Amazing Grace escrita por Val Rodrigues


Capítulo 8
Capitulo Oito




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Pov Nathan

Manoela demorou para conseguir dormir e eu ainda mais. 

Me revirei no sofá pela milésima vez, pensando em como queria estar em minha casa, na minha cama. Sorri. Ela tinha razão afinal. Mas nada me impediria de apoia-la.

O cheiro de café fresco invadiu o local e eu abri os olhos, notando que ainda era muito cedo. Sentei no sofá, bocejando. Andei ate a cozinha disposto a pedir uma xícara de café à dona Valentina, mas fui surpreendido ao perceber o pai dela em frente ao fogão.

— Bom dia. Falou com um aceno.

— Bom dia. Respondi somente.

Sem a única pessoa que nos interligava aqui para conversar, parecíamos não ter assunto, tornando o clima desconfortável.

— Quer uma xícara? Ofereceu de repente.

— Sim. _ Respondi. _ Posso usar o banheiro antes?

— Claro. Sabe onde fica, não é? Valentina sempre deixa escovas novas no armário. Pegue uma. Mandou voltando a atenção ao café.

— Obrigado. Murmurei saindo da cozinha.

Quando retornei ele não estava mais la. Olhei ao redor, me perguntando onde poderia ter ido.

— Aqui garoto. Venha. _ Chamou e eu o segui. _ Pegue. Ordenou me passando uma xícara.

Dei um gole me sentindo um pouco melhor, eu amava café pela manha, era um habito que meu futuro sogro aparentemente também tinha.

— Esta bom. Elogiei.

Ele riu sentando-se no batente em frente à porta de entrada e eu o acompanhei,  fazendo o mesmo. 

— É praticamente tudo que sei fazer na cozinha, então deve ser bom.  Ele tomou uma longa respiração e eu o olhei notando pelo cansaço em sua feição que talvez ele também não tivesse conseguido dormir.

  _ Como você a encontrou na ponte? Digo, ela realmente tentou... Deixou a pergunta no ar, mas não era preciso completar a frase para que eu entendesse.

— Sim, acho que ela não conseguia suportar. Respondi.

— Você não gosta muito de mim, não é? Perguntou me surpreendendo com sua sinceridade.

— Sem querer parecer desrespeitoso Sr. Camilo, eu não entendo, por que o senhor a mandou embora daquela maneira?  

— Eu nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer a ela. Pensei que ela iria atrás do pai do filho dele, imaginei que ele estava fugindo da responsabilidade e pensei que manda-la embora resolveria o problema. Esperei que ela fosse voltar no dia seguinte com ele, então iria dar um sermão e obriga-lo a tomar uma posição de homem. Quando ela não voltou, pensei que ela estava brava demais comigo.

Explicou tomando mais um gole de seu café. Ponderei sua resposta por um momento. O som dos pássaros ecoando no local. 

— Se a mãe dela estivesse aqui, nunca ia permitir algo assim.   Patrícia era uma mulher incrível.

— Manu não fala muito sobre ela. Refleti, mesmo que magoada com a atitude do pai, ela sempre falava dele, mas nunca da mãe.

— Ela faleceu quando a Manu nasceu. Minha filha nunca conheceu a mãe, eu a criei sozinho. A verdade é que me deixei levar pelo orgulho. Foi difícil aceitar que tinha falhado com ela.

— Não acho que o senhor falhou. A Manu é linda, inteligente, forte, de bom caráter. 

— Viu? Puxou a mãe. _ Sorrimos. _ Eu tenho muito que te agradecer Nathan, a você, e as pessoas que a acolheram e cuidaram dela. Vou ser grato a vocês pelo o resto da minha vida.

Encarei aquele homem. O arrependimento era nítido em sua expressão, ele cometeu um erro, mas em breve eu seria pai, não que expulsar meu filho de casa passasse por minha cabeça, mas com certeza, não iria ser perfeito. Pelo bem da Manoela, o melhor era deixar este assunto de lado e seguir em frente, carregando as lições que aprendemos com ele.

— Vamos apenas seguir em frente. O senhor esta pronto para leva-la ao altar? Sorri mudando de assunto e ele me imitou.

