminei”, naquele momento, aquela era a palavra preferida de Maria.

Com o trabalho em equipe, em minutos tudo estava devidamente organizado e em seu lugar. Um olhar cúmplice entre mãe e filha foi trocado, era como se elas dissessem uma para a outra “conseguimos”.

— Bom meninas – Maria começou seu rápido discurso, tendo ao seu lado Juliana – obrigada, sem vocês, nada disso seria possível. Eu poderia ficar o dia todo aqui falando um milhão de coisas, mas nós estamos cansadas demais pra ficar ouvindo isso né – elas riram – mas obrigada, de verdade. Vocês serão devidamente recompensadas por esse trabalho, agora, vão pra casa descansar.

Uma a uma foi saindo da sala, sorrindo, cansadas, porém com sentimento de dever cumprido.

— Vamos – Maria virou-se para a filha segurando suas mãos – que nosso dia só tá começando. – Juliana respirou fundo e devolveu a mãe um sorriso satisfeito.

...

Já em casa, Maria seguia em seu quarto se arrumando a todo vapor. Um copo de café sem açúcar era o que ela precisava pra continuar aquele dia sem pestanejar. Cláudio, que também passara parte da noite na empresa devido uma reunião de última hora, observava animado sua esposa se arrumar, era demorado, mas ele amava assitir sua amada se embelezando.

— Você está maravilhosa! – Ele saiu da cama, onde estava sentado, e inalalou o perfume que ela acabara de colocar. – Minha vontade é de arrancar essa sua roupa toda agora. – Maria não se conteve e riu do comentário do marido.

— Eu quero te pedir uma coisa. – Num tom mais sério, ela se virou para o olhar, ajeitando a gola do seu paletó. – Aconteceu um pequeno problema na Casa de Modas, e as peças que vão ser apresentadas foram criadas por Juliana. Pra mim estão todas lindas, mas você sabe como é a mídia, eles criticam sem a menor pena.

— Sei. E o que quer que eu faça?

— Dependendo da aceitação do público, vamos ter que dar forças a ela, você sabe como ela é sensível, eu não quero que ela se sinta mal e pare de fazer o que gosta por causa da opinião de terceiros.

— Pode ficar tranquila – ele tocou levemente seu rosto e arrancou um sorriso, meio preocupado, dela – eu tenho certeza que vai dar tudo certo. – E com carinho, ele beijou sua testa.

Convicta de si mesmo, Maria saiu daquele quarto sabendo em seu íntimo que, mais uma vez, arrancaria suspiros de quem quer que fosse. Seu vestido longo de cor azul royal, os acessórios que portava, o coque despojado e sua maquiagem só a deixavam ainda mais bela do que já era. De braços dado com o marido, os dois seguiam pelo corredor em direção a sala, Cláudio sentia-se um máximo por poder chamar aquela mulher de sua.

Enquanto caminhavam, praticamente em câmera lenta, a porta do quarto de uma das gêmeas se abriu, revelando ali uma obra de arte esculpida pelas mãos dos deuses. Ainda um tanto tímida, com seu vestido longo rosa bebê, e suas madeixas livres como o vento,  Juliana caminhava como uma verdadeira princesa.

— Filha, você está linda! – Maria foi a primeira a enaltecer a sua beleza.

— Você está divina, meu amor, uma legítima princesa! – Foi a vez de Cláudio exaltar sua beleza, um tanto abobalhado.

— Para gente, assim eu fico com vergonha. – A menina respondeu, ligeiramente vermelha.

— Não precisa se envergonhar, você está linda, meu amor.

Com a mão que estava livre, Maria pôs-se afagar seu rosto com cuidado, segurando suas lágrimas para não caírem, de emoção ao ver sua pequena começando a dar seus primeiros vôos.

Enquanto o casal descia as escadas, Juliana os acompanhava logo atrás. Já na sala, a outra gêmea estava largada no sofá com seu fone de ouvindo, cantanto alto. Ao vê-la de calça jeans rasgada, blusa de banda de rock, tenis all Star e óculos escuro retrô, Maria quase teve um treco.

— Giovana, o quê significa isso? Você não vai se arrumar?

A mulher aumentou o passo para falar com a filha, porém a mesmo nem lhe deu atenção devido ao volume da música que ouvia.

