Amazing Grace escrita por Val Rodrigues


Capítulo 5
Capitulo Cinco


Notas iniciais do capítulo

Ola...



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Pov Manoela

—Você não sabe de onde ela veio.

Parei segurando a maçaneta da porta. Estava prestes a sair do quarto quando ouvi vozes vindo da cozinha. Sem querer atrapalhar a conversa da dona Giselia com sua visita voltei a sentar-me na cama.

—Quem ela é? Como pode coloca lá dentro de sua casa? Estava tão carente assim? 

— Kristin é melhor tomar cuidado com suas palavras.

— Desculpa Giselia. Mas eu não consigo entender por que você fez isso.

— O que há para entender? Ela precisava de um quarto, eu tinha um. É simples.

— Não ficou com medo? E se ela for uma pessoa de má índole? Está garota ainda por cima esta grávida. Você também vai arcar com tudo?

— Não é assim Kristin. Vamos mudar de assunto, por favor? Eu não quero discutir com você.

Não tive a intenção de ouvir a conversa. Mas ainda assim as palavras daquela mulher mexeram comigo. Resolvi esperar. Quando não havia som algum pela casa algum tempo depois, sai olhando ao redor.

— Estava dormindo? Dona Giselia perguntou assim que me viu entrando na cozinha.

— Não. _ Tomei uma respiração, me enchendo de coragem. _ Dona Giselia.

— Sim? Falou organizando alguma coisa na pia.

— Assim que o bebê nascer e eu puder deixa-lo na creche, vou encontrar um trabalho.

— Não se preocupe com isso. Ainda falta um tempo.

— Sim. Mas eu vou assumir todas as responsabilidades do meu bebê. Já sou grata por a senhora ter me acolhido, nunca seria capaz de me aproveitar da situação.

Ela me encarou seriamente, e suspirou largando a xícara na pia.

— Você ouviu não foi? 

— Foi sem querer. Eu ia sair do quarto no momento. Desculpe. 

— Manu não devia dar ouvidos a tudo que ouve. Kristin não é má pessoa, ela só é um pouco cuidadosa demais e está preocupada comigo. Acenei, mesmo não concordando. Podia está sendo precipitada, mas ainda assim suas palavras me atingiram. _ E não se preocupe, nunca passou pela minha cabeça que você estava se aproveitando. Enfatizou e eu acenei em silencio.  _ Alem do mais, seria bom para vocês duas que se dessem bem. 

— Dona Giselia, eu não quero parecer desrespeitosa, mas não acho que isso seria possível. Ela nem ao menos me conhece, mas já deixou claro o que pensa de mim. Falei chateada.

— Manoela, ela é a mãe do Nathan. A encarei boquiaberta. 

 ......................           

Observei Nathan tomando café, ele parecia exausto. Não nos víamos ha dias já que ele estava trabalhando em turno dobrado no quartel de Bombeiros.

Ele me encarou de volta sustentando meu olhar.

— O que acha de ir jantar e conhecer minha família esta semana? Ele perguntou tomando seu café.

— Acho que é melhor irmos com calma. Sugeri.

As palavras da mãe dele, ainda vividas em minha mente, semanas após o ocorrido. Se ela pensava isso de mim sem me conhecer, o que diria quando soubesse que estava namorando o seu filho?

Nathan me olhou, deixando a xícara de lado.

— Nós já estamos juntos há algum tempo e toda vez que eu sugiro isso, você usa uma desculpa diferente. Não sou mais um adolescente que namora as escondidas. Contestou com o semblante fechado, claramente chateado com minhas negativas.  

— Não estamos nos escondendo. _ Me defendi, não querendo dar o braço a torcer. _ E não estou dando desculpas Nathan. 

— Então o que é? Porque você não quer conhecer minha família?

— Olha para mim. Eu estou enorme. Como é que eu vou simplesmente chegar e dizer para sua mãe. " Oi. Eu estou grávida. Mas não se preocupe. Seu filho não é o pai." Ele ficou em silêncio voltando a tomar seu café desviando o olhar do meu. Suspirei. _ Nathan, eu só acho que ainda não é o momento certo. Tentei novamente. Ele acenou concordando.

