Entre Nós escrita por unalternagi


Capítulo 3
Temos que falar sobre Alice (e Mary): qual o problema?


Notas iniciais do capítulo

Preparadxs para entender a Alice?

Estou ansiosa para saber o que vocês vão falar sobre esse capítulo então:
BOA LEITURA!



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Temos que falar sobre Alice (e Mary): qual o problema?

|ALICE|

O dia no SPA era tudo o que eu precisava sem ter a consciência da necessidade daquilo. Era bom para eu relaxar de todo peso que vinha rondando minha vida nos últimos meses e, claro, não machucava gastar um tempo sozinha depois de estar grudada em Jasper pelos últimos dias, sem parar. Não que eu não estivesse feliz ou satisfeita em tê-lo apenas pra mim, mas todos nós precisamos de nosso tempo sozinhos, nossa liberdade.

Estava lendo o cardápio de massagens – sim, o cardápio com todos os tipos de massagens dos quais eu poderia escolher – e foi quando eu o vi pela primeira vez.

Era alto e pálido, seus olhos acinzentados remetiam-me a algo que minha mente não conseguiu se lembrar e nem esforçou-se, uma vez que o desconhecido a minha frente logo começou a falar.

—Alice Brandon, se a senhorita puder acompanhar-me – ele falou delicadamente apontando para uma porta.

Eu não ficava completamente confortável com massagistas homens, mas achei que seria rude dizer isso logo de cara, então segui o homem para uma sala e ele a trancou em suas costas, colocando a chave no bolso e foi ali que decidi que não tiraria minha roupa para receber massagem nenhuma daquele estranho.

—Desculpe, acho que mudei de ideia, pretendo ir à sauna antes de receber a massagem – falei pronta para avisar que eu queria uma massagista mulher mesmo.

Ele revirou os olhos e empurrou-me sem muita delicadeza na cadeira.

—A gente precisa conversar – ele falou sério – Por quanto tempo acha que consegue fingir que não me conhece?

—O senhor está me confundindo com alguém – falei rapidamente, amedrontada.

Ele abriu a boca, mas franziu o cenho, a fechando rapidamente. Furou-me com seu olhar inquisidor, os olhos dele contra os meus como se despisse minha alma a força e senti o desconforto crescente no meu peito, o medo que eu sentia era quase como um lar, eu conhecia aquele sentimento, mesmo que tivesse a certeza clara em minha mente de que eu nunca havia sentido aquilo antes.

—Você realmente não sabe quem eu sou – ele falou quase divertido.

Continuei o encarando, reforçando o que ele havia dito. Eu realmente não o conhecia.

—Pode não se lembrar de mim, mas sabe quem eu sou... Mary – a voz fria e cortante fez os pelos do meu corpo eriçarem, nada a ver com excitação e sim o pânico em seu estado mais puro.

.

|MARY|

Apesar de o toque ser mais gentil nos cotovelos dela, ainda assim, ele nada fazia para realmente acalmar a garota que andava aos tropeços pela floresta que ela lembrava como se tivesse andado por ela há quinze minutos e não quinze anos.

Claro que, na mente dela, o tempo não realmente importava, não era uma grande diferença na visão cega da garota.

Mary tropeçou em uma raiz exposta e James a segurou mais firme, apenas para ter certeza que ela não se machucaria.

—Eu não quero mais, Jay, quero ir para a minha casa – ela falou com a voz raspando pelo choro que ela entalava, o medo a tomando novamente.

—Calma, bebê, lembra o que eu te falei? Tudo ficará bem, eu estou com você.

—Quero Marie – ela murmurou e ele suspirou alto.

O homem não era grande fã da personagem que a menina tinha citado, não gostou de Marie no primeiro momento em que se conheceram e ainda não gostava da garota, nem mesmo a menção de seu nome fazia bem a ele.

—Eu tenho uma surpresa, lembra que eu te contei? Mas vamos ter que esperar um tempo. Achei você antes do que o plano original, mas vai ficar tudo bem. Vou cuidar de você, você sabe, não é? Eu não vou deixar os monstros aparecerem – ele prometeu.

Mary apertou a mão dele na sua e continuou andando. Ela achava que gostava de surpresas, lembra-se de ganhar presentes quando a mãe as citava.

—Olhe onde estamos bebê, é a sua casa – ele sorriu amplamente.