— Giovana – sem a menor cerimônia, ela arrancou o objeto do ouvido da filha, e recebeu um olhar espantado e revoltado de volta – você não vai se arrumar?

— Ué, eu tô pronta mãe. – A expressão de raiva logo dera lugar a um ar repleto de deboche.

— Maria, deixa, é melhor irmos antes que cheguemos atrasado. – Cláudio interveio guando percebeu que uma discussão entre ambas se iniciaria. Maria confirmou com a face.

— Vocês acharam mesmo que eu ia me vestir assim? – Giovana perguntou rindo ao se levantar do sofá enquanto caminhavam em direção à saida. – Nem morta.

— Giovana, chega tá. – Cláudio lhe chamou a atenção, e logo a menina sossegou.

...

O evento já contava com a presença de grandes nomes do ramo da moda. Tudo estava de acordo com o que Maria estipulara: decoração, música, comes e bebes. Um burbirio se ouvia sobre a música amena, alguns garçons passeando apressados pelo meio de toda aquela gente fina, e muitos, muitos flashes.

Ao chegar, acompanhada pela família, Maria fora alvo de muitos fotógrafos e também de alguns repórteres, mas já acostumada com o clima, ela apenas sorria e acenava. A família, vendo todo o túmulo ao redor da anfitriã, acabaram por se destacar da mesma, e foram então, admirar o evento.

— Você está... Espetacular. – Quando, por fim, Maria conseguiu se livrar dos fotógrafos, uma voz grave surgiu quase no pé do seu ouvido, causando um susto e um arrepio.

— O que você tá fazendo aqui? – Perguntou num tom áspero, porém discreto para não chamar atenção.

— Hum, sua filha é namorada do meu filho, portanto, minha nora. Ela disse pro Henrique que era importante pra ela, e eu vim prestigiá-la.

— Ah. – Foi a única coisa que ela o respondeu.

— Mas te vendo assim – a olhou de cima a baixo – acabo de perceber que não foi um erro meu ter vindo a esse evento, mesmo não entendendo bulhufas. Você está maravilhosa!

— Esse sujeito está te incomodando, Maria? – Cláudio apareceu do nada, segurando a esposa pela cintura, para marcar território.

— Não, ele só veio me cumprimentar. Bom, eu vou deixar vocês dois e vou falar com umas pessoas ali, com licença.

Maria fez toda questão de livrar dos dois, naquele dia tudo o que era mais queria era que tudo saísse perfeito.

Pensando ter se livrado de um problema, Maria logo se depara com outro a alguns metros dali, ao avistar sua querida irmã. A bela mulher tentou se desviar de Fabíola, mas ao que parecia, ela fazia questão de provocá-la.

— Seu evento está sendo um sucesso. – Fabíola proferiu suas palavras repletas de ironia olhando ao redor. – Tô doida pra ver o desfile, será que vai ter alguma surpresa? – Ela riu bebendo um gole do champanhe.

— Como você ousa aparecer aqui depois do que fez? A minha vontade é de arrastar você pelo cabelo e te jogar daqui pra fora.

— Fique a vontade – ela abriu os braços – eu vou adorar.

— Só não cante vitória antes da hora, você pode se decepcionar.

Sem mais, Maria saiu andando e deixou Fabíola a falar sozinha.

A hora do desfile já estava se aproximando e todos os convidados se acomodaram frente a passarela. Na primeira fileira, além de alguns críticos e fotógrafos, estavam também Maria e Juliana, uma do lado da outra. Por fora, Maria sorria para a filha, informando que tudo daria certo, mas por dentro seu coração estava apertado e temoroso.

Em sincronia com a música, as modelos iam caminhando pela passarela esbanjando simpatia. Maria tentou se desligar das coisas em sua volta e focar no desfile em sua frete, mas a falta de reação dos críticos estavam deixando-a tensa demais. Ela estava gostando, mas e eles?

No momento em que todas as modelos saíram em fileira, indicando o fim do desfile, todos os presentes se levantaram e aplaudiram de pé. Foi nesse exato momento que Maria conseguiu respirar aliviada. Várias emoções lhe invadiram, e no final, ela só conseguia sentir orgulho de sua filha.