— Está bem. Não vou mais insistir. Você já acabou? 

— Sim. Respondi perdendo totalmente o apetite.

— Então vamos. Disse já levantando a mão para pedir a conta.

— Você está bem? Perguntei quando estávamos sozinhos novamente.

Nathan suspirou, desviando o olhar, antes de responder.

— Eu acabei de sair de um turno de 72 horas, então preciso de um banho e da minha cama por um tempo. Vamos, vou te deixar em casa.

— Não precisa. Eu vou aproveitar que estou aqui e ir ao mercado. 

— Tem certeza? 

— Claro. Vá para casa. Descanse. A gente se fala depois.

O beijei rapidamente, saindo do café.

Eu poderia tentar ignorar que o havia chateado com minhas negativas, mas não sabia como dizer a ele o que ouvi de sua mãe e muito menos como encara-la. 

Suspirei, deixando estes pensamentos de lado e me concentrei na compra no mercado. Cozinhar sempre me relaxava. E era exatamente isso que eu faria. Decidida, escolhi ingredientes para uma lasanha e outras coisas que estavam faltando na casa. Gastei um tempo a mais preparando a lasanha já que estava mais lenta que o normal. Após um banho e descansar um pouco, deixei a lasanha no forno e um bilhete para a Dona Giselia e segui para a casa de Nathan.

Ele havia trabalhado dobrado. Com certeza não iria cozinhar, e ao menos isso, poderia fazer.

Esperei pacientemente que ele abrisse a porta após tocar a campainha pela segunda vez. Nathan abriu a porta com a cara amassada de sono, o rosto levemente avermelhado, os olhos pequenos,  e ainda assim, totalmente lindo.

— Oi. Sorri sem jeito. 

— Oi. Respondeu surpreso. A voz rouca, enchendo meus ouvidos. 

— Eu trouxe comida. _ Expliquei erguendo a travessa de lasanha que ele encarou segurando de minhas mãos. _ Pensei que pudesse estar com fome. 

— Entra. _ Pediu me dando passagem. _ Me dá um minuto. Preciso lavar o rosto. Já volto.

— Está bem. Vou colocar a lasanha no micro-ondas.

— Obrigado. Gritou de algum lugar dentro da casa.

Fiquei a olhar o temporizador do micro-ondas enquanto a lasanha aquecia. Braços me envolveram por trás e ele deixou um beijo em meu pescoço. Suspirei derretendo por dentro.

Nathan me girou em seus braços, me deixando de frente e me beijou. Agarrei seu pescoço percebendo quanta saudade eu sentia dele. E foram apenas três dias sem se ver. 

— Senti sua falta. Externei.

— Eu também senti. Nathan fez um carinho em meu rosto e eu sorri.

— Está com fome? Perguntei me soltando indo até ele. 

— Morrendo de fome. Ele comeu em silêncio enquanto eu ficava a observa-lo. Vez ou outra me fazia comer uma garfada também. 

Suspirei olhando a noite começar a cair no lado de fora. Nathan secou as mãos no pano de prato colocando a travessa limpa em cima da mesa e se jogou no sofá ao meu lado deitando sua cabeça na almofada em meu colo.

— Obrigado por me trazer comida. Fiz um carinho em sua cabeça.

— É o mínimo que eu posso fazer.

— Pode fazer isso sempre. _ Brincou. Sorrimos juntos. _ Quer assistir um filme? Perguntou e eu acenei com concordando. Menos de trinta minutos de filme e ele já dormia novamente.

Fazendo um carinho suave em seus cabelos, refleti em nossa conversa mais cedo. Com cuidado levantei, apoiando sua cabeça no sofá. Tentando fazer o mínimo de barulho possível, peguei minhas coisas e sai. A noite estava apenas no começo, ainda assim um calafrio percorreu meu corpo. Lutando contra o medo, me concentrei em esperar o ônibus chegar.

Um som encheu meus ouvidos e eu olhei ao redor procurando de onde vinha. Ele falava sobre o amor de Deus. "Onde ele estava quando aquele homem me atacou? Eu gritei por ajuda, mesmo que ele me sufocasse, gritei em desespero". Pensei.