— É claro. Eu já nasci pronto. Gargalhamos.

Olhei ao longe o sol nascer e uma paz me invadiu.

Pela primeira vez, desde que chegamos aqui me senti a vontade. A verdade era que não tinha nada a ver com o lugar, e sim com a situação, e agora que tudo parecia resolvido, não havia motivos para não apreciar o dia.

          .................         

 

Manoela apareceu um pouco mais tarde com um vestido solto e sorri vendo como ela estava mais descansada.

— Dona Valentina me emprestou. _ Explicou. _ Mesmo que todas as minhas roupas estejam aqui, nada me serve.

— Você esta linda. Ela sorriu sentando-se ao meu lado.

— Obrigada. Já tomou café?

— Sim. Seu pai faz um ótimo café. _ Ela olhou-me surpresa. _ Nós conversamos sobre algumas coisas. Expliquei.  

— E como foi? Quis saber dividindo a atenção entre mim e o pão na mesa. 

— Bem. Eu o convidei para ir nos visitar quando o Kaio nascer.

— Seria ótimo, mas ainda não estamos morando juntos.

— Eu estava pensando que a gente podia resolver isso quando voltarmos. Vamos juntar suas coisas e levar. Vai ser melhor recebe-los em nossa casa.

— Nossa casa? Perguntou sorrindo. A tarefa esquecida sobre a mesa.

— Sim. Nossa casa. O que me diz? Perguntei ansioso.

— Que bom que eu não tenho muita coisa então. Sorri.

Nós aproveitamos o dia e almoçamos antes de irmos para casa. Quando chegamos a Cidade, estava começando a anoitecer.

Dirigi direto a casa da Dona Giselia, onde ela chorou ao ouvir minha noiva contando sobre o reencontro com o pai e sobre a mudança. Ela nos ajudou a recolher as poucas coisas da Manoela, antes de nos abraçar e desejar felicidades. 

Aproveitei o momento para agradecê-la por tudo. Manoela também se emocionou ao se despedir, embora não estivéssemos indo longe.

— Eu nunca soube como era ter uma mãe dona Giselia, mas a senhora me mostrou como é. Sua filha tem muita sorte por te-la. Obrigada por tudo, tudo mesmo, nunca vou conseguir agradecer o suficiente.

— Manu, você esta me fazendo chorar. _ Se abraçaram novamente. _ Me ligue se precisar de qualquer coisa.

— Ligo sim.

— E você Nathan, cuide bem dela. Pediu. 

— Eu vou. Garanti.

.......................

Contemplei Manoela de olhos fechados, com a cabeça recostada no vidro da janela.

Em pensar que quando nos conhecemos, ela nem ao menos conseguia ficar a sós comigo. E agora estávamos indo morar juntos, nos casando em breve.

Eu não era bobo de achar que todos os seus traumas estavam resolvidos, ainda conseguia notar certa ansiedade e ate mesmo insegurança em seus olhos em certos momentos, mas esperava que isso a ajudasse a se sentir mais confiante quando o momento chegasse.

No momento, tudo o que importava era deixa-la segura e confortável. E jamais, conseguiria ficar tranquilo sem ela ao meu lado. 

— Amor, acorda.  _ Chamei, com calma, notando-a abrir os olhos devagar. _  Chegamos. 

— Nossa. Eu dormi?

— Sim. Vamos entrar.

Carreguei suas coisas de uma só vez e coloquei em nosso quarto.

A deixei sozinha, enquanto tomava um banho e fui preparar um lanche leve para nós dois.

Ela sorriu quando eu entrei no quarto com o prato de sanduíches em uma mão e uma jarra de suco na outra. Comemos calmamente e foi minha vez de tomar um banho.

O cansaço finalmente cobrando seu espaço. 

— Pronta para dormir? Perguntei pendurando a toalha.

— Acho que sim. _ Murmurou insegura.

Sentei-me ao seu lado na cama, e busquei sua mão depositando um beijo  em sua palma. 

— Eu sou uma boba. Proferiu com um suspiro. 

— Por quê?