— E com vocês, a mente brilhante, a dona de todas essas obras perfeitas, o ícone de beleza, Maria Fernandes! – O apresentador do desfile a chamou para cima da passarela para um breve discurso. As palmas aumentaram ainda mais.

— Boa tarde a todos, e obrigada pela presença de vocês. Pra mim é uma hora  estar aqui mais uma vez, porém sinto em desapontá-los, mas vocês erraram, hoje não sou eu que mereço as honrarias. – Um silêncio surgiu, todos olhavam-na esperando uma explicação lógica. – Não me olhem assim, por favor – riu – eu vou explicar. Surgiu um pequeno imprevisto e tudo isso que vocês estão vendo e admirando foi desenhado pela minha filha. E hoje é ela quem merece todos os aplausos. Ah, gravem esse nome, porque vocês ainda vão ouvi-lo muito, Juliana Fernandes!

Um holofote logo encontrou o rosto tímido e vermelho de Juliana. Demorou alguns segundos para que ela se desse conta do que deveria fazer. Impulsionada pelo pai e namorado, a moça ainda sem jeito foi ao encontro da mãe que a aguardava com um sorriso orgulhoso.

— Mãe, o que eu falo? – Perguntou ao pé do ouvido de Maria sem jeito, e com muito vergonha ao ver todos aqueles olhares nela.

— Agradeça, ora.

— Oi gente – uma microfonia surgiu, deixando-a ainda mais tensa – bom, eu não sei muito o que dizer, mas eu quero agradecer, pois, pra mim é uma honra estar aqui, e quero agradecer a minha mãe – seus olhares se encontraram – pois é por ela que eu tô aqui, e se um dia eu for ao menos a metade do que ela é, eu me dou por satisfeita. É isso, muito obrigada, e me perdoem por não saber falar direito, é que eu não esperava mesmo.

Novamente todos os presentes se puseram de pé para aplaudir. As duas desceram da passarela sendo alvo de muitas fotos. Juliana ainda estava meio perdida, mas como aconselhara a mãe, ela tentou relaxar e apenas sorrir.

— Parabéns para as minhas meninas, vocês arrasaram!

Cláudio fora o primeiro a parabenizá-las assim que conseguiram sair do tumulto da mídia.

— Você mandou muito bem, Ju. – Henrique a saudou com um selinho.

— Eu não vi nada demais ali, apenas modelos magricelas com umas lingeries super sem graça. Sou muito mais eu. – Giovana disse, tentando acabar com a alegria de ambas.

— Eu vou desconsiderar seu comentário, hoje você não estraga meu dia, filhinha. – De pronto, Maria rebateu o comentário malicioso da filha.

— Bom, eu não entendo muito de moda, mas se eles gostaram é porque vocês deram conta do recado. – Foi a vez de Miguel deixar as suas palavras.

— E sua mãe Henrique, onde está?

— Maria, ela saiu no meio do desfile, dizendo que tinha algo sério pra resolver. Achei um pouco estranho, mas vindo dela, é até normal. Achei estranho também Jacques não ter vindo.

— Deve ter acontecido algum imprevisto. Bom, Juliana e eu ainda temos que dar algumas entrevistas, se vocês quiserem ir indo.

— Fique tranquila, vamos esperar o tempo que for preciso. – Cláudio declarou.

As duas estrelas foram em direção aos repórteres para ceder a tão sonhada entrevista que eles queriam. Pela primeira vez depois de muito tempo, Maria não fora o alvo das perguntas, e sim Juliana, mas ela não se importava, pelo contrário, sentia-se feliz por ver sua filha ali, tão adulta.

Pouco a pouco ela fora se esquivando daquele aglomerado e deixando Juliana sozinha, ela iria se apavorar ao perceber que estava só, mas daria conta do recado.

Maria apenas observava tudo de longe enquanto tomava uma taça de champanhe. Sua mente estava dispersa, pensando em mil coisas que nem se deu conta quando Estêvão apareceu de supetão.

— Quero falar com você, me siga.

Estêvão não deu nem a oportunidade dela negar e saiu andando na esperança que ela o seguisse. Buscando toda a discrição do mundo, Maria fez como ele pedira e o seguiu entrando então numa sala um pouco distante de todo o alvoroço.