Mas Mary não ficou tão feliz quanto James ao chegar naquele lugar, àquela cabana, ela tinha medo e era pior sem Marie por perto, Marie sempre estava por perto.

É um sonho, um sonho.

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|ALICE|

—Você reconhece esse nome não? Mary – ele repetiu lentamente e eu balancei a cabeça, apressada, não queria cair na loucura daquele desconhecido.

—O senhor me confundiu com alguém – falei certa daquilo.

A risada dele não era bem humorada.

—Eu certamente não o fiz, a conheço a mais tempo do que muitas pessoas – jurou antes de parecer se lembrar de algo.

Ele se levantou indo para uma mochila que estava perto da porta, pensei quais seriam as minhas chances pulando pela janela ou tentando abrir a porta antes dele voltar e, claro que elas eram bem ridículas, seria mais fácil um guaxinim entrar aqui e atacar o desconhecido o deixando desacordado, o que seria realmente bom para... Bem, nem isso era uma chance boa.

O homem voltou para perto de mim, seu sorriso mais amigável, então entregou-me um papel. Não, era uma foto, uma foto antiga. Peguei-a com cuidado para apontar-lhe que eu realmente não era a pessoa na foto, mas fiquei quieta quando consegui ter uma boa visão.

Era um pequeno garoto loiro com uma garota bem pequena e magra mais distante dele e uma segunda garota, pequena, no meio dos dois. As três crianças paradas na frente de uma casa imponente, apenas o garoto sorria para a foto, a menina maior segurava a mão da menor com uma pose estranha, como se temesse, mas estivesse preparada para protege-la sob qualquer circunstância e, não era que a foto mostrasse todas essas pequenas nuances, mas algum lugar da minha mente reconheceu, como se eu vivesse ali.

—Quem é você? – perguntei assustada para o homem que agora me olhava com maior entusiasmo.

—Você sabe quem são essas crianças? – ele perguntou.

Voltei a analisar a foto. Ele a tirou de minha mão apenas para virá-la para a inscrição atrás.

James, Marie e Mary King.

Mary King.

Os meus pelos voltaram a eriçarem quando meu instinto de sobrevivência voltou a gritar por todos os meus músculos enquanto eles se retesavam, teimosos demais para me ajudarem a correr.

—Eu não conheço essas pessoas – falei firme, mas minha voz tremeu.

Mary King.

Eu conhecia o nome.

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|MARY|

O grito agudo que ressoava no lugar, um som de puro pânico, tarde demais, Mary percebeu que saia dela. Obrigou-se a parar, mas seu interior ainda remexia-se.

Ela se afastou, as mãos presas no cabelo pesado, cheio de cachos bem cuidados.

Ela olhou ao redor, estava lá, de novo, não queria estar ali. Olhou para seu corpo vestido com os moletons que serviam perfeitamente nela, os moletons que ela usava para dormir, mas não era sobre isso o que pensava antes. Não era nada daquilo que temia.

O medo não era de antes, era de agora. O que ele fazia ali? Ela não o queria ali.

—Jay, cadê Marie?

—Pare de me perguntar sobre ela – ele falou rudemente, segurando o homem firme.

James obrigou o homem a se sentar na cadeira que ele tinha preparado para ele. O prendeu ainda sem tirar a fita cinza que lhe tapava a boca. O homem estava ainda confuso com a droga que James tinha injetado nele.

Mary os encarava de sua cama. Realmente não gostara da falta de paredes, ela queria se esconder em seu canto do homem malvado.

A garota sequer reparou que ele estava mais velho e tão machucado e drogado que ela, facilmente, conseguiria o derrubar, se pensasse correto, se conseguisse tomar sua mente para a frequência correta.

—O que ele faz aqui? – perguntou amedrontada, a voz um tom mais alto que um sussurro.

—Mary, eu te disse, lembra? Contei a você tudo o que faríamos – ele falou empurrando a cadeira do homem para mais longe da cama de Mary, talvez daquela forma ela parasse de tremer – É a nossa vez de fazê-lo gritar – James sorriu sadicamente.

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|ALICE|

—Qual é o seu nome?

—James King – ele falou rapidamente.

—Então você é o garoto que está nessa foto – ela falou certa daquilo e ele sorriu, como se o senso comum dela fosse algo para ser aplaudido.