— Manoela. _ A voz de Nathan encheu meus ouvidos. _ Graças a Deus. Me tomou em abraço apertado. _ Eu fiquei apavorado sem saber onde estava. Você está bem? _ Começou a me olhar e parou em meus olhos. _ Estava chorando? O que aconteceu? _ Balancei a cabeça secando o rosto. Nem havia percebido que estava chorando.

— Por que você está aqui? Pensei que estivesse dormindo em casa. 

— Eu estava até a dona Giselia me ligar avisando que você ainda não tinha chegado. Por que não me acordou? Eu te levaria em casa.

— Você estava cansado, precisava descansar. Não queria te incomodar. Expliquei.

— Você nunca incomoda. Coloca isso aqui. Falou apontando minha cabeça. _ Vem, vou te deixar em casa. Chamou segurando minha mão.

— Nathan. Você acredita em Deus? Perguntei sem me mover um passo sequer.

— Sim. Respondeu me olhando cuidadosamente.

— Então, onde ele estava quando eu precisei? Onde ele estava quando eu gritei por ajuda? Por que ele não me ouviu? _ Perguntei em prantos. _ Por que Nathan? Por que ele deixou aquele homem destruir a minha vida assim?

Nathan abriu a boca, a fechando em seguida, sem dizer uma palavra sequer e me abraçou apertado. Eu podia sentir a dor rasgando o meu peito. Agarrei sua camisa, deixando seu abraço me envolver. Precisava disso, Nathan era meu porto seguro, com ele eu estava em terra firme, mas sozinha me sentia em uma tempestade em meio do mar.

— Eu queria ter as respostas para você, meu amor. Mas, infelizmente, eu não tenho. Suspirei em meio as lagrimas.

— Desculpa, sei que esta chateado por eu não aceitar conhecer seus pais, mas eu não posso fazer isso, não posso encara-los e explicar tudo. Me desculpa Nathan.

— Esqueça isso esta bem? _ Pediu segurando meu rosto. _ Não vamos tomar nenhuma decisão ate que esteja pronta e segura. Garantiu beijando minha testa.

— Você não devia estar aqui.  _ Neguei me afastando um passo. _ Devia estar com alguém inteira, completa, não como uma pessoa quebrada como eu.

— Não fale assim. Nunca mais. Pediu sério. _ Você esta aqui, portanto é onde vou ficar. Nunca mais você vai ficar sozinha Manoela, eu não vou deixar. _ Suspirei exausta com os olhos inchados e a cabeça dolorida. Chorar sugava minhas energias e eu odiava isso. _ Vamos, vou te deixar em casa. Acenei concordando.

................

Dona Giselia estava na porta quando chegamos e me abraçou assim que pisei na varanda de sua casa.

— Você não pode ficar assustando as pessoas assim. Eu já não sou tão jovem, sabia? _ Ralhou enquanto soltava a porta e me abraçava. _ Meu coração não aguenta isso.

— Desculpa. Pedi ao ver a preocupação em seus olhos.

— Você está bem?

— Sim. _ Respondi e ela relaxou a expressão. _ Eu me distrai na rua. Não percebi que estava demorando tanto.

— O que importa é que esta tudo bem, mas não faça mais isso comigo, entendeu? Quase morri de preocupação.

— Desculpe. Pedi outra vez e ela acenou.

— Vou deixar vocês conversarem. Avisou entrando na casa. 

— Eu vou entrar agora, preciso mesmo descansar. _ Falei sentindo o corpo dolorido. Nathan acenou encarando nossas mãos entrelaçadas e deixou um beijo demorado ali. _ Está tudo bem Nathan. Mesmo.

Confirmei, mas ele não me soltou.

— Eu fiquei apavorado. Só a ideia de que alguma coisa pudesse ter acontecido a vocês eu... Ele parou de falar, me apertando contra si. O abracei de volta, deixando que se acalmasse.

— Não quis assustar vocês. _ Murmurei. _ Me desculpe. 

— Eu sei. _ Concordou me olhando. _ Venho te ver amanhã.

— Esta bem. Concordei e entrei na casa.

........................

 

Pov Nathan

Esperei ansioso para que ela saísse de casa. Senti meu coração descompassar quando ela caminhou em minha direção e percebi um sorriso tímido nascer em seus lábios rosados.

