Amor em Tempo de Guerra escrita por TamyMilles


Capítulo 4
Dor de Cabeça


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Uma dor aguda atrás da cabeça me acorda. Ouço como se fosse uma discussão longe, que aos poucos aumenta.

— Não a chame assim! – Ouço perfeitamente a voz de Dilan. 

— Di... Dilan... – Digo com dificuldade, minha garganta está seca. 

A discussão para na hora e reúno forças para abrir os olhos. Tudo é só um borrão escuro se mexendo. 

— Emilly meu amor... Ainda bem que acordou, estava desesperado. – Diz Dilan me tocando no rosto, sendo a primeira imagem que consigo focar com os olhos. 

— O que aconteceu? – Digo, percebendo que estamos num quarto escuro iluminado por velas onde nunca estive e que estou deitada numa cama confortável. – Onde estamos?
 
— No Palácio onde vivo com minha família. Você torceu o seu pé em uma raiz, se desequilibrou e bateu a cabeça em uma pedra. Mas pelo visto está tudo bem com você agora, certo? - diz ele com toda preocupação do mundo.

Enfim começo a perceber o que se passa com o meu corpo. Meu pé está latejando de dor, e ao tentar mexê-lo dói demais que espremo os olhos, parece que está pesando uma tonelada. Ele está enfaixado e sinto dores na cabeça. 

— Ela já está melhor. – Diz uma mulher distante. – Trate de arrumar alguém para leva-la até sua família. 

— Como assim alguém? Eu a deixarei lá! – Diz Dilan. – Eu a levei para a floresta. 

A mulher se aproxima, e vejo que é a rainha Clarisse. 

— Para começar Dilan, nem para floresta deviam ter ido, e isso não é bom para você! O que as pessoas vão pensar ao vê-lo com a moça que tanto já sujou o nome da nossa família? - Questiona a rainha nervosa.

— Minha mãe, por favor, pare! Respeite pelo menos o fato de ela está aqui para ouvir as palavras da senhora! – Diz Dilan nervoso, se levantando de perto de mim olhando sua mãe.  

— Dilan. – Digo o segurando pelo braço. – acho melhor outra pessoa me levar. Me deixe pelas redondezas e vou andando até em casa, sem deixar pistas que estive com você. 

— Excelente ideia. – Diz a rainha.

Dilan parece estar a ponto de explodir.

— Não, minha mãe! – Diz Dilan. – A senhora viu como ficou o pé dela. Vale lembrar que ela é uma cidadã nobre do nosso reino e não uma qualquer a ser deixada à deriva!

A rainha respira fundo, como se estivesse em busca de paciência. 

— Mas você já parou para pensar sobre o que vão achar com você chegando tarde da noite com ela? - Questiona a rainha. Como assim tarde da noite?

— que eu a ajudei, pois se machucou! – diz Dilan.
 
— E aos que desconfiam do seu romance com ela? – Retruca a rainha sem nenhuma expressão. 

— Dá no mesmo, minha mãe! – diz Dilan visivelmente alterado, voltando a sua atenção para mim.

A rainha se aproxima, e percebo que o seu olhar raivoso deu lugar a um olhar mais paciente. 

— está se sentindo melhor querida? – pergunta a rainha olhando para mim. Eu levo um susto com a pergunta preocupada com o meu bem estar. 

— estou sim, minha rainha. – digo nervosa. 

Ela se aproxima e coloca a palma de sua mão em minha testa como se verificasse minha temperatura.

— A febre passou, isso é ótimo. - Diz ela se sentando sorridente ao meu lado. - Dilan, se me permite, gostaria de conversar a sós com a senhorita Ryans. 

Meu coração dispara, estou muito nervosa. O que será que a rainha quer? Ah não... Espero que Dilan não deixe isso acontecer. 

— O que a senhora pretende? – Diz ele preocupado.

— Só vou conversar com ela! Ela já está tanto tempo envolvida com a nossa família, e nunca conversei com ela direito. - diz a rainha.

— converse comigo aqui então, ora! – resmunga Dilan. 

— Filho... é de mulher para mulher. Só quero conhecê-la melhor, não vou demorar. - responde a rainha. 

Dilan me olha como se buscasse a minha aprovação, e eu afirmo que sim com a cabeça, apesar de não querer ter essa conversa.
Ele suspira forte, e se afastando diz: 

— Vou ficar aqui na porta, vigiando a senhora. – Diz Dilan apontando para mãe enquanto sai do quarto. 
A Rainha observa Dilan saindo do quarto, e dar uma risadinha achando graça ao ver o filho tão vulnerável.

— Seu nome é Emilly, certo? – afirmo que sim. - Será que posso chamá-la assim?

— Claro que sim, majestade. – Acho que as palavras saem trêmulas da minha boca. 