— O que você quer comigo? Já pensou se um desses fotógrafos nós flagram? – Apontou para fora da sala que já estava fechada.

— Você sabia que eu fiquei o evento inteiro te olhando, e confesso que me incomodou um pouco a forma que outro marmanjos também te olhavam.

O homem vestido por um elegante terno se recostou na mesa que havia ali. Maria riu achando graça do seu comentário.

— Você me chamou aqui só pra dizer essa bobagem?

— Sim... Não. Na verdade eu queria dizer que você está deslumbrante.

— Mas você já me disse isso mais cedo.

— Bom, mas aquela hora tinha gente demais te olhando, e eu tava meio abobado. Agora só estamos nos dois aqui e acho que meu olhos já se acostumaram com o que vêem.

Com uma voz manhosa de quem conseguia sempre o que queria, ele foi andando em direção a Maria, e ela, procurava se distanciar. No fim, ele a precionara contra a parede.

— Sabe o que eu lembrei vendo aquelas modelos? – Ele sussurrava no seu ouvido. – Do nosso primeiro beijo depois que você voltou. Você com aquela lingerie toda sexy me deixou doido sabia?

— Estêvão...

— Ainda bem que você não desfila, eu não ia aguentar ver um bando de gente te desejando, como eu estou agora.

Como um lobo selvagem, Estêvão tomou sua amada num beijo quente e cheio de paixão. Maria não resistiu, deixou ser beijada, tocada e apertada por ele. Apesar de sua boca proferir ódio, seu corpo parecia dizer a todo instante que era ele quem ela queria. E ela já nem ligava se suas caricias demonstrassem sentimento de posse da parte dele, pois era isso que ela sentia quando estavam juntos, sentia com se fosse dele.

A temperatura subiu rapidamente. Ambos eram como fogo e gasolina que só de estarem próximos faziam um grande estrago. O beijo cálido só cessou pela falta de ar que surgiu.

— Você não devia ter feito isso. – Maria disse se esquivando.

— Você gostou. – Respondeu simples.

— Eu não devia ter cedido.

— Já reparou que você sempre diz as mesmas coisas? Eu te beijo, você gosta, mas no fim se faz de arrependida.

— É que você me deixa atordoada! Já pensou se alguém nos pega aqui? É só o que eles querem, um escândalo.

— Você fica ainda mais maravilhosa com raiva, sabia? – Ele tentou tocá-la de novo, mas ela o repeliu.

— Chega, ok? Eu vou sair daqui, e espere um pouco pra sair também, não quero que cogitem a ideia de que estivemos juntos.

...

A família chegou em casa por volta de umas seis da noite, exaustos, porém animados, principalmente Maria e Juliana. O dia glorioso das duas fez valer a pena uma noite inteira de trabalho.

— A gente podia sair pra jantar fora, e comemorar esse grande êxito. – Miguel sugeriu assim que se jogou no sofá.

— Ah, é uma boa ideia, filho.

— Mas é uma jantar em família – Giovana fez questão de enfatizar a palavra família – né? Não vale chamar namoradinho sem graça.

— Você tá com inveja por ainda tá encalhada. – Juliana rebateu.

— Eu encalhada? Ha, ha, ha – a menina forçou um riso – querida irmãzinha, é só eu estalar os dedos que se forma uma filha de homens nesta porta.

O modo como Giovana proferiu suas palavras arrancou risada de todos os presentes.

— Eu só vou tomar um banho e vamos. – Cláudio disse já subindo as escadas, sendo seguido por Maria. Os outros três fizeram o mesmo.

...

O dia que tendia a ser desastroso fora um dia prazeroso, e terminou da melhor forma: um jantar em família. Esse programa estava no topo das preferências de Maria, independente de como fosse, estar com os filhos e o marido era algo que enchia seu coração.

— Há tempos não passamos o dia juntos, em família. Temos que fazer isso mais vezes.

A conversa entre o casal rodava entre diversos assuntos nada sério, coisas do cotidiano. Cláudio olhava Maria através do espelho da penteadeira enquanto estava deitado na cama,

— Concordo. – Ao responder o marido, Maria se calou, e continuou penteando seu cabelo. – Miguel não para de me pressionar sobre aquele assunto. – A fisionomia de Maria havia mudando um pouco, ela não fez questão de esconder sua inquietação enquanto se aproximava do marido.