Ele assentiu rapidamente e virou a imagem novamente para  mim, senti meu estômago embrulhar ao ver aquilo de novo, não queria continuar olhando para aquela estranha e desconhecida memória.

—Você também está, olha – ele apontou para a menina menor com um sorriso – É você, bem aqui. Você se lembra-

—É a minha primeira vez nos Estados Unidos – expliquei cortando o trem de pensamentos do desconhecido – Sou Alice Brandon, moro na Oceania – falei certa de cada palavra de que deixou minha boca, mas reparei duas coisas que me calaram: a primeira foi que dar informações sobre mim para aquele estranho que, claramente, era um descompensado era extremamente irresponsável, mas esse não foi o pensamento que me fez realmente me calar, foi o segundo que apontava que eu não estava afirmando aquilo para James, mas sim para mim mesma.

Não saberia dizer quanto tempo fiquei quieta em devaneios, mas James pareceu ter me ignorado depois da primeira frase que falei a ele. Ele negava devagar com a cabeça e depois revirou os olhos quando pareceu voltar a si.

—Você é americana – falou sério.

—Não – fui incisiva naquela negativa, ele não estava me escutando.

—Mary, você é americana – ele falou firmemente – Nasceu em Forks, eu também.

—Forks? – perguntei confusa, eu conhecia aquele lugar, mas da onde?

—Forks. Nossa casa. É para onde nós vamos assim que você deixar de lado o seu noivo idiota.

Escutá-lo falar de Jasper foi o que faltava para fazer-me sair daquela confusão na qual eu mantinha-me. Eu era Alice Brandon, noiva de Jasper, morava na Austrália e me preparava para tomar conta do meu futuro, das fazendas que me eram herança. As fazendas dos meus pais.

—Não diga isso dele, não ouse falar do meu noivo, você não o conhece – falei séria, irritada com aquele estranho que tentava me confundir.

—Calma, calma – ele levantou as mãos em rendição – Não queria ofender o loirinho, ele vai ser importante para nós – sorriu, mas não pude perguntar nada porque ele voltou a dar ênfase na foto que eu ainda segurava e reparei que eu tremia quando a encarei novamente – Se lembra dessa casa?

Neguei devagar com a cabeça, mas a verdade é que eu sequer tinha dado alguma atenção para a casa, eu focava na garota mais alta da foto, o rosto dela.

A dor em minha cabeça começou a ser irritante.

—Parece que conheço a garota mais alta da foto – sussurrei como se fosse um pecado.

—Marie? – ele falou com um desdém que eu não entendi – Sei que você a conhece, eu também a conheço, mas não vamos falar dela, estou feliz em ter te encontrado – ele sorriu docemente e segurou minha mão e eu não quis soltá-la, aquele toque parecia conhecido.

—James?

—Você costumava me chamar de Jay – ele sorriu e meu coração acelerou.

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|MARY|

Mary empurrou as roupas que estavam espalhadas no cômodo para longe dela, estava irritada com aquela bagunça, não era para deixar a casa bagunçada porque elas tinham tempo para limpar, tinham que deixar arrumado senão o homem malvado brigava, ele odiava quando estava bagunçado, mas ele nunca ajudava a limpar então, de propósito, Mary quis bagunçar ainda mais, mas se lembrou do choro da mulher no quarto ao lado e, mesmo com a ausência de paredes, ela ainda se sentia acuada, como se pudesse se esconder.

—Mary – ela escutou Jay chamar e virou-se, sorrindo amplamente ao reparar nos braços dele que carregavam sacos de papel com a comida que ele tinha saído para comprar.

—Posso ter os cookies? Posso Jay? Por favor. Eu fiz o que mandou, não toquei nele e quando ele reclamou bati na perna dele com aquele taco, você mandou e eu fiz. Posso ter o meu cookie? – ela pediu animada demais para reparar no que tinha feito.

James sorriu para o homem desacordado com uma satisfação quase doentia.

—Pode, você é tão boa para mim, Mary, eu senti tanto a sua falta – ele sorriu e ela abraçou o torso dele antes de correr para encontrar os cookies por entre as coisas que ele havia trazido.

James observou Mary comer, animada, o mimo que ele havia a entregado, a cada dia que passava a mudança de humores e comportamentos ficavam mais óbvios para James, era fácil para ele trazer um dos lados de Alice Brandon.