— Então, Emilly. Nunca falei com você diretamente, e quando me ouviu falar só foram palavras rudes... Por isso você deve me achar uma pedra no seu caminho e no de Dilan. Essa não sou, eu não sou uma pessoa grossa e má, se fossem em outras circunstâncias eu seria muito cortês com você, mas as vezes preciso ser pulso firme para decidir o que é melhor para o reino. E agora quero que me dê a chance de lhe explicar o porquê sou assim em relação a esse amor de vocês. – Ela faz uma pausa aguardando minha confirmação, e assim que a tem respira fundo, como se buscasse as melhores palavras. – Você sabe que fui mãe de 3 filhos, mas que agora só tenho 2. Isso não é novidade a ninguém. Todos sabem a triste história sobre o meu filho mais velho, Ethan, que renunciou ao trono para se casar com uma plebeia, que era serva aqui no palácio, abandonando a noiva e princesa de Londargan que lhe era destinada. Isso não gerou somente uma frustração em mim e no meu esposo, gerou prejuízo no povo, e quase uma guerra com Londargan foi desencadeada. Mas mesmo assim você sabe como o povo até hoje sofre pela morte dele, vemos isso sempre quando a morte de Ethan completa ano. Agora, imagine outro herdeiro renunciar ao trono por causa de amor? Não! Todos sabem o que aconteceu com Ethan e não irão aceitar isso de novo! Podemos ser atacados por sermos considerados fracos e o povo levantar um novo rei por conta disso. Sem falar que se os nossos inimigos souberem dessa oscilação de poder vão tirar vantagens disso! – Sua expressão demonstra a sua real preocupação. – Estou falando numa linguagem mais simples para você, Emilly. Mas a situação foi gravíssima quando Ethan renunciou, alegando que sua amada era o amor de sua vida, e que ele honraria a sua palavra com ela. E assim ficou exposto a fraqueza da família que deveria ser exemplo, pois não conseguimos impedir que Ethan partisse naquele fatídico dia... 

A rainha põe a mão no coração, como se sentisse dor. Eu me ajeito na cama para ficar sentada. 

— Está tudo bem com vossa majestade? – pergunto preocupada com ela.

— Sim... eu... parece que revi o momento deles na nossa frente de mãos dadas na sala do trono, dele jogando a coroa dele no colo de meu esposo e depois saindo a cavalo com a serva... Foi a última vez que eu o vi vivo. 

Percebo que rola uma lágrima solitária de seus olhos. É uma ferida exposta dela, mesmo que isso tenha acontecido há quase 7 anos. 

— Foi uma perda muito grande mesmo, ele seria um grande rei. – digo. 

— Sim, seria mesmo. Daqui umas semanas irá fazer 7 anos que ele partiu. E com certeza o povo irá homenageá-lo como em todos os anos, pois ele era um príncipe maravilhoso que não se poupava para dar o seu melhor a todos. Acho que todas as famílias de Alldales tem alguma história em como ele as ajudou. – sim, inclusive a minha. Eu era criança, mas tenho lembranças claras dele. A rainha relembra e isso alivia a expressão triste em seu rosto. - Meu bem... Na situação em que estamos não podemos nos dar ao luxo de perder ao Dilan, o próximo sucessor. Se Ethan não tivesse renunciado, vocês poderiam se casar normalmente, pois Dilan não seria obrigado a se casar com uma princesa, mas não pode... Precisamos unificar o nosso reino através do casamento dele com uma princesa de Faurland, e urgentemente, pois se não nos fortalecermos os outros reinos mais fortes vão acabar dominando as nossas terras.Você não sabe o terror de uma guerra porque sempre fomos vitoriosos, mas enquanto Dilan reluta para não se casar com uma princesa, os reinos estão se fortalecendo e logo seremos alvos fáceis. 

Fico ali, estatelada e sem reação. O que ela fala é verdade. 

— Por favor, abra a sua mente Emilly, isso não é um conto de fadas... Sem falar que há rumores que o reino de Londargan pretende nos atacar em breve, e eles possuem um exército poderoso e muito maior que o nosso! Sou muito mais que uma mãe, sou uma rainha que está procurando proteger o seu reino, por isso Dilan precisa se casar com uma princesa. 

Bom, eu entendo a situação , é realmente preocupante... Mas não pretendo abrir mão de Dilan, e sei que Dilan não vai abrir mão de mim. Ela tem um outro filho para ser o herdeiro.

Para acabar de vez com essa conversa, vou direto ao ponto com aquilo que ela quer ouvir.

— Uma rainha sábia. Peço perdão pelos distúrbios que causei impulsionada pelo o que sinto por Dilan. Estou disposta a ouvi-la. O que vossa majestade me sugere? – Digo já sabendo da resposta.

— É muito simples! Siga a sua vida, conheça novos rapazes e se case com um deles. Você é uma moça jovem e bonita, vai superar o sentimento. Eu superei quando fui obrigada a noivar com meu esposo e não morri! – ela dar até um sorriso amigável. Abaixo a cabeça triste, até parece que isso vai ser fácil, ou que Dilan vai deixar isso acontecer. – Ou... – diz a rainha. – se o amor de vocês forem realmente tão grande assim, você pode deixa-lo se casar com uma princesa e continuarem se vendo escondido... 