— Bom dia. Disse se aproximando.

— Bom dia. Conseguiu descansar? Perguntei observando seu rosto.

— Um pouco. Respondeu não muito convicta. A puxei para meus braços beijando sua testa. 

— O que quer fazer hoje? Você escolhe. Falei tentando anima-la.

Ela pensou um pouco.

— Qualquer coisa? Perguntou me olhando.

— Sim, qualquer coisa. Confirmei.

— A gente pode passar o dia na sua casa? _ Perguntou e eu a olhei surpreso. _ Se quiser sair para algum lugar... completou.  

— Tem certeza que quer ficar em casa em pleno sábado? _ Perguntei para me certificar. Ela acenou concordando. _ Certo. Então vamos. Mas vou logo avisando que vamos precisar parar no supermercado antes. Ela sorriu.

— Me deixa adivinhar. Sua geladeira esta vazia. Brincou me provocando.

— Mais ou menos isso.

..............

— Isso é tão bom. Como você pode cozinhar tão bem assim? Ela perguntou cortando mais um pedaço do seu bife.

— No quartel sempre precisamos cozinhar. A pratica leva a perfeição. Expliquei e ela sorriu bebericando o suco natural de laranja que preparou para nós dois enquanto eu fazia o almoço.

— Você gosta do seu trabalho? Não sente medo? Questionou, afastando o prato e apoiando o queixo nas mãos. 

— Eu gosto sim. As vezes dá um pouco de receio, mas quando um chamado acontece tudo perde a importância, a única coisa que importa é aquela vida que precisa de ajuda. A adrenalina afasta o medo.

— Como no dia em que me segurou na ponte? Falou e eu senti meu coração falhar uma batida.

— Sim. Eu só pensava em te tirar daquele lugar. Confessei e ela acenou em silencio.

Busquei sua mão entre as minhas sobre a mesa e ela me olhou, com um pequeno sorriso.

— Manu, ontem você me perguntou se eu acreditava em Deus. _ Lembrei-a e ela acenou em silencio. Toquei seu rosto bonito.  _ Eu pensei bastante sobre isso. Comecei com calma. _ Eu acredito que Ele trouxe você para mim.  Eu acredito que Ele me colocou exatamente naquele lugar, no momento certo, para que a gente se encontrasse. Por que desde que você chegou a minha vida, eu tenho realmente vivido, antes era apenas trabalho, agora não, agora eu tenho uma vida de verdade ao seu lado. _ Revelei, contemplando a surpresa em seus olhos. "Será que ainda restava alguma duvida que eu a amava?" Ponderei, querendo extingui-la por completo.

 _ O que eu estou tentando dizer, é que tudo bem você não querer conhecer minha família agora, então me desculpa se eu te pressionei. Completei. 

— Não vai ficar chateado?

— Não. Você estava certa, não precisamos apressar as coisas. Por enquanto, ter você aqui já basta. 

— Obrigada por entender. Ela sorriu com o olhar emocionado e se levantou colocando seus braços em meu pescoço. Ergui a cabeça, para olha-la nos olhos, passando meu braço por sua cintura.

— Eu quero você em minha vida, e quero fazer parte da sua de igual modo. Não importa o tempo que eu tenha que esperar, contando que você venha em minha direção quando estiver pronta. Teremos a vida inteira pela frente.

 Ela sorriu. O tipo de sorriso que alcançava os olhos.

— Eu acho que estou me apaixonando por você, Nathan Vargas.

Ela pousou sua mão sobre meu rosto em um carinho suave. Virei meu rosto beijando sua palma.

— Você acha? _ Perguntei com um sorriso bobo. _ Por que eu me apaixonei por você há tempos. _ Falei sentindo meu coração pulsar no peito. _ Eu amo você Manoela. Você e este pequeno aqui. Toquei sua barriga com carinho. _ Mesmo que ele não carregue o meu sangue, eu sei que já o amo, por que estou apaixonado pela mãe dele.

Desta vez, foi ela a encurtar nossa pequena distancia. E eu? Eu a aceitei de bom grado.


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Notas finais do capítulo

E então, gente? O que estão achando? Meu coração não aguenta tanta fofura.



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