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|ALICE|

Parecia estranho ter escutado tudo o que James tinha dito a mim, como ele contou a história de uma completa desconhecida para mim, mas algo encaixava tão corretamente que o pensamento era desconcertante.

Por isso eu cheguei atrasada no restaurante em que Jasper me esperava e eu até reparei como ele estava lindo e como ele era romântico, tinha se preocupado em me levar minhas flores favoritas em um buquê tão bem cuidado, mas nada era mais forte na minha mente do que tudo o que eu tinha escutado aquela manhã e tarde.

James jurou que me ajudaria a entender o meu passado, a preencher todos os vazios que minha mente tinha. Por que a minha primeira memória era em uma escola já na Nova Zelândia? E tão mais velha? E por que os meus pais não tinham fotos minhas de quando eu era mais nova?

James jurou me dar todas as respostas e aquilo me assustava, mas não tanto quanto o fato de eu ter aceitado aquela ajuda, concordado com o plano doentio dele.

—Vai me contar o que aconteceu? – Jasper indagou com sua paciência usual.

Meu ponto de equilíbrio.

Mas fora algo que James deixou bem claro, desde o início, ele bateu na tecla que eu não poderia contar nada a ninguém se eu queria que tudo corresse como o esperado e, eu sabia que Jasper concordaria em ajudar-me no que eu precisava, porém eu também não era tola ao ponto de achar que ele concordaria com qualquer lado do que eu estava concordando.

Jasper era racional, pesaria os prós e contras e, eu era irracional, mas não tola, e eu sabia que a lista de contras era muito mais extensa, porém, se alguém discordasse é porque não me conhecia: Eu preferia morrer tentando, a viver na dúvida. E foi com o pensamento em mente que eu suspirei antes de ter que lançar charadas para o meu noivo que me encarava, com amor e preocupação evidentes nos olhos.

—Só preciso de um espaço, estou pensando e – minha visão parou em James que me chamava de longe, como se tivesse algo importante para dizer.

Percebi que tinha parado uma frase na metade quando vi o cenho de Jasper franzido e ele se virando para tentar enxergar o que eu olhava, forcei minha mente para me lembrar do que nós conversávamos, mas não consegui. Pigarreei alto numa tentativa de fazer minha garganta desobstruir.

Coloquei mais do vinho em minha taça pedindo para Jasper retomar o assunto. Ele estava inseguro, estava lendo-me erroneamente ao inferir que eu estava pedindo um tempo do nosso relacionamento e apressei-me em negar aquilo, descansei a minha mão na dele.

Meus sentimentos estavam em todo o lugar, eu precisava que Jasper confiasse em mim, cegamente, porque eu estava perdida em minha própria mente, presa em ideias irreais, eu precisava tanto do conforto dele.

James apareceu atrás de Jasper de novo, bateu no relógio de seu pulso e apontou a cabeça para as portas do banheiro.

—Preciso ir ao banheiro – anunciei levantando rapidamente.

—Está protelando, Alice – James falou sério assim que paramos num canto mais escondido.

Percebi que, ao menos, ele estava me chamando da forma correta agora, desistido de me chamar pelo outro nome que eu não reconhecia.

—Eu não consigo – falei séria – James, eu não posso drogar o Jasper – falei com o peso no peito do que eu não estava disposta a fazer com ele, mas eu precisava. Eu precisava.

—Enrole o máximo que puder no banheiro – ele ordenou e então saiu da minha linha de visão.

Sentei-me na privada com a tampa fechada, cobrindo meu rosto as mãos, me esforçando ao máximo para não gritar em frustração, pensei em desistir de tudo, mas as palavras de James daquela tarde rondaram minha mente.

—Você não pode contar a ninguém sobre nada do que eu a disse – James disse firme.

—Mas o meu noivo...

—Vá em frente então e coloque a vida dele em risco também – James sorriu sarcasticamente.

—Vida em risco? –repeti mais consciente de tudo.

—Não é tão tola assim, sabe que eu não viria atrás por estar com saudade – ele falou rude, mas não me importei com seu tom, eu só queria entender sobre o que ele estava falando ao inferir que Jasper, ou nós, corríamos algum tipo de perigo – Ele está voltando, Alice, e se não ajudar-me a dar um jeito nisso tudo, Marie e Rosalie serão as primeiras a sofrer a fúria do exilado – ele falou meio comicamente, mas Alice não tinha humor nenhum.