— Já dormi outras vezes aqui e a gente nunca... você sabe. E não que eu espere que isso aconteça hoje, ainda mais comigo neste estado, mas sei la, me sinto nervosa e ansiosa ao mesmo tempo.

 Me ergui um pouco deixando um beijo em sua testa.

— Não se preocupe com nada. Tudo ao seu tempo. Por agora, vamos apenas descansar e nos preparar para a chegada do nosso filho.

Ela sorriu me dando um selinho.

— Eu te amo Nathan. Amo demais. Declarou com um brilho diferente no olhar, as bochechas levemente rosadas, tão natural, tão linda. 

— Eu amo você. Sentenciei, me ajeitando na cama, a trazendo comigo. 

Não consegui evitar a sensação de estar segurando o meu mundo nos braços, nem controlar o sorriso instalado no meu rosto. 

— Boa noite amor. Sua voz doce invadiu o quarto em silencio. Suave e baixa.

— Boa noite linda. 

........................

 

Poucos dias depois...

— Respira fundo amor. Pedi mais uma vez.

— Eu estou respirando Nathan. _ Falou nervosa enquanto eu tentava pegar nossas coisas e seguir para o Hospital. _ Não esta um pouco cedo para ele chegar? Ainda não completei os nove meses.

Manoela discorreu pensativa, quando uma contração passou, se apoiando na cabeceira da cama.

— Não. Acho que esta dentro do previsto. Devolvi tentando racionar o que fazer. 

— Ai, droga. Isso vai ser difícil. _ Murmurou com uma careta, apertando o lençol da cama, e eu apertei meu jeans igualmente nervoso, esperando que mais uma contração passasse. _ Preciso me trocar. Ela disse melhorando novamente.

— Esta bem, vou pegar uma roupa para você. O que quer vestir? Perguntei indeciso sobre o que pegar no guarda roupa.

— Qualquer coisa. Mas anda logo Nathan. Esta ficando mais difícil suportar. Precisamos ir ao hospital. Rápido. Sentenciou. 

Meus nervos estavam ligeiramente agitados, enquanto dirigia pelas ruas rumo ao hospital. Logo após ajuda-la a se trocar, pegar chaves, carteira e a bolsa dela, consegui ajuda-la a chegar no carro.

Minha preocupação aumentando, a medida que as contrações vinham e iam, cada vez mais rápidas, indicando que nosso filho logo chegaria. 

— Amor, você avisou nossa família? Perguntou me olhando de lado. 

— Ainda não. _ Respondi concentrado. _ Vou ligar para eles  quando chegar ao hospital e você estiver sendo atendida.

— Boa ideia. Respondeu para fazer mais uma careta de dor em seguida.

.................

"Você é um bombeiro, por Deus, controle-se homem." Ordenei a mim mesmo enquanto esperava noticias dos dois. Por que demorava tanto?

— Você vai abrir um buraco no chão se continuar andando de um lado para o outro deste jeito, Nathan. Minha mãe alertou, me olhando.

Ela foi a primeira pessoa que liguei avisando e uma das primeiras a chegar ao Hospital junto com o meu pai.

— Eu estou um ansioso. Confessei, notando-a revirar os olhos, divertida,  a minha declaração.  

— Fica calmo, vai dar tudo certo. Pediu com a voz tranquila.

— A senhora não acha que esta demorando muito? Perguntei incapaz de me manter quieto, outra vez.  

— Não. É totalmente normal. 

— Eu não sei. Falei não muito convencido.

— Nathan, senta um pouco. Você esta me deixando nervosa. _ obedeci o pedido, tentando me tranquilizar. _ Já avisou a família dela?  

— Sim. Ela tocou levemente em minha mão e eu a olhei. 

— Filho, sabe que eu te amo não é e que só quero que seja feliz? Perguntou e eu acenei concordando, mesmo que não estivesse muito atento as suas palavras, minha cabeça estava na sala de parto do Hospital, junto com minha noiva e meu filho que estava prestes a chegar. _ Nathan, você esta me ouvindo? Minha mãe voltou a chamar minha atenção e eu a olhei.

— Desculpa mãe. O que a senhora disse?