— Como? – Arregalo os olhos assustada. Ela se refere a eu ser amante de Dilan. – Não! Eu? – digo surpresa. Nunca me submeteria a uma situação humilhante dessas. 

— Sim! É o único jeito de o reino não ser prejudicado e vocês não se separarem. – diz ela sussurrando empolgada.

Não. Amo o Dilan, mas se ele se casar com outra pessoa, ele fez a escolha dele, jamais seria capaz de ser uma destruidora de lares. 

— Não... isso está errado. Dividi-lo com outra mulher... Aprendi a ser uma boa esposa com a minha mãe, e não a como ser uma amante. – digo. 

— Que bom que pensa assim querida, vejo que não é uma qualquer. Por isso se afaste, Dilan é ciente de tudo o que acontece no reino e sabe que não pode simplesmente abandonar tudo como fez Ethan. Ele não vai renunciar. Proteja o seu coração e escute a voz da sabedoria. – Diz a rainha incisiva. Essas palavras entram como agulhas em meus ouvidos, machucando tudo pelo caminho até chegar rasgando no meu coração. – Emilly... Você parece ser uma moça sábia que não faz escolhas com os sentimentos. Pense, é impossível um membro da família real seguir uma vida normal, sempre vai estar correndo risco... Tem povos que nos odeiam por termos conquistado as suas terras e fazem qualquer coisa para nos atingir. Vocês nunca terão paz. Por favor, eu já perdi um filho assim, Emilly. Não quero perder mais outro. 

Sinto o meu coração despedaçar, ele está doendo muito por saber que as palavras da rainha são a verdade. Só que eu simplesmente não me imagino no futuro sem o Dilan. Por mais confuso e inimaginável que ele pareça, Dilan está nele comigo.

Só em pensar que tem a chance de Dilan não renunciar me vem uma vontade de chorar, e eu luto contra a minha face para não expressar isso.

— É doloroso, mas nessas horas precisamos ser fortes. O que me diz? – pergunta ela de mim. 

Ela põe a mão no meu ombro parecendo amigável. Ergo um olhar cheio de lágrimas aos olhos verdes dela.
 
— Eu... Eu vou pensar. Prometo. – Digo. – Mas quero que a Vossa Majestade entenda que vai ser muito difícil para nós.
 
— Eu entendo querida. Eu também tive que renunciar ao um amor para o bem do povo, mas hoje sou feliz com o homem que me casei e o amo muito mais. Tudo passa. – diz a rainha com a voz mansa. 

Respiro fundo e ajeito a face. Entendo perfeitamente a preocupação da rainha.
 
— Bom, podemos chamar o Dilan? Quero aproveitar enquanto estamos juntos. – Digo enxugando as lágrimas, e forçando um sorriso.

— É claro. Filho, já pode entrar! – diz ela o chamando. 

Dilan entra imediatamente e meio desconfiado, fica alternando o olhar entre nós duas.
 
— Que bom saber que estão vivas! – Diz ele sorrindo aliviado em um tom de brincadeira. – Está tudo bem meu amor? A mãe não fez nada com você não, certo?
 
— Dilan! – Diz a rainha se sentindo ofendida. – jamais fui capaz de machucar alguém!
 
— Não – sorrio. - Fique despreocupado amor, está tudo bem! Tive uma conversa muito produtiva com a rainha Clarisse.
 
— ah sim. – Diz Dilan se aproximando mais relaxado.

Agora, imagino como está o coração dos meus pais sem saberem o que houve comigo. Eles devem achar que fugir com Dilan.
 
— Eu preciso voltar para casa urgente. – digo um pouco desesperada.

Já posso imaginar os berros da minha mãe.
 
— Mas já está tudo escuro Emilly. Tenho certeza que sua mãe compreenderia que, devido a hora, você chegasse amanhã cedo por segurança. – diz Dilan enquanto a rainha se levanta do meu lado. 

— Não conhecem a fera que minha mãe é, ela não irá compreender... Que horas são, afinal? – Pergunto desorientada. 

— Todos já dormem, querida. – diz Dilan se sentando ao meu lado. 

— é, todos menos os meus pais. - digo.
 
— Não se preocupe, amanhã enviarei um comunicado meu explicando o ocorrido. É melhor que descanse hoje aqui no palácio, para amanha ter forças para encarar estrada. - diz a rainha.
 
— Bom, sendo assim tudo bem, mas minha rainha, peço gentilmente para amanhã cedo partimos. - digo.

— Tudo bem, amanhã cedo. – Diz a rainha. – Vamos Dilan, vamos deixa-la descansar.

Dilan me dar um beijo na testa e se levanta do meu lado para acompanhar a mãe. E antes de sair sussurra:

— Já volto amor, vou ir até cozinha. – Diz ele fechando a porta.

Assim que ele sai, percebo que quando ele voltar será só nós dois entre quatro paredes e uma cama, o que é inapropriado para jovens que não são casados. Precisarei controlar a situação.
 


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Notas finais do capítulo

Pobre Emilly, completamente perturbada pelos pensamentos de ser abandonada por Dilan. Dá dó né?



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