E foi daquela forma que ela se concentrou no que tinha que fazer, no que teria que abdicar para salvar aquelas pessoas e se achar no meio de toda aquela merda.

.

|NARRADOR|

A casa era quente demais para aquele Estado tão frio. Royce King II passava a maior parte de seu tempo desacordado, James o nutria com shakes hiperproteicos, apenas o bastante para ele não morrer de fome, não. James tinha outros planos para o pai.

—Patético – a mulher falou sorrindo ao encarar o homem desacordado – Por que eu temia tanto esse imbecil sendo que nem força para se manter acordado o inútil tem? – ela ridicularizou  e James sorriu.

Ele tinha descoberto uma terceira personalidade de Alice. Não era a mulher independente e educada que tinha pais e um futuro promissor, mas também não era a garota amedrontada de oito anos de idade que temia seu agressor e atendia pelo nome de Mary. A terceira personalidade era como uma Mary mais velha, alguém que viveu inúmeros abusos psicológicos e físicos na infância, mesmo sendo protegida, mesmo nunca tendo sido tocada intimamente, ela tinha aquela consciência de todos seus sofrimentos e também os das pessoas que ficaram com ela naquele cativeiro e a terceira personalidade não conhecia nada que não a vingança.

—Eu quero que ele acorde, Jay, faz dias que ele apenas dorme.

—Ele vai acordar, está vivo, não se preocupe com isso – o homem falou distraído com o preparo da nutrição para ele e sua parceira.

—E por quê? Por que ele ainda está vivo? Estou cansada, quero dar a facada fatal, James, eu já tive o bastante – ela falou quase salivando com a ideia de causar a dor final a ele, uma facada fatal que levaria tempo para mata-lo, era o que ela queria.

—Relaxa.

—JÁ TIVEMOS O BASTANTE JAMES, ESTÁ NA HORA DELE MORRER – ela demandava enquanto estava tudo, menos relaxada.

A adrenalina corria por ela, o ódio, a sede por sangue.

—MARY – James gritou quando ela se aproximou mais do homem, tentando acordá-lo – EU DIGO QUANDO É A HORA, TIRAREI ATÉ O ÚLTIMO FIO DE VIDA DELE, EXATAMENTE COMO A MINHA MÃE. ELA MORREU DEVAGAR E ELE VAI FAZER O MESMO, ESTÁ ME ENTENDENDO? EU MANDO. MARY, EU MANDO— ele gritava imponente.

Ele sabia o que estava fazendo, as trocas de identidade de Alice se faziam mais fáceis a cada dia, ele quase não chamava mais Alice, mas entre a terceira personalidade e Mary, era quase fácil de mais ter o poder de controlar a mulher.

Mas a terceira personalidade era difícil de conter.

—Não grite comigo – ela ordenou.

—Eu faço o que quero, abaixe suas esperanças, não faz tanto tempo que estamos...

—JÁ FAZ TEMPO DE MAIS – a mulher gritou, nervosa, começou a apertar os fios de cabelo por entre os dedos – Estou cansada – ela falou numa neutralidade que ele conhecia, Alice, ela não entendia quase nada quando estava daquela forma.

—Está tudo bem, vá deitar um pouco – ele falou brandamente.

A cabana escura cuidava de não alarmar Alice para o desconhecido que andou com ela até o quarto. Ou quem ele achou ser Alice.

—Jay, não quero ficar sozinha, eu não durmo sozinha, preciso de Marie aqui – ela reclamou manhosamente.

Mary.

—Feche os olhinhos, bebê – ele demandou delicadamente – Ficarei com você até você dormir – ele sussurrou perto dela.

A mulher deitou na cama velha e James sentou no chão, ao lado dela, como costumava fazer quando eles eram menores e ela ficou na casa dele sozinha porque Royce já estava pronto para entrega-la a sua nova família e, para aquilo, não queria Marie por perto. Mary teve três noites na casa dos King e, nas três noites, James acordou escutando os soluços dela e, naquelas noites, ele dormiu sentado no chão, ao lado da cama dela, com as mãos nos dedos dela, exatamente como fazia naquele momento.

.

|ALICE|

—Já era para ele ter apagado, por que ele mantém essa merda desses olhos abertos?

Olhei para a cama onde Jasper me encarava confuso, ainda que estivesse mais desmaiado que qualquer coisa, ele estava ali e eu sorri para o amor da minha vida. James avisou que iria resolver uma última pendência e eu esperei ele sair do quarto, então deixei de lado as coisas que eu arrumava para levar comigo.

Sentei perto dele na cama confortável do hotel e suspirei pesadamente, fechando os olhos dele que tremeram assim que os soltei, como se ele se obrigasse a abri-los novamente, então colei meus lábios em seu ouvido.

—Não abra os olhos, apenas escute o que tenho a lhe dizer – sussurrei – Eu preciso que se cuide e, principalmente, que não tente vir atrás de mim.

Meu coração bateu acelerado e pesou quando escutei a voz arrastada perto do meu ouvido.

—Não me pede isso – ele suplicou.

Eu fechei os olhos lutando contra o choro que tentava me tomar. Ele precisaria ser tão forte, eu sentia-me tão culpada por toda a preocupação que eu causaria a ele, aos meus pais. Mas no topo de tudo, eu ainda precisava ter certeza que ele se seguraria a parte dele no plano.

—Eu falo sério, não suporto a ideia de você se machucar por tamanha amenidade.

—Amenidade? – a voz arrastada tentou brigar comigo, mas eu o olhei, mesmo que ele não me olhasse.

—Você confia em mim?

—Mas do que em mim mesmo – ele respondeu sem perder tempo e eu sorri.

—Então faça tudo o que nós conversamos. Não fale nada a ninguém, não minta também, apenas não diga nada – supliquei.

—Você vai ficar bem?

Eu mordi meu lábio inferior, não queria mentir para ele, mas também não tinha como prometer aquilo, então me segurei na parte que ele controlaria.

—Se você fizer isso eu tenho maiores chances, mas se eu ficar aqui aí é uma certeza de que ele virá atrás de mim e nos matar – contei-lhe minha razão para tudo aquilo.

Apesar de ter jurado solenemente a James que não contaria eu precisava deixar Jasper saber que ele não havia feito nada de errado e, mais que aquilo, minha lealdade era do homem quase desacordado e não do que fazia algo na recepção do hotel.

—Nos matar? – a voz de Jasper estava alarmada – Quem? O que eu fiz? É um fã-

Coloquei minha boca sobre a dele para o impedir de continuar e dei-lhe um pequeno beijo apenas para impedi-lo de continuar se culpar ou preocupar tanto.

—Baby, não é nada disso – suspirei – Você está seguro, está a salvo e continuará assim se se mantiver quieto. Confia em mim – pedi – Não me traia, Jazz, prometa-me.

—Eu amo você – ele sussurrou e comecei a chorar.

—Eu preciso escutar a sua promessa – respondi.

—Não vou dizer nada – ele jurou.

A segurança me tomou, se ele tinha falado ele iria cumprir, era o que importava. Ele ficaria a salvo.

—Eu amo você – falei antes de dar-lhe outro beijo, esse mais lento.

.

|NARRADOR|

Mary acordou cedo demais naquele dia, junto com o Sol. Estava agitada demais, James acordou com a forma que ela se movimentava sem delicadeza nenhuma pela casa, fazendo mais barulho do que realmente era necessário.

—Ei, calma – James falou ainda sonolento.

—Finalmente você acordou, Jay, ele está acordado, e está me olhando. Ele sorriu para mim, Jay, eu não gosto quando ele sorri – a garota falava abalada.

Mary.

—Está tudo bem, neném, está tudo bem – James dizia preguiçosamente – Volte a dormir.

—Mas ele está aqui – ela sussurrou tremendo.

Sentou-se aos pés da cama de James e ele percebeu que não dormiria enquanto os dois outros residentes da cabana estivessem acordados.

—Ele nos batia tão forte, e éramos pequenos, se lembra? Só você e eu apanhávamos e Marie ficava como a santa, a favorita, e nós sofríamos o resto, se lembra? – ele falava perto dela.

Outra coisa que ele aprendera sobre a terceira personalidade é que ela sentia-se abandonada por Marie, sendo assim, citar a displicência da garota era uma boa arma.

Os olhos de Mary tremiam e o lábio inferior também. James ofereceu mais incentivos para ela, sorrindo sadicamente, mas o que ele não esperava era que ela levantasse de repente, a mão apertando a cabeça quando ela tinha a dor de cabeça quase que insuportável, toda a vez que ela perdia a noção de quem era até se realocar em uma das personas.

Ela olhou pelo quarto e alcançou o que tinha escondido da outra vez, outra hora. James levantou, assustado.

—Calma.

—ESTOU CANSADA – ela falou, a arma prateada parecia ainda mais assustadora na mão dela, que claramente estava perdida.

James sorriu, de qualquer jeito, ele não ligava para o que aconteceria naquela cabana, não realmente.

—Você não quer mata-lo, não consegue – ele falava quase como um mantra.

Royce King II olhava toda a cena em sua frente, doentiamente animado com tudo aquilo, a adrenalina que sentia em seu sangue, fluindo, ele não tinha conseguido encontra-la, de qualquer jeito, não se importava, realmente, mas lutava para se manter vivo, acordado, porque se Mary estava ali ele sabia que ela não demoraria aparecer, e ele sentia tantas saudades.

—Atire no ombro, nos braços, escolha seu alvo, mas cuidado para não ser fatal, porque você sabe tão bem quanto eu que nós não queremos que a morte dele seja tranquila, não rápida – James falava, a voz baixa.

Foi quando a casa foi invadida pelas duas entradas que possuía, James se assustou e apertou o braço de Alice que estava travada, confusa, ela não escutava muito bem, mas o olhar de Royce preso nela a assustou quando ela levantou o olhar, a arma disparou contra o chão da casa.

O agente Emmett Swan e sua ex-atual-parceira, Tia, apontavam uma arma para Alice e outra para James, Alice tremia, Emmett sabia que a pessoa mais perigosa era ela. Via com surpresa a cena em sua frente, Royce completamente machucado de um lado do amplo espaço, em uma cadeira e fraco e do outro lado Alice com uma arma apontada para ele e James atrás dela, as mãos no ombro dela como suporte.

—Solte a arma e se afaste – Alice escutou a voz firme soar em seus ouvidos.

Era Alice.

Alice.

Ela se virou e foi quando a confusão de fato a chocou. A mulher parada, perto da outra mulher que apontava uma arma para Alice com feições sérias. Aquela mulher.

Mary lutou forte contra as outras duas personas, ela queria falar, ela queria ver aquela pessoa, ela precisava. Ela venceu quando a arma pesou na mão dela, ela era muito pequena para segurar aquilo e o homem malvado estava ali, mas o que importava é que a pessoa que ela mais amou na vida estava lá, sua protetora, seu anjo.

—Mamãe – Mary disse sorridente.

Rosalie respirou fundo e sorriu de volta, a emoção que a tinha tomado quando viu Marie era a mesma que sentia agora, ainda mais agora, porque fazia ainda mais tempo. Quinze anos. E ela estava bem, linda, e tão saudável.

—Abaixe a arma, meu amor – Rosalie falou docemente.

Emmett arregalou os olhos, Tia parecia igualmente chocada, todas as peças se encaixavam.

—Estou com medo – Alice sussurrou.

James a apertou mais em seu controle, não podia perder. Royce tinha que morrer.

—Está tudo bem, anjinho, a mamãe está aqui – Rosalie falava.

Emmett sentia que ia vomitar, mas não deixou transparecer. Estava firme. Um choro mais alto foi escutado e Mary começou a tremer.

—Quem está aí? – ela perguntou.

Foi quando James tirou a arma dela, ela ia acabar o acertando. E então, o ponto em que tudo mudou. Isabella – ou Marie – se fez presente. Mary arregalou os olhos e começou a chorar igual a ela. Rosalie estendia a mão para Mary, mas Emmett a impedia de andar, James ainda estava armado, Edward continha Marie.

—LARGUE A ARMA, JAMES KING – Tia voltou a ordenar, mais firme, e então tudo aconteceu rápido.

James viu Marie e então olhou para Royce que encarava maravilhado as duas mulheres de sua vida, contente, ele as tinha achado. Ainda melhor, elas o tinha achado. Eles estavam juntos, todos juntos.

O homem armado e descontrolado rosnou ao ver a felicidade de Royce quando colocou seus olhos em Marie e então a arma foi apontada para ela e, no momento em que o chefe Swan chegou à cabana com reforços, o segundo disparo foi escutado.


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Notas finais do capítulo

Hehehehehe

Ainda não sei qual eu vou atualizar depois, mas precisava deixar a Mary/Alice serem conhecidas. Elas estão bem... Algum comentário para colocar no palco? Estou ansiosa para a opinião de vocês!

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