Ela suspirou segurando minha mão e me olhando nos olhos. 

— Como sua mãe eu preciso perguntar uma coisa. Por favor, não quero que fique chateado nem nada do tipo, seu pai acha que eu não devo me meter, mas não vou ficar tranquila ate ouvir de você.

— O que é? Perguntei intrigado pelo seu longo discurso.

Minha atenção, voltando-se para ela, momentaneamente.  

— Nathan, você tem certeza do que esta fazendo? _ Perguntou e eu a olhei surpreso. _ Quer dizer, você tem noção do que esta fazendo? Vai assumir a paternidade de uma criança, e isso é muito sério. Não pode acordar amanha ou daqui a alguns anos e se arrepender desta decisão, nunca. Não existe ex-pai, mesmo se algum dia a Manoela e você se separarem, esta criança vai continuar sendo sua. Entende isso? Perguntou me olhando nos olhos e eu levei alguns segundos para organizar minha resposta.

Não que eu tivesse duvidas, mas precisava externar minhas certezas de uma forma que ela ou qualquer pessoa pudessem entender o quanto eles significavam para mim. 

— Mãe, sabe que eu também amo muito a senhora não é, e em momento algum pretendo desrespeita-la. _ Comecei e ela acenou me olhando. — Eu não pretendo me separar dela nunca, mas se em algum momento da vida isto vier acontecer, Kaio continuará sendo nosso filho. _ Falei tentando passar toda a minha convicção a ela que acenou emocionada me abraçando. _ O Kaio é meu filho, tendo meu sangue ou não. E não vou deixar ninguém dizer o contrario.

— Estou tão orgulhosa de você filho. _ Sorriu emocionada, me abraçando. _ Não se preocupe, em breve você vai conhecê-lo. Vai ver que tudo ficara bem. Garantiu e acenei concordando.

..........................

— Pode entrar. A enfermeira avisou após o que me pareceu uma eternidade, e eu a acompanhei em silencio.

Manoela estava deitada na cama e sorriu fraco quando me viu.

— Oi. Ela murmurou baixo.

— Oi. Você esta bem? Perguntei observando sua expressão cansada.

— Agora estou. E você?

— Nunca fiquei tão ansioso na minha vida.  Revelei a fazendo sorrir.

— Eu sei, mas você se saiu muito bem.

Sorri olhando para o pequeno ser ao seu lado, enrolando em uma manta. Fiquei ali, parado, olhando um ser tão pequeno, que ocupava um espaço tão grande em meu coração.

Então este era o sentimento de ser pai?

— Oi filho. _ Toquei seu pezinho com cuidado. _ É o papai. _ Murmurei sentindo uma emoção nunca conhecida antes.

Olhei para Manoela e ela sorriu com os olhos lacrimejados, ergueu a mão e tocou o meu rosto, secando uma lagrima que eu não percebi que caia.

— Diz oi para o papai, meu amor. Ela falou tocando sua mãozinha.

— Ele é lindo, amor. Murmurei maravilhado.

— Não é? Tão perfeitinho. Sua voz emocionada.  

— Ele parece com você. Apontei e ela sorriu ainda mais.

— Obrigada. _ Respondeu e eu me aproximei deixando um beijo em sua testa. _ Quer segura-lo?

— Claro que sim. Respondi ansioso novamente.

— Fica calmo. É só pega-lo devagar. Avisou e eu sorri.

Ao menos isso eu sabia fazer.  

Vê-lo já me causara uma grande emoção, mas nada se comparava ao momento de te-lo em meus braços. Senti a necessidade imensa de protegê-lo, de cuidar dele, como se aquele pequeno ser dependesse de mim. E de certa forma dependia. E eu faria de tudo por ele e pela mulher que agora nos olhava emocionada.

Eu cuidaria e protegeria a minha família. Esta seria minha missão de agora em diante. 

— Seja bem vindo filho. Contemplei-o. 

Com cuidado, beijei a cabecinha do meu filho pela primeira vez, espantado com o sentimento novo que arrebatava meu coração. 


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Notas finais do capítulo

Ai, ai, ai. Meu coração não aguenta.



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