— E o que você pensa em fazer? – Cláudio se recostou na cabeceira da cama, se mostrando também preocupado com o assunto.

— Não sei, não sei. Ele tá convicto de que quer porque quer saber, e eu já não sei mais o que dizer a ele.

— Inventa alguma coisa.

— Miguel não é burro, ele sacaria na hora.

— Então fala a verdade, fala que não sabe e ponto. Miguel é maduro, vai entender.

Antes de Maria responder, seu telefone, que estava sobre a cama, tocou. Os dois de pronto olharam para o aparelho, Maria quis sumir quando percebeu que era Estêvão.

— Toma. – Ele lhe entregou o objeto. Ela viu em seus olhos todo sua desaprovação.

— Alô. – Maria disse assim que atendeu, indo para o meio do quarto.

— Maria, eu preciso que você venha aqui agora. – Sua voz continua certa urgência.

— Não posso. – Respondeu seca, enquanto encarava Cláudio.

— É um assunto sério, por favor.

— Estêvão já disse que não.

— Ele tá aí, não tá?

— Sim.

— Eu não queria causar esse constrangimento, mas acredite, eu não ligaria a essa hora se não fosse um assunto sério. Vem sozinha.

— Tá, vou ver o que posso fazer. – Sem mais, ela desligou o celular, e indo até seu closet, voltou uma uma muda de roupa simples. – Eu preciso sair.

— Vai se encontrar com ele?

— Ele tava nervoso, é algo sério. – Ela dizia enquanto se trocava. – Não pense maldade, por favor.

— Ah, claro que não vou pensar. Minha mulher indo se encontrar tarde da noite com um cara que não esconde de ninguém que é afim dela, no apartamento dele, e você não quer que eu pense besteiras? – Sua voz deu uma leve alterada. – Então eu vou com você.

— Não! – Maria fora mais intensa do que pretendia. – Ela pediu que eu fosse sozinha.

— Ok – deu uma risadinha – Maria, se você sair por essa porta, considere acabado nosso casamento.

Maria o olhou sentindo-se entre a cruz e a espada, mas não era mulher de titubear, ou de ceder a chantagem de quem quer fosse e decidiu logo.

— Eu sinto muito Cláudio, mas eu não vou ficar.

Sem meio mais, a mulher pegou sua bolsa e deixou no quarto um marido revoltado e talvez um casamento que já durara quase vinte e cinco anos.

...

Maria não precisou tocar a campainha mais de uma vez para que Estêvão viesse correndo atendê-la. Quando abriu, havia mesmo um semblante preocupado, o que levou Maria a ficar ainda mais tensa.

— Eu espero que seja realmente sério, porque meu casamento está por um fio por causa da sua ligação. – Disse adentrando pela porta com cara de poucos amigos.

— Se eu soubesse tinha feito isso antes. – Ele riu enquanto fechava a porta. Maria o olhou contrariada.

— Sem brincadeiras, Estêvão. Então, o que quer?

— Vem comigo.

Estêvão tomou a mão de Maria, e rapidamente ambos chegaram ao quarto. Ao entrarem, ele abriu a porta do um guarda roupas antigo, revelando uma pequena bagunça.

— O que você quer dizer com isso? – Maria perguntou rindo. – O que eu tenho a ver se você é um desorganizado?

— Por Deus, Maria, não é isso! Há muito tempo eu não mexo nessas coisas, são coisas do colegial e outros semelhantes, aí cheguei em casa hoje de manhã e encontrei isso tudo revirado. E mais, dei falta de um cadernos contendo as cartas que você me enviava.

— E o que tem isso de tão sério? – Indagou com desdém.

Estêvão respirou fundo antes de responder.

— Há uns dias tenho sentido falta de uma foto nossa da adolescência que estava na sala, eu pensei que estivesse colocado em outro lugar, e agora que vi isso ali – olhou o armário – deduzi que só pode ter uma explicação lógica.

— E qual é?

— A foto sumiu depois que Giovana veio jantar aqui, então só pode...

— Não Estêvão, não continua essa frase, por favor.

— Ter sido Giovana que entrou e pegou minhas coisas.

 